© JH Jmlubrano música Jon Hassell Sketches of the Mediterranean: Celebrating Gil Evans Sala Principal ter 26 março 2013 22h00 M/3 Maria Matos Teatro Municipal Av. Frei Miguel Contreiras, n.º 52 1 700-21 3 Lisboa tel. 21 8 438 800 www.teatromariamatos.pt Sobre o concerto de Lisboa Uma pergunta que se pode colocar é qual a relação que o alinhamento do concerto Sketches of the Mediterranean (Evanescence) tem com o concerto de Lisboa. Fui convidado em Agosto do ano passado para fazer um concerto de homenagem a Gil Evans no Festival de Roccella, na Calábria. Fui à procura de passagens na partitura de Sketches of Spain que pudessem ser reformuladas à minha maneira, mas que, ao mesmo tempo, mantivessem a essência das maravilhosas composições de Gil Evans. Gostava de ser capaz de expressar adequadamente o processo que me ajudou a libertar da tirania autoimposta de tentar adaptar-me a este título. Mas aquilo que, resumidamente, fiz é o que acabo sempre por fazer e que consiste em perguntar a mim próprio — de que é que eu realmente gosto? Por isso, se tudo correr bem e a noite estiver de feição, assistirão a algo muito belo e singular com alguns vestígios dessa essência de Evans (Evans essence) a pairar sobre tudo isto. Jon Hassell 14 março 2013 2013: Sobre a Invisibilidade da Música Imaginem que eu era um pintor num grande apartamento rodeado dos objetos que sempre colecionei — grandes objetos, pequenos objetos, objetos que adoro por esta ou por aquela razão. Em seguida, continuando com a analogia do pintor, pinto qualquer coisa numa grande "tela". Depois, olho para a minha coleção e penso: o que é que combinaria bem com aquilo? E se resultar, qual poderá ser o elemento seguinte? E por aí fora. Se pensarmos desta maneira, evitamos ter de nos relacionar com um só estilo musical em concreto. Não é uma tela "jazz"; não é uma tela "clássica"; não é uma tela "eletrónica" nem uma tela "world music". Pode ser qualquer coisa que ande a pairar e que consideramos bonita. Quando se discute um quadro, pode apontar-se para uma determinada zona e dizer "Isto faz lembrar Picasso" — é visível — porque existe uma espécie de base de dados comum para a cultura visual. Mas a música é invisível. Existe apenas enquanto experiência interior de um indivíduo. Quem pode dizer o que está a sentir esta ou aquela pessoa? É inevitável tentarmos aproximar-nos de uma descrição através de palavras, mas essa é, fundamentalmente, uma experiência linguística sobre uma experiência musical. Um crítico faz uma afirmação. Essa opinião torna-se viral e começamos a repeti-la entre nós, enquanto a indústria musical atiça ainda mais a fogueira ao facilitar as imagens "em falta" através de vídeos musicais e bandas sonoras de filmes. Por isso, em vez de termos a nossa própria experiência, a audição ocorre no interior dessa caixa de imagens e descrições verbais. A minha ideia de uma agradável — chamemos-lhe "audição profunda" — pressupõe a entrega a uma paisagem sonora interior que está para além das palavras, que é caleidoscópica e prismática, que refrate tudo aquilo que sempre nos emocionou, seja Scriabin ou Marvin Gaye, Ravel ou Gil Evans, Couperin ou João Gilberto, pigmeus africanos ou um gamelão javanês. Mas se a sua experiência auditiva tiver sido confinada ao universo dos vários cancioneiros do tipo verso-refrão, assim definidos para que o Grande Complexo Industrial da Música obtenha o máximo de lucro, as formas do seu caleidoscópio interior tenderão a ser mais familiares e monocromáticas. Claro que, com o incentivo químico certo, pode estimular-se esse estado de audição profunda e assim poderá sentir quase tudo (ver Magical Mystery Tours). Mas isso é apenas uma alucinação, e não tem problema, não há razão nenhuma para dar menos valor a essa experiência. Mas há tantas coisas mais! Tantas formas novas... Em torno da questão “Qual é o equivalente musical de um Gaudí?” Esta pergunta realça os temas do texto acima acerca da invisibilidade da música — pedindo àqueles que têm uma sensibilidade visual refinada, ao ponto de poderem apreciar o lado surreal e fantasioso da arquitetura de Gaudí, para pensarem se existirá no seu universo musical um equivalente concebível. Todos nós, incluindo aqueles que são visual e literariamente refinados, passámos pela adolescência ao som de uma música de fundo escolhida pela indústria, que continua a rodar continuamente nos filmes. Sem um verdadeiro esforço no alargamento da experiência musical, eles (nós) não fazem ideia de como um Gaudí poderia soar na imaginação. (Charles Ives? Ravel? Gamelão?). O tema aqui é, precisamente, este intervalo entre a sofisticação visual e musical. Esta espécie de gosto musical, exprimido através da arquitetura, seria qualquer coisa como ser um admirador das 10 melhores fachadas de cadeias de pronto-a-comer. Jon Hassell trompete e teclados Jon Hassell guitarra e eletrónica Rick Cox baixo elétrico Michel Benita violino Kheir Eddine M’Kachiche a seguir... música MYRNINEREST "Jhonn," Uttered Babylon sáb 13 abril 2013 22h00 O primeiro trabalho de MYRNINEREST é uma viagem poética sobre a vida e morte de John Balance, vista através dos olhos, coração e palavras de David Tibet (Current 93) e com música inteiramente composta por James Blackshaw. Ao vivo, o projeto transfigura-se e ganha novos músicos, instrumentos e imagens, ampliando as composições e a força desta sentida homenagem ao ex-Coil.