foi feita para anunciar aos Santos Reis Magos o nascimento do

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foi feita para anunciar aos Santos Reis Magos o nascimento do
Menino Jesus. Tens que ir esta noite levar a estrela ao Oriente...
Nessa altura, Rafael interrompeu-o e começou a explicar a
Rasto de Deus, num mapa muito grande, por onde devia ir. A
seguir, Fortaleza de Deus disse-lhe como devia levar a estrela, e
Beleza de Deus disse-lhe como devia voar para que o rasto de luz
ficasse bonito na noite. Rasto de Deus não entendia nada. Não
conseguiria cumprir a missão. Além disso – S. Miguel lembrava-se
agora – mal tinha aprendido a voar, e como estava há tanto tempo
sentado, ainda o faria pior...
Era melhor enviarem outro. Mas Deus tinha-Se aproximado
do pequenino anjo, e olhava-o… Rasto de Deus sentiu que a estrela
já não lhe pesava. Levantou-se. Então Deus fez um gesto com a
mão e Rasto de Deus viu que se abria um caminho de luz no
espaço. Moveu as asas. Primeiro, desajeitadamente. Depois, com
muita força. Voava!
Como há milhares de séculos que estava ali sentado, sem se
mexer, tinha-lhe caído em cima todo o pó do céu, que é um pó de
luz, e agora, ao bater as asas, soltava-o na noite, desenhando um
Rasto de Deus
rasto luminoso. Os anjos estavam admirados. E Rasto de Deus foi
voando, voando, pelo caminho que Deus lhe tinha traçado. Levava
Chamava-se Rasto de Deus.
a estrela nas mãos estendidas e deixava por onde passava uma
Assim o tinha escrito, no fim da sua lista, S. Miguel, capitão
cauda de luz. No seu palácio, os Reis Magos olhavam as estrelas e
de todos os anjos. Porque S. Miguel teve que fazer uma lista com o
um deles disse:
nome dos anjos fiéis, e estreitar as fileiras do seu exército, para que
− Vede! É o sinal! Nasceu o Filho de Deus!
não se notasse o vazio que os anjos maus tinham deixado. A todos
Cheio de alegria, Rasto de Deus levava a Estrela nas mãos…
deu um nome, começando por Gabriel, o anjo que Deus criara para
anunciar ao mundo a mais importante notícia. Depois, nomeou
Montserrat del Amo
Rasto de Deus e outros contos
Lisboa, Ed. Paulinas, 1997
(texto adaptado)
Rafael, que devia acompanhar Tobias, o da viagem, e que a partir
daí se preocuparia em conduzir, sãos e salvos, todos os viajantes. E
assim foi dando um nome a todos até que só faltava um: um anjo
pequenino e desajeitado, que quase não sabia voar.
S. Miguel tinha encarregado um anjo grande e forte, que se
chamava Fortaleza de Deus, de o ensinar. Mas foi tudo inútil. Ele
só sabia voar no rasto luminoso que Deus deixava por onde
queria dizer que era um anjo que nunca tinha descido à terra.
Então pensou:
− Onde estará metido este Rasto de Deus que eu não me
lembro dele?
passava, como se fosse um caminho de luz. Ali sim! Ali, o anjo
Ainda estava a procurar lembrar-se, quando Sabedoria de
pequenino estendia as asas, e voava sorrindo, feliz. Mas quando se
Deus se aproximou e lhe disse umas palavras ao ouvido. S. Miguel
descuidava um pouquinho e saía das pegadas de Deus, ou se
ficou contente e respondeu:
atrasava demasiado e perdia a luz, sentia um peso de chumbo nas
asas e começava a cair, a cair, até que algum anjo o recolhia e
voltava a colocá-lo naquele caminho, onde o anjo pequenino voava
feliz, sentindo-se seguro como uma criança no seu berço…
− Ah, sim! Já me lembro. É aquele anjinho que está sempre
sentado!
E Deus, ao ouvi-lo, sorriu. Dirigiram-se todos para onde
estava Rasto de Deus, sentado, desde o princípio do mundo, com a
Por isso, quando S. Miguel-Capitão fez a sua longa lista com
sua estrela sobre os joelhos. À frente iam os anjos cantores e atrás
o nome de todos os anjos, escreveu em último lugar Rasto de Deus,
todos os outros anjos. Depois seguiam Miguel, Gabriel e Rafael,
para que daí em diante assim se chamasse o anjo pequenino. E S.
que são como que os príncipes dos anjos. Como era uma ocasião
Miguel disse:
muito importante, S. Miguel-Capitão tinha desembainhado a
− Tem cuidado, Rasto de Deus, e não te afastes das Suas
espada, que brilhava cheia de luz. E por fim ia Deus.
pegadas, porque Deus vai criar o mundo, e os homens vão dar-nos
Olhando por cima da estrela, Rasto de Deus viu-os vir e
muito trabalho; se caíres, eu talvez não possa mandar-te um anjo
pensou que já tinha chegado a Grande Noite, e que era uma sorte
para te apanhar.
passarem por aquele lado, porque assim podia ver tudo, sem
E S. Miguel olhava compadecido para Rasto de Deus,
perder qualquer pormenor. O que ele não imaginava era que todos
pensando o que seria do anjo pequenino, perdido no espaço. Um
os anjos e o próprio Deus vinham à sua procura. Pensou que, ali
anjo tão desajeitado que nem sequer sabia voar! Rasto de Deus
sentado, estorvava a passagem do cortejo, e tentou correr. Mas por
disse que sim, que teria cuidado, e desde então seguiu Deus muito
pouco a estrela caía-lhe! Então, não se mexeu mais e continuou
de perto, para todos os lados, sem se distrair um único instante,
como estava, quieto, com a estrela no regaço.
para não perder o caminho de luz que Ele deixava ao andar. Foi
Chegaram os cantores e todos os outros anjos e puseram-se à
assim que, no primeiro dia, ele viu Deus a criar o céu e a terra, que
volta dele. Rasto de Deus estava cada vez mais admirado. Quando
no início eram apenas um montão de barro escuro. Mas Deus
Deus chegou, ficou a olhar para ele e sorriu-lhe, como no quarto
disse:
dia da Criação, quando lhe tinha dado a estrela com a Sua mão
− Faça-se a luz.
E, depois, separou a luz das trevas, e chamou à luz dia, e às
direita. S. Miguel disse-lhe:
− Ouve, Rasto de Deus: essa estrela que tu estás a guardar
Beleza de Deus para que escolhesse a estrela mais bonita de todas,
trevas noite. Rasto de Deus olhava para tudo, muito admirado, e
Sabedoria de Deus para que pensasse que caminho havia de seguir
repetia baixinho as novas palavras que Deus pronunciava, para
para a apanhar e Fortaleza de Deus para que a levasse. Mas a
não as esquecer, porque eram palavras muito bonitas:
verdade é que desde há muito Deus tinha criado uma estrela
− Dia... dia... dia... dia...
especial para este momento. Uma estrela que ainda não tinha sido
E a seguir:
utilizada! Sim, claro: uma estrela completamente nova! E S. Miguel,
− Noite... noite... noite... noite...
guiado por Rafael e seguido por três anjos, Beleza de Deus,
Estava tão ocupado com estas coisas que ficou um pouco
Sabedoria de Deus e Fortaleza de Deus, foi ao lugar onde estavam
atrasado e já não conseguia alcançar completamente a luz das
guardadas as coisas novas.
pegadas de Deus. Tropeçou no ar, porque as asas desajeitadas se
Existiam muitas plantas, fogo, nuvens e luzes maravilhosas,
emaranharam. Esteve quase a cair, e, se isso acontecesse, teria
mas não existia nenhuma estrela. Abatidos, voltaram à presença de
sido terrível, porque todos os anjos estavam a ver a criação e
Deus. Sim, disse-lhes Ele, tinha criado uma estrela para ser
ninguém se teria preocupado em o apanhar. Fez um esforço e
estreada naquele momento, e tinha-a dado a um anjo para que a
moveu as asas. Quando chegou junto de Deus, começou o segundo
guardasse.
dia. A voz divina dizia:
− A um anjo? A que anjo?
− Faça-se o firmamento no meio da água.
S. Miguel procurou a sua lista. Trazia-a sempre guardada
Ao firmamento, Deus chamou céu. E Rasto de Deus começou
entre a armadura e o cinturão da espada. Estava tão preocupado
a dizer:
que nem a encontrou. Continuou a procurar nos bolsos... mas
− Céu... céu... céu…
nada! Tinha caído no sítio das coisas novas quando, ajudado por
Mas esta era uma palavra mais difícil do que as outras. Por
Fortaleza de Deus, levantava uma nuvem muito grande para ver se
isso teve de a repetir muitas vezes, e sem se aperceber, começou a
a estrela estava debaixo dela. Ordem de Deus, um anjo que estava
dizê-la em voz alta:
encarregado de que tudo estivesse sempre muito limpo e ordenado,
− Céu... céu...
acabava de encontrar a lista e veio num voo trazê-la a S. Miguel.
Sabedoria de Deus, um anjo muito rápido que estava ao seu
A lista estava bastante velha, muito gasta pelas dobragens, de
tanto a tirar e voltar a guardar.
lado, disse-lhe, muito aborrecido, que se calasse, porque estava a
incomodá-los a todos, e que não era preciso repetir tantas vezes a
− Como se chamava o anjo?
palavra céu porque ela era muito fácil de aprender. S. Miguel
Deus sabe tudo. Chamava-se Rasto de Deus. S. Miguel
perguntou o que se passava e, embora tenha mandado calar Rasto
começou a olhar para a lista, apontando com o dedo; mas demorou
de Deus, não lhe ralhou porque, afinal de contas, ele era o mais
muito a encontrá-lo, porque ele era o último de todos. Ali estava
pequeno de todos os anjos. Tinha de ter paciência com ele. E foi-se
ele: Rasto de Deus. E ao lado não havia nenhum sinal. O que
embora, movendo as asas lentamente, e pensando que um anjinho
tão desajeitado ia servir para muito pouco. Entretanto, começou o
fresco. Tinha também procurado o boi e o burrinho que iriam
terceiro dia. E Deus disse:
aquecer com o seu bafo o curral. O burro seria todo cinzento, como
− Que as águas que estão debaixo do céu se reúnam num só
lugar e apareça o chão seco.
a prata, e o boi castanho, como o chocolate.
Há meses que os anjos que deviam cantar «Glória a Deus nas
À parte seca chamou terra e à água reunida chamou mar. Fez
Alturas» estavam a ensaiar, e em todos os cantos do céu se podia
nascer a erva, as plantas e as árvores. Deus pôs em todos os frutos
ouvir tão bela canção. Foi assim que Rasto de Deus ficou a saber
sementes, para que mais tarde se pudessem semear; e assim,
tudo o que ia acontecer. É que nos últimos tempos os anjos
quando as que Ele tinha criado secassem, nasceriam outras novas.
andavam tão ocupados que nenhum parava para lhe contar nada,
Rasto de Deus estava encantado, e pensava o que mais Deus
pois não podiam perder o seu tempo em conversas com aquele
poderia criar nos outros dias, já que o que tinha feito era tão
anjito de quem Deus parecia ter-Se esquecido.
bonito. E voava impaciente, esperando que começasse o quarto dia.
Depois Deus disse:
Chegou finalmente o dia 24 de Dezembro, e com ele vinha a
primeira Noite de Natal do mundo! Uma longa fila de anjos cantores
− Que haja luzeiros no firmamento do céu, que distingam o
estava preparada para pôr-se a voar, com as suas asas cheias de
dia da noite, e sirvam para marcar estações, dias e anos. Que
luz e a boca cheia de alegria, e já não conseguiam ficar calados por
brilhem no céu e iluminem a terra.
mais tempo: todos estavam à espera do sinal de Deus, porque a
Rasto de Deus entendia tudo muito bem, porque nos dias
nova que eles iam levar ao mundo era a melhor de todos os tempos,
anteriores tinha aprendido as palavras, e por isso sabia o que eram
e a alegria manifestava-se nas suas canções. E S. Miguel-Capitão
a terra e o céu, o dia e a noite. Viu como Deus criou o sol, tão
tinha que os mandar calar constantemente. É que todos esses
grande e luminoso que só Ele o podia olhar sem Se deslumbrar e
anjos tinham que anunciar aos pastores que o Filho de Deus
tocá-lo sem Se queimar. E depois a lua, mais pequena, branca e
nascera.
brincalhona como uma bola, que às vezes, parece divertir-se,
escondendo-se de noite.
Deus disse que tudo isso estava muito bem, mas achou que
faltava qualquer coisa. S. Miguel-Capitão corou, porque todos os
Deus também fez as estrelas, milhares delas, que saíam
anjos olharam para ele com ar de reprovação. Como é que, numa
lindíssimas das Suas mãos, cheias de luz. Umas eram brancas,
noite tão importante, ele havia de ter esquecido alguma coisa?
muito brancas e pequenas. Outras, coloridas. Todos os anjos
Escondendo a mão, S. Miguel contou pelos dedos: a manjedoura, a
trabalharam a colocar as estrelas onde Deus lhes dizia. Todos
palha, o burro e o boi, os anjos cantores... Quatro coisas. Que mais
voavam de um lado para o outro, e podia seguir-se o seu voo pelo
podia faltar? Faltava a estrela! A Estrela dos Reis Magos! A estrela
rasto luminoso que as estrelas faziam na noite. E o céu parecia a
que tinha que mandar para muito longe, para que conduzisse os
praça principal numa noite de fogos de artifício.
Reis Magos até à gruta!
Todos os anjos voavam e colocavam estrelas, todos excepto
S. Miguel-Capitão organizou tudo num instante: chamou
como os anjos e, além disso, sabia cantar. Tirou o pássaro dentre
Rasto de Deus. É que S. Miguel tinha-lhe dito que não se mexesse,
as penas das suas asas e deu-lho. Com muito cuidado, Rasto de
pois podia perder-se no meio de tanta animação, e, além disso,
Deus tirou uma das mãos da estrela e sentiu sobre a palma o
porque agora seria muito difícil procurá-lo no meio de tantas coisas
passarinho, que a seguir se pôs a voar. E ficou admirado como ele
que Deus tinha criado. Lá estava S. Rafael, tentando colocar de
voava tão bem.
modo bem visível a Estrela Polar, a que aponta sempre o Norte,
Beleza de Deus contou-lhe então muitas coisas que tinha
para que guiasse os navegantes.
visto na terra e até pintou para ele um arco-íris pequenino, com as
Mais além ia Fortaleza de Deus, com uma estrela tão grande
cores que tinham sobrado. Rasto de Deus ouvia com tanta atenção
que nenhum anjo a tinha conseguido mover e, contudo, ele levava-
que dava gosto contar-lhe histórias. E a partir daí, os anjos que
-a sem qualquer esforço. Sabedoria de Deus, como um guarda
chegavam da terra habituaram-se a parar um pouco ao seu lado.
celestial, dirigia tudo para que ninguém chocasse. Milhares de
Assim ficou a saber como é que o povo de Deus saiu do Egipto, e
anjos iam e vinham, e quando viam Rasto de Deus com as asas
como foi conduzido pelo deserto até à Terra Prometida, e quanto era
dobradas, sorriam com alguma pena, pensando: «Nunca vai prestar
grave e profunda a voz dos profetas. Rasto de Deus escutava,
para grande coisa. Um anjo que nem sequer consegue voar bem!...»
maravilhado, as histórias da Terra, e achava que os outros anjos
Rasto de Deus não se apercebia de nada, porque só tinha
eram muito rápidos e muito corajosos.
tempo para ver, com olhos muito abertos, essa fantástica festa de
Nunca se teria atrevido a entrar num forno a arder para
luz. Todas as estrelas foram colocadas num instante. O céu tinha
refrescar, com o vento das suas asas, os três jovens que aquele Rei
ficado magnífico. E todos os anjos se voltaram para Deus para O
Nabucodonosor – com um nome tão difícil – tinha lançado lá,
louvar. Só então se deram conta de que não tinham terminado:
porque eles não adoraram a estátua do seu ídolo. E ainda se teria
ainda faltava colocar uma estrela. Era uma estrela branca, não
atrevido menos a descer à cova dos leões e a fechar-lhes a boca com
muito grande, que Deus segurava na Sua mão direita. Os anjos
as suas próprias mãos, para que não fizessem nenhum mal ao
começaram a perguntar uns aos outros onde se deveria colocar
profeta Daniel. Era uma sorte Deus ter-lhe dado um encargo tão
aquela estrela, porque o céu estava cheio, e todas estavam tão bem
fácil como esse de guardar uma estrela porque assim, sentado como
colocadas que parecia impossível pôr mais alguma.
estava, não havia perigo de ela cair, e quando Deus quisesse podia
E um deles disse:
vir buscá-la. Rasto de Deus estava feliz.
− Esta estrela sobra. Temos que a deitar fora.
Os séculos foram passando e chegou ao fim o tempo da
Um outro acrescentou:
Grande Promessa. Estava tudo muito bem preparado. S. Miguel-
− Certamente há uma estrela a mais.
Capitão tinha mandado um anjo para cuidar do musgo e das pa-
Silenciosamente, Deus baixou a mão direita. Ao seu lado
lhas que iriam estar no berço do Menino Jesus, para que as palhas
estava Rasto de Deus, olhando embevecido. Baixou-Se ainda mais e
fossem crescendo muito finas e douradas e o musgo muito verde e
entregou-lhe a estrela. Rasto de Deus apanhou-a com muitíssimo
cuidado, não fosse a estrela cair. Pensou que era apenas para a
ajudar. E deu a cada homem um Anjo da Guarda, com funções de
segurar durante um instante, enquanto Deus dizia a outro anjo –
mensageiro entre Deus e os humanos.
muito mais rápido, mais belo e mais forte do que ele – onde a devia
S. Miguel pegou na sua lista e fez uma cruz ao lado de todos
colocar. Mas Deus nada disse; e, vendo que tudo estava bem, deu
os anjos que tinham sido nomeados guardiães dos homens. E, ao
por terminado o quarto dia.
lado da cruz, pôs o dia e a hora em que deviam ser enviados para a
A estrela não era muito grande, mas Rasto de Deus era tão
terra. Deu uma cópia dessa lista ao anjo chamado Providência de
pequeno que, assim de pé como estava, quase não a podia
Deus, para que lembrasse a cada um quando devia pôr-se a voar.
aguentar. Era necessário segurá-la melhor. Que diria S. Miguel se
Tudo isto provocou um contínuo vaivém do céu à terra e da terra ao
ele a deixasse cair? Foi-se abaixando, abaixando, até ficar sentado,
céu, e a todas as horas se podia ouvir o voo dos santos anjos.
com as pernas esticadas e a estrela sobre os joelhos. Assim! Muito
Andavam todos muito ocupados e ninguém ligava a Rasto de
bem! Sentia um calorzinho muito agradável e uma enorme luz. Só
Deus, que ali estava, sentado desde o princípio do mundo, com a
não conseguia ver nada porque a estrela o tapava. Mas não se
estrela no regaço, muito quietinho, não fosse perdê-la. Mas Rasto
importava porque estava a fazer o que Deus lhe tinha incumbido.
de Deus não se aborrecia. Olhava como podia por cima da sua
No quinto dia, Deus criou os peixes, e Rasto de Deus não O
estrela e escutava as palavras que os outros anjos diziam ao
pôde seguir porque a estrela pesava muito e foi-lhe impossível
passar. Um dia, um anjo foi mandado à terra por Deus, para
levantar-se. À noite, os anjos vieram contar-lhe como eram os
pintar, pela primeira vez, o Arco-íris. Era uma incumbência muito
peixes e as aves e, no dia seguinte, os outros animais. Por fim,
importante, pois teve de o pintar sem régua nem compasso, no
disseram-lhe como era o homem – à imagem e semelhança de Deus
meio da chuva, com cuidado para que as cores não se manchassem
– mas, por mais que lhe explicassem, Rasto de Deus não conseguiu
misturando-se umas com as outras, e terminando-o muito bem até
imaginá-lo. O sétimo dia do mundo foi de descanso para todos, e
roçar nas árvores.
Rasto de Deus dormiu a sesta, com a cabeça apoiada na estrela.
Aconteceu que, quando o anjo que se chamava Beleza de
Tinha razão S. Miguel-Capitão. Mais tarde, os homens
Deus estava a dar os últimos retoques, um passarinho enredou-se
começaram a dar muito trabalho. Eram rebeldes, e desobedeceram
nas suas asas, e, como Beleza de Deus tinha muita pressa de
a Deus. Encheram-se tanto de orgulho que quiseram ser iguais a
acabar o Arco-íris para ver como tinha ficado, não se preocupou
Ele. Como isto não era possível, Deus, apesar de lhes ter amor e Se
com o pássaro, que subiu nas asas do anjo até aos céus. Beleza de
ter afeiçoado muito a eles, teve que os castigar. Mas depois
Deus passou perto de Rasto de Deus que nunca tinha visto um
prometeu-lhes um Salvador, que havia de nascer, viver e morrer
pássaro. Por isso, ao vê-lo disse:
entre eles para os salvar. E para que os homens não se
− Beleza de Deus, que flor tão linda trouxeste da terra!
esquecessem da promessa, mandava-lhes de vez em quando os
Beleza de Deus explicou-lhe que não era uma flor mas um
seus anjos, para lha recordarem, e muitas outras vezes para os
pássaro dos que Deus tinha criado no quinto dia, que podia voar
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