História Contemporânea Aula III Objetivo: analisar as revoluções de 1848. A) As revoluções de 1848. A revolução de 1830, na França, havia sepultado o regime aristocrático da nobreza, e instaurado a monarquia constitucional de predominância burguesa, contudo, trouxe como novidade significativa apenas a igualdade perante a lei e a garantia da propriedade privada. A democracia era um caminho evitado pela burguesia conservadora que, durante a monarquia de Luís Filipe, limitou a participação política, através do voto censitário, a cerca de 3% da população masculina adulta. A falta de compromisso do governo com a maioria da população, incluindo aí a classe trabalhadora, aliada a safra ruim (1846), e a crise financeira internacional fez eclodir a revolta em fevereiro de 1848. Republicanos, democratas radicais, estudantes e trabalhadores tomaram as ruas de Paris, formando barricadas a partir das quais derrotaram o exército leal ao governo. Sem saída, Luís Felipe abdicou ao trono dando início à república. A simples proclamação da república não satisfazia as necessidades da classe operária parisiense, oprimida por um regime de trabalho brutal, e vivendo em péssimas condições. Uma em cada três crianças morria antes de completar cinco anos de idade. A crise somente agravava a situação, aumentando a fome e o desemprego. O governo republicano aprovou medidas insuficientes frente aos anseios do operariado. O sufrágio universal masculino, a limitação da jornada a dez horas diárias, e a fundação das oficinas nacionais, para gerar empregos. Além de pouco abrangentes, as oficinas foram logo fechadas mediante a critica do liberalismo burguês, que via a iniciativa uma concessão ao socialismo. A única alternativa dos trabalhadores foi a revolta de junho de 1848. O governo burguês, aliado à aristocracia, manipulou a opinião pública, jogando os camponeses, temerosos por suas propriedades frente à “ameaça” socialista, contra os trabalhadores urbanos. Após três dias de violentos combates a revolta dos trabalhadores foi sufocada. Em dezembro de 1848, Luís Napoleão, sobrinho do imperador, manipulando o temor da classe média e do campesinato contra o perigo de revolta da classe operária, se elegeu presidente da segunda república, no primeiro sufrágio universal masculino na França. Nos estados alemães a revolta de fevereiro na França funcionou como incentivo para que os liberais, basicamente formados por intelectuais e profissionais liberais, iniciassem a agitação política. A crise econômica da década de 1840 funcionou como incentivo para que as populações pobres, das cidades e do campo, fornecessem apoio aos revoltosos. Durante os meses de março e abril de 1848 os príncipes alemães foram obrigados a aceitar gabinetes liberais, e a flexibilizarem o regime político, com o fim da censura e das obrigações feudais. A tentativa de unificação da Alemanha feita pela Assembleia de Frankfurt, que reunia os representantes liberais dos Estados, fracassou, pois os príncipes, reorganizados, esmagaram a revolta. No Império Austríaco o poder dos Habsburgo também sofreu a contestação da onda revolucionária de 1848. Assim como nos estados alemães, sob a égide prussiana, no Império Austríaco o liberalismo estava circunscrito aos círculos intelectuais, principalmente na cidade de Viena. Após a abdicação de Luís Felipe, na França, e o fortalecimento da agitação liberal, o governo austríaco foi obrigado a aceitar reformas no sistema de governo, como o abrandamento da censura e a abolição da servidão. A aparente vitória dos liberais vienenses durou pouco. Em março de 1849, os Habsburgos, apoiados pelo exército, dissolveram a Assembleia Constituinte impondo uma constituição conservadora. As principais revoltas dentro do império austríaco ocorreriam na Hungria e na Itália. Na Hungria os Magiares, liderados por Lajos Kossuth, implementaram reformas liberais, como a liberdade de imprensa, de religião, sufrágio universal masculino e o fim dos privilégios da nobreza. Contudo, o governo Húngaro presidido por Kossuth, em 1849, ao tentar se expandir para áreas dominadas por romenos e croatas facilitou a reação do imperador Austríaco, Francisco José. Aliado ao Czar Nicolau I pode contar, também, com o apoio destes grupos étnicos para a derrubada dos húngaros. Na Itália os nacionalistas liberais lutavam para derrubar os monarcas absolutos dos reinos italianos. No início de 1848 a revolução se propagou a partir dos estados do sul, partindo da Sicília. Em março a revolução alcançaria os estados do norte dominados pelos Habsburgos. Em novembro, os revolucionários forçaram o papa Pio IX a fugir, e em fevereiro de 1849 fundaram a república romana. Contudo, a reação dos Habsburgos, e o auxílio que Luís Napoleão ao papa pôs fim a revolta liberal, adiando a unificação italiana. B) Um balanço da “Primavera dos Povos”. Em meados de 1849 todos os movimentos revolucionários haviam sido derrotados, e os governos anteriores restaurados. Somente na França a república havia sobrevivido, ainda que por pouco tempo. Também permaneceu a abolição da servidão e da escravatura, aonde ela ainda existia na Europa. A rapidez com que as revoluções foram de vitoriosas a derrotadas pode ser entendida pela novidade contida nestes processos. As revoluções de 1848 somente triunfaram devido à participação dos trabalhadores pobres. Foram eles o elemento definidor da vitória. O processo francês demonstrou, no entanto, que esta participação ensejava a expectativa de mudança nas estruturas sociais da república nascente. O antagonismo não era mais entre o novo regime burguês e a velha aristocracia, mas sim entre os trabalhadores pobres e os seus exploradores. A revolta de junho de 1848 e a organização e disposição demonstrada pelos trabalhadores pobres de irem até as últimas consequências para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, fez com que o conservadorismo ganhasse força, alicerçando a reação. Os liberais não estavam dispostos a ceder frente à revolução social que se apresentava. Nos locais aonde a revolução resistiu durante mais tempo, Hungria e Itália, o radicalismo foi alimentado pelo nacionalismo e a luta contra dominação estrangeira. Nos dois casos a dominação austríaca. As revoluções de 1848 serviram para demonstrar aos liberais o perigo do processo revolucionário. O risco de fugir ao controle, mediante a pressão da nova classe trabalhadora. A burguesia liberal também percebeu que as suas principais reivindicações poderiam ser alcançadas sem o processo revolucionário. A liberdade era menos importante do que a defesa da propriedade e dos negócios. A revolução era um risco desnecessário. A burguesia deixava assim de ser uma classe revolucionária. Quanto aos trabalhadores pobres, eram fortes para impulsionar revoluções, mas não possuíam ainda número suficiente para impor as suas aspirações, e a conscientização e organização ainda eram muito tímidas. Por fim, as revoluções de 1848 marcaram o abandono definitivo da legitimação do poder baseada em fatores externos à lógica da sociedade. Mesmo as nações do leste europeu mudaram suas estruturas políticas, de modo a interagir com a opinião pública, e efetivaram programas de modernização política e social. Chegava ao fim a era de reis e súditos.