Efeito repelente de concentrados de Carapa guianensis Aubl. (Meliaceae) no controle de Sitophilus zeamais Mots. (Coleoptera: Curculionidae) em grãos de milho GOTT, R.M.1, RIBEIRO, R.C.2, COSTA, M.A.3, FOUAD, H.A.2, TAVARES, W.S.4, SOUZA FILHO, A.P.S.5; LEMOS, W.P.6 1 Mascarenhas Dalle Projeto Assistência Agropecuária Ltda, Paraopeba, Minas Gerais, Brasil. E-mail: [email protected] 2Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Biologia Animal, 35670-000, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. E-mail: [email protected], [email protected] 3Embrapa Milho e Sorgo, Rodovia MG 424, Km 65, Caixa Postal 151, 35701-970, Sete Lagoas, Minas Gerais, Brasil. E-mail: [email protected] 5 Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Viçosa, 36571-000, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. E-mail: [email protected] 5Embrapa Amazônia Oriental, Laboratório de Agroindústria, CPATU, Belém, Pará Estado, Brasil. E-mail: [email protected] 6 Embrapa Amazônia Oriental, Laboratório de Entomologia, CPATU, Belém, Pará, Brasil. Email: [email protected] Resumo Grãos de milho e outros cereais armazenados são infestados por diversas espécies de insetos, destacando-se o gorgulho Sitophilus zeamais, sendo que o controle desse inseto-praga tem sido realizado em larga escala por produtos químicos. Este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito repelente de quatro concentrados de andiroba (Carapa guianensis) em adultos de S. zeamais em condições de laboratório. Indivíduos de S. zeamais foram obtidos da criação localizada no Departamento de Engenharia Agrícola da UFV, MG, Brasil. Os ensaios foram realizados e mantidos, em sala climatizada de temperatura 25 ± 2º C, umidade relativa 70 ± 10% e fotoperíodo 12 h. A ação de repelência do óleo essencial de C. guianensis foi testada utilizando-se uma arena contendo cinco caixas plásticas circulares (6,1cm de diâmetro e 2,1cm de altura), sendo uma central interligada às outras quatro por cilindros plásticos. Em dois recipientes foram colocadas 20 g de milho, em concentrações de 40%, 20%, 10% e 5% de óleo essencial de andiroba em outros dois continham a testemunha, em quatro repetições. No recipiente central foram liberados 20 adultos de S. zeamais não-sexados e, após 24 horas foi contado o número de besouros em cada caixa plástica. O ensaio foi analisado através do teste “t” de Student, a 5% de significância. Nos tratamentos que continham as menores concentrações de andiroba 5% e 10% a presença de besouros foi igual que em caixas da testemunha, e em menor número que aqueles insetos encontrados em caixas que continham as maiores concentrações de extratos 20% e 40%. Conclui-se que andiroba em concentrações de 20% e 40% tem efeito repelente contra S. zeamais. Palavras-chave: Andiroba, controle alternativo, gorgulho-do-milho, Zea mays Revisão bibliográfica Grãos de milho e outros cereais armazenados são infestados por diversas espécies de insetos, destacando-se o gorgulho Sitophilus zeamais (Coleoptera: Curculionidae) como uma das principais pragas primárias internas. O controle químico desta praga é, geralmente, efetuado com inseticidas fumigantes e protetores (Lorini, 2003; Ribeiro et al., 2003; Benhalima et al., 2004). O emprego de inseticidas organossintéticos, além de oneroso para os agricultores, provoca inúmeros problemas ambientais (toxicidade aos seres humanos e animais, resistência XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 370 e ressurgência de pragas, contaminação de solo e água) decorrentes do seu uso constante e inadequado (Fernandes et al., 2006; Perez & Iannacone, 2006). Isto exige novas alternativas de manejo e controle de praga, incluindo, o uso de inseticidas de origem vegetal (Tavares et al., 2009, 2010a, 2010b; Venzon et al., 2007; Céspedes et al., 2008). Substâncias extraídas de plantas têm inúmeras vantagens quando comparadas ao emprego de sintéticos. Obtidas de recursos naturais renováveis são rapidamente degradáveis no meio ambiente. Além disso, apresentam baixa toxicidade para mamíferos e outros organismos não alvos (Tare et al., 2004). Por outro lado, os insetos apresentam lento processo de desenvolvimento de resistência, pois essas substâncias, diferentemente dos inseticidas químicos sintéticos, são compostas da associação de vários princípios ativos (Roel, 2001). As plantas são grandes fontes de moléculas com ação fagoinibidora, repelente, inseticida, além de substâncias capazes de alterar a regulação do crescimento, tendo como exemplos os piretróides, a rotenona, a nicotina, a quassina e a azadiractina, extraídos das flores do crisântemo (Chrysanthemum cinerariafolium), das raízes do timbó (Derris spp.), das folhas do fumo (Nicotiana spp.), do caule da quina (Quassia amara) e do fruto e das folhas do nim (Azadiracta indica), respectivamente (Vieira & Fernandes, 1999; Coêlho, 2006). A andiroba (Carapa guianensis Aubl.), da família Meliaceae, uma árvore de grande porte encontrada na floresta amazônica, é uma espécie de uso múltiplo cujo óleo, extraído de suas sementes, é bastante utilizado na indústria de cosméticos e na medicina popular da região Norte do Brasil (Loureiro et al., 1979; Hammer e Johns, 1993). Assim, o presente trabalho tem o objetivo de avaliar o efeito repelente do óleo essencial de Carapa guianensis (Andiroba) no controle de S. zeamais em grãos de milho. Material e Métodos O gorgulho-do-milho foi obtido da criação desse inseto do laboratório de grãos do Departamento de Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Viçosa (UFV), Minas Gerais, Brasil. Indivíduos de S. zeamais foram mantidos em grãos de milho em frascos de vidro. Os ensaios foram realizados e mantidos em sala climatizada temperatura (25 ± 2º C), umidade relativa (70 ± 10%) e fotoperíodo (12 h). As sementes de andiroba foram coletadas no município de Belém, estado do Pará, obedecendo aos protocolos para obtenção de patentes. A extração do óleo foi realizada por percolação a frio, com oito litros de solvente polar (98% etanol comercial) por amostra extraída, e processada no Laboratório de Química da Embrapa Amazônia Oriental (CPATU). O milho (Zea mays) foi semeado e colhido na fazenda da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e armazenados em câmara fria sob 5o C até começar os experimentos. Para avaliação da repelência foi utilizado o delineamento experimental inteiramente casualizado com quatro repetições. Os insetos utilizados na pesquisa foram separados ao acaso, sem alimento por 24 horas (Prates & Santos, 2002). A ação de repelência do óleo essencial de Carapa guianensis foi testada utilizando-se uma arena contendo cinco caixas plásticas circulares (6,1cm de diâmetro e 2,1cm de altura), sendo uma central interligada às outras por cilindros plásticos. Nos recipientes A e B foram colocadas 20 g de milho, em concentrações de 5%, 10%, 20% e 40% de óleo essencial da espécie vegetal em teste. Nos recipientes C e D (testemunhas), foi colocado apenas o substrato alimentar (milho). No recipiente E foram liberados 20 adultos não-sexados e, após 24 horas foi contado o número de besouros em cada caixa plástica. O ensaio de repelência foi analisado através do teste “t” de Student, a 5% de significância. Resultados e Discussão XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 371 Grãos de milho tratados com o óleo essencial de andiroba apresentaram efeito repelente à S. zeamais (Tabela 1), o que foi demonstrado também para a vaquinha desfolhadora do feijoeiro (Cerotoma timgomarianus) com atividade inseticida sobre seus adultos (Fazolin et al., 2000), em imaturos de Ascia monuste orseis (Lepidoptera: Pieridae) (Estrela et al., 2002), sobre operárias de Atta sexdens rubropilosa (Hymenoptera: Formicidae) (Oliveira et al., 2006) e nos carrapatos Anocentor nitens e Rhipicephalus sanguineus (Farias et al., 2009). Efeito repelente que não foi constatado quando testados em S. zeamais extratos diferentes estruturas vegetais e da planta inteira (com frutos) de erva-de-santa-maria (Chenopodium ambrosioides L.) (Tavares & Vendramim, 2005). Besouros não diferiram grãos de milho tratados com as menores concentrações de andiroba (5% e 10%) da testemunha, e foram significativamente menores aqueles que foram encontrados em caixas que continham as maiores concentrações de extratos (20% e 40%), com 72,79% e 78,94% de repelência, respectivamente (Tabela 1). Resultados de concordam com os obtidos por Coitinho et al. 2006, que obtiveram 68,6% de repelência com dose de 50 µL/20g em grãos de milho. Tabela 1. Atratividade de adultos de Sitophilus zeamais (Coleoptera: Curculionidae) após diferentes concentrados de andiroba (Carapa guianensis) Concentrações Tratamentos Insetos atraídos (%) Valor de t Tratado 44,47 5% -1,462 Testemunha 53,02 Tratado 33,78 10% -2,695 Testemunha 66,21 Tratado 27,21 20% -3,218 Testemunha 72,79* Tratado 21,055 40% -4,643 Testemunha 78,945* *Houve diferenças significativas entre as médias pelo teste t (P< 0,05). Prob.> t 0,2399 0,0741 0,0486 0.0188 Agradecimentos Ao “Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)”, “The Academy of Sciences for the Developing World (TWAS)”, “Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG)” e “Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)” pelo suporte financeiro. Literatura Citada Benhalima, H.; Chaudhry, M.Q.; Mills, K.A.; Price, N.R. Phosphine resistance in storedproduct insects collected from various grain storage facilities in Marocco. Journal of Stored Products Research, v.40, p.241-249, 2004. Céspedes, C.L.; Torres P.; Marín, J.C.; Arciniegas, A.; Romo de Vivar, A.; Pérez- Castorena, A.L.; Aranda, E.. Insect growth inhibition by tocotrienols and hydroquinones from Roldana barba–johannis. Phytochemistry, v.65, p.1963-1975, 2004. Coêlho, A.A.M. Análise inseticida de extratos de plantas do bioma Cerrado sobre triatomíneos e larvas de Aedes aegypti. 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