A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO ANÁLISE DISCRIMINANTE EM ESTUDOS DE SISTEMAS INTEGRADOS: UM TRANSECTO URBANO EM ITAÚNA-MG SANDRO LAUDARES1 MATHEUS PEREIRA LIBÓRIO2 RESUMO Os elementos que constituem o espaço urbano ainda que particulares pertencem a um sistema. A realidade integrada no sistema urbano é percebida na interação dos fenômenos. A relação das observações particulares produze uma totalidade. A procura da explicação da totalidade pelo particular motivou o presente estudo. A literatura é categórica quanto as dificuldades relacionadas a compreensão integrada do espaço. O trabalho utiliza a análise discriminante como método em busca da solução do problema. Os resultados foram obtidos a partir de dados coletados em campo e posterior tratamento de dados. O modelo construído é capaz de explicar através de um conjunto de quatro fenômenos a organização do meio urbano. Os coeficientes de explicação da organização urbana ou estrutura atingiram valores acima de 75% de acerto. A contribuição da pesquisa reside na replicação do método para estudos de fenômenos que não são representados por números. Palavras-Chave: geovisualização, recorte espacial, dados categóricos, sistemas integrados. ABSTRACT The elements that constitute the urban space even particulars belongs to a whole system. The integrated reality of the urban system may perceived by the interaction of the phenomena. The relation of particular observations produces a single totality. Aiming to explain the totality by the interaction of the particular phenomenon motivate this study. The literature has been categorical on the difficulties to explain comprehension of the integrated space. The article uses the discriminant analysis as a method to solve a kwon problem. The reached results obtained from the data collected in the field and latter processing. The model is able to explain through four phenomena the urban environment structure. The coefficients of urban organization or structure reached values over than 75% accuracy. The contribution of this research lies on the replication of the non-parametric method on phenomena studies. Keywords: geovisualization, spatial selection, categorical data, integrated systems. 1. INTRODUÇÃO A análise de apenas um fenômeno no espaço dirige o pesquisador a razões que dificilmente representam a sua realidade. O fenômeno ocorre conjuntamente 1 Docente do programa de pós-graduação em Geografia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte. E-mail de contato: [email protected] 2 Acadêmico do programa de pós-graduação em Geografia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte. E-mail de contato: 5723 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO com outros fenômenos. A realidade ocorre de forma integrada, mesmo que seja possível observar os fenômenos de forma particionada. Milton Santos apud Serpa (p. 11, 2006) corrobora a afirmação dizendo que “somente a relação que existe entre as coisas que permite realmente conhece-las e defini-las. Fatos isolados são abstrações, e o que lhes dá concretude é a relação que mantêm entre si”. O artigo apresenta uma síntese de um sistema integrado urbano. O texto caminha pelos conceitos de forma, estrutura, função, funcionamento e processos. O recorte espacial, realizado em campo, explora as relações destas categorias para concepção de uma análise integrada. O transecto realizado na cidade de Itaúna contribui para que a observação dos fenômenos de forma particionada subsidie a construção de um modelo que procura descrever como se apresentam tais fenômenos em conjunto. O problema científico abordado no artigo se reserva à dificuldade da análise dos fenômenos que ocorrem simultaneamente no espaço e no tempo. A existência de inúmeras variáveis e as interferências combinatórias umas nas outras, dimensiona dificuldade de sua solução. A forma, função, estrutura e processo constituem as categorias de análise em estudos integrados. Os termos conforme Santos apud Bueno (2014) são ao mesmo tempo disjuntivos e associados. A representação de apenas um destes representa uma fração da realidade. O conjunto deles constitui uma base teórica e metodológica a qual percebemos uma totalidade. O recorte espacial, com ênfase nos aspectos humanos, observa e classifica aspectos morfológicos e funcionais dos objetos ao largo do transecto. O aspecto visual dos arranjos e o ordenamento dos objetos, conforme Santos apud Bueno (2014), já permitem a identificação de padrões. A disposição dos elementos formam complexas relações. Os elementos que constituem o espaço urbano são instáveis e comumente dependentes da rede de relações que os define no todo. (DICTIONNAIRE QUILLET apud BUENO, p.5, 2014). O trabalho apresenta a hipótese de que o uso da análise discriminante promove a reapresentação das interações entre fenômenos, favorecendo a descrição integrada do espaço em sua totalidade. O objetivo geral do trabalho é estudar as relações entre forma, estrutura, função, funcionamento e processos. Os seguintes objetivos específicos foram 5724 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO traçados: estudar as categorias de sistema em campo; classificar os elementos observados; aplicar técnica estatística. 2. MATERIAL E MÉTODOS O método do trabalho é observado na figura 1, onde são descritas as etapas usadas para solução do problema. Figura 1: fluxograma metodológico Fonte: Elaborado pelos autores 2.1 O campo O estudo de campo realizado em Itaúna, Minas Gerais, caracterizou-se pelo uso de recorte urbano aplicando a técnica de transecto representado na figura 2. O trabalho de campo ao recortar o espaço preserva a realidade admitindo que como Castro apud Serpa (p. 12, 2006), “a realidade está presente em todos os recortes espaciais possíveis”. O uso do transecto revela características de diferentes fenômenos, mostrando uma realidade sistêmica. 5725 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Figura 2: Transecto urbano – Itaúna – Minas Gerais Fonte: Elaborado pelos autores O trabalho de campo conferiu a coleta dos dados para a análise e o registrar dos aspectos principais do meio urbano da cidade média de Itaúna-MG. A caracterização de Itaúna como cidade média revela conceitos importantes para a análise do ordenamento dos fenômenos. A cidade é divida em quatro ambientes, a saber: zona central: centro principal; bem definido funcionalmente; forte presença de equipamentos de alcance regional; construções em altura; maior densidade de construções; forte movimento de veículos e pessoas; tipicamente comercial; zona pericentral: extensa espacialmente; função residencial predominante; presença de pequenos comércios; diferenciação socioeconômicas; presença de hospitais, universidades, casernas, estações rodoviárias e ferroviárias; zona periférica: prolongamento da zona pericentral ou formada por unidades organizadas; presença de modestos comércios e serviços; extensão proporcional ao tamanho da cidade; zona periurbana (não tratada na pesquisa): presença de uma zona de transição urbano-rural que se confunde com a cidade; presença de alguns equipamentos terciários pontuais; aumento das casas de campo, clubes e hotéis-fazenda. 2.2 A coleta de dados O processo de coleta de dados é orientado de acordo com as categorias de sistema escolhidos para análise, a saber: 5726 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO forma: forte associação a paisagem, fisionomia, aparência ou aspecto; função: atividade, missão ou papel; funcionamento: fluxos, trocas ou a dinâmica do sistema no dado momento; processo: tempo e transformação; nível da hierarquia urbana. Os dados coletados foram classificados criteriosamente. A Classificação conforme Lalande apud Bueno (2014) é “a repartição de um conjunto de objetos num certo número de conjuntos parciais coordenados e subordinados”. 2.3. O tratamento de dados Os conceitos combinados conforme alerta Santos apud Bueno (2014) para a estrutura quando divorciada da forma conduzindo a uma falsa análise. As formas resultam de situações diversas e possivelmente dependentes da estrutura. A estrutura representa a organização, o arranjo e a distribuição dos elementos e a relação entre estas categorias são o foco da técnica de análise discriminante. A combinação dos elementos capturados em campo que aparecem disjuntos afasta a visão restrita da realidade. A associação destas definições constrói uma visão que incorpora tanto as características filosóficas como metodológicas (EICHENBAUM, J. GALE, S. apud BUENO, 2014). A avaliação da complexidade espacial exigiu a realização da etapa de classificação dos dados e da aplicação da técnica estatística. 2.3.1. A classificação dos dados Os dados classificados foram tabulados categoricamente. Os valores observados transformados em informações categóricas ou não paramétricas permitem a aplicação da técnica estatística. A transformação das informações é um processo bastante simples. A informação da função do imóvel por exemplo quando destinada a atividade comercial recebe o valor um (1), quando a atividade é residencial o valor atribuído é zero (0). A tabela 1 sintetiza as categorias observadas com sua respectiva descrição e classificação. 5727 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Categoria Estrutura Forma Forma Forma Função Funcionamento Processo Descrição tipo de organização aspecto da edificacao visão econômica fisionomia da ocupação do espaço ou densidade característica física da via atividade exercida no imóvel fluxo de pessoas e veículos caracterização do tempo da edificação Classes Central, Pericentral, Periferica. Classe A, Classe B, Classe C. Baixa, Media, Alta. Ampla, Media, Restrita. Domestico, Comercial. Baixo, Medio, Alto. Novo, Mediano, Antigo. Tabela 1: estrutura dos dados coletados em campo Fonte: Elaborado pelos autores 2.3.2. Análise discriminante A Análise discriminante é uma técnica estatística de agrupamento que procura uma equação que permita predizer os valores da variável dependente, que não é métrica (categórica). O termo discriminante, conforme Revorêdo e Silva (2014) refere à força dos elementos observados particionados e a função da relação dos fenômenos, para discriminar ou prever o comportamento do fenômeno que se deseja explicar. O objetivo fundamental da análise discriminante é alocar todos os elementos da amostra em grupos para obtenção de um conjunto único de coeficientes que expliquem com a máxima precisão, os elementos observados. O estudo testa através da técnica o grau de explicação do conjunto de fenômenos discriminantes e relacionados (forma, função, funcionamento e processo) tem sobre a constituição da estrutura, a qual é refletida em uma função. 3. RESULTADOS As observações principais do trabalho de campo foram as transformações da paisagem, ao longo do percurso. Os registros de referências importantes bem como a leitura da paisagem, de forma atenta e crítica, identificando diferenciação, organização e integração. As figuras 3 e 4 apresentam o espaço observado em campo e a classificação proposta conforme o método apresentado. 5728 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Figura 3: classificação dos elementos no início do transecto Fonte: Elaborado pelos autores Figura 4: classificação dos elementos no meio do transecto (visão inversa) Fonte: Elaborado pelos autores A figura 4, uma apresentação inversa da direção do transecto, mostra a evolução e dinâmica do meio urbano ao longo do caminho. A figura 5 representa os 5729 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO recortes espaciais ao longo do transecto. As quadras foram numeradas assim como os lotes, sempre respeitando a o transecto inicial. Figura 3: divisão das quadras classificadas Fonte: Elaborado pelos autores A análise combinada das figuras 3,4 e 5 estabelecem o conjunto e os tipos de dados capturados em campo. Os dados aplicados à técnica de análise discriminante apresentaram os resultados dos testes estatísticos dispostos nas tabelas 2, 3 e 4. A tabela dois (2) resume a amostra observada. A tabela três (3) indica as correlações ou seja a grau de explicação dos fenômenos quando observados de maneira integrada com a estrutura. A tabela quatro (4) apresenta somente os coeficientes explicativos e indica os pesos ou influências destes fenômenos na explicação da estrutura. 5730 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Tabela 2: SÍNTESE DA ANÁLISE DISCRIMINANTE Tabela 3: CORRELAÇÃO DOS FENÔMENOS Tabela 4: COEFICIENTES DE EXPLICAÇÃO Fonte: Elaborado pelos autores O resultado da análise discriminante apresentado na tabela 5 exibe os eventos e percentuais de acertos do modelo na estimação da estrutura em função das variáveis explicativas apresentadas na tabela quatro (4). TABELA 5: ESTRUTURA DOS DADOS COLETADOS EM CAMPO FONTE: ELABORADO PELOS AUTORES 5731 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 5.1. Discussão dos resultados O problema relativo a dificuldade da análise da interação da coexistência de fenômenos no espaço e no tempo motivou a descoberta do método estatístico da análise discriminante como boa ferramenta para explicar um fenômeno a partir da interação da totalidade dos fenômenos que ocorrem no sistema observado. A análise integrada dos elementos do funcionamento (fluxo de pessoas e veículos), processo (tempo das edificações), forma (fisionomia da ocupação e característica da via) aplicada à análise discriminante mostrou que estes elementos são capazes de explicar a estrutura com alto grau de confiança. A dinâmica das interações dos elementos indicados no modelo podem explicar uma estrutura central com 82,8% de acerto. O alto grau de confiança também se repete nas interações dos elementos das áreas periféricas e pericentrais, que obtiveram coeficientes de explicação de 83,3% e 75,9% de acerto, respectivamente. O modelo é uma boa forma de predizer a que tipo de estrutura pertencem outros conjuntos de informações baseadas nos elementos ainda que fragmentados. O modelo contribui para a validação da classificação e identificação de casos atípicos. O uso da técnica permite avaliar dados não paramétricos, ou seja, qualitativos de modo quantitativo com grande precisão. 6. CONCLUSÕES O estudo foi orientado ao trabalho de campo, ao recorte espacial, a dados categóricos ou não numéricos (qualitativos) e a técnica análise discriminante. O trabalho estudou as relações do sistema urbano, classificando informações e aplicando a análise discriminante para reapresentar quantitativamente as interações entre os fenômenos buscando favorecer a descrição integrada do espaço em sua totalidade. A contribuição essencial do artigo é promover a utilização da técnica de análise discriminante em estudos científicos que utilizam dados não paramétricos. O estudo mostrou que a aplicação da técnica é permissível para estudos complexos na 5732 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO esfera da relações e interações de fenômenos no meio urbano na explicação da totalidade dos mesmos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUENO, Guilherme Taitson. Análise Estrutural e recorte espacial. Programa de PósGraduação em Geografia - Tratamento da Informação Espacial. Disciplina: Metodologia e Pesquisa em Geografia. Belo Horizonte. 2014 BUENO, Guilherme Taitson. Escalas e níveis de organização nos estudos geográficos. Programa de Pós-Graduação em Geografia - Tratamento da Informação Espacial. Disciplina: Metodologia e Pesquisa em Geografia. Belo Horizonte. 2014 BUENO, Guilherme Taitson. O princípio da Classificação nas ciências. 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