Sumário SILAGEM DE ESPÉCIES DO GÊNERO CYNODON Condução da Cultura e Ensilagem......................................... 1 Escolha da variedade.............................................................. 3 Preparo do solo....................................................................... 4 Calagem.................................................................................. 5 Adubação................................................................................ 5 Plantio..................................................................................... 7 Condução da cultura............................................................... 12 Colheita................................................................................... 20 Uso da silagem...................................................................... 22 Bibliografia Consultada.......................................................... 23 i SILAGEM DE ESPÉCIES DO GÊNERO CYNODON Antônio Ricardo Evangelista1 Josiane Aparecida de Lima2 I – INTRODUÇÃO Atualmente, tem aumentado o plantio de forrageiras que têm as hastes finas e alta relação folha/caule, visando à produção de feno. Entre as espécies mais utilizadas, destacamse a estrela-africana, o coastcross e, recentemente, vários cultivares do tifton, espécies estas pertencentes ao gênero Cynodon. Em grande parte do país, onde essas espécies forrageiras desenvolvem-se bem, geralmente obtêm-se de quatro a oito cortes por ano, sendo que alguns destes coincidem com a época de chuvas. Dessa forma, no período ideal de corte, quando se aliam rendimento e qualidade da forragem, não é possível realizar a colheita, em função de condições climáticas inadequadas para produção de feno. 1 Professor Titular do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras-MG. Bolsista do CNPq. 2 Doutor em Zootecnia – Área de Forragicultura e Pastagem. Diante da impossibilidade de realizar o corte para produção de feno, a forrageira passa da época ideal de corte, ocorrendo acamamento, além da substancial redução do valor nutritivo. Nessas condições, torna-se necessário eliminar a forragem madura da área para possibilitar a rebrota das plantas e tentar uma nova colheita na época ideal. Essa estratégia de manejo faz com que a forragem madura seja cortada, enleirada e retirada da área e, na maioria das vezes, sem nenhuma possibilidade de aproveitamento. O resultado desse processo é um duplo prejuízo, ou seja, a perda do feno que deixou de ser produzido e o gasto na eliminação da forragem madura e, logicamente, a perda de alimento que seria de utilidade inquestionável para os animais na propriedade. Neste contexto, sugere-se que, quando as condições climáticas não forem propícias para produção de feno, a forragem seja ensilada. Com a adoção dessa estratégia, é possível armazenar o capim na época ideal de corte, aproveitando, assim, o rendimento e a qualidade deste. A execução dessa prática é possível mesmo quando o período de estiagem for pequeno, o que não ocorre na produção de feno, que exige período maior de estiagem para desidratação das plantas. 2 II - ESCOLHA DA VARIEDADE São várias as espécies do gênero Cynodon. No grupo das gramas-bermuda, vários híbridos estão disponíveis, como Coastal, Alícia, Callie, Tifton 44, Tifton 68, Tifton 78, Tifton 85, Coastcross e, mais recentemente, o Florakirk. No grupo das gramas-estrela, o McCaleb, Florico e Florona. Vale lembrar que para o sucesso no estabelecimento de forrageiras, deve-se considerar as condições climáticas e edáficas (solo) do local e, em função desses fatores, escolher as espécies ou cultivares que melhor se adaptem a essas condições. Entretanto, para produção de silagem, na literatura brasileira, atualmente, não há informações concretas sobre as características fermentativas dessas espécies. Em outros países onde desenvolveram-se estudos em busca de tais informações, observaram-se que várias espécies desse gênero resultam em silagens com características fermentativas desejáveis e boa aceitação pelos animais. O Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras está pesquisando a possibilidade de ensilar o Cynodon e, em breve, resultados mais concretos em condições brasileiras estarão disponíveis. Entretanto, é oportuno mencionar que os estudos iniciais revelaram que esta espécie 3 forrageira pode ser perfeitamente conservada na forma de silagem, sem detectar qualquer fator inicial que venha desmerecer tal prática. Logicamente, este fato ocorrerá desde que os princípios básicos do processo sejam observados. III - PREPARO DO SOLO Como qualquer outra forrageira, os capins do gênero Cynodon necessitam de um bom preparo do solo para oferecer condições adequadas para o seu estabelecimento. Vale lembrar que o solo bem preparado assegura melhor pegamento das mudas, facilita os tratos culturais, reduz a infestação de plantas daninhas, melhora a capacidade de infiltração e retenção de água no solo e oferece condições adequadas de manejo com as máquinas de colheita. Com relação às práticas de preparo do solo, recomendase uma aração com a finalidade de revolver e escarificar o solo e incorporar os resíduos de plantas. A seguir faz-se uma ou mais gradagens, dependendo das condições do solo e da infestação da área por plantas daninhas. 4 IV - CALAGEM A quantidade de calcário a ser aplicada deve ser calculada com base nos resultados da análise do solo. Ressaltase que a saturação de bases deve ser elevada a 60% (V=60%), sendo recomendado o uso de calcário dolomítico de boa procedência. Este deve ser distribuído a lanço em toda a superfície da área e incorporado ao solo, por meio de aração ou gradagem, cerca de 25 a 30 cm de profundidade. Ressalta-se que essa operação deve ser realizada pelo menos 60 dias antes do plantio. V - ADUBAÇÃO A adubação de plantio deve ser realizada com base nos resultados da análise do solo; entretanto, na ausência desses resultados, recomenda-se, para um solo de fertilidade mediana, aplicar 100 kg de P2O5/ha (550 kg de superfosfato simples). Com relação ao potássio, quando a análise de solo revelar teores de potássio trocáveis menores que 0,12 meq/100 ml, recomenda-se aplicar de 80 a 100 kg/ha de cloreto de potássio e, para teores mais elevados, a aplicação do potássio pode ser dispensada. 5 Recomenda-se, também, aplicar de 20 a 40 kg/ha de enxofre em áreas comprovadamente carentes desse nutriente. Entretanto, vale lembrar que normalmente o uso do superfosfato simples no plantio é suficiente para suprir as exigências de enxofre. Outra opção de adubação é a utilização das fórmulas 2412-12 ou 15-05-10. A fórmula a ser escolhida, bem como a dosagem, devem ser baseadas na análise do solo. Normalmente, a dosagem utilizada, visando a grandes produções, é cerca de 1.000 kg/ha/ano, parceladas de três a cinco aplicações. Com relação aos micronutrientes e sendo a deficiência de zinco a mais freqüente, recomenda-se a adição de 2kg/ha de Zn (10 kg de sulfato de zinco) ao adubo fosfatado a ser utilizado no plantio. Outra sugestão para aplicação de micronutrientes é o emprego de FTE-BR-10 ou BR-16, à base de 30 a 40 kg/ha, que deverão ser aplicados juntamente com o superfosfato. Considerando-se que a adubação orgânica melhora a persistência das espécies deste gênero e em solos com baixo teor de matéria orgânica, podem-se aplicar junto ao fósforo, cerca de 20 toneladas por hectare de esterco de curral, sendo que este deve estar curtido e isento de plantas daninhas. Com relação à adubação de cobertura, esta deve ser realizada quando as mudas estiverem pegas, com sistema 6 radicular bem formado e as plantas desenvolvidas cobrindo todo solo. Esta condição é importante para se obterem respostas positivas à aplicação de fertilizantes em cobertura. Geralmente, a cobertura é realizada cerca de 40 dias após o plantio do capim, e nessa época recomenda-se que a vegetação seja rebaixada, sendo que esses procedimento pode ser efetuado por roçada ou pastejo leve; logo após, aplicam-se a lanço 60 kg de nitrogênio/ha (300 kg de sulfato de amônio) e 40 kg de K2O/ha (70 kg de cloreto de potássio). VI - PLANTIO O plantio deve ser realizado na época de chuvas e o solo deve estar úmido, condição essencial para garantir o pegamento das mudas. Por outro lado, quando se conta com sistema de irrigação, o plantio pode ser efetuado praticamente o ano todo. Mudas - devem estar maduras, o que ocorre em torno de 100 dias de idade e devem ser procedentes de local livre de pragas, doenças e plantas daninhas. Esses cuidados devem ser tomados, pois são essenciais para garantir um bom pegamento das mudas e evitar a infestação da área com plantas doentes e/ou, insetos indesejáveis. 7 Recomenda-se selecionar mudas vigorosas, que disponham de boa reserva nutritiva e com o máximo de gemas viáveis, uma vez que estes são os pontos de rebrota, de onde surgem novas plantas. Uma boa muda deve ter acima de dez gemas viáveis, estar isenta de plantas daninhas, fungos e insetos. Deve-se considerar também a procedência das mudas e principalmente assegurar a garantia de quem a produz. As mudas podem ser inteiras com raiz - estas contêm gemas nos rizomas, estolões e hastes. Recomenda-se que antes da colheita destas, o solo seja umedecido para facilitar o arranquio, que pode ser feito utilizando enxada ou enxadão. As mudas podem também ser inteiras e sem raiz – é importante que essas contenham gemas nos estolões e principalmente nas hastes. Antes da colheita, deve-se observar as hastes, pois estas devem estar maduras, com comprimento acima de 80 cm, o que proporciona maior número de gemas. A colheita pode ser realizada por meio de enxada ou segadeira tratorizada de discos. Com relação ao acondicionamento das mudas, estas podem ser ensacadas em saco plástico tipo estufa ou em fardos regulares feitos por enfardadeira. A durabilidade das mudas, entre outros fatores, depende da idade e da umidade da planta, temperatura ambiente, condições de corte e armazenamento, 8 sistema de transporte e armazenamento pré-plantio. Quando esses fatores são favoráveis, as mudas poderão resistir até dez dias após a colheita. Entretanto, deve-se considerar também que as mudas desidratam-se com facilidade pelo fato de apresentarem caules finos. Por essa razão, recomenda-se que o plantio seja realizado, se possível, logo após o corte das mudas, com solo úmido, efetuando-se a cobertura imediatamente. Métodos de plantio - o capim Cynodon pode ser plantado em sulcos, em covas ou distribuído superficialmente e incorporado ao solo por meio de gradagem leve ou rolos especiais. O plantio em sulcos é o mais indicado pela eficiência de pegamento das mudas. Neste processo, as mudas são distribuídas continuamente ao longo dos sulcos, sendo que esses devem ter espaçamento de 50 cm e profundidade de 15 cm. Para o sulcamento, pode-se utilizar um arado reversível com dois discos; assim, a abertura e fechamento dos sulcos e a cobertura das mudas serão realizados simultaneamente por processo mecânico e com o espaçamento indicado. A execução dessa prática pode ser feita abrindo-se o primeiro sulco e distribuindo-se as mudas, e ao retornar abrindo o segundo sulco, cobre-se o primeiro, prosseguindo-se sucessivamente até o final do plantio. 9 Os sulcos também podem ser feitos manualmente, utilizando-se enxada e ou, sulcador com tração animal. As mudas devem ser plantadas enterrando-se dois terços da mesma e deixando-se o terço apical para fora do solo. O plantio em sulcos também pode ser realizado de forma semimecanizada, utilizandose plantadeira de grama (tipo plantadeira de mandioca) para efetuar seqüencialmente o sulcamento, o plantio, o fechamento do sulco e a compactação. O rendimento é de três a quatro hectares por dia, necessitando apenas de três homens. Neste caso, as mudas ficam totalmente enterradas, devendo-se tomar cuidado em relação à profundidade do plantio que deverá ser mais raso, de 5 a 10 centímetros. O plantio em covas é mais indicado para as áreas de topografia acidentada, pois a inclinação do solo dificulta o uso de máquinas. Utiliza-se enxada para fazer as covas, que deverão ter profundidade de 10 a 15 cm e espaçamento de aproximadamente 40 a 50 cm, devendo, se possível, serem feitas no mesmo dia do plantio. Após a colocação das mudas, podendo-se colocar uma ou mais por cova, estas devem ser cobertas com pequena camada de terra, deixando ¼ da muda fora da cova. Este método de plantio exige maior quantidade de mudas; em média, três toneladas de mudas por um hectare. 10 No método de plantio superficial incorporado, as mudas são distribuídas inteiras ou picadas sobre a superfície da área e devem ser imediatamente incorporadas ao solo por meio de gradagem leve e/ou rolos especiais. Este método é barato e fácil de ser executado; entretanto, exige maior quantidade de mudas que os processos anteriores; geralmente, são necessárias quatro toneladas e meia de mudas por hectare e as perdas de pegamento também são maiores, principalmente se não for realizado sob irrigação ou em dias chuvosos. Para que ocorra um bom pegamento compactador logo das mudas, após a deve-se gradeação passar para um rolo assegurar o enraizamento. Vale lembrar que, qualquer que seja o método de plantio adotado, a umidade do solo e a compactação das mudas são fatores fundamentais para assegurarem o perfeito estabelecimento das pastagens de Cynodon e que todos os métodos de plantio serão bem sucedidos se os seguintes cuidados forem observados: 1 – plantar somente em solos úmidos, férteis e livres de invasoras; 2 – plantar as mudas tão logo seja possível após a colheita; 11 3 – plantar as mudas pelo menos a 6 cm de profundidade para assegurar boa disponibilidade de água, mas deixar as pontas acima da superfície do solo; 4 – compactar o solo ao redor das mudas para mantê-las em contato com a umidade; 5 – controlar as invasoras com herbicidas aplicados após o plantio; 6 – fazer a adubação para estimular a cobertura do solo tão logo os estolões apareçam. Observação prática - em alguns casos, no primeiro ano de plantio, a população de plantas pode ser inicialmente baixa e, sendo assim, faz-se, no decorrer do período de chuvas, uma gradagem leve, que contribuirá para melhor distribuição de plantas, aumentando o número de plantas na área. VII - CONDUÇÃO DA CULTURA • Plantas daninhas - salienta-se que o período de estabelecimento da cultura é aquele compreendido entre o plantio e o início do uso definitivo da forragem. Nesse período, é imprescindível o controle de plantas daninhas, o corte de 12 rebaixamento para uniformização do crescimento e adubação de cobertura. Nos primeiros 60 dias do estabelecimento da cultura, a atenção ao controle das plantas daninhas é fator importante para garantir o sucesso na formação da lavoura e principalmente, evitar problemas futuros. As plantas daninhas perenes podem ser eliminadas com arranquio manual, com a enxada ou com a aplicação localizada de herbicida à base de Glyphosate, em jato localizado para não prejudicar o capim. As plantas daninhas anuais podem ser controladas com roçada manual ou mecânica. Recomenda-se também a aplicação de herbicidas seletivos na área total em pós-plantio e pré-emergência. Neste caso, o herbicida 2-4-D ou Diuron 500 dá bons resultados e a dosagem deve ser utilizada de acordo com as recomendações do fabricante. Para controle inicial de plantas daninhas de folhas estreitas (braquiária, capim-marmelada, etc.), pode-se utilizar herbicidas à base de metalachlor ou simazine em formulação de 500 g/l, utilizando-se 5 l/ha em pós-plantio imediato. Como medida geral, recomenda-se, em pastagens de Cynodon, o cultivo manual ou mecânico nas entrelinhas até 30 dias após o plantio para manter a pastagem limpa. 13 Com relação ao corte de rebaixamento, salienta-se que, em condições favoráveis, cerca de 40 a 60 dias após o plantio do capim, este deverá estar cobrindo todo o solo, sendo este o momento recomendado para efetuar o rebaixamento. Essa estratégia é empregada com o objetivo de controlar as plantas daninhas, estimular as brotações e obter melhor uniformidade do estande, além de favorecer a aplicação de fertilizantes em cobertura. O corte pode ser realizado utilizando-se roçadeira, segadeira de forrageiras ou por meio de pastejo leve. • Pragas - as espécies do gênero Cynodon são atacadas por pragas que podem causar danos de grande importância econômica, tais como: cigarrinhas, lagartas, cochonilhas, formigas e cupins. Entre as cigarrinhas, citam-se Zulia entreriana, Deois flavopicta, Aeneolamia selecta, Mahanarva fimbriolata, entre outras. Muito embora esses insetos causem algum dano durante o período ninfal, os maiores prejuízos são causados pelos adultos ao sugarem a seiva das folhas. Em geral, as folhas atacadas pelas cigarrinhas apresentam estrias longitudinais cloróticas que coalescem, evoluindo-se em maiores áreas necrosadas. As folhas em geral morrem a partir das pontas, apresentando aspecto retorcido. No entanto, exceto no que se 14 refere às plantas muito jovens, as cigarrinhas não matam as plantas, que rebrotam e se recuperam com o tempo. No controle das cigarrinhas, se o produtor optar pelo controle químico, deverá utilizar inseticidas registrados para uso em pastagens e apenas nos locais e momentos adequados. É comum o produtor pensar em adotar tal controle somente após constatar que a pastagem já está amarelecida. Porém, vale lembrar que os sintomas de danos causados pela cigarrinha Z. entreriana demoram cerca de três semanas para se manifestarem plenamente. Como os adultos responsáveis por estes danos vivem ao redor de dez dias, ao se constatar as pastagens amarelecidas, a maior parte destes insetos já morreu, não justificando a adoção de medidas de controle naquele momento. Uma alternativa prática no controle de cigarrinhas é a utilização plena da pastagem por meio da colheita, tão logo o corte seja possível. Deve-se evitar que a pastagem permaneça densa e viçosa por períodos longos, uma vez que as populações de cigarrinhas tendem a aumentar nas áreas subutilizadas. Neste particular, o processo de ensilar consiste numa boa ferramenta de manejo, permitindo colher o pasto mesmo com o clima desfavorável à produção de feno. 15 Quanto às lagartas, as duas principais responsáveis por danos severos em pastagens do gênero Cynodon são: lagartamilitar (Spodoptera frugiperda) e curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes). Embora sejam consideradas pragas ocasionais em pastagens, quando em níveis populacionais elevados, podem reduzir acentuadamente a quantidade de forragem disponível. O controle é recomendado em focos iniciais. Para isto, as pastagens devem ser vistoriadas freqüentemente. Observações devem ser feitas na superfície do solo, em meio à palha sobre o solo, colmos e folhas e com atenção especial nas áreas recémcortadas ou após a aplicação de fertilizantes nitrogenados, pois nessas ocasiões, principalmente a lagarta-militar, tende a aumentar em número, podendo causar sérios danos à pastagem. Considerando-se que estas lagartas, quando em altas populações, podem consumir toda a forragem disponível, recomenda-se que medidas de controle devem ser adotadas, tão logo se constatem os focos iniciais. O ataque desses insetos se inicia em reboleira; dessa forma, o controle de focos iniciais apresenta a vantagem de que o tratamento se dará em áreas relativamente pequenas, onde poderão ser aplicados inseticidas de baixa toxicidade e curto poder residual. 16 Outra praga que deve ser lembrada é a cochonilha-docapim-bermuda (Odonaspis ruthae). Este inseto suga a seiva da planta retardando o seu desenvolvimento, podendo murchá-la e secá-la. Os sintomas iniciais do ataque dessa praga lembram estresse hídrico e danos mais acentuados ocorrem durante os períodos quentes e secos. Somando-se às pragas já mencionadas, acrescentam-se ainda, como pragas do gênero Cynodon, insetos comumente encontrados em pastagens, como as formigas cortadeiras dos gêneros Atta (saúva) e Acromyrmex (quenquéns), e algumas espécies de cupins de montículo, dos gêneros Syntermes e Cornitemes, e subterrâneos, do gênero Procornitermes. Controle químico - vale lembrar que é muito grande o número de insetos predadores, parasitóides, aranhas e outros artrópodes benéficos em pastagens, o que é altamente desejável. Por essa razão, devem-se evitar aplicações desnecessárias de inseticidas, pois a grande maioria dos defensivos químicos causa também a exterminação destes organismos, além da possibilidade de ocorrer a ressurgência de pragas, às vezes com maior intensidade, devido à eliminação dos inimigos naturais. Sendo assim, recomenda-se que os inseticidas devem ser aplicados apenas nos locais e momentos adequados, procurando-se, 17 sempre que possível, aplicar menores doses efetivas, visando a reduzir o custo e também o impacto na população de organismos benéficos. Diante do exposto, vale ressaltar que é imprescindível procurar orientação técnica quando for necessário utilizar inseticidas. O técnico certamente orientará sobre o produto adequado para a situação em questão, bem como a dosagem necessária. • Doenças - o gênero Cynodon é hospedeiro de ampla gama de patógenos, dentre os quais se destacam os fungos e bactérias. Entre as doenças causadas por fungos, citam-se: - ferrugem, cujo agente etiológico é Puccinia cynodomis, ocorrendo em maior intensidade na fase de crescimento da planta, nos meses quentes e úmidos do verão. Raramente a doença mata a planta. Entretanto, pode ocorrer severa perda foliar. Os sintomas são caracterizados por manchas marrons ao longo do limbo foliar, sobre os quais se forma uma massa pulverulenta de esporos do fungo. Em condições severas, há desfolhas na parte inferior da planta; - carvão, causada pelo fungo Ustilago cynodontis, é a mais importante doença da inflorescência do Cynodon, cujas plantas podem ser total ou parcialmente destruídas. A infecção inicial ocorre no estádio de plântulas e na ocasião do corte de plantas 18 adultas. O uso de espécies resistentes e de sementes e rizomas sadios são as formas mais eficientes do controle do patógeno; - queima-foliar, causada pelo fungo Rizoctonia solani, cujos maiores danos ocorrem em pastagens densas. Recomenda-se, como medidas de controle, o uso de cultivares resistentes; - manchas foliares, causadas por fungos, tais como: Cochliobolus cynodontis, C. hawaiiensis, C. sativus, Drechslera setariae, Setosphaeria rostrataI e Helminthosporium spp, cujos sintomas mais comuns em folhas são lesões marrons a púrpuras ao longo do limbo foliar, formando estrias ou manchas de forma globular. Em folhas severamente afetadas, há coalescência de lesões e o limbo torna-se marrom-avermelhado. Plantas severamente atacadas podem ser dizimadas pela doença. Recomenda-se, como medida de controle, manutenção de níveis adequados do teor de potássio na planta, queima de pastos infectados e remoção do campo o mais rápido possível da forragem cortada. Entre as doenças causadas por bactérias, citam-se o raquitismo, cujo agente causal é a bactéria Clavibacter xyli subsp. Cynodontis. Os sintomas nas plantas são expressos como redução no crescimento de perfilhos e severo enfezamento das plantas. A maior severidade da doença ocorre em plantas que estão rebrotando, após o corte ou pastejo. O uso de cultivares 19 resistentes é o método de controle mais recomendável para essa doença. Entre as doenças causadas por micoplasmas, citam-se: doença-da-folha-branca, cujos sintomas são expressos como clorose foliar, excessiva brotação axilar e enfezamento; - doençada-folha-amarela, cujos sintomas são pequenas manchas amarelas ao longo do limbo foliar. O controle destas doenças é feito com o uso de cultivares resistentes. Vale mencionar que no Brasil são raras as informações relativas às doenças do gênero Cynodon, o que dificulta informações mais precisas sobre a real importância destas. Porém, considerando-se o aumento do uso comercial de cultivares forrageiras do gênero Cynodon no país, recomenda-se que sejam rigorosos os cuidados sanitários, evitando-se a introdução de patógenos potencialmente capazes de inviabilizar a utilização dessas plantas. VIII - COLHEITA Em condições adequadas de clima e fertilidade do solo, cerca de 100 dias após o plantio, o capim estará com aproximadamente 50 a 70 cm de altura, e esta é a fase ideal para 20 efetuar o primeiro corte, que pode ser realizado em pequenas áreas, por meio de equipamentos simples, tais como enxada, cutelo, alfanje etc. Na colheita mecânica, o ideal é utilizar a segadeira para o corte, o ancinho para o enleiramento e a recolhedora picadeira, que capta o material da leira e faz a picagem. Atualmente, encontra-se no mercado o recolhedor, que pode ser adaptado à ensiladeira, não sendo necessária a aquisição de equipamento específico para produção de silagem de Cynodon. As espécies desse gênero acamam muito e, neste caso, é conveniente inspecionar a área para definir o momento do corte, pois o acamamento da vegetação poderá mascarar a visualização da disponibilidade de forragem. Em condições adequadas, geralmente é possível obter de seis a sete cortes por ano, sendo efetuados cerca de quatro cortes durante o período compreendido entre outubro e fevereiro, com intervalo de cinco semanas, e três cortes entre março e setembro, com intervalo de nove semanas, logicamente desde que ocorram chuvas esparsas. Se a forragem apresentar elevado teor de umidade, é conveniente deixá-la exposta ao sol por um período de uma a três horas antes da picagem. Realiza-se esta prática com o 21 objetivo de baixar o teor de umidade para 60-70%. A adição de materiais com elevado teor de matéria seca também pode ser adotada e os produtos que podem ser utilizados são: farelos de trigo ou arroz, polpa cítrica, milho desintegrado com palha e sabugo, sendo que a dosagem mais eficiente, quando o capim tem mais de 40% de umidade, é de 4 a 10% em peso. Rendimento: Obtêm-se, em média, de 20 a 25 toneladas de matéria seca/ha/ano. IX - USO DA SILAGEM As silagens das espécies do gênero Cynodon caracterizam-se por apresentarem bom percentual de proteína bruta, cerca de 8% na matéria seca, e 4.200 Kcal de energia bruta, podendo, portanto, compor a dieta de qualquer categoria animal. Porém, conforme a exploração animal, é imprescindível a complementação com concentrado para atender adequadamente à demanda nutritiva dos animais. A associação da silagem de Cynodon com outros volumosos constitui-se em boa opção. Porém, vale lembrar que o ideal é produzir feno ou utilizar o Cynodon para pastejo. A produção de silagem desta espécie forrageira somente é válida 22 como estratégia de manejo do campo de feno, se as condições climáticas não permitirem a produção deste. X - BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BURTON, G. W., HANNA, W. W. Bermudagrass. In: BARNES, R. F., MILLER, D. A., NELSON, C. J. (eds.). Forages. 5 ed. Ames:Iowa State University Press, 1995. p. 421-430. DAVIS, M. J., GILLASPIE Jr., A. G., VIDAVER, A. K. et al. 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