Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 AS FERRAMENTAS DA WEB 2.0 EM LIVROS DIDÁTICOS DE BIOLOGIA Paula Vanessa Bervian (Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS – Coordenadora do PIBID Ciências Biológicas e PRODOCÊNCIA/CAPES) Paola Vogt (Escola Estadual de Educação Básica Eugênio Frantz – Bolsa de Iniciação Científica Para o Ensino Médio – PIBIC-EM/CNPq 2015/2016) Jiulia Carla Marin (UFFS – Bolsista PRO-ICT/UFFS) Jociele Froelich Thomas (Escola Estadual de Educação Básica Eugênio Frantz – Coorientadora PIBIC-EM/CNPq 2015/2016) RESUMO A pesquisa analisou a indicação de utilização da Web 2.0, por parte dos autores de livros escolares. A coletânea de material para a análise correspondeu a seis coleções didáticas de Biologia do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) em 2015, manual do professor e livro do aluno. Em nossa investigação encontramos indicações da Web 2.0 em algumas coleções (L2, L5, L4, L3 e L6). E indicações numa abordagem voltada às características da Web 1.0 (L1 e L4) nos manuais de orientação para o professor. Na maioria das coleções, a presença da Web está apenas no manual dos professores. Pretendemos através dessa pesquisa exploratória, iniciar uma discussão sobre as relações do uso do livro didático com as tecnologias da informação e comunicação, especialmente as ferramentas da Web 2.0. PALAVRAS-CHAVE: Recursos educacionais; Ensino de Biologia; Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). INTRODUÇÃO A Web 2.0, também conhecida como Web social, é a segunda geração de serviços online, caracterizada por fortalecer diversas formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de ampliar os espaços para a interação entre os participantes do processo gerando repercussões sociais importantes, como o trabalho coletivo, a troca efetiva, a produção e a circulação de informações (PRIMO, 2007). Por meio da Web social, as pessoas deixaram de ser apenas consumidoras e tornaram-se produtoras, adquirindo autonomia para produzir seus próprios materiais e compartilhá-los de maneira fácil e rápida, de forma intuitiva (COUTINHO, 2008; PRIMO, 2007; SCHLEMMER et al. 2007) . Neste sentindo, conforme Leite e Leão (2009, p. 2) “[...] temos presenciado uma ampla expansão do conceito da Web 2.0, cuja principal característica poderia ser a substituição do conceito de uma web de leitura, para uma de leitura-escrita.” 5669 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Segundo O’Reilly (2005) criador do termo, não é possível definirmos limites da Web 2.0, pois esta se relaciona a um centro rodeado de princípios e práticas. Dentre estes princípios, um deles trata-se de trabalhar a Web 2.0 como plataforma, em que funções online antes (Web 1.0) somente poderiam ser realizadas por programas instalados no computador, o que possibilita o princípio da inteligência coletiva, em que o conhecimento individual constitui um elemento que ao ser partilhado resulta num conhecimento coletivo do qual todos se beneficiam. Estes dois princípios se relacionam à arquitetura de participação, em que o sistema incorpora recursos de interconexão e compartilhamento, em que a construção da Web está baseada na participação ativa de um grande número de utilizadores e que eles próprios estão envolvidos na gestão dos conteúdos (PRIMO, 2007). Por meio destes três princípios justificamos as potencialidades da Web 2.0 que mesmo não tendo sido projetada para fins pedagógicos, vem sendo compreendida como benéfica para diferentes propostas pedagógicas, como por exemplo, a educação à distância, a aprendizagem híbrida, a aprendizagem móvel e a sala de aula invertida, todas estas modalidades baseadas na educação online. Muitos são surpreendidos quando verificam como as conexões da Web 2.0 oferecem aos professores ferramentas capazes de contribuir para a melhoria da aprendizagem, encorajando a criação e aprofundando o conhecimento (COUTINHO, 2008). Portanto, as tecnologias da informação e comunicação (TIC)1, especialmente as ferramentas da Web 2.0, no contexto escolar se apresentam como nova possibilidades no processo de ensino e aprendizagem, disponível aos professores e os alunos de todos as modalidades educacionais. Segundo Cardoso (2011, p. 12 [grifos do autor]) “os avanços no campo da informática e da internet abrem cada vez mais possibilidades à educação, especialmente à modalidade online de docência e aprendizagem”. Entretanto, os laboratórios de informática implantados nas escolas nem sempre são utilizados, ou por falta de técnicos ou pelo fato de alguns professores não terem conhecimento dessas novas tecnologias. Nesse sentido, Cardoso (2011, p.12) analisa os avanços da internet e das gerações da Web. Vivenciamos na primeira década do século XXI intensa consolidação da internet como que vem sendo amplamente chamado de evolução da web, isto é, do sistema www de documentos interligados e executáveis que impulsionou a crescente apropriação social da internet a partir dos anos 1990. A web 1.0 é identificada 1 Ao utilizarmos o termo TIC, estamos nos referindo desde as ferramentas mais tradicionais às mais atuais: computadores (PC e laptop), tecnologia móvel (celulares, smartphones, tablets), tecnologia de imagem e vídeo (dispositivos de recolha e edição de imagem, consoles de jogos entre outros), software social (ferramentas da web 2.0, como plataformas de aprendizagem, redes sociais, aplicativos entre outros) e redes (nas suas múltiplas formas e âmbitos), de acordo com a definição proposta por Matos (2008). 5670 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 como a fase inicial da web, caracterizada principalmente pela prevalência do site ou portal de conteúdos para o internauta navegar, ler, assistir, ouvir e baixar. Ao passo que na web 2.0, blog, chat, wiki, podcast, youtube as redes sociais (ex: Orkut, Facebook, Ning, Twitter, etc) ganham a cena trazendo mais autonomia, liberdade e autoria para o internauta, no ambiente, até então, reservado aos webmasters, experts em linguagens de programação e protocolos de informática e da internet (CARDOSO, 2011, p. 12). Portanto, papel do professor diante da Web 2.0 (BLATTMANN; SILVA, 2007) ou da anunciada Web 3.0, também designada Web Semântica (BERNERS-LEE; HENDLER; LASSILA, 2001) propõe novos desafios e o (re) pensar em sua prática docente. Entendemos que a profissão docente tem sido (re) significada e novas competências e conhecimentos são necessários, numa articulação entre os conhecimentos de conteúdo, conhecimentos pedagógico e conhecimentos tecnológicos (MISHRA; KOEHLER, 2006). Em nosso contexto educacional brasileiro, os livros didáticos ainda são os recursos didáticos mais utilizados nas escolas, por isso propomos investigar os indícios de ferramentas da Web 2.0 nos livros didáticos de Biologia do Ensino Médio em que o professor, poderá por meio das orientações presentes nestes livros, selecionar e utilizar as ferramentas da Web 2.0 como estratégia da de ensino e aprendizagem, criando novas possibilidades para que os alunos aprendam, uns com os outros, na forma de inteligência coletiva. Por isso, nosso objeto de análise desta pesquisa foi analisar a indicação de utilização da Web 2.0 presentes nos livros de Biologia, especificamente nas coleções mais distribuídas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) em 2015. Através da investigação do seguinte problema de pesquisa: Quais ferramentas da Web 2.0 são encontradas nos livros didáticos de Biologia? A importância dessa pesquisa está na discussão em torno do livro didático, material didático mais utilizado nas escolas e no uso das TIC, especificamente as ferramentas da Web 2.0, que carecem estudos na área devido ao seu potencial como estratégia nos processos de ensino e de aprendizagem, especialmente na área de Biologia. Além da publicização de tendências dos livros didáticos de Biologia, relacionadas ao potencial de utilização das ferramentas da Web 2.0 como estratégia de ensino nas aulas de Biologia, no Ensino Médio. O desenvolvimento desta pesquisa foi ainda mais importante, pois foi realizada com a participação de uma aluna do Ensino Médio, bolsista de Iniciação Científica para o Ensino Médio (PIBIC-EM/CNPq) que investigou um objeto de análise do seu cotidiano: as ferramentas da Web 2.0 presentes nos livros de Biologia. 5671 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 METODOLOGIA O método utilizado nesta pesquisa foi qualitativo, do tipo documental, onde foram analisados os livros didáticos de Biologia do Ensino Médio para investigar se há indicação para a utilização de ferramentas da Web 2.0 como potenciais estratégias no ensino de Biologia. A coletânea de material2 para a análise documental desta pesquisa correspondeu a seis coleções: às duas coleções didáticas de Biologia mais distribuídas no ano de 2015 e outras duas coleções do manual do professor disponíveis no acervo do GEPECIEM3 e o livro escolar da bolsista. Todas as coleções estão entre as mais distribuídas em 2015. A pesquisa seguiu os procedimentos de análise temática de conteúdo descrita por Lüdke e André (2013) que compreendem as seguintes etapas: a) pré-análise: leitura prévia dos capítulos dos livros de biologia para verificar a presença das ferramentas da Web 2.0; b) exploração de material: análise da presença das ferramentas da Web 2.0 sugeridas como estratégia no ensino de Biologia, no livro didático; c) tratamento e interpretação dos resultados: por meio de leitura de trabalhos na área. Utilizamos um código para a identificação de cada coleção: L1, L2, L3, L4, L5 e L6 (Quadro 1). Quadro 1: Coleções didáticas do componente curricular de Biologia do Ensino Médio Código Coleção L1 Biologia Hoje: Citologia - Reprodução Desenvolvimento - Histologia Origem da Vida Biologia Hoje: Os Seres Vivos - Volume 2 Biologia Hoje: Genética - Evolução - Ecologia - Volume 3 L2 Biologia em contexto: 1 Do Universo às Células Vivas Biologia em contexto: 2 Adaptação e Continuidade da Vida Biologia em contexto: 3 A Diversidade dos Seres Vivos L3 Biologia – Volume 1 – Ecologia - Origem da vida e biologia celular – Embriologia e histologia Biologia - Volume 2 – Os seres vivos Biologia - Volume 3 – O ser humano - Genética - Evolução 2 Coleções mais distribuídas por componente curricular pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Disponível em: http://www.fnde.gov.br/arquivos/category/35-dados-estatisticos?download=9374:pnld-2015colecoes-mais-distribuidas-por-componente-curricular-ensino-medio 3 Os livros analisados pertencem ao acervo do Grupo de Estudos e Pesquisa em Ensino de Ciências e Matemática (GEPECIEM) da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Campus Cerro Largo/RS. Exceto o livro da bolsista do Ensino Médio. 5672 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 BIO – Volume 1 L4 BIO – Volume 2 BIO – Volume 3 L5 Conexões com a Biologia – Volume 1 Conexões com a Biologia – Volume 2 Conexões com a Biologia – Volume 3 L6 Biologia Unidade e Diversidade – Volume 1 Biologia Unidade e Diversidade – Volume 2 Biologia Unidade e Diversidade – Volume 3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Este estudo investigou as ferramentas da Web 2.0 que estão sendo apresentadas como estratégias didáticas no ensino de Biologia em seis nas coleções didáticas, visando identificar e caracterizar estas estratégias. Na primeira coleção (L1) analisada encontramos, no manual do professor, sugestões de pesquisa visando um melhor entendimento ou um aprofundamento de determinados assuntos (Figura 1). Numa perspectiva voltada à Web 1.0 onde o professor e os alunos são apenas consumidores de informações. Figura 1. Perspectiva da Web 1.0 presente em L1: manual do professor, exemplo do volume 3, página 17 De acordo com Trein e Schlemmer (2009, p.4) a principal característica da Web 1.0 é a “[....] disponibilização da informação em formato texto, que pode ser acessado por qualquer pessoa com conexão a internet”, esta grande rede possibilitou profundas transformações na sociedade, que passou a ser denominada sociedade da informação, 5673 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 devido ao acesso facilitado às informações em poucos segundos, neste paradigma da Web 1.0, “os sujeitos são consumidores desta informação” (TREIN; SCHLEMMER, 2009, p. 4). Em relação às coleções, L2 e L5, ambos possuem a mesma concepção de estudo apresentando sugestões de atividades online as quais o professor teria acesso, numa perspectiva da Web 2.0 indicado ao longo das páginas através do ícone denominado objeto educacional (Figura 2 e 3), entretanto os professores da escola pública, devido à falta de investimentos financeiros do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para o pagamento da editora, conforme informação de Serviços educacionais - Matriz, assessoria especializada em Ciências e Biologia. A possibilidade de acesso a um determinado objeto educacional digital se enquadraria nessa proposta de ferramentas da Web 2.0 como estratégia no Ensino de Biologia, mas não pode ser acessado pelos professores das escolas públicas, mesmo sendo indicado este ícone em cada capítulo. Segundo Leite e Leão (2009) a Web 2.0, nova geração da internet tem provocado profundas mudanças e transformado as atitudes, os hábitos e as ideias, devido a gama de ferramentas interativas, que possibilitam um novo rumo em relação ao conteúdo e a tecnologia. Possibilitando ensinar com e na internet, em ambiente escolar, é possível atingir resultados significativos, ao ser articulada ao contexto de mudança no processo de ensino e aprendizagem, no qual os alunos e o professor possam vivenciar processos comunicativos abertos, de maneira interpessoal, de maneira interativa, colaborativa e cooperativa. Figura 2: Perspectiva da Web 2.0 presente em L2, no manual do professor: no entanto este objeto educacional digital não pode ser acessado apesar de ser indicado em cada capítulo, exemplo do volume 3, página 15 Figura 3: Perspectiva da Web 2.0 presente em L5, no manual do professor: no entanto este objeto educacional digital não pode ser acessado apesar de ser indicado em cada capítulo, exemplo do volume 3, página 69 Na terceira coleção, L3, encontramos ao final de cada unidade do livro, tanto no manual do professor como no livro do aluno. Há recomendações no tópico denominado multimídia, que recomenda livros, sites e filmes comerciais. Portanto, em L3, há recomendações para a utilização de sites, numa perspectiva voltada à Web 2.0 e o uso de 5674 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 recursos audiovisuais, mostrando indícios de uso potencial das TIC. Cabe destacar que esta é a primeira coleção em que o aluno tem efetivamente o acesso aos recursos digitais, especialmente, a presença da Web 2.0, por meio do tópico “multimídia” (Figura 4) ao final de cada unidade, com sugestões para criação de blogs sobre os conteúdos do respectivo capítulo (Figura 5). Figura 4. Perspectiva da Web 2.0 presente em L3, tanto no manual do professor como no livro do aluno: no tópico “multimídia”, exemplo do volume 3, página 151 Figura 5: Perspectiva da Web 2.0 presente em L3, tanto no manual do professor como no livro do aluno: sugestão de criação de blog sobre determinado conteúdo, exemplo do volume 3, página 235 Conforme Trein e Schlemmer (2009) os Weblogs, também denominados como blogs, caracterizam-se como páginas que estão disponíveis na Web4, que possibilitam a constante atualização dos usuários a partir de posts e comentários. Os blogs facilitam a comunicação e a interação, propiciam a discussão de temáticas específicas e podem ser utilizados como diários virtuais. Em contexto educacional, é um espaço que possibilita a interação e a construção do conhecimento, no qual os alunos podem desenvolver a autonomia e tornarem-se autores do processo de ensino e aprendizagem, mediados pelo professor. Portanto, apresentam várias possibilidades no ensino de Biologia, inclusive é a ferramenta da Web 2.0 mais utilizada por professores de Biologia no Rio de Janeiro 4 Designada como World Wide Web (WWW), tradução em língua portuguesa como, rede de alcance mundial (TREIN; SCHLEMMER, 2009). 5675 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 (ROLANDO et al., 2011) e em Portugal, Coutinho (2008) verificou que a ferramenta da Web 2.0 mais utilizada pelos professores foram os blogs. Em L4 encontramos indicação, por parte dos autores do livro, para o acesso a alguns sites de pesquisa (Figura 6) numa perspectiva da Web 1.0. Também encontramos indicação a sugestão de jogos educativos online (Figura 7) numa perspectiva da Web 2.0, estes apenas encontrados no manual do professor. Portanto, cabe ao professor a tarefa de compartilhar as informações encontradas com seus alunos. Figura 6: Perspectiva da Web 1.0 presente em L4, no manual do professor: indicação de sites para a leitura, exemplo do volume 3, página 14 Figura 7: Perspectiva da Web 2.0 presente em L4, no manual do professor: Jogos online, exemplo do volume 2, página 73 Em L6, encontramos um tópico denominado “Vá em frente!” (Figura 8), que tem como objetivo incentivar a buscar por informações em outras fontes, para além do livro didático, como: vídeos, portais na internet, livros paradidáticos, filmes e outras mídias como animações. No manual do professor está presente a Web 2.0 através da sugestão de jogos educativos online, entretanto, cabe ao professor a decisão de incluir estes jogos educativos online em suas aulas, como estratégias de ensino ou pelo menos, indicá-los para os alunos (Figura 9). Figura 8. Perspectiva da Web 2.0 presente em L6, no manual do professor: no tópico “Vá em frente!”, exemplo do volume 1, página 129 Figura 9. Perspectiva da Web 2.0 presente em L6, no manual do professor: Jogo educativo online, exemplo do volume 3, página 423 5676 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 Esta indicação de jogos educativos online vai ao encontro da gamificação no ensino, prática inovadora promissora e de grande potencial educativo que alguns pesquisadores veem investigando, inclusive em contexto brasileiro, a exemplo de Schlemmer (2014). Outra modalidade inovadora é a m-learning que se refere aos processos de ensino e aprendizagem apoiados por tecnologia móvel sem fio, especialmente dispositivos móveis e apps5, que permitem a mobilidade tanto em relação aos indivíduos como aos conteúdos, em diferentes contextos e tempos, possibilitando superando os limites do espaço e do tempo (MOURA, 2010; SCHLEMMER et al., 2007). Portanto, é necessário que os autores dos livros didáticos e os professores percebam a importância das TIC em contexto escolar, especificamente a Web 2.0, neste momento de profundas mudanças tecnológicas em relação à maneira de nos relacionarmos com o conhecimento (MOURA, 2010). CONCLUSÃO Nesta pesquisa nossa intenção foi analisar a indicação de utilização da Web 2.0, especificamente as aulas de Biologia, utilizando os recursos da Web 2.0 em estratégias de ensino de Biologia, baseada nas propostas de algumas ferramentas encontradas em livros didáticos. Dentre as seis coleções de livros didáticos, encontramos algumas indicações da Web 2.0 (L2, L5, L4, L3 e L6). Em L2 e L5, há indicação de objetos educacionais digitais (OED) por meio de um ícone em suas páginas, entretanto, os professores das escolas públicas não têm acesso aos OED sugeridos na coleção, pois não foram repassados pelo FNDE os recursos financeiros para a editora. Em L3, há possibilidades de utilização das ferramentas de Web 2.0, ainda que limitadas, ao propor a construção de blogs. Única coleção que os alunos podem ter acesso às propostas de ferramentas da Web 2.0 para além do manual do professor, no tópico “multimídia” ao final de cada capítulo. Em L6, no manual do professor há indicação de jogos online. Estes resultados sugerem que o formato dos livros didáticos distribuídos em 2015 para as escolas públicas, não possibilitam a investigação das ferramentas da Web 2.0, por conta dos próprios alunos, num processo autônomo. Apenas se o professor achar necessário ou não, trabalhar com estas ferramentas como estratégias em suas aulas ou pelo menos, indicá-las: sites, jogos digitais e blogs para os alunos. Infelizmente, pelas razões explicitadas na introdução e discussões, que se relacionam à falta de manutenção dos laboratórios de informática das Escolas, internet de qualidade e pouca familiaridade com as 5 São programas que incluem novas funções aos dispositivos móveis. 5677 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3 TIC, muitos professores ainda preferem o método tradicional onde as ferramentas da Web 2.0 não estão incluídas. Acreditamos que através dessas ferramentas há possibilidades de expandir os conhecimentos e alunos podem ser autores de suas próprias ideias. Também, encontramos indicações de uma abordagem voltada às características da Web 1.0 (L1 e L4) nos manuais de orientação para o professor, com a sugestão de endereços eletrônicos apenas para a complementação do conteúdo. Portanto, a maioria das coleções analisadas ainda carece de propostas relacionadas ao uso de TIC, principalmente da perspectiva da Web 2.0. REFERÊNCIAS BERNERS-LEE, Tim; HENDLER, James; LASSILA, Ora. The semantic web: a new form of web content that meaningful… Scientific American, [S.l.], v. 284, n. 5, p. 34-43, 2001. Disponível em: <http://wwwscientificamerican.com/2001/0501issue/0501berners-lee.htm >. Acesso em: 24 nov. 2010. BLATTMANN, Ursula; SILVA, Fabiano Couto Corrêa da. Colaboração e interação na web 2.0 e biblioteca 2.0. Revista Acb, Florianópolis, v. 12, n. 2, p.1-25, Não é um mês valido! 2007. Disponível em: <https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/530/664>. Acesso em: 15 nov. 2015. CARDOSO, Ana Rosa Costa. 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