Bipolaridade precoce

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SAÚDE
BIPOLARIDADE
PRECOCE
por Maria Irene Maluf
A humanidade sempre buscou conhecer a
origem das doenças e descobrir maneiras
eficazes de dominá-las. Na atualidade,
muitas conquistas têm sido alcançadas no
campo da Psiquiatria Infantil, com ênfase na
bipolaridade em crianças e adolescentes
A
nteriormente conhecido
como psicose maníaco
depressiva, o transtorno
de humor bipolar (THB)
é uma desordem cerebral
crônica, que causa sem qualquer motivo aparente alterações intensas, súbitas e
alternadas de humor, muito mais exuberantes do que as pessoas saudáveis apresentam, com episódios que vão da tristeza
e da perda da autoestima a momentos de
irritabilidade, entusiasmo exagerado, etc.
A afetividade é a capacidade que todas
as pessoas saudáveis têm de experimentar
sentimentos e emoções. A “tonalidade”
afetiva que acompanha os processos intelectuais com a soma total dos sentimentos
presentes na consciência em determinado
momento recebe o nome de estado de ânimo ou humor. É natural que o humor varie
de acordo com as circunstâncias internas e
externas vivenciadas a cada momento por
uma pessoa, mas dentro de certo padrão
comportamental, típico da pessoa e limitado (“temperado”) por circunstâncias
internas e externas.
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Maria Irene Maluf é pedagoga especialista
em Educação Especial e Psicopedagogia;
editora da Revista Psicopedagogia da ABPp;
coordenadora do curso de Especialização
em Neuropedagogia e Psicanálise do Instituto
SaberCultura/FTP/FACEPD. Foi presidente da
ABPp Nacional (gestão 2005/07)
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SAÚDE
porque é recente e ainda controversa a
aceitação nos meios científicos de um
diagnóstico nessa faixa etária.
Sintomas e características
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N
Pessoas com THB possuem alterações intensas, súbitas e alternadas de humor sem motivos aparentes e que não seguem nenhum tipo de padrão
as fases iniciais da crise, a pessoa
adulta pode se sentir apenas mais
animada, alegre, sociável, ativa, faladora,
autoconfiante, inteligente e criativa. Mas
com a elevação progressiva do humor e a
aceleração psíquica podem surgir alguns
ou todos os seguintes sintomas da mania:
irritabilidade extraordinária e infundada;
excesso de exigência e baixo limiar à frustração; alterações emocionais imprevisíveis, com um curso acelerado de pensamentos, a fala torna-se muito rápida e as
mudanças de assunto são uma constante; reações desmesuradas a estímulos por
vezes insignificantes; interpretação sem
base e, portanto, falha de fatos e acontecimentos; interesse diversificado em diversas atividades, despendendo energia
excessiva, liberando uma hiperatividade
ininterrupta; pratica despesas excessivas,
faz dívidas exageradas; grandiosidade
em relação a si e a seus feitos; diminuição
da necessidade de dormir; aumento do
• material escasso •
O Transtorno Bipolar Infantil vem
sendo reconhecido há pouco
tempo. A Medicina constata que um
em cada três casos de transtorno
bipolar se manifesta ainda na infância.
Porém, há controvérsias em torno
dos sintomas apresentados e em
relação ao diagnóstico do THB nessa
faixa etária. O Serviço de Psiquiatria
do Hospital das Clínicas de Porto
Alegre possui um programa de
crianças e adolescentes bipolares.
Porém, alerta sobre a dificuldade
em encontrar material específico
que aborde a síndrome infantil em
língua portuguesa, com informações
seguras e atualizadas. Leia mais no
site do Programa:
http://www.ufrgs.br/procab/pesquisas.html
interesse sexual, sem preocupação com
a escolha de parceiros ou consequência
de seu comportamento; incapacidade
em reconhecer a doença, tendência a recusar o tratamento e a culpar os outros
pelo que corre mal; perda da noção da
realidade, ideias estranhas (delírios) e
“vozes”; abuso de álcool e de substâncias
desde muito cedo.
A depressão, por sua vez, é marcada pela presença de um estado de
humor de tristeza e desespero, em que
é comum: a preocupação persistente
com eventuais fracassos e sofrimento
decorrente da perda da autoestima; surgimento de sensação de culpa, choro
frequente e infundado, ideias suicidas,
que infelizmente ocorrem também nas
crianças; permanente lentificação do
pensamento; grande dificuldade nas
tomadas de decisões e aceitação de mudanças; prejuízos na memória, na concentração, com perda de interesse pela
aprendizagem, pelo trabalho e até pelos
passatempos preferidos; sono alterado;
uso excessivo de álcool, drogas, etc.
Nas crianças, o THB se apresenta, a
princípio e em geral, com características
maior ( Jamison, 2000; Muller-Oerlinghausen, 2001). Porém,
Recentemente, estudos funcionais têm demonstrado altehoje há tratamento para as pessoas portadoras de tal doença,
rações neuroquímicas e metabólicas em portadores de THB,
em qualquer idade, que podem, dessa forma, ter uma vida plesem alterações anatômicas identificáveis. Novas abordagens
namente satisfatória e produtiva.
de pesquisa da genética molecular vêm estudando a influência
Aceita-se de modo simplificado a divisão do transtorno
que a transmissão hereditária tem na vulnerabilidade para o
afetivo bipolar em dois grandes tipos. O THB tipo I é a forma
transtorno bipolar.
clássica em que o paciente apresenta os episódios de mania
O entendimento dos processos que ocorrem no cérebro
alternados com os episódios depressivos, observando-se uma
e distúrbios do comportamento, objeto de estudo da Neurotendência de aparecerem várias
ciência, comprova o que a biolocrises de um tipo e poucas do
gia elementar já nos mostra claÉ natural que o humor
outro, de modo que há pacientes
ramente: todos os animais são
bipolares que nunca tiveram faprodutos de complexa interação
varie de acordo com as
ses depressivas e há deprimidos
entre sua genética e os fatores
circunstâncias internas e
que só tiveram uma fase maníaambientais (Werner, 1997).
O THB é caracterizado
ca, enquanto as depressivas foexternas vivenciadas a cada
ram numerosas. O THB tipo II
basicamente por uma oscilação
momento por uma pessoa
caracteriza-se por não apreseninesperada entre os sintomas
tar episódios de mania, mas de
de mania e de depressão, condihipomania (a forma mais leve da mania) e depressão. Também
ções que provocam perdas importantes na vida do paciente,
pode acontecer, durante a mesma crise, sintomas de depressão
pois torna dificultoso tanto o seu convívio social quanto a sua
e de mania, o que corresponde às denominadas Crises Mistas.
produção escolar ou laboral. Pode gerar momentos de falta de
É importante ter uma ideia de como o THB se manifesta
esperança e desalento, podendo mesmo chegar ao suicídio.
A taxa de prevalência de suicídio entre portadores de THB
no adulto para melhor compreender seus sintomas e conse­
comparada à taxa observada na população é em geral 30 vezes
quências quando seu início acontece na infância, mesmo
A mania e a depressão são características da pessoa que possui THB e dificultam tanto o seu convívio social quanto a sua produção escolar ou laboral
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arap para saber mais
SAÚDE
THB
E
m crianças pré-escolares
A descrição dos familiares é a melhor fonte de infor­
mações que o profissional pode obter sobre os sinto­
mas do THB e sua evolução nos pacientes dessa faixa etária,
já que as crianças ainda não conseguem expressar claramente
seus sentimentos. Além do que, os instrumentos estruturados
de avaliação apropriados para essa idade são escassos e é
difícil mensurar o prejuízo na vida funcional da criança. Os
relatos dizem em geral respeito a comportamentos como:
• Isolamento social devido a seu comportamento inconstante
• Pouca resposta à estimulação visual e verbal
• Mudança inexplicável de comportamento
• Queixas de dores de cabeça e estômago
• Busca constante de novos estímulos
• Choro frequente e sem causa aparente
• Abandono de tarefas sem conclusão
• Recusa de alimentos ou voracidade
• Marcante inquietação motora
• Perturbação no sono
• Agressividade
Em crianças de 7 a 12 anos
A partir dos 7 anos de idade é que as patologias psiquiá­
tricas, como o THB, tornam-se frequentemente percebidas
em função do rendimento escolar inadequado e do compor­
tamento típico dessas etiologias:
• Enurese
• Agitação motora
• Cansaço frequente
• Distúrbios do sono
• Recusa a ir à escola
• Auto e heteroagressividade
• Baixo controle dos impulsos
• Problemas de relacionamento
• Irritabilidade, raiva, mau humor, reações desproporcionais
• Sentimento subjetivo de depressão (triste, infeliz, culpado)
• Baixa modulação afetivo-emocional, choro imotivado
• Os comportamentos bizarros e extravagantes, assim como a
hipersexualização são muito mais evidentes na adolescência
• Dificuldade de concentração comprometendo o rendimen­
to escolar
• Dificuldade na organização da informação
• Prejuízo na memória episódica
• Em matemática, o desempenho do bipolar é quase sempre
abaixo da média
• Ruptura brusca na evolução e desenvolvimento normais da criança
• Dificuldades em adquirir autonomia social
• Apresenta altos e baixos de aproveitamento acadêmico,
que decai subitamente e demora a ser recuperado devido às
oscilações do humor
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que podem fazer que até mesmo os profissionais mais experientes o confundam com outros transtornos, especialmente com
o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDA/H),
pela similaridade de alguns comportamentos apresentados:
acessos temperamentais, labilidade de humor, tagarelice, irritabilidade, busca constante de excitação, impulsividade, desorganização, distratibilidade, dificuldade em terminar tarefas,
demonstração de excesso de energia, etc.
Crianças portadoras de THB e crianças com TDA/H
podem apresentar comportamentos similares, mas de causa
e curso diferentes. Assim, crianças com TDA/H podem ter
comportamentos ligados à destrutibilidade antes por falta de
cuidado do que associado à agressividade, e suas crises de raiva
são mais curtas, menos intensas e desencadeadas a partir de
estimulação sensorial e emocional, não como reação a limites
impostos aos seus desejos. Têm também um contato adequado com a realidade e dificilmente apresentam interesse sexual
precoce, como as crianças com THB.
No Brasil, estima-se que haja aproximadamente 2,5 milhões de pacientes com THB, sendo comum encontrar mais de um portador desse transtorno na mesma família
É comum que nas fases iniciais da crise de THB a pessoa se sinta
excessivamente alegre. Os sintomas de mania, porém, não tardam a surgir,
entre eles a perda da noção da realidade
O THB é caracterizado
diagnóstico correto do paciente
Pesam a favor do THB comportamentos mais marcantes, iné muito importante, pois só asbasicamente por uma
trincados e graves: humor elevasim é possível propor uma ação
oscilação inesperada
do, grandiosidade, pensamento
terapêutica adequada, já que ouacelerado, diminuição da necestros transtornos mentais podem
entre os sintomas de
sidade de sono, acessos de raiva
estar associados (comorbidade)
mania e de depressão
como verdadeiros ataques orgaou até mesmo confundidos e,
portanto, o paciente corre o risnizados contra outras pessoas e
contra si próprias, em resposta a
co de ser tratado de forma equitentativas de controle sobre ela; a ausência do temor de se mavocada, não obtendo melhora ao longo dos anos – o que torna
chucar, ou ao enfrentar vários adversários ou ao saltar de alturas;
esse transtorno a sexta maior causa de incapacitação de adulrir ao ser ferida; demonstrar pensamentos múltiplos, complexos
tos no mundo (Organização Mundial da Saúde).
Historicamente, há casos descritos de mania em crianças
e coexistentes, entre outros (DSM-IV-TR).
desde a metade do século XIX (Esquirol, 1845, revisado em
Prevalência estimada
Silva e cols., 1999). Antes da década de 1980, a possibilidade
transtorno de humor bipolar atinge 1% de adultos em
de ocorrência ou não do THB em crianças ainda era discutível
todo o mundo, algo em torno de 7 milhões de pessoas,
entre os profissionais: os sintomas eram geralmente atribuídos
sendo que perto de 60% dentre esses pacientes relatam ter viàs falhas educativas. Atualmente, a maioria dos psiquiatras
venciado sintomas do transtorno desde a sua infância.
infantis está de acordo quanto à sua ocorrência em crianças
(Bandim, Sougey & Carvalho, 1995; Baptista& Golfeto, 2000;
Nos estudos realizados na Europa e nos EUA, estimamse que 1,6% da população sofra da doença bipolar, taxa que
Andriola & Cavalcante, 1999; White, 1989; Soares, 2003) e
aumenta para 4,9% se levarmos em conta os casos em que se
seu inicio precoce está associado a um mau prognóstico.
apresenta a hipomania alternando com depressão. InteressanO estudo do transtorno bipolar em crianças e pré-adoleste notar que pessoas com hipomania não se julgam doentes e
centes nos mostra que os sintomas fundamentais que aparecem
normalmente sentem-se bem, de modo que são os seus faminessa faixa etária referem-se à cognição, afetividade e psicomotricidade. O diagnóstico em crianças é difícil por diversas raliares que percebem as oscilações de humor e elas frequentemente não são diagnosticadas como bipolares pelo médico.
zões: ainda persiste controvérsia entre alguns especialistas sobre
Calcula-se que existam, só no Brasil, aproximadamente
a possibilidade de um diagnóstico nessa faixa etária; a amostra
2,5 milhões de pacientes com THB, sendo comum que na
disponível é relativamente pequena para a pesquisa, pois nesses
mesma família exista mais de um portador desse transtorno. O
estudos interferem muito mais as questões éticas do que ocorre
O
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Como identificar o
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arap para saber mais
SAÚDE
A
a escola
s crianças passam ao menos um terço de seu dia na
escola, em contato com professores e colegas. Qual­
quer transtorno mental altera seu comportamento social
e causa frequentemente déficits na aprendizagem acadêmica.
Além de ser muito importante os profissionais da escola conhe­
cerem os sintomas do THB, devem também estar preparados
para ajudarem essa criança durante os momentos em que
não conseguem dominar seus comportamentos.
Profissionais ou familiares bem informados podem
orientar os professores e funcionários sobre:
• As causas e características comportamentais do trans­
torno para que as mudanças de humor não sejam mal interpretadas
e consequentemente as reações desses adultos sejam adequadas.
• O modo como lidar com a criança/adolescente bipolar
deve considerar sempre a afetividade para permear as relações
sociais e o processo ensino-aprendizagem, preocupando-se
com a autoestima desses alunos e valorizando individualmente
seus comportamentos positivos, sem enfatizar os negativos.
• Criar rotinas previsíveis (horário, local, comportamen­
to do profissional), mas evitar tarefas repetitivas ou longas,
pois estas crianças respondem melhor às novidades e às ta­
refas curtas.
• Introduzir sempre novidades para manter a atenção, a moti­
vação e descobrir o estilo de aprendizagem da criança e favorecer
o uso de recursos como gravador, computador, jogos de regras
(especialmente), contar e escrever histórias, leituras de seu agra­
do, exercícios sensório-motores, de raciocínio.
• Não esquecer a importância de dosar as instruções e ta­
refas em quantidades que permitam, na maior parte das oca­
siões, um desempenho positivo do aluno: tornar flexível o tem­
po de execução das tarefas pedagógicas, de acordo com o
seu momento emocional, por exemplo.
• Procurar manter acordos feitos e oferecer feedback ime­
diato ao aluno.
• Estabelecer claramente para o aluno o que se espera dele
e recompensar o bom comportamento e desempenho, elo­
giando e encorajando a transposição de seus próprios limites.
• Envolver a criança/adolescente no processo de aprendi­
zagem, de maneira a encorajá-la e motivá-la a tentar transpor
suas limitações: como todos os alunos, a criança portadora de
um transtorno mental é uma pessoa a ser respeitada e tratada
afetivamente dentro das normas sociais do grupo.
• Estabelecer e manter firmemente os limites, trabalhando
a impulsividade, mas nunca usando de punição ou de reprimen­
das para evitar frustração, o medo ou a baixa autoestima.
• Estudos demonstraram uma correlação significativa en­
tre sintomas depressivos e prejuízo nas funções executivas e
da memória, o que promove um rendimento escolar abaixo do
aparente potencial da criança.
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Tratamento
De acordo com os critérios atuais, o tratamento do THB deve
ser dirigido antes de tudo para resguardar a segurança do pa­
ciente. Em segundo lugar, privilegia-se uma avaliação
diagnóstica o mais completa possível e em segui­
da um plano de tratamento que aborde a melhoria
dos sintomas imediatos e o bem-estar futuro do
paciente. A tendência hoje favorece o uso da
farmacoterapia, com ou sem a psi­
coterapia, e uma orientação para a
família, no sentido de diminuir os
estressores na vida do paciente.
A Psicoterapia de curto prazo, seja de orientação compor­
tamental, cognitiva ou interpessoal, tem sido muito considera­
da devido à sua eficácia.
Casos extremos e raros, com risco de suicídio, homicídio
ou capacidade reduzida para cuidar da própria higiene, alimen­
tação, abrigo e vestuário, requerem internação.
Prognóstico
Como todos os transtornos mentais, o THB requer permanente
esforço da família em torno da busca do diagnóstico e manu­
tenção do tratamento, que além de ser ininterrupto pode exigir
diversos ajustes durante as alterações características desse
transtorno. Nem sempre o paciente colabora, até porque não
tem condições totais de compreensão do que ocorre com ele,
negando-se ocasionalmente a submeter-se a esta ou àquela
orientação médica psiquiátrica ou psicológica .
O bom prognóstico depende ainda do posicionamento oti­
mista por parte do paciente, respaldado por seu médico e por
familiares, no sentido de que o tratamento o levará a conservar
seu potencial de sucesso e aceitação social, escolar, laboral. A
manutenção da autoestima diminui o risco do desencadeamen­
to de episódios de variação de humor e suas consequências
mais drásticas, como as tentativas de suicídio.
Como vemos, o balanço é esperançoso, positivo e há mui­
to pela frente para a Medicina e a Psicoterapia descobrirem e
nos oferecerem, principalmente quando se trata de crianças, de
cérebro e de Ciência.
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Orientações práticas para
curso mais grave. São crianças e adultos com uma quantidade
com pesquisa com adultos. (Waslick y cols., 2000); os sintomas
maior de sintomas psicóticos, depressão, problemas escolares,
e o diagnóstico de uma doença psiquiátrica no início da vida,
hospitalização, ansiedade e comportamentos disruptivos. O seu
quando as transformações são amplas e constantes, podem aldiagnóstico diferencial é imprescindível, pois a medicação usada
terar conforme a criança cresce; o reconhecimento de sintomas
no tratamento do TDA/H pode agravar os sintomas da bipolaridepressivos ou de (hipo)mania em crianças também costuma
dade em crianças não tratadas. Interessante lembrar que os critéser difícil, principalmente porque estas podem ter dificuldade
rios diagnósticos de TDA/H foram elaborados inicialmente para
em reconhecer e nomear seus próprios sentimentos; também se
crianças (APA, 2002) e, apenas posteriormente adaptados para
deve levar em conta que as características consideradas atípicas
os adultos, exatamente ao contrário do que ocorreu com o THB
em adultos parecem ser regra em crianças e, por isso, muitos proe que além da citada comorbidafissionais nem chegam a incluir
de entre eles, na infância o THB
o THB como possibilidade de
Na
criança,
a
depressão
é frequentemente confundido
diagnóstico quando as avaliam.
com o TDA/H.
O THB na infância diferennormalmente vem
A possibilidade de diagnoscia-se do THB na fase adulta peassociada a problemas
los seguintes sintomas: humor irticar o THB na infância foi uma
grande conquista da Psiquiatria,
ritável com “tempestades afetivas”
de comportamento e de
pois qualquer transtorno grave,
são mais frequentes do que a eurendimento escolar
com início na infância, tem um
foria do adulto; o curso da doença
potencial imensamente impacé mais crônico do que episódico;
tante em todo o desenvolvimento
sintomas mistos com depressão e
posterior da criança. Hoje, com frequência, são identificados no
mania concomitantes são comuns; alta prevalência (com taxas
pré-escolar quadros como o autismo, o TDA/H e os quadros
que variam de 49% a 87%) de comorbidades, em especial com
depressivos – os quais têm uma prevalência de 0,9% nesse grutranstorno do déficit de atenção/ hiperatividade (TDA/H), que
po. Muitos adultos levam de 8 a 12 anos após o aparecimento
é frequentemente encontrado, além de taxas que variam de 8% a
dos primeiros sinais do transtorno para que o seu diagnóstico
39% com abuso de substâncias e 75% com transtorno desafiante
seja efetivamente fechado e o tratamento se inicie.
de oposição (Kowatch e DelBello, 2006), o que prognostica um
É comum a bipolaridade infantil ser confundida com o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, pois as crianças apresentam comportamentos similares
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SAÚDE
Como o componente genético não
é o único determinante desse transtorno, estimando-se que seu potencial hereditário seja em tomo de 75% (Baron,
1991), a família e o ambiente social têm
enorme influência sobre o aparecimento dos sintomas e sua gravidade.
Transtorno e aprendizagem
C
erca de 30% da população escolar
apresenta dificuldades no aprender
decorrentes de diversas causas, sendo
que dentre essas, por volta de 40% se devem aos transtornos afetivos emocionais,
como é o caso do THB, dos transtornos
de ansiedade, tiques, TDA/H, transtornos de conduta, etc., comprovando a
grande influência que o aspecto afetivo
tem sobre a aprendizagem, pois este fortalece a autoestima e gera motivação.
O prejuízo cognitivo é frequente
nos dois subtipos de transtorno bipolar, embora ligeiramente mais acentuado no transtorno bipolar do tipo I. No
transtorno bipolar de início precoce, os
sintomas depressivos e um desempenho
deficiente da função executiva prognosticam um funcionamento psicossocial
• busca de informação •
O desconhecimento pelos familiares,
professores, pacientes e profissionais da
área da saúde em relação a esta doença
na infância e adolescência dificulta o
diagnóstico correto e o controle adequado
e eficaz dos sintomas de THB.
Em 12 anos de atividade, a Associação
Brasileira de Familiares, Amigos e
Portadores de Transtornos Afetivos
(ABRATA) já atendeu cerca de 7 mil
pessoas e mais de 12 mil assistiram
às palestras psicoeducacionais sobre
transtornos afetivos.
A equipe de voluntários faz o atendimento
ao público exclusivamente por e-mail
ou telefone. Para mais informações,
entre em contato: (11) 3256-4698 ou
[email protected]
empobrecido e que requer cuidados
especiais. A comorbidade com outros
transtornos, como o TDA/H, aumentam ainda mais os problemas escolares, já que as dificuldades relacionadas
à função executiva não permitem que
uma melhora funcional acompanhe a
melhora clínica.
Apesar de estudos epidemiológicos
apontarem que o THB afeta igualmente homens e mulheres na fase adulta,
este parece ser mais comum em meninos do que em meninas, numa proporção aproximada de 2:1 (Findling et al)
até de 4:1 (Faedda et al).
O sucesso da aprendizagem esperado das crianças desde o ensino
pré-escolar depende de fatores orgânicos, biológicos, emocionais e sociais,
em equilíbrio dentro do dinamismo
próprio de cada etapa do processo de
desenvolvimento. A oscilação do humor ou afetividade que caracteriza o
portador de THB acarreta, geralmente, perdas substanciais na sua aquisição
longitudinal dessa aprendizagem, por
afetar seu desenvolvimento emocional,
cognitivo e sua socialização.
O diagnóstico do THB na infância tem um potencial imensamente impactante em todo o
desenvolvimento da criança, podendo encorajá-la a tentar transpor suas limitações
Além de a depressão envolver fatores afetivos, apresenta também componentes
cognitivos, comportamentais e fisiológicos. Na criança, a depressão normalmente
vem associada a problemas de comportamento e de rendimento escolar, além de
déficit no repertório de estratégias de aprendizagem, ocasionando um prejuízo no
funcionamento psicossocial (White, 1989; Cole, 1990; Harrington,1993 Anderson
& McGree, 1994).
Ainda que o diagnóstico só possa ser realizado por médicos, alguns sintomas dos
transtornos bipolares servem de pistas para identificação, especialmente aos professores e
familiares, para que procurem ajuda profissional para a criança e o adolescente.
IMAGENS: SHUTTERSTOCK
REFERÊNCIAS
LARA, D. Temperamento forte e Bipolaridade: dominando altos e baixos do humor. Porto Alegre:
Diogo Lara, 2004.
MORENO, R.A. MORENO, D.H. Da psicose maníaco-depressiva ao espectro bipolar. São Paulo:
Segmento Farma, 2005.
BIRMAHER, B. Crianças e Adolescentes com Transtorno Bipolar. Tradução de Daniel Bueno. Porto
Alegre: Artmed, 2009.
Fu-I, L. Transtorno afetivo bipolar na infância e na adolescência. Rev Bras Psiquiatria 2004; 26 (supl. III): 22-6.
Antes da década de 1980, os sintomas de THB em crianças eram atribuídos às falhas educativas. Atualmente, porém, não há dúvida da ocorrência também na infância
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SERVIÇOS
Existem várias associações e serviços em grandes hospitais que podem ser procurados para obter
informações, orientações e tratamento para pessoas com THB. Entre tantos, podemos citar três
endereços na web, para facilitar o início das buscas dos interessados:
http://www.ufrgs.br/procab/pesquisas.html
http://www.abtb.org.br/
http://www.abrata.org.br/
www.portalcienciaevida.com.br
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