Católicos nas presidenciais Cardeal quer mais católicos na rua. Bagão pressionadíssimo Publicado em 17 de Junho de 2010 | Actualizado há 3 horas D. José Policarpo criticou ontem a "falta de ética nas escolhas políticas". Activistas voltam a insistir com Bagão Bagão Félix já disse que não várias vezes, mas os activistas católicos acreditam que ainda vão conseguir convencer o ex-ministro das Finanças a candidatar-se à Presidência da República. Todos os dias aparecem novos apelos para que Bagão se apresente às eleições contra Cavaco Silva. Isilda Pegado, a ex-deputada do PSD que protagonizou os movimentos anti-aborto e pelo referendo ao casamento gay, vê "com bons olhos a candidatura do dr. Bagão Félix" e lembra o recente exemplo do social-democrata Paulo Rangel - que começou por recusar candidatar-se à liderança do PSD e depois mudou de ideias - para sustentar que "todos nós já vimos na política alguns 'nãos' converterem-se em "sins". Ontem, o cardeal-patriarca de Lisboa fez um discurso fortíssimo de apelo ao envolvimento dos cristãos na política. "Estamos a cair na situação anacrónica que qualquer intervenção da Igreja, de modo particular da hierarquia (...) é facilmente julgada como intervenção na esfera do estritamente político, esquecendo que o domínio político é todo o interesse pelo bem da 'polis'", defendeu o cardeal. E se a hierarquia "por decisão própria e em defesa do carácter específico do seu ministério, abstém-se habitualmente de se imiscuir no âmbito estritamente político", já "os cristãos leigos não são a isso obrigados e devem ser porta-vozes, no seio da sociedade, dos autênticos valores cristãos". Ora, D. José Policarpo "pressente" que "virá dos leigos a energia para esta renovação da intervenção da Igreja na sociedade". Para o cardeal-patriarca de Lisboa, "há necessidade de verdadeiras testemunhas de Jesus Cristo, sobretudo nos meios humanos onde o silêncio da fé é mais amplo e profundo". À cabeça, vêm os "meios políticos", seguidos dos intelectuais e profissionais da comunicação. "Em tais âmbitos não faltam crentes envergonhados que dão as mãos ao secularismo, construtor de barreiras à inspiração cristã". "É impressionante verificar a pouca importância que a falta de ética tem nas escolhas políticas", clamou o cardeal que, recentemente, em entrevista à Rádio Renascença sugeriu que a promulgação da lei dos casamentos entre homossexuais pode pôr em causa a reeleição do Presidente da República. José Ribeiro e Castro, defensor assumido da doutrina social da Igreja enquanto foi líder do CDS reconhece estar "bastante desapontado com o Presidente da República" e diz ao i que a mensagem do cardeal patriarca "é uma chamada de atenção muito importante". Para o deputado centrista "os políticos não devem entrar em contradição com aquilo que são as suas convicções". Mais: "como católico não me sinto representado" pelo Presidente, "mas essa não é a única questão que preside à minha escolha". Quanto a uma candidatura presidencial católica alternativa a Cavaco Silva, Ribeiro e Castro não quer comentar e diz ser necessária uma resposta mais estruturada, ainda que sublinhe que "os políticos católicos devem chegar-se à frente". Isto porque, defende, "um sistema político representativo deve representar todas as correntes, incluindo os católicos". A falta de representação "agrava o divórcio e conduz a uma crescente separação entre eleitos e eleitores". Luís Nobre Guedes, católico, ex-dirigente do CDS concorda com o cardeal e assinala que "os católicos não têm expressão política no PSD e no CDS", uma vez que "as questões da vida e da família" estão afastadas do "ideário" e "agenda" dos dois partidos da direita. Por muito que tenha discordado da promulgação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, afirma que tanto PSD como CDS também não reagiram à decisão. "Conclui-se que, para esses partidos, não foi politicamente relevante", aponta, lembrando inclusivamente que o líder do PSD é favorável ao casamento entre homossexuais e que na bancada do CDS houve três deputados favoráveis à lei, que votaram contra apenas por disciplina partidária, apresentando depois declarações de voto. Nobre Guedes votará "tranquilamente" em Cavaco Silva "sabendo que não concorda com tudo". Nuno Gonçalves Morgado, dirigente da Plataforma Cidadania e Casamento, enviou domingo um mail a Bagão Félix a insistir na candidatura do ex-ministro. "Tenho assistido com interesse ao elevar do seu nome em múltiplos sectores da sociedade como alguém que se poderia apresentar como alternativa a esta apatia e falta de visão que caracteriza muitos dos nossos políticos, em particular muitos dos líderes em funções. (...) Interrogo-me qual a medida da sua insatisfação e inconformismo. Sei que tem um profundo espírito de serviço ao Portugal que amamos e que temos a responsabilidade de deixar melhor do que encontrámos mas que, como vão as coisas, estamos a deixar em matéria de costumes, bem pior do que o encontrámos". Ontem, o grupo "100 mulheres para o século XXI" reuniu-se em Cascais. Sofia Guedes, uma das promotoras, anunciou que o movimento iria também escrever a Bagão a pedir para que se candidatasse à Presidência da República.