Universidade de São Paulo Instituto de Astronomia, Geofı́sica e Ciências Atmosféricas Departamento de Astronomia Aglomerados Globulares Ricos em Metais: Traçadores da Evolução Quı́mica da Galáxia Alan Alves Brito Supervisora: Professora Doutora Beatriz Barbuy Tese de Doutorado submetida ao Instituto de Astronomia, Geofı́sica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, como requisito parcial à obtenção do tı́tulo de Doutor em Ciências. Sub-área de concentração: Astrofı́sica Estelar. São Paulo, 7 de Abril de 2008 Ficha catalográfica elaborada pelo Serviço de Biblioteca e Documentação do IAG-USP Alves-Brito, Alan Aglomerados globulares ricos em metais: traçadores da evolução quı́mica da Galáxia/Alan Alves-Brito. – São Paulo: [s.n.], 2008. 226f. Tese (doutorado) - Universidade de São Paulo, Instituto de Astronomia, Geofı́sica e Ciências Atmosféricas Orientador: Beatriz Leonor Silveira Barbuy 1. Abundância estelar 2. Atmosferas estelares 3. Evolução estelar 4. Galáxias 5. Sı́ntese espectral I. Tı́tulo Dedico esta Tese de Doutorado a Painho e a Mainha, retirantes nordestinos em S~ ao Paulo em 1982 e meus dois maiores exemplos de disciplina, trabalho, determinaç~ ao e sucesso na vida. Agradecimentos Ao concluir uma etapa importante da minha carreira cientı́fica, eu gostaria de agradecer a muitas pessoas e instituições que me ajudaram a implementar este importante Projeto de Vida. Certamente não foi fácil chegar até aqui, mas como já dizia o filósofo e escritor Albert Camus, na profundeza do inverno, finalmente aprendi que dentro de mim repousava um verão invencı́vel. A Professora Dra. Beatriz Barbuy, pela orientação deste trabalho, pelas palavras de incentivo e pelas várias crı́ticas ao longo destes anos. Muito obrigado por todos os desafios propostos, pelas oportunidades e situações ı́mpares que foram cruciais para o meu amadurecimento na vida cientı́fica. Foram anos de muito aprendizado. A Dra. Dinah Moreira Allen, pela paciência, pelo suporte, pelos ouvidos atentos, pelo respeito. Eu nunca terei como agradecê-la pela dedicação e amizade. Você foi fundamental para que eu conseguisse chegar até aqui. Muito obrigado, Dinah! Eu gostaria de especialmente agradecer ao Dr. Jorge Meléndez pela ajuda incondicional durante todo o meu programa de pós-graduação [mestrado e doutorado] e pelo suporte durante meu Doutorado Sanduı́che na Australian National University. Dr. Jorge Meléndez é um exemplo a ser seguido e uma das minhas mais claras referências cientı́ficas. I would like to express my sincere gratitude to Dr. Manuela Zoccali, Professor Dante Minniti and Professor Martin Asplund for their personableness, support, advice and guidance. I would like to thank them for the valuable assistance they provided to me and their strong moral support that assisted my achievements with this work. Mis mas sinceros agradecimientos a todas las personas del Departamento de Astronomı́a y Astrofı́sica de la Pontificia Universidad Católica de Chile por la acogida que me dieron en las dos oportunidades que estube allá. Muchas gracias! I am also grateful to all the people from the Research School of Astronomy and Astrophysics [RSAA] at the Australian National University [ANU, Australia] and from the Department of Astronomy at the University of Virginia [USA] for making me feel very welcome when I was undertaking a period of doctoral studies there. Meus agradecimentos aos colegas do Grupo de Populações Estelares do IAG/USP, aos que ainda aqui estão e os que já se foram: M.Sc. Rodolfo Smiljanic, Dra. Paula Coelho, Dr. Bruno Castilho e Dr. Ricardo Schiavon. Aos Professores do IAG com os quais convivi ao longo de todos estes anos e tanto aprendi. Em especial aos meus professores em cursos de Pós-Graduação: Amâncio Friaça, Antônio Mário Magalhães, Gastão Lima Neto, Ronaldo Eustáquio, Walter Maciel e Zulema Abraham. Meus cumprimentos especiais às professoras Claúdia Mendes [pela ajuda e suporte em todos os momentos], Silvia Rossi [valeu por tudo!] e Thaı́s Idiart [minha relatora durante o mestrado]. A Painho [Daniel da Silva Brito], Mainha [Janice Alves Brito] e aos meus irmãos [Adriano, Aline e Alison] pelo amor e amizade e por compreenderem a minha ausência. Eu os amo muito. I would like to specially thank Mr. Michael Mowat for his company and friendship while I was studing at the RSAA/ANU in Australia [Oz]. Canberra will forever be in my mind and in my heart now. Thank you very much, Michael [BAA], for being with me during all great and unforgettable moments in Oz. [LCBFF]. :) Aos meus amigos de lá, da minha Bahia: Luciana de Matos [minha irmã, minha grande amiga, minha colega de profissão; sonhamos juntos], Iraildes Sales [amiga, corajosa, determinada, inteligente — uma pequena grande notável], Dissinho, Leide, Marcio Santana e Marcelo Santana. A Ozana Barreto, Paula Rúbia, Gal e Bel, quatro mulheres extraordinárias! Aos meus amigos de cá, da cidade que me fez olhar a vida por um outro prisma: Claudio Melioli [meu grande amigo, desde o primeiro instante. Como esquecê-lo?] e Rhowena Jane [eu quero uma casa no campus]. A Manuelle [Manu] e Eduardo [Edu] minhas lembranças diárias da Bahia. Aos Drs. Denise Gonçalves, Isaura Fuentes e Ignácio de la Rosa por momentos agradáveis em Sampa e por várias discussões cientı́ficas, seja através de propostas de observação em astrofı́sica, seja no Folhetim. Aos meus colegas de Departamento: a Tatiana Laganá [unidos para destruir o exame de qualificação ”com farinha”] e a Sérgio Scarano e Pâmela Piovezan pelas discussões cientı́ficas em torno dos dados GMOS@GEMINI. A Professora Dra. Vera Aparecida Fernandes Martin, minha orientadora de IC por 3 anos através do Programa PIBIC/CNPq. Muito obrigado por iniciar-me no mundo da ciência profissional. Aos Drs. Paulo Poppe, Selma Rozane e Rocı́o Melgarejo. Vocês foram fundamentais em momentos importantes da minha trajetória acadêmica. Muito obrigado! A Marco, Ulysses, Patrı́cia e Luiz pelas várias ajudas e suporte nos momentos de pânico com este admirável mundo novo da informação. Ao pessoal da secretaria do Departamento de Astronomia, da secretaria de Pós-Graduação e da gráfica do IAG/USP: Marina, Conceição, Rose, André, Marcel, Lélis e Lucimara. Ao povo Brasileiro e ao povo do Mundo afora que através da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo [FAPESP], da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nı́vel Superior [CAPES], do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Cientı́fico e Tecnológico [CNPq] e pelo Latin-American European Network for Astrophysics [Alfa/LENAC] financiaram os meus estudos em nı́vel de graduação e pósgraduação ao longo destes anos. Muito obrigado aos cientistas e cidadãos comuns da Bahia [Feira de Santana], de São Paulo e do mundo que não estão listados acima, mas que individualmente sabem o quanto contribuiram para a minha formação, não apenas como cientista mas também como cidadão brasileiro e do mundo. A Deus, tão presente em minha vida, com o melhor de mim e com o que há de melhor no outro. —————————– O presente trabalho de pesquisa fez uso das seguintes fontes, softwares e/ou banco de dados em Astrofı́sica: • NASA’s Astrophysical Data System Bibliographic Services (ADS) • Very Large Telescope • Gemini North Observatory • 2MASS - Two Micron All Sky Survey • IRAF, DAOSPEC, Skycat, DAOImage DS9, Supermongo, Latex 2 ”O senhor escute meu coraç~ ao, pegue no meu pulso. O senhor avista meus cabelos brancos... Viver - n~ ao é? - é muito perigoso. Porque ainda n~ ao se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo. O sertão me produz, depois me engoliu, depois me cuspiu do quente da boca... O senhor cr^ e minha narraç~ ao?” José Guimar~ aes Rosa (1908-1967) em Grande Sertão: Veredas. Sumário Lista de Siglas e Abreviaturas xv Grandezas Fı́sicas Usadas xviii Resumo xxi Abstract xxiii 1 Introdução Geral 1 1.1 O sistema de aglomerados globulares da Galáxia . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.1.1 Sobre a origem dos aglomerados globulares . . . . . . . . . . . . . . 6 1.1.2 Abundâncias quı́micas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.1.3 Aglomerados globulares ricos em metais da Galáxia: halo interno, bojo ou disco espesso? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 1.2 Escopo da tese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 2 Observações e redução de dados 12 2.1 NGC 6553: amostra UVES@VLT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 2.1.1 Fotometria e identificação das estrelas . . . . . . . . . . . . . . . . 12 2.1.2 Espectroscopia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.2 NGC 6553 : amostra FLAMES@VLT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.2.1 Espectroscopia e fotometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.2.2 Delimitação da amostra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 i 2.3 M71 GMOS@GEMINI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 2.3.1 Fotometria e identificação das estrelas . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.3.2 Espectroscopia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.3.3 Redução de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 3 NGC 6553: aglomerado globular traçador do bojo da Galáxia 40 3.1 Introdução — o bojo Galáctico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3.2 Parâmetros estelares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 3.2.1 Velocidades radiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 3.2.2 Larguras equivalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 3.3 Parâmetros atmosféricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 3.3.1 Velocidade de microturbulência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 3.3.2 Temperaturas efetivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 3.3.3 As gravidades superficiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 3.3.4 Metalicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 3.3.5 Incertezas na metalicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 3.3.6 ETL versus não-ETL para a amostra . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 63 3.4.1 Sı́ntese espectral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 3.4.2 Lista de linhas e abundância solar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 3.4.3 Metalicidade: [Fe/H] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 3.4.4 Elementos α: [O/Fe], [Mg/Fe], [Si/Fe], [Ca/Fe], [Ti/Fe] . . . . . . . 74 3.4.5 Elementos Z-ı́mpar: [Na/Fe], [Al/Fe] . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 3.4.6 Elementos do pico do ferro: [Mn/Fe], [Cu/Fe], [Zn/Fe] . . . . . . . 85 3.4.7 Elementos pesados: [Zr/Fe], [Ba/Fe], [La/Fe], [Eu/Fe] . . . . . . . . 92 3.4.8 Incertezas nas abundâncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 3.5 Histórico de enriquecimento quı́mico em NGC 6553 e aglomerados globulares ricos em metais da Galáxia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 ii 4 Espectro combinado de alta razão sinal-ruı́do de NGC 6553 4.1 Introdução 104 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104 4.2 Velocidades radiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 4.3 Espectro combinado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 4.3.1 Cálculo das Wλ e normalização do contı́nuo . . . . . . . . . . . . . 111 4.3.2 A razão sinal-ruı́do dos espectros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 4.4 Parâmetros atmosféricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 4.5 Sı́ntese espectral e resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 4.5.1 Elementos α . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 4.5.2 Elementos de Z-ı́mpar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 4.5.3 Elementos pesados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 4.6 Incertezas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 4.7 Interpretação dos resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 5 Anomalias quı́micas em M71 5.1 Introdução 131 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 5.2 Análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 5.2.1 Velocidades radiais observadas e heliocêntricas . . . . . . . . . . . . 135 5.2.2 Temperaturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 5.2.3 Gravidades superficiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139 5.2.4 Índices espectrais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 5.3 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146 5.3.1 CN e CH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146 5.3.2 Índices de ferro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151 5.3.3 Ca4227 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152 5.3.4 Hβ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154 5.3.5 NaD e Al3953 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157 iii 5.3.6 Fitting functions ou funções de ajuste . . . . . . . . . . . . . . . . . 157 5.3.7 Sı́ntese espectral de CN e CH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160 5.4 Discussões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161 6 Conclusões e perspectivas 166 6.1 Sinopse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166 6.2 Perspectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169 A Sı́ntese espectral 171 A.1 Linhas atômicas e moleculares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171 A.2 Modelos de atmosferas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171 A.3 Opacidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173 A.4 Constante de alargamento colisional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174 A.5 Estrutura hiperfina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175 B Índices espectrais medidos 176 Referências 183 iv Lista de Figuras 2.1 Projeção de Aittof em coordenadas galácticas (l,b) dos 150 aglomerados globulares da Galáxia catalogados em Harris (1996). Cı́rculos cheios: aglomerados globulares pobres em metais com [Fe/H] < -1.00. Cı́rculos abertos: aglomerados globulares ricos em metais com [Fe/H] ≥ -1.00. Os aglomerados globulares ricos em metais NGC 6553 [l = +5◦ .25; b = −3◦ .03], NGC 6838 (M71)[l = 56◦ .74; b = −4◦ .56], NGC 6528 [l = +1◦ .14; b = −4◦ .17] e 47 Tucanae [l = 305◦ .90; b = −44◦ .89] estão identificados na figura. . . . . 13 2.2 Superior: Identificação das estrelas observadas no campo WFI de NGC 6553 UVES@VLT. Inferior: Mapa de identificação das observações com a grade de coordenadas equatoriais. Os eixos Norte, Sul, Leste e Oeste de orientação do campo são mostrados nas imagens. . . . . . . . . . . . . . . 14 2.3 Superior: espectros das estrelas de NGC 6553 UVES@VLT analisadas com as suas respectivas velocidades radiais heliocêntricas deteminadas. Inferior: diagrama cor-magnitude (V:V − I) de NGC 6553 com fotometria de Ortolani et al. (1995), mostrando os estágios evolutivos das estrelas em estudo (triângulos azuis). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 2.4 (a) Diagrama [Fe/H]-vr para o número total de estrelas (N ∼ 200, cı́rculos abertos) e para as estrelas selecionadas da amostra (N = 22, cı́rculos fechados) com −0.25 ≤ [Fe/H]≤ −0.05 e −15 ≤ vhr ≤ +15 kms−1 . Os painéis (b) e (c) apresentam, respectivamente, as distribuições de [Fe/H] e vr para o total de estrelas. (d) Mesmo que painel (a), numa escala ampliada. . . . 19 2.5 Mapas de identificação para a amostra M71 mostrando a parte superior do campo original de 5’ x 5’ de arco. Os eixos vetoriais Norte e Leste em cada mapa de identificação estão, respectivamente, à direita e no sentido para cima nas figuras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 v 2.6 Mapas de identificação para a amostra M71 mostrando a parte inferior do campo original de 5’ x 5’. Os eixos vetoriais Norte e Leste em cada mapa de identificação estão, respectivamente, à direita e no sentido para cima nas figuras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 2.7 Diagrama cor-magnitude (V,B-V)0 de M71. (a): pontos pequenos: fotometria de Cudworth (1985) e atualização; pontos grandes: estrelas do programa; quadrados abertos: estrelas do programa identificadas em Geffert & Maintz (2000). (b): apenas as estrelas com probabilidade P de pertinência ≥ 80%. Os sı́mbolos são como dados acima. Os parâmetros da isócrona Yonsei-Yale ajustada aos dados estão indicados na figura. . . . . . . . . . . 25 2.8 Imagem de calibração de bias nos três diferentes CCDs adotada para corrigir as imagens cientı́ficas (superior) e a estrela padrão (inferior). . . . . . 32 2.9 (a): flat-field normalizado e (b): flat-field combinado, na Máscara 2 do programa observacional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 2.10 Imagem cientı́fica de M71 na máscara 2. Pode-se notar as separações ou gaps entre os três CCDs (linhas escuras verticais na imagem). Mais detalhes são explicados no corpo do texto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.11 Exemplo de uma imagem de lâmpada usada para calibrar os espectros em comprimento de onda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 2.12 Exemplo de uma imagem subtraı́da de céu para uma das máscaras de M71. Nota-se que há ainda alguns resı́duos de céu, sobretudo as linhas mais intensas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 2.13 Função de sensibilidade obtida para a estrela EG 131 aplicada a todos os espectros de M71. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 2.14 Exemplo de espectros calibrados em fluxo. Superior: espectro da estrela padrão EG 131. Inferior: espectro da estrela 484 (1-55, V = 14.26) observada com a máscara 2. Nota-se alguns ı́ndices espectrais de interesse e os gaps devido à separação dos 3 CCDS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 3.1 NGC 6553 267092 (a) Espectro observado. (b) Polinômio de Legendre usado na normalização do continuum. (c) Espectro dos resı́duos. (d) Uma pequena região espectral (5852 ≤λ ≤ 5864 Å) do espectro observado com algumas linhas em absorção identificadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 vi 3.2 Demonstração da obtenção da temperatura efetiva, gravidade superficial, velocidade de microturbulência e metalicidade para a estrela NGC6553 II-64 com dados obtidos por fotometria (esquerda) e por espectroscopia (direita). Na figura, a constante a refere-se ao coeficiente angular do ajuste linear aos dados. Alto: FeI vs. χ. Meio: FeI vs. Wλ . Baixo: Fe I (cı́rculos) e Fe II (quadrados) vs. Wλ . As linhas tracejadas correspondem aos valores médios encontrados usando somente as medidas dentro de 1σ do valor médio. 61 3.3 Ajustes de HFS para linhas de Mn no Sol e em Arcturus: espectro observado (linha sólida); espectro sintético (linha pontilhada); espectro sintético usando o loggf total de VALD para a linha 6016 Å (linha tracejada). . . . . 65 3.4 Diferentes valores de metalicidade encontrados na literatura para NGC 6553 através dos anos. Os quadrados abertos são para os trabalhos realizados utilizando fotometria, enquanto que os quadrados fechados são para aqueles baseados em espectroscopia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 3.5 Espectro da estrela gigante II-85: comparação entre o espectro estudado em Barbuy et al. (1999b), obtido com telescópio de 3.6m e espectrógrafo CASPEC de R ∼ 20000 (a) e o do presente estudo obtido com o VLT de 8.2m e espectrógrafo UVES de R∼55000. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 3.6 Diagrama de diagnóstico quı́mico: variação da abundância dos elementos-α com a metalicidade com base na figura 1 de McWilliam (1997). . . . . . . . 75 3.7 Painel superior: Sı́ntese espectral do tripleto de magnésio em 6318.7 Å, 6319.2 Å, 6319.4 Å na estrela II-85, calculada com [Mg/Fe] = +0.27 (linha pontilhada, melhor ajuste), [Mg/Fe] = +0.37 (linha curta tracejada) e [Mg/Fe] = +0.17 (linha longa tracejada). Painel inferior: Sı́ntese espectral da linha de silı́cio 5948.548 Å na estrela II-85 calculada com [Si/Fe] = +0.20 (linha pontilhada, melhor ajuste), [Si/Fe] = +0.30 (linha curta tracejada) e [Si/Fe] = +0.10 (linha longa tracejada). . . . . . . . . . . . . . 78 3.8 Razões [Ca/Fe] em aglomerados globulares do bojo (cı́rculos fechados) comparadas com estrelas de campo do bojo (cı́rculos abertos) e estrelas de campo do disco espesso (quadrados). Na notação especı́fica para NGC6528, NGC6528:G1 corresponde a análise feita por Zoccali et al. (2004) e NGC6528:G2 em Origlia et al. (2005a). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 vii 3.9 Padrão de abundância dos elementos α em NGC 6553: (i) média para 4 estrelas deste trabalho e adotando oxigênio de Meléndez et al. (2003) (estrelas) e (ii) abundâncias médias com base em 4 estrelas de Cohen et al. (1999) (quadrados). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 3.10 Padrão [α/Fe] de abundâncias nas quatro estrelas de NGC 6553 (cı́rculos fechados) comparado com as estrelas de campo do bojo (cı́rculos abertos) de Lecureur et al. (2007) e em estrelas de campo do disco espesso (cruzes) de Reddy et al. (2006). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 3.11 Painel superior: Razão [O/Fe] para gigantes do bojo (triângulos em vermelho), do disco espesso (cı́rculos cheios em azul), do disco fino (cı́rculos abertos em verde) e do halo (estrelas). Painel inferior: Razão [(C+N)/Fe] de abundância para gigantes do bojo (triângulos em vermelho), do disco espesso (cı́rculos cheios em azul), do disco fino (cı́rculos abertos em verde) e do halo (estrelas). Barras tı́picas de erro são apresentadas na figura. . . . 84 3.12 [Mn/Fe] versus [Fe/H] para diferentes amostras de estrelas: (i) abundância média para os aglomerados globulares ricos em metais neste trabalho e em M71 com dados de Ramı́rez & Cohen (2002) (cı́rculos fechados). As barras de erro correspondem à dispersão dos dados. (ii) Aglomerados abertos analisados por Carretta et al. (2005) e Bragaglia et al. (2006) (cı́rculos abertos). (iii) Estrelas de campo do disco com dados de Reddy et al. (2003, 2006) (cruzes). (iv) Galáxia anã Sagittarius com dados de Bonifacio et al. (2000) (pentágonos) e McWilliam et al. (2003a,b) (quadrados), e (v) estrelas de campo do bojo de McWilliam et al. (2003a,b) (triângulos). A linha pontilhada na figura corresponde ao comportamento esperado para a vizinhança solar, equanto que a linha cheia corresponde ao que se espera para o bojo da Galáxia. Ambas previsões teóricas foram fornecidas pela Dra. Gabriele Cescutti. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 3.13 [Cu/Fe] versus [Fe/H]. Exceto para Sagittarius, cujas razões foram obtidas por McWilliam et al. (2005), os sı́mbolos e referências são como dados na figura 3.12. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 3.14 [Zn/Fe] em função da metalicidade [Fe/H]. Sı́mbolos e referências são como dados na figura 3.12. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 viii 3.15 Razões médias de [O/Fe] (painel a) para NGC 6553, HP-1, NGC 6558, 47 Tucanae e NGC 6528 (cı́rculos fechados) comparadas ao padrão de abundâncias quı́micas das estrelas de campo do bojo (cı́rculos abertos) de Lecureur et al. (2007) e estrelas de campo do disco espesso (cruzes) de Reddy et al. (2006) com base em linhas de alto potencial de excitação OI em 7771 Å. As razões [Mg/Fe], [Na/Fe] e [Al/Fe] são apresentadas nos painéis (b), (c) e (d), respectivamente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 3.16 Razões médias de [Ba/Fe] (painel a), [Eu/Fe] (painel b) e [Ba/Eu] (painel c) para NGC 6553, HP-1, NGC 6558, 47 Tucanae e NGC 6528 (cı́rculos fechados) comparadas ao padrão de abundâncias quı́micas das estrelas de campo do disco espesso (cruzes) de Reddy et al. (2006). No painel c a linha cheia marca a razão [Ba/Eu] = −0.70, onde a contribuição na produção dos elementos pesados seria apenas pelo processo r. . . . . . . . . . . . . . 101 4.1 Histograma mostrando a distribuição das velocidades radiais observadas nas 22 estrelas selecionadas de NGC 6553@FLAMES nas 3 redes de difração: HR11 (linha cheia em azul), HR13 (região sombreada, linha pontilhada em verde) e HR15 (linha tracejada em vermelho). . . . . . . . . . . . . . . . . 107 4.2 Comparação entre os espectros individuais (linha cheia) e o espectro combinado (linha pontilhada) de NGC 6553 FLAMES@VLT. As temperaturas efetivas das estrelas individuais crescem na figura do painel (a)-(e) variando de 4350 ≤ Teff ≤ 4900 K. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 4.3 Espectro combinado nas três diferentes redes usadas: (a) HR11, (b) HR13 e (c) HR15. No painel (d) apresentamos uma porção do espectro combinado da ordem HR13 na região [OI] 6300 Å. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 4.4 Espectro combinado e normalizado de NGC 6553 na ordem HR13, com linhas atômicas (superior) e moleculares (inferior) identificadas na região. O espectro equivale a cerca de 22 horas de observação no VLT. . . . . . . . 118 4.5 Determinação dos parâmetros atmosféricos espectroscópicos usando o Abonj: (a) [FeI/H] vs χ; (b) [FeI/H] vs Wλ ; (c) [FeII/H] vs χ e (d) [FeII/H] vs Wλ . 120 4.6 Sı́ntese espectral do magnésio. (a): Linha de MgI 5711.080 Å. (b): Região sintetizada do tripleto de magnésio. Os valores e sı́mbolos são explicados na figura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 ix 4.7 Espectro combinado (linha cheia) e espectro sintético (linha pontilhada) para linhas de SiI, CaI e NaI, cujos comprimentos de onda e valores de abundâncias obtidos são apresentados na figura. . . . . . . . . . . . . . . . 122 4.8 Exemplo da sı́ntese espectral (linha pontilhada) para a linha Ti I 6336 Å comparada ao espectro combinado (linha cheia). Obtivemos para esta linha uma sobreabundância [Ti/Fe] = +0.38. A linha mais grossa no canto esquerdo inferior da figura marca a presença de linhas moleculares no espectro.123 4.9 Exemplo de sı́ntese espectral para a linha de BaII 6141.700 Å, da qual obtemos [Ba/Fe] = −0.38. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 4.10 Padrão de abundâncias de NGC 6553 obtido com espectros individuais UVES@VLT (triângulos) e no espectro combinado com espectros FLAMES@VLT (cı́rculos). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 4.11 [O/Mg] em função da metalicidade para NGC 6553 e para aglomerados globulares pobres e ricos em metais estudados em nosso Grupo de Pesquisa (cı́rculos cheios) e em estrelas de campo do bojo (cı́rculos abertos) de Lecureur et al. (2007). Barras de erro tı́picas são apresentadas na figura. . 128 4.12 [Na/O] em função da razão [Fe/H] para NGC 6553 e para aglomerados globulares pobres e ricos em metais estudados em nosso Grupo de Pesquisa (cı́rculos cheios) e em estrelas de campo (cı́rculos abertos) de Lecureur et al. (2007). As barras de erro tı́picas são apresentadas na figura. . . . . . . 129 4.13 Comparação entre os espectros observados combinados de NGC 6553 (linha cheia) e para o campo Blanco -6◦ (linha pontilhada) na região 6350-6370 Å. 130 5.1 Reações nucleares envolvidas no ciclo CNO. Figura apresentada em Arnould et al. (1999). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 5.2 Reações nucleares envolvidas nos ciclos Ne:Na e Mg:Al. Figura apresentada em Arnould et al. (1999). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 5.3 Distribuição das velocidades radiais heliocêntricas de M71 obtidas através do método de correlação cruzada de Fourier. . . . . . . . . . . . . . . . . . 136 5.4 Calibrações de temperatura para estrelas gigantes (Alonso et al. 1999, 2001, cı́rculos e quadrados) e para estrelas anãs (Alonso et al. 1996, triângulos) entre 0 ≤ (B-V)o ≤ 1.5 e [Fe/H] = −0.73. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138 x 5.5 Painel superior: espectro de M71 com ı́ndices identificados. Painel inferior: demonstração de como é feito o cálculo de um ı́ndice espectral usando o ı́ndice de Hβ para um dos espectros de M71. A banda central (região sombreada em verde com linhas horizontais) e os pseudo-contı́nuos no azul (região sombreada em azul com linhas inclinadas) e no vermelho (região sombreada em vermelho com linhas inclinadas) são apresentados. O fluxo médio em cada pseudo-contı́nuo é usado para linearmente interpolar o pseudo-contı́nuo através da banda central. O ı́ndice é calculado através da razão de fluxos no contı́nuo (Fc ) e na banda central (Find ) integrados entre λ1 e λ2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 5.6 (a): CN1 versus magnitude V e (b) CN1 versus (B-V)0 para a amostra de M71, destacando o locus CN-forte (cı́rculos cheios) e CN-fraco (cı́rculos abertos). As barras de erro correspondem ao desvio padrão das medidas. . 148 5.7 Diagrama cor-magnitude (V,B-V) de M71 mostrando o grupo CN-forte (estrelas) e CN-fraco (cı́rculos cheios). As estrelas anãs e subgigantes apresentadas (quadrados cheios) não permitem qualificação de grupo com base em suas respectivas intensidades de CN. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149 5.8 Índice CN1 em função da gravidade superficial. Vé-se que, em decorrência da baixa razão S/N, as estrelas com V > 15.5 (logg & 2.4) não apresentam uma clara separação CN-forte:CN-fraco. As barras de erro são como discutidas no texto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150 5.9 Banda G4300 em função da magnitude, onde os grupos CN-forte (cı́rculos cheios) e CN-fraco (cı́rculos abertos) estão apresentados separadamente. As barras de erro são como discutidas no texto. . . . . . . . . . . . . . . . 151 5.10 Estrelas 390 (linha cheia, CN-forte) e 399 (linha pontilhada, CN-fraco) de M71 mostrando a região das bandas moleculares de CN e CH. . . . . . . . 152 5.11 Painel superior: ı́ndice Mg2 versus CN1 . Painel inferior: ı́ndice Mg2 versus Teff . As barras de erro são como discutidas no texto. . . . . . . . . . . . . 153 5.12 Índice de Ca4227 como uma função da tempertaura efetiva. As barras de erro são como discutidas no texto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154 5.13 Painel superior: Ca4227 versus <Fe>, com hFei = (Fe4383 + Fe5270 + Fe5335 + Fe5406)/4. Painel inferior: Ca4227 versus Mg2 . As barras de erro são como discutidas no texto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155 xi 5.14 (a): Índice Hβ em função da magnitude V e (b): Hβ versus Teff . As barras de erro são como discutidas no texto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 156 5.15 Painel superior: NaD versus CN1 . Painel inferior: Al3953 versus CN1 . As barras de erro apresentadas nas figuras são como explicadas ao longo do texto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158 5.16 Painel superior: Al3953 versus NaD. Painel inferior: Mg2 versus Al3953. As barras de erro apresentadas nas figuras são como explicadas no texto. . 159 5.17 Espectro observado (linha pontilhada) e espectro sintético (linha sólida) na região das bandas moleculares de CN e CH. Superior: Estrela 390 (CN-forte): (Teff , logg, vt ) = (4434 K, 1.54, 1.5 kms−1 ) com cálculo para [C/Fe]=0.0 e [N/Fe]=+1.0; Inferior: Estrela 399 (CN-fraco): (4419 K, 1.8, 1.5 kms−1 ) com cálculo realizado para [C/Fe]=0.0 e [N/Fe]=+0.50. . . . . 162 xii Lista de Tabelas 2.1 Jornal das observações NGC 6553 UVES@VLT. . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.2 Jornal das observações NGC 6553 FLAMES@VLT. . . . . . . . . . . . . . 20 2.3 Estrelas do programa M71 GMOS@GEMINI: identificação das estrelas (1, como dada nas máscaras GMOS e em Cudworth (1985)), coordenadas equatoriais (2)-(3), velocidade radial [km/s] (4), probabilidade P de pertinência (5, como dada em Cudworth (1985) e em comunicação privada de 2006), magnitude V (6), cores (7)-(8). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.4 Descrição dos dados M71 GEMINI-GMOS, sob Projeto GN2002B-Q42. . . 31 3.1 Larguras equivalentes medidas Os valores de loggf adotados 2002; Fuhr & Wiese 2006)para (2008) para as linhas de Fe II. e respectivas incertezas: Wλ ± σWλ [mÅ]. na coluna (4) são do NIST (Martin et al. as linhas de Fe I e de Meléndez & Barbuy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 3.2 Temperaturas fotométricas Teff derivadas usando V −I, V −K e J −K com J base nas relações de AAM99. Abaixo, (V − I)C 0 e (V − I)0 faz referência às cores já corrigidas da extinção interestelar nos sistemas fotométricos Johnson e Cousins, respectivamente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 3.3 Parâmetros estelares e atmosféricos finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 3.4 Lista de linhas atômicas usada para a sı́ntese espectral: (1) espécie atômica, (2) comprimento de onda, (3) potencial de excitação, (4) constante de amortecimento C6 e (5) loggf. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 3.5 HFS para linhas de Mn I. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 3.6 HFS para linhas de Cu I. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 3.7 Comparação das Wλ das linhas de FeI usadas neste trabalho em comum com o trabalho de Barbuy et al. (1999b). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 xiii 3.8 Comparação dos valores de abundância solar e razões de abundância obtidas para NGC 6553 entre o presente trabalho e Cohen et al. (1999). . . . . 79 3.9 Razões de abundância média para Mn, Cu, e Zn para estrelas em NGC 6553, 47 Tuc e NGC 6528. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 3.10 Abundâncias médias obtidas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 3.11 Erros estimados sobre as abundâncias variando ∆Teff = ±100 K, ∆log g = ±+0.3 e ∆vt = ±0.2 km s−1 . O erro total é dado na última coluna. . . . 97 3.12 Razões médias de abundâncias nos aglomerados globulares ricos em metais analisados pelo Grupo de Populações Estelares do IAG/USP. . . . . . . . . 98 4.1 Velocidades radiais observadas em cada rede de difração com respectivas FWHM [pı́xel] calculadas. A velocidade radial heliocêntrica é dada na última coluna. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 4.2 Parâmetros atmosféricos para as 22 estrelas individuais de NGC 6553 . . . 109 4.3 Lista de linhas e larguras equivalentes medidas com respectivas incertezas. 112 5.1 Magnitude, cores e parâmetros atmosféricos para as estrelas do programa: identificação das estrelas (1, como dado em Cudworth (1985)), coordenadas das estrelas J2000 (2)-(3), magnitude V (4), cores das estrelas (5)-(6), magnitude bolométrica (7), gravidades superficiais [dex] (8) e temperaturas [K] (9). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139 5.2 Definição dos ı́ndices . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144 5.3 Compilação dos valores de metalicidade para M71 . . . . . . . . . . . . . . 161 B.1 Índices espectrais medidos e respectivas incertezas associadas. . . . . . . . 176 B.2 Índices espectrais medidos e respectivas incertezas associadas. . . . . . . . 179 B.3 Índices espectrais medidos e respectivas incertezas associadas. . . . . . . . 181 xiv Lista de Siglas e Abreviaturas 2MASS Two Micron All Sky Survey AAM99 Alonso et al. AGB Asymptotic Giant Branch BSS Blue Stragglers CCD Charge Coupled Device CDM Cold Dark Matter CIT California Institute of Technology DAOSPEC Dunlop Astrophysical Observatory Spectroscopy DCM Diagrama Cor-Magnitude DN Data Number ELS62 Eggen, Lynden-Bell & Sandage (1962) ELT Extremely Large Telescope ESO European Southern Observatory ETL Equilı́brio Termodin^ amico Local FITS Flexible Image Transport System FWHM Full Width at Half Maximum FLAMES Fibre Large Array Multi Element Spectrograph FORS2 FOcal Reducer and low dispersion Spectrograph FORTRAN FORmula TRANslation GLIMPSE Galactic Legacy Infrared Mid-Plane Survey Extraordinaire GMOS Gemini Multi-Object Spectrograph 1999, 2001 xv HB Horizontal Branch HFS Hyperfine Structure HST Hubble Space Telescope HR Hertzsprung-Russell IMF Initial Mass Function IRAF Image Reduction Analysis Facility MACHO Massive Compact Halo Objects MARCS Model Atmosphere in a Radiative Convective Scheme MDF Metallicity Distribution Function MIDAS Munich Image Data Analysis Systems MFIV Método do Fluxo do Infravermelho MS Main Sequence NIST National Institute of Standards & Technology RGB Red Giant Branch SDSS Sloan Digital Sky Survey SFR Star Formation Rate SNs Supernovas SSP Simple Stellar Populations SGB Subgiant Branch SZ78 Searle & Zinn (1978) TCS Telescópio Carlos Sánchez UT Universal Time UVES Ultraviolet Visual Echelle Spectrograph VALD Vienna Atomic Line Database VLT Very Large Telescope WFI Wide-Field Imager WMAP Wilkinson Microwave Anisotropy Probe xvi WCS World Coodinate System Wλ Largura(s) Equivalente(s) xvii Grandezas Fı́sicas Usadas Nesta seção algumas das variáveis usadas na tese, bem como suas respectivas unidades (às vezes dadas no Sistema Internacional e outras vezes no sistema CGS), são listadas. Para mais detalhes recomenda-se ao leitor uma busca na literatura cientı́fica especializada. 1. Quantidades Cinemáticas, Espaciais, Temporais, Dinâmicas e Adimensionais: • αJ2000 ,δ J2000 : • l,b: • h: • vr : coordenadas equatoriais [hora,minuto,segundo]. coordenadas galácticas [grau]. 1grau = 3600” de arco. altura [m] velocidade radial observada [kms−1 ]. • vh r : velocidade radial helioc^ entrica [kms −1 ]. • z: redshift (z > 0) ou blueshift (z <0). • c: velocidade da luz. • (m-M)V : • tql : c = 2.99792458 x 10 5 kms−1 . módulo de dist^ ancia. tempo de queda livre. • tdin : tempo din^ amico. • Rgal : raio galactoc^ entrico [kpc]. • UA: unidade astron^ omica. 1pc = 3.086 × 10 13 km. 1UA = 1.496×10 11 m. • X, Y, Z: coordenadas galácticas retangulares [kpc]. • c: par^ ametro de concentraç~ ao de um aglomerado globular. xviii • rh : raio de meia massa. • R: poder resolutor. [arcmin] R = λ/∆λ. 2. Quantidades Fotométricas: • B,V: magnitudes ópticas nas bandas B e V. • J, H, KS : • (B-V)o : bandas J,H,KS 2MASS no infravermelho. cor intrı́nseca. • E(B-V)o : extinç~ ao interestelar. • BC: correç~ ao bolométrica. • MV : magnitude visual da estrela. • Mbol, : • Mbol : • L : magnitude bolométrica do Sol. Mbol, = 4.75. magnitude bolométrica da estrela. luminosidade do Sol. L = 3.8515 x 1026 Js−1 . • L: luminosidade da estrela. • Fλ : fluxo de uma estrela. • Fc : fluxo definido pelo pseudo-contı́nuo. 3. Quantidades Fı́sicas Estelares: • logg : • logg : gravidade superficial g [cms−2 ] parametrizada [dex]. gravidade superficial do Sol [dex]. logg = 4.44 dex. • vt : velocidade de microturbul^ encia [kms −1 ]. • M : massa do Sol [SI,CGS]. 1M = 1.99 × 1030 kg. • M: massa da estrela [SI,CGS]. • Teff : temperatura efetiva da estrela [K]. xix • Teff, : • θ: temperatura efetiva do Sol [K]. Teff, = 5800K. inverso da temperatura efetiva. • Wλ : θ = 5040/T eff . largura(s) equivalente(s) [mÅ]. 1Å = 10−10 m. 4. Quantidades Atômicas e Moleculares: • λ: comprimento de onda da radiaç~ ao eletromagnética [ Å]. • χ: potencial de excitaç~ ao de uma transiç~ ao at^ omica-molecular [eV]. • loggf: • C6: força de oscilador. constante de amortecimento. • A: massa at^ omica. • Z: número at^ omico. 5. Quantidades Estatı́sticas: • P: probabilidade P de pertin^ encia das estrelas individuais de um aglomerado. • S/N: raz~ ao sinal-ruı́do dos espectros [pixel −1 ]. • N: número total de uma certa medida. • σ: • σ wλ : desvio padr~ ao das medidas. incerteza sobre as larguras equivalentes. xx Resumo Aglomerados globulares ricos em metais desenvolvem papel fundamental como traçadores do histórico de formação estelar e enriquecimento quı́mico da Galáxia. Abundâncias quı́micas de elementos chave nestes objetos nos permite inferir sobre as escalas de tempo de formação do disco espesso e do bojo onde muito deles são encontrados. O objetivo do presente trabalho é determinar a metalicidade ([Fe/H]) e razões elementais de abundâncias (elementos α, Z-ı́mpar, pico do ferro, processos s e r) em estrelas individuais de NGC 6553, aglomerado globular rico em metais do bojo da Galáxia, elementos do pico do ferro (Mn, Cu e Zn) em NGC 6528 e 47 Tucanae, além de ı́ndices espectrais (CN, CH, Na, Fe, Mg e Al) de 89 estrelas em M71, aglomerado globular considerado referência no estudo de populações ricas em metais. Nossos resultados trazem vı́nculos observacionais importantes sobre o histórico de formação estelar e enriquecimento quı́mico no regime de mais alta metalicidade de nossa Galáxia, além de ajudar a entender a origem nucleossintética dos vários elementos estudados. Os espectros ópticos de estrelas gigantes de NGC 6553, NGC 6528 e 47 Tucanae foram obtidos através dos espectrógrafos UVES e FLAMES do Very Large Telescope. A análise destes espectros baseia-se nos modelos MARCS de atmosferas estelares usando um conjunto de parâmetros estelares obtidos por fotometria e por espectroscopia. As abundâncias quı́micas foram obtidas por sı́ntese espectral de linhas individuais. No que tange M71, foram observadas estrelas do Turn-off ao topo do Ramo das Gigantes (0.87 < log g < 4.65) do aglomerado, usando o espectrógrafo multi-objeto GMOS do Observatório Gemini Norte. Foram obtidas velocidades radiais, cores, temperaturas efetivas, gravidades superficiais e ı́ndices espectrais para a amostra. Obtivemos metalicidade [Fe/H]= −0.20 para NGC 6553, além de sobreabundância nos elementos α de Mg e Si ([Mg/Fe]=+0.28, [Si/Fe]=+0.21), abundância solar de Ca e Ti ([Ca/Fe]=+0.05, [Ti/Fe]=−0.01) e sobreabundância moderada para o elemento Eu do processo r, com [Eu/Fe] = +0.10. Os elementos do pico do ferro nas amostras de NGC 6553, NGC 6528 e 47 Tucanae apresentam valores médios de −0.44 ≤ [Mn/Fe] ≤ −0.35, −0.10 ≤ [Cu/Fe] ≤ +0.00 e −0.05 ≤ [Zn/Fe] ≤ +0.18. Apresentamos ainda xxi um espectro de altı́ssima razão S/N e alta resolução de NGC 6553 que foi combinado a partir de 22 espectros de estrelas gigantes do aglomerado. Confirmamos resultados anteriores no que concerne a bimodalidade de CN e anticorrelação CN-CH em estrelas de M71. Encontramos uma correlação CN-Na e Al-Na, além de uma anticorrelação MgAl. Fizemos uma comparação de nossos resultados de abundâncias com os disponı́veis na literatura, não apenas para estrelas de aglomerados globulares ricos em metais, mas também para estrelas de campo. As razões elementais de abundâncias em NGC 6553 parecem muito similar às razões elementais de NGC 6528. O padrão de abundâncias quı́micas de NGC 6553 fortalece a idéia de que este aglomerado pertence de fato ao bojo da Galáxia e pode ainda indicar um histórico rápido de evolução quı́mica no bojo da Galáxia dominado por SNs do Tipo II. No caso de M71, uma combinação do mixing convectivo e poluição primordial por estrelas AGBs ou massivas nos estágios iniciais do aglomerado são requisitados para explicar as observações. Encontramos evidências de que os aglomerados globulares ricos em metais foram formados a partir de um material pré-enriquecido em metais. xxii Abstract Metal-rich globular clusters play an important role as tracers of the history of star formation and chemical enrichment of the Galaxy. Abundances of key elements in these objects allow us to constrain the formation timescale of the Galactic thick disk and bulge, where many of them are found. The purpose of this study is to determine the metallicity ([Fe/H]) and elemental ratios (α-, odd-Z, iron-peak, s- and r-process elements) in individual stars of the metal-rich bulge globular cluster NGC 6553, the iron peak-elements (Mn, Cu and Zn) in NGC 6528 and 47 Tucanae, as well as CN, CH, Na, Fe, Mg and Al indices in spectra of 89 stars of the template metal-rich globular cluster M71. Our results will draw important information about the star formation and chemical enrichment of our Galaxy in the highest metallicity regime, besides constraining the nucleosynthetic origin of all elements studied. Optical spectra of giant stars in NGC 6553, NGC 6528 and 47 Tucanae are recorded by using the high-resolution UVES and FLAMES spectrographs on the Very Large Telescope. The analysis is based upon one-dimension, MARCS’s local thermal equilibrium (LTE) model atmospheres using a set of photometric and spectroscopic stellar parameters. The chemical abundances are derived by spectral synthesis of individual lines. Concerning M71, stars from the Turn-off up to the Red Giant Branch (0.87 < log g < 4.65) observed with the GMOS multi-object spectrograph at the Gemini-North telescope are analyzed. Radial velocities, colours, effective temperatures, gravities and spectral indices are determined for the sample. A metallicity [Fe/H]= −0.20 dex is derived for NGC 6553, together with α-element enhancement of Mg and Si ([Mg/Fe]=+0.28, [Si/Fe]=+0.21), solar Ca and Ti ([Ca/Fe]=+0.05, [Ti/Fe]=−0.01), and a mild enhancement of the r-process element Eu with [Eu/Fe] = +0.10. The sample stars of three metal-rich globular clusters (NGC 6553, NGC 6528 and 47 Tucanae) show mean values of −0.44 ≤ [Mn/Fe] ≤ −0.35, −0.10 ≤ [Cu/Fe] ≤ +0.00, and −0.05 ≤ [Zn/Fe] ≤ +0.18. We present a very high S/N and high-resolution composite spectrum of NGC 6553 by coadding 22 spectra of red giant stars in this cluster. Previous findings related to the CN bimodality and CN-CH anticorrelation in stars of xxiii M71 are confirmed. We also find a CN-Na correlation, and Al-Na, as well as a Mg2 -Al anticorrelation. A comparison of our abundances with those available in the literature not only for stars in metal-rich globular clusters but also for field stars is done. NGC 6553 appears to be very similar in its element abundance ratios to NGC 6528. The chemical abundance pattern of NGC 6553 supports the idea that this cluster belongs to the Galactic bulge and might indicate a rapid chemical evolution history dominated by Type II Supernovae in the Galactic bulge. A combination of convective mixing and a primordial pollution by AGB or massive stars in the early stages of the globular cluster formation is required to explain the M71 observations. We find evidence that the metalrich globular clusters were formed from a pre-enrichment material. xxiv Capı́tulo 1 Introdução Geral Desde o trabalho clássico do astrônomo E. Hubble sobre a sistematização de 400 nebulosas extragalácticas (Hubble 1926), tentar entender como as galáxias se formam tem sido uma das questões fundamentais da astrofı́sica e, neste século XXI, da cosmologia observacional. Embora a nossa compreensão geral sobre a formação das galáxias no universo tenha experimentado avanços significativos nos últimos anos, devido principalmente à construção de grandes telescópios (8-10 metros) e ao desenvolvimento de novas técnicas de detecção e análise de dados observacionais, não há ainda um modelo único capaz de descrever, em detalhes, como se deu a formação e evolução das galáxias. Neste sentido, a astrofı́sica contemporânea tem procurado interpretar resultados observacionais à luz da teoria fı́sica para compreender a formação e as interconexões entre as principais componentes galácticas. Para a galáxia melhor estudada — a nossa própria, a Via Láctea—, seguindo o conceito de populações estelares de Baade (1944), isso tem sido implementado através da determinação da idade e das propriedades cinemáticas, dinâmicas e quı́micas das populações estelares de suas quatro sub-estruturas: o halo, o bojo e os discos fino e espesso (Majewski 1993; Freeman & Bland-Hawthorn 2002, para uma revisão). Ao buscar responder algumas das muitas perguntas básicas sobre o que determina a taxonomia (tipos), a morfologia, o ambiente e a evolução das galáxias, além de como se deu a distribuição e a formação das estrelas e por que as estrelas tendem a concentrar-se em aglomerados, Eggen et al. (1962, ELS62) e Searle & Zinn (1978, SZ78) propuseram os modelos clássicos mais discutidos na literatura sobre a formação da Galáxia. No modelo do colapso monolı́tico de ELS62 a formação da Galáxia de deu de forma rápida e ordenada, com o tempo de colapso da nuvem protogaláctica (M ∼ 108 M ) da ordem do 2 tempo de queda-livre1 . Neste cenário, durante o colapso rápido, as condensações originadas e a energia irradiada do gás quente (processo dissipativo) foram suficientes para gerar os aglomerados globulares e as estrelas pobres em metais do halo da Galáxia. O modelo de ELS62 foi proposto a partir das observações de 221 estrelas anãs de campo do halo. Eles notaram que o aumento do excesso de cor no ultravioleta das estrelas, interpretado como a assinatura para baixas abundâncias metálicas, era acompanhado por um aumento na energia, ou seja, na excentricidade da órbita destas estrelas e por uma diminuição no momento angular orbital. No cenário ELS62, a escala de tempo para transformar o gás da nuvem em estrelas e o momento angular da nuvem protogaláctica são os dois parâmetros principais que controlam a morfologia da galáxia resultante (Lynden-Bell 1967). Segundo ELS62, no regime de alto momento angular, se a escala de tempo de transformação do gás em estrelas for superior a escala de tempo dinâmico (tdin > 108 anos) da nuvem, as galáxias resultantes serão preferencialmente tipo disco e processos dissipativos continuarão aquecendo o disco para formar outras gerações de estrelas. Por outro lado, se a formação da galáxia for acompanhada por uma baixa taxa de momento angular em escalas de tempo inferiores à escala de tempo dinâmico, necessariamente as galáxias resultantes do processo serão do tipo esferoidais. Numa interpretação deste cenário, as estrelas de galáxias early type formam-se muito cedo, a redshift z≥ 2, o que corresponde a uma idade do universo de cerca de 1.3 bilhões de anos, sendo que as estruturas mais massivas formam-se primeiro. Do ponto de vista das abundâncias quı́micas, espera-se no cenário ELS62 que os sistemas estelares de uma galáxia apresentem, por exemplo, excesso de elementos α e um gradiente de abundâncias. Todavia, ao analisarem uma amostra de 177 gigantes vermelhas de 19 aglomerados globulares do halo da Via-Láctea, Searle & Zinn (1978) concluı́ram não existir quaisquer gradientes de abundâncias no halo da Galáxia, o que era inconsistente com o cenário do colapso rápido e ordenado de ELS62. SZ78 relataram ainda a existência de uma discrepância idade-metalicidade nos aglomerados globulares. Desta forma, como alternativa, SZ78 sugeriram que a formação do halo deu-se por fragmentação da nuvem protogaláctica, onde cada fragmento individualmente poderia dar origem a outros objetos num tempo superior àquele do modelo de ELS62. A inexistência de gradientes quı́micos mais as discrepâncias na relação idade-metalicidade nos objetos estudados explicariam a formação da Galáxia num processo lento e caótico pelo acréscimo hierárquico destes fragmentos da nuvem primordial. 1 Fisicamente, o tempo de queda-livre (t ql ∼ 108 anos) está associado ao intervalo de tempo necessário para que aconteça o colapso de um sistema sem a contribuiç~ ao da press~ ao de radiaç~ ao, sendo inversamente proporcional à raiz quadrada do número de partı́culas que comp~ oem o sistema fı́sico. 3 Do ponto de vista observacional o modelo SZ78 ganhou ı́mpeto com a descoberta da galáxia anã esferoidal Sagittarius no centro da nossa Galáxia (Ibata et al. 1994). Dentro das idéias apresentadas por SZ78, a interação (merging) observada entre a Via-Láctea e a galáxia anã Sagittarius, bem como seu próprio sistema de aglomerados globulares — Terzan 7, Terzan 8, Arp 2 e M54—, é um indı́cio de que a galáxia anã Sagittarius pode ter sido formada a partir de um dos fragmentos da nuvem primordial que deu origem à Galáxia. No final do século XX, devido principalmente ao surgimento dos primeiros modelos de formação de estruturas no universo com a inclusão da matéria escura fria (CDM, Cold Dark Matter) e da observação de galáxias em altos redshifts, os cenários clássicos de formação de galáxias passaram a ser desafiados. Muitas das propriedades galácticas descritas com os novos modelos semi-analı́ticos (por exemplo, White & Rees 1978; White & Frenk 1991; Kauffmann et al. 1993) bem como observadas nos grandes surveys de galáxias (por exemplo, The Hubble Deep Field) não podem mais ser explicadas apenas no contexto dos modelos clássicos. Sendo assim, no cenário hierárquico as galáxias early-type são formadas a partir de eventos de fusão (mergings) ou acresção de pequenas estruturas numa escala de tempo da ordem da idade do universo. Neste cenário as primeiras estruturas a se formar são os halos de baixa massa, constituı́dos basicamente de matéria escura dinamicamente fria — tipo de matéria que não absorve nem emite radiação e que é constituı́da por partı́culas não-relativı́sticas (v << c)—, e de bárions (prótons e nêutrons). Neste cenário, a morfologia da galáxia resultante será então determinada pelo nuḿero de eventos de fusão/acresção ocorrendo nos halos de matéria escura: um ou mais eventos de fusão de halos de matéria escura resultarão na formação de galáxias esferoidais em seu centro; os halos mais massivos de matéria escura irão gerar as galáxias elı́pticas gigantes, enquanto que as galáxias tipo disco serão formadas a partir de processos mais lentos de fusão onde o gás da interação terá tempo de se resfriar e se condensar no disco. As observações atuais da fusão da galáxia Antennae (Whitmore & Schweizer 1995) e da acresção da galáxia anã esferoidal Sagittarius pela Via-Láctea (Ibata et al. 1994) são evidências observacionais em favor do cenário hierárquico de formação das galáxias. No entanto, embora constitua o paradigma atual mais aceito para explicar a formação das galáxias, o modelo hierárquico ainda enfrenta problemas em explicar o alto número de galáxias satélites previstas para as galáxias tipo disco, a observação de um grande número de galáxias massivas em redshifts 1 ≤ z ≤ 3, bem como a alta taxa de momento angular prevista para as galáxias espirais e, do ponto de vista quı́mico, a baixa razão [α/Fe] prevista para galáxias elı́pticas massivas. Simulações numéricas (por exemplo, Moore et al. 1999) auxiliadas pelos resultados re- 1.1 O sistema de aglomerados globulares da Galáxia 4 centes da cosmologia, sugerem que a formação da Galáxia se dá de forma hierárquica a partir da interação de pequenas estruturas cuja contrapartida observacional seriam as galáxias anãs. Em outras palavras, as galáxias anãs funcionam como os tijolos fundamentais de formação das galáxias no Universo. Desde que os aglomerados globulares da nossa Galáxia estão entre os objetos mais velhos do universo, estudar a conexão entre as galáxias anãs e aglomerados globulares será certamente um dos campos mais excitantes da Astrofı́sica das próximas décadas. 1.1 O sistema de aglomerados globulares da Galáxia Dentro do conceito de populações estelares de Baade (1944), os aglomerados globulares são representativos da população II onde as estrelas gigantes vermelhas dominam a luz integrada do espectro. Eles são caracterizados por estrelas da sequência principal (MS, Main Sequence), pelas estrelas do ramo das subgigantes (SGB, Subgiant Branch), pelo ramo horizontal (HB, Horizontal Branch), pelas estrelas do ramo das gigantes vermelhas (RGB, Red Giant Branch) e do ramo assintótico das gigantes (AGB, Asymptotic Giant Branch) e pelas blue stragglers (BSS). Estas caracterı́sticas morfológicas correspondem a cálculos de evolução estelar para idades acima de ∼ 8 bilhões de anos (por exemplo, Chiosi et al. 1992) e identificam os aglomerados globulares como as estruturas mais velhas do universo e, consequentemente, fundamentais do ponto de vista quı́mico e cosmológico. O conjunto de aglomerados globulares de uma galáxia constitui um sistema de N corpos com cerca de 104 a 107 estrelas fortemente ligadas gravitacionalmente e com massa M ∼ 105 M . Embora represente uma fração desprezı́vel da massa de uma galáxia, os aglomerados globulares são objetos ideais para estudar a história de formação e evolução estelar. Isso se deve basicamente ao fato de que os aglomerados globulares são o melhor exemplo do que se denomina em astrofı́sica população estelar simples (SSP, Simple Stellar Populations), ou seja, todas as suas estrelas, em primeira aproximação, apresentam a mesma idade, mesma composição quı́mica e estão localizadas à mesma distância do referencial do observador. O estudo dos aglomerados globulares constitui-se, assim, como uma das mais poderosas ferramentas para traçar as propriedades quı́mio-dinâmicas das galáxias que os hospedam. Vale ainda lembrar que os aglomerados globulares podem ser encontrados em todas as galáxias do tipo de Hubble, desde as irregulares até as anãs e elı́pticas gigantes (Harris 1991; Brodie & Strader 2006). Evidências observacionais e teóricas (ver Krauss & Chaboyer 2003, para uma revisão extensa da literatura) demonstram que os aglomerados globulares da Galáxia possuem uma idade média de 13 ± 2.5 bilhões de anos, quando resultados do WMAP (Wilkinson 1.1 O sistema de aglomerados globulares da Galáxia 5 Microwave Anisotropy Probe) fixam uma idade de 13.7 ± 0.2 bilhões de anos para o universo (Spergel et al. 2003). Este acordo na idade dos aglomerados quando comparada aos resultados WMAP destaca a importância cosmológica dos aglomerados globulares. Como os aglomerados globulares da Galáxia estão distribuı́dos num raio galactocêntrico de 0.6 < Rgal < 123.2 kpc, os estudos concernentes às análises quı́micas estão principalmente focados nas estrelas mais brilhantes, ou seja, nas estrelas do RGB do diagrama Hertzprung-Russell (HR) ou diagrama cor-magnitude (DCM) destes objetos. Estas estrelas são tipicamente de baixa massa (M ≤ 1M ), frias e na fase evolutiva da sequência principal elas apresentam um núcleo radiativo onde acontece a fusão do hidrogênio em hélio através das reações da cadeia p − p e pelo ciclo carbono-nitrogênio-oxigênio (CNO) (ver Salaris et al. 2002, e referências listadas, para uma discussão detalhada sobre estrelas no RGB). Estimativas prevêem a existência de aproximadamente 200 aglomerados globulares para a nossa Galáxia, mas apenas 160 foram observados até o momento. Na compilação de Harris (1996) e posterior atualização2 há 150 aglomerados catalogados. Hurt et al. (2000) identificaram 2MASS-GC01 e 2MASS-GC02 como mais dois novos aglomerados globulares da Galáxia. Bica et al. (2006) fizeram uma revisão das propriedades dos aglomerados globulares listados em Harris (1996) e incluiram 3 outros recentemente descobertos: GLIMPSE-CO1 (Kobulnicky et al. 2005), Whiting 1 (Carraro 2005) e SDSSJ1049+5103 (Willman et al. 2005). Sakamoto & Hasegawa (2006) descobriram o aglomerado globular SDSSJ1257+3419, enquanto que Ortolani et al. (2006) descobriram AL3, classificado como um aglomerado globular do bojo da Galáxia. Froebrich et al. (2007) descobriram FSR 1735 na região mais interna da Galáxia, Bica et al. (2007) identificaram o objeto FSR 584 no catálogo de Froebrich et al. (2007) como sendo o 159o aglomerado globular da Galáxia, enquanto que Bonatto et al. (2007) identificaram o aglomerado FSR 1767 como sendo o 160o aglomerado globular da Galáxia. Apenas para comparação, a galáxia mais próxima à nossa — M31 (Andrômeda)—, apresenta cerca de 300 aglomerados globulares enquanto que galáxias elı́pticas gigantes podem conter até milhares de aglomerados (Brodie & Strader 2006). Presume-se que muitos dos aglomerados da Galáxia ainda não catalogados estejam misturados à poeira nas regiões de baixa latitute da Galáxia, na denominada zona de avoidance (Kraan-Korteweg & Lahav 2000). 2 http://physun.physics.mcmaster.ca/Globular.html 1.1 O sistema de aglomerados globulares da Galáxia 1.1.1 6 Sobre a origem dos aglomerados globulares Como os aglomerados globulares caracterizam-se como as estruturas mais velhas do universo, investigar as suas propriedades globais, origem e evolução é uma questão fundamental no estabelecimento de vı́nculos observacionais e teóricos aos modelos de formação de galáxias. As idéias gerais acerca da gênese dos aglomerados globulares contemplam quatro linhas principais: (i) Processos de formação primária: nestas idéias os aglomerados globulares formamse imediatamente após a recombinação do universo, antes do colapso da nuvem protogaláctica. Peebles & Dicke (1968) argumentam que os aglomerados originam-se a partir de nuvens de gás gravitacionalmente ligadas, cujas massas correspondem à massa de Jeans, antes da formação da Galáxia. Todavia, há alguns problemas práticos nos modelos que se baseiam na formação dos aglomerados globulares anterior ao colapso de protogaláxias. Primeiro, não há em galáxias muitos objetos com massas acima de M ≈ 106 M , o que evidencia que os objetos mais massivos ou menos densos foram destruı́dos por fenômenos dinâmicos. Segundo, os aglomerados tendem a concentrar-se mais no centro das galáxias em detrimento dos halos. (ii) Processos de formação secundária ou de acresção: os aglomerados globulares formamse durante o colapso da nuvem protogaláctica. Searle & Zinn (1978) e Zinn (1985) destacam que esta seria a explicação mais plausı́vel para o sistema de aglomerados globulares devido a algumas das propriedades em comum observadas entre as estrelas individuais e aglomerados globulares de componentes esferoidais de galáxias. Fall & Rees (1985) discutem um modelo que se baseia na instabilidade térmica. Eles argumentam que os aglomerados formam-se a partir do gás de uma nuvem protogaláctica em colapso sendo capaz de resfriar no tempo de queda-livre. Harris & Pudritz (1994) acentuam que o modelo da masssa de Jeans não prevê uma função de massa em lei de potência e que o modelo de instabilidade térmica exige fontes sutis de calor. Eles propõem um cenário onde os aglomerados seriam produzidos na fragmentação de nuvens moleculares gigantes e altamente densas. (iii) Processos de formação terciária ou fusão: os aglomerados globulares formam-se após o colapso da nuvem protogaláctica ainda nos primeiros estágios de formação da galáxia. Dentro desta idéia destaca-se o trabalho de Ashman & Zepf (1992), que prevê a formação dos aglomerados a partir do merging de galáxias tipo disco. (iv) Processos de formação hierárquica: os aglomerados globulares formam-se no contexto da formação hierárquica de estruturas no universo. Eles representam a material- 1.1 O sistema de aglomerados globulares da Galáxia 7 ização dos cenários de fusão e acresção para a formação dos aglomerados (por exemplo, em Beasley et al. 2002; Bekki 2005). No caso do sistema de aglomerados globulares da Galáxia, as determinações de idade, além de evidências cinemáticas, dinâmicas e quı́micas parecem evienciar que os aglomerados globulares do halo externo (Rgal > 8 kpc) seriam formados durante a fragmentação da nuvem protogaláctica (Searle & Zinn 1978), enquanto que os aglomerados globulares do halo interno (Rgal ≤ 8 kpc) e do bojo estariam associados ao processos fı́sicos durante o colapso dissipativo da nuvem primordial (Eggen et al. 1962; Mackey & van den Bergh 2005). 1.1.2 Abundâncias quı́micas Em 1957, F. Hoyle, E. Margaret, G. Burbidge, W. Fowler e, num estudo paralelo e independente, A.G. Cameron, mostraram que praticamente todos os elementos quı́micos da Tabela Periódica acima do 4 He podem ser produzidos em estrelas (Burbidge et al. 1957; Cameron 1957). Mais de meio século depois, devido principalmente aos eficientes espectrógrafos da atualidade, como por exemplo o UVES (Ultraviolet Visual Echelle Spectrograph) e FLAMES (Fibre Large Array Multi Element Spectrograph) no Very Large Telescope (VLT), MIKE no MAGELLAN, HIRES no KECK e PHOENIX no GEMINI e, no campo teórico, aos progressos na teoria de evolução estelar em diferentes intervalos de massa e metalicidade (ver, por exemplo, Woosley & Weaver 1995; van den Hoek & Groenewegen 1997; Iwamoto et al. 1999; Umeda & Nomoto 2002), tornou-se possı́vel obter, analisar e interpretar espectros de estrelas de aglomerados globulares usando dados de alta resolução e alta razão sinal-ruı́do (S/N) com o intuito de traçar o histórico da evolução quı́mica da Galáxia. Do ponto de vista quı́mico os aglomerados globulares são considerados laboratórios astrofı́sicos para testar e calibrar a teoria de evolução estelar e também para intepretar a trajetória quı́mica e dinâmica de galáxias a diferentes redshifts (por exemplo, Searle & Zinn 1978; Harris 1991) e, neste sentido, os aglomerados globulares ricos em metais desenvolvem papel fundamental, pois são considerados traçadores de populações do halo interno, bojo e do disco espesso da Galáxia. Algumas das questões básicas que envolvem os estudos de abundâncias quı́micas no sistema de aglomerados globulares da Galáxia são resumidas a seguir. (i) As escalas de metalicidade [Fe/H] de aglomerados globulares da Galáxia estabelecem que estes objetos são cerca de duas vezes mais ricos em metais do que as estrelas mais pobres em metais do halo, ou seja, os aglomerados da Galáxia distribuem-se de −2.40 ≤ 1.1 O sistema de aglomerados globulares da Galáxia 8 [Fe/H] ≤ 0.00 (Zinn & West 1984; Rutledge et al. 1997; Kraft & Ivans 2003). (ii) Exceto para ω Centauri e NGC 6522 o sistema de aglomerados globulares da Galáxia é quimicamente homogêneo em metalicidade [Fe/H]. (iii) Abundâncias quı́micas de Li e Be, elementos também importantes do ponto de vista cosmológico, têm sido usadas como cronômetros quı́micos com o intuito de inferir sobre a época de formação de aglomerados globulares (por exemplo, Castilho et al. 2000; Pasquini et al. 2007). (iv) Em geral, as estrelas de aglomerados globulares apresentam razões [α/Fe] similar às estrelas de campo do halo e do bojo. (v) Elementos do pico do ferro, sobretudo nos aglomerados globulares ricos em metais, ainda não foram estudados em detalhes. (vi) Variações de abundâncias de elementos leves como Li, C, N, O, Na, Mg e Al são encontradas em aglomerados. Estrelas anãs e gigantes de aglomerados com temperaturas efetivas e gravidades superficiais similares apresentam diferentes abundâncias de carbono e nitrogênio, enquanto que as bandas moleculares de CN e CH são anti-correlacionadas. As estrelas de campo, por sua vez, não apresentam comportamento similar e não há um cenário úncio capaz de explicar as anomalias quı́micas (correlações e anticorrelações) observadas em estrelas anãs e gigantes de aglomerados globulares (Kraft 1994; Smith 1987; Gratton et al. 2004). (vii) Há poucas determinações de abundâncias de elementos dos processos s e r em estrelas de aglomerados globulares, sobretudo no regime de mais alta metalicidade. Consequentemente, não há ainda modelos de evolução quı́mica detalhados que busquem reproduzir o padrão de abundâncias quı́micas do sistema de aglomerados globulares da Galáxia. 1.1.3 Aglomerados globulares ricos em metais da Galáxia: halo interno, bojo ou disco espesso? Por representar a convolução entre uma possı́vel relação idade-metalicidade e a história de formação estelar de um dado sistema, a função distribuição de metalicidade (MDF, Metallicity Distribution Function) é considerada um dos mais fortes vı́nculos observacionais aos modelos de evolução quı́mica de galáxias. Para os aglomerados globulares da Galáxia a figura 2.1 mostra que a distribuição de metalicidades é bimodal. Esta bimodalidade na razão [Fe/H] é também acompanhada por uma bimodalidade nas cores destes objetos, no 1.2 Escopo da tese 9 sentido de que os aglomerados globulares ricos em metais são fotometricamente vermelhos enquanto que os pobres em metais são azuis. A primeira interpretação para uma distribuição bimodal em metalicidade e cor seria a premissa de que no mı́nimo dois episódios distintos de formação seriam os responsáveis pela origem destas estruturas. Além disso, trabalhos recentes têm mostrado que mesmo em aglomerados globulares extragalácticos a distribuição de metalicidade e de cores é bimodal, o que sugere um mecanismo universal para explicar tais comportamentos (Brodie & Strader 2006). Para a nossa Galáxia e, consequentemente, galáxias similares, Zinn (1985) propôs que os aglomerados globulares com picos em [Fe/H] = −1.5 estariam quimicamente e cinematicamente associados ao halo, enquanto que aqueles com [Fe/H] = −0.5 estariam quı́mica e cinematicamente associados ao disco. Em outras palavras, os aglomerados globulares vermelhos apresentariam alta velocidade rotacional e pequena dispersão de velocidades, enquanto que os aglomerados globulares azuis exibiriam uma pequena velocidade de rotação e alta dispersão de velocidades. Por outro lado, Minniti (1995) seguido dos trabalhos paralelos de Côté (1999) e Barbuy et al. (1999a), chamam a atenção para o fato de que os aglomerados globulares ricos em metais estejam preferencialmente associados ao bojo da Galáxia. Desta forma, em conjunto a métodos cinemáticos (usando velocidades radiais, por exemplo) e dinâmicos (através das massas), a determinação das abundâncias quı́micas em estrelas anãs e gigantes de campo e em aglomerados globulares da Galáxia, sobretudo no regime de mais alta metalicidade, configura-se como um dos melhores métodos para decidir sobre a qual estrutura da Galáxia pertenceriam os aglomerados globulares e, particularmente, os ricos em metais. 1.2 Escopo da tese Os resultados de análises quı́micas detalhadas com base em dados de alta resolução e alta razão sinal-ruı́do (R ≥ 20000 : S/N > 50), bem como a medida e a análise de ı́ndices espectrais em dados de baixa resolução (R ≤ 8000) tanto em estrelas pertencentes a aglomerados globulares quanto estrelas de campo, permitem uma interpretação realista dos processos nucleossintéticos ocorridos após o cenário padrão do Big Bang (Gamow 1948) e fornecem ainda informações relevantes sobre quais processos contribuı́ram para a formação dos aglomerados globulares e da galáxia hospedeira, ao que Freeman & BlandHawthorn (2002) referem-se como cosmologia de campo próximo. No óptico, uma vez superados problemas de alta extinção e problemas de acúmulo de 1.2 Escopo da tese 10 estrelas numa certa região (crowding), o bojo da nossa Galáxia, o qual compreende uma região em latitude galáctica de cerca de 0◦ . |b| . 20◦ , é uma das regiões mais importantes e interessantes para o estudo da formação e evolução de galáxias no Universo. Sendo assim, o principal objetivo deste trabalho é aprimorar o padrão de abundâncias quı́micas para o bojo e para o halo interno da Galáxia usando espectros estelares de alta qualidade de NGC 6553 e NGC 6838 (M71), dois aglomerados globulares ricos em metais traçadores da evolução quı́mica da Galáxia. Estes aglomerados são referência e calibradores no estudo de populações estelares velhas e ricas e desenvolvem papel fundamental na interpretação e na sı́ntese de galáxias elı́pticas distantes e bojos de galáxias espirais. As novas escalas de abundância para NGC 6553, bem como os resultados em torno das anomalias quı́micas de M71 são vı́nculos observacionais importantes para o estabelecimento de modelos de evolução quı́mica das subcomponentes da Galáxia, dos processos fı́sicos responsáveis pela formação do seu sistema de aglomerados globulares e da formação dos elementos quı́micos individuais estudados. Para tanto, contamos com três diferentes amostras de dados: • 4 espectros de estrelas gigantes de alta resolução e alta razão S/N de NGC 6553 obtidos com o espectrógrafo UVES do VLT (R = 55000, NGC 6553 UVES@VLT). São os melhores dados de estrelas individuais disponı́veis para este aglomerado na atualidade. • 22 espectros de estrelas gigantes de NGC 6553 obtidos com o espectrógrafo FLAMES do VLT (R= 22000, NGC 6553 FLAMES@VLT). • 145 estrelas, entre anãs e gigantes, obtidas com o espectrógrafo GMOS do Observatório Gemini-Norte (R = 2000, M71 GMOS@GEMINI). No capı́tulo 2 caracterizamos cada amostra e explicamos em detalhes o processo de redução dos dados da amostra M71 GMOS@GEMINI. No capı́tulo 3 apresentamos para NGC 6553 a mais nova escala de metalicidade [Fe/H] 3 e razões de abundâncias quı́micas de elementos α (Mg, Ca, Si, Ti), elementos originários de processos ligados à captura de prótons (Na, Al), elementos do pico do ferro (Mn, Cu, Zn) 3 Numa escala absoluta a abundância de um elemento A está relacionada à abundância de hidrogênio por (A) = log(NA /NH ) + 12. Isso implica que dentro de um mesmo elemento de volume podem ser encontrados NA átomos do elemento A por NH = 1012 átomos de hidrogênio. Desta forma, numa escala relativa ao Sol (), [A/B] = log(NA /NB )∗ − log(NA /NB ) . Analogamente, [Fe/H] = log(NF e /NH )∗ − log(NF e /NH ) . Isso quer dizer que uma estrela com [Fe/H] = −5 será 100000 vezes mais deficiente em metais do que o Sol. 1.2 Escopo da tese 11 e de elementos dos processos s (Zr, La, Ba) e r (Eu). Fazemos ainda uma comparação dos nossos resultados de abundâncias quı́micas com os obtidos para outros aglomerados globulares ricos em metais da Galáxia analisados pelo nosso Grupo de Populações Estelares, bem como para estrelas de campo do disco espesso e do bojo da Galáxia da literatura. No capı́tulo 4 apresentamos, pela primeira vez, a determinação de metalicidade e razões de abundâncias quı́micas de elementos α, elementos de Z-ı́mpar e elementos pesados para um espectro combinado de altı́ssima razão S/N (S/N ∼ 800) de NGC 6553 resultante da soma estatı́stica de 22 espectros individuais neste aglomerado. No capı́tulo 5 estudamos as variações de abundâncias quı́micas usando 14 ı́ndices espectrais (CN1 , CN2 , Ca4227, G4300, Fe4383, Hβ , Fe5015, Mg1 , Mg2 , Mgb, Fe5270, Fe5335, Fe5406, NaD e Al3953) em 89 estrelas de M71. E, finalmente, apresentamos no capı́tulo 6 as conclusões e perspectivas do trabalho. Capı́tulo 2 Observações e redução de dados Neste capı́tulo descrevemos as amostras de dados estudadas e os detalhes do processo de redução dos espectros de M71. A figura 2.1 apresenta, numa projeção de Aitoff, a distribuição em coordenadas galácticas dos 150 aglomerados globulares catalogados em Harris (1996). Deste total, 45 (30%) são classificados como ricos em metais ([Fe/H] ≥ −1.00), enquanto que 105 (70%) são denominados pobres em metais ([Fe/H] < −1.00). 2.1 NGC 6553: amostra UVES@VLT 2.1.1 Fotometria e identificação das estrelas As observações nas bandas BVI de NGC 6553 foram realizadas em Junho de 2002 no telescópio ESO-MPI de 2.2 m localizado em La Silla, no Chile. Os dados foram obtidos dentro do programa dedicado ao mapeamento de aglomerados globulares da Galáxia com o Wide Field Image (WFI) (Zoccali et al. 2001). Exceto para duas estrelas da amostra, II-64 e 267092, as magnitudes JHKS foram obtidas da missão espacial Two Micron All Space Survey (2MASS)1 (Skrutskie et al. 2006). As magnitudes em bandas variadas são fundamentais para a determinação fotométrica dos parâmetros atmosféricos. A figura 2.2 apresenta a identificação (mapa de identificação) das quatro estrelas de NGC 6553 da amostra UVES@VLT no campo óptico do WFI/ESO. No painel superior da figura o cı́rculo representa aproximadamente o raio de cerca de 1 minuto de arco do mapa de identificação apresentado em Hartwick (1975), usado para a escolha das estrelas. Os eixos 1 http://ipac.caltech.edu./2mass/releases/allsky/ 2.1 NGC 6553: amostra UVES@VLT 13 Figura 2.1: Projeção de Aittof em coordenadas galácticas (l,b) dos 150 aglomerados globulares da Galáxia catalogados em Harris (1996). Cı́rculos cheios: aglomerados globulares pobres em metais com [Fe/H] < -1.00. Cı́rculos abertos: aglomerados globulares ricos em metais com [Fe/H] ≥ -1.00. Os aglomerados globulares ricos em metais NGC 6553 [l = +5◦ .25; b = −3◦ .03], NGC 6838 (M71)[l = 56◦ .74; b = −4◦ .56], NGC 6528 [l = +1◦ .14; b = −4◦ .17] e 47 Tucanae [l = 305◦ .90; b = −44◦ .89] estão identificados na figura. 2.1 NGC 6553: amostra UVES@VLT 14 Figura 2.2: Superior: Identificação das estrelas observadas no campo WFI de NGC 6553 UVES@VLT. Inferior: Mapa de identificação das observações com a grade de coordenadas equatoriais. Os eixos Norte, Sul, Leste e Oeste de orientação do campo são mostrados nas imagens. Norte (N), Sul (S), Leste (L) e Oeste (O) estão marcados na figura. No painel inferior mostramos o mapa de identificação de NGC 6553, onde uma grade de posição define as coordenadas equatoriais (α,δ, J2000) das estrelas. 2.1.2 Espectroscopia Os dados espectroscópicos foram obtidos junto ao telescópio Kueyen de 8.2 m do conjunto VLT do ESO, no Cerro Paranal [70◦ 240 1100 W; 24◦ 370 3100 S; h = 2635 m], durante 2.1 NGC 6553: amostra UVES@VLT 15 as noites dos dias 26 e 27 de junho de 2000. Os espectros foram obtidos por intermédio do espectrógrafo UVES, acoplado ao telescópio Kueyen do VLT e descrito em detalhes em Kaufer et al. (2003), tendo a Professora Dra. Beatriz Barbuy (supervisora), o Professor Dr. Eduardo Bica (UFRGS) e a Dra. Vanessa Hill (Observatório de Paris) como observadores. Foi utilizado um detector CCD (Charge Coupled Device) Tek de 2048 x 4096 pı́xeis, cada pı́xel com uma dimensão de 15µm x 15µm. A rede de difração echelle usada tinha uma densidade de ranhuras de 31.6 l/mm. A região espectral coberta foi de 4800 Å a 6800 Å, com boas condições de seeing, numa variação de 000 .61 a 000 .87 e massa de ar de 1.5. Em 5800 Å e com uma fenda de 1”de arco a resolução é R ∼ 50000, enquanto que com uma fenda de 0.8”de arco a resolução alcançada é R ∼ 60000. A dispersão da rede é de 0.0147Å/pı́xel. A razão sinal-ruı́do (S/N) foi obtida através da média dos vários valores de S/N obtidos em diferentes regiões de contı́nuo (regiões livres de linhas) ao longo dos espectros observados. Para a determinação da razão S/N usamos a código splot do Image Reduction Analysis Facility (IRAF2 ), um pacote de códigos computacionais para a redução e análise de imagens astronômicas. As reduções foram realizadas utilizando as rotinas para os espectros echelle no contexto do pacote Munich Image Data Analysis Systems (MIDAS). As reduções automáticas pipeline para o UVES realizam correções para subtração de bias, subtração de fundo inter-ordem, flat-field, extração da ordem, subtração do céu e calibração em comprimento de onda usando imagem da lâmpada de tório (Th). A tabela 2.1 traz o jornal das observações para as quatro estrelas em análise. A identificação das estrelas (coluna 1) é dada segundo Hartwick (1975) e a denominação usada no programa de observação realizado com o WFI do ESO. Além disso apresentamos as coordenadas equatoriais das estrelas no equinócio J2000 (colunas 2 e 3), seguidas da data de observação (coluna 4), tempo universal (UT, coluna 5), tempo de integração em segundos (coluna 6) e a razão S/N por elemento de resolução dos espectros (coluna 7). A razão (S/N) por pı́xel pode ser obtida pela divisão dos valores da coluna 7 da tabela pelo fator ∼2.8. Na figura 2.3 pode-se notar a qualidade dos espectros observados, bem como a localização das estrelas do pograma no diagrama cor-magnitude de NGC 6553 usando dados fotométricos do Hubble Space Telescope (HST) de Ortolani et al. (1995). Vê-se que a amostra em análise é composta por 3 estrelas gigantes no nı́vel do ramo horizontal e 1 estrela no topo do ramo das gigantes. 2 http://iraf.noao.edu/ 2.1 NGC 6553: amostra UVES@VLT 16 1.2 1.2 Ba II Fe I Na I Fe I 1 1 0.8 0.8 0.6 0.6 0.4 0.4 0.2 0.2 0 Zr I Na I 1 0 1 0.8 0.8 0.6 0.6 0.4 0.4 0.2 0.2 0 6140 6145 6150 6155 6140 6145 6150 6155 0 6160 II-85 (266938) 16 III-8 (265717) II-64 (267122) 267092 18 20 22 1 1.5 2 2.5 3 3.5 Figura 2.3: Superior: espectros das estrelas de NGC 6553 UVES@VLT analisadas com as suas respectivas velocidades radiais heliocêntricas deteminadas. Inferior: diagrama cormagnitude (V:V − I) de NGC 6553 com fotometria de Ortolani et al. (1995), mostrando os estágios evolutivos das estrelas em estudo (triângulos azuis). 2.2 NGC 6553 : amostra FLAMES@VLT 17 Tabela 2.1: Jornal das observações NGC 6553 UVES@VLT. Estrela (1) II-64 267122 II-85 266938 III-8 265717 267092 2.2 2.2.1 αJ2000 [h m s] δJ2000 [g m s] Data UT Exp [s] (S/N)/resolução (2) (3) (4) (5) (6) (7) 18:09:18.31 18:09:17.96 18:09:13.05 18:09:13.42 -25:55:01.15 -25:55:04.89 -25:55:30.00 -25:55:01.85 26/06/2000 26/06/2000 27/06/2000 27/06/2000 14:21:25.00 14:21:25.00 17:37:49.00 17:37:49.00 2x3600 2x3600 2x3600 2x3600 110 200 170 110 NGC 6553 : amostra FLAMES@VLT Espectroscopia e fotometria Para esta parte do trabalho contamos com uma amostra de 22 estrelas de NGC 6553 observada nos meses de maio e junho de 2004 com o VLT, usando o FLAMES no modo GIRAFFE (Pasquini et al. 2002). Estes dados fazem parte de um survey, tendo o Professor Dr. Alvı́o Renzini (European Southern Observatory) como Principal Investigador, cujo principal objetivo é a observação, análise e interpretação de uma grande amostra de estrelas (∼ 1000) espalhadas em quatro campos do bojo da Galáxia: janela de Baade 3 (l = 1◦ , b = −4◦ ), Blanco −6◦ (l = 0◦ , b = −6◦ ), Blanco −12◦ (l = 0◦ , b = −12◦ ) e janela NGC65534 (l = 5◦ , b = −3◦ ), nos quais estrelas de aglomerados globulares foram também incluı́das. Todas as estrelas têm magnitudes VI obtidas do ESO Imaging Survey com o FLAMES. As magnitudes foram obtidas usando o telescópio ESO-MPI em La Silla, Chile. As observações foram feitas no modo fila e os dados foram reduzidos pela Dra. Manuela Zoccali (PUC/Chile). O GIRAFFE alcança uma resolução R = 22000 cobrindo diferentes intervalos em comprimento de onda. Para a amostra NGC 6553 FLAMES@VLT, foram usadas 3 redes de difração: HR11 (5600-5870 Å), HR13 (6120-6400 Å) e HR15 (6660-6860 Å). Os espectros foram automaticamente reduzidos (correção de bias, flat-field, extração, calibração em comprimento de onda) usando um software5 especialmente desenvolvido para reduzir os dados GIRAFFE. 3 Uma das regi~ oes do bojo Galáctico com relativamente baixo valor de extinç~ ao e alta metalicidade. 4 Perceber a diferença sutil na notaç~ ao: NGC6553 refere-se as estrelas do campo l = ◦ 5 e b = −3◦ ; NGC 6553 refere-se ao aglomerado globular. 5 http://girbldrs.sourceforge.net 2.3 M71 GMOS@GEMINI 2.2.2 18 Delimitação da amostra Para delimitar a amostra final do programa de estrelas usamos quatro critérios: • Metalicidade: numa primeira determinação espectroscópica de [Fe/H] para cerca de 200 estrelas do campo NGC6553 separamos apenas as estrelas que apresentavam metalicidades variando de −0.25 ≤ [Fe/H]≤ −0.05 dex. Este intervalo em [Fe/H] foi adotado seguindo a determinação recente de metalicidade para NGC 6553 de Alves-Brito et al. (2006), como descrito no capı́tulo 3 deste trabalho. • Velocidade radial heliocêntrica: junto com o critério de metalicidade selecionamos as estrelas com velocidades radiais heliocêntricas entre −15 ≤ vhr ≤ +15 kms−1 . • Cores: nesta etapa, com uma amostra limitada pelos critérios de [Fe/H] e vhr dos ı́tens acima, as estrelas foram novamente inspecionadas com base em sua disposição no diagrama cor-magnitude (V:V-I), onde descartamos as estrelas com (V-I) > 2.5 mag. • Qualidade dos espectros: como último critério, os espectros foram inspecionados quanto às contagens. Neste critério, 3 estrelas foram eliminadas por apresentarem contagens muito baixas (< 800). A amostra final de NGC 6553 consta de 22 estrelas com alta probabilidade de pertinência ao aglomerado seguindo critérios consistentes e complementares de composição quı́mica (metalicidade), cinemática (velocidade radial) e fotometria (cor). A figura 2.4a exibe o diagrama [Fe/H]-vhr para o total de ∼ 200 estrelas (cı́rculos abertos), com as 22 estrelas selecionadas (cı́rculos fechados) seguindo os 4 critérios descritos acima. Os valores médios de metalicidade e velocidade radial estão indicados. As figuras 2.4b,c mostram, respectivamente, a distribuição de metalicidade e velocidade radial para o total de estrelas. A tabela 2.2 apresenta informações básicas sobre o programa de observação da amostra FLAMES@VLT. As estrelas estão divididas no grupo das brilhantes (V ≤ 16.7) e no grupo das fracas (V>16.7). 2.3 M71 GMOS@GEMINI Do ponto de vista observacional, M71 é frequentemente citado na literatura como um aglomerado de referência nos estudos de populações ricas em metais no Hemisfério Norte, tal qual 47 Tucanae no Hemisfério Sul. M71 está localizado a baixa latitude galáctica 2.3 M71 GMOS@GEMINI 19 a] 200 100 0 -100 -200 -1 -0.5 0 0.5 [Fe/H] 50 25 b] c] 40 20 30 15 20 10 10 5 0 0 -1 -0.5 0 0.5 -200 -100 0 100 200 [Fe/H] 200 d] 100 0 -100 -200 -1 -0.5 0 0.5 Figura 2.4: (a) Diagrama [Fe/H]-vr para o número total de estrelas (N ∼ 200, cı́rculos abertos) e para as estrelas selecionadas da amostra (N = 22, cı́rculos fechados) com −0.25 ≤ [Fe/H]≤ −0.05 e −15 ≤ vhr ≤ +15 kms−1 . Os painéis (b) e (c) apresentam, respectivamente, as distribuições de [Fe/H] e vr para o total de estrelas. (d) Mesmo que painel (a), numa escala ampliada. 2.3 M71 GMOS@GEMINI 20 Tabela 2.2: Jornal das observações NGC 6553 FLAMES@VLT. Identificação (1) αJ2000 (2) δJ2000 (3) Data (4) UT (5) V (6) V-I (7) 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 06 : 23 : 35 16.68 16.60 16.51 16.43 16.42 16.51 16.36 16.40 16.64 16.41 16.58 16.63 16.41 16.41 16.54 16.69 16.51 16.57 16.49 2.39 2.24 2.13 2.07 2.03 2.16 2.24 2.09 2.34 2.17 2.34 2.21 2.14 2.33 2.38 2.31 2.14 2.25 2.13 Brilhantes n6553bri013 n6553bri041 n6553bri048 n6553bri050 n6553bri053 n6553bri055 n6553bri058 n6553bri059 n6553bri060 n6553bri061 n6553bri062 n6553bri064 n6553bri066 n6553bri069 n6553bri071 n6553bri072 n6553bri085 n6553bri090 n6553bri116 272.19317 272.19317 272.19317 272.19317 272.19317 272.19317 272.19317 272.19317 272.19317 272.19317 272.19317 272.19317 272.19317 272.19317 272.19317 272.19317 272.19317 272.19317 272.19317 −25.84043 −25.84043 −25.84043 −25.84043 −25.84043 −25.84043 −25.84043 −25.84043 −25.84043 −25.84043 −25.84043 −25.84043 −25.84043 −25.84043 −25.84043 −25.84043 −25.84043 −25.84043 −25.84043 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 18/06/2004 Fracas n6553f ai012 n6553f ai055 n6553f ai072 272.19341 −25.84039 01/05/2004 08 : 18 : 07 16.74 2.34 272.19341 −25.84039 01/05/2004 08 : 18 : 07 16.76 2.34 272.19341 −25.84039 01/05/2004 08 : 18 : 07 16.72 2.28 2.3 M71 GMOS@GEMINI 21 (l = 56◦ .74; b = −4◦ .56), apresenta avermelhamento E(B-V) = 0.27 ± 0.05 e módulo de distância aparente (m-M)V = 13.60 ± 0.10 (Geffert & Maintz 2000). Ele exibe alta metalicidade média, h[Fe/H]i = −0.73 (Harris 1996), e idade entre 10 a 12 bilhões de anos (Grundahl 2002; Meissner & Weiss 2006). Dinescu et al. (1999) obtiveram as componentes espaciais de velocidade (U, V, W) = (77 ± 14, −58 ± 10, −2 ± 14) kms−1 e uma baixa excentricidade da órbita para M71, caracterizando-o como um tı́pico aglomerado globular do disco espesso da Galáxia. 2.3.1 Fotometria e identificação das estrelas O imageamento do campo de M71 e as observações espectroscópicas das 145 estrelas da amostra foram obtidas utilizando o telescópio Frederick C. Gillett (Gemini Norte, 8m) situado no Mauna Kea, Hawaii, Estados Unidos da América. As pré-imagens do campo de M71 para a elaboração das quatro máscaras de observação foram obtidas dia 18 de julho de 2002, com uma massa de ar média de 1.157. Elas foram obtidas no filtro r− G0303, com comprimento de onda efetivo de 6300 Å. Foram feitas 4 exposições de 180 segundos com o CCD operando a 4e− /DN (elétrons por número de dados, DN = data number) e ruı́do de leitura de 6.6e− . O campo coberto foi de 5 x 5 minutos de arco. Como reportado pela equipe do GEMINI/GMOS6 , devido a um problema no WCS (World Coodinate System) do GMOS todas as observações realizadas até o dia 12 de setembro de 2006 no Gemini Norte foram afetadas por um deslocamento de ∼5” de arco nas posições ópticas (α,δ) das estrelas. Para corrigir deste efeito e corretamente determinar a fotometria das estrelas, um código escrito em linguagem de programação FORTRAN (FORmula TRANslation) foi usado para deslocar de cerca de 5” de arco as coordenadas α,δ de diferentes bases de dados fotométricos de M71 da literatura. Abaixo descrevemos, passo a passo, os procedimentos adotados para a obtenção das magnitudes das estrelas em diferentes bases de dados. 1. Usando a ferramenta astronômica SkyCat plotamos as 145 estrelas da amostra sobre a pré-imagem de M71 observada no Gemini Norte. Criamos, assim, nosso próprio mapa de identificação (ver figuras 2.5 e 2.6) da observação seguindo as identificações α,δ como originalmente dadas nas máscaras GMOS. 2. Escolhemos duas bases de dados fotométricos CCD de M71 no óptico: Cudworth (1985) e comunicação privada em 2006 e Geffert & Maintz (2000). Além de compor 6 http://www.gemini.edu/sciops/instruments/gmos/gmosIndex.html 2.3 M71 GMOS@GEMINI 22 os melhores dados fotométricos BV de M71, estes trabalhos foram preferencialmente selecionados por fornecerem informações relevantes para a amostra como completeza e/ou a probabilidade de pertinência das estrelas ao aglomerado com base em estudos de movimento próprio. Cudworth (1985) apresenta movimentos próprios e fotometria visual para 350 estrelas de M71 limitadas à magnitude V = 16. Além disso, uma versão atualizada deste trabalho foi-nos gentilmente cedida pelo Professor Ken Cudworth (comunicação privada, 2006), onde ele determinou novos movimentos próprios e realizou fotometria BV para estrelas mais fracas (V > 16), somando 1522 estrelas Por outro lado, Geffert & Maintz (2000) apresentam fotometria CCD BV para 4450 estrelas limitadas à magnitude V = 18.5 e cobrindo um campo de 20 x 20 minutos de arco. Eles também nos enviaram (comunicação privada, 2002) uma pequena amostra de 318 estrelas, para as quais foi estimada uma probabilidade P de pertinência ao aglomerado superior a 60%. 3. Levando em conta os resultados do código escrito em FORTRAN plotamos separadamente sobre a pré-imagem de M71 os dois conjuntos de dados fotométricos listados acima. Tentamos desta forma criar dois outros mapas de identificação para M71, um para a fotometria Cudworth (1985) e outro para Geffert & Maintz (2000). Usando as ferramentas SkyCat, SAOImage DS9 e o nosso próprio mapa de identificação (item 1 acima), cada estrela da nossa amostra foi manualmente identificada nos outros dois mapas de identificação construı́dos. Como será apresentado ao longo deste trabalho, as estrelas mais fracas da amostra não foram identificadas nos dois conjuntos de dados fotométricos para M71. Após várias análises e comparações adotamos a fotometria Cudworth (1985) e atualização de 2006 para a amostra. Na figura 2.7 apresentamos o diagrama cor-magnitude de M71 usando fotometria do Cudworth (1985). Vê-se que uma isócrona Yonsei-Yale (Kim et al. 2002), com [Fe/H] = −0.68, [α/Fe] = 0.00, de 12 bilhões de anos, deslocada por (m-M) V = 13.60 mag e E(B-V) = 0.27 mag (Geffert & Maintz 2000), ajusta-se de forma satisfatória ao diagrama cor-magnitude de M71. 2.3.2 Espectroscopia Os dados M71 GMOS@GEMINI fazem parte do Projeto Observacional GN-2002B-Q-42, tendo Dr. Bruno Castilho (LNA), Dr. Ricardo Schiavon (Observatório Gemini Norte) e a Professora Dra. Beatriz Barbuy (supervisora) como idealizadores. 2.3 M71 GMOS@GEMINI 23 Figura 2.5: Mapas de identificação para a amostra M71 mostrando a parte superior do campo original de 5’ x 5’ de arco. Os eixos vetoriais Norte e Leste em cada mapa de identificação estão, respectivamente, à direita e no sentido para cima nas figuras. 2.3 M71 GMOS@GEMINI 24 Figura 2.6: Mapas de identificação para a amostra M71 mostrando a parte inferior do campo original de 5’ x 5’. Os eixos vetoriais Norte e Leste em cada mapa de identificação estão, respectivamente, à direita e no sentido para cima nas figuras. 2.3 M71 GMOS@GEMINI 25 Figura 2.7: Diagrama cor-magnitude (V,B-V)0 de M71. (a): pontos pequenos: fotometria de Cudworth (1985) e atualização; pontos grandes: estrelas do programa; quadrados abertos: estrelas do programa identificadas em Geffert & Maintz (2000). (b): apenas as estrelas com probabilidade P de pertinência ≥ 80%. Os sı́mbolos são como dados acima. Os parâmetros da isócrona Yonsei-Yale ajustada aos dados estão indicados na figura. 2.3 M71 GMOS@GEMINI 26 Os dados espectroscópicos foram obtidos dia 5 de agosto de 2002, com 2 exposições de 450 segundos em cada máscara. O tempo total de integração foi calculado com base nas estrelas mais brilhantes do aglomerado e levando em conta o limite de saturação para as estrelas da sequência principal presentes na amostra. Utilizou-se espectroscopia no modo multi-objeto, a qual possibilita a detecção de centenas de estrelas de uma só vez, usando o Gemini Multi-Object Spectrograph (GMOS) descrito em detalhes em Hook et al. (2004). Usou-se uma rede B600 (600 linhas/mm) com um comprimento de onda central em 5100 Å e fendas de 1 segundo de arco com uma binagem 20 x 20 ao longo da direção espacial e do eixo de dispersão. Esta configuração resultou em espectros com uma resolução R = 2000 (∆λ ∼ 3 Å), com uma dispersão de 0.09 nm/pı́xel. Vale salientar, porém, que devido as diferentes distâncias das fendas ao bisector das máscaras na direção Norte-Sul, os espectros apresentam diferentes coberturas em comprimento de onda. Outra caracterı́stica dos espectros GMOS é a presença de duas descontinuidades (gaps) devido à separação de cerca de 0.5 mm entre os três detectores CCDs usados. Os espectros cobrem uma ampla faixa do visı́vel, estendem-se de 3700 a 6400 Å. Este intervalo espectral foi escolhido pois a região do azul tem uma aplicação direta no estudo das galáxias em alto redshifts, onde a região mais vermelha do espectro fica comprometida devido principalmente à emissão e absorção de linhas telúricas. Outra vantagem é que o crowding de linhas atômicas e moleculares de diferentes espécies e a conhecida variação na razão de abundâncias em aglomerados globulares e em galáxias dificultam a modelagem da região azul de populações simples e, sendo assim, esta região precisa ser melhor estudada. No conjunto de dados de calibração, observou-se a estrela padrão espectro-fotométrica EG 131. A razão S/N por pı́xel dos espectros varia de 10 a 70 na região da banda G em 4300 Å. As tabelas 2.3 e 2.4 trazem, respectivamente, o jornal das observações e uma descrição das imagens obtidas. Tabela 2.3: Estrelas do programa M71 GMOS@GEMINI: identificação das estrelas (1, como dada nas máscaras GMOS e em Cudworth (1985)), coordenadas equatoriais (2)-(3), velocidade radial [km/s] (4), probabilidade P de pertinência (5, como dada em Cudworth (1985) e em comunicação privada de 2006), magnitude V (6), cores (7)-(8). ID (1) 155 138 114 253 αJ2000 (2) : : : : KC-141 KC-127 KC-136 KC-119 298.4016 298.3995 298.3962 298.4147 δJ2000 (3) vr (4) +18.75612 16.13 +18.79042 -8.10 +18.76293 16.62 +18.81320 123.03 P (5) V (6) 91 90 93 95 15.34 14.44 14.80 14.52 B-V (B-V)o (7) (8) 1.23 1.07 1.22 1.11 0.960 0.800 0.950 0.840 2.3 M71 GMOS@GEMINI ID (1) 1468† : ... 367 : KC-343 327 : 1-73 346 : KC-215 356 : 1-71 221 : 1-109 207 : 1639 291 : 1-95 306 : 1-75 751 : 1289 3791† : ... 1936 : 1280 390 : 1-66 1511 : 1-113 1124 : 1-88 69 : KC-202 7677 : 1346 51† : ... 488† : ... 7277 : KC-336 1351 : 1-45 573 : KC-196 505 : 1-34 1556 : 1-46 7498 : A4 917 : KC-200 1796 : 1134 458 : 1-43 6761 : ... 566 : KC-363 439 : ... 619 : 1355 1235 : 1670 640 : 1-48 122 : KC-303 1035 : 1600 787 : 1-59 292 : X 258 : KC-152 2984† : ... 27 Tabela 2.3 – continuação αJ2000 δJ2000 vr P (2) (3) (4) (5) 298.4188 298.4335 298.4268 298.4298 298.4318 298.4103 298.4085 298.4206 298.4229 298.4129 298.4245 298.4169 298.4382 298.4403 298.4363 298.4608 298.4740 298.4469 298.4532 298.4665 298.4507 298.4697 298.4574 298.4642 298.4715 298.4624 298.4556 298.4485 298.4591 298.4681 298.4450 298.4770 298.4834 298.4814 298.3969 298.3999 298.4237 298.4207 298.4158 298.4104 +18.77991 +18.79543 +18.78301 +18.79586 +18.79003 +18.77245 +18.79252 +18.76555 +18.79264 +18.78219 +18.79684 +18.77425 +18.77940 +18.79596 +18.76084 +18.81061 +18.79896 +18.77311 +18.78136 +18.79440 +18.79796 +18.79116 +18.78078 +18.79901 +18.77711 +18.80419 +18.80151 +18.79111 +18.77784 +18.77355 +18.77383 +18.79714 +18.79839 +18.79968 +18.77009 +18.77520 +18.80803 +18.73372 +18.73698 +18.77345 -4.63 10.66 -31.76 37.87 -22.45 23.54 -4.87 16.01 58.09 -1.69 32.12 1.80 -14.50 -11.98 5.84 43.91 87.14 -6.75 -1.78 17.59 39.18 23.10 -107.0 75.48 29.98 62.65 86.97 27.59 31.48 -74.33 17.75 12.77 93.59 62.93 -30.64 -17.97 48.60 -46.00 -2.72 -7.12 80 8 96 93 96 96 95 96 96 90 80 95 81 95 90 94 84 80 80 ... 94 69 95 93 94 86 91 94 ... 0 ... 97 0 94 0 97 89 90 85 80 V (6) 17.30 16.33 14.79 15.30 13.54 14.87 17.00 13.30 14.85 17.83 16.83 17.45 13.01 12.43 14.26 15.17 18.14 17.30 16.83 ... 12.36 15.60 14.45 12.29 12.20 15.53 18.69 14.26 ... 16.36 ... 17.94 16.77 14.39 16.01 17.57 14.63 14.40 15.03 17.02 B-V (B-V)o (7) (8) 0.81 0.63 1.20 0.97 1.44 1.24 0.75 1.29 1.29 0.84 1.07 0.95 1.40 1.80 0.99 1.12 0.86 0.71 0.76 ... 1.76 1.17 1.05 1.75 1.69 1.30 0.83 1.06 ... 1.43 ... 0.80 0.86 1.07 0.81 0.95 1.30 1.07 1.26 0.84 0.540 0.360 0.930 0.700 1.170 0.970 0.480 1.020 1.020 0.570 0.800 0.680 1.130 1.530 0.720 0.850 0.590 0.440 0.490 ... 1.490 0.900 0.780 1.480 1.420 1.030 0.560 0.790 ... 1.160 ... 0.530 0.590 0.800 0.540 0.680 1.030 0.800 0.990 0.570 2.3 M71 GMOS@GEMINI ID (1) 328† : ... 1060 : ... 1294 : ... 792† : ... 13 : 1-79 232† : ... 402 : 1-87 4126 : ... 1633 : KC-374 2001 : 1-103 1873 : ... 10387 : KC-267 1958 : ... 921† : ... 526 : 1-53 484 : 1-55 6548 : 2071 1181 : 1058 1785 : 1-36 11860 : ... 5871 : ... 6079 : ... 7299 : ... 7453 : ... 1214 : 2084 951 : 2080 2154 : ... 1219 : 1356 1716 : ... 8009 : ... 654 : 1669 1926 : 1633 3 : 1995 338 : 1-107 391 : KC-234 223 : KC-300 314 : ... 1325 : 1-70 294 : 1308 4448 : ... 28 Tabela 2.3 – continuação αJ2000 δJ2000 vr P (2) (3) (4) (5) 298.4270 298.4140 298.4180 298.4254 298.4087 298.4123 298.4396 298.4290 298.4338 298.4317 298.4356 298.4380 298.4417 298.4650 298.4607 298.4526 298.4558 298.4628 298.4463 298.4575 298.4479 298.4502 298.4678 298.4694 298.4746 298.4727 298.4710 298.4765 298.4827 298.4805 298.4843 298.4001 298.3983 298.4283 298.4385 298.4105 298.4240 298.4343 298.4210 298.4327 +18.75018 -53.12 +18.77067 -2.37 +18.78680 -5.85 +18.79479 -24.60 +18.77783 34.37 +18.77188 -11.50 +18.76128 -12.73 +18.77043 -21.62 +18.78996 2.45 +18.76827 -20.97 +18.78181 -31.61 +18.77221 -34.8 +18.77365 -24.38 +18.77283 -4.46 +18.81613 40.67 +18.80644 48.75 +18.80534 -5.19 +18.79180 -22.38 +18.77901 -28.97 +18.80072 30.41 +18.79313 -57.30 +18.77050 -55.70 +18.80609 -63.31 +18.80521 36.21 +18.80516 32.43 +18.80355 48.11 +18.78277 -6.90 +18.79601 61.95 +18.79184 -29.50 +18.79990 -139.8 +18.80037 52.82 +18.78803 -22.54 +18.77371 3.43 +18.77441 0.02 +18.76578 18.32 +18.77746 5.90 +18.79783 113.38 +18.78580 18.25 +18.79190 37.53 +18.78299 0.11 80 80 ... 80 51 80 95 ... 0 89 ... 39 ... 80 95 92 90 93 64 ... ... ... ... ... 60 82 ... 0 ... ... 0 97 98 90 81 26 ... 92 0 ... V (6) 16.52 ... ... 16.64 13.99 16.84 14.37 ... 16.27 14.33 ... 15.69 ... 16.53 12.97 14.26 19.85 17.79 12.79 ... ... ... ... ... 19.00 18.08 ... 17.92 ... ... 17.26 17.28 16.92 13.70 15.59 16.11 ... 14.43 16.31 ... B-V (B-V)o (7) (8) 0.70 ... ... 1.03 1.43 1.06 1.05 ... 1.23 0.87 ... 0.44 ... 0.72 1.61 1.10 1.05 0.80 1.25 ... ... ... ... ... 0.91 0.77 ... 0.98 ... ... 1.28 1.01 1.11 1.13 0.12 1.12 ... 1.09 0.83 ... 0.430 ... ... 0.760 1.160 0.790 0.780 ... 0.960 0.600 ... 0.170 ... 0.450 1.340 0.830 0.780 0.530 0.980 ... ... ... ... ... 0.640 0.500 ... 0.710 ... ... 1.010 0.740 0.840 0.860 0.150 0.850 ... 0.820 0.560 ... 2.3 M71 GMOS@GEMINI ID (1) 10218 : ... 3915 : ... 813 : ... 266 : KC-223 256 : KC-224 1934 : ... 206 : 1604 407 : 1-65 1693 : ... 1818 : ... 6868 : ... 1210 : 1342 2013 : ... 1161 : ... 6786 : ... 12299 : ... 888† : ... 7505 : ... 7573 : ... 452 : 1-21 10927 : ... 5964 : ... 1897 : ... 613 : 1378 641 : KC-191 651 : KC-170 720 : KC-125 4 : 2021 399 : 1-81 1282 : KC-298 1081 : ... 829 : KC-265 4482 : ... 1486 : ... 3909 : ... 1087 : ... 387 : ... 778 : ... 2045 : ... 1292† : ... 29 Tabela 2.3 – continuação αJ2000 δJ2000 vr P (2) (3) (4) (5) 298.4360 298.4260 298.4306 298.4171 298.4154 298.4136 298.4084 298.4402 298.4683 298.4662 298.4617 298.4741 298.4565 298.4523 298.4601 298.4637 298.4543 298.4702 298.4724 298.4475 298.4456 298.4495 298.4584 298.4761 298.4816 298.4838 298.4006 298.3983 298.4392 298.4108 298.4221 298.4352 298.4329 298.4293 298.4273 298.4247 298.4374 298.4201 298.4178 298.4159 +18.78151 -10.03 +18.78303 29.04 +18.77201 5.21 +18.77581 63.33 +18.76982 61.72 +18.78399 7.47 +18.77378 48.45 +18.78101 4.68 +18.80594 51.17 +18.80561 81.33 +18.80363 84.90 +18.80269 72.68 +18.80247 120.85 +18.80226 72.23 +18.73407 -11.68 +18.78218 12.36 +18.78301 3.27 +18.79745 60.95 +18.79126 93.07 +18.76873 4.58 +18.77864 219.80 +18.77822 11.88 +18.77371 -2.35 +18.78647 27.41 +18.79488 25.35 +18.75471 -15.25 +18.79778 57.44 +18.78664 -31.06 +18.77778 -0.78 +18.79258 -20.66 +18.77992 -2.77 +18.77724 -7.32 +18.79019 -21.82 +18.77786 -16.28 +18.78753 -17.13 +18.77539 -7.65 +18.79451 -9.97 +18.78474 -22.07 +18.78361 -26.96 +18.77535 -10.03 ... ... ... 0 0 ... 83 80 ... ... ... 92 ... ... ... ... 80 ... ... 95 ... ... ... 97 85 92 38 99 95 8 ... 70 ... ... ... ... ... ... ... 80 V (6) ... ... ... 15.54 15.13 ... 16.83 14.20 ... ... ... 18.50 ... ... ... ... 17.39 ... ... 13.02 ... ... ... 17.57 15.01 15.57 15.32 17.59 13.69 16.15 ... 15.50 ... ... ... ... ... ... ... 17.31 B-V (B-V)o (7) (8) ... ... ... 0.96 0.63 ... 0.87 1.31 ... ... ... 0.83 ... ... ... ... 1.37 ... ... 1.49 ... ... ... 0.89 1.20 1.14 1.12 0.96 1.41 1.22 ... 1.25 ... ... ... ... ... ... ... 1.19 ... ... ... 0.690 0.360 ... 0.600 1.040 ... ... ... 0.560 ... ... ... ... 1.100 ... ... 1.220 ... ... ... 0.620 0.930 0.870 0.850 0.690 1.140 0.950 ... 0.980 ... ... ... ... ... ... ... 0.920 2.3 M71 GMOS@GEMINI Tabela 2.3 – continuação αJ2000 δJ2000 vr P (2) (3) (4) (5) ID (1) 242 : 1281 212 : KC-128 5412 : ... 574 : ... 78 : 1341 1561 : ... 1894 : ... 881 : KC-252 7014 : ... 11907 : ... 523 : ... 2229 : ... 2153 : ... 513 : 1-11 5843 : 1-42 11331 : ... 1144 : ... 1815 : ... 616 : 1158 8076 : ... 1409 : ... 2.3.3 30 298.4135 298.4089 298.4417 298.4698 298.4731 298.4658 298.4537 298.4516 298.4625 298.4568 298.4605 298.4750 298.4674 298.4587 298.4474 298.4495 298.4455 298.4642 298.4767 298.4831 298.4810 +18.77435 +18.78764 +18.78268 +18.80458 +18.80265 +18.80221 +18.80117 +18.78288 +18.78173 +18.79274 +18.78475 +18.78421 +18.79044 +18.76193 +18.78542 +18.77523 +18.78746 +18.77378 +18.77737 +18.79152 +18.79049 21.63 -21.42 -11.30 66.35 51.13 55.75 81.02 -19.77 -22.03 -34.30 -11.23 14.80 1.29 1.72 -236.7 -18.35 -6.37 -12.25 -4.03 -8.45 -5.78 94 0 ... ... 96 ... ... 0 ... ... ... ... ... 87 94 ... ... ... 99 ... ... V (6) 17.56 15.19 ... ... 18.08 ... ... 15.38 ... ... ... ... ... 14.81 14.22 ... ... ... 17.50 ... ... B-V (B-V)o (7) (8) 0.99 1.37 ... ... 0.79 ... ... 0.69 ... ... ... ... ... 1.19 1.02 ... ... ... 0.89 ... ... 0.720 1.100 ... ... 0.520 ... ... 0.420 ... ... ... ... ... 0.920 0.750 ... ... ... 0.620 ... ... Redução de dados A redução de dados em Astronomia constitui-se como uma das etapas fundamentais do trabalho cientı́fico final, uma vez que é pelo processo de redução que removemos dos dados brutos as assinaturas instrumentais para subsistir apenas as caracterı́sticas inerentes dos objetos de estudo. Os dados de M71 foram reduzidos usando os códigos especialmente desenvolvidos para tratar espectros GMOS@GEMINI na versão atualizada do pacote IRAF. Foram feitas correções de bias, flat-field, raios cósmicos, linhas de céu, calibração em comprimento de onda usando a imagem da lâmpada de cobre-argônio e calibração em fluxo dos espectros. 2.3 M71 GMOS@GEMINI 31 Tabela 2.4: Descrição dos dados M71 GEMINI-GMOS, sob Projeto GN2002B-Q42. Identificação Descrição Data de observação Máscara 1: GN2002B-Q42-1 N20020802S0020.fits N20020805S0071.fits N20020805S0072.fits N20020805S0073.fits N20020805S0074.fits Imagem Imagem Imagem Imagem Imagem de lâmpada CuAr de Calibração : Flat-Field de Calibração : Flat-Field Cientı́fica : M71 Cientı́fica : M71 02/08/2002 05/08/2002 05/08/2002 05/08/2002 05/08/2002 Máscara 2: GN2002B-Q42-2 N20020802S0021.fits N20020805S0078.fits N20020805S0076.fits N20020805S0077.fits Imagem Imagem Imagem Imagem de lâmpada CuAr de Calibração : Flat-Field Cientı́fica : M71 Cientı́fica : M71 02/08/2002 05/08/2002 05/08/2002 05/08/2002 Máscara 3: GN2002B-Q42-3 N20020802S0022.fits N20020805S0082.fits N20020805S0080.fits N20020805S0081.fits Imagem Imagem Imagem Imagem de lâmpada CuAr de Calibração : Flat-Field Cientı́fica : M71 Cientı́fica : M71 02/08/2002 05/08/2002 05/08/2002 05/08/2002 Máscara 4: GN2002B-Q42-4 N20020802S0023.fits N20020805S0086.fits N20020805S0084.fits N20020805S0085.fits Imagem Imagem Imagem Imagem de lâmpada CuAr de Calibração : Flat-Field Cientı́fica : M71 Cientı́fica : M71 02/08/2002 05/08/2002 05/08/2002 05/08/2002 Outras calibrações N20020805S0023.fits N20020805S0024.fits N20020805S0025.fits N20020805S0026.fits N20020805S0027.fits N20020806S0048.fits N20020806S0049.fits N20020807S0021.fits N20020810S0071.fits N20020810S0072.fits N20020810S0073.fits N20020810S0074.fits N20020810S0075.fits Imagem de Calibração : Bias Imagem de Calibração : Bias Imagem de Calibração : Bias Imagem de Calibração : Bias Imagem de Calibração : Bias Estrela Padrão Imagem de Calibração : Flat-Field Imagem de lâmpada CuAr Imagem de Calibração : Bias Imagem de Calibração : Bias Imagem de Calibração : Bias Imagem de Calibração : Bias Imagem de Calibração : Bias 05/08/2002 05/08/2002 05/08/2002 05/08/2002 05/08/2002 06/08/2002 06/08/2002 07/08/2002 10/08/2002 10/08/2002 10/08/2002 10/08/2002 10/08/2002 2.3 M71 GMOS@GEMINI 32 Figura 2.8: Imagem de calibração de bias nos três diferentes CCDs adotada para corrigir as imagens cientı́ficas (superior) e a estrela padrão (inferior). Subtração de bias pelo código gbias O bias corresponde a um ruı́do adicional aos dados cientı́ficos no momento da leitura dos CCDs, desta forma subtrair de bias significa corrigir as imagens destas interferências. Processamos imagens de bias tanto para as imagens cientı́ficas quanto para a estrela padrão. A figura 2.8 mostra um exemplo de imagem de bias para as observações GMOS da amostra, onde se pode ver detalhes da estrutura espacial da imagem de bias. Os nı́veis de contagens alcançados são de 740 ADU/pı́xel, 630 ADU/pı́xel e 365 ADU/pı́xel, respectivamente, para os três detectores. 2.3 M71 GMOS@GEMINI 33 Figura 2.9: (a): flat-field normalizado e (b): flat-field combinado, na Máscara 2 do programa observacional. Subtração de flat-field através do código gsflat Todos os CCDs apresentam variações na eficiência quântica em todas as escalas, ou seja, os detectores oferecem diferentes respostas em diferentes comprimentos de onda. Variações pı́xel-a-pı́xel são pequenas, todavia a contribuição em escalas maiores precisa ser levada em conta. Sendo assim, a finalidade do flat-fielding é corrigir, pı́xel-a-pı́xel, as imogeneidades dos detectores. Após várias iterações, o código gsflat produz uma imagem de flat-field normalizada e outra combinada. Uma vez que os efeitos do flat field são multiplicativos, dividimos as imagens dos objetos cientı́ficos pela imagem normalizada de flat-field. A imagem combinada, por sua vez, é adotada para a identificação automática das fendas para espectros GMOS com base na exposição da lâmpada GCAL. O código gsflat gerencia outros três programas e entre eles está o código gscut que automaticamente localiza e corta os espectros bidimensionais e gera um arquivo mutli-extensão onde cada extensão corresponde a uma fenda da máscara. As imagens geradas em todas as etapas do processo de redução foram cuidadosamente verificadas usando a ferramenta SAOImage DS9 para evitar propagação de erros no resultado final e nesta fase verificamos a 2.3 M71 GMOS@GEMINI 34 Figura 2.10: Imagem cientı́fica de M71 na máscara 2. Pode-se notar as separações ou gaps entre os três CCDs (linhas escuras verticais na imagem). Mais detalhes são explicados no corpo do texto. normalização do flat-field (figura 2.9) e, sobretudo, a identificação automática das fendas. Correção de raios cósmicos pelo código gscrrej A figura 2.10 apresenta uma imagem cientı́fica de M71 na máscara 2. Podemos notar, ao longo de cada CCD, os espectros (faixas brancas ao centro e paralelas à abscissa x), as linhas de céu (faixas brancas retangulares e paralelas à ordenada y) e os raios cósmicos (alguns pontos brancos espalhados sobre a imagem). Os raios cósmicos foram removidos das imagens através da código gscrrej, fixando uma resolução instrumental de 7 pı́xeis com base na largura à meia altura de linhas de céu. Calibração em comprimento de onda através do código gswavelength Calibrar em comprimento de onda significa converter a escala dos espectros de unidade de imagem [pı́xel] em escala de comprimento de onda [Å, por exemplo]. A calibração em comprimento de onda é feita usando espectros de comparação, que no nosso caso foi o espectro de arco de uma lâmpada cobre-argônio (CuAr) obtida com a mesma configuração espectroscópica que as imagens cientı́ficas (os espectros de ciência de M71). Como os comprimentos de onda de laboratório de linhas espectrais de CuAr são bem conhecidos, torna-se possı́vel traçar uma relação entre o comprimento de onda e a unidade de informação do CCD [pı́xel] usando o espectro CuAr. Na redução de dados o processo de 2.3 M71 GMOS@GEMINI 35 Figura 2.11: Exemplo de uma imagem de lâmpada usada para calibrar os espectros em comprimento de onda. calibração em comprimento de onda requer muitas interações para garantir a qualidade no resultado final, principalmente quando se trabalha no modo multi-objeto. Desta forma, em linhas gerais, o código gswavelength faz um ajuste em duas dimensões [x,y] para cada fenda. No nosso escolhemos polinômios de Chebyshev com ordem variando de 4 a 6. A idéia principal nesta etapa do procedimento é retirar os pontos mais distantes da curva do ajuste, ou seja, as linhas espectrais que não foram corretamente identificadas. Dado o conjunto total de pontos e a resolução dos espectros, adotamos uma dispersão de corte de 0.30 Å. Obtivemos, ao final, um padrão aleatório de resı́duos. Caso a calibração não tivesse sido satisfatoriamente efetuada verı́amos uma tendência senoidal dos resı́duos. A figura 2.11 mostra o exemplo de uma imagem CuAr usada para a identificação das linhas e calibração em comprimento de onda. Combinando espectros pelo código gemcombine O passo seguinte à calibração em comprimento de onda dos espectros foi combiná-los usando o código gemcombine. A combinação de mais de uma imagem de um mesmo espectro é importante pois aumenta a razão sinal-ruı́do do espectro final. No entanto, para combinar as imagens, ou espectros bidimensionais, deve-se antes verificar se as linhas de céu e as fendas estão na mesma posição para todas as imagens e também se não há grandes diferenças nas intensidades. Estes aspectos foram verificados em cada imagem 2.3 M71 GMOS@GEMINI 36 Figura 2.12: Exemplo de uma imagem subtraı́da de céu para uma das máscaras de M71. Nota-se que há ainda alguns resı́duos de céu, sobretudo as linhas mais intensas. via o SAOImage DS9. Subtração do céu através do código gsskysub Para a subtração do céu utilizamos o código gsskysub. Esta etapa também demanda atenção especial no processo de redução de dados, principalmente quando se trabalha com espectros de baixa resolução, pois consiste em marcar a região do espectro que equivale à contribuição do céu. As regiões correspondentes ao céu foram marcadas visualizando-se cada espectro bidimensional no SAOImage DS9. A região em pı́xel marcada foi escolhida de forma a evitar as linhas de céu, pois caso contrário a intensidade das linhas ficaria deslocada de uma certa constante e a razão sinal-ruı́do diminuiria (ver figura 2.12). Extração dos espectros pelo código gsextract Os espectros unidimensionais foram extraı́dos através do código gsextract, definindo interativamente a abertura para cada espectro. Para maximizar a razão sinal-ruı́do é recomendado pela equipe GEMINI-GMOS a utilização de uma abertura correspondente a cerca de 1.2 da largura à meia altura do perfil do sinal. As funções polinomiais aos pontos são escolhidas de tal forma a ajustarem-se muito bem às extremidades dos espectros e a garantirem uma baixa dispersão dos pontos. 2.3 M71 GMOS@GEMINI 37 Calibração em fluxo Calibrar os espectros em fluxo envolve diferentes informações sobre os espectros, condições de observação e ainda a redução da estrela padrão. • Redução da estrela padrão Com o intuito de calibrar os espectros de M71 em fluxo observou-se a estrela padrão EG 131 com a mesma rede de difração, com o mesmo comprimento de onda central, massa de ar e binning das imagens cientı́ficas. Todos os procedimentos descritos acima para a redução dos espectros de M71 foram aplicados na redução da estrela padrão. A única diferença no processo é que a redução da padrão faz-se ao modo long-slit do GMOS, com suas próprias imagens de bias e flat-fields. Com a redução e calibração da estrela padão obtivemos a função de sensibilidade que representa a resposta dos instrumentos utilizados na aquisição dos dados. Através do código sensfunc obtem-se a função de sensibilidade pela comparação do espectro observado da estrela padrão a um banco de dados do GEMINI-GMOS contendo informações sobre a estrela. Em resumo, o que o código gstandard faz ao calibrar a estrela padrão é (i) processar, a partir de um banco de dados, a distribuição de energia para a estrela padrão observada; (ii) corrigir a distribuição de energia pela extinção atmosférica para o sı́tio de observação; (iii) comparar esta distribuição de energia corrigida com a do espectro padrão observado e, por último, iv) derivar a função de sensibilidade (ver figura 2.13) que fornece a resposta total do sistema. • Calibração em fluxo pelo código gscalibrate Nesta última etapa, atentando-se para a massa de ar e extinção atmosférica para Mauna Kea, o código gscalibrate aplica a função de sensibilidade a cada espectro observado. Como resultado do processo obtivemos os 145 espectros do aglomerado globular rico em metais M71 extraı́dos e calibrados em fluxo, como mostra a figura 2.14. 2.3 M71 GMOS@GEMINI 38 Figura 2.13: Função de sensibilidade obtida para a estrela EG 131 aplicada a todos os espectros de M71. 2.3 M71 GMOS@GEMINI 39 Figura 2.14: Exemplo de espectros calibrados em fluxo. Superior: espectro da estrela padrão EG 131. Inferior: espectro da estrela 484 (1-55, V = 14.26) observada com a máscara 2. Nota-se alguns ı́ndices espectrais de interesse e os gaps devido à separação dos 3 CCDS. Capı́tulo 3 NGC 6553: aglomerado globular traçador do bojo da Galáxia Neste capı́tulo faremos uma breve revisão de alguns dos trabalhos focados na análise quı́mica de populações estelares do bojo da Galáxia e, particularmente, em NGC 6553, e sobre os cenários que buscam explicar a formação do bojo Galáctico. Em seguida apresentamos a análise, resultados e interpretação da investigação quı́mica detalhada realizada para a amostra NGC 6553 UVES@VLT. 3.1 Introdução — o bojo Galáctico Embora os bojos de galáxias estejam associados às regiões de intensa formação estelar e, por isso mesmo, sejam considerados uma das componentes mais importantes e interessantes para o estudo da formação e evolução de galáxias no universo, o bojo da Via-Láctea não foi ainda satisfatoriamente estudado e se configura como a estrutura menos explorada da Galáxia, sobretudo do ponto de vista das abundâncias quı́micas. A razão principal é o alto valor de extinção interestelar do bojo, adicionados à problemas de acúmulo de estrelas numa certa região (crowding) e às grandes distâncias envolvidas, o que dificulta a realização de trabalhos de alta-resolução espectral envolvendo análises quı́micas detalhadas mesmo em época dos grandes telescópios e espectrógrafos. Como mostra Dwek et al. (1995), o bojo da nossa Galáxia cobre uma região de cerca de 0◦ . |b| . 20◦ em latitude galáctica e apresenta uma estrutura triaxial que lembra uma barra com razões de eixo dadas por 1:0.33 ± 0.11:0.23 ± 0.08. Esta estrutura classifica a Via-Láctea como sendo o protótipo de uma galáxia espiral barrada. Em termos de luminosidade, cuja contribuição deve-se principalmente às estrelas do tipo 3.1 Introdução — o bojo Galáctico 41 K e M, o bojo alcança uma luminosidade integrada da ordem de ∼ 109 L e compõe uma fração importante da massa da Galáxia (M ≈ 1.3 x 1010 M ). Cinematicamente o bojo é uma componente intermediária entre a população dinamicamente quente do disco e a população dinamicamente fria do halo da Galáxia (Kormendy & Kennicutt 2004). Há quase 50 anos, quando surgiram os primeiros modelos tentando explicar o processo de formação da Galáxia (ver capı́tulo 1), os resultados observacionais focavam apenas nas populações estelares do disco e do halo, uma consequência natural das limitações observacionais da época. Desta forma, estes primeiros modelos não incluiam o bojo da Galáxia como uma estrutura independente e com suas próprias caracterı́sticas. Agora, com a construção de telescópios de grande porte e melhorias nas técnicas de observação, as populações estelares do bojo da Galáxia têm sido alvo de vários estudos quı́micos detalhados buscando responder questões fundamentais sobre a origem e evolução do bojo e da própria Galáxia. Abaixo destacamos os principais trabalhos realizados envolvendo muitas destas populações estelares do bojo da Galáxia. Estrelas gigantes de campo de tipos K e M McWilliam & Rich (1994) fizeram a primeira análise quı́mica detalhada para 11 estrelas gigantes de tipo K na janela de Baade (l = 1◦ , b = −4◦ ). Neste trabalho clássico, usando um telescópio de 4 m e espectros de R = 17000 e S/N = 50, eles caracterizaram espectroscopicamente a MDF do bojo (−1≤ [Fe/H] ≤ 0.45) e obtiveram as abundâncias quı́micas de outras espécies atômicas desde o lı́tio até o európio. Desde então muitos trabalhos têm procurado caracterizar o padrão de abundâncias quı́micas de estrelas gigantes de tipos K e M do bojo Galáctico usando dados de alta qualidade no óptico (Castro et al. 1996; Fulbright et al. 2006; Zoccali et al. 2006; Lecureur et al. 2007; Fulbright et al. 2007) e no infravermelho (Ramı́rez et al. 2000; Rich & Origlia 2005; Cunha & Smith 2006; Rich et al. 2007; Meléndez et al. 2008). Estrelas anãs e gigantes via microlentes gravitacionais Fisicamente, um evento microlente gravitacional está relacionado ao efeito lentes gravitacionais descrito em Zwicky (1937) sendo que em eventos de microlentes os objetos de pequenas massas como planetas ou estrelas compõem a lente e, neste caso, embora o desvio da luz seja imperceptı́vel, o brilho aparente da fonte varia drasticamente, o que permite que o evento seja monitorado. Devido ao crowding observado no bojo da Galáxia, eventos de microlente gravitacionais são frequentes e úteis para traçar a formação desta componente Galáctica. Nos últimos 10 anos, eventos de microlente gravitacional têm sido usados para determinar 3.1 Introdução — o bojo Galáctico 42 as abundâncias quı́micas de objetos fracos, em particular estrelas anãs do bojo da Galáxia. Minniti et al. (1998) determinaram a abundância de lı́tio para 97 BLG 45, uma estrela da sequência principal no bojo da Galáxia, cuja amplificação foi detectada dentro do projeto MACHO (Massive Compact Halo Objects). Quatro anos depois, Minniti et al. (2002) observaram o evento GSC2.2-S222123214159 de microlente gravitacional e determinaram a metalicidade e a abundância de oxigênio para uma estrela gigante. Recentemente, 3 outras estrelas anãs tipo espectral G — OGLE-2006-BLG-265, MOA-2006-BLG-099S e OGLE2007− BLG-349S —, tiveram as suas abundâncias calculadas em eventos de microlentes gravitacionais (Johnson et al. 2007, 2008; Cohen et al. 2008). Nebulosas planetárias As nebulosas planetárias, estágios finais da evolução de uma estrela tipo Sol, são também utéis para desvendar a história de enriquecimento quı́mico de galáxias, principalmente em regiões de alto avermelhamento e que envolvem grandes escalas de distância como o bojo da Galáxia. Além disso, muitas das transições atômicas que são facilmente detectadas nestes objetos dificilmente serão medidas em estrelas. Consequentemente, as abundâncias quı́micas das nebulosas planetárias refletem as condições da nuvem interestelar à época de formação destes objetos, o que traz vı́nculos observacionais interessantes para estudar os processos nucleares e de mistura que aconteceram na estrela progenitora. Há na literatura determinação de abundâncias para o oxigênio, nitrogênio, enxofre, argônio além de outras linhas espectrais importantes para nebulosas planetárias do bojo da Galáxia (Ratag et al. 1997; Cuisinier 2000; Escudero & Costa 2001; Zhang & Liu 2003; Wang & Liu 2007; Maciel et al. 2007). Aglomerados globulares Analisando o diagrama cor-magnitude de aglomerados globulares, Ortolani et al. (1995) foram os primeiros a demonstrar que efetivamente o bojo enriquecido em metais da Galáxia é velho (& 10 Ganos), contrariamente ao que se pensava até então uma vez que o bojo era comparado à população pobre e velha do halo. Barbuy et al. (1998) apresentaram os parâmetros fundamentais para 16 aglomerados globulares dentro de 5◦ do centro da Galáxia e apresentaram seus parâmetos básicos: E(B-V), distânica e metalicidade [Fe/H]. Com dados de alta resolução e alta razão S/N, NGC 6553 e outros aglomerados globulares pobres e ricos em metais do bojo têm sido quimicamente explorados: Terzan 4 ([Fe/H]= −1.60, Origlia & Rich (2004)); HP-1 ([Fe/H]= −1.00, Barbuy et al. (2006)); NGC 6558 ([Fe/H]= −0.97, Barbuy et al. (2007)); UKS 1 ([Fe/H]= −0.78, Origlia et al. (2005b)); NGC 6539 ([Fe/H]= −0.76, Origlia et al. (2005b)); NGC 6342 ([Fe/H]= −0.60, Origlia 3.1 Introdução — o bojo Galáctico 43 et al. (2005a)); NGC 6388 ([Fe/H]=−0.44, Carretta et al. (2007)); NGC 6441 ([Fe/H]= −0.39, Gratton et al. (2006)); Liller 1 ([Fe/H] = −0.30, Origlia et al. (2002)); Terzan 5 ([Fe/H]= −0.21, Origlia & Rich (2004)) e NGC 6528 ([Fe/H]= −0.11, Carretta et al. (2001); Zoccali et al. (2004); Origlia et al. (2005a)). No caso particular de NGC 6553, embora observacionalmente localizado em baixa latitude galáctica (l = +5◦ .25; b = −3◦ .03) e projetado na direção do centro galáctico (ver figura 2.1), seu valor de extinção interestelar EB−V = 0.63 mag é considerado baixo quando comparado a outros aglomerados globulares ricos em metais num raio Rgal < 3 kpc do centro da Galáxia. Ademais, sua alta luminosidade MV = −0.77 mag (Harris 1996) contribui para que NGC 6553 esteja entre os mais bem estudados aglomerados do bojo. Ainda assim, poucas estrelas (N < 15) de NGC 6553 foram estudadas com dados de alta qualidade: (i) Barbuy et al. (1992) analisaram 1 estrela gigante usando observações CCD com R ∼ 20000; (ii) Barbuy et al. (1999b), utilizando uma resolução R ∼ 20000, analisaram 2 estrelas gigantes; (iii) Cohen et al. (1999), com R ∼ 34000, analisaram 5 estrelas do ramo horizontal; (iv) usando a banda H do infravermelho próximo e resolução R ∼ 25000, Origlia et al. (2002) estudaram 2 estrelas, enquanto que (v) Meléndez et al. (2003), também usando dados no infravermelho, analisaram 5 estrelas gigantes a uma resolução R ∼ 50000. As propriedades inerentes de idade, cinemática, dinâmica e abundâncias quı́micas no óptico e no infravermelho das populações sumariamente citadas acima, mais aspectos morfológicos do bojo da Galáxia, revelam que esta compontente é velha e enriquecida em metais, com propriedades similares a de outras componentes esferoidas no universo como as galáxias elı́pticas (Renzini 2006). Estas caracterı́sticas intrı́nsecas contemplam dois cenários básicos que tentam explicar a formação do bojo de galáxias espirais como a nossa própria (ver Kormendy & Kennicutt 2004, para uma discussão detalhada). O primeiro cenário, ou bojo clássico, baseia-se na idéia de formação monolı́tica da Galáxia. O bojo seria formado durante o colapso da nuvem protogaláctica onde a taxa de formação estelar no centro cresce bastante devido a alta densidade do gás na região. Dentro do contexto da cosmologia moderna o bojo seria fruto de subsequentes fusões (mergings) após o colapso da nuvem primordial (Kauffmann 1996). Por outro lado, amparado por simulações numéricas, no segundo cenário, ou pseudo-bojo, a formação ocorre a partir de instabilidades dinâmicas (como por exemplo braços espirais e barras) no disco destas galáxias. Neste cenário de evolução secular o bojo forma-se numa escala de tempo superior ao tempo dinâmico de galáxias. Voltaremos, ao longo deste trabalho, a muitos dos aspectos particulares — prós e contra 3.2 Parâmetros estelares 44 — de cada cenário proposto para a formação do bojo e/ou aglomerados globulares da Galáxia. Segue abaixo a descrição detalhada da análise e obtenção das abundâncias quı́micas para a amostra NGC 6553 UVES@VLT. 3.2 3.2.1 Parâmetros estelares Velocidades radiais Estatisticamente, medidas de velocidades radiais com alta precisão em estrelas de aglomerados globulares são usadas para estudar a simetria e a complexidade da evolução dos aglomerados globulares, como por exemplo efeitos dinâmicos internos e externos e efeitos de rotação. Do ponto de vista cinemático, a determinação de velocidades radiais observadas (vr ) em espectros de alta-resolução de aglomerados globulares constitui-se como um dos critérios seletivos para ratificar a probabilidade de pertinência das estrelas ao aglomerado. Além disso, este parâmetro possibilita o estudo de possı́veis misturas (blends) de linhas telúricas na região de linhas espectrais importantes em absorção como, por exemplo, a região da linha proibida de oxigênio [OI] 6300Å. As velocidades radiais da amostra NGC 6553 UVES@VLT foram obtidas através código automático DAOSPEC (Dunlop Astrophysical Observatory Spectroscopy) escrito em FORTRAN pelo pesquisador P. Stetson do Dominion Astrophysical Observatory do Herzberg Institute of Astrophysics, Canadá. Em linhas gerais, usando imagens FITS (Flexible Image Transport System) ou IRAF (*.imh), o código funciona da seguinte maneira : dada uma lista de linhas atômicas e parâmetros especı́ficos para o ajuste do espectro observado, como por exemplo a largura a meia altura dos espectros (FWHM, Full Width at Half Maximum) e a cobertura em comprimento de onda λ, DAOSPEC (i) encontra automaticamente o máximo possı́vel das linhas em absorção definidas na lista, (ii) ajusta o continuum usando um polinômio de Legendre com ordem previamente especificada, (iii) mede as larguras equivalentes admitindo que as linhas têm perfil gaussiano e (iv) determina a velocidade radial observada (vr ) de cada estrela utilizando a equação clássica do desvio Doppler z1 , que relaciona os comprimentos de onda das linhas como observadas nos espectros (λobs ) e como dada em laboratório (λlab ) com a velocidade radial. Na figura 3.1 nós apresentamos para a estrela NGC 6553 267092, um exemplo dos espectros de saı́da do DAOSPEC. Em seguida, usando o código rvcorrect do IRAF, obtivemos a correção das velocidades 1 z = (λobs - λlab )/(λlab ) e vr = z*c, onde c é a velocidade da luz. blueshift: z < 0. Redshift: z > 0; 3.2 Parâmetros estelares 45 Figura 3.1: NGC 6553 267092 (a) Espectro observado. (b) Polinômio de Legendre usado na normalização do continuum. (c) Espectro dos resı́duos. (d) Uma pequena região espectral (5852 ≤λ ≤ 5864 Å) do espectro observado com algumas linhas em absorção identificadas. 3.2 Parâmetros estelares 46 radiais observadas ou correção heliocêntrica para as componentes do movimento do observador na direção da observação. Desta forma, atentando-se para as coordenadas equatoriais, data e época de observação, tempo universal dos objetos, além de informações sobre o observatório como a altura, latitude e longitude, a correção é feita para as componentes da velocidade diurnal (rotação da Terra), da velocidade lunar (movimento do centro da Terra sobre o baricentro Terra-Lua), da velocidade anual (movimento do baricentro Terra-Lua sobre o centro do Sol) e da velocidade solar (movimento do Sol relativo ao sistema local de referência). A correção heliocêntrica somada aos valores das velocidades radiais Doppler observadas, permite a obtenção das velocidades radiais heliocêntricas (v hr ). Encontramos uma vhr média de −0.27 ± 1.99 (σ = 3.98, 4 estrelas) kms−1 para a amostra. Este resultado está em bom acordo com os encontrado na literatura. Na compilação de Harris (1996), NGC 6553 apresenta uma velocidade radial média de vr = −6.5 ± 2.7 kms−1 . Rutledge et al. (1997) determinaram um valor de 8.4 (σ = 8.4, 21 estrelas) kms−1 , enquanto que Coelho et al. (2001) determinaram a velocidade radial média de NGC 6553 com base em diferentes métodos e encontraram um valor médio de −1 kms−1 . Numa análise recente, com base em 5 estrelas gigantes deste aglomerado e com observações feitas no infravermelho usando o PHOENIX@GEMINI, Meléndez et al. (2003) determinaram uma velocidade radial heliocêntrica média de vhr = +1.6 (σ = 6) kms−1 . Dado que os nossos espectros apresentam um poder resolutor R2 de aproximadamente 55000, estimamos uma resolução em velocidade da ordem de 5.45 kms−1 para os nossos espectros. Com a finalidade de criarmos imagens corrigidas pelo desvio Doppler usamos o código dopcor do pacote onedspec do IRAF. Conhecendo-se a vr ou equivalentemente o desvio z, o código desloca os espectros para seus respectivos comprimentos de onda de laboratório. A principal vantagem em deslocar os espectros é a identificação precisa das linhas para o cálculo manual das larguras equivalentes e/ou comparação dos espectros observados com os espectros sintéticos. 3.2.2 Larguras equivalentes Os estudos detalhados de abundâncias de elementos quı́micos em estrelas de aglomerados globulares servem como vı́nculos observacionais importantes não somente aos cenários de formação destes objetos, mas também da própria galáxia hospedeira. Sendo assim, com o intuito de aumentar a acurácia dos resultados numa análise fina de linhas individuais, faz-se necessário que as larguras equivalentes (Wλ ) estejam bem medidas. Necessita-se também de boa precisão nos parâmetros atômicos (função de partição, força de oscilador, 2 R = λ/∆λ, onde ∆λ ∼ FWHM. 3.2 Parâmetros estelares 47 coeficientes de alargamento das linhas) e um adequado modelo de atmosferas estelares. As Wλ descrevem a área sob o perfil da linha limitada pelo continuum, o que faz com que estas dependam da largura (FWHM) das linhas. Por serem diretamente proporcionais ao número de átomos absorvedores as Wλ funcionam como indicadores da absorção (ou emissão) das linhas espectrais. Fisicamente, as Wλ constituem uma medida global da intensidade das linhas, o que favorece as comparações entre medidas realizadas por diferentes métodos e instrumentos. As Wλ das estrelas do programa, como dito na seção anterior, foram medidas automaticamente pelo código DAOSPEC assumindo perfil gaussiano para as linhas. Como discutido em Alves-Brito (2004) a partir de comparações manuais de Wλ obtidas com o IRAF, um ajuste gaussiano é uma aproximação plausı́vel para a maioria dos perfis de linhas que nos interessam em espectros de estrelas gigantes frias com dados de qualidade, ou seja, as linhas moderadas cujas larguras equivalentes variam de 10 < Wλ < 150 mÅ. Na tabela 3.1 nós mostramos as Wλ e respectivas medidas de incertezas (colunas de 5-8) como calculadas por DAOSPEC para diversas linhas de Fe I e Fe II nas quatro estrelas analisadas de NGC 6553. A coluna 3 da tabela refere-se ao potencial de excitação do nı́vel mais baixo da transição dada em eletron volts [eV]. Os valores parametrizados da força de oscilador (loggf, coluna 4) para as linhas de Fe I foram adotados da base NIST (National Institute of Standards & Technology) de dados atômicos (Martin et al. 2002; Fuhr & Wiese 2006), enquanto que para as linhas de Fe II foram adotados os valores normalizados de Meléndez & Barbuy (2008). Naturalmente que nem todas as linhas de ferro foram utilizadas para a determinação de metalicidade. Mais detalhes serão dados na seção relativa à obtenção das metalicidades. Assumindo ainda que os espectros estejam livres de quaisquer efeitos instrumentais, que o continuum local seja constante e que o perfil das linhas seja de fato gaussiano, Cayrel (1988) desenvolveu uma equação matemática capaz de verificar as incertezas sobre W λ em dados de alta qualidade como os que estamos analisando: σ Wλ = 1.5 √ ωδx S/N (3.1) onde σ Wλ é a incerteza em Wλ , S/N [pix−1 ] é a razão sinal-ruı́do, ω [Å] é a largura total à meia altura da linha espectral ou FHWM e δx [Åpix−1 ] é a dispersão. Para valores tı́picos deste trabalho (hS/Ni = 110, w ∼ 0.15 Å e δx = 0.0147 Åpix−1 estimamos uma incerteza σ Wλ = 0.6 mÅ. Isto representa uma incerteza de 4% para medidas de linhas fracas (Wλ = 15 mÅ) e menor que 1% para linhas mais intensas (Wλ 3.2 Parâmetros estelares 48 = 150 mÅ). Como a equação 3.1 é altamente dependente de S/N e não leva em conta incertezas devido à localização precisa do continuum, o valor de σ Wλ é subestimado. Como dispúnhamos de espectros de alta resolução e alta razão S/N , estas incertezas são estatisticamente desprezı́veis sobre os resultados das abundâncias de ferro. Tabela 3.1: Larguras equivalentes medidas e respectivas incertezas: Wλ ± σWλ [mÅ]. Os valores de loggf adotados na coluna (4) são do NIST (Martin et al. 2002; Fuhr & Wiese 2006)para as linhas de Fe I e de Meléndez & Barbuy (2008) para as linhas de Fe II. DAOSPEC λ [Å] (1) Íon (2) χexc [eV] (3) loggf (4) II-85 (5) II-64 (6) III-8 (7) 267092 (8) 4788.751 4794.355 4798.265 4798.731 4808.147 4809.940 4859.741 4867.528 4873.752 4875.875 4924.770 4939.686 4946.385 4950.104 4961.915 4962.565 4969.916 4993.358 4994.129 4999.114 5000.743 5016.476 5054.642 5058.496 5068.765 5074.748 5090.767 5141.739 5151.910 5162.292 5194.941 5197.577 5197.929 5223.187 5228.403 5232.939 5234.625 5236.205 5242.491 Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe II Fe I Fe I Fe II Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe II Fe I Fe I Fe I Fe I Fe II Fe I Fe I 3.237 2.424 4.186 1.608 3.251 3.573 2.876 1.608 3.301 3.332 2.279 0.859 3.368 3.417 3.634 4.178 4.217 2.806 0.915 4.186 2.778 4.256 3.640 3.642 2.940 4.220 4.256 2.424 1.011 4.178 1.557 3.230 4.301 3.635 4.220 2.940 3.221 4.186 3.634 -1.805 -4.051 -1.537 -4.244 -2.789 -2.719 -0.860 -4.701 -3.059 -2.016 -2.222 -3.339 -1.180 -1.665 -2.277 -1.277 -0.699 -3.660 -3.079 -1.742 -4.540 -1.683 -2.140 -2.830 -1.227 -0.196 -0.410 -2.146 -3.323 0.023 -2.090 -2.170 -1.636 -2.388 -1.287 -0.199 -2.180 -1.733 -0.838 116.3 ± 5.76 79.1 ± 6.35 70.9 ± 3.94 109.7 ± 5.20 65.3 ± 5.67 48.7 ± 3.63 198.5 ± 7.65 81.7 ± 4.81 42.3 ± 2.52 97.9 ± 4.18 166.3 ± 9.86 221.1 ± 3.35 146.6 ± 4.11 101.3 ± 7.60 83.5 ± 2.82 76.6 ± 2.78 105.9 ± 7.28 52.7 ± 2.92 213.0 ± 3.76 68.0 ± 6.13 — 54.7 ± 3.39 82.6 ± 4.73 30.6 ± 6.86 143.4 ± 3.43 106.6 ± 5.28 138.4 ± 5.31 138.4 ± 0.53 234.6 ± 4.14 119.9 ± 6.18 261.6 ± 7.51 53.2 ± 6.76 47.4 ± 6.00 63.9 ± 4.91 88.2 ± 6.48 245.9 ± 8.30 47.8 ± 7.32 41.5 ± 3.92 103.9 ± 4.79 108.5 ± 6.22 52.2 ± 5.33 63.6 ± 3.89 95.4 ± 7.12 72.8 ± 4.00 42.6 ± 5.48 185.3 ± 7.38 55.3 ± 7.65 42.3 ± 5.65 101.9 ± 4.34 153.8 ± 6.55 186.6 ± 6.35 134.9 ± 5.22 112.0 ± 4.47 67.6 ± 3.69 74.0 ± 3.96 103.6 ± 5.60 51.8 ± 4.21 184.6 ± 3.75 56.3 ± 4.16 17.1 ± 2.92 60.5 ± 2.87 73.2 ± 3.08 32.0 ± 4.01 151.4 ± 4.33 130.7 ± 4.72 107.4 ± 3.75 131.7 ± 4.34 186.3 ± 4.72 153.1 ± 4.36 188.6 ± 5.23 71.1 ± 3.95 51.6 ± 4.15 55.5 ± 3.84 82.1 ± 3.18 190.2 ± 14.13 88.2 ± 3.24 42.7 ± 4.49 121.5 ± 3.82 99.9 ± 4.35 39.3 ± 3.90 74.1 ± 2.82 92.5 ± 3.31 64.1 ± 3.19 44.7 ± 4.23 172.1 ± 5.73 58.4 ± 3.56 36.3 ± 3.20 92.8 ± 3.43 158.2 ± 4.65 174.5 ± 4.42 120.3 ± 4.01 102.5 ± 3.37 64.5 ± 3.66 76.7 ± 3.58 101.8 ± 3.55 48.7 ± 2.51 164.9 ± 4.98 47.0 ± 12.06 21.8 ± 2.79 48.5 ± 3.08 66.1 ± 4.75 27.5 ± 2.46 150.5 ± 3.54 124.5 ± 4.11 116.8 ± 3.40 128.8 ± 7.92 149.7 ± 6.84 158.9 ± 6.39 186.0 ± 4.99 80.5 ± 3.20 49.3 ± 4.29 58.7 ± 4.57 86.9 ± 2.73 159.7 ± 15.67 89.9 ± 2.06 48.8 ± 5.34 115.2 ± 4.25 96.5 ± 3.94 46.1 ± 3.41 63.3 ± 3.22 94.9 ± 3.58 60.2 ± 2.45 39.4 ± 2.20 173.2 ± 6.17 49.3 ± 3.65 15.3 ± 3.98 87.2 ± 2.74 141.9 ± 4.25 169.2 ± 4.89 126.2 ± 2.79 109.2 ± 3.41 66.6 ± 2.85 72.5 ± 2.23 96.8 ± 2.97 51.1 ± 3.06 158.8 ± 4.78 55.6 ± 2.50 19.7 ± 3.25 49.2 ± 2.72 64.9 ± 2.33 28.0 ± 3.29 140.9 ± 3.62 121.1 ± 3.01 105.1 ± 4.10 122.0 ± 3.15 158.1 ± 3.13 161.6 ± 4.62 175.2 ± 5.58 85.7 ± 2.61 48.6 ± 4.43 50.1 ± 3.05 85.0 ± 2.88 221.9 ± 4.40 94.0 ± 2.62 58.3 ± 4.03 110.5 ± 3.85 3.2 Parâmetros estelares 49 Tabela 3.1 – continuação DAOSPEC λ [Å] (1) Íon (2) χexc [eV] (3) loggf (4) II-85 (5) II-64 (6) III-8 (7) 267092 (8) 5253.023 5253.461 5264.812 5281.790 5284.109 5295.299 5302.299 5307.360 5320.039 5322.041 5325.553 5364.858 5379.574 5386.335 5398.277 5406.770 5415.192 5424.069 5425.257 5432.946 5436.297 5441.354 5460.871 5470.092 5501.464 5506.778 5522.447 5536.583 5543.937 5549.948 5560.207 5576.090 5579.336 5584.764 5586.756 5587.573 5607.664 5608.974 5615.644 5618.631 5633.970 5635.824 5636.696 5638.262 5652.320 5653.890 5679.020 5691.500 Fe I Fe I Fe II Fe I Fe II Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe II Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe II Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I 2.279 3.283 3.230 3.038 2.891 4.415 3.283 1.608 3.642 2.279 3.221 4.446 3.695 4.154 4.446 4.371 4.386 4.320 3.199 4.446 4.386 4.312 3.071 4.446 0.958 0.990 4.209 2.832 4.218 3.695 4.435 3.430 4.231 3.573 3.368 4.143 4.154 4.209 3.332 4.209 4.991 4.256 3.640 4.220 4.260 4.386 4.652 4.301 -3.937 -1.675 -3.188 -1.015 -3.100 -1.692 -0.877 -2.986 -2.527 -3.035 -3.160 0.221 -1.476 -1.770 -0.669 -1.721 0.505 0.520 -3.220 -1.042 -1.542 -1.726 -3.571 -1.792 -2.957 -2.797 -1.561 -3.812 -1.146 -2.904 -1.188 -1.009 -2.406 -2.334 -0.206 -1.844 -2.258 -2.402 -0.140 -1.370 -0.269 -1.891 -2.608 -0.874 -1.948 -1.644 -0.914 -1.521 78.5 ± 6.01 104.7 ± 6.01 28.3 ± 1.99 188.7 ± 5.89 46.9 ± 2.74 45.8 ± 4.42 154.4 ± 3.48 174.6 ± 2.49 66.4 ± 2.54 133.6 ± 2.26 31.3 ± 1.63 127.1 ± 3.15 91.4 ± 4.03 51.3 ± 4.25 84.3 ± 2.65 62.4 ± 2.07 164.0 ± 2.35 164.7 ± 3.98 21.2 ± 3.97 81.2 ± 3.10 52.2 ± 4.60 45.4 ± 4.62 72.6 ± 3.18 64.6 ± 3.49 256.6 ± 5.46 255.3 ± 3.53 58.6 ± 2.70 46.7 ± 2.75 83.4 ± 2.92 40.1 ± 2.97 65.3 ± 3.20 130.7 ± 2.68 42.5 ± 3.79 77.3 ± 2.89 168.0 ± 11.53 60.4 ± 2.65 41.6 ± 2.40 50.5 ± 3.39 156.4 ± 11.54 72.9 ± 2.35 79.2 ± 1.39 67.5 ± 2.09 50.3 ± 2.90 103.1 ± 1.53 52.3 ± 1.63 58.9 ± 3.11 61.4 ± 2.29 63.1 ± 3.46 68.1 ± 3.05 107.6 ± 3.66 54.4 ± 2.44 160.3 ± 9.92 71.2 ± 4.02 49.6 ± 3.10 155.0 ± 5.60 152.2 ± 4.46 50.2 ± 2.51 119.5 ± 2.79 60.1 ± 3.61 137.4 ± 3.14 92.0 ± 3.68 53.5 ± 2.24 101.7 ± 3.62 62.6 ± 3.07 156.0 ± 3.75 175.5 ± 5.01 44.6 ± 3.12 83.8 ± 2.65 67.7 ± 3.00 55.2 ± 2.70 40.3 ± 2.50 49.5 ± 3.18 202.4 ± 4.79 208.8 ± 3.51 71.8 ± 2.56 37.1 ± 2.30 93.0 ± 1.91 33.6 ± 1.68 77.1 ± 2.66 133.7 ± 2.90 25.3 ± 1.62 76.4 ± 3.24 137.9 ± 12.22 73.4 ± 3.02 44.8 ± 1.98 35.5 ± 2.41 225.6 ± 7.50 79.4 ± 2.31 84.2 ± 2.21 61.4 ± 2.34 49.6 ± 3.02 103.2 ± 2.46 60.8 ± 1.71 62.3 ± 2.11 75.7 ± 3.54 71.2 ± 3.57 64.7 ± 2.87 106.8 ± 3.19 49.8 ± 2.11 143.2 ± 10.37 72.0 ± 2.90 47.8 ± 2.51 151.0 ± 3.69 158.8 ± 3.22 50.8 ± 2.21 114.8 ± 2.99 63.6 ± 2.01 136.4 ± 2.60 98.4 ± 2.83 59.4 ± 2.93 98.9 ± 2.64 61.2 ± 2.26 161.1 ± 3.42 174.8 ± 3.66 43.8 ± 2.42 86.1 ± 2.70 54.9 ± 2.65 62.0 ± 1.84 33.0 ± 1.41 46.8 ± 1.98 196.4 ± 4.22 198.7 ± 2.89 64.0 ± 2.90 34.3 ± 1.31 88.9 ± 2.25 28.6 ± 1.74 74.8 ± 2.34 143.0 ± 2.14 23.2 ± 1.80 67.0 ± 2.18 134.9 ± 13.29 66.9 ± 1.79 36.5 ± 7.13 37.1 ± 1.94 219.9 ± 4.29 69.6 ± 2.24 85.0 ± 1.84 68.3 ± 3.08 46.2 ± 2.49 105.5 ± 2.12 57.7 ± 1.66 68.8 ± 2.35 78.6 ± 1.69 65.8 ± 2.00 61.4 ± 3.05 99.6 ± 3.69 60.2 ± 1.93 177.6 ± 4.70 77.0 ± 4.53 49.2 ± 1.68 156.3 ± 3.89 140.8 ± 2.88 55.0 ± 2.23 111.2 ± 2.56 55.9 ± 1.90 130.1 ± 4.28 87.2 ± 3.26 50.3 ± 1.67 91.6 ± 2.41 59.6 ± 1.46 148.6 ± 5.66 172.7 ± 4.08 42.3 ± 2.08 88.7 ± 1.70 59.5 ± 1.82 52.1 ± 3.14 26.9 ± 1.80 44.2 ± 2.15 181.8 ± 3.18 196.2 ± 4.70 69.0 ± 2.69 28.3 ± 2.31 89.4 ± 1.64 27.7 ± 2.14 77.0 ± 2.28 136.2 ± 3.22 23.3 ± 1.74 67.5 ± 2.24 185.2 ± 5.26 60.4 ± 1.60 35.4 ± 1.38 28.7 ± 2.05 216.4 ± 3.88 78.7 ± 1.83 79.9 ± 2.19 57.0 ± 1.91 51.8 ± 2.07 76.2 ± 3.74 52.2 ± 1.80 64.1 ± 1.32 67.7 ± 2.73 65.5 ± 1.95 3.2 Parâmetros estelares 50 Tabela 3.1 – continuação DAOSPEC λ [Å] (1) Íon (2) χexc [eV] (3) loggf (4) II-85 (5) II-64 (6) III-8 (7) 267092 (8) 5701.545 5705.466 5731.762 5753.121 5853.149 5855.090 5856.080 5858.779 5883.813 5905.690 5916.249 5927.786 5934.653 5952.716 5956.692 5991.376 6024.05 6027.050 6065.482 6079.000 6084.111 6093.670 6094.360 6096.662 6098.280 6136.615 6136.993 6145.408 6149.258 6151.617 6157.725 6159.370 6165.361 6173.340 6180.203 6187.987 6200.314 6213.429 6219.279 6226.730 6240.645 6246.317 6247.557 6252.554 6265.131 6270.222 6271.276 6290.545 Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe II Fe I Fe I Fe I Fe I Fe II Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe II Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe II Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I 2.559 4.301 4.256 4.260 1.485 4.608 4.294 4.220 3.960 4.652 2.453 4.652 3.929 3.984 0.859 3.153 4.548 4.076 2.609 4.652 3.199 4.608 4.652 3.984 4.559 2.453 2.198 3.368 3.889 2.176 4.076 4.608 4.143 2.223 2.728 3.943 2.609 2.223 2.198 3.884 2.223 3.602 3.892 2.404 2.176 2.858 3.332 2.588 -2.216 -1.604 -1.286 -0.760 -5.268 -1.755 -1.640 -2.260 -1.355 -0.725 -2.993 -1.093 -1.177 -1.429 -4.604 -3.510 -0.109 -1.222 -1.530 -1.126 -3.760 -1.514 -1.938 -1.931 -1.877 -1.399 -2.950 -3.703 -2.700 -3.299 -1.249 -1.968 -1.549 -2.879 -2.784 -1.718 -2.437 -2.646 -2.434 -2.202 -3.388 -0.956 -2.310 -1.687 -2.550 -2.711 -2.957 -4.340 168.2 ± 4.13 75.1 ± 2.31 83.9 ± 1.83 94.1 ± 3.14 88.3 ± 2.10 47.6 ± 1.25 66.7 ± 5.28 36.6 ± 2.25 85.2 ± 4.15 67.4 ± 1.23 114.7 ± 2.48 65.1 ± 1.09 106.0 ± 7.00 82.0 ± 2.94 173.9 ± 3.62 26.0 ± 1.46 107.7 ± 2.28 87.5 ± 1.69 219.1 ± 5.09 64.5 ± 2.55 17.8 ± 1.21 49.8 ± 1.24 35.9 ± 0.78 70.1 ± 1.78 46.5 ± 1.21 214.0 ± 3.35 149.0 ± 3.99 7.3 ± 3.05 22.7 ± 1.22 127.7 ± 4.58 108.7 ± 1.92 55.2 ± 2.68 85.6 ± 5.24 152.1 ± 2.55 113.8 ± 2.18 89.6 ± 3.20 122.5 ± 3.77 142.2 ± 3.14 169.5 ± 4.27 73.4 ± 3.11 118.7 ± 5.27 126.7 ± 2.23 20.9 ± 1.86 179.2 ± 1.79 161.3 ± 2.30 102.0 ± 5.77 61.2 ± 1.48 40.0 ± 1.61 149.4 ± 3.48 70.4 ± 2.72 96.2 ± 2.34 99.3 ± 3.74 60.1 ± 3.86 39.9 ± 4.62 62.0 ± 2.44 29.6 ± 3.17 94.4 ± 3.45 74.6 ± 2.89 — 64.8 ± 2.02 111.4 ± 3.35 97.5 ± 2.98 137.8 ± 3.72 48.1 ± 2.83 124.9 ± 3.30 98.4 ± 2.21 174.4 ± 3.60 68.0 ± 2.19 31.3 ± 1.97 53.1 ± 1.51 37.6 ± 1.80 68.6 ± 2.21 33.2 ± 1.75 203.6 ± 4.28 140.8 ± 4.58 19.9 ± 4.86 42.0 ± 2.23 118.1 ± 2.53 106.6 ± 2.86 33.0 ± 2.04 77.2 ± 2.02 141.0 ± 4.26 117.2 ± 4.07 92.3 ± 2.38 129.5 ± 2.82 147.5 ± 3.97 154.1 ± 2.94 58.4 ± 2.77 110.5 ± 4.38 142.5 ± 3.18 46.3 ± 5.99 182.9 ± 3.27 160.7 ± 2.95 109.1 ± 3.88 62.3 ± 2.37 33.2 ± 1.66 145.7 ± 2.64 78.8 ± 1.76 94.9 ± 2.44 106.9 ± 3.36 44.8 ± 3.55 41.6 ± 2.49 57.3 ± 2.48 28.8 ± 1.87 95.3 ± 2.26 78.3 ± 2.88 108.1 ± 2.54 67.8 ± 1.88 106.9 ± 2.77 91.0 ± 3.56 126.1 ± 3.81 43.4 ± 1.84 121.0 ± 2.43 79.1 ± 5.41 169.4 ± 3.26 66.3 ± 1.59 31.7 ± 2.27 53.0 ± 4.83 35.2 ± 1.58 67.2 ± 2.08 39.1 ± 1.86 184.3 ± 5.05 126.1 ± 3.10 8.0 ± 2.24 51.4 ± 2.42 102.4 ± 2.96 98.2 ± 2.02 37.0 ± 1.24 80.1 ± 2.10 134.6 ± 3.10 111.6 ± 2.98 85.6 ± 2.05 123.5 ± 2.34 141.4 ± 3.50 148.7 ± 2.65 57.7 ± 2.84 103.2 ± 3.31 142.8 ± 2.58 50.7 ± 2.12 172.1 ± 2.47 151.8 ± 3.47 105.8 ± 3.08 56.5 ± 1.96 19.2 ± 8.93 129.0 ± 1.89 70.3 ± 1.66 82.7 ± 1.86 94.0 ± 3.06 48.0 ± 2.47 38.6 ± 2.69 62.0 ± 2.35 28.9 ± 2.14 90.2 ± 2.14 74.3 ± 3.19 103.2 ± 1.53 65.5 ± 2.03 108.5 ± 2.69 94.6 ± 2.47 120.5 ± 2.80 41.5 ± 3.05 119.0 ± 2.46 95.4 ± 2.72 174.0 ± 2.75 68.6 ± 2.10 31.9 ± 1.71 48.7 ± 1.78 34.1 ± 1.74 66.1 ± 1.88 36.9 ± 2.22 157.0 ± 3.67 127.4 ± 3.58 6.9 ± 2.59 38.3 ± 1.65 110.1 ± 2.72 96.4 ± 4.79 29.8 ± 1.69 84.8 ± 2.40 132.5 ± 3.28 109.3 ± 2.48 82.3 ± 1.98 132.3 ± 4.41 138.6 ± 2.88 231.2 ± 9.10 53.6 ± 3.67 98.4 ± 3.13 137.7 ± 2.45 54.6 ± 1.73 171.1 ± 3.04 148.1 ± 2.25 100.6 ± 3.02 59.4 ± 1.62 27.5 ± 1.78 3.3 Parâmetros atmosféricos 51 Tabela 3.1 – continuação DAOSPEC λ [Å] (1) Íon (2) χexc [eV] (3) loggf (4) II-85 (5) II-64 (6) III-8 (7) 267092 (8) 6297.792 6315.809 6322.690 6335.328 6336.823 6369.462 6392.538 6393.602 6411.647 6419.940 6430.844 6432.680 6456.383 6496.469 6498.937 6518.365 6546.239 6574.225 6592.913 6593.871 6597.557 6608.024 6677.989 6703.568 6713.770 6733.150 6739.520 6750.150 6786.856 6793.252 6806.847 Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe II Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe II Fe II Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I Fe I 2.223 4.076 2.588 2.198 3.686 2.891 2.279 2.432 3.653 4.733 2.176 2.891 3.903 4.795 0.958 2.832 2.758 0.990 2.727 2.433 4.795 2.279 2.692 2.759 4.795 4.638 1.557 2.424 4.191 4.076 2.728 -2.740 -1.712 -2.426 -2.229 -1.053 -4.150 -4.028 -1.615 -0.821 -0.250 -2.005 -3.610 -2.060 -0.570 -4.699 -2.748 -1.648 -5.042 -1.600 -2.422 -1.061 -4.038 -1.472 -3.150 -1.602 -1.576 -4.941 -2.620 -2.060 -2.473 -3.208 154.8 ± 6.04 63.0 ± 2.72 129.5 ± 3.01 183.3 ± 2.77 121.6 ± 2.30 24.9 ± 1.25 153.6 ± 12.94 227.4 ± 11.34 146.5 ± 2.21 97.8 ± 1.79 224.6 ± 4.56 29.1 ± 1.12 33.5 ± 0.94 88.3 ± 3.58 185.1 ± 5.02 120.1 ± 2.56 195.2 ± 2.67 149.3 ± 3.07 180.9 ± 2.73 168.8 ± 3.78 60.3 ± 2.13 106.8 ± 7.00 191.9 ± 4.05 96.5 ± 2.38 33.1 ± 1.54 54.6 ± 2.20 98.4 ± 2.75 152.1 ± 3.87 57.9 ± 1.65 57.2 ± 2.06 101.8 ± 3.09 146.8 ± 3.53 79.6 ± 2.23 132.0 ± 3.28 167.2 ± 3.29 139.2 ± 2.81 28.3 ± 1.94 71.7 ± 2.79 195.0 ± 3.72 153.2 ± 3.44 107.5 ± 2.43 192.6 ± 4.09 52.7 ± 2.12 69.4 ± 2.38 89.7 ± 1.91 140.6 ± 4.51 105.1 ± 2.96 166.2 ± 3.09 114.3 ± 3.55 176.2 ± 2.71 152.9 ± 3.88 64.4 ± 5.59 70.6 ± 2.54 188.8 ± 3.82 93.4 ± 2.83 40.0 ± 1.52 48.7 ± 2.57 72.3 ± 2.15 150.7 ± 2.56 54.0 ± 2.29 36.6 ± 2.05 89.1 ± 3.41 134.8 ± 3.11 74.5 ± 2.48 121.3 ± 2.83 155.3 ± 2.54 130.7 ± 2.73 30.1 ± 1.77 56.9 ± 2.45 185.8 ± 3.40 130.5 ± 5.96 101.5 ± 2.47 180.7 ± 2.50 53.8 ± 1.39 72.2 ± 1.94 88.4 ± 1.96 124.6 ± 2.92 102.8 ± 2.86 154.7 ± 2.84 102.3 ± 2.70 166.2 ± 3.27 142.2 ± 2.39 62.1 ± 1.54 59.7 ± 2.07 174.8 ± 3.09 82.6 ± 2.48 36.7 ± 1.25 52.8 ± 1.61 64.0 ± 3.72 133.2 ± 2.44 50.7 ± 1.53 35.4 ± 1.80 88.3 ± 1.88 137.9 ± 2.78 73.6 ± 1.53 123.0 ± 2.40 151.6 ± 2.76 129.6 ± 2.82 28.5 ± 1.17 57.0 ± 2.44 182.0 ± 2.99 147.5 ± 1.88 105.0 ± 1.94 177.0 ± 2.51 55.8 ± 1.10 64.4 ± 2.37 84.1 ± 1.96 126.5 ± 2.81 105.7 ± 2.82 152.0 ± 2.20 98.4 ± 2.78 162.0 ± 2.80 148.3 ± 3.13 69.5 ± 1.67 56.5 ± 1.74 149.2 ± 6.43 84.4 ± 2.05 37.9 ± 1.36 50.4 ± 1.93 57.2 ± 2.06 125.0 ± 2.02 48.9 ± 1.41 32.6 ± 0.90 86.4 ± 2.14 3.3 Parâmetros atmosféricos Na análise de abundâncias quı́micas os parâmetros atmosféricos das estrelas — temperatura efetiva, gravidade superficial g (ou logg), velocidade de microturbulência e metalicidade, aliados a um modelo teórico de atmosferas, são parâmetros essenciais para reproduzir as condições fı́sicas reinantes nas atmosferas estelares. Sendo assim, nesta subseção, segue uma descrição de como obtivemos os parâmetros atmosféricos para as estrelas do programa, tanto por fotometria com base nas cores das estrelas, quanto por espectroscopia usando as larguras equivalentes das linhas de FeI e FeII. 3.3 Parâmetros atmosféricos 3.3.1 52 Velocidade de microturbulência Daqui em diante os parâmetros atmosféricos de temperatura efetiva, microturbulência, gravidade superfical e metalicidade (Teff , vt , logg, [Fe/H]) obtidos com base nas linhas de Fe I e Fe II serão denominados parâmetros atmosféricos espectroscópicos. Fisicamente, a velocidade de microturbulência (vt ) é um parâmetro livre isotrópico definido como uma velocidade oriunda de uma distribuição gaussiana associada a movimentos em pequena escala em elementos de volumes da atmosfera estelar e que são muito menores que o livre caminho médio dos fótons. Este parâmetro é utilizado para explicar o acentuado alargamento observado no perfil de linhas espectrais intensas dentro dos modelos clássicos de atmosferas estelares em 1-dimensão (1D) (Gray 1988). Contudo, no contexto dos novos modelos de atmosferas estelares — hidrodinâmicos, tridimensionais e dependentes do tempo —, a vt deixa de ser um parâmetro livre. Nestes novos modelos as Wλ de linhas saturadas observadas em estrelas não são maiores que as previstas teoricamente quando apenas os alargamentos térmico Doppler e colisional são levados em conta no cálculo (Asplund 2005). Como a velocidade de microturbulência está diretamente relacionada à intesidade das linhas, o procedimento adotado para a obtenção espectroscópica da vt é observar o comportamento de um conjunto de linhas de um mesmo elemento quı́mico e estágio de ionização, porém com diferentes Wλ , e exigir que as abundâncias deste elemento em função da razão Wλ /λ sejam independentes. Em outras palavras, deve-se impor que o coeficiente angular da regressão linear ajustada aos dados seja aproximadamente nulo. Para garantir robustez na determinação de vt usamos linhas de Fe I, uma vez que esta é a única espécie atômica com um número expressivo de linhas ao longo dos espectros observados no óptico. Dado um conjunto de Wλ e um modelo de atmosferas obtivemos as abundâncias de Fe I através do código Abonj (Spite 1967) desenvolvido pela Professora Dra. Monique Spite. Para cada estrela foram realizadas várias iterações com diferentes valores de v t no programa Abonj até que a condição de independência fosse satisfeita. Para estimarmos as incertezas internas variamos as velocidade de microturbulência de certas quantidades, começando com ∆vt = ±0.05 kms−1 , e recalculamos as abundâncias de FeI a cada passo. Ao final de cada iteração, as abundâncias de ferro foram novamente analisadas no diagrama [FeI/H] versus Wλ , sendo que uma diferença de ± 0.2 kms−1 foi suficiente para variar drasticamente o aspecto do diagrama e este valor foi interpretado como sendo o nosso valor de incerteza em vt . Erros sistemáticos sobre Wλ podem superestimar ou subestimar os valores das velocidade de microturbulência e as incertezas em seus valores afetam, no contexto dos modelos 1D 3.3 Parâmetros atmosféricos 53 de atmosferas, principalmente as abundâncias determinadas a partir de linhas fortes (alto valor de Wλ ) como as de bário e cálcio (Magain 1984). 3.3.2 Temperaturas efetivas Em Astrofı́sica definimos temperatura efetiva de uma estrela como sendo a temperatura equivalente de um corpo negro que irradia em todas as frequências. Desta forma, a temperatura efetiva está associada ao Fλ medido da estrela: Fλ = σB T4eff , (3.2) onde σB é a constante de Stefan-Boltzmann. Há vários métodos que podem ser utilizados em Astrofı́sica para a obtenção da temperatura efetiva de uma estrela. Cada método, porém, com suas vantagens e limitações. Temperaturas fotométricas Para a determinação das temperaturas efetivas fotométricas usamos as transformações empı́ricas de Alonso et al. (1999, 2001, AAM99 daqui em diante) que se baseiam no Método do Fluxo do Infravermelho (MFIV). Em essência o método mede a emissividade das superfı́cies estelares com base na razão entre o fluxo integrado (proporcional a T 4 ) e o fluxo monocromático (proporcional a T) com comprimento de onda λ no infravermelho, onde os efeitos de blanketing são menos dominantes quando comparados à região mais azul do espectro. O objetivo principal do MFIV é derivar a temperatura efetiva e os diâmetros estelares (Blackwell et al. 1980, 1991). Adotando um avermelhamento EB−V = 0.70 para NGC 6553 (Guarnieri et al. 1998; Meléndez et al. 2003) e leis de avermelhamento de EV −I /EB−V =1.33 (Dean, Warpen & Cousins 1978), EV −K /EB−V =2.744 e EJ−K /EB−V =0.52 (Rieke & Lebofsky 1985), obtivemos cores corrigidas da extinção interestelar em diferentes sistemas fotométricos, as quais foram usadas para derivar as temperaturas fotométricas. A transformação das cores (V - I)C do sistema fotométrico Cousins para cores (V - I)J no sistema fotométrico Johnson foi feita utilizando as relações de Bessell (1979): (V − I)J = (V − I)C , 0.713 se (V − I)C < 0 (3.3) 3.3 Parâmetros atmosféricos (V − I)J = (V − I)J = 54 (V − I)C , 0.778 se (V − I)C + 0.13 , 0.835 0 < (V − I)C < 2 se 2 < (V − I)C < 3 (3.4) (3.5) As cores envolvendo as magnitudes JHKs no sistema fotométrico 2MASS foram convertidas para o sistema fotométrico CIT (California Institute of Technology) e deste para o sistema TCS (Telescópio Carlos Sánchez) por intermédio das relações estabelecidas em Alonso et al. (1998) e Carpenter (2001). Abaixo listamos as principais equações: KS = KCIT − 0.024 (J − K)CIT = (J − KS )2MASS + 0.013 1.056 (3.6) (3.7) KTCS = Ks + 0.006(J − K)CIT + 0.002 (3.8) KTCS = Ks + 0.006(J − KS )2MASS + 0.002 (3.9) (J − K)TCS = 0.960(J − KS )2MASS − 0.002 (3.10) As calibrações AAM99 são relações empı́ricas que relacionam temperatura, cor e correção bolométrica na banda V (CB) para estrelas gigantes a diferentes valores de metalicidade. Nestas calibrações, polinômios gerais do tipo: Ψ = Ψ(T, cor, CB, [Fe/H]), (3.11) 3.3 Parâmetros atmosféricos 55 fazem a transformação de cores intrı́nsecas em temperaturas efetivas e correções bolométricas. Para estrelas gigantes com (V - I)0 (Johnson), (V - K)0 e (J - K)0 (TCS) temos que: θeff,V−I = 0.5379 + 0.3981(V − I)0 + 4.432 × 10−2 (V − I)20 − 2.693 × 10−2 (V − I)30 (3.12) θef f,V −K = 0.3770 + 0.3660(V − K)0 − 3.170 × 10−2 (V − K)20 Fe −3 F e −3 − 2.765 × 10 −3.074 × 10 (V − K)0 H H −2.973 × 10 −3 Fe H 2 θeff,J−K = 0.5816 + 0.9134(J − K)0 − 0.1443(J − K)20 , (3.13) (3.14) onde nas equações acima θef f é a função recı́proca da temperatura: θeff = 5040. Teff (3.15) A magnitude bolométrica (luminosidade integrada das estrelas) é escrita analiticamente como: Mbol = V0 + CB(V) − (m − M)0 (3.16) Na expressão 3.16, V0 e (m - M)0 dependem do avermelhamento interestelar, ao passo que CB, de forma análoga à relação cor-temperatura, é calculada usando as duas expressões abaixo de AAM99: CB(V) = −5.531 × 10−2 − 0.6177 + 4.420X − 2.669X2 X 2 Fe Fe −3 Fe +0.6943X − 0.1071 − 8.612 × 10 H H H (3.17) 3.3 Parâmetros atmosféricos 56 −9.930 × 10−2 + 2.887 × 10−2 + 2.275X − 4.425X2 X 2 Fe −2 Fe −3 Fe +0.3505X − 5.558 × 10 − 5.375 × 10 H H H CB(V) = (3.18) Adotamos [Fe/H] = −0.20 (Meléndez et al. 2003) como o valor inicial de metalicidade, o que estabelece 3.56 ≤ log(Tef f ) ≤ 3.67 e 3.65 ≤ log(Tef f ) ≤ 3.83 como intervalos permitidos de temperatura para as equações 3.17 e 3.18, respectivamente. A variável X é uma função da temperatura escrita como: X = log Teff − 3.52. (3.19) Na calibração de AAM99 a variação média das cores com a temperatura não é alta. Para as cores (V - I)0 , (V - K)0 e (J - K)0 a variação esperada é de ∆Tef f /∆(V − I) = 10/0.01 K mag−1 , ∆Tef f /∆(V − K) = 5/0.01 K mag−1 e ∆Tef f /∆(J − K) = 23/0.01 K mag−1 . A diferença (V - K) de magnitudes é considerada a melhor cor para o cálculo da temperatura efetiva fotométrica tendo em vista sua relativa independência com a metalicidade e pequena variação média da temperatura com a cor, que são resultado de uma larga base (V-K) em comprimento de onda. A tabela 3.2 mostra as magnitudes em cada banda, as cores obtidas e as temperaturas fotométricas efetivas utilizando as calibrações de AAM99. Como teste, derivamos também temperaturas fotométricas usando outras duas calibrações da literatura – Houdashelt et al. (2000) e Montegriffo et al. (1998) – mas as diferenças encontradas foram inferiores às incertezas estimadas. Levando em conta as incertezas de 1σ fornecidas pelas calibrações de AAM99 para V − I (σV −I = 125 K), V − K (σV −K = 40:25 K), e J − K (σJ−K = 125 K), podemos estimar uma incerteza da ordem de 130 K nas temperaturas fotométricas. Temperaturas espectroscópicas Em condições de Equilı́brio Termodinâmico Local (ETL), a distribuição de Boltzmann descreve o comportamento da população de átomos e moléculas em estados excitados. De uma forma geral podemos escrever que a população η do j-ésimo nı́vel será então dada por: ηj gj χj = exp(− ), η φ(T) kT (3.20) 3.3 Parâmetros atmosféricos 57 Tabela 3.2: Temperaturas fotométricas Teff derivadas usando V − I, V − K e J − K J com base nas relações de AAM99. Abaixo, (V − I)C 0 e (V − I)0 faz referência às cores já corrigidas da extinção interestelar nos sistemas fotométricos Johnson e Cousins, respectivamente. Parâmetro II-64 II-85 III-8 267092 Magnitudes e Cores V [mag] I [mag] J [mag] H [mag] KS [mag] (V − I)C 0 (V − I)J0 16.492 15.339 16.297 14.418 12.724 14.285 — 10.979 12.798 — 9.975 11.983 — 9.647 11.749 1.143 1.684 1.081 1.469 2.172 1.389 16.608 14.663 — — — 1.014 1.303 Temperaturas fotométricas TV−I [K] TV−K [K] TJ−K [K] Tmedia [K] 4448 — — 4448 3773 3853 3901 3842 4564 4500 4564 4543 4700 — — 4700 onde: gj : é o peso estatı́stico do j-ésimo nı́vel; φ(T ): é a função de partição dos elementos considerados dentro do j-ésimo nı́vel, sendo P χj que φ(T ) = ∞ j=0 gj exp(− kT ); χj : é o potencial de excitação do j-ésimo nı́vel; k: constante de Boltzmann; T: temperatura. Desta forma, ao linearizarmos a equação acima em função da energia (χ j ), a função resultante será de primeira ordem tendo o fator (1/kT) como coeficiente angular da regressão. Sendo assim, na prática, a temperatura espectroscópica é obtida analisando Diagramas de Boltzmann, ou seja, num plano abundância quı́mica (∝ à população ηj ) versus a energia (χj ) admite-se o equilı́brio de excitação quando o coeficiente angular (∝ 1/T) do ajuste linear aos dados for aproximadamente zero. Para a determinação das temperaturas efetivas espectroscópicas deste trabalho usamos as abundâncias de linhas de FeI, tendo em vista que são bastante numerosas e cobrem uma 3.3 Parâmetros atmosféricos 58 extensa base em comprimento de onda e valores do potencial de excitação. As abundâncias foram obtidas através do código Abonj, o qual determina as larguras equivalentes das linhas utilizando modelos de atmosferas. Embora a temperatura de excitação ou espectroscópica seja robusta no sentido de que não depende da extinção interestelar ou das incertezas na determinação da distância de NGC 6553, há outras fontes de incertezas associadas como os parâmetros atômicos das linhas. Mesmo assim o acordo entre as temperaturas obtidas nos dois métodos é satisfatório. Nós encontramos uma diferença média de temperatura (espectroscópica menos a fotométrica) da ordem de 25 ± 48 (σ = 96, 4 estrelas), ou seja, o valor médio obtido por fotometria é 25 K mais baixo que o encontrado por espectroscopia. Uma variação de 100K no valor da temperatura de excitação para cada estrela provoca uma considerável variação no comportamento das abundâncias de Fe I em função dos respectivos potenciais de excitação, de tal forma que este valor foi adotado como estimativa de incerteza nos valores de temperatura obtidos por equilı́brio de excitação. 3.3.3 As gravidades superficiais Diferentes métodos podem também ser empregados para o cálculo da gravidade superficial de uma estrela. Os nossos valores parametrizados de gravidade superficial (logg) foram obtidos por fotometria e por espectroscopia. Gravidade superficial fotométrica Das equações clássicas de estrutura e evolução estelar, pode-se demonstrar que a forma parametrizada da gravidade superficial, em unidades solares, pode ser escrita em função da temperatura, da magnitude bolométrica e da massa da estrela da seguinte forma: log( M∗ T∗ g∗ ) = +4 log( ) + 0.4(M∗bol − M ), bol ) + log( g T M (3.21) onde adotamos T = 5780 K, Mbol = 4.75 mag, log g = 4.44 dex, seguindo as recomendações da União Astronômica Internacional, e M∗ = 0.80 M (VandenBerg 2000). A magnitude visual MV e a Mbol foram determinadas adotando módulo de distância de (m − M )0 = 13.60 mag e um avermelhamento E(B − V ) = 0.70 mag (Guarnieri et al. 1998), junto com um AV = 2.17 e correções bolométricas BCV calculadas das relações disponı́veis em AAM99. 3.3 Parâmetros atmosféricos 59 Pela teoria de propagação de erros3 podemos estimar incertezas internas sobre logg como sendo: 2 σlogg σg = ln(10)g 2 + " σ M∗ M M∗ ln(10) M #2 σT ∗ + 16 ln(10)T∗ 2 +0.16 σCB + 4 − 2 + 16 − σd ∗ ln(10)d∗ 2 , σT ln(10)T 2 + 0.16 σV20 + (3.22) onde: σV2 0 = σV2 + σA2 V (3.23) Nós estimamos incertezas da ordem de ±0.20 dex sobre os valores de logg propagando erros na temperatura fotométrica (σTeff = 130 K), na massa da estrela (σM∗ = 0.2M ), e na magnitude bolométrica (σMbol ∼ 0.2 mag). Como o significado fı́sico das gravidades superficiais está relacionado ao estabelecimento de gradientes de pressão na atmosfera estelar e nos ambientes propı́cios à formação das linhas espectrais, os erros no valor de logg não afetam em proporções consideráveis as abundâncias derivadas de linhas de elementos neutros, tendo em vista que estas linhas são pouco sensı́veis à pressão. Por outro lado, as linhas ionizadas, linhas proibidas e as asas das linhas mais intensas são fortemente dependentes de incertezas sobre as gravidades superficiais. Gravidade superficial espectroscópica As gravidades superficiais espectroscópicas foram também obtidas via método iterativo com o Abonj exigindo equilı́brio de ionização (Lei de Saha) entre um variado número de linhas de mesma espécie e em diferentes estágios de ionização nos espectros – linhas de Fe I e Fe II neste trabalho. Isto implica que na condição de equı́librio ambas espécies atômicas resultam no mesmo (ou aproximadamente) valor de abundância, ou seja, [FeI/H] ≈ [FeII/H], uma vez obtidas as velocidades de microturbulência e as temperaturas de excitação. 3 Uma vez que uma grandeza ψ seja dada em funç~ ao de variáveis experimentais x 1 , x2 , x3 ,... e sobre estas variáveis estejam associados erros padr~ oes completamente independentes entre si, o erro padr~ ao sobre ψ pode ser obtido genericamente por σ ψ2 = Pn ∂ψ 2 2 i=1 ( ∂xi ) σxi 3.3 Parâmetros atmosféricos 60 Encontramos uma diferença média ∆ log g (espectroscopia - fotometria) = +0.17 ± 0.08 dex (σ = +0.17, 4 estrelas) para a nossa amostra, o que implica que na média as gravidades superficiais espectroscópicas são maiores do que as obtidas pela equação clássica. Como é esperado, as gravidades espectroscópicas são também afetadas por incertezas nos parâmetros atômicos das linhas e nas medidas de Wλ . Estimamos que +0.30 dex seja um valor tı́pico de incerteza sobre os valores de logg obtidos espectroscopicamente, uma vez que ∆logg = 0.30 dex corresponde a uma diferença maior que 1σ no valor de [FeII/H] na condição de equilı́brio. O processo de obtenção dos parâmetros atmosféricos por espectroscopia é iterativo até que seja obtido um conjunto de parâmetros que satisfaça as condições de equilı́brio de excitação e ionização descritas acima. A figura 3.2 mostra um exemplo de determinação dos parâmetros atmosféricos para a estrela NGC 6553 II-64. 3.3.4 Metalicidade Para determinação das metalicidades selecionamos linhas de Fe I e Fe II com larguras equivalentes entre 15 < Wλ < 150 mÅ, com o objetivo de evitar linhas muito fracas ou muito intensas, e linhas com comprimentos de onda λ > 5800 Å, com o objetivo de evitar linhas do azul. Utilizamos os modelos MARCS de atmosferas estelares em uma dimensão (1D) para estrelas gigantes Plez et al. (1992, e posteriores atualizações), os quais foram originalmente desenvolvidos por Gustafsson et al. (1975). As metalicidades foram obtidas tanto para o conjunto de parâmetros atmosféricos com base na fotometria quanto na espectroscopia. A depender dos valores de loggf, dos modelos de atmosferas ou da sı́ntese espectral o valor da abundância solar de ferro na literatura pode variar de até 0.2 dex (7.44 ≤ (Fe) ≤ 7.64). Para este trabalho adotamos (Fe) = 7.50 (Grevesse & Sauval 1998). Ao longo do processo iterativo de obtenção das metalicidades as linhas que apresentaram discrepâncias superiores a 1σ do valor médio foram automaticamente rejeitadas do cômputo médio final. Ao final, não encontramos qualquer tendência das diferenças de metalicidade com a temperatura, o que evidencia as condições de equilı́brio impostas. Os parâmetros atmosféricos obtidos por espectroscopia foram adotados na análise quı́mica detalhada das estrelas. Na tabela 3.3 apresentamos o conjunto final de parâmetros atmosféricos para a amostra NGC 6553 UVES@VLT. Vê-se que o conjunto de parâmetros atmosféricos fotométricos convertem-se numa metalicidade média h[FeI/H]i = −0.21 ± 0.02 (σ = 0.01) e h[FeII/H]i 3.3 Parâmetros atmosféricos 61 Figura 3.2: Demonstração da obtenção da temperatura efetiva, gravidade superficial, velocidade de microturbulência e metalicidade para a estrela NGC6553 II-64 com dados obtidos por fotometria (esquerda) e por espectroscopia (direita). Na figura, a constante a refere-se ao coeficiente angular do ajuste linear aos dados. Alto: FeI vs. χ. Meio: FeI vs. Wλ . Baixo: Fe I (cı́rculos) e Fe II (quadrados) vs. Wλ . As linhas tracejadas correspondem aos valores médios encontrados usando somente as medidas dentro de 1σ do valor médio. 3.3 Parâmetros atmosféricos 62 Tabela 3.3: Parâmetros estelares e atmosféricos finais Star Mbol mag Teff K vt km s−1 logg dex [FeI/H] dex [FeII/H] dex Fotometria II-64 267122 II-85 266938 III-8 265717 267092 +0.1987 −1.6190 +0.0653 +0.4672 4448 3842 4543 4700 1.45 1.38 1.32 1.50 2.07 1.08 2.05 2.27 −0.23 −0.23 −0.21 −0.19 ± ± ± ± 0.15 0.15 0.16 0.11 −0.10 −0.29 −0.23 −0.46 ± ± ± ± 0.03 0.09 0.09 0.06 −0.20 −0.23 −0.17 −0.21 ± ± ± ± 0.15 0.15 0.15 0.12 −0.20 −0.29 −0.17 −0.22 ± ± ± ± 0.01 0.09 0.04 0.06 Espectroscopia II-64 267122 II-85 266938 III-8 265717 267092 — — — — 4500 3800 4600 4600 1.45 1.38 1.40 1.50 2.20 1.10 2.40 2.50 = −0.27 ± 0.15 (σ = 0.07), o que resulta numa diferença média ∆Fe = [FeII/H] - [FeI/H] = −0.06 ± 0.16 dex (σ = 0.08) para as 4 estrelas. Por outro lado, com base nos parâmetros espectroscópicos, obtivemos h[FeI/H]i = −0.20 ± 0.02 (σ = 0.01) e h[FeII/H]i = −0.22 ± 0.05 (σ = 0.01), o que resulta numa diferença média ∆Fe = [FeII/H] - [FeI/H] = −0.02 ± 0.06 dex (σ = 0.02) para as 4 estrelas. 3.3.5 Incertezas na metalicidade As incertezas apresentadas na tabela 3.3 são o desvio padrão da média das abundâncias das N linhas medidas em cada estrela. Estas estimativas não levam em conta os efeitos das incertezas sobre os parâmetros atmosféricos que podem subestimar ou superestimar as medidas. Sendo assim, variamos os parâmetros atmosféricos espectroscópicos (T:logg:v t ) de uma estrela da amostra (II-64) de incertezas tı́picas já discutidas nas seções acima e estimamos os efeitos sobre a abundância de ferro. Uma variação ∆Teff = ± 100K resulta numa ∆[FeI/H] = −0.03 dex e ∆[FeII/H] = 0.12 dex; ∆logg = ± 0.30 dex resulta em ∆[FeI/H] = −0.04 dex e ∆[FeII/H] = −0.11 dex; finalmente, uma variação ∆v t = ± 0.20 kms−1 acarreta ∆[FeI/H] = 0.07 dex e ∆[FeII/H] = 0.06 dex. Como era esperado, as abundâncias de [FeI/H] são mais dependentes das variações na velocidade de microturbulência, enquanto que as abundâncias de [FeII/H] são mais suscetı́veis a erros nas gravidades superficiais. 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 3.3.6 63 ETL versus não-ETL para a amostra Thévenin & Idiart (1999) estudaram em detalhes o problema da sobreionização do ferro nas atmosferas de estrelas anãs pobres em metais e mostraram que análises de abundância no equilı́brio termodinâmico local levam a uma subestimativa de [Fe/H] quando normalizadas às linhas de Fe I nestas atmosferas. Eles sugerem um fator de correção de +0.30 dex nas estimativas de [FeI/H] para estrelas com [Fe/H] = −3.00 e um fator +0.10 dex a metalicidades [Fe/H] = −1.00. Neste trabalho, eles destacam que a qualquer profundidade óptica na atmosfera de baixa opacidade das estrelas anãs pobres em metais as populações dos nı́veis atômicos do Fe I são modificadas pelo escapamento dos fótons ultravioleta. Consequentemente, como todo o Fe na atmosfera destas estrelas encontra-se ionizado, a metalicidade derivada das linhas de Fe II são preferencialmente adotadas como estimativa de [Fe/H] uma vez que estas espécies atômicas são menos sensı́veis por desvios de ETL. Thévenin & Idiart (1999) mostram também que a gravidade superficial é afetada no sentido que o fluxo dos fótons ultravioleta para a superfı́cie torna-se maior a densidades atmosféricas mais baixas a uma dada Tef f o que explica o fato que os logg obtidos no equilı́brio de ionização são inferiores aos obtidos a partir da equação clássica com distâncias determinadas pelos dados do satélite HIPPARCOS em estrelas pobres em metais. Para as estrelas gigantes e supergigantes ricas em metais e de baixo valor de logg seria necessário fazer uma análise mais cuidadosa com modelos de atmosferas mais complexos (Idiart, comunicação privada em 2004). De qualquer forma a diferença média entre as abundâncias de ferro obtidas pelas linhas de Fe I e Fe II por espectroscopia neste trabalho é muito pequena, o que sugere que as nossas medidas de metalicidade são insensı́veis à variações da condição de ETL. 3.4 3.4.1 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação Sı́ntese espectral A sı́ntese espectral é um dos métodos astrofı́sicos usados na determinação das abundâncias quı́micas de espécies atômicas e moleculares através da criação de espectros sintéticos, ou seja, simulação em laboratório dos espectros observados. O método de sı́ntese espectral possibilita o cálculo do fluxo teórico que emerge da fotosfera estelar através da solução 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 64 das equações básicas da teoria de transporte radiativo. O sucesso do método dependerá da qualidade dos parâmetros inerentes às linhas atômicas, como comprimento de onda da transição, potencial de excitação (χ), força de oscilador (ou loggf), constantes de amortecimento radiativas e colisionais e estrutura hiperfina, além das linhas moleculares e da fı́sica dos modelos de atmosferas usados. Exceto para o ferro, as abundâncias quı́micas deste trabalho foram obtidas usando o código Pfant de sı́ntese espectral (Spite 1967; Cayrel et al. 1991; Barbuy et al. 2003), ao qual Barbuy (1982) incluiu a sı́ntese de linhas moleculares. Mais detalhes da fı́sica do método de sı́ntese espectral, bem como da lista de linhas implementada ao código Pfant, modelos de atmosferas, opacidades, a fı́sica das constantes de amortecimento e estrutura hiperfina podem ser vistos no apêndice A. 3.4.2 Lista de linhas e abundância solar Obtivemos as abundâncias quı́micas para linhas de Na, Mg, Al, Si, Ca, Ti, Mn, Cu, Zn, Zr, Ba, La e Eu. Os valores de loggf usados para os elementos-α e elementos oriundos da captura de próton são como dados em Barbuy et al. (2006). Para o tripleto de Mn em 6000 Å, cálculos de HFS foram levados em conta usando dados atômicos de Brodzinski et al. (1987) e Walther (1962). Adotamos spin nuclear I=2.5 para 55 Mn, único nuclı́deo que contribui para a abundância do manganês (Woodgate & Martin 1957). Para a linha de MnI 6016 Å, o valor loggf = −0.216, disponı́vel no Vienna Atomic Line Database (VALD, Piskunov et al. 1995), fornece abundâncias mais baixas de manganês. Usando o loggf do VALD, o espectro sintético da linha é muito mais forte do que as respectivas linhas observadas no Sol e em Arcturus, como mostra a figura 3.3. Por esta razão, determinamos o loggf astrofı́sico para esta linha usando o atlas solar (Kurúcz et al. 1984) e o atlas de Arcturus (Hinkle et al. 2000) buscando encontrar um novo valor de loggf que fosse compatı́vel com as abundâncias destas estrelas como dadas na literatura. As abundâncias de cobre foram obtidas a partir das linhas Cu I 5105Å, 5218 Å e 5782 Å. A HFS foi calculada usando dados de Bielski (1975), com uma fração isotópica de 0.69 para 63 Cu e 0.31 para 65 Cu. A abundânica de zinco foi calculada usando a linha de Zn I em 4810 Å com parâmetros χ = 4.08 eV e loggf = −0.170 adotados de Biémont & Godefroid (1980). Para as linhas de BaII 6141 Å e 6496 Å, LaII 6390 Å e Eu II 6645 os cálculos de HFS foram implementados usando os dados atômicos de Biehl (1976) e Lawler et al. (2001). Para o cálculo relativo das abundâncias, adotamos as abundâncias solares de Grevesse & 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 65 Figura 3.3: Ajustes de HFS para linhas de Mn no Sol e em Arcturus: espectro observado (linha sólida); espectro sintético (linha pontilhada); espectro sintético usando o loggf total de VALD para a linha 6016 Å (linha tracejada). 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 66 Sauval (1998), que para os elementos do pico do ferro são (Mn) =5.39, (Cu) =4.21 e (Zn) =4.60. Entre os elementos do pico do ferro estudados, Mn é o único cuja abundância solar fotosférica difere por até ±0.14 dex do valor meteorı́tico. Duas razões principais poderiam explicar esta discrepância. Primeiro, o valor meteorı́tico está errado: isso, em princı́pio não é plausı́vel dado que o Mn é muito bem analisado quimicamente em meteoritos através de processos de ativação de nêutrons e as incertezas sobre os valores medidos são muito pequenas. Segundo, o valor fotosférico está errado: esta premissa seria mais plausı́vel para explicar a diferença observada, uma vez que os últimos cálculos da abundância fotosférica de Mn foram realizados por Booth et al. (1984). Por outro lado, numa compilação de vários valores da abundância solar de Mn da literatura, Asplund (2005) mostra que a discrepância na abundância solar do Mn é da ordem de 0.08 dex, embora com barras de erro superiores aos valores médios de cada medida. Faz-se necessário, porém, uma análise cuidadosa das probabilidades de transição e tempos de vida envolvendo o Mn, além de análises com os novos modelos de atmosferas em 3D e fora das condições LTE para poder melhor entender tais discrepâncias. As tabelas 3.4, 3.5 e 3.6 apresentam, respectivamente, o conjunto de todas as linhas que foram utilizadas na sı́ntese espectral dos elementos-α, elementos Z-ı́mpar, elementos pesados e elementos do pico do ferro (Mn e Cu). Cada tabela identifica a espécie atômica, os potenciais de excitação χ, constantes de amortecimento C6, loggf e HFS quando for o caso. Tabela 3.4: Lista de linhas atômicas usada para a sı́ntese espectral: (1) espécie atômica, (2) comprimento de onda, (3) potencial de excitação, (4) constante de amortecimento C6 e (5) loggf. Espécie (1) Mg I Mg I Mg I Si I Si I Si I Si I Si I Si I λ(Å) (2) χ(eV) (3) C6 (4) Elementos α 6318.720 5.110 0.30E−31 6319.242 5.110 0.30E−31 6319.490 5.110 0.30E−31 5948.548 5.082 2.19E-30 6142.490 5.620 0.30E−31 6145.020 5.610 0.30E−31 6155.020 5.620 0.30E−30 6243.823 5.610 0.30E−32 6244.480 5.610 0.30E−31 loggf (5) −2.100 −2.360 −2.900 −1.170 −1.580 −1.500 −0.850 −1.300 −1.270 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação Espécie (1) Si I Ca I Ca I Ca I Ca I Ca I Ca I Ca I Ca I Ca I Ca I Ca I Ca I Ca I Ca I Ca I Ti I Ti I Ti I Ti I Ti I Ti I Ti I Ti I Ti I Ti I Ti I Ti I Ti I Ti I Ti I Ti II Ti II Na I Na I Na I Na I Al I Al I Tabela 3.4 – continuação λ(Å) χ(eV) C6 (2) (3) (4) 6414.987 5.870 0.30E−30 6102.723 1.879 4.54E−31 6156.030 2.521 4.00E−31 6161.297 2.523 4.00E−31 6162.173 2.523 3.00E−31 6166.439 2.521 3.97E−31 6169.042 2.523 3.97E−31 6169.563 2.526 4.00E−31 6439.075 2.526 3.40E−32 6455.598 2.523 3.39E−32 6464.679 2.520 3.40E−32 6471.662 2.526 3.39E−32 6493.788 2.526 3.37E−32 6499.654 2.526 3.37E−32 6508.850 2.526 3.37E−32 6572.778 0.000 1.75E−32 5866.452 1.067 2.16E−32 5965.828 1.879 2.14E−32 5978.543 1.873 2.14E−32 6064.629 1.046 2.06E−32 6091.174 2.267 3.89E−32 6126.217 1.067 2.06E−32 6258.110 1.440 4.75E−32 6303.756 1.443 1.53E−32 6312.237 1.460 4.75E−32 6336.102 1.443 0.30E−31 6508.153 1.430 1.46E−32 6554.224 1.443 2.72E−32 6556.062 1.460 2.74E−32 6599.130 0.900 2.94E−32 6743.124 0.900 0.30E−31 6491.582 2.060 0.30E−31 6559.576 2.050 0.30E−31 Elementos Z-ı́mpar 5682.647 2.102 0.30E−30 5688.217 2.102 0.30E−30 6154.225 2.102 0.90E−31 6160.753 2.104 0.30E−31 6696.032 3.143 0.30E−31 6698.667 3.143 0.30E−31 loggf (5) −1.128 −0.930 −2.590 −1.420 −0.090 −1.156 −0.900 −0.630 +0.300 −1.550 −2.480 −0.800 +0.000 −0.850 −2.510 −4.320 −0.840 −0.409 −0.496 −1.944 −0.423 −1.424 −0.360 −1.566 −1.552 −1.742 −2.050 −1.219 −1.075 −2.085 −1.628 −2.100 −2.480 −0.700 −0.457 −1.570 −1.270 −1.481 −1.782 67 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação Espécie (1) Zr I Ba II Ba II La II Eu II 3.4.3 Tabela 3.4 – continuação λ(Å) χ(eV) C6 (2) (3) (4) 68 loggf (5) Elementos pesados 6143.216 0.070 0.30E−31 −1.100 6141.728 0.704 −0.070 −0.08 6496.900 0.604 −0.380 −0.08 6390.483 0.320 −1.410 +0.01 6645.127 1.380 +0.120 +0.09 Metalicidade: [Fe/H] Determinar e interpretar a função distribuição de metalicidade (MDF) do bojo da nossa Galáxia é fundamental para investigar o histórico de formação do bojo e da Via-Láctea. Neste sentido, aglomerados globulares ricos em metais, devido principalmente às suas similaridades quı́micas com populações de campo do bojo (Ortolani et al. 1995; Zoccali et al. 2003), podem ser utilizados como objetos de referência no estudo da metalicidade de populações ricas em metais na região interna à Galáxia. Particularmente no caso de NGC 6553 o seu valor de metalicidade tem sido amplamente debatido na literatura no decorrer dos últimos anos, como apresentado na figura 3.4. Vê-se que até 1992, para as análises que se baseiam em métodos fotométricos ou espectroscópicos de baixa resolução, há um amplo intervalo de valores possı́veis que varia de [Fe/H] = +0.47 dex (Bica & Pastoriza 1983) a [Fe/H] = −0.70 dex (Pilachowski 1984), ou seja, um fator ≈ 15 em [Fe/H]. A partir de 1992, já usando dados espectroscópicos de melhor qualidade, exceto para o valor médio obtido por Coelho et al. (2001) que ainda se baseia em dados de baixa resolução, há um visı́vel decréscimo na dispersão dos resultados. Ainda assim, a variação de metalicidade atinge ∆[Fe/H] = 0.49 dex (−0.55 < [Fe/H] < −0.06), ou seja, uma diferença superior a um fator 3 em [Fe/H] que, em princı́pio, é a razão de abundância mais facilmente obtida devido principalmente ao elevado número de linhas de FeI disponı́veis nos espectros observados e a relativa qualidade dos dados atômicos para estas linhas quando comparadas às outras espécies. Como detalhado em seções anteriores, obtivemos um valor médio de metalicidade [Fe/H]= −0.20. Este resultado está compatı́vel com resultados anteriores da literatura usando dados de qualidade no óptico e no infravermelho (Cohen et al. 1999; Meléndez et al. 2003). 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação Tabela 3.5: HFS para linhas de Mn I. 6013.488Å; χ=3.072 eV loggf(total) = −0.252a 6016.673Å; χ=3.073 eV log gf(total) = −0.216c λ (Å) loggf λ (Å) loggf 6013.447 6013.468 6013.487 6013.496 6013.502 6013.507 6013.516 6013.522 6013.532 6013.535 6013.535 6013.536 −0.7669 −0.9790 −1.2520 −1.4561 −1.6622 −1.3100 −1.3312 −1.4861 −1.8083 −1.8541 −2.4104 −2.0302 6016.613 6016.640 6016.640 6016.661 6016.662 6016.678 6016.679 6016.689 6016.690 6016.691 6016.697 6016.701 6016.707 6016.708 6016.709 −1.5760 −0.7979 −1.4133 −1.4079 −1.0611 −1.5102 −1.3921 −1.5760 −1.8392 −1.7723 −2.5382 −1.4133 −1.7723 −1.4079 −1.5102 6016.673Å; χ=3.073 eV loggf(total) = −0.516b λ (Å) 6016.613 6016.640 6016.640 6016.661 6016.662 6016.678 6016.679 6016.689 6016.690 6016.691 6016.697 6016.701 6016.707 6016.708 6016.709 loggf 6021.792Å; χ=3.075 eV loggf(total) = 0.035a λ (Å) loggf −1.8760 6021.716 −2.6674 −1.0979 6021.742 −1.4499 −1.7133 6021.745 −2.3152 −1.7079 6021.765 −1.2739 −1.3611 6021.770 −2.1903 −1.8102 6021.775 −0.5323 −1.6921 6021.784 −1.2483 −1.8760 6021.790 −2.2695 −2.1392 6021.792 −0.6718 −2.0723 6021.799 −1.3152 −2.8382 6021.804 −0.8302 −1.7133 6021.809 −1.4913 −2.0723 6021.813 −1.0142 −1.7079 6021.818 −1.2361 −1.8102 6021.819 −1.5213 Fontes para os valores de loggf: (a) NIST; (b) ajuste sobre os espectros do Sol e Arcturus; (c) VALD 69 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação Tabela 3.6: HFS para linhas de Cu I. 5105.50Å; χ=1.39 eV loggf(total) = −1.520b 5218.21Å; χ=3.82 eV loggf(total) = +0.264a λ (Å) loggf λ (Å) loggf 5105.497 5105.501 5105.503 5105.504 5105.510 5105.514 5105.519 5105.523 5105.525 5105.526 5105.530 5105.531 5105.534 5105.545 5105.550 5105.554 5105.572 −4.2291 −3.2774 −3.2314 −4.4202 −3.1656 −2.9097 −3.8761 −2.9318 −2.7319 −4.0655 −2.6600 −2.8199 −2.5629 −2.9140 −2.3138 −2.4538 −2.1079 5218.201 5218.203 5218.205 5218.207 5218.211 5218.213 5218.216 −1.4123 −0.9367 −1.0665 −0.3466 −0.5575 −0.5685 −0.2226 5782.14 Å; χ=1.64 eV loggf(total) = −1.720b 5782.032 −3.4320 5782.042 −3.7349 5782.054 −3.0340 5782.064 −3.0850 5782.073 −3.3890 5782.084 −2.6880 5782.086 −3.0340 5782.098 −3.0340 5782.113 −2.6880 5782.124 −2.6880 5782.153 −2.5870 5782.173 −2.2410 Fontes para o loggf: (a) NIST; (b) Bielski (1975) 70 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 71 3 9: Harris (1996) 10: Origlia et al. (1997) 11: Cohen et al. (1999) 12: Barbuy et al. (1999) 13: Coelho et al. (2001) 14: Carretta et al. (2001) 15: Melendez et al. (2003) 16: This Work 1: Zinn (1980) 2: Bica & Pastoriza (1983) 3: Cohen (1983) 4: Zinn & West (1984) 5: Pilachowski (1984) 6: Webbink (1985) 7: Bica & Alloin (1986) 8: Barbuy et al. (1992) 2 1 2 3 0 7 1 4 8 9 6 11 14 15 10 16 12 5 13 -1 -2 1980 1985 1990 1995 2000 2005 Figura 3.4: Diferentes valores de metalicidade encontrados na literatura para NGC 6553 através dos anos. Os quadrados abertos são para os trabalhos realizados utilizando fotometria, enquanto que os quadrados fechados são para aqueles baseados em espectroscopia. 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 72 Barbuy et al. (1999b) analisaram espectros CASPEC (R ∼ 20000) de duas estrelas gigantes frias de NGC 6553 e obtiveram metalicidade média [Fe/H] = −0.55, um fator 2.23 mais baixo que o valor encontrado no presente trabalho. Como a atual amostra contém uma estrela em comum (a estrela II-85) à amostra de Barbuy et al. (1999b), revimos em detalhes os espectros das estrelas nos dois diferentes conjuntos de dado com o intuito de tentar entender a diferença encontrada. Verificamos a determinação dos parâmetros atmosféricos e atentamos para similaridades e dissimilaridades nos parâmetros atômicos de cada linha de ferro, além de possı́veis diferenças nas medidas de Wλ , bem como diferenças entre os métodos de análise nos diferentes trabalhos. Encontramos três possı́veis fontes de incertezas que poderiam explicar as discrepâncias em metalicidade entre os dois trabalhos: (i): Temperatura efetiva: usando cores HST e adotando um E(B-V)=0.70, Barbuy et al. (1999b) derivaram uma temperatura efetiva de 4000 K para a estrela II-85, enquanto que o valor atual é de 3842 K, obtido de forma espectroscópica. No entanto, como discutido na seção 3.3.5, uma diferença de ∆T = +100K leva a uma diferença ∆[Fe/H] = −0.03 dex, o que significa que uma variação de cerca de 200K na temperatura ainda não explicaria a ∆[Fe/H] entre os dois trabalhos. (ii): Gravidade superficial: Barbuy et al. (1999b) obtiveram logg = 1.26 dex, mas o valor espectroscópico foi corrigido de −0.6 dex, ou seja, o valor logg = 0.70 foi adotado. Numa simulação com as larguras equivalentes de II-85, uma ∆logg = ±0.6 dex acarreta numa ∆[Fe/H]=±0.3 dex, o que explicaria grande parte da discrepância entre os dois conjuntos de dados. (iii): Wλ : as medidas de larguras equivalentes de linhas em comum da estrela II-85 nas duas amostras são apresentadas na tabela 3.7. Em linhas gerais, embora apenas com poucas linhas em comum, as larguras equivalentes das linhas mais intensas apresentadas em Barbuy et al. (1999b) parecem sistematicamente mais baixas (≈ 20 mÅ) do que as da presente amostra. Em simulações com o Abonj esta diferença em Wλ prevê uma ∆[Fe/H] ≈ 0.1 dex. A principal razão para as diferenças observadas nas Wλ de II-85 nos dois conjuntos de dados parece estar associada a baixa qualidade dos espectros CASPEC, tanto em resolução quanto na razão S/N, quando comparados aos espectros UVES do presente estudo como mostra a figura 3.5 para a estrela II-85. Isso dificulta a localização do continuum para o cálculo das larguras equivalentes. Com base nisso, os nossos resultados fixam, preferencialmente, uma metalicidade [Fe/H]= −0.2 para NGC 6553. Este resultado é compatı́vel não apenas com medidas de metalicidade com dados de alta qualidade no infravermelho para NGC 6553 (Meléndez et al. 2003), mas também com a metalicidade média das estrelas de campo do bojo (Fulbright et al. 2006; Lecureur et al. 2007) e para estrelas de NGC 6528 (Zoccali et al. 2004), o qual 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 73 Tabela 3.7: Comparação das Wλ das linhas de FeI usadas neste trabalho em comum com o trabalho de Barbuy et al. (1999b). λ(Å) χex (eV) loggf 5861.110 6082.710 6096.660 6120.250 6475.620 6481.870 6574.230 6739.520 4.280 2.220 3.980 0.910 2.560 2.280 0.990 1.560 −2.450 −3.570 −1.930 −5.950 −2.940 −2.980 −5.040 −4.940 Este trabalho Barbuy et al. (1999b) Wλ [mÅ] Wλ [mÅ] 24.9 131.1 70.1 96.4 127.5 148.5 149.3 98.4 25. 102. 74. 69. 118. 117. 130. 49. Figura 3.5: Espectro da estrela gigante II-85: comparação entre o espectro estudado em Barbuy et al. (1999b), obtido com telescópio de 3.6m e espectrógrafo CASPEC de R ∼ 20000 (a) e o do presente estudo obtido com o VLT de 8.2m e espectrógrafo UVES de R∼55000. 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 74 é muito similar a NGC 6553. 3.4.4 Elementos α: [O/Fe], [Mg/Fe], [Si/Fe], [Ca/Fe], [Ti/Fe] Com o trabalho clássico de Tinsley (1980) e as primeiras determinações de oxigênio para estrelas pobre em metais da Galáxia (por exemplo, Barbuy 1988), a abundância de elementos-α passou a ser interpretada como crucial no entendimento de quantidades importantes como a SFR e a IMF. Para interpretar a história de evolução quı́mica da Galáxia faz-se necessário entender a complexa interação entre as estrelas e o meio interestelar. O enriquecimento quı́mico da Galáxia através dos elementos pesados, ou seja, os elementos da tabela periódica com número atômico Z entre 6 ≤ Z ≤ 110, é controlado pelos processos de nucleossı́ntese estelar, onde a fı́sica das explosões de supernovas (SNs) Tipo II e Tipo Ia é fundamental para o entendimento da evolução quı́mica. De acordo com a teoria padrão os elementos α (O, Mg, Si, Ca, Ti) são essencialmente sintetizados por estrelas massivas (M & 8M ) e, portanto, com um curto tempo de vida (106 -107 anos, compatı́vel com o tempo de colapso do halo da Galáxia) e que apresentam linhas marcantes de hidrogênio em seus espectros no óptico. Os elementos α são ejetados no meio-interestelar durante as explosões de SNs Tipo II que são o estágio final da vida das estrelas massivas. Os elementos do pico do Fe (V, Cr, Mn, Fe, Co, Ni, Cu, Zn), por sua vez, seriam produto principalmente da explosão termonuclear de SNs Tipo Ia, cuja estrela progenitora seria uma estrela anã branca de C-O em sistemas binários envolvendo escalas de tempo de 1 a 2 bilhões de anos (ver por exemplo os yields de Woosley & Weaver 1995; Iwamoto et al. 1999). Desta forma, observacionalmente, como mostra esquematicamente a figura 3.6 adaptada de McWilliam (1997), os elementos-α são sobreabundantes por um fator +0.3 ± 0.2 dex no regime [Fe/H] ≤ −1.00 e, para [Fe/H] ≈ − 1.00, a razão [α/Fe] decresce progressivamente alcançando valores da abundância solar em [Fe/H] = 0. Sendo assim, uma medida sobreabundante de [α/Fe] indica o domı́nio de processos por SNs Tipo II, equanto que uma subabundância é interpretada como o aumento de contribuições por SNs de Tipo Ia. Os diagramas de diagnóstico quı́mico para diferentes populações estelares permitem-nos, assim, interpretar a IMF e a SFR, dois ingredientes essenciais para traçar a evolução quı́mica de populações estelares. Em outras palavras, a razão [α/Fe] informa-nos sobre a relativa contribuição das SNs Tipo II em relação as SNs Ia ao enriquecimento quı́mico do meio-interestelar numa época anterior a formação das estrelas (Matteucci & Greggio 1986). 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 75 .. Figura 3.6: Diagrama de diagnóstico quı́mico: variação da abundância dos elementos-α com a metalicidade com base na figura 1 de McWilliam (1997). O oxigênio é o terceiro mais abundante elemento quı́mico do Universo e, consequentemente, a determinação de sua abundância em estrelas de distintos estágios evolutivos e metalicidades é muito importante para o estudo da evolução quı́mica da Galáxia e mesmo da estrutura e evolução de estrelas de baixa massa. A abundância de oxigênio nessas estrelas afeta a opacidade e consequentemente as caracterı́sticas morfológicos dos diagramas cor-magnitude de aglomerados globulares e a determinação das idades destes objetos. Todavia, devido a baixa velocidade radial heliocêntrica de NGC 6553 (v hr = −0.27 ± 1.99 kms−1 ), não foi possı́vel obter diretamente a abundância de oxigênio usando o dubleto proibido de [OI] 6300Å, 6363Å nos espectros. As linhas proibidas de oxigênio foram completamente destruı́das pela numerosa quantidade de linhas telúricas na região. Escolhemos adotar a razão de abundância [O/Fe]= +0.25 para NGC 6553 que foi anteriormente obtida pelo nosso grupo de pesquisa usando linhas OH do infravermelho com dados de alta-resolução, bem como razões de [C/Fe]=−0.7 e [N/Fe]= +1.30 obtidas através de moléculas de CN (Meléndez et al. 2003). Para as quatro estrelas estudadas encontramos que os elementos α comportam-se de maneira anômola, com magnésio e silı́cio sobreabundantes ([Mg/Fe] = +0.28 ± 0.04 : [Si/Fe] = +0.21 ± 0.05), enquanto que cálcio e titânio mostram abundância média tipi- 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 76 camente solar ([Ca/Fe] = +0.05 ± 0.09 : [TiI/Fe] = −0.01 ± 0.14 : [TiII/Fe] = −0.02 ± 0.06). A figura 3.7 apresenta exemplo da sı́ntese espectral realizada para a estrela II-85 na região do tripleto de magnésio em 6318Å e para a linha de Si 5948.548 Å, respectivamente. Na figura 3.8 apresentamos as razões de abundância [Ca/Fe] em aglomerados globulares do bojo da Galáxia (cı́rculos cheios) comparadas às razões obtidas em estrelas de campo do bojo (cı́rculos abertos) na análise de Fulbright et al. (2007) e do disco espesso (cruzes) na análise de Reddy et al. (2006). Em relação às estrelas de campo, vê-se que há uma separação forte no comportamento [Ca/Fe] no bojo e no disco espesso que pode ser facilmente explicada no contexto da contribuição (SNs Tipo II)/(SNs Tipo Ia) no bojo/disco da Galáxia. A razão [Ca/Fe] ≈ 0 que reportamos neste trabalho segue muito mais o padrão do disco espesso, embora a razão [Ca/Fe]NGC6553 dentro de +1σ esteja na região limı́trofe entre as duas populações. Estimativas de [Ca/Fe] obtidas pelo nosso Grupo de Pesquisa para NGC 6558 e HP-1, dois aglomerados pobres em metais do bojo, também estabelecem [Ca/Fe] solar. Além disso, medidas muito recentes para outros dois aglomerados globulares do bojo com [Fe/H] > −0.45 (NGC 6388 e NGC 6441) e de grupos de pesquisa diferentes ao nosso também reportam uma abundância solar para o cálcio (Gratton et al. 2006; Carretta et al. 2007). Desta forma, o comportamento [Ca/Fe] em aglomerados globulares do bojo é controverso: as razões [Ca/Fe] obtidas com base em dados do infravermelho tendem a ser maiores ([Ca/Fe] ≥ 0.30) do que as estimativas obtidas com espectros no óptico ([Ca/Fe] < 0.10). No caso de NGC 6528, quimicamente similar a NGC 6553, as diferenças [Ca/Fe] obtidas na literatura são de aproximadamente 0.8 dex, ou seja, uma diferença superior a um fator 6 na abundância de cálcio. Estas discrepâncias precisam ser melhor investigadas. Seguindo as idéias da fı́sica das explosões de SNs, as anomalias Ca:Ti podem ser interpretadas como consequência natural dos yields4 envolvidos, no sentido de que as baixas razões [(Ca,Ti)/Fe] sugerem uma deficiência de SNs Tipo II de baixa massa. Os yields são ainda fortemente dependentes da metalicidade uma vez que a perda de massa das estrelas depende da metalicidade das mesmas, de tal forma que cálcio e titânio são formados em ambientes astrofı́sicos diferenciados dos outros elementos α. Interessantemente, uma vez que o bojo de galáxias espirais como a nossa têm caracterı́sticas similares às galáxias elı́pticas (Renzini 2006), modelos de populações estelares têm previsto baixas razões de cálcio nestas galáxias (Coelho et al. 2007, e referências citadas), no entanto, a subabundância de cálcio em populações velhas e ricas é ainda controverso (Prochaska et 4 Fraç~ ao f da massa de uma estrela de massa M que é convertida em metais e ejetada no meio interestelar. 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 77 al. 2005). Na figura 3.9, nós comparamos o padrão de abundância dos elementos α estudados neste trabalho (exceto para o oxigênio como explicado acima) com os resultados de NGC 6553 encontrados por Cohen et al. (1999). No geral, os padrões estão compatı́veis dentro de pouco mais que 1σ para O, Mg, Ca e Ti e menor que 1σ para o Si. Sabe-se que embora as análises detalhadas de oxigênio em estrelas frias possam ser realizadas usando linhas variadas — linhas de OH no ultravioleta e no infravermelho, pelo dubleto proibido [O I] 6300 Å e 6363 Å e também através do tripleto permitido O I 7771 Å, 7774 Å e 7775 Å —, estas diferentes linhas tendem a dar diferentes valores. Como exemplo, as linhas OI 7771-7 Å fornecem, sistematicamente, abundâncias mais altas que as derivadas via linhas de OH (Kiselman & Nordlund 1995) e este fator deve explicar parte da diferença em [O/Fe] apresentada na figura 3.9 uma vez que Cohen et al. (1999) calcularam a razão de abundância com base no tripleto de OI 7771-7 Å, enquanto que o nosso valor baseia-se em linhas de OH no infravermelho. Outro fator a ser levado em conta é que há uma diferença de ∆[O/Fe]=0.09 dex na abundância solar de oxigênio adotada nos dois trabalhos. Em relação aos outros elementos α, há uma discrepância de ∆[Mg/Fe] = 0.13 dex entre os nossos valores e Cohen et al. (1999), sendo que a diferença média é da ordem de 3σ na razão [Mg/Fe]. Para o cálcio, a diferença ∆[Ca/Fe] = +0.2 dex pode ser explicada principalmente pela diferença no valor solar de abundância adotado entre os dois trabalhos, como mostra a tabela 3.8, com nenhuma diferença significativa nos valores de loggf. E, finalmente, para o Ti, não foi possı́vel fazer uma comparação direta entre os dois trabalhos pois não há linhas em comum nas duas amostras. No entanto, nota-se uma diferença ∆[Ti/Fe]=0.05 dex na abundância solar. Os nossos valores de abundância para o Ti estão compatı́veis com os apresentados em Zoccali et al. (2004) para NGC 6528, analisado usando as mesmas linhas e parâmetros atômicos. Possı́veis diferenças devido aos diferentes valores nas constantes de amortecimento (importante principalmente para as linhas de cálcio) não foram verificadas pois Cohen et al. (1999) não disponibilizam os valores da constante de amortecimento C6 usados. Desta forma, encontramos uma razão h[(Mg,Si,Ca,Ti)/Fe]i = 0.13 dex para a amostra NGC 6553 UVES@VLT. Para comparação, numa análise quı́mica de 2 estrelas gigantes de NGC 6553 com dados no infravermelho e parâmetros atmosféricos médios de T eff = 4000 K, logg = 1 dex, vt = 2kms−1 e [Fe/H] = −0.30, Origlia et al. (2002) obtiveram um platô de [α/Fe]= 0.30 dex, o que demonstra a discrepância nos resultados do óptico comparados a dados do infravermelho. 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 78 Star II-85 Teff = 3800 K : logg= 1.10 dex : [Fe/H]= -0.23 dex 1 Mg I Mg I 0.8 0.6 0.4 6317.5 6318 6318.5 6319 6319.5 6320 1 0.8 0.6 5948 5948.5 5949 Figura 3.7: Painel superior: Sı́ntese espectral do tripleto de magnésio em 6318.7 Å, 6319.2 Å, 6319.4 Å na estrela II-85, calculada com [Mg/Fe] = +0.27 (linha pontilhada, melhor ajuste), [Mg/Fe] = +0.37 (linha curta tracejada) e [Mg/Fe] = +0.17 (linha longa tracejada). Painel inferior: Sı́ntese espectral da linha de silı́cio 5948.548 Å na estrela II-85 calculada com [Si/Fe] = +0.20 (linha pontilhada, melhor ajuste), [Si/Fe] = +0.30 (linha curta tracejada) e [Si/Fe] = +0.10 (linha longa tracejada). 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 79 Figura 3.8: Razões [Ca/Fe] em aglomerados globulares do bojo (cı́rculos fechados) comparadas com estrelas de campo do bojo (cı́rculos abertos) e estrelas de campo do disco espesso (quadrados). Na notação especı́fica para NGC6528, NGC6528:G1 corresponde a análise feita por Zoccali et al. (2004) e NGC6528:G2 em Origlia et al. (2005a). Tabela 3.8: Comparação dos valores de abundância solar e razões de abundância obtidas para NGC 6553 entre o presente trabalho e Cohen et al. (1999). Elemento O Mg Si Ca Ti Este trabalho (X) [X/Fe] 8.77 7.58 7.55 6.36 5.02 +0.2 +0.28 +0.21 +0.05 -0.01 Cohen et al. (1999) (X) [X/Fe] 8.68 7.54 7.54 6.16 4.98 +0.50 +0.41 +0.14 +0.26 +0.19 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 80 Cohen et al. (1999) Present work & Melendez et. al (2003) Figura 3.9: Padrão de abundância dos elementos α em NGC 6553: (i) média para 4 estrelas deste trabalho e adotando oxigênio de Meléndez et al. (2003) (estrelas) e (ii) abundâncias médias com base em 4 estrelas de Cohen et al. (1999) (quadrados). 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 81 Estruturalmente, NGC 6553, por estar localizado a uma distância inferior a 3 kpc do centro da Galáxia, classifica-se como um aglomerado globular do bojo da Galáxia. No entanto, Zoccali et al. (2001, 2003) determinaram o movimento próprio de NGC 6553 e concluı́ram que este aglomerado segue a rotação média tanto do bojo como do disco da Galáxia. Este resultado foi também confirmado por Dinescu et al. (2003), que com base em velocidade de rotação, velocidades radiais e movimentos próprios para o aglomerado, concluı́ram que NGC 6553 pertence ao disco espesso. Pritzl et al. (2005) recalcularam os parâmetros orbiatis de NGC 6553 e o classificaram como um aglomerado globular do disco fino dada a órbita circular encontrada. Comparar o padrão de abundâncias quı́micas de estrelas de aglomerados com os de estrelas de campo é fundamental na interpretação fı́sica dos processos dominantes em cada ambiente, principalmente no caso do bojo da Galáxia onde as condições de observação são ainda adversas. No entanto, comparações deste tipo exigem cuidados especiais para evitar que incertezas sistemáticas levem a interpretações errôneas dos resultados. Sendo assim, escolhemos preferencialmente trabalhar com a amosta do campo do bojo de Lecureur et al. (2007), uma vez que as linhas, modelos de atmosferas, códigos de sı́ntese e método de análise em si são similares aos do presente trabalho. Na figura 3.10 comparamos as razões [(α:Z-ı́mpar)/Fe] do presente trabalho com os de estrelas gigantes do bojo da Galáxia determinadas por Lecureur et al. (2007) e com estrelas anãs do disco espesso obtidas por Reddy et al. (2006). Da figura 3.10 nota-se a perfeita similaridade entre a metalicidade média de NGC 6553 e as estrelas de campo do bojo. Embora a metalicidade de NGC 6553 coincida, aproximadamente, com o final da distribuição das estrelas do disco espesso apresentadas na figura, [(O:Mg)/Fe] de NGC 6553 seguem, na média, o padrão das estrelas de campo do bojo. Nossos resultados sugerem que NGC 6553 esteja de fato associado à componente do bojo Galáctico. Além disso, com base na sua idade (Ortolani et al. 1995), dificilmente NGC 6553 pertenceria ao disco fino da Galáxia como propõem Pritzl et al. (2005). Os resultados de abundâncias para os elementos α (O, Mg, Si, Ca, Ti) sugerem, ainda, que a formação do bojo aconteceu de forma rápida num ambiente dominado por estrelas de mais alta massa (SNs Tipo II), com pouca contribuição das estrelas menos massivas (SNs Tipo Ia) dentro da idéia da formação do bojo clássico (seção 1 deste capı́tulo) ou formação dos aglomerados globulares ricos em metais através de processos de coalescência ou mergings na parte mais central da Galáxia (Ashman & Zepf 1992; Beasley et al. 2002). Vale destacar, porém, que num trabalho recente com 19 espectros de alta resolução (R= 50000) e alta razão S/N do bojo da Galáxia e 49 estrelas gigantes de comparação do 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 82 1 0.5 0 a] 1 0.5 0 b] 1 0.5 0 c] 1 0.5 0 d] -1 -0.5 0 0.5 Figura 3.10: Padrão [α/Fe] de abundâncias nas quatro estrelas de NGC 6553 (cı́rculos fechados) comparado com as estrelas de campo do bojo (cı́rculos abertos) de Lecureur et al. (2007) e em estrelas de campo do disco espesso (cruzes) de Reddy et al. (2006). 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 83 disco fino, do disco espesso e do halo, ambos obtidos com o espectrógrafo PHOENIX do Gemini Sul, obtivemos razões [(C:N:O)/Fe] para as amostras e os nossos resultados de [O/Fe] confirmam que o disco espesso e o disco fino da Galáxia apresentam históricos diferentes de formação uma vez que as suas razões [O/Fe] são distintas (figura 3.11). No entanto, pela primeira vez, Meléndez et al. (2008) mostraram que as razões [O/Fe] de estrelas gigantes do disco espesso e do bojo da Galáxia, analisadas de forma homogênea e sistemática apresentam a mesma razão [O/Fe] até [Fe/H] = −0.2, ou seja, no regime de metalicidade onde o disco espesso é identificado. Este nosso trabalho sugere que não há distinção quı́mica entre o bojo e o disco espesso e que ambas sub-componentes experimentaram taxas de formação similares, contrariamente aos resultados encontrados em estudos anteriores (Zoccali et al. 2006; Fulbright et al. 2007; Lecureur et al. 2007). Desta forma, as razões [O/Fe] das 19 estrelas analisadas sugerem que ambas populações (disco espesso e bojo) experimentaram escalas de tempo de formação, taxas de formação estelar e IMFs similares. A questão de distinção entre bojo e o disco espesso está portanto em aberto. 3.4.5 Elementos Z-ı́mpar: [Na/Fe], [Al/Fe] Os processos fı́sicos envolvidos na produção do Na e do Al são relativamente bem conhecidos, porém há ainda uma discussão sobre os ambientes astrofı́sicos propı́cios à produção destes elementos. Os resultados de abundâncias quı́micas levam ao estabelecimento de três diferentes ambientes onde os elementos Na e Al seriam sintetizados: nas estrelas massivas (M & 8M ), nas estrelas de massa intermediária (3 . M . 8 M ) e nas estrelas de baixa massa (M . 2M ). Nas estrelas massivas, a produção do sódio está diretamente ligada à fase de queima hidrostática do carbono. Neste caso, devido a forte dependência com o excesso de nêutrons no núcleo atômico, os produtos resultantes são linearmente dependentes da metalicidade (Woosley & Weaver 1995). No caso das estrelas de massa intermediária, a produção do sódio estaria associada às capturas de prótons através do ciclo Ne-Na na base do envelope convectivo de estrelas no ramo assimptótico das gigantes (AGB, Asymptotic Giant Branch), enquanto que o alumı́nio seria produzido pelo mesmo processo de captura, porém em temperaturas mais elevadas através do ciclo Mg-Al (por exemplo, Langer et al. 1993). Já nas estrelas de baixa massa, ambos elementos seriam produzidos nas camadas mais internas do envelope da estrela durante a queima hidrostática do hidrogênio e efeitos de dragagem (mixing) conduziriam os produtos resultantes da queima para a atmosfera das estrelas (Weiss et al. 2000). 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 84 Figura 3.11: Painel superior: Razão [O/Fe] para gigantes do bojo (triângulos em vermelho), do disco espesso (cı́rculos cheios em azul), do disco fino (cı́rculos abertos em verde) e do halo (estrelas). Painel inferior: Razão [(C+N)/Fe] de abundância para gigantes do bojo (triângulos em vermelho), do disco espesso (cı́rculos cheios em azul), do disco fino (cı́rculos abertos em verde) e do halo (estrelas). Barras tı́picas de erro são apresentadas na figura. 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 85 Para o sódio e o alumı́nio obtivemos [Na/Fe] = +0.16 ± 0.23 e [Al/Fe] = +0.18 ± 0.06 como valores médios. Não foram efetuadas quaisquer correções para possı́veis desvios do ETL nas linhas de Na e Al estudadas. A alta dispersão no valor médio do sódio deve-se ao fato de que a estrela II-85 da amostra apresenta alto valor na abundância, [Na/Fe]=+0.34, enquanto que as outras três estrelas apresentam abundância solar. Dada a localização das estrelas no diagrama cor-magnitude, este resultado é compatı́vel com o mixing ocorrendo ao longo do RGB (Gratton et al. 2004) e, para verificar este aspecto, seria interessante derivar as abundâncias de nitrogênio para a amostra. Outro aspecto interessante seria investigar a relação Na:Al para esta estrela, mas as linhas de Al em NGC 6553 II-85 eram inutilizáveis. Em NGC 6528, Zoccali et al. (2004) encontraram sobreabundância de sódio nas duas estrelas analisadas. Os resultados [Na/Fe] para as estrelas de campo do bojo de Lecureur et al. (2007) com [Fe/H] entre −0.25 ≤ [Fe/H] ≤ −0.15 são bem espalhados e, interessantemente, as estrelas de NGC 6553 tendem a apresentar espalhamento similar (ver figura 3.10). Por outro lado, as razões [Al/Fe] das estrelas de campo do bojo em [Fe/H] ≈ −0.2 são maiores do que as estrelas de NGC 6553, que seguem o padrão do disco espesso. 3.4.6 Elementos do pico do ferro: [Mn/Fe], [Cu/Fe], [Zn/Fe] Com raras exceções, as abundâncias dos denominados elementos do pico do ferro têm sido negligenciadas no estudo da evolução quı́mica da Galáxia, sobretudo nas populações ricas em metais. Para estrelas de campo do bojo, por exemplo, a única análise concernente ao Mn, Cu e Zn são os trabalhos de McWilliam et al. (2003a,b) (Mn) e as recentes determinações de Cohen et al. (2008) (Mn, Cu e Zn) para uma estrela anã em eventos de microlentes gravitacionais. As abundâncias de Cu para estrelas de campo do bojo são completamente desconhecidas até o momento. Esta lacuna deve-se a fatores teóricos e observacionais. Primeiro, há uma carência na determinação precisa da força de oscilador das linhas atômicas destas espécies e cálculos de HFS para o Mn e Cu precisam ser levados em conta, ou seja, necessita-se de medidas de laboratório precisas das constantes A e B de HFS destas espécies. Segundo, muitas das estrelas estudadas são brilhantes e frias, o que dificulta a análise das abundâncias destes elementos no óptico. Nesta parte do trabalho, obtivemos as razões de abundância para Mn, Cu e Zn em nossa amostra de NGC 6553 e, para efeito de comparação, em estrelas de 47 Tucanae e NGC 6528, dois outros aglomerados globulares ricos em metais já estudados pelo grupo (Zoccali et al. 2004; Alves-Brito et al. 2005). Estas razões de abundâncias funcionam como 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 86 Tabela 3.9: Razões de abundância média para Mn, Cu, e Zn para estrelas em NGC 6553, 47 Tuc e NGC 6528. Estrela (1) [Fe/H] (2) N (3) [Mn/Fe] (4) N (5) [Cu/Fe] (6) N (7) [Zn/Fe] (8) N (9) 47 Tucanae M8 M11 M12 M21 M25 −0.62 −0.62 −0.63 −0.77 −0.64 ± ± ± ± ± 0.11 0.11 0.11 0.11 0.11 Média −0.66 ± 0.07 122 113 119 124 130 −0.34 ± 0.06 −0.32 ± 0.10 −0.32 ± 0.13 −0.42 −0.54 2 2 2 2 2 +0.09 ± 0.07 +0.01 ± 0.10 +0.09 ± 0.07 −0.06 −0.13 ± 0.11 2 2 2 1 2 0.00 0.00 0.00 0.25 −0.10 1 1 1 1 1 5 −0.39 ± 0.09 5 0.00 ± 0.09 5 +0.03 ± 0.13 5 NGC 6553 II-64 II-85 III-8 267092 −0.20 −0.23 −0.17 −0.21 ± ± ± ± 0.15 0.15 0.15 0.12 56 52 59 57 −0.25 −0.25 −0.35 −0.35 3 2 2 2 −0.30 +0.02 −0.20 −0.10 1 1 1 3 +0.20 +0.22 +0.15 +0.15 1 1 1 1 Média −0.20 ± 0.02 4 −0.35 ± 0.06 4 −0.10 ± 0.14 4 +0.18 ± 0.04 4 NGC 6528 I-18 I-36 I-42 Média −0.05 −0.13 −0.14 50 50 50 −0.39 −0.59 −0.34 ± 0.07 2 2 2 −0.21 +0.10 — 1 1 — +0.10 −0.20 — 1 1 — −0.11 ± 0.05 3 −0.44 ± 0.13 3 −0.05 ± 0.22 2 −0.05 ± 0.22 2 importantes vı́nculos observacionais para entender a SFR em regimes de alta metalicidade da Galáxia, além de trazer vı́nculos importantes sobre a formação destes elementos. Os nossos principais resultados são que exceto para MnI os outros elementos do pico do ferro estudados apresentam abundâncias médias variando de valores subsolar até ± 0.18 dex. Encontramos valores médios de h[Mn/Fe]i = −0.39 ± 0.09, −0.35 ± 0.06 e −0.44 ± 0.13; h[Cu/Fe]i = +0.00 ± 0.09, −0.10 ± 0.14 e −0.05 ± 0.22; h[Zn/Fe]i = +0.03 ± 0.13, +0.18 ± 0.04 e −0.05 ± 0.22 para 47 Tucanae (5 estrelas), NGC 6553 (4 estrelas) e NGC 6528 (2 estrelas), respectivamente. Os resultados estão resumidos na tabela 3.9. Embora saibamos da teoria de evolução estelar que no final da vida de uma estrela massiva o ferro e os elementos do pico ferro serão produzidos em grande quantidade, são as 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 87 estrelas menos massivas e em sistemas binários (progenitoras das explosões de SNs Tipo Ia) as principais responsáveis pelo enriquecimento quı́mico do meio interestelar em ferro e elementos do pico do ferro. A principal explicação é que nos eventos de SNs Tipo II a intensidade do campo gravitacional da estrela bem como a estrela de nêutron formada retêm grande quantidade do material quı́mico produzido. Sendo assim, de maneira geral, os elementos do pico do ferro podem também ser produzidos num variado intervalo de massas estelares. Entretanto, os principais ambientes astrofı́sicos para sı́ntese de elementos particulares do pico do ferro— se estrelas de alta massa, massa intermediária ou baixa massa —, ainda é motivo de debate na literatura (por exemplo, Arnett et al. 1971; Woosley & Weaver 1995; Iwamoto et al. 1999; Umeda & Nomoto 2002), o que torna imprescindı́vel que suas abundâncias quı́micas sejam obtidas em diferentes regimes de metalicidade e tipos estelares. Com o objetivo de traçar a história de evolução quı́mica destes elementos na cauda de mais alta metalicidade da MDF comparamos os nossos resultados com trabalhos prévios focados nos elementos do pico do ferro a mais alta metalicidade: Aglomerados globulares: usamos os valores médios para o aglomerado globular rico em metais M71 ([Fe/H] = −0.70), o qual foi analisado por Ramı́rez & Cohen (2002). Aglomerados abertos: adotamos os resultados recentes com base em dados de alta resolução de Carretta et al. (2005) em Collinder 261 ([Fe/H] = −0.03), que está entre os mais velhos dos aglomerados abertos e em NGC 3960 ([Fe/H]= −0.12), um aglomerado aberto de idade intermediária, numa análise realizada por Bragaglia et al. (2006). Estrelas de campo do disco: usamos dados de Reddy et al. (2003, 2006). O primeiro trabalho refere-se a uma análise detalhada para 27 elementos em 181 estrelas tipos F e G tipicamente do disco fino, com metalicidades variando de −0.69 ≤ [Fe/H] ≤ +0.00 e o segundo trabalho refere-se a uma análise de abundâncias em estrelas tipos F e G do disco espesso. Estrelas de campo do bojo: nós comparamos as razões de abundâncias da nossa amostra com as obtidas por McWilliam et al. (2003a,b) para 7 estrelas do bojo (−1.28 ≤ [Fe/H] ≤ +0.35). Galáxia anã esferoidal Sagittarius (dSph, dwarf spheroidal): usamos resultados de duas diferentes análises em estrelas individuais (−1.58 ≤ [Fe/H] ≤ +0.03) para duas estrelas analisadas em Bonifacio et al. (2000) e 14 estrelas gigantes vermelhas analisadas por McWilliam et al. (2003a,b) e McWilliam et al. (2005). Manganês A figura 3.12 apresenta as razões de abundâncias em função da metalicidade para as diferentes amostras acima. Nota-se, em linhas gerais, que a razão [Mn/Fe] tende a depen- 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 88 der da metalicidade no sentido de que a razão [Mn/Fe] é maior no regime de mais alta metalicidade. Os valores médios de [Mn/Fe] para NGC 6553 e NGC 6528, os dois aglomerados globulares do bojo, seguem o comportamento das estrelas enriquecidas em metais da galáxia anã Sagittarius como analisadas por McWilliam et al. (2003a,b). Vale notar que as abundâncias de manganês nestes aglomerados são discrepantes com as estrelas de campo do bojo dentro de 1 a 2σ, enquanto que as metalicidades entre os aglomerados do bojo e a média das estrelas de campo são compatı́veis. Vale salientar, no entanto, que os resultados de Bonifacio et al. (2000) para Sagittarius estão em perfeito acordo com o comportamento para as estrelas de campo do bojo e, consequentemente, em desacordo com os resultados obtidos para as estrelas de Sagittarius em McWilliam et al. (2005). Supondo que as medidas de [Mn/Fe] para as 7 estrelas de campo estão corretas e, em princı́pio estão, pois cálculos de HFS foram levados em consideração na determinação da razão [Mn/Fe], uma primeira interpretação para a discrepância entre as abundâncias de manganês nos aglomerados globulares ricos em metais e as estrelas de campo do bojo seria que a formação dos aglomerados deu-se a partir de processos completamente diferentes das estrelas de campo. No entanto, este não parece ser o caso pois as razões [α/Fe] dos aglomerados globulares ricoes em metais e do campo do bojo são similares, enquanto que as galáxias anãs apresentam razão [α/Fe] bem distinta das duas populações acima citadas. Outro aspecto interessante é que a razão [Mn/Fe] em Terzan 7 ([Fe/H]= −0.61 e [Mn/H] = −0.61), um aglomerado globular que foi provavelmente acretado pela galáxia anã Sagittarius, é completamente distinta da razão [Mn/Fe] da sua galáxia hospedeira (Tautvaisiene et al. 2004). Isso nos revela a complexidade em interpretar a história de evolução quı́mica da Galáxia em termos da IMF ou da SFR e, claramente, mais análises quı́micas de forma homogênea para grandes amostras de estrelas de campo e em aglomerados ricos em metais são ainda necessárias. Dentro das incertezas dos resultados, 47 Tucanae e M71, por sua vez, seguem o padrão [Mn/Fe] das estrelas de campo do disco, do bojo e dos aglomerados abertos. Na figura 3.12 são ainda mostradas as previsões teóricas de modelos de evolução quı́mica descrevendo o comportamento [Mn/Fe] em função de [Fe/H] para a vizinhança solar (linha pontilhada) e para o bojo da Galáxia (linha cheia). Os modelos foram construı́dos pela Dra. Gabriele Cescutti do INAF (Instituto Nazionale di Astrofisica) na Itália. Os yields de Mn e Fe foram os mesmos adotados em François et al. (2004) que se baseiam nos produtos de Woosley & Weaver (1995) e Iwamoto et al. (1999). Vê-se claramente da figura que para [Fe/H] ≥ −1.5 o modelo de evolução quı́mica para o comportamento [Mn/Fe]:[Fe/H] 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 89 para o bojo da Galáxia prevê razões [Mn/Fe] mais baixas do que as mesmas razões na vizinhança solar , sendo que o acordo entre os resultados para os dois aglomerados do bojo analisados e o modelo teórico para o bojo é muito bom. As estrelas de campo do bojo analisadas por McWilliam et al. (2003a,b) seguem o padrão da vizinhança solar. Este comportamento poderia ser pacialmente explicado pelo fato de ambas curvas teóricas terem sido construı́das admitindo yields independentes da metalicidade. No entanto, mesmo que os resultados teóricos fossem melhorados admitindo yields dependentes da metalicidade, ainda assim nossos resultados para NGC 6553 e NGC 6528 estariam de acordo com as previsões teóricas. Cobre Entre os elementos dos pico do ferro, cobre e manganês são os dois elementos que apresentam os valores mais baixos de abundância quı́mica. Na figura 3.13, com sı́mbolos similares aos apresentados na figura 3.12, apresentamos as nossas abundâncias comparadas a outros resultados da literatura. Nota-se que as medidas de [Cu/Fe] em NGC 6553 e NGC 6528 seguem o comportamento dos outros objetos ricos e à mesma metalicidade e, contrariamente ao caso do [Mn/Fe], as razões de abundância [Cu/Fe] entre os aglomerados do bojo e as estrelas de Sagittarius diferem por até 0.50 dex. Uma subabundância de cobre a altas metalicidades indica enriquecimento quı́mico pelas SNs Tipo Ia. Seria interessante comparar as razões [Cu/Fe] em estrelas de campo do bojo com as obtidas no presente trabalho para NGC 6553 e NGC 6528, mas não há até o momento medidas de cobre para estrelas de campo do bojo. Por outro lado, uma vez demonstrado que [Cu/Fe] em estrelas de campo do bojo, do disco e de aglomerados globulares da Galáxia comportase de fato diferente das estrelas de galáxias anãs, [Cu/Fe] poderá ser usado como um indicador de objetos extragalácticos que foram acretados durante os estágios de evolução destes objetos. No entanto, as abundâncias de cobre também dependem fortemente dos cálculos de HFS e possı́veis erros sistemáticos devem ser previamente levados em conta. Zinco Do ponto de vista observacional a razão [Zn/Fe] é usada como traçadora de metalicidade tanto na Galáxia quanto em sistemas Lyman-α (Pettini 2004; Wolfe et al. 2005), tornandose portanto essencial no entendimento da relação idade-metalicidade no universo. Pela figura 3.14 notamos que as medidas de [Zn/Fe] para NGC 6553, NGC 6528 e 47 Tucanae seguem o comportamento das estrelas do disco e tendem a apresentar valores solares ou pouco abaixo da abundância solar. O alto valor da razão [Zn/Fe] em M71, 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 90 0.5 globular clusters open clusters thin- and thick-disk dwarf spheroidal galaxies bulge 0 -0.5 -1 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 Figura 3.12: [Mn/Fe] versus [Fe/H] para diferentes amostras de estrelas: (i) abundância média para os aglomerados globulares ricos em metais neste trabalho e em M71 com dados de Ramı́rez & Cohen (2002) (cı́rculos fechados). As barras de erro correspondem à dispersão dos dados. (ii) Aglomerados abertos analisados por Carretta et al. (2005) e Bragaglia et al. (2006) (cı́rculos abertos). (iii) Estrelas de campo do disco com dados de Reddy et al. (2003, 2006) (cruzes). (iv) Galáxia anã Sagittarius com dados de Bonifacio et al. (2000) (pentágonos) e McWilliam et al. (2003a,b) (quadrados), e (v) estrelas de campo do bojo de McWilliam et al. (2003a,b) (triângulos). A linha pontilhada na figura corresponde ao comportamento esperado para a vizinhança solar, equanto que a linha cheia corresponde ao que se espera para o bojo da Galáxia. Ambas previsões teóricas foram fornecidas pela Dra. Gabriele Cescutti. 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 91 0.4 0.2 0 -0.2 -0.4 -0.6 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 Figura 3.13: [Cu/Fe] versus [Fe/H]. Exceto para Sagittarius, cujas razões foram obtidas por McWilliam et al. (2005), os sı́mbolos e referências são como dados na figura 3.12. 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 92 0.6 0.4 0.2 0 -0.2 -0.4 -1 -0.5 0 Figura 3.14: [Zn/Fe] em função da metalicidade [Fe/H]. Sı́mbolos e referências são como dados na figura 3.12. maior em mais de 2σ quando comparado à média da razão [Zn/Fe] dos aglomerados deste trabalho, deve-se, provavelmente, ao fato de Ramı́rez & Cohen (2002) terem usado a linha ZnI 6362 Å, que apresenta blends com uma linha de FeI e é alargada pela autoinoização do cálcio na região. Dada as similaridades em [Fe/H] e idade entre M71 e 47 Tucanae, não esperávamos tamanha discrepância entre as nossas medidas de [Zn/Fe] para 47 Tucanae com as medidas de Ramı́rez & Cohen (2002) para M71. Este exemplo ilustra como os diferentes métodos na análise das estrelas em diferentes objetos podem causar discrepâncias consideráveis nos valores finais de abundância. Cohen et al. (2008) determinaram uma razão [Zn/Fe] ≈ −0.1 para uma estrela anã do bojo no evento de microlente gravitacional OGLE-2007−BLG-349S, o que representa a primeira medida de zinco em estrelas de campo do bojo. Este resultado, dentro das incertezas, está compatı́vel com o valor médio obtido para NGC 6528, mas muito abaixo da razão de 0.18 dex obtida para NGC 6553. Mais medidas de [Zn/Fe] em diferentes amostras de estrelas no regime de alta metalicidade e, sobretudo, em estrelas de campo do bojo, ajudarão a revelar o ambiente astrofı́sico predominante na formação de zinco, por exemplo, se o zinco seria formado pela captura de nêutron nos processos s e r como sugerem Heger & Woosley (2002). 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 3.4.7 93 Elementos pesados: [Zr/Fe], [Ba/Fe], [La/Fe], [Eu/Fe] Zircônio (Z = 40), bário (Z = 56), lantânio (Z = 57) e európio (Z = 63), bem como todos os outros elementos quı́micos mais pesados que os elementos do pico do ferro da tabela periódica, não são eficientemente produzidos pela interação carga-partı́cula devido a intensa repulsão coulombiana instaurada no núcleo estelar. Eles são produzidos através de reações de captura de nêutrons as quais são seguidas por decaimentos de elétrons ou decaimento β (Meyer 1994). Os processos de captura de nêutrons dividem-se em rápidos (r, rapid) e lentos (s, slow). No primeiro, a densidade de nêutrons em um dado ambiente astrofı́sico é alta, alcançando nneutrons > 1020 partı́culas por cm−3 de forma que o núcleo não tem tempo para quaisquer decaimentos β antes que outro processo de captura ocorra. No segundo, a densidade de nêutrons é baixa, atingindo nneutrons ≤ 1010 partı́culas por cm−3 de forma que a escala de tempo para as sucessivas capturas de nêutrons é menor que o tempo de decaimento β. A fı́sica que controla os processos de captura de nêutrons é bem estabelecida, mas há ainda um intenso debate na literatura sobre os ambientes propı́cios à sı́ntese dos elementos do processo r. Os ambientes astrofı́sicos onde estes processos ocorrem são importantes laboratórios para descrever em detalhes os mecanismos de nucleossı́ntese destes elementos. Os elementos do processo s com massa atômica A ≈ 90 (componente fraca) são sintetizados no núcleo de estrelas massivas em fase de queima nuclear de He, onde a principal fonte de captura de nêutrons dar-se pela reação 22 Ne(α,n)25 Mg (Cameron 1960). As outras duas componentes do processo s, componente principal e componente forte, dominam a formação dos elementos da Tabela Periódica com massas atômicas entre 90 ≤ A ≤ 208. Estes elementos são sintetizados durante a fase de pulsos térmicos nas camadas de He de estrelas de baixa massa e de massa intermediária do ramo assimptótico das gigantes em ambiente propı́cio para a reação fonte 13 C(α,n)16 O dominar (para uma revisão ver Woosley & Weaver 1995; Wallerstein et al. 1997; Nomoto et al. 1997; Busso et al. 1999; Truran et al. 2002, e referências listadas). Para o zircônio (A = 91), oriundo do primeiro pico de nêutrons no número mágico N = 50, encontramos uma razão média de [Zr/Fe] = −0.67 ± 0.05. Para o bário (A = 137), elemento mais pesado que o Zr e oriundo do segundo pico de nêutrons no número mágico N = 82, encontramos uma subabundância de [Ba/Fe] = −0.28 ± 0.18 para NGC 6553, em contraste com um alto valor para 47 Tucanae (Alves-Brito et al. 2005), valor moderado na análise para estrelas de campo do bojo (McWilliam & Rich 1994) e valor solar em NGC 6528 (Zoccali et al. 2004), aglomerado globular rico em metais do bojo similar a NGC 6553. Para o lantânio (A = 139), também formado no segundo pico de 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação 94 nêutrons, encontramos uma subabundância de [La/Fe] = −0.11 ± 0.16. Subabundâncias de elementos do processo s em aglomerados globulares da Galáxia podem ser interpretadas como indicador da idade velha destes objetos, o que confirma resultados oriundos de fotometria analisando os diagramas cor-magnitude dos aglomerados (Ortolani et al. 1995). Os sı́tios astrofı́sicos onde ocorreriam os processos de captura rápida de nêutron são ainda motivo de debate e controvérsia na literatura (Magain 1995; Cowan et al. 1999), contudo, devido ao alto fluxo de nêutron, a sı́ntese de elementos do processo r parece estar associada a eventos explosivos como as SNs do Tipo II. No caso do európio, nós econtramos uma abundância média moderada de [Eu/Fe] = +0.10 ± 0.02 dex, que é compatı́vel com os valores de abundância para outros elementos α da amostra. Isso sugere uma conexão entre os ambientes astrofı́sicos de formação de ambas classes de elementos. Os nossos resultados reforçam a idéia de que os elementos α e os elementos do processo r teriam uma origem similar associada a eventos explosivos de SNs Tipo II. 3.4.8 Incertezas nas abundâncias Na tabela 3.10 apresentamos as abundâncias médias das N linhas de cada espécie e na última coluna da tabela as abundâncias médias de cada espécie atômica para todas as N ∗ estrelas analisadas. II-64 Espécie (X)a N II-85 [X/Fe] N III-8 [X/Fe] N 267092 [X/Fe] N [X/Fe] Média [X/Fe] Elementos α Mg I Si I Ca I Ti I Ti II 7.58 7.55 6.36 5.02 5.02 3 6 15 15 2 +0.32 +0.27 +0.11 +0.04 +0.06 ± ± ± ± ± 0.09 0.09 0.12 0.08 0.04 3 4 14 15 2 +0.27 +0.22 ± 0.08 +0.12 ± 0.09 +0.15 ± 0.11 +0.01 ± 0.11 3 +0.29 ± 6 +0.17 ± 15 +0.05 ± 15 −0.05 ± 2 −0.04 ± 0.03 0.07 0.14 0.10 0.04 3 +0.22 ± 0.09 +0.28 ± 0.04 6 +0.17 ± 0.03 +0.21 ± 0.05 15 −0.07 ± 0.13 +0.05 ± 0.09 15 −0.17 ± 0.15 −0.01 ± 0.14 2 −0.07 −0.02 ± 0.06 Elementos Z-ı́mpar Na I Al I 6.33 6.47 2 2 +0.12 +0.25 ± 0.03 3 — +0.34 — 2 2 −0.08 +0.15 ± 0.17 2 2 +0.12 +0.13 +0.16 ± 0.23 +0.18 ± 0.06 1 2 — 1 −0.64 −0.38 — +0.14 −0.67 −0.28 −0.11 +0.10 Elementos pesados Zr I Ba II La II Eu II 2.60 2.13 1.17 0.51 1 2 1 1 −0.74 −0.08 +0.01 +0.09 1 2 1 1 −0.64 −0.18 ± 0.14 −0.22 +0.09 1 −0.64 2 −0.48 ± 0.14 — — 1 +0.10 ± ± ± ± 0.05 0.18 0.16 0.02 [Fe/H] Fe I Fe II a 7.50 7.50 56 −0.20 ± 0.15 4 −0.20 ± 0.01 52 −0.23 ± 0.15 2 −0.29 ± 0.09 59 −0.17 ± 0.15 3 −0.17 ± 0.04 57 −0.21 ± 0.12 −0.20 ± 0.02 4 −0.22 ± 0.06 −0.22 ± 0.05 3.4 Razões de abundâncias quı́micas: resultados, comparações e interpretação Tabela 3.10: Abundâncias médias obtidas. Padrão de abundância solar: Grevesse & Sauval (1998). 95 3.5 Histórico de enriquecimento quı́mico em NGC 6553 e aglomerados globulares ricos em metais da Galáxia 96 As incertezas apresentadas nas tabelas 3.10 e 3.11 correspondem ao desvio padrão das medidas levando em conta o número de linhas usado em cada espécie. No entanto, a acurácia das análises detalhadas dependem das incertezas sobre os parâmetros atmosféricos, dos modelos de atmosferas e dos parâmetros atômicos. Estas duas últimas fontes de erros são as incertezas sistemáticas sobre os resultados finais e dependem de incertezas sobre os loggf, sobre o ajuste no espectro sintético, mistura com outras linhas e ajuste do continuum. Para estimarmos a dependência dos nossos resultados com os parâmetros atmosféricos para os elementos α, Z-ı́mpar e pesados, escolhemos a estrela II-64 da amostra para variar os seus parâmetros atmosféricos de ∆T = ± 100 K, ∆logg = ± 0.30 e ∆v t = ± 0.20 kms−1 , que foram os valores tı́picos de incertezas estimadas na subseção 3.3. Variando cada parâmetro por vez e fixando os demais, novos espectros sintéticos foram calculados e a diferença em abundância para cada espécie adotando o novo valor do parâmetro atmosférico foi interpretada como a incerteza associada da medida. A tabela 3.11 apresenta os resultados. Para avaliar as incertezas sobre os elementos do pico do ferro adotamos procedimento similar ao explicado acima e, cada estrela escolhida nos diferentes aglomerados, bem como as respectivas variações na abundância, são também apresentadas na tabela 3.11. O erro total apresentado na última coluna das tabela 3.11 corresponde à quadratura das incertezas individuais. Da tabela 3.11 constatamos que exceto para as razões [Cu:Zn/Fe] em NGC 6528, principalmente devido ao número limitado de linhas e estrelas, nossas medidas de abundância para os elementos do pico do ferro apresentam relativamente pequeno espalhamento (σ ≤ 0.14) e pequena variação intra-aglomerado. 3.5 Histórico de enriquecimento quı́mico em NGC 6553 e aglomerados globulares ricos em metais da Galáxia Nesta seção comparamos algumas das razões médias de abundâncias obtidas neste trabalho para NGC 6553 com o padrão de abundâncias quı́micas em 4 outros aglomerados globulares ricos em metais estudados em nosso Grupo de Pesquisa — HP-1, NGC 6558, 47 Tucanae e NGC 6528 —, bem como com o padrão de abundâncias quı́micas recentemente obtido por Lecureur et al. (2007) para estrelas de campo no bojo da Galáxia e para estrelas de campo do disco espesso obtidos por Reddy et al. (2006). A tabela 3.12 apresenta as razões médias de abundâncias quı́micas obtidas para uma 3.5 Histórico de enriquecimento quı́mico em NGC 6553 e aglomerados globulares ricos em metais da Galáxia 97 Tabela 3.11: Erros estimados sobre as abundâncias variando ∆Teff = ±100 K, ∆log g = ±+0.3 e ∆vt = ±0.2 km s−1 . O erro total é dado na última coluna. P Espécie ∆T ∆log g ∆vt ( x2 )1/2 (1) (2) (3) (4) (5) NGC 6553 : II-64 [NaI/Fe] [MgI/Fe] [AlI/Fe] [SiI/Fe] [CaI/Fe] [TiI/Fe] [TiII/Fe] [ZrI/Fe] [BaII/Fe] [LaII/Fe] [EuII/Fe] +0.08 −0.01 + 0.10 −0.10 +0.05 +0.10 +0.05 +0.20 +0.01 +0.01 +0.01 +0.02 −0.02 +0.00 −0.01 +0.01 +0.03 +0.20 +0.01 +0.05 +0.05 +0.06 −0.02 +0.01 +0.01 −0.05 − 0.15 − 0.10 +0.05 +0.01 − 0.20 +0.02 +0.01 +0.08 +0.02 +0.10 +0.11 +0.16 +0.14 +0.21 +0.20 +0.21 +0.05 +0.06 [FeI/H] [FeII/H] −0.03 +0.12 −0.04 −0.11 +0.07 +0.06 +0.09 +0.17 47 Tucanae : M11 [MnI/Fe] [CuI/Fe] [ZnI/Fe] +0.01 +0.05 −0.10 +0.02 +0.04 +0.03 −0.05 −0.08 −0.10 0.05 0.10 0.14 NGC 6553 : II-85 [MnI/Fe] [CuI/Fe] [ZnI/Fe] +0.04 +0.03 −0.04 +0.03 +0.04 +0.05 −0.03 −0.06 −0.10 +0.06 +0.08 +0.12 NGC 6528 : I-36 [MnI/Fe] [CuI/Fe] [ZnI/Fe] +0.05 +0.04 −0.05 +0.01 +0.03 +0.04 −0.01 −0.07 −0.10 +0.05 +0.09 +0.12 3.5 Histórico de enriquecimento quı́mico em NGC 6553 e aglomerados globulares ricos em metais da Galáxia 98 Tabela 3.12: Razões médias de abundâncias nos aglomerados globulares ricos em metais analisados pelo Grupo de Populações Estelares do IAG/USP. Espécie HP-1 (1) NGC 6558 (2) 47 Tuc (3) NGC 6553 (4) NGC 6528 (5) [Fe/H] Fe I Fe II −1.00 −0.97 ± 0.15 −0.64 ± 0.11 −0.20 ± 0.1102 −0.11 ± 0.20 −0.98 ... −0.67 ± 0.15 −0.22 ± 0.05 ... [X/Fe] C N O Na Mg Al Si Ca Ti Mn∗ Cu∗ Zn∗ Zr Ba La Eu ... ... +0.40 +0.00 +0.10 ... +0.30 +0.03 +0.07 ... ... ... ... 0.15 +0.00 +0.15 ... ... +0.38 ± 0.17 −0.09 ± 0.05 +0.24 ± 0.05 +0.02 ± 0.05 +0.23 ± 0.03 +0.05 ± 0.05 +0.06 ± 0.04 ... ... ... ... +0.13 ± 0.05 0.00 +0.36 ± 0.06 ... ... +0.35 −0.07 ± 0.03 +0.27 ± 0.05 +0.22 ± 0.04 +0.23 ± 0.08 −0.05 ± 0.10 +0.10 ± 0.14 −0.39 ± 0.09 +0.00 ± 0.09 +0.03 ± 0.13 −0.30 +0.23 ± 0.11 +0.12 +0.35 −0.60 ± +1.30 ± +0.20 ± +0.16 ± +0.28 ± +0.18 ± +0.21 ± +0.05 ± −0.01 ± −0.35 ± −0.10 ± +0.18 ± −0.67 ± −0.28 ± −0.11 ± +0.10 ± 0.12 0.22 0.30 0.23 0.04 0.06 0.05 0.09 0.14 0.06 0.14 0.04 0.05 0.18 0.16 0.02 0.00 +0.60 +0.15 +0.43 +0.07 ... +0.08 −0.40 −0.11 −0.44± 0.13 −0.05± 0.22 −0.05± 0.22 ... +0.03 ± 0.14 −0.15 ± 0.15 +0.15 Referências - 1: Barbuy et al. (2006) 2: Barbuy et al. (2007); 3: Alves-Brito et al. (2005); 4: Este trabalho (Alves-Brito et al. 2006); CNO de Meléndez et al. (2003) 5: Zoccali et al. (2004). *As razões [(Mn,Cu,Zn)/Fe] são como dadas em Alves-Brito et al. (2008c). variedade de elementos (3 ≤ Z ≤ 63) em todos os aglomerados globulares com metalicidade entre −1 ≤ [Fe/H] ≤ −0.11 analisados pelo Grupo de Populações Estelares do IAG/USP usando espectros de alta resolução e alta razão sinal-ruı́do obtidos com os espectrógrafos UVES e FLAMES do Very Large Telescope. 3.5 Histórico de enriquecimento quı́mico em NGC 6553 e aglomerados globulares ricos em metais da Galáxia 99 Oxigênio, magnésio, sódio e alumı́nio Da figura 3.15a, nota-se que a razão [O/Fe] em NGC 6553 e nos outros aglomerados globulares estudados em nosso Grupo de Pesquisa segue o comportamento geral das estrelas de campo do bojo com o decréscimo da razão [O/Fe] a mais altas metalicidades. Como anteriormente explicado, este comportamento é esperado no contexto da contribuição dos produtos da razão (SNs de Tipo II)/(SNs de Tipo Ia) ao meio interestelar da Galáxia. No caso do magnésio (figura 3.15b) vê-se que a razão média de [Mg/Fe] para NGC 6553, NGC 6558 e 47 Tucanae é praticamente constante ([Mg/Fe] ≈ +0.26), assim como as medidas de [Mg/Fe] nas estrelas de campo do bojo e do disco espesso. No entanto, para [Fe/H] . −0.3, as razões [Mg/Fe] nas estrelas de campo do bojo tendem a ser mais altas do que as estrelas do disco espesso, enquanto que para [Fe/H] & −0.3 as medidas de [Mg/Fe] para as estrelas de campo do bojo apresentam alta dispersão. HP-1 e NGC 6528, o mais pobre e o mais rico aglomerado globular, respectivamente, entre os aglomerados globulares estudados no nosso grupo, apresentam as mais baixas razões médias de [Mg/Fe] nas subcomponentes estelares comparadas. Na figura 3.15c nota-se ainda que os valores médios de [Na/Fe] de NGC 6553 e NGC 6528 seguem os valores das estrelas de campo do bojo em seus respectivos valores de metalicidade, enquanto que o comportamento geral da razão [Al/Fe] (figura 3.15d) é similar ao da razão de [Mg/Fe]. Portanto, não é claro das figuras 3.15b,d a existência de uma anticorrelação [Mg/Al] em função de [Fe/H] para os aglomerados ricos em metais estudados como esperado nos modelos de mixing profundo de Langer & Hoffman (1995), onde um considerável aumento na abundância de Al e Na é esperado às expensas de 25,26 Mg e 22 Ne, respectivamente. Langer & Hoffman (1995) prevêem ainda que uma subabundância de oxigênio por um fator 2.5 e 3 nas atmosferas estelares leva a um aumento na abundância de sódio por um fator de 4 ou 5, respectivamente. Faz-se assim necessário a obtenção de mais medidas de [(Mg:Al)/Fe] e [(Na:O)/Fe] para um maior número de estrelas em aglomerados globulares mais ricos que [Fe/H] ≥ −0.70 para averiguar se realmente há assinaturas dos processos de captura de prótons por intermédio dos ciclos CNO, Ne:Na e Mg:Al em aglomerados globulares no regime de mais alta metalicidade, como já verificado em aglomerados pobres em metais da Galáxia (Gratton et al. 2004). Bário, lantânio e európio Na figura 3.16 apresentamos a comparação das razões [Ba/Fe] (figura 3.16a), [Eu/Fe] (figura 3.16b) e [Ba/Eu] (figura 3.16c) para NGC 6553, NGC 6528, HP-1, 47 Tucanae e NGC 6558. Como até o momento não foram obtidas razões de abundâncias de elementos 3.5 Histórico de enriquecimento quı́mico em NGC 6553 e aglomerados globulares ricos em metais da Galáxia 100 1 0.5 0 a] 1 0.5 0 b] 1 0.5 0 c] 1 0.5 0 d] -1 -0.5 0 0.5 Figura 3.15: Razões médias de [O/Fe] (painel a) para NGC 6553, HP-1, NGC 6558, 47 Tucanae e NGC 6528 (cı́rculos fechados) comparadas ao padrão de abundâncias quı́micas das estrelas de campo do bojo (cı́rculos abertos) de Lecureur et al. (2007) e estrelas de campo do disco espesso (cruzes) de Reddy et al. (2006) com base em linhas de alto potencial de excitação OI em 7771 Å. As razões [Mg/Fe], [Na/Fe] e [Al/Fe] são apresentadas nos painéis (b), (c) e (d), respectivamente. 3.5 Histórico de enriquecimento quı́mico em NGC 6553 e aglomerados globulares ricos em metais da Galáxia 101 1 0.5 0 -0.5 a] -11 0.5 0 -0.5 b] -11 0.5 0 -0.5 c] -1 -1 -0.5 0 0.5 Figura 3.16: Razões médias de [Ba/Fe] (painel a), [Eu/Fe] (painel b) e [Ba/Eu] (painel c) para NGC 6553, HP-1, NGC 6558, 47 Tucanae e NGC 6528 (cı́rculos fechados) comparadas ao padrão de abundâncias quı́micas das estrelas de campo do disco espesso (cruzes) de Reddy et al. (2006). No painel c a linha cheia marca a razão [Ba/Eu] = −0.70, onde a contribuição na produção dos elementos pesados seria apenas pelo processo r. pesados em estrelas individuais (tipos espectrais K e M) de campo no bojo da Galáxia, não foi possı́vel fazer uma comparação direta entre as medidas no campo com as nossas medidas de [(elementos dos processos s e r)/Fe] em NGC 6553 e nos outros 4 aglomerados globulares estudados por nosso Grupo de Pesquisa. Sendo assim, comparamos os nossos resultados com as medidas [(Eu:Ba)/Fe] obtidas para estrelas de campo do disco espesso (Reddy et al. 2006). Vê-se da figura 3.16a que exceto para NGC 6553 todos os outros aglomerados globulares ricos em metais apresentam [Ba/Fe] ≥ 0, enquanto que as estrelas de campo do disco apresentam em geral [Ba/Fe] < 0 e com apenas poucas estrelas apresentando razões de [Ba/Fe] acima da abundância solar. As razões de abundâncias quı́micas de [Ba/Fe] & 0 para os aglomerados globulares ricos em metais podem ser interpretadas como uma 3.5 Histórico de enriquecimento quı́mico em NGC 6553 e aglomerados globulares ricos em metais da Galáxia 102 assinatura do enriquecimento quı́mico pelo processo s na nuvem que deu origem a estas estrelas de baixa massa dos aglomerados. Isso significa que houve tempo (longo perı́odo de formação estelar e perda de massa) para que as estrelas AGBs (3 ≤ M/M ≤ 8) enriquecessem o meio interestelar destes aglomerados. Da figura 3.16b nota-se que a razão [Eu/Fe] dos aglomerados globulares sobrepõe-se às medidas de [Eu/Fe] das estrelas de campo do disco espesso. Verifica-se ainda que a razão [Eu/Fe] de NGC 6553 e NGC 6528 parece seguir a queda [Eu/Fe] com a metalicidade, comportamento reminiscente da relação [O/Fe] em função de [Fe/H] para estes objetos (ver figura 3.15a), o que reflete a contribuição das SNs do Tipo Ia no regime de mais alta metalicidade e também sugere uma forte relação entre os sı́tios astrofı́sicos de formação dos elementos α e do európio. Usando modelos estelares de AGBs de baixa massa (1.5 ≤ M/M ≤ 3) e com metalicidade global Z = Z /2, Arlandini (1999) obtiveram a contibuição dos processos s e r na abundância solar de elementos pesados. Segundo eles, as contribuições dos processos s e r para a abundância solar de bário consiste de 81% e 19%, respectivamente. Nestes cálculos, o európio seria produzido predominantemente no processo r, com uma contribuição de 94%. Desta forma, através das abundâncias de cada isótopo de bário ( 134 Ba, 135 Ba, 136 Ba, 137 Ba e 138 Ba) e de európio (151 Eu, 153 Eu) apresentadas na tabela 2 de Arlandini (1999) para as diferentes componentes e admitindo abundância solar log(Ba) = 2.13 e log(Eu) = 0.51 (Grevesse & Sauval 1998), obtivemos a razão [Ba/Eu]r = −0.70 (linha cheia na figura 3.16c), ou seja, a contribuição pelo processo r à razão [Ba/Eu] de abundância solar relativa à abundância total. Da figura 3.16c conclui-se que todos os aglomerados globulares ricos em metais estudados em nosso grupo apresentam uma história de enriquecimento quı́mico incompatı́vel com a idéia de que apenas o processo r contribuiu para a sı́ntese de elementos pesados (Z > 26) da Tabela Periódica e que, além disso, a eficácia dos processos s e r nos aglomerados globulares ricos em metais é diferente para as estrelas de campo do disco espesso. No modelo clássico de auto-enriquecimento quı́mico em aglomerados (por exemplo, Cayrel 1986), os aglomerados se formam de uma nuvem gigante molecular primordial (metalicidade global Z = 0) em colapso, onde as estrelas que se formam nas nuvens gigantes são as principais responsáveis pela criação de elementos leves e pesados. Neste cenário, distinguem-se basicamente 3 gerações estelares: a primeira geração é constituı́da de estrelas massivas (M & 10M e tql . 108 anos) que são as progenitoras das SNs do Tipo II e responsáveis pelo enriquecimento do gás intra-aglomerado em elementos α, ferro e elementos pesados. Na explosão, ondas de choque se propagam na nuvem e levam a criação de um aglomerado denso nas regiões mais densas da nuvem. Sendo assim, esta primeira 3.5 Histórico de enriquecimento quı́mico em NGC 6553 e aglomerados globulares ricos em metais da Galáxia 103 geração de estrelas não participa da sı́ntese de elementos do processo s e, neste contexto, a razão [Ba/Eu] neste cenário deveria ser uma assinatura quı́mica da contribuição à sı́ntese dos elementos pesados puramente pelo processo r. A segunda geração de estrelas, por sua vez, forma-se do material já enriquecido pela geração anterior sendo que as estrelas desta segunda geração contribuirão basicamente com os produtos da queima hidrostática do hidrogênio. Finalmente, as estrelas de baixa massa observadas atualmente nos agloemrados globulares constituiriam a terceira geração de estrelas no cenário de auto-enriquecimento quı́mico. Elas já seriam formadas em um ambiente enriquecido em elementos α e elementos acima do pico do ferro e apresentariam alta dispersão na abundância dos elementos leves. Por outro lado, o cenário clássico de pré-enriquecimento quı́mico (por exemplo, Harris & Pudritz 1994), postula que os aglomerados globulares foram formados já com o padrão de elementos pesados observados hoje em dia, ou seja, que uma primeira geração de estrelas seria a responsável pela formação dos elementos leves enquanto que uma posterior contaminação do gás daria origem a próxima geração de estrelas. Desta forma, os nossos resultados de abudâncias quı́micas de elementos pesados em estrelas gigantes dos aglomerados globulares ricos em metais da Galáxia suportam o cenário de pré-enriquecimento quı́mico, uma vez que não encontramos indı́cios de que a razão [Ba/Eu] deva-se apenas pelo processo r, aliado ao fato de que encontramos uma forte homogeneidade nos resultados de [Eu/Fe] das amostras estudadas. Capı́tulo 4 Espectro combinado de alta razão sinal-ruı́do de NGC 6553 Neste capı́tulo apresentamos um procedimento experimental com o intuito de explorar o uso potencial do Very Large Telescope como um Extremely Large Telescope na análise quı́mica detalhada de um espectro combinado1 de estrelas individuais de NGC 6553 obtidas com o FLAMES@VLT. 4.1 Introdução Hoje em dia, graças à classe de telescópios de 8-10 m e aos espectrógrafos de alta resolução (20000 . R . 60000) é possı́vel obter espectros de estrelas gigantes do campo e em aglomerados globulares do bojo da Galáxia onde as condições extremas de observação, como o alto valor da extinção interestelar, dificultam a caracterização desta componente Galáctica. Não obstante, os espectros de estrelas gigantes vermelhas no bojo da Galáxia têm sido limitados a uma razão S/N por pı́xel variando entre 50 . S/N. 150, com tempo de integração de até algumas horas. Há basicamente duas formas de remediar a limitação observacional no bojo da Galáxia no que diz respeito ao aumento da acurácia nos resultados de abundâncias quı́micas: obter espectros com a nova geração de grandes telescópios (ELT, Extremely Large Telescope) previstos para entrar em operação dentro de ∼ 10 anos ou usar as microlentes gravitacionais (ver seção 1 do capı́tulo anterior), cujos eventos são aleatórios, não permitindo seleção prévia de amostras. 1 O conceito de espectro combinado que apresentamos neste trabalho n~ ao tem qualquer relaç~ ao com a idéia de espectro integrado usado em sı́ntese de populaç~ oes estelares. 4.1 Introdução 105 Sabemos, porém, que ao somarmos estatisticamente espectros de uma mesma estrela, a razão S/N do espectro resultante será superior à dos espectros individuais. Partindo deste princı́pio, o nosso grupo propõe um novo procedimento de análise quı́mica detalhada em espectros combinados de estrelas individuais em um mesmo estágio evolutivo no diagrama HR e, portanto, com parâmetros atmosféricos similares. Neste novo método, usando observações do Very Large Telescope construimos, assim, um espectro equivalente ao observado por um telescópio da classe de 30m. Usando o espectrógrafo FLAMES acoplado ao Very Large Telescope (Zoccali et al. 2008), apresenta a observação de cerca de 1000 estrelas (entre campo e aglomerados) do bojo Galáctico. A amostra selecionada contém estrelas de 1 magnitude acima do ramo horizontal no diagrama cor-magnitude dos objetos, com o intuito de evitar blends com bandas moleculares de TiO nas estrelas mais frias. Foram observadas estrelas gigantes em quatro campos do bojo Galáctico — na janela de Baade (l = 1◦ , b = −4◦ ), Blanco −6◦ (l = 0◦ , b = −6◦ ), Blanco −12◦ (l = 0◦ , b = −12◦ ) e janela NGC6553 (l = 5◦ , b = −3◦ ). O principal objetivo deste projeto é caracterizar quimicamente o bojo da Galáxia através das razões [X/Fe] de abundâncias quı́micas e definir a função distribuição de metalicidade para o bojo (Zoccali et al. 2006; Lecureur et al. 2007; Barbuy et al. 2007; Zoccali et al. 2008). A grande vantagem da amostra é o grande número de estrelas gigantes analisadas no bojo Galáctico, a qual constitui a maior amostra em alta resolução espectral existente. Como detalhado em Minniti et al. (2008) aplicamos com sucesso o novo método de combinar espectros individuais às estrelas gigantes dos quatro campos do bojo citados acima. Estes campos foram observados em quatro ordens do espectrógrafo FLAMES — HR11 (5600-5870 Å), HR13 (6120-6400 Å), HR14 [6380-6620 Å] e HR15 (6660-6860 Å). Foram combinadas cerca 200 estrelas gigantes vermelhas por campo totalizando aproximadamente 810 estrelas. Os espectros combinados são representativos de gigantes ricas em metais do bojo da Galáxia com magnitude visual V ' 16 e com parâmetros atmosféricos médios de hTeff i = 4600 K, hloggi = 2.00, h[Fe/H]i = 0.00 e h[α/Fe]i = 0.30. O espectro combinado resultante da soma de cerca de 810 estrelas apresenta alta razão sinal-ruı́do por pı́xel, variando entre 900 ≤ S/N ≤ 2100, o que equivale a espectros obtidos com cerca de 800 horas de exposição no VLT de 8 m ou 30 horas de exposição com um ELT de 42 m. Comparando os espectros combinados de cada campo do bojo foi confirmado que de fato há um gradiente de metalicidade no bojo da Galáxia como proposto por Minniti (1995). A metalicidade média dos espectros combinados diminui com o aumento da distância galactocêntrica (−12◦ ≤ b ≤ −3◦ ). Um gradiente de metalicidade no bojo da Galáxia é uma forte evidência observacional a favor da formação da Galáxia no contexto do cenário bojo clássico (Eggen et al. 1962; Kormendy & Kennicutt 2004). 4.2 Velocidades radiais 106 Com estes trabalhos (Minniti et al. 2008; Alves-Brito et al. 2008b), além de propormos um novo método de análise quı́mica em espectroscopia multi-objeto de alta resolução, disponibilizaremos na literatura cientı́fica espectros combinados de estrelas de campo e em aglomerados que serão referência no estudo de populações ricas em metais. As implicações e aplicações cientı́ficas deste novo método às estrelas de campo, NGC 6553, bem como outros aglomerados globulares ricos em metais são inúmeras: (i) Um espectro combinado com alta razão S/N é útil para a identificação e medida de linhas fracas (Wλ = 1mÅ) e de blends ao longo do espectro, aumentando a acurácia na determinação de abundâncias quı́micas. (ii) Espectros combinados podem ainda ser aplicados na identificação de linhas atômicas para cálculo de velocidades radiais. (iii) Espectros de alta razão S/N podem ser amplamente usados na definição de novos ı́ndices espectrais úteis na análise de espectros de baixa resolução e baixa razão S/N. (iv) Espectros combinados são fundamentais na determinação do pseudo-contı́nuo de objetos ricos em metais e de baixa razão S/N. (v) Espectros combinados podem ainda ser úteis na identificação de grupos estelares de campo com caracterı́sticas cinemáticas similares. (vi) Este novo método sinaliza para a possibilidade de estudar estrelas anãs de campo do bojo da Galáxia através do FLAMES@VLT. Desta forma, apresentamos neste capı́tulo uma aplicação do método de combinar espectros ao aglomerado globular rico em metais NGC 6553 e comparamos o espectro resultante com o espectro combinado para um dos campos do bojo. Em seguida é feita uma comparação dos resultados de abundâncias quı́micas de estrelas individuais em NGC 6553 com base em espectros UVES@VLT de alta resolução e alta razão S/N com as obtidas no espectro combinado de NGC 6553. As observações e metodologia de seleção das estrelas pertencentes a NGC 6553 foram descritas no capı́tulo 2. 4.2 Velocidades radiais A criação de um espectro combinado a partir de espectros individuais requer acurácia na estimativa do desvio Doppler e velocidades radiais observadas. Como explicado no capı́tulo 2 as observações FLAMES@VLT foram realizadas no modo GIRAFFE usando três diferentes redes de difração: HR11 (5600-5870 Å), HR13 (6120-6400 Å) e HR15 (6660-6860 Å). Usando o código DAOSPEC e procedimento similar explicado na seção 4.2 Velocidades radiais 10 107 HR11 HR13 HR15 5 0 -20 -10 0 10 Figura 4.1: Histograma mostrando a distribuição das velocidades radiais observadas nas 22 estrelas selecionadas de NGC 6553@FLAMES nas 3 redes de difração: HR11 (linha cheia em azul), HR13 (região sombreada, linha pontilhada em verde) e HR15 (linha tracejada em vermelho). 3.2.1 as velocidades radiais de cada espectro foram obtidas em cada rede e o valor médio dos resultados de cada estrela foi adotado como sendo o valor final de velocidade radial. O valor médio de vr foi também usado como um dos critérios seletivos para ratificar a probabilidade de pertinência das estrelas localizadas na direção do campo NGC6553 ao aglomerado globular NGC 6553 (capı́tulo 2). A figura 4.1 apresenta a distribuição das velocidades radiais observadas para as 22 estrelas selecionadas de NGC 6553 em cada rede de difração usada. Para a ordem HR11 foi obtida uma hvHR11 i = −6.70 ± 7.84 kms−1 , enquanto que para HR13 e HR15 foram obtir i = −7.92 ± 5.60 kms−1 . As i = −4.75 ± 5.03 kms−1 e hvHR11 das, respectivamente, hvHR13 r r diferenças em velocidade radial para cada estrela nas diferentes redes estão dentro das incertezas esperadas quanto a possı́veis variações no processo de calibração em comprimento de onda dos espectros. Em seguida, usando o código rvcorrect do IRAF, obtivemos a correção das velocidades radiais observadas ou correção heliocêntrica para as componentes do movimento do observador na direção da observação e calculamos as velocidades radiais heliocêntricas. Na 4.3 Espectro combinado 108 Tabela 4.1: Velocidades radiais observadas em cada rede de difração com respectivas FWHM [pı́xel] calculadas. A velocidade radial heliocêntrica é dada na última coluna. vHR11 r (2) Estrela (1) FWHM (3) vHR13 r (4) vHR15 r (6) FWHM (7) vh r (8) 6.620 6.549 6.459 6.530 6.497 6.490 6.744 6.568 6.362 6.359 6.762 6.525 6.429 6.505 6.455 6.710 6.262 6.374 6.218 −12.106 ± 2.129 −2.113 ± 1.618 −5.388 ± 2.011 −3.981 ± 1.512 −8.960 ± 1.996 −0.646 ± 1.516 −5.822 ± 1.595 −8.568 ± 1.890 −9.577 ± 1.827 −8.100 ± 1.195 −7.284 ± 1.588 −18.77 ± 2.203 −7.395 ± 1.289 −15.207 ± 1.811 −4.241 ± 1.817 5.578 ± 1.235 −5.299 ± 1.676 −5.299 ± 1.676 −7.776 ± 1.457 8.423 8.323 8.415 8.319 8.359 8.204 8.950 8.198 8.273 8.079 8.407 8.164 8.451 8.439 8.316 8.612 8.215 8.215 8.107 −7.14 ± 2.10 2.87 ± 1.54 −0.47 ± 1.68 1.1 ± 1.24 −3.78 ± 1.64 4.62 ± 1.50 −0.58 ± 1.62 −3.07 ± 1.70 −3.96 ± 1.63 −3.15 ± 1.33 −1.95 ± 1.76 −13.67 ± 1.90 −2.33 ± 1.45 −10.27 ± 1.95 0.72 ± 1.98 10.72 ± 1.63 −2.38 ± 2.06 −0.57 ± 1.47 −3 ± 1.34 6.346 7.812 6.542 −16.276 ± 1.399 −11.159 ± 2.271 −15.960 ± 1.645 8.275 10.334 8.382 −0.5 ± 1.57 5.99 ± 2.18 −0.21 ± 1.63 FWHM (5) Brilhantes n6553bri013 n6553bri041 n6553bri048 n6553bri050 n6553bri053 n6553bri055 n6553bri058 n6553bri059 n6553bri060 n6553bri061 n6553bri062 n6553bri064 n6553bri066 n6553bri069 n6553bri071 n6553bri072 n6553bri085 n6553bri090 n6553bri116 −9.267 ± 1.591 0.611 ± 0.889 −3.059 ± 0.892 −1.281 ± 0.581 −6.189 ± 0.850 2.838 ± 1.020 −2.627 ± 1.342 −4.874 ± 0.732 −5.745 ± 0.851 −5.063 ± 0.815 −3.995 ± 1.274 −16.148 ± 0.564 −4.624 ± 0.951 −12.389 ± 1.325 −1.577 ± 1.459 8.791 ± 0.987 −9.965 ± 2.079 −3.699 ± 0.515 −5.849 ± 0.591 5.665 5.631 5.670 5.819 5.747 5.893 6.416 5.814 5.760 5.651 5.803 5.508 5.493 5.742 5.529 5.719 6.343 5.898 5.591 −10.542 ± 1.317 −0.381 ± 1.152 −3.445 ± 0.910 −1.925 ± 0.689 −6.686 ± 0.810 1.172 ± 1.090 −3.787 ± 0.945 −6.269 ± 1.304 −7.043 ± 1.122 −6.779 ± 1.197 −5.067 ± 1.442 −16.569 ± 1.428 −5.458 ± 1.274 −13.717 ± 1.597 −2.520 ± 1.549 7.296 ± 1.684 −2.382 ± 1.153 −3.203 ± 1.112 −5.884 ± 1.069 Fracas n6553f ai012 n6553f ai055 n6553f ai072 −23.539 ± 1.089 −16.260 ± 1.578 −23.432 ± 0.904 5.454 6.763 5.686 −6.302 ± 1.344 0.766 ± 1.347 −5.843 ± 1.345 tabela 4.1 apresentamos, para cada ordem, as velocidades radiais observadas com as respectivas FWHM [pı́xel] calculadas. Como esperado, a FWHM dos espectros aumenta ao longo do comprimento de onda (FWHMHR11 < FWHMHR15 ). Na última coluna da tabela apresentamos a velocidade radial heliocêntrica para cada estrela com respectivas incertezas. Para as 22 estrelas selecionadas estimamos uma hvhr i = +1.68 ± 0.26 kms−1 , o que está de acordo com a acurácia teórica esperada em vhr , ou seja, σ ≈ 1.35 kms−1 para espectros FLAMES com R = 22000. 4.3 Espectro combinado Uma vez obtidas as velocidades radiais observadas, as imagens foram corrigidas do desvio Doppler usando o código dopcor do pacote onedspec do IRAF. Conhecendo-se a v r ou equivalentemente o desvio z, o código desloca os espectros para seus respectivos comprimentos de onda de laboratório. Além de ser imprescindı́vel para a criação do espectro combinado, a principal vantagem no deslocamento dos espectros é a identificação precisa 4.3 Espectro combinado 109 Tabela 4.2: Parâmetros atmosféricos para as 22 estrelas individuais de NGC 6553 Estrela (1) n6553bri013 n6553bri041 n6553bri048 n6553bri050 n6553bri053 n6553bri055 n6553bri058 n6553bri059 n6553bri060 n6553bri061 n6553bri062 n6553bri064 n6553bri066 n6553bri069 n6553bri071 n6553bri072 n6553bri085 n6553bri090 n6553bri116 n6553f ai012 n6553f ai055 n6553f ai072 V (2) (V-I) (3) 16.68 16.60 16.51 16.43 16.42 16.51 16.36 16.40 16.64 16.41 16.58 16.63 16.41 16.41 16.54 16.69 16.51 16.57 16.49 16.74 16.76 16.72 2.39 2.24 2.13 2.07 2.03 2.16 2.24 2.09 2.34 2.17 2.34 2.21 2.14 2.33 2.38 2.31 2.14 2.25 2.13 2.34 2.34 2.28 Teff [K] logg [dex] vt [km/s] Teff [K] (4) (5) (6) (7) 4212 4239 4291 4319 4541 4266 4332 4207 4275 4322 4288 4259 4304 4239 4231 4311 4192 4221 4200 4254 4241 4247 2.00 1.78 1.84 1.98 1.89 1.87 1.78 1.79 1.89 1.80 1.87 1.86 1.74 1.80 1.69 1.85 1.71 1.86 1.77 1.87 2.11 1.98 1.5 1.5 1.5 1.5 1.5 1.3 1.3 1.5 1.3 1.3 1.3 1.3 1.4 1.3 1.3 1.2 1.0 1.4 1.2 1.3 1.0 1.4 4750 4450 4600 4900 4750 4650 4600 4600 4600 4600 4600 4550 4500 4600 4350 4500 4400 4600 4500 4500 4900 4700 [Fe/H] (8) −0.14 −0.19 −0.18 −0.09 −0.13 −0.21 −0.25 −0.14 −0.09 −0.14 −0.19 −0.19 −0.22 −0.24 −0.18 −0.14 −0.12 −0.19 −0.10 −0.12 −0.14 −0.24 das linhas para o cálculo manual das larguras equivalentes e comparação dos espectros observados com os espectros sintéticos. Após corrigir a amostra do desvio Doppler, usamos o código scopy do IRAF para colocar os espectros individuais numa mesma escala de comprimento de onda. Adotamos a seguinte escala por ordem: HR11 (λ1 = 5595 Å : λ2 = 5829.95 Å), HR13 (λ1 = 6123 Å : λ2 = 6389.95 Å) e HR15 (λ1 = 6613Å : λ2 = 6855.95 Å). Em seguida, para cada ordem, combinamos 22 espectros de estrelas gigantes de NGC 6553 que apresentam basicamente os mesmos parâmetros atmosféricos (ver tabela 4.2). Os parâmetros atmosféricos das 22 estrelas foram obtidos seguindo método padrão neste trabalho (ver capı́tulo 3). As estrelas apresentam temperatura e logg fotométricos médios de hTeffi = 4272 ± 73 K e hloggi =1.85 ± 0.10 dex e com os parâmetros atmosféricos espectroscópicos médios de hTeffi = 4600 ± 138 K, hvt i =1.33 ± kms−1 e h[Fe/H]i = −0.16 ± 0.05 dex. Os espectros foram combinados usando o código scombine do pacote onedspec do IRAF no modo average, admitindo peso 1 para cada imagem e rejeição de pı́xeis pela estatı́stica 4.3 Espectro combinado 110 d] e] b] 6256 6258 6260 6262 c] 6256 6258 6260 6262 Figura 4.2: Comparação entre os espectros individuais (linha cheia) e o espectro combinado (linha pontilhada) de NGC 6553 FLAMES@VLT. As temperaturas efetivas das estrelas individuais crescem na figura do painel (a)-(e) variando de 4350 ≤ Teff ≤ 4900 K. minmax do código que além dos raios cósmicos rejeita qualquer fração especı́fica dos pı́xeis mais altos e mais baixos ao longo dos espectros combinados. Antes de combinar os espectros o código scombine verifica automaticamente o binning dos mesmos e, ao final do processo, todas as imagens criadas em cada rede de difração apresentaram a mesma escala de comprimento de onda (dλ = 0.05 Å). O espectro combinado apresentou largura a meia altura variando de 0.29 ≤ FWHM ≤ 0.33 Å ao longo do comprimento de onda, que são resultados satisfatórios para espectros FLAMES com R ≈ 22000. O fato de que os espectros das 22 estrelas individuais de NGC 6553 apresentam valores similares de FWHM é uma forte evidência da eficácia do método de combinar espectros individuais sem a degradação do espectro final. Na figura 4.2 apresentamos uma comparação direta entre os 22 espectros individuais de NGC 6553 com o espectro combinado. Do painel (a) ao painel (e) as estrelas estão dispostas em ordem crescente de temperatura (4350 ≤ Teff ≤ 4900 K) na figura. Constata-se que o espectro combinado é muito similar aos espectros individuais, o que é esperado uma vez que combinamos espectros de mesmo estágio evolutivo e, portanto, com parâmetros atmosféricos semelhantes. 4.3 Espectro combinado 111 1.2 HR11 1 1 0.8 0.6 a] 0.4 0.9 5600 5650 5700 5750 5800 1.2 HR13 1 0.8 0.8 0.6 b] 0.4 6200 6300 6400 0.7 1.2 TiI [OI] HR15 1 0.6 0.8 0.6 VI/TiI c] 0.4 FeI d] 0.5 6650 6700 6750 6800 6850 6296 6298 6300 6302 6304 Figura 4.3: Espectro combinado nas três diferentes redes usadas: (a) HR11, (b) HR13 e (c) HR15. No painel (d) apresentamos uma porção do espectro combinado da ordem HR13 na região [OI] 6300 Å. 4.3.1 Cálculo das Wλ e normalização do contı́nuo Para realizar a normalização do contı́nuo e cálculo automático das W λ do espectro combinado usamos o código DAOSPEC. Como teste, o contı́nuo foi também normalizado manualmente através do código contı́nuo do IRAF e não foram econtradas diferenças significativas entre os dois métodos. Basicamente a principal diferença entre eles é o tipo e a ordem do polinômio usado para efetuar a normalização do espectro. A figura 4.3 apresenta o espectro combinado e normalizado em cada rede de difração. Para o cálculo das Wλ (tabela 4.3) procuramos incluir o maior número possı́vel de linhas previamente usadas na amostra NGC 6553 UVES@VLT (Alves-Brito et al. 2006). Do ponto de vista das incertezas sistemáticas, esta escolha possibilita-nos uma comparação direta dos resultados em ambos trabalhos. 4.3 Espectro combinado 112 Tabela 4.3: Lista de linhas e larguras equivalentes medidas com respectivas incertezas. λ [Å] (1) Íon (2) χ [eV] (3) loggf (4) C6 (5) Wλ [mÅ] (6) σWλ [mÅ] (7) 5601.28 5618.63 5628.62 5633.94 5636.71 5641.46 5643.07 5646.70 5647.23 5648.56 5650.01 5651.46 5652.32 5661.36 5679.02 5682.64 5688.20 5701.10 5701.54 5705.48 5711.08 5717.85 5719.81 5720.89 5724.45 5731.76 5732.29 5739.46 5741.86 5752.01 5760.35 5762.99 5775.08 5778.45 5782.11 5793.93 5806.73 5809.25 5814.80 CaI FeI CrI FeI FeI FeI NiI FeI CoI TiI FeI FeI FeI FeI FeI NaI NaI SiI FeI FeI MgI FeI CrI FeI FeI FeI FeI TiI FeI FeI FeI FeI FeI FeI CuI FeI FeI FeI FeI 2.53 4.21 3.42 4.99 3.64 4.26 4.16 4.26 2.28 2.49 5.10 4.47 4.26 4.28 4.65 2.10 2.10 4.93 2.56 4.30 4.34 4.28 3.01 4.55 4.28 4.25 4.99 2.24 4.26 4.55 3.64 4.21 4.22 2.58 1.64 4.22 4.61 3.88 4.28 −0.24 −1.58 −0.74 −0.31 −2.74 −0.87 −1.25 −2.53 −1.56 −0.25 −0.87 −1.98 −1.95 −1.76 −0.97 −0.700 −0.457 −1.95 −2.11 −1.58 −1.729 −1.10 −1.58 −1.81 −2.66 −1.11 −1.50 −0.60 −1.81 −1.19 −2.61 −0.21 −1.32 −3.56 −1.72 −1.76 −0.84 −1.50 −1.94 0.227E−31 2.900E−31 0.465E−31 2.030E−31 5.190E−32 2.970E−31 0.379E−30 0.107E−31 0.414E−31 0.522E−30 4.830E−31 0.100E−30 3.120E−31 3.240E−31 8.130E−31 0.300E−30 0.300E−31 0.300E−31 4.950E−32 1.730E−31 0.300E−30 5.030E−31 0.600E−31 5.600E−31 5.050E−31 2.850E−31 1.860E−31 0.386E−31 2.830E−31 3.000E−31 5.850E−32 2.750E−31 3.000E−31 4.950E−32 0.300E−30 2.720E−31 1.910E−31 5.650E−31 2.820E−31 171.3 73.0 34.9 75.8 49.6 96.4 25.1 12.6 64.7 62.2 47.6 31.0 42.6 49.9 67.3 165.1 162.5 53.1 146.0 74.5 147.3 87.3 25.3 32.8 9.5 81.2 20.9 51.8 56.8 66.8 57.8 147.7 87.8 84.1 204.8 63.0 73.1 87.8 42.6 2.64 3.68 2.69 1.44 2.72 0.70 2.05 3.62 4.13 2.48 2.37 2.22 1.28 2.85 1.88 1.97 3.84 0.96 4.86 3.40 3.97 0.92 1.09 1.09 1.23 1.10 0.71 1.97 0.71 1.21 1.04 2.17 1.71 4.52 5.58 1.94 1.74 2.98 1.62 4.3 Espectro combinado 113 Tabela 4.3 −− continuação λ [Å] (1) Íon (2) χ [eV] (3) loggf (4) C6 (5) Wλ [mÅ] (6) σWλ [mÅ] (7) 6126.21 6127.47 6130.13 6134.58 6141.71 6142.49 6143.25 6145.02 6149.24 6154.22 6155.14 6156.02 6159.38 6160.74 6161.30 6162.17 6165.36 6166.43 6169.04 6169.56 6173.33 6177.24 6180.20 6187.99 6189.00 6199.20 6213.43 6223.98 6226.74 6240.64 6243.82 6244.48 6247.55 6251.82 6254.25 6258.11 6270.23 6271.28 6273.38 6274.65 6285.15 TiI ZrI NiI ZrI BaII SiI ZrI SiI FeII NaI SiI CaI FeI NaI CaI CaI FeI CaI CaI CaI FeI NiI FeI FeI CoI VI FeI NiI FeI FeI SiI SiI FeII VI FeI TiI FeI FeI TiI VI VI 1.06 0.15 4.26 0.00 0.70 5.61 0.07 5.61 3.89 2.10 5.62 2.52 4.61 2.10 2.51 2.51 4.14 2.52 2.52 2.52 2.22 1.82 2.73 3.94 1.71 0.28 2.22 4.10 3.88 2.22 5.61 5.61 3.89 0.28 2.28 1.44 2.86 3.32 0.02 0.26 0.27 −1.42 −1.06 −0.96 −1.28 −0.08 −1.58 −1.10 −1.5 −2.90 −1.57 −0.85 −2.59 −1.97 −1.27 −1.42 −0.09 −1.55 −1.15 −0.90 −0.63 −2.88 −3.51 −2.78 −1.72 −2.46 −1.28 −2.65 −0.98 −2.20 −3.39 −1.30 −1.27 −2.52 −1.34 −2.44 −0.36 −2.71 −2.96 −4.17 −1.67 −1.51 2.060E−32 0.300E−31 0.391E−30 0.300E−31 0.530E−31 0.300E−31 0.300E−31 0.300E−31 0.300E−31 0.90E−31 0.30E−31 4.000E−31 0.674E−30 0.30E−31 4.000E−31 3.000E−31 0.765E−31 3.97E−31 3.97E−31 4E−31 0.265E−31 0.300E−31 0.411E−31 0.490E−30 0.206E−31 0.196E−31 0.262E−31 0.393E−30 0.415E−30 0.314E−31 0.300E−32 0.300E−31 0.300E−31 0.196E−31 0.000E+00 4.756E−32 0.458E−31 0.278E−30 0.734E−31 0.194E−31 0.194E−31 107.0 45.5 30.5 36.6 160.4 28.0 40.3 33.9 25.5 91.2 70.4 39.4 27.5 114.2 127.7 283.9 71.9 116.2 147.8 159.0 132.3 64.8 112.9 66.6 87.0 149.9 142.3 44.4 47.9 97.8 62.0 50.3 33.9 129.3 158.4 142.4 98.3 54.7 22.1 97.2 167.8 1.78 0.90 0.99 2.14 2.00 1.54 3.24 1.25 0.44 1.18 1.04 0.92 2.42 1.02 4.23 10.20 0.71 1.46 1.75 3.04 1.42 1.43 2.38 2.40 3.18 4.13 1.85 1.11 1.33 2.10 8.41 3.09 1.14 1.78 1.91 5.62 2.06 1.12 1.70 2.32 11.10 4.3 Espectro combinado λ [Å] (1) Íon (2) 6290.55 FeI 6302.49 FeI 6303.75 TiI 6307.85 FeI 6311.50 FeI 6312.23 TiI 6315.81 FeI 6318.71 MgI 6319.24 MgI 6322.68 FeI 6330.09 CrI 6335.33 FeI 6336.10 TiI 6336.82 FeI 6353.85 FeI 6369.46 FeII 6632.43 CoI 6645.10 EuII 6678.00 FeI 6696.01 AlI 6698.66 AlI 6703.56 FeI 6704.48 FeI 6705.11 FeI 6710.32 FeI 6713.74 FeI 6716.71 TiI 6717.69 CaI 6725.35 FeI 6726.66 FeI 6733.15 FeI 6739.52 FeI 6743.12 TiI 6765.45 MgI 6767.77 NiI 6771.03 CoI 6772.31 NiI 6774.27 LaII 6810.26 FeI 6820.37 FeI 6837.02 FeI 114 Tabela 4.3 −− continuação χ [eV] (3) loggf (4) C6 (5) Wλ [mÅ] (6) σWλ [mÅ] (7) 2.59 3.68 1.44 3.64 2.83 1.46 4.08 5.10 5.10 2.58 0.94 2.20 1.44 3.69 0.91 2.89 2.28 1.38 2.69 3.14 3.14 2.75 4.20 4.61 1.48 4.80 2.48 2.71 4.10 4.60 4.64 1.56 0.90 5.75 1.82 1.88 3.65 0.12 4.60 4.64 4.59 −4.34 −1.29 −1.56 −3.27 −3.22 −1.55 −1.71 −2.10 −2.36 −2.43 −3.03 −2.23 −1.74 −1.05 −6.36 −4.11 −2.00 +0.12 −1.42 −1.48 −1.78 −3.15 −2.66 −1.40 −4.87 −1.60 −1.01 −0.61 −2.30 −1.15 −1.58 −4.94 −1.62 −1.94 −2.17 −1.97 −0.99 −1.82 −1.11 −1.31 −1.80 0.211E−30 0.734E−31 1.530E−32 0.000E+00 0.439E−31 4.750E−32 0.656E−31 0.300E−31 0.300E−31 0.442E−31 0.333E−31 0.251E−31 0.300E−32 0.415E−30 0.000E+00 0.742E−32 0.228E−31 0.300E−31 0.000E+00 0.300E−31 0.300E−31 0.366E−31 0.666E−31 0.000E+00 0.201E−31 0.157E−30 0.300E−31 4.10E−31 0.482E−30 0.000E+00 0.341E−30 0.210E−31 0.300E−31 0.300E−31 0.300E−30 0.173E−31 0.356E−30 0.300E−31 0.450E−30 0.488E−30 0.000E+00 35.1 107.9 76.2 12.7 85.1 71.4 67.7 89.9 73.4 123.1 95.5 159.2 67.7 131.1 39.8 14.3 59.9 31.2 208.6 120.3 72.3 91.0 9.9 69.9 94.6 31.3 25.1 196.1 35.3 62.2 36.4 68.4 133.2 29.0 139.6 140.9 73.8 21.8 71.2 66.0 32.4 1.63 1.64 1.88 1.83 2.93 1.90 1.19 4.49 3.48 2.59 5.74 3.56 1.16 2.65 1.16 2.11 1.71 1.89 2.13 1.50 0.86 1.84 1.06 1.39 1.41 1.15 1.14 2.65 1.04 0.73 0.75 1.47 1.39 1.75 3.28 2.38 1.01 0.93 0.96 1.24 1.91 4.3 Espectro combinado 4.3.2 115 Tabela 4.3 −− continuação λ [Å] (1) Íon (2) χ [eV] (3) loggf (4) C6 (5) Wλ [mÅ] (6) σWλ [mÅ] (7) 6839.83 6842.68 6851.64 6855.71 FeI FeI FeI FeI 2.56 4.63 1.60 4.39 −3.45 −1.31 −5.31 −1.82 0.395E−31 0.480E−30 0.731E−32 0.315E−30 96.8 64.8 51.1 43.8 1.38 0.68 1.15 0.55 A razão sinal-ruı́do dos espectros Em observações astronômicas o fluxo intrı́nseco de fótons de uma determinada fonte não é facilmente obtido com base apenas no número de fótons detectados uma vez que muitos fatores devem também ser levados em conta, como o tamanho do telescópio, as condições atmosféricas no momento de observação e a eficiência em si dos detectores. Sendo assim, dada uma taxa de fótons emitidos de um certo objeto, existe uma função de probabilidade que determina o número de fótons detectados. A probabilidade de Poisson, definida como o caso limite de uma distribuição binomial, é a que melhor descreve os eventos de detecção de fótons. Desta forma, se n é o número total de fótons emitidos da fonte e p a probabilidade de detecção durante o tempo de observação, por definição sabemos que p << 1 e que o número médio µ de fótons detectados iguala-se ao número total de fótons emitidos multiplicados pela probabilidade de que os mesmos sejam observados, ou seja: µ = np (4.1) Neste caso, a distribuição de Poisson de x eventos será dada como: p(x, µ) = µx e−µ , x! (4.2) com a vari^ ancia = µ. Em astronomia a razão S/N equivale ao inverso do erro fracional da medida, ou seja, à razão entre a amplitude do erro e a grandeza medida: S S =√ , N σ2 (4.3) 4.3 Espectro combinado 116 Na prática, o sinal S de uma fonte vai depender do fluxo F [por unidade de área e de tempo], da área coletora A do telescópio e do tempo t de integração: S=F∗A∗t (4.4) Numa simplificação, admitindo que o único ruı́do da observação é poissônico, podemos escrever que: σ 2 = S = F ∗ A ∗ t, (4.5) √ S = F∗A∗t N (4.6) e, dessa maneira, Consequentemente a razão S/N de um espectro é diretamente proporcional à raiz quadrada do brilho, da área do telescópio e do tempo de integração da observação que por sua vez está relacionado à eficiência na detecção dos fótons. A razão sinal-ruı́do de uma observação pode então ser generalizada como: onde: S C∗t =p , N σ 2 ∗ n + t(C − Ω ∗ S) (4.7) C: taxa de contagem [fótons por segundo]; t: tempo de exposição; σ: ruı́do de leitura de cada pı́xel; n: número de pı́xel; S: número de fótons do céu por unidade de ângulo sólido; Ω: ângulo sólido coberto pela imagem. No presente trabalho a razão S/N por pı́xel dos espectros foi obtida usando o código splot do IRAF. Usando os princı́pios da estatı́stica de Poisson em regiões sem linhas dos espectros, ou seja, em regiões do contı́nuo, após selecionarmos manualmente porções 4.4 Parâmetros atmosféricos 117 ∆λ dos espectros, o código determina a razão sinal-ruı́do por pı́xel através da seguinte expressão, equivalente à expressão 4.3: MEAN S = , N RMS (4.8) onde: MEAN = média de pı́xeis na região ∆λ do contı́nuo do espectro; RMS = desvio padrão das medidas dentro da porção ∆λ do espectro. Em cada ordem do espectro combinado foram obtidas as razões (S/N)HR11 = 500 em torno de 5656 Å, (S/N)HR13 = 650 em 6124 Å, (S/N)HR13 = 700 próximo a 6143 Å, (S/N)HR15 = 800 em 6751 Å, (S/N)HR15 = 650 em 6763 Å e (S/N)HR15 = 667 na região de 6805 Å. Estes valores implicam uma razão sinal-ruı́do por pı́xel média de h(S/N)HR11 i = 500, h(S/N)HR13 i = 675 e h(S/N)HR15 i = 700 em cada ordem. Desta forma podemos estimar, em ordens de grandeza, o uso potencial do Very Large Telescope (8m) como um Extremely Large Telescope (42m) usando o espectro combinado obtido para NGC 6553. Levando em conta que a observação de uma estrela gigante tipo espectral K em um aglomerado globular leva em média 1 hora de tempo de integração no VLT, 22 estrelas corresponderiam, no mı́nino, a 22 horas de tempo de integração. Consequentemente, da equação 4.6, esta mesma estrela consumiria 47 minutos de tempo de integração num Extremely Large Telescope de 42m. 4.4 Parâmetros atmosféricos Os parâmetros atmosféricos espectroscópicos (vt , Teff e [Fe/H]) foram obtidos com base nas linhas de FeI. O procedimento minucioso de obtenção dos parâmetros atmosféricos com base nas abundâncias de FeI já foi apresentado no capı́tulo anterior. Vale salientar, no entanto, que dado o número limitado de linhas de FeII disponı́veis nos espectros não foi possı́vel impor equilı́brio de ionização para a determinação espectroscópica da gravidade superficial. Como usual, as abundâncias [FeI/H] foram obtidas através do código Abonj (Spite 1967) admitindo uma abundância solar (Fe) = 7.50 (Grevesse & Sauval 1998) e utilizando uma versão atualizada dos modelos MARCS (1D) de atmosferas estelares de Plez et al. (1992). Foram apenas usadas linhas de FeI com larguras equivalentes entre 10 ≤ W λ ≤ 150 mÅ. 4.4 Parâmetros atmosféricos 118 Figura 4.4: Espectro combinado e normalizado de NGC 6553 na ordem HR13, com linhas atômicas (superior) e moleculares (inferior) identificadas na região. O espectro equivale a cerca de 22 horas de observação no VLT. 4.5 Sı́ntese espectral e resultados 119 A figura 4.5 ilustra a obtenção dos parâmetros atmosféricos espectroscópicos para o espectro combinado adotando a grade [M/H] = −0.30 dos modelos MARCS de atmosferas estelares. No painel (a) da figura, a temperatura de excitação é determinada com base no coeficiente angular = −0.01596 no Diagrama de Boltzmann, enquanto que no painel (b) um coeficiente angular = 0.00002 no plano [FeI/H] versus Wλ fixa a velocidade de microturbulência em 1.5 kms−1 . Estes resultados indicam uma metalicidade [Fe/H] = −0.24 para o espectro combinado de NGC 6553 com base nos dados FLAMES@VLT. Este resultado está em bom acordo com o valor [Fe/H] = −0.20 obtido com dados UVES@VLT de mais alta resolução (Alves-Brito et al. 2006). Os painéis (c) e (d), por outro lado, mostram que com base em duas linhas de FeII encontramos uma razão [FeII/H] = −0.86, o que implica uma diferença ∆([Fe/H]) = [FeII/H] - [FeI/H] = −0.62 dex. Sendo assim, para o espectro combinado de NGC 6553 foram adotados como parâmetros atmosféricos finais uma temperatura efetiva de 4700 K, gravidade superficial logg = 1.80 dex, velocidade de microturbulência de 1.5 kms−1 (valor tı́pico de microturbulência para estrelas gigantes) e metalicidade [Fe/H] = −0.24. Os parâmetros atmosféricos finais do espectro combinado representam um valor médio dos parêmetros atmosféricos espectroscópicos dos espectros individuais de NGC 6553. 4.5 Sı́ntese espectral e resultados A sı́ntese espectral das linhas atômicas deste trabalho foi realizada através do código Pfant (Spite 1967; Cayrel et al. 1991; Barbuy et al. 2003), ao qual Barbuy (1982) incluiu a sı́ntese de linhas moleculares. Realizamos a sı́ntese espectral de elementos-α, elementos Z-ı́mpar e elementos pesados incluindo linhas em comum ao trabalho realizado por AlvesBrito et al. (2006). 4.5.1 Elementos α A abundância de magnésio (Z = 12) foi obtida a partir da linha de MgI 5711.080 Å com parâmetros atômicos NIST (loggf = −1.724 dex e χ = 4.34 eV) e pelo tripleto de MgI em 6318 Å. As linhas de magnésio medidas pelo DAOSPEC (exceto a linha de MgI 6319.49 Å) variaram de 73 < Wλ < 147 mÅ e apresentam potencial de excitação χ > 4 eV. Obtivemos uma sobreabundância média de magnésio h[Mg/Fe]i = +0.34 ± 0.02 dex e na figura 4.6 mostramos exemplo da sı́ntese espectral realizada para o magnésio. Para o silı́cio (Z = 14) foram usadas as linhas SiI 5701.100 Å, 6142.490 Å, 6145.020 Å e 6155.020, enquanto que para o cálcio (Z = 20), devido ao hiato nas ordens FLAMES, 4.5 Sı́ntese espectral e resultados 120 Figura 4.5: Determinação dos parâmetros atmosféricos espectroscópicos usando o Abonj: (a) [FeI/H] vs χ; (b) [FeI/H] vs Wλ ; (c) [FeII/H] vs χ e (d) [FeII/H] vs Wλ . 4.5 Sı́ntese espectral e resultados 121 Figura 4.6: Sı́ntese espectral do magnésio. (a): Linha de MgI 5711.080 Å. (b): Região sintetizada do tripleto de magnésio. Os valores e sı́mbolos são explicados na figura. foram usadas apenas 5 linhas (CaI 6156.030 Å, 6161.297 Å, 6166.439 Å, 6169.042 Å e 6169.563 Å), enquanto que na análise de 2006 teriam sido usadas 13 linhas. Obtivemos h[Si/Fe]i = −0.07 ± 0.14 dex e h[Ca/Fe]i = +0.22 ± 0.07 para o espectro combinado. Na figura 4.7 apresentamos a sı́ntese espectral para linhas de CaI 6156 Å e 6161 Å e SiI 6155.020 Å. O titânio (Z = 22) têve a sua abundância calculada com base em 3 linhas — TiI 6126.217 Å, 6312.237 Å e 6336.102 Å. Encontramos uma abundância média h[Ti/Fe]i = 0.26 ± 0.14 dex. Na figura 4.8 apresentamos exemplo da sı́ntese espectral realizada para linha a de TiI 6336.102 Å. 4.5.2 Elementos de Z-ı́mpar Analisamos quatro linhas de sódio (Z=11) e duas linhas de alumı́nio (Z=13). As linhas de sódio variam de 91 < Wλ < 165 mÅ, enquanto que as de AlI variam de 72 < Wλ < 120 mÅ. Obtivemos para o espectro combinado h[Na/Fe]i = +0.41 ± 0.11 dex e h[Al/Fe]i = +0.22 ± 0.08 dex. A figura 4.7 mostra um exemplo da sı́ntese espectral para duas linhas de sódio. 4.5 Sı́ntese espectral e resultados 122 Figura 4.7: Espectro combinado (linha cheia) e espectro sintético (linha pontilhada) para linhas de SiI, CaI e NaI, cujos comprimentos de onda e valores de abundâncias obtidos são apresentados na figura. 4.5 Sı́ntese espectral e resultados 123 Figura 4.8: Exemplo da sı́ntese espectral (linha pontilhada) para a linha Ti I 6336 Å comparada ao espectro combinado (linha cheia). Obtivemos para esta linha uma sobreabundância [Ti/Fe] = +0.38. A linha mais grossa no canto esquerdo inferior da figura marca a presença de linhas moleculares no espectro. 4.6 Incertezas 124 Figura 4.9: Exemplo de sı́ntese espectral para a linha de BaII 6141.700 Å, da qual obtemos [Ba/Fe] = −0.38. 4.5.3 Elementos pesados Dentre os elementos pesados, ou seja, os elementos acima do 56 Fe na tabela periódica, obtivemos abundância quı́mica apenas para o bário (Z = 56) através da linha de BaII 6141.700 Å com Wλ = 160.4 mÅ. Na figura 4.9 apresentamos a sı́ntese espectral da linha. Nota-se o blend com a linha de FeI, que na figura teve seu comprimento de onda deslocado de ∆λ=+0.1 Å. O blend com a linha de FeI foi levado em conta para o ajuste das asas da linha de bário onde obtivemos [Ba/Fe] = −0.38. Na figura nota-se ainda o perfeito ajuste para outras linhas de SiI ([Si/Fe] = +0.05) e FeI. 4.6 Incertezas Em linhas gerais, as barras de erros dos valores médios de cada razão de abundância obtida com o espectro combinado de NGC 6553 comparadas a dos valores médios de cada razão com base nos espectros individuais NGC6553 UVES@VLT são praticamente iguais. Isso significa que mesmo trabalhando a uma resolução ≈ 3 vezes inferior, o espectro combinado de alta razão S/N (≈ 9 vezes superior) determina as abundâncias com precisão similar a 4.7 Interpretação dos resultados 125 espectros de alta resolução. Uma variação ∆Teff = ± 100K leva a ∆[FeI/H] = −0.06 e ∆[FeII/H] = 0.11; ∆logg = ± 0.30 dex resulta em ∆[FeI/H] = −0.02 e ∆[FeII/H] = −0.16; finalmente, uma variação ∆vt = ± 0.20 kms−1 acarreta uma ∆[FeI/H] = 0.05 e ∆[FeII/H] = 0.02. As abundâncias [FeI/H] do espectro combinado são mais dependentes das variações em vt , enquanto que as abundâncias de [FeII/H] são mais dependentes aos erros na gravidade superficial, como é esperado devido a dependência da gravidade superficial com a ionização. Não foram realizadas propagações de incertezas para as outras espécies quı́micas no espectro combinado, no entanto, dada as discussões acima, as incertezas nas razões de abundâncias devido às variações tı́picas dos parâmetros atmosféricos (∆T eff = ± 100K : ∆logg = ± 0.30 dex e ∆vt = ± 0.20 kms−1 ) no espectro combinado de NGC 6553 devem ser da mesma ordem das incertezas apresentadas na tabela 3.11 para os espectros NGC 6553 UVES@VLT. 4.7 Interpretação dos resultados Como mostra a figura 4.10, exceto para silı́cio e cálcio, todas as outras abundâncias quı́micas obtidas com base no espectro combinado concordam dentro de 1σ com os resultados das estrelas individuais da amosta NGC 6553 UVES@VLT de Alves-Brito et al. (2006). Todavia, valem os seguintes comentários a respeito das abundâncias obtidas através do espectro combinado: Ferro: entre as espécies atômicas estudadas a abundância de ferro no espectro combinado é a melhor determinada, não só pelo número de linhas de FeI mas também pelos parâmetros atômicos usados. Tanto com base nas larguras equivalentes quanto pelo método de sı́ntese espectral a metalicidade média [Fe/H] = −0.24 concorda com a metalicidade média das 22 estrelas de NGC 6553 que foram combinadas (com uma diferença em metalicidade de apenas ∆[Fe/H]individual−combinado = +0.08 dex) e concorda ainda com o valor médio de [Fe/H] obtido para NGC 6553 com dados UVES@VLT de alta resolução (Alves-Brito et al. 2006). Magnésio: a única diferença no método de obtenção da razão [Mg/Fe] deste trabalho em relação ao de 2006 é a inclusão da linha MgI 5711.080 Å. Encontramos uma dispersão média na razão [Mg/Fe] de apenas 0.02 dex, ou seja, as quatro linhas de magnésio resultam em praticamente o mesmo valor de abundância quı́mica e confirmam a sobreabundância [Mg/Fe] no bojo da Galáxia. 4.7 Interpretação dos resultados 126 Alves-Brito et al. (2006) Este trabalho Figura 4.10: Padrão de abundâncias de NGC 6553 obtido com espectros individuais UVES@VLT (triângulos) e no espectro combinado com espectros FLAMES@VLT (cı́rculos). 4.7 Interpretação dos resultados 127 Silı́cio, cálcio e tit^ anio: no espectro combinado de NGC 6553 encontramos subabundância de silı́cio (h[Si/Fe]i = −0.07 ± 0.14) e sobreabundâncias de cálcio (h[Ca/Fe]i = +0.22 ± 0.07) e titânio (h[Ti/Fe]i = =0.26 ± 0.14). Em relação à análise de 2006, encontramos [Ca/Fe] mais alto por +0.17 dex. Ainda assim, a razão [Ca/Fe] com base no espectro combinado de NGC 6553 comparada à razão [Ca/Fe] das estrelas de campo do bojo (Fulbright et al. 2007) permanece no limite inferior do padrão [Ca/Fe]:[Fe/H] das estrelas de campo do bojo. De todas as espécies atômicas TiI é a que mais apresenta não-linearidade no plano Wλ :Teff para qualquer linha estudada. De fato, as razões de abundâncias obtidas para silı́cio, cálcio e titânio com o espectro combinado parecem depender mais fortemente da não-linearidade Wλ :Teff . A metalicidade global Z pode ser calculada através da equação: Z∗ = 1+ Pn (k)−12 Ak ( AH ) k=3 10 (1 P n 10[Fe/H] k=3 10(k)−12 ( AAHk ) 10[Fe/H] − YHe ), (4.9) escrita em função da metalicidade [Fe/H], da composição solar (Z/X) e da abundância de hélio. Para o espectro combinado de NGC 6553 com [Fe/H] = −0.24, composição solar de Grevesse & Sauval (1998) e [(Mg,Si,Ca,Ti)/Fe] ≈ +0.19 encontramos uma metalicidade global Z = 0.0120. Para a amostra UVES@VLT, com o mesmo padrão solar, [Fe/H] = −0.20 e [(Mg,Si,Ca,Ti)/Fe] ≈ +0.13, obtivemos Z = 0.0121. Isso implica que a metalicidade global de NGC 6553 obtida com os espectros UVES@VLT é a mesma obtida com o espectro combinado. Como discutido no capı́tulo 3, a sı́ntese dos elementos α ocorre durante os eventos de SNs Tipo II que estão associados às estrelas massivas de curto tempo de vida, sendo que os elementos α mais importantes como o oxigênio e o magnésio estão relacionados à queima hidrostática de hidrogênio nestas estrelas massivas, enquanto que a sı́ntese de silı́cio, cálcio e titânio está associada à fase explosiva de nucleossı́ntese com progenitoras de mais baixa massa (Woosley & Weaver 1995). Consequentemente, o padrão de abundâncias [α/Fe] pode variar com a metalicidade dependendo dos elementos envolvidos. Os nossos resultados [α/Fe] para o espectro combinado de NGC 6553 confirmam que o aglomerado é velho e se formou num processo rápido. O excesso de elementos α em NGC 6553 indica o domı́nio de estrelas massivas na evolução quı́mica do bojo Galáctico. Na figura 4.11 apresentamos a razão de abundância [O/Mg] em função da metalicidade para NGC 6553 e para outros aglomerados globulares pobres e ricos em metais da Galáxia estudados no nosso Grupo de Pesquisa (NGC 6528, NGC 6558, 47 Tucanae e HP1), comparada com a obtida pelas estrelas de campo do bojo de Lecureur et al. (2007). 4.7 Interpretação dos resultados Figura 4.11: [O/Mg] em globulares pobres e ricos cheios) e em estrelas de Barras de erro tı́picas são 128 função da metalicidade para NGC 6553 e para aglomerados em metais estudados em nosso Grupo de Pesquisa (cı́rculos campo do bojo (cı́rculos abertos) de Lecureur et al. (2007). apresentadas na figura. Vê-se a similaridade no comportamento [O/Mg] de NGC 6553 e dos outros aglomerados globulares com as estrelas de campo do bojo. Este resultado sugere que o material que deu origem tanto às estrelas de campo do bojo quanto às estrelas dos aglomerados globulares foi enriquecido durante eventos de SNs Tipo II com progenitoras de massa similar. Para as estrelas de campo do bojo nota-se que num intervalo ∆[Fe/H] ≈ 1.30 dex, há uma variação ∆[O/Mg] ≈ 0.85 dex. (Lecureur et al. 2007) interpreta este efeito como sendo devido a possı́veis diferenças nos produtos estelares de Mg e O das estrelas massivas progenitoras das SNs do Tipo II. Sódio e alumı́nio: para o espectro combinado de NGC 6553 encontramos uma razão [Na/Fe] = 0.41 ± 0.11, enquanto que com a análise nos espectros individuais de 2006 obtivemos [Na/Fe] = 0.16 ± 0.23. Embora os resultados sejam similares dentro das incertezas das medidas, vale salientar que as razões de abundâncias de [Na/Fe] no espectro combinado podem estar superestimadas pela dependência das Wλ das linhas de sódio com a Teff de cada estrela combinada. Para o alumı́nio, as razões de abundâncias e incertezas associadas são similares nos dois tipos de análises, ou seja, em espetros individuais 4.7 Interpretação dos resultados 129 Figura 4.12: [Na/O] em função da razão [Fe/H] para NGC 6553 e para aglomerados globulares pobres e ricos em metais estudados em nosso Grupo de Pesquisa (cı́rculos cheios) e em estrelas de campo (cı́rculos abertos) de Lecureur et al. (2007). As barras de erro tı́picas são apresentadas na figura. (UVES@VLT) e no espectro combinado (FLAMES@VLT). Uma sobreabundância média de sódio acompanhada por uma subabundância de alumı́nio indica que estes elementos sofreram processos de mistura na atmosfera das estrelas analisadas, como se torna evidente através da figura 4.12, onde se vê que há uma forte anticorrelação nas razões [Na/Fe]:[O/Fe] de abundâncias para as amostras apresentadas. Em particular, a razão [Na/O] para NGC 6553 tende a seguir o padrão de anticorrelação [Na/O]:[Fe/H] de estrelas de campo do bojo e de outros aglomerados globulares pobres e ricos em metais da Galáxia. Como será vastamente abordado no próximo capı́tulo, estas anticorrelações em estrelas gigantes de aglomerados globulares podem ser interpretadas como devido aos processos de dragagem (mixing) que ocorrem nestas estrelas quando elas atingem, pela primeira vez, o ramo das gigantes (ver, por exemplo, Gratton et al. 2004). Bário: dentro das incertezas, a razão [Ba/Fe] obtida com os espectros individuais NGC 6553 UVES@VLT de alta resolução é muito similar à razão obtida com o espectro combinado de NGC 6553. Em termos gerais, a razão [Ba/Fe] em aglomerados globulares segue o padrão de enriquecimento quı́mico encontrado no halo e no disco da Galáxia. Isso sugere 4.7 Interpretação dos resultados 130 Figura 4.13: Comparação entre os espectros observados combinados de NGC 6553 (linha cheia) e para o campo Blanco -6◦ (linha pontilhada) na região 6350-6370 Å. que ambos os processos s e r contribuiram para o enriquecimento quı́mico dos aglomerados globulares em elementos de captura de nêutrons. Na figura 4.13 comparamos para uma região da ordem HR13 o espectro combinado de NGC 6553 com o espectro combinado do campo Blanco −6◦ ( Rgal = 850 pc : E(B-V) = 0.48) no bojo da Galáxia (Minniti et al. 2008) onde se verifica a similaridade entre os dois espectros, o que confirma que NGC 6553 é um aglomerado tı́pico do bojo da Galáxia. Capı́tulo 5 Anomalias quı́micas em M71 Neste capı́tulo investigamos variações de abundâncias quı́micas no aglomerado globular NGC 6838 (M71), considerado referência no estudo de populações ricas em metais da Galáxia. 5.1 Introdução Há cerca de trinta anos atrás surgiram as primeiras evidências observacionais de variações na abundância de sódio em M151 (Cohen 1978). Desde então há um consenso geral na comunidade cientı́fica de que exceto para os aglomerados globulares ω Centauri e NGC 6522, o sistema de aglomerados globulares da Galáxia é homogêneo em metalicidade ([Fe/H]), mas apresenta alta dispersão no padrão de abundâncias quı́micas de elementos leves da Tabela Periódica, como o Li, C, N, O, Na, Mg e Al. Entre as estrelas anãs da sequência principal de aglomerados globulares detectam-se consideráveis variações de lı́tio e anticorrelação no par Li:Na, enquanto que entre as estrelas anãs e gigantes além de anticorrelações de C e N, observam-se anticorrelações nos pares O:Na e Al:Mg. Encontra-se ainda que a soma das abundâncias de C:N:O e Mg:Al se conserva em estrelas de aglomerados. É importante notar que, em geral, as estrelas de campo não exibem comportamento similar, o que sugere que efeitos de ambiente devem influenciar no aparecimento destas anomalias observadas em estrelas anãs e gigantes de aglomerados globulares, uma vez que eles são preferencialmente formados em ambientes mais densos do que as estrelas de campo (ver Gratton et al. 2004, e referências listadas para uma revisão geral). 1 Aglomerado globular pobre em metal do halo da Galáxia com [Fe/H] = −2.26 (Harris 1996). 5.1 Introdução 132 Os elementos leves envolvidos no estudo das variações quı́micas em aglomerados globulares apresentam massa atômica entre 7 ≤ A ≤ 27 e são produzidos por processos fı́sicos de captura de prótons durante os ciclos CNO, Ne:Na e Mg:Al na fase de queima hidrostática do hidrogênio em estrelas. Como mostra a figura 5.1, as reações do ciclo CNO levam a produção do 4 He a partir da captura de 4 prótons (H), enquanto que os isótopos de C:N:O são principalmente convertidos no isótopo 14 N. Isso ocorre principalmente pelo fato da reação 14 N(p,γ)15 O ser mais lenta (108 anos) do que todas as outras da cadeia, consequentemente todo C e N estarão convertidos em 14 N até que aconteça a captura de um próton (H). Três nuclı́deos merecem destaque nas reações CNO: o primeiro deles é o 15 N, pois com temperaturas tı́picas da ordem de T = 25 × 106 K, a reação 15 N(p,α)12 C é 1000 vezes mais rápida (104 anos) do que a reação 15 N(p,γ)16 O e o ciclo CN atinge rapidamente equilı́brio antes que pelo menos 1 milésimo da abundância do próton inicial disponı́vel tenha sido queimada na reação. O carbono 12 C funciona como catalisador nas reações, sendo restaurado no final. O segundo nuclı́deo importante é o 17 O, que é produzido a temperaturas T . 25 × 106 K e destruı́do a temperaturas mais altas. Consequentemente, a quantidade de 17 O que será eventualmente levada à superfı́cie de estrelas nos processos de dragagem dependerá fortemente da massa das estrelas envolvidas. A cadeia comandada pelo nuclı́deo 17 O determina a relativa importância entre os ciclos II e III do CNO através das reações 17 O(p,α)14 N e 17 O(p,γ)18 F. O terceiro e último nuclı́deo importante nas reações CNO é o 18 O, que comanda a vazão (linha tracejada na figura 5.1) do ciclo III através das reações 18 O(p,γ)19 F e 18 O(p,α)15 N. A figura 5.2 mostra as reações nucleares envolvidas nos ciclos Ne:Na e Mg:Al. Da figura se nota que o mais importante nuclı́deo do sódio, o 23 Na, é produzido através das reações 22 Ne(p,γ)23 Na e destruı́do através das reações 23 Na(p,γ)24 Mg e 23 Na(p,α)20 Ne (a temperaturas T & 60 × 106 K). No caso do ciclo Mg:Al, o principal nuclı́deo envolvido é o 26 Al, sendo que o 24 Mg é o mais abundante dos nuclı́deos nas reações. Enquanto 24 Mg permanece inalterado a temperaturas da ordem T . 60 × 106 K, o isótopo 25 Mg é quase que completamente transformado em 26 Al a temperaturas T & 30 × 106 K. A temperaturas superiores, ou seja, T & 50 × 106 K, as vazões do ciclo Ne:Na (linha tracejada na cadeia Ne:Na da figura 5.2) aumentam a abundância dos nuclı́deos 24 Mg, 26 Al e 27 Al, enquanto que a temperaturas T & 70 × 106 K, há um aumento na concentração dos nuclı́deos 25 Mg, 26 Al e 27 Al devido ao rápido decréscimo na abundância de 24 Mg pela captura de próton. Desta forma, a razão das taxas das reações 27 Al(p,α)24 Mg e 27 Al(p,γ)28 Si determinam a vazão da cadeia Mg:Al. Explicar a origem das variações de abundâncias quı́micas de elementos leves (3 ≤ Z ≤ 13) 5.1 Introdução 133 Figura 5.1: Reações nucleares envolvidas no ciclo CNO. Figura apresentada em Arnould et al. (1999). Figura 5.2: Reações nucleares envolvidas nos ciclos Ne:Na e Mg:Al. Figura apresentada em Arnould et al. (1999). 5.1 Introdução 134 da Tabela Periódica em aglomerados globulares da Galáxia constitui-se uma das questões fundamentais e que ainda representa um desafio para os astrofı́sicos teóricos. Do ponto de vista teórico dois cenários clássicos buscam explicar estas anomalias: no primeiro cenário ou mixing evolutivo as variações de abundâncias ocorrem devido ao processo de migração de material processado no interior das estrelas para as superfı́cies das mesmas através do ciclo CNO durante os processos de dragagem instaurados na primeira ascensão das estrelas ao RGB (Iben 1964; Charbonnel 1994). No segundo cenário as anomalias são explicadas com base no enriquecimento primordial que requer contaminação intra-aglomerado do material onde as estrelas foram formadas (Smith 1987; Kraft 1994). Após a observação de anomalias quı́micas também em estrelas anãs de aglomerados globulares onde as condições internas destas estrelas (M = 0.85M : T = 25 × 106 K) não poderiam, em princı́pio, levar à ignição das reações apresentadas nas figuras 5.1 e 5.2, o cenário clássico do mixing evolutivo se enfraqueceu. No entanto, embora os processos fı́sicos sejam bem conhecidos, não há consenso sobre em quais ambientes astrofı́sicos as cadeias CNO, Ne:Na e Mg:Al dominariam para acarretar as variações de abundâncias quı́micas observadas em estrelas de aglomerados globulares. Alguns trabalhos sugerem que o enriquecimento quı́mico da nuvem protogaláctica que deu origem aos aglomerados globulares Galácticos se deu por ventos de matéria de estrelas AGBs (Cottrell & Da Costa 1981; Bekki et al. 2007) ou ainda por ventos de estrelas massivas de alta rotação (por exemplo, Decressin et al. 2007). M71 é considerado um aglomerado globular de referência no estudo de populações ricas em metais do Hemisfério Norte. Ele tem sido alvo de estudos focados na determinação de abundâncias quı́micas através de fotometria DDO de estrelas gigantes (Hesser 1977; Briley et al. 2001) e análises espectroscópicas envolvendo espectros de baixa e alta resolução de estrelas em diferentes estágios evolutivos, desde a sequência principal até o topo do ramo das gigantes (Cohen 1980; Smith & Norris 1982; Leep et al. 1987; Smith & Penny 1989; Penny et al. 1992; Sneden et al. 1994; Cohen et al. 1999; Cohen 1999; Ramı́rez & Cohen 2002; Lee et al. 2004; Lee 2005; Boesgaard et al. 2005; Yong et al. 2006). Muitos destes trabalhos encontram que a distribuição de CN é bimodal, com CN:CH e Na:O anticorrelacionados, além de variações relevantes na abundância de alumı́nio das estrelas analisadas. Nesta parte do trabalho apresentamos os resultados principais relativos à análise de bandas moleculares de CN e CH, e de outros ı́ndices espectrais importantes — Ca4227, Fe4383, Hβ , Mg1 , Mg2 , Mgb, Fe5270, Fe5335, Fe 5406, NaD e Al3953 — em espectros de alta razão S/N e baixa resolução de um grande número de estrelas de M71, desde a sequência principal até o topo do ramo das gigantes, obtidos com o espectrógrafo GMOS do Observatório 5.2 Análise 135 Gemini Norte. As observações e redução de dados foram detalhadas no capı́tulo 2 deste trabalho. Nosso principal objetivo é aumentar estatisticamente o número de estrelas analisadas neste aglomerado no que tange a determinação de parâmetros atmosféricos usando fotometria e isócronas, além do estudo de 14 ı́ndices espectrais visando a determinação independente de metalicidade para M71 e o exame de variações de abundâncias quı́micas neste aglomerado. Estimamos ainda as abundâncias de carbono e nitrogênio para duas estrelas da amostra pertencentes ao grupo CN-fraco e CN-forte, respectivamente. Nossos resultados auxiliam na identificação dos ambientes astrofı́sicos propostos para explicar as variações de abundâncias quı́micas observadas em estrelas de aglomerados globulares. Fazemos ainda uma comparação com dados de baixa e alta resolução já publicados na literatura para M71. 5.2 5.2.1 Análise Velocidades radiais observadas e heliocêntricas As velocidades radiais da amostra M71 GMOS@GEMINI foram obtidas usando os códigos rvidlines e fxcor do IRAF. A função rvidlines calcula a velocidade radial do espectro determinando os deslocamentos dos comprimentos de onda das linhas espectrais observadas tendo como referência os comprimentos de onda de laboratório destas linhas. Para isso, usamos 17 linhas espectrais: CaII 3933.667 Å, CaII 3968.470 Å, HI 4101.700 Å, FeI 4143.869 Å, FeI 4173.315 Å, CaI 4226.728 Å, HI 4340.499 Å, HI 4861.297 Å, FeI 4920.502 Å, FeI 4957.597 Å, MgI 5167.321 Å, MgI 5172.684 Å, MgI 5183.604 Å, NaI 5889.950 Å, NaI 5895.924 Å, FeI 6518.365 Å e HI 6562.909 Å. Após obtidas as velocidades radiais observadas o código calcula as correções heliocêntricas, desde que algumas informações básicas sobre a observação estejam previamente definidas. Para as 145 estrelas de M71 obtivemos uma velocidade radial heliocêntrica média de hvr i = −12 ± 46 kms−1 através do código rvidlines. O código fxcor, por outro lado, determina as velocidades de espectros usando o método da correlação cruzada de Fourier (Tonry & Davis 1979), cuja idéia principal é estudar o grau de similaridade (correlação cruzada) entre duas funções — a função f (espectros de referência) e a função g (espectros observados). Como espectros de referência utilizamos 77 objetos da biblioteca de espectros sintéticos de Coelho et al. (2005) com metalicidade [Fe/H] = −1.00, [α/Fe]= 0.00, 4250 ≤ Teff ≤ 5750 K e 0.00 ≤ logg ≤ 5.0 dex. Os valores de temperatura efetiva e gravidades superficiais foram escolhidos para contemplar os diferentes estágios evolutivos — anãs, sub-gigantes, estrelas do ramo horizontal e gigantes 5.2 Análise 136 Figura 5.3: Distribuição das velocidades radiais heliocêntricas de M71 obtidas através do método de correlação cruzada de Fourier. —, das estrelas da amostra. O cálculo da função de correlação foi feito para cada par estrela observada da amostra : espectro de referência, numa relação 1 para 77, e a velocidade radial heliocêntrica final de cada estrela foi obtida como sendo a média dos valores calculados pela comparação com cada espectro de referência. Para as 142 estrelas para as quais foi possı́vel o cálculo de velocidade radial heliocêntrica, estimamos uma velocidade radial heliocêntrica média de 11 ± 49 kms−1 . A diferença média entre as velocidades radiais obtidas nos dois diferentes códigos IRAF é ∆vhr = vhfxcor - vhrvidlines = 23 kms−1 . Para efeito de comparação, Harris (1996) obteve uma hvr i = −22.8 ± 0.2 kms−1 para M71. Vale destacar, porém, os principais aspectos sobre os nossos resultados de velocidade radial: (i) A acurácia na determinação das velocidades radiais medidas via correlação cruzada de Fourier usando os espectros de referência é menor do que 16 kms−1 . Como os espectros da amostra GMOS@GEMINI apresentam resolução R = 2000, a acurácia teórica em velocidade radial corresponde a (1/10)(c/2000) = 15 kms−1 , o que mostra que a incerteza prevista está em perfeito acordo com o espalhamento σ = 16 kms−1 obtido na correlação 5.2 Análise 137 cruzada. (ii) Individualmente os valores mais altos de velocidade radial heliocêntrica que foram obtidos para a amostra (ver figura 5.3) podem ser explicados em parte pela baixa resolução dos espectros. Encontramos uma distribuição gaussiana para a amostra com um espalhamento ∼ 45 kms−1 e interpretamos estes resultados como uma consequência natural da obtenção de velocidades radiais a tão baixa resolução (R = 2000). (iii) A acurácia na obtenção das velocidades radiais heliocêntricas é também dependente da calibração de comprimento de onda dos espectros, ou seja, da qualidade das imagens de lâmpadas usadas na calibração. No nosso caso, as imagens de lâmpada de cada máscara não estavam muito boas (baixas contagens), aliado ao fato de não terem sido observadas na mesma noite que as imagens cientı́ficas. Considerando os aspectos acima, as velocidades radiais obtidas no presente trabalho por correlação cruzada foram apenas usadas para deslocar os espectros para o comprimento de onda de laboratório usando o código dopcor, ou seja, elas não foram usadas como critério de seleção de estrelas pertencentes ao aglomerado. 5.2.2 Temperaturas Uma vez conhecidas as magnitudes das estrelas do programa (tabela 5.1) seguimos determinando as temperaturas efetivas para a amostra. Para tanto, adotamos a calibração de Alonso et al. (1996) para as estrelas anãs (V & 17.5): θeff,B−V = 0.541 + 0.533(B − V)0 + 0.007(B − V)20 − 0.019(B − V)0 [Fe/H] − 0.047[Fe/H]− −0.011[Fe/H]2 , (5.1) e de Alonso et al. (1999, 2001) para as estrelas gigantes em dois diferentes casos: θeff,B−V = 0.5716 + 0.5404(B − V)0 − 0.06126(B − V)20 − 0.04862(B − V)0 [Fe/H]− −0.011777[Fe/H] − 0.007969[Fe/H]2 , (5.2) se (B-V)0 ≤ 0.70, do contrário: θeff,B−V = 0.6177 + 0.4354(B − V)0 − 0.004025(B − V)20 + 0.05204(B − V)0 [Fe/H]− −0.1127[Fe/H] − 0.01385[Fe/H]2 , (5.3) 5.2 Análise 138 8000 6000 4000 0 0.5 1 1.5 Figura 5.4: Calibrações de temperatura para estrelas gigantes (Alonso et al. 1999, 2001, cı́rculos e quadrados) e para estrelas anãs (Alonso et al. 1996, triângulos) entre 0 ≤ (B-V) o ≤ 1.5 e [Fe/H] = −0.73. onde: Teff = 5040 θeff,B−V (5.4) As calibrações acima são funções polinomiais que dependem da cor e da metalicidade das estrelas. Para corrigir as magnitudes do avermelhamento interestelar adotamos E(B-V) = 0.27 (Geffert & Maintz 2000) e [Fe/H] = −0.73 (Harris 1996) como valor inicial de metalicidade. As incertezas nas temperaturas são dadas pelas incertezas nas calibrações, tipicamente σ = 150 K. A calibração 5.1 implica que um erro de 0.03 mag na cor resulta em um erro médio de 2.5% na Tef f , enquanto que um erro de 0.3 dex em [Fe/H] implica uma variação de 1.3% na temperatura efetiva. A figura 5.4 mostra o comportamento das funções polinomiais acima usadas para obter as temperaturas, onde se vê a relativa dependência da temperatura com a cor intrı́nseca. 5.2 Análise 5.2.3 139 Gravidades superficiais Para a determinação das gravidades superficiais para as estrelas gigantes da amostra (V . 17.5) usamos a relação clássica de logg envolvendo parâmetros fundamentais como a temperatura, massa e magnitude bolométrica de cada estrela: log g∗ = 4.44 + 4 log(T∗ /T ) + 0.4(Mbol − 4.75) + log(M∗ /M ), (5.5) com T = 5780 K, M∗ = 0.80 M , Mbol = 4.75 e adotando (m-M)V = 13.60 e E(B-V) = 0.27 de Geffert & Maintz (2000), juntamente com as correções bolométricas de Alonso et al. (1999, 2001). Para as estrelas anãs (V & 17.5) as gravidades superficiais foram calculadas por interpolação das cores intrı́nsecas (B-V)0 numa isócrona de 12 bilhões de ano, [Fe/H] = −0.68 e [α/Fe] = 0.00 (Kim et al. 2002), que foi a melhor isócrona ajustada ao DCM de M71. As incertezas nas gravidades superficias fotométricas obtidas pela equação clássica são da ordem de σ = ±0.30 dex, como consequência de uma incerteza σMbol ≈ 0.30 mag na magnitude bolométrica devido a ±0.05 mag de incerteza na extinção interestelar A V e basicamente 30% de incerteza no módulo de distância. A tabela 5.1 apresenta a magnitude visual V, as cores, a magnitude bolométrica, a gravidade superficial e a temperatura efetiva para cada estrela. Tabela 5.1: Magnitude, cores e parâmetros atmosféricos para as estrelas do programa: identificação das estrelas (1, como dado em Cudworth (1985)), coordenadas das estrelas J2000 (2)-(3), magnitude V (4), cores das estrelas (5)-(6), magnitude bolométrica (7), gravidades superficiais [dex] (8) e temperaturas [K] (9). ID (1) 155 : KC-141 138 : KC-127 114 : KC-136 253 : KC-119 1468† : ... 367 : KC-343 327 : 1-73 346 : KC-215 α (2) δ (3) V (4) 298.4016 298.3995 298.3962 298.4147 298.4188 298.4335 298.4268 298.4298 +18.75612 +18.79042 +18.76293 +18.81320 +18.77991 +18.79543 +18.78301 +18.79586 15.34 14.44 14.80 14.52 17.30 16.33 14.79 15.30 B-V (B-V)o (5) (6) Mbol (7) logg TB−V (8) (9) 1.23 1.07 1.22 1.11 0.81 0.63 1.20 0.97 1.370 0.602 0.839 0.650 3.723 2.914 0.846 1.539 2.63 2.43 2.43 2.42 3.94 3.81 2.44 2.88 0.960 0.800 0.950 0.840 0.540 0.360 0.930 0.700 4709 5000 4726 4924 5799 6500 4761 5202 5.2 Análise ID (1) 356 : 1-71 221 : 1-109 207 : 1639 291 : 1-95 306 : 1-75 751 : 1289 3791† : ... 1936 : 1280 390 : 1-66 1511 : 1-113 1124 : 1-88 69 : KC-202 7677 : 1346 51† : ... 488† : ... 7277 : KC-336 1351 : 1-45 573 : KC-196 505 : 1-34 1556 : 1-46 7498 : A4 917 : KC-200 1796 : 1134 458 : 1-43 6761 : ... 566 : KC-363 439 : ... 619 : 1355 1235 : 1670 640 : 1-48 122 : KC-303 1035 : 1600 787 : 1-59 292 : X 258 : KC-152 2984† : ... 328† : ... 1060 : ... 1294 : ... 792† : ... 140 α (2) 298.4318 298.4103 298.4085 298.4206 298.4229 298.4129 298.4245 298.4169 298.4382 298.4403 298.4363 298.4608 298.4740 298.4469 298.4532 298.4665 298.4507 298.4697 298.4574 298.4642 298.4715 298.4624 298.4556 298.4485 298.4591 298.4681 298.4450 298.4770 298.4834 298.4814 298.3969 298.3999 298.4237 298.4207 298.4158 298.4104 298.4270 298.4140 298.4180 298.4254 Tabela 5.1 – continuação δ V B-V (B-V)o (3) (4) (5) (6) +18.79003 +18.77245 +18.79252 +18.76555 +18.79264 +18.78219 +18.79684 +18.77425 +18.77940 +18.79596 +18.76084 +18.81061 +18.79896 +18.77311 +18.78136 +18.79440 +18.79796 +18.79116 +18.78078 +18.79901 +18.77711 +18.80419 +18.80151 +18.79111 +18.77784 +18.77355 +18.77383 +18.79714 +18.79839 +18.79968 +18.77009 +18.77520 +18.80803 +18.73372 +18.73698 +18.77345 +18.75018 +18.77067 +18.78680 +18.79479 13.54 14.87 17.00 13.30 14.85 17.83 16.83 17.45 13.01 12.43 14.26 15.17 18.14 17.30 16.83 ... 12.36 15.60 14.45 12.29 12.20 15.53 18.69 14.26 ... 16.36 ... 17.94 16.77 14.39 16.01 17.57 14.63 14.40 15.03 17.02 16.52 ... ... 16.64 1.44 1.24 0.75 1.29 1.29 0.84 1.07 0.95 1.40 1.80 0.99 1.12 0.86 0.71 0.76 ... 1.76 1.17 1.05 1.75 1.69 1.30 0.83 1.06 ... 1.43 ... 0.80 0.86 1.07 0.81 0.95 1.30 1.07 1.26 0.84 0.70 ... ... 1.03 1.170 0.970 0.480 1.020 1.020 0.570 0.800 0.680 1.130 1.530 0.720 0.850 0.590 0.440 0.490 ... 1.490 0.900 0.780 1.480 1.420 1.030 0.560 0.790 ... 1.160 ... 0.530 0.590 0.800 0.540 0.680 1.030 0.800 0.990 0.570 0.430 ... ... 0.760 Mbol (7) -0.627 0.891 3.477 -0.723 0.827 4.227 2.992 3.745 -1.117 -2.222 0.484 1.292 4.517 3.813 3.298 ... -2.221 1.681 0.628 -2.275 -2.271 1.498 5.097 0.430 ... 2.203 ... 4.377 3.148 0.552 2.433 3.855 0.598 0.562 1.034 3.416 3.042 ... ... 2.833 logg TB−V (8) (9) 1.71 2.44 3.90 1.76 2.38 4.47 3.39 3.81 1.54 0.87 2.44 2.67 4.50 4.08 3.82 ... 0.89 2.80 2.46 0.88 0.91 2.64 4.45 2.37 ... 2.85 ... 4.37 3.66 2.41 3.42 4.59 2.28 2.42 2.48 3.78 3.78 ... ... 3.35 4375 4691 6012 4608 4608 5705 5000 5366 4435 3903 5161 4905 5634 6165 5976 ... 3950 4814 5039 3962 4036 4592 5741 5020 ... 4390 ... 5852 5635 5000 5799 5336 4592 5000 4658 5699 6205 ... ... 5079 5.2 Análise ID (1) 13 : 1-79 232† : ... 402 : 1-87 4126 : ... 1633 : KC-374 2001 : 1-103 1873 : ... 10387 : KC-267 1958 : ... 921† : ... 526 : 1-53 484 : 1-55 6548 : 2071 1181 : 1058 1785 : 1-36 11860 : ... 5871 : ... 6079 : ... 7299 : ... 7453 : ... 1214 : 2084 951 : 2080 2154 : ... 1219 : 1356 1716 : ... 8009 : ... 654 : 1669 1926 : 1633 3 : 1995 338 : 1-107 391 : KC-234 223 : KC-300 314 : ... 1325 : 1-70 294 : 1308 4448 : ... 10218 : ... 3915 : ... 813 : ... 266 : KC-223 141 α (2) 298.4087 298.4123 298.4396 298.4290 298.4338 298.4317 298.4356 298.4380 298.4417 298.4650 298.4607 298.4526 298.4558 298.4628 298.4463 298.4575 298.4479 298.4502 298.4678 298.4694 298.4746 298.4727 298.4710 298.4765 298.4827 298.4805 298.4843 298.4001 298.3983 298.4283 298.4385 298.4105 298.4240 298.4343 298.4210 298.4327 298.4360 298.4260 298.4306 298.4171 Tabela 5.1 – continuação δ V B-V (B-V)o (3) (4) (5) (6) +18.77783 +18.77188 +18.76128 +18.77043 +18.78996 +18.76827 +18.78181 +18.77221 +18.77365 +18.77283 +18.81613 +18.80644 +18.80534 +18.79180 +18.77901 +18.80072 +18.79313 +18.77050 +18.80609 +18.80521 +18.80516 +18.80355 +18.78277 +18.79601 +18.79184 +18.79990 +18.80037 +18.78803 +18.77371 +18.77441 +18.76578 +18.77746 +18.79783 +18.78580 +18.79190 +18.78299 +18.78151 +18.78303 +18.77201 +18.77581 13.99 16.84 14.37 ... 16.27 14.33 ... 15.69 ... 16.53 12.97 14.26 19.85 17.79 12.79 ... ... ... ... ... 19.00 18.08 ... 17.92 ... ... 17.26 17.28 16.92 13.70 15.59 16.11 ... 14.43 16.31 ... ... ... ... 15.54 1.43 1.06 1.05 ... 1.23 0.87 ... 0.44 ... 0.72 1.61 1.10 1.05 0.80 1.25 ... ... ... ... ... 0.91 0.77 ... 0.98 ... ... 1.28 1.01 1.11 1.13 0.12 1.12 ... 1.09 0.83 ... ... ... ... 0.96 1.160 0.790 0.780 ... 0.960 0.600 ... 0.170 ... 0.450 1.340 0.830 0.780 0.530 0.980 ... ... ... ... ... 0.640 0.500 ... 0.710 ... ... 1.010 0.740 0.840 0.860 0.150 0.850 ... 0.820 0.560 ... ... ... ... 0.690 Mbol (7) -0.167 3.010 0.548 ... 2.300 0.698 ... 2.443 ... 3.034 -1.392 0.398 6.027 4.227 -1.197 ... ... ... ... ... 5.327 4.546 ... 4.173 ... ... 3.246 3.489 3.050 -0.186 ... 2.232 ... 0.576 2.715 ... ... ... ... 1.826 logg TB−V (8) (9) 1.90 3.40 2.42 ... 3.01 2.67 ... 3.87 ... 3.76 1.31 2.33 4.65 4.37 1.60 ... ... ... ... ... 4.56 4.31 ... 4.62 ... ... 3.35 3.63 3.38 2.08 ... 3.05 ... 2.41 3.51 ... ... ... ... 3.04 4390 5020 5039 ... 4709 5604 ... 7499 ... 6126 4138 4943 5039 5852 4675 ... ... ... ... ... 5465 5967 ... 5243 ... ... 4624 5120 4924 4887 ... 4905 ... 4962 5732 ... ... ... ... 5338 5.2 Análise ID (1) 256 : KC-224 1934 : ... 206 : 1604 407 : 1-65 1693 : ... 1818 : ... 6868 : ... 1210 : 1342 2013 : ... 1161 : ... 6786 : ... 12299 : ... 888† : ... 7505 : ... 7573 : ... 452 : 1-21 10927 : ... 5964 : ... 1897 : ... 613 : 1378 641 : KC-191 651 : KC-170 720 : KC-125 4 : 2021 399 : 1-81 1282 : KC-298 1081 : ... 829 : KC-265 4482 : ... 1486 : ... 3909 : ... 1087 : ... 387 : ... 778 : ... 2045 : ... 1292† : ... 242 : 1281 212 : KC-128 5412 : ... 574 : ... 142 α (2) 298.4154 298.4136 298.4084 298.4402 298.4683 298.4662 298.4617 298.4741 298.4565 298.4523 298.4601 298.4637 298.4543 298.4702 298.4724 298.4475 298.4456 298.4495 298.4584 298.4761 298.4816 298.4838 298.4006 298.3983 298.4392 298.4108 298.4221 298.4352 298.4329 298.4293 298.4273 298.4247 298.4374 298.4201 298.4178 298.4159 298.4135 298.4089 298.4417 298.4698 Tabela 5.1 – continuação δ V B-V (B-V)o (3) (4) (5) (6) +18.76982 +18.78399 +18.77378 +18.78101 +18.80594 +18.80561 +18.80363 +18.80269 +18.80247 +18.80226 +18.73407 +18.78218 +18.78301 +18.79745 +18.79126 +18.76873 +18.77864 +18.77822 +18.77371 +18.78647 +18.79488 +18.75471 +18.79778 +18.78664 +18.77778 +18.79258 +18.77992 +18.77724 +18.79019 +18.77786 +18.78753 +18.77539 +18.79451 +18.78474 +18.78361 +18.77535 +18.77435 +18.78764 +18.78268 +18.80458 15.13 ... 16.83 14.20 ... ... ... 18.50 ... ... ... ... 17.39 ... ... 13.02 ... ... ... 17.57 15.01 15.57 15.32 17.59 13.69 16.15 ... 15.50 ... ... ... ... ... ... ... 17.31 17.56 15.19 ... ... 0.63 ... 0.87 1.31 ... ... ... 0.83 ... ... ... ... 1.37 ... ... 1.49 ... ... ... 0.89 1.20 1.14 1.12 0.96 1.41 1.22 ... 1.25 ... ... ... ... ... ... ... 1.19 0.99 1.37 ... ... 0.360 ... 0.600 1.040 ... ... ... 0.560 ... ... ... ... 1.100 ... ... 1.220 ... ... ... 0.620 0.930 0.870 0.850 0.690 1.140 0.950 ... 0.980 ... ... ... ... ... ... ... 0.920 0.720 1.100 ... ... Mbol (7) 1.714 ... 3.198 0.159 ... ... ... 4.907 ... ... ... ... 3.293 ... ... -1.200 ... ... ... 3.917 1.066 1.676 1.442 3.865 -0.447 2.189 ... 1.513 ... ... ... ... ... ... ... 3.374 3.803 1.093 ... ... logg TB−V (8) (9) 3.33 ... 3.67 2.10 ... ... ... 4.45 ... ... ... ... 3.32 ... ... 1.45 ... ... ... 4.53 2.53 2.82 2.73 4.60 1.80 2.97 ... 2.68 ... ... ... ... ... ... ... 3.46 4.62 2.44 ... ... 6500 ... 5604 4575 ... ... ... 5741 ... ... ... ... 4481 ... ... 4302 ... ... ... 5531 4761 4868 4905 5305 4419 4726 ... 4675 ... ... ... ... ... ... ... 4778 5213 4481 ... ... 5.2 Análise ID (1) α (2) 78 : 1341 1561 : ... 1894 : ... 881 : KC-252 7014 : ... 11907 : ... 523 : ... 2229 : ... 2153 : ... 513 : 1-11 5843 : 1-42 11331 : ... 1144 : ... 1815 : ... 616 : 1158 8076 : ... 1409 : ... 5.2.4 143 298.4731 298.4658 298.4537 298.4516 298.4625 298.4568 298.4605 298.4750 298.4674 298.4587 298.4474 298.4495 298.4455 298.4642 298.4767 298.4831 298.4810 Tabela 5.1 – continuação δ V B-V (B-V)o (3) (4) (5) (6) +18.80265 +18.80221 +18.80117 +18.78288 +18.78173 +18.79274 +18.78475 +18.78421 +18.79044 +18.76193 +18.78542 +18.77523 +18.78746 +18.77378 +18.77737 +18.79152 +18.79049 18.08 ... ... 15.38 ... ... ... ... ... 14.81 14.22 ... ... ... 17.50 ... ... 0.79 ... ... 0.69 ... ... ... ... ... 1.19 1.02 ... ... ... 0.89 ... ... 0.520 ... ... 0.420 ... ... ... ... ... 0.920 0.750 ... ... ... 0.620 ... ... Mbol (7) logg TB−V (8) (9) 4.526 ... ... 1.911 ... ... ... ... ... 0.874 0.421 ... ... ... 3.850 ... ... 4.34 ... ... 3.34 ... ... ... ... ... 2.46 2.39 ... ... ... 3.91 ... ... 5890 ... ... 6245 ... ... ... ... ... 4778 5099 ... ... ... 5542 ... ... Índices espectrais Em espectros de baixa resolução a medida e análise de ı́ndices espectrais é crucial para corretamente interpretarmos a história de evolução quı́mica de populações estelares em galáxias. Os ı́ndices espectrais deste trabalho foram medidos utilizando o código LECTOR, do Professor Alexandre Vazdekis do Instituto de Astrofı́sica das Canárias, na Espanha (Vazdekis et al. 2003). O código determina as pseudo larguras equivalentes dos ı́ndices, uma vez definidos dois pseudo-contı́nuos — um na região azul e outro na região vermelha em torno da região central definida por cada ı́ndice. Na tabela 5.2 apresentamos as bandas usadas para definir cada ı́ndice (Worthey et al. 1994; Worthey & Ottaviani 1997; Serven et al. 2005). Como ilustra a figura 5.5 para Hβ , a banda central do ı́ndice define o seu respectivo fluxo médio Find e uma interpolação linear entre os fluxos médios de cada pseudo-contı́nuo define o pseudo-contı́nuo Fc . Desta forma o ı́ndice espetral é calculado pela razão de fluxos Find :Fc na banda central. Caso o ı́ndice esteja definido em unidades de [Å], como é o caso dos ı́ndices que caracterizam linhas atômicas, temos que: 5.2 Análise 144 Tabela 5.2: Definição dos ı́ndices Índice Pseudo-contı́nuo no azul Central Pseudo-contı́nuo no vermelho (1) (2) (3) (4) CN1 4081.375 4118.875 4143.375 4178.375 4245.375 4285.375 CN2 4085.125 4097.625 4143.375 4178.375 4245.375 4285.375 Ca4227 4212.250 4221.000 4223.500 4236.000 4242.250 4252.250 G4300 4267.625 4283.875 4282.625 4317.625 4320.125 4336.375 Fe4383 4360.375 4371.625 4370.375 4421.625 4444.125 4456.625 H− beta 4827.875 4847.875 4847.875 4876.625 4876.625 4891.625 Mg1 4895.125 4957.625 5069.125 5134.125 5301.125 5366.125 Mg2 4895.125 4957.625 5154.125 5196.625 5301.125 5366.125 Mgb 5142.625 5161.375 5160.125 5192.625 5191.375 5206.375 Fe5270 5233.150 5248.150 5245.650 5285.650 5285.650 5318.150 Fe5335 5304.625 5315.875 5312.125 5352.125 5353.375 5363.375 Fe5406 5376.250 5387.500 5387.500 5415.000 5415.000 5425.000 NaD 5862.375 5877.375 5878.625 5911.125 5923.875 5949.875 Al3953 3937.600 3967.400 3921.300 3935.500 3969.500 3987.000 Iang = Z λ2 λ1 Find (λ) 1− dλ, Fc (λ) (5.6) No entanto, se os ı́ndices forem definidos através de bandas moleculares, as grandezas usadas são definidas em unidades de magnitude [mag], o que permite que a equação 5.6 seja reescrita da seguinte forma: Imag 1 = −2.5log . ∆λ Z λ2 λ1 Find (λ) dλ , Fc (λ) (5.7) onde ∆λ = λ2 − λ1 . Para os espectros GMOS@GEMINI de baixa resolução do aglomerado globular rico em metais M71 medimos 70 ı́ndices de abundâncias para cada estrela. Discutiremos aqui os resultados para 14 deles, considerados os mais importantes: CN (CN1 [mag], CN2 [mag]), Ca4227 [Å], G4300:CH [mag], Fe4383 [Å], Hβ [Å], Mg (Mg1 [mag], Mg2 [mag], Mgb [Å]), Fe5270 [Å], Fe5335 [Å], Fe 5406 [Å], NaD [Å] e Al3953 [Å]. As incertezas sobre cada ı́ndice foram medidas pelo próprio código LECTOR (Cardiel et al. 1998) aplicando a estatı́stica de Poisson aos espectros de contagens das estrelas, ou seja, nos espectros imediatamente anteriores ao processo de calibração em fluxo, com ganho 2 5.2 Análise 145 Figura 5.5: Painel superior: espectro de M71 com ı́ndices identificados. Painel inferior: demonstração de como é feito o cálculo de um ı́ndice espectral usando o ı́ndice de H β para um dos espectros de M71. A banda central (região sombreada em verde com linhas horizontais) e os pseudo-contı́nuos no azul (região sombreada em azul com linhas inclinadas) e no vermelho (região sombreada em vermelho com linhas inclinadas) são apresentados. O fluxo médio em cada pseudo-contı́nuo é usado para linearmente interpolar o pseudocontı́nuo através da banda central. O ı́ndice é calculado através da razão de fluxos no contı́nuo (Fc ) e na banda central (Find ) integrados entre λ1 e λ2 . 5.3 Resultados 146 e− /ADU e ruı́do de leitura de 4.66 e− . Como as incertezas de Poisson são subestimadas, obtivemos também a dispersão em torno da média das medidas de cada ı́ndice, uma vez que estas representam melhor as incertezas globais envolvidas. Nas tabelas B.1, B.2 e B.3 apresentamos os ı́ndices calculados com as respectivas incertezas de Poisson. 5.3 Resultados Devido principalmente às diferentes distâncias das fendas (slits) em relação ao bisector das máscaras confeccionadas para a observação GMOS@GEMINI, a cobertura em comprimento de onda dos espectros GEMINI/GMOS de M71 varia de estrela para estrela. Além disso, como são usados três CCD’s, cada espectro individual apresenta dois hiatos (gaps) de aproximadamente 0.5 mm ao longo da escala de comprimento de onda. Estes fatos isolados somados à qualidade dos espectros (razão sinal-ruı́do) e a probabilidade P de pertinência das estrelas ao aglomerado foram os fatores usados na seleção da amostra para a análise dos ı́ndices: (i): Cada espectro individual de M71 foi inspecionado atentando-se para as bandas mostradas na tabela 5.2 e se as mesmas coincidiam com as descontinuidades dos espectros por conta da separação entre os três CCDs. Nestes casos, notamos que valores absurdos dos ı́ndices espectrais foram obtidos e, portanto, as respectivas estrelas foram descartadas. (ii): Após vários testes, limitamos a trabalhar na análise dos ı́ndices apenas para as estrelas mais brilhantes da amostra (V < 15.5). (iii): Foram analisadas apenas as estrelas com alta probabilidade de pertinência ao aglomerado (P ≥ 80%). Seguindo estes critérios de seleção seguem abaixo os nossos principais resultados. 5.3.1 CN e CH Como apresentado na tabela 5.2 os ı́ndices CN1 e CN2 medem a intensidade da banda de absorção de CN em 4150 Å e se diferenciam apenas pela definição do contı́nuo azul (CN1 azul > CN2 azul ). Como os ı́ndices CN1 apresentam maior cobertura em comprimento de onda eles foram adotados como indicadores da intensidade de CN neste trabalho. As figuras 5.6a,b apresentam os resultados de CN1 como uma função da magnitude e da cor intrı́nseca, respectivamente, com as estrelas identificadas nas figuras. A amostra selecionada apresenta uma sequência de estrelas com CN-fraco (cı́rculos abertos) e outra 5.3 Resultados 147 caracterizada pelo CN-forte (cı́rculos fechados), ou seja, a distribuição de CN nestas figuras é claramente bimodal. A sequência CN-forte é uma indicação da alta quantidade de nitrogênio na atmosfera destas estrelas e, como esperado, em cada famı́lia de CN as estrelas com temperaturas mais baixas apresentam valores mais altos de CN. Pelas figuras nota-se que as estrelas 1556 e 1351 parecem não seguir o comportamento geral da famı́lia CN-fraco a uma dada magnitude ou cor intrı́nseca. Isso se deve ao fato de que os seus pseudo-contı́nuos no vermelho foram um pouco afetados pela presença de um dos hiatos dos espectros, baixando significativamente suas medidas finais de CN1 . Para as estrelas da famı́lia CN-forte encontramos hCNi = 0.19 ± 0.04 (N = 8 estrelas), enquanto para a sequência CN-fraco determinamos hCNi = 0.04 ± 0.04 (N = 20 estrelas), sendo que as estrelas 1351 e 1556 não foram levadas em conta para o cálculo do valor médio do grupo CN-fraco. Na figura 5.7 apresentamos a localização das estrelas CN-forte (estrelas) e CN-fraco (cı́rculos fechados) no DCM de M71 para as estrelas com V<15.5. Estrelas mais fracas (V>15.5, quadrados cheios) são também mostradas na figura, porém não há distinção alguma entre as suas intensidades de CN, o que é parcialmente explicado pela baixa razão S/N dos espectros, aliado ao fato de que as estrelas subgigantes e anãs são mais quentes. A figura 5.8 mostra o comportamento do ı́ndice CN1 em função da gravidade superficial, onde se nota a clara separação CN-forte:CN-fraco para as estrelas do RGB. Outra caracterı́stica interessante da figura 5.8 é que as estrelas 526 (V = 12.97 : (B-V) 0 = 1.34), 390 (V = 13.01 : (B-V)0 = 1.13) e 291 (V = 13.30 : (B-V)0 = 1.02) apresentam valores mais altos nas bandas de CN em relação as outras estrelas do RGB. No DCM de M71 (figura 5.7) estas estrelas parecem pertencer ao AGB, sendo assim, os seus valores mais altos de CN podem ser interpretadas como uma assinatura de processos de dragagem adicionais nestas estrelas. Como os espectros das estrelas anãs apresentam baixa razão S/N, não foi possı́vel assinalar sobre a bimodalidade de CN nas mesmas. No entanto, Cohen (1999) estudou o comportamento de CN:CH em estrelas da sequência principal de M71 e encontrou bimodalidade e anticorrelações nas bandas moleculares de CN:CH nestas estrelas. O ı́ndice CH ou banda G em 4300 Å é um traçador de carbono. Este ı́ndice é importante pois o seu comportamento ao longo do diagrama cor-magnitude de um aglomerado pode revelar informações importantes sobre os processos de mixing ao longo dos vários estágios evolutivos das estrelas. Na figura 5.9 mostramos o ı́ndice G4300 em função da magnitude. Os sı́mbolos são os mesmos usados nas figuras 5.6a,b onde as sequências CN-forte e CNfraco são representadas por cı́rculos cheios e abertos, respectivamente. Exceto para a estrela 291, que apresenta CN e CH forte, todas as estrelas CN-forte tendem a apresentar 5.3 Resultados 148 Figura 5.6: (a): CN1 versus magnitude V e (b) CN1 versus (B-V)0 para a amostra de M71, destacando o locus CN-forte (cı́rculos cheios) e CN-fraco (cı́rculos abertos). As barras de erro correspondem ao desvio padrão das medidas. 5.3 Resultados 149 Figura 5.7: Diagrama cor-magnitude (V,B-V) de M71 mostrando o grupo CN-forte (estrelas) e CN-fraco (cı́rculos cheios). As estrelas anãs e subgigantes apresentadas (quadrados cheios) não permitem qualificação de grupo com base em suas respectivas intensidades de CN. 5.3 Resultados 150 Figura 5.8: Índice CN1 em função da gravidade superficial. Vé-se que, em decorrência da baixa razão S/N, as estrelas com V > 15.5 (logg & 2.4) não apresentam uma clara separação CN-forte:CN-fraco. As barras de erro são como discutidas no texto. 5.3 Resultados 151 Figura 5.9: Banda G4300 em função da magnitude, onde os grupos CN-forte (cı́rculos cheios) e CN-fraco (cı́rculos abertos) estão apresentados separadamente. As barras de erro são como discutidas no texto. valores mais baixos de CH, enquanto que as estrelas CN-fraco tendem a apresentar valores mais altos de CH. Este comportamento geral confima a conhecida anticorrelação CN-CH em estrelas de aglomerados globulares (por exemplo, Dickens et al. 1979; Smith 1987; Kraft 1994; Gratton et al. 2004, e referências listadas). Notar, porém, que embora as estrelas 2001, 458, 505 e 7498 apresentem alta probabilidade de pertinência a M71, elas tendem a apresentar valores mais baixos de CH do que as outras estrelas CH-fraco da amostra. As três primeiras estrelas pertencem ao HB de M71, o que sugere que a bimodalidade na banda molecular de CN é também detectada no HB. A figura 5.10 apresenta um exemplo da bimodalidade em CN seguida da anticorrelação CN-CH para duas estrelas de M71 com magnitude visual e temperatura efetiva similares. A estrela gigante 390, classificada como CN-forte (T = 4435 K : CN = 0.24 : CH = 6.18), apresenta CN mais alto e CH mais baixo do que a estrela 399, classificada como CN-fraco (T = 4419 : CN = 0.04 : CH = 6.62). 5.3.2 Índices de ferro Nós medimos os ı́ndices Fe4383, o qual é dominado por espécies de ferro, carbono e magnésio, além do Fe5270, Fe5335, Fe5406, Mg1 , Mg2 e Mgb. Usamos hFei = (Fe4383 5.3 Resultados 152 CN-strong : Star 390 : V = 13.01 mag : T = 4434 K CN-weak : Star 399 : V = 13.69 : T = 4419 K CN CH Figura 5.10: Estrelas 390 (linha cheia, CN-forte) e 399 (linha pontilhada, CN-fraco) de M71 mostrando a região das bandas moleculares de CN e CH. + Fe5270 + Fe5335 + Fe5406)/4 e Mg2 como os indicadores de ferro deste grupo. Estes ı́ndices são bastante usados no estudo de sı́ntese de populações de galáxias. A figura 5.11 exibe o comportamento do ı́ndice Mg2 em função da banda molecular de CN e da temperatura efetiva, respectivamente. Nesta figura vê-se que ambas as sequências CNforte e CN-fraco correspondem a ı́ndices de Mg2 ≥ 0.05 mag e que Mg2 tende a ser mais alto para as estrelas mais frias (Teff ≤ 4300 K). 5.3.3 Ca4227 Este ı́ndice é bastante usado no estudo de populações estelares em galáxias, onde o cálcio é considerado um elemento representativo na determinação de abundâncias quı́micas dos elementos-α (por exemplo, Thomas et al. 2003; Prochaska et al. 2005). Encontramos hCa4227i = 1.15 ± 0.75 Å para 32 estrelas no intervalo de 12 ≤ V ≤ 15.5 e com probabilidade P ≥80% de pertinência a M71. As figuras 5.12 e 5.13 mostram o comportamento do ı́ndice Ca4227 como uma função da Teff e, respectivamente, dos ı́ndices hFei e Mg2 , indicadores de metalicidade na amostra. Comparando as figuras 5.11 e 5.12, nota-se uma similaridade entre o comportamento geral 5.3 Resultados 153 Figura 5.11: Painel superior: ı́ndice Mg2 versus CN1 . Painel inferior: ı́ndice Mg2 versus Teff . As barras de erro são como discutidas no texto. 5.3 Resultados 154 Figura 5.12: Índice de Ca4227 como uma função da tempertaura efetiva. As barras de erro são como discutidas no texto. dos ı́ndices Mg2 e Ca4227 com a temperatura efetiva, o que explica o comportamento quase linear entre os ı́ndices Ca4227 e Mg2 na figura 5.13. Pelo comportamento geral dos ı́ndices nas figuras, nota-se que as estrelas mais frias e com ı́ndices metálicos mais altos tendem a apresentar valores mais altos de Ca4227. Estas figuras evidenciam também que os ı́ndices metálicos hFei e Mg2 apresentam dependência não-linear no regime de mais baixa temperatura. 5.3.4 Hβ O ı́ndice Hβ é amplamente usado como um forte indicador de idade nos estudos de populações estelares em galáxias, sendo relativamente sensı́vel a temperatura e a gravidade superficial. Encontramos para a amostra M71 um valor médio hHβ i = 1.38 ± 0.35 Å (N = 24 estrelas). Notamos que para estrelas com V < 14 há uma alta dispersão nos valores de Hβ . Este efeito parece ser real dado que as figuras 5.14a,b sugerem alta dispersão do ı́ndice Hβ para estrelas mais frias que 4500 K. 5.3 Resultados 155 Figura 5.13: Painel superior: Ca4227 versus <Fe>, com hFei = (Fe4383 + Fe5270 + Fe5335 + Fe5406)/4. Painel inferior: Ca4227 versus Mg2 . As barras de erro são como discutidas no texto. 5.3 Resultados 156 Figura 5.14: (a): Índice Hβ em função da magnitude V e (b): Hβ versus Teff . As barras de erro são como discutidas no texto. 5.3 Resultados 5.3.5 157 NaD e Al3953 Os ı́ndices NaD e Al3953 desta análise foram definidos em Worthey et al. (1994) e Serven et al. (2005), respectivamente. Como apresentado na tabela 2 de Serven et al. (2005), o novo ı́ndice Al3953 apresenta alta resposta espectral às abundâncias de alumı́nio. Todavia, embora ambos os ı́ndices sejam importantes no entendimento das variações de abundâncias em populações estelares, eles são compostos de linhas de ressonância e são altamente sensı́veis a efeitos da absorção interestelar. Estes efeitos precisam ser levados em consideração ao interpretar os resultados destes dois ı́ndices. Para a amostra de M71 encontramos valores médiso de hNaDi = 4.60 ± 2.38 Å (N = 28 estrelas) e hAl3953i = 2.76± 1.35 Å (N = 25 estrelas). A figura 5.15 apresenta os valores de NaD e Al3953 como uma função da banda molecular de CN, enquanto a figura 5.16 apresenta o comportamento dos ı́ndices NaD e Mg 2 em função do ı́ndice Al3953. 5.3.6 Fitting functions ou funções de ajuste Em Astrofı́sica, as funções de ajuste são as mais simples representações matemáticas polinomiais que permitem escrever ı́ndices espectrais em termos de parâmetros atmosféricos, como a temperatura efetiva Teff , a gravidade superficial logg e a metalicidade [Fe/H]. Para espectros de baixa resolução de aglomerados globulares da Galáxia e uma vez conhecidos pelo menos dois dos parâmetros atmosféricos, o método das funções de ajuste é bastante útil na determinação de metalicidade dos aglomerados sem qualquer dependência com o módulo de distância e/ou avermelhamento destes objetos. Para este trabalho usamos as funções de ajuste para os ı́ndices Fe5270, Fe5335 e Mg2 definidas em Barbuy et al. (2003), escritas também em função da razão [α/Fe]. Como visto na subseção 5.3.2, estes três ı́ndices são bons indicadores de metalicidade e pouco dependentes da temperatura e da gravidade. Os ı́ndices definidos em Barbuy et al. (2003) seguem funções gerais do tipo: indice = [exp](a + b(logθ) + c(logθ)2 + d(logg) + e(logg)2 + f([Fe/H]) + g([Fe/H]2 )+ +h([α/Fe]) + i(logθ)(logg) + j(logθ)([Fe/H]) + k(logθ)([α/Fe]) + l(logθ) 2 (logg)+ +m(logθ)(logg)2 ), (5.8) com θ = (5040)/T e [exp] podendo definir uma função polinomial ou a exponencial de uma função polinomial. As funções de ajuste de Barbuy et al. (2003) foram determinadas 5.3 Resultados 158 Figura 5.15: Painel superior: NaD versus CN1 . Painel inferior: Al3953 versus CN1 . As barras de erro apresentadas nas figuras são como explicadas ao longo do texto. 5.3 Resultados 159 Figura 5.16: Painel superior: Al3953 versus NaD. Painel inferior: Mg 2 versus Al3953. As barras de erro apresentadas nas figuras são como explicadas no texto. 5.3 Resultados 160 a partir de espectros sintéticos com FWHM = 3.5 Å e 8 Å, −3 ≤ [Fe/H] ≤ +0.3, 0 ≤ logg ≤ 3 e 4000 ≤ Teff ≤ 7000 K. Para as estrelas analisadas de M71 encontramos valores médios hFe5270i = 2.70±1.47 (N = 30 estrelas), hFe5335i = 2.53±1.48 (N = 29 estrelas) e hMg2 i = 0.17227 ± 0.11828 (N = 28 estrelas). No entanto, para as estrelas com 4500 < Teff < 5000 K — intervalo de temperatura onde o Mg2 é válido e onde há menos dispersão nos resultados dos outros dois ı́ndices de ferro investigados —, encontramos valores médios hFe5270i = 2.21 ± 0.72 (N = 18 estrelas), hFe5335i = 2.04 ± 0.63 (N = 17 estrelas) e hMg 2 i = 0.12 ± 0.03 (N = 11 estrelas). Com estes últimos ı́ndices médios e adotando os coeficientes VALUE1 da tabela A do apêndice de Barbuy et al. (2003) para FWHM = 3.5 Å e parâmetros atmosféricos médios de temperatura efetiva (Teff = 4768 K) e gravidade superficial (logg = 2.29 dex), além de uma razão [α/Fe] = 0.30, encontramos metalicidade [Fe/H]= −0.81, −0.91 e −0.68 para a amostra de M71, que correspondem aos ı́ndices Fe5270, Fe5335 e Mg2 , respectivamente. Estes resultados fixam a metalicidade média de M71 em [Fe/H] = −0.80 ± 0.11 usando o procedimento das funções de ajuste. No que concerne os resultados de metalicidade para M71 da literatura, analisando 10 espectros de alta qualidade (R = 30000) de estrelas gigantes, Sneden et al. (1994) obtiveram [Fe/H] = −0.79 ± 0.01 para M71. Com base em dados de alta resolução (R = 35000) obtidos com o HIRES@KECK, Ramı́rez et al. (2001) analisaram em detalhes o padrão de abundâncias quı́micas de 25 estrelas em diferentes posições do RGB de M71 e obtiveram [Fe/H] = −0.71. Numa reanálise dos dados de Sneden et al. (1994) e usando uma nova calibração de metalicidade para aglomerados globulares da Galáxia derivada através de razões [FeII/H] de vários aglomerados globulares Galácticos, Kraft & Ivans (2003) obtiveram [Fe/H] = −0.82 para M71. E, recentemente, Boesgaard et al. (2005) analisaram 5 estrelas anãs e obtiveram [Fe/H] = −0.80 ± 0.02 para M71. Eles usaram espectros de alta resolução (R = 45000) obtidos com o HIRES@KECK. Sendo assim, os nossos resultados de [Fe/H] com base nos ı́ndices espectrais medidos nos espectros de baixa resolução GMOS@GEMINI (R = 2000) estão em bom acordo com os resultados de [Fe/H] obtidos através de espectros com resolução de 15 a 22.5 vezes superior (R = 30000-45000) a alcançada pelo espectrógrafo GMOS. A tabela 5.3 resume os diferentes valores de metalicidade atribuı́dos a M71 na literatura. 5.3.7 Sı́ntese espectral de CN e CH Com o objetivo de confirmar os resultados dos ı́ndices, realizamos o cálculo do espectro sintético de bandas de CN e CH na região de 4000-4400 Å para as estrelas 390 e 399. 5.4 Discussões 161 Tabela 5.3: Compilação dos valores de metalicidade para M71 [Fe/H] [FeI/H] [FeII/H] Método Referência −0.79 −0.73 −0.71 −0.82 −0.80 −0.81 −0.91 −0.68 −0.79 — −0.71 −0.81 −0.81 — — — −0.79 — −0.84 −0.82 −0.85 — — — Alta Resolução : 10 gigantes Compilação Alta Resolução : 25 gigantes Revisão de Sneden et al.: 10 gigantes Alta Resolução : 5 anãs Funções de ajuste Funções de ajuste Funções de ajuste Sneden et al. (1994) Harris (1996) Ramı́rez et al. (2001) Kraft & Ivans (2003) Boesgaard et al. (2005) Fe5270 (este trabalho) Fe5335 (este trabalho) Mg2 (este trabalho) Adotamos [Fe/H] = −0.80 para ambas, [O/Fe]=+0.30 e fixamos o valor da velocidade de microturbulência em vt = 1.5 kms−1 , considerado valor tı́pico para estrelas gigantes. Os outros parâmetros atmosféricos das estrelas foram previamente obtidos, ou seja, T eff = 4434 K e log g = 1.54 para a estrela 390 e Teff = 4419 K e log g = 1.8 para a estrela 399. Utilizamos o código Pfant de sı́ntese espectral (Cayrel et al. 1991; Barbuy et al. 2003), usando os modelos MARCS de atmosferas estelares (Gustafsson et al. 2003) e a lista de linhas de CN e CH de Kurúcz (1993) que foi implementada ao código como descrito em Castilho et al. (1999). Encontramos abundâncias de carbono e nitrogênio de [C/Fe]=0.0, [N/Fe]=+1.0 para a estrela 390 (CN-forte) e [C/Fe]=0.0, [N/Fe]=+0.50 para a estrela 399 (CN-fraco). Como mostra a figura 5.17, são notáveis as diferenças nas abundâncias de nitrogênio. 5.4 Discussões Sabe-se que as estrelas de aglomerados globulares exibem anomalias nas abundâncias de uma variedade de elementos quı́micos — C, N, O, Na, Mg e Al—, e que tais variações são inconsistentes com as previsões feitas pelos modelos clássicos da teoria de evolução estelar e muito maiores do que as observadas em estrelas de campo de metalicidade similar. Por outro lado, não há até o momento na literatura cientı́fica um único cenário astrofı́sico capaz de explicar as anomalias observadas e, no caso dos aglomerados globulares mais ricos em metais, a situação parece ser mais drástica devido principalmente à já conhecida dependência dos processos responsáveis pela alteração das abundâncias de CNO com a metalicidade global dos aglomerados ao longo do ramo das gigantes. No caso particular de M71 trabalhos anteriores demonstraram que há bimodalidade na 5.4 Discussões 162 Star 390 : V = 13.01 mag : T = 4434 K [C/Fe] = 0.0 : [N/Fe] = +1.0 : [O/Fe] = +0.30 Star 399 : V = 13.69 mag : T = 4419 K [C/Fe] = 0.0 : [N/Fe] = +0.5 : [O/Fe] = +0.30 Figura 5.17: Espectro observado (linha pontilhada) e espectro sintético (linha sólida) na região das bandas moleculares de CN e CH. Superior: Estrela 390 (CN-forte): (T eff , logg, vt ) = (4434 K, 1.54, 1.5 kms−1 ) com cálculo para [C/Fe]=0.0 e [N/Fe]=+1.0; Inferior: Estrela 399 (CN-fraco): (4419 K, 1.8, 1.5 kms−1 ) com cálculo realizado para [C/Fe]=0.0 e [N/Fe]=+0.50. 5.4 Discussões 163 distribuição de CN e que os ı́ndices CN e CH são anticorrelacionados — CN-forte/CHfraco e CN-fraco/CH-forte. Smith & Norris (1982) foi um dos trabalhos pioneiros neste sentido. Eles demonstraram que as abundâncias CN:CO nas estrelas mais luminosas do que o ramo horizontal de M71 eram anticorrelacionadas e que CN mostrava-se positivamente correlacionada com o Na. Smith & Penny (1989) computaram os ı́ndices de CN em 3883 Å e 4215 Å e CH 4300 Å para uma amostra de estrelas do ramo horizontal de M71 e verificaram existir uma variação na abundância de CN. Eles também encontraram uma anticorrelação CN 3883 Å com a banda de CH, indicando assim que parte do material encontrado na atmosfera das estrelas de CN-forte deveria ter sido produzido pelo ciclo CN na queima hidrostática de hidrogênio. Penny et al. (1992), por sua vez, mostraram a bimodalidade CN e a anticorrelação CN-CH em estrelas sub-gigantes de M71, enquanto que Cohen (1999) encontrou relações similares para uma amostra de 79 estrelas da sequência principal. Briley et al. (2001) determinaram as abundâncias de CN e CH para 75 estrelas gigantes de M71 usando o sistema fotométrico DDO C(41-42) e confirmaram os resultados acima. Lee (2005) estudou as variações nas bandas moleculares de CN e CH em 14 estrelas gigantes de M71 e também encontrou a bimodalidade de CN, enquanto que a anticorrelação CN-CH não é clara. As correlações e anticorrelações CN-CH são também encontradas em estrelas anãs e gigantes de 47 Tucanae (por exemplo, Norris & Freeman 1979; Cannon et al. 1998), outro aglomerado rico em metais ([Fe/H] = −0.67, Alves-Brito et al. (2005)) do Hemisfério Sul quimicamente similar a M71. Todavia, 47 Tucanae é mais massivo e mais concentrado do que M71 com raio a meia massa (rh ) e parâmetro de concentração (c) iguais a 2.79 minutos de arco e 2.03, respectivamente, enquanto que para M71 rh = 2.65 minutos de arco e c = 1.15 segundo compilação de Harris (1996). Usando as designações das estrelas na fotometria Cudworth (1985) e comunicação privada em 2006, pudemos identificar algumas estrelas da presente amostra comum a outras análises da literatura (por exemplo, Smith & Penny 1989; Penny et al. 1992; Lee 2005) e comparar diretamente as intensidades de CN e CH obtidas. Para 22 estrelas em comum, a comparação direta foi possı́vel para 15 delas, pois os resultados de 3 estrelas da nossa amostra foram afetados pela presença dos dois hiatos ao longo dos espectros (gaps do CCD) e não foram encontradas medidas CN-CH para outras 4 estrelas. Das 15 estrelas finais, 13 apresentam a mesma classificação CN-forte:CN-fraco como identificadas neste trabalho, enquanto que para 2 delas encontramos uma classificação diferente na literatura — as estrelas 1-43 e 1-88 foram previamente classificadas como CN-forte. Por outro lado, dentro de uma incerteza de 1σ, estas estrelas apresentariam a mesma classificação encontrada na literatura. 5.4 Discussões 164 Com respeito aos nossos resultados CN-CH, a figura 5.9 mostra a distribuição de estrelas CN-forte e CN-fraco no plano CH em função da magnitude. No geral vê-se que as estrelas com CN-forte (cı́rculos cheios) tendem a apresentar valores mais baixos de CN. Vale no entanto salientar que, como previamente discutido, a a medida de CN da estrela 640 pode ter sido afetada pela presença dos hiatos nos espectros. Pela mesma razão, a estrela 346 não apresenta medida confiável de CH. As estrelas 2001, 458 e 505, as quais foram classificadas como CN-fraco, tendem a apresentar valores mais baixos de CH do que as outras estrelas do grupo CN-fraco. Mesmo com alguns pontos estatisticamente fora da média ou outliers nossa distribuição CN-CH tem proporção similar a encontrada por Smith & Norris (1982) para estrelas gigantes, ou seja, a famı́lia CN-fraco correspondendo a cerca de 30% das estrelas da amostra. Dentro da teoria padrão de estrutura e evolução estelar de estrelas de baixa massa o aumento da abundância de nitrogênio acompanhado pelo decréscimo de carbono em estrelas CN-forte é atribuı́do ao fenômeno de dragagem de material processado no interior destas estrelas para a atmosfera das mesmas pelo ciclo CN (Iben 1964; Charbonnel 1994). As variações de CN seguidas por anticorrelações na banda de CH confirmam que episódios de misturas (mixing) ocorreram nas estrelas gigantes de M71 estudadas. Por outro lado, a bimodalidade de CN é melhor explicada no cenário de variações primordiais das abundâncias. Além disso, a hipótese do mixing não explica a correlação positiva encontrada para o CN-Na e CN-Al, uma vez que Na e Al não são produzidos durante os eventos de mixing nas estrelas. Elementos tais como Al e Mg são produzidos pela alta captura de prótons a mais alta temperatura (Langer & Hoffman 1995; Arnould et al. 1999). Como mostra a figura 5.16, encontramos uma forte anticorrelação entre as intensidades dos ı́ndices Al3953:NaD e Al3953:Mg2 . A anticorrelação Al-Mg encontrada em estrelas gigantes de aglomerados globulares é bem explicada no contexto do extra-mixing discutido em Denissenkov & VandenBerg (2003). Vale ainda salientar que Ramı́rez & Cohen (2002) reportaram encontrar uma correlação [Na/Fe]:[Al/Fe] para a amostra de M71 estudada com dados de alta resolução, contudo a correlação encontrada apenas se justifica dentro de 2σ de incerteza nas abundâncias. Outro cenário plausı́vel para explicar as variações de abundâncias é a poluição da atmosfera de estrelas de baixa-massa pelos ventos enriquecidos de material processado no ciclo CNO em estrelas de massa intermediária do ramo assintótico das gigantes (Cayrel 1986; Gratton et al. 2004; Bekki et al. 2007) ou ainda por ventos de estrelas massivas de alta rotação (por exemplo, Decressin et al. 2007). Bekki et al. (2007) propôs um modelo de formação de aglomerados globulares nas regiões centrais de proto-galáxias contidas 5.4 Discussões 165 em halos de matéria escura. Estas proto-galáxias reteriam os ventos estelares das AGBs, causando a poluição externa de elementos quimicamente processados pelas cadeias CNO, Ne:Na e Mg:Al sobre as estrelas dos aglomerados globulares. Este modelo explica com sucesso as anticorrelações C-N e Mg-Al, mas não explica as anticorrelações Na-O também encontradas em aglomerados globulares. Para a nossa amostra de M71 encontramos que CN-Na são correlacionados, o que implica que as variações de abundâncias sejam melhor explicadas no contexto das variações primordiais em detrimento aos episódios de mistura. Por outro lado, a correlação CN-Al vista em dados de alta resolução não é óbvia para a nossa amostra. Capı́tulo 6 Conclusões e perspectivas Apresentamos a nova escala de abundâncias quı́micas para NGC 6553 com base em espectros de alta resolução (R = 55000) e alta razão S/N de estrelas gigantes obtidos por intermédio do espectrógrafo UVES do telescópio Kueyen de 8.2m do Very Large Telescope. Estes são os melhores dados de estrelas individuais obtidos para este aglomerado até o momento. Apresentamos, pela primeira vez, a análise detalhada de um espectro de altı́ssima razão S/N de NGC 6553, o qual foi estatisticamente combinado a partir de 22 estrelas gigantes com dados de alta qualidade (R = 22000) obtidos com o espectrógrafo FLAMES do Very Large Telescope. Apresentamos ainda o estudo de variações de abundâncias quı́micas em M71 usando espectros de baixa resolução (R = 2000) obtidos com o espectrógrafo GMOS do Observatório Gemini Norte. Estes resultados constituem-se vı́nculos observacionais importantes no estudo da evolução quı́mica dos aglomerados globulares no regime de mais alta metalicidade da função distribuição de metalicidade da Galáxia. 6.1 Sinopse As principais conclusões são resumidas a seguir: • Na nova escala de abundâncias NGC 6553 apresenta, preferencialmente, valor médio de metalicidade [Fe/H]= −0.20. Este resultado baseia-se nos melhores dados obtidos no óptico para este aglomerado, o que põe fim ao vasto debate na literatura cientı́fica dos últimos anos acerca da metalicidade de NGC 6553. Este resultado é 6.1 Sinopse 167 ainda compatı́vel não apenas com medidas de metalicidade com dados de alta qualidade no infravermelho para NGC 6553 (Meléndez et al. 2003), mas também com a metalicidade média das estrelas de campo do bojo (Fulbright et al. 2006; Lecureur et al. 2007). • Na análise com os espectros individuais de NGC 6553 encontramos sobreabundância quı́mica para o Mg e Si, enquanto que Ca e Ti são subabundantes. A sobreabundância das razões [(Mg:Si)/Fe] são interpretadas como assinaturas de uma evolução quı́mica rápida dominada pelas SNs do Tipo II. Por outro lado, seguindo as idéias da fı́sica das explosões de SNs, as anomalias Ca:Ti são interpretadas como uma consequência natural dos produtos (yields) quı́micos envolvendo estes elementos, uma vez que cálcio e titânio são produzidos em eventos de SNs do Tipo II com progenitora de mais baixa massa quando comparados aos outros elementos α estudados. • As abundâncias de cálcio em aglomerados globulares ricos em metais precisam ser melhor estudadas buscando entender a discrepância entre os resultados das razões [Ca/Fe] obtidas com dados no óptico, as quais tendem a fornecer abundâncias solares, enquanto que as razões [Ca/Fe] com base em dados no infravermelho tendem a apresentar valores supersolares ([Ca/Fe] ≥ 0.20). No entanto, as abundâncias solares de cálcio obtidas para os aglomerados globulares ricos em metais são reminiscentes das abundâncias determinadas para estrelas de campo do bojo a mais altas metalicidades e mesmo galáxias elı́pticas. • A razão [Mn/Fe] obtida para NGC 6553 e NGC 6528 é completamente distinta da obtida para estrelas de campo do bojo da Galáxia. Os valores médios de [Mn/Fe] para NGC 6553 e NGC 6528, dois aglomerados globulares ricos em metais do bojo, seguem o comportamento das estrelas enriquecidas em metais da galáxia anã Sagittarius como analisadas por McWilliam et al. (2003a,b). Por outro lado, os nossos resultados de [Mn/Fe] estão compatı́veis com as previsões teóricas de modelos de evolução quı́mica para o bojo da Galáxia (Matteucci & Gescutti, comunicação privada em 2008). • Estatisticamente não podemos inferir sobre eventuais correlações ou anticorrelações entre os elementos produzidos pela captura de próton que foram estudados nos espectros individuais de NGC 6553 ou mesmo nos outros aglomerados globulares ricos em metais analisados no nosso Grupo de Pesquisa. Todavia, o valor médio de [Na/O] de NGC 6553 e dos outros aglomerados estudados segue a anticorrelação [Na/O] em função da metalicidade obtida para estrelas de campo do bojo na análise de Lecureur et al. (2007). 6.1 Sinopse 168 • As subabundâncias quı́micas de Ba, La e Zr — elementos pesados produzidos através do processo s —, analisados em NGC 6553 são uma confirmação independente de que o aglomerado estudado é velho. O európio, único elemento do processo r estudado, segue o comportamento do cálcio, o que pode indicar que os elementos do processo r são mesmo produzidos em estrelas massivas durante os eventos de SNs de Tipo II, como sugerem trabalhos atuais (por exemplo, Truran et al. 2002). As razões de [Ba/Eu] para NGC 6553, NGC 6528, 47 Tucanae, HP-1 e NGC 6558 sugerem que a produção dos elementos pesados nos aglomerados globulares ricos em metais da Galáxia é incompatı́vel com uma contribuição puramente pelo processo r. • O método de combinar espectros de estrelas frias e com parâmetros atmosféricos similares observadas no Very Large Telescope com o intuito de obter um espectro único (combinado) de altı́ssima resolução, que seria equivalente a um espectro observado num Extremely Large Telescope, ou seja, num tempo de integração de cerca de 25 vezes menor, parece promissor principalmente no regime de mais alta metalicidade onde o grande povoamento de linhas e moléculas nestes espectros dificultam a identificação precisa do contı́nuo. A metalicidade global Z de NGC 6553 obtida com os espectros individuais observados com o espectrógrafo UVES@VLT é similar a metalicidade global Z calculada através da análise detalhada de linhas individuais no espectro combinado de NGC 6553 a partir de 22 estrelas que foram observadas com o espectrógrafo FLAMES@VLT. • A nova escala de abundância quı́mica obtida para NGC 6553 neste trabalho comparada aos valores de abundâncias quı́micas de estrelas de campo do disco fino, disco espesso e bojo, além da comparação do espectro combinado de estrelas gigantes de NGC 6553 ao espectro combinado de estrelas gigantes do campo Blanco −6 ◦ , classificam NGC 6553 como um aglomerado globular rico em metais tı́pico do bojo da Galáxia. • Para a amostra de estrelas investigadas em M71, determinamos os parâmetros atmosféricos que são úteis para a construção de espectros sintéticos de outros aglomerados globulares ricos em metais e analisamos o comportamento de 14 ı́ndices espectrais. Obtivemos que a distribuição de CN é bimodal e que os ı́ndices de CN estão anticorrelacionados com as bandas moleculares de CH. Investigamos ainda o comportamento do ı́ndice Al3953 definido em Serven et al. (2005) e encontramos anticorrelação forte Al3953:Mg2 para a amostra estudada. Os nossos resultados sugerem que as anomalias quı́micas observadas em M71 podem ser explicadas tanto pelos processos convectivos de mistura, como também pela poluição — através das estrelas AGBs ou de estrelas massivas — da nuvem protogaláctica que deu origem 6.2 Perspectivas 169 a M71. Neste sentido, as anomalias seriam primordiais, ou seja, a nuvem protogaláctica que deu origem a M71 já tinha sido enriquecida de material quı́mico processado nos ciclos CNO, Ne:Na e Mg:Al. • Usando funções de ajuste ou fitting functions obtivemos metalicidade média [Fe/H] = −0.80 para M71. Este resultado está compatı́vel com os valores recentes obtidos através da análise espectroscópicos com base em dados de alta resolução obtidos para este aglomerado (por exemplo, Ramı́rez & Cohen 2002; Boesgaard et al. 2005). As funções de ajuste formam, assim, um método eficaz na determinação independete da metalicidade de aglomerados globulares usando espectros de baixa resolução. • Os nossos resultados confirmam que NGC 6553, NGC 6528, HP-1 e NGC 6558 são aglomerados globulares ricos em metais que pertencem ao bojo da Galáxia. 47 Tucanae, por sua vez, parece mesmo seguir o padrão de abundância quı́mica do disco espesso da Galáxia no que tange o cálculo dos elementos do pico do ferro. Tanto os resultados de abundâncias quı́micas com os espectros de alta resolução de NGC 6553, NGC 6528, 47 Tucanae, HP-1 e NGC 6558, quanto os dados de baixa resolução para M71 sugerem que os aglomerados globulares ricos em metais foram mesmo formados numa nuvem primordial já enriquecida em metais. No entanto, são ainda necessários mais resultados para aglomerados globulares ricos em metais ([Fe/H] ≥ −1) e estrelas de campo no mesmo regime de metalicidade para descrevermos em detalhes o histórico de enriquecimento quı́mico dos aglomerados globulares ricos em metais da Galáxia. Os nossos resultados com dados de alta qualidade fortalecem o estudo de espectros sintéticos de aglomerados globulares ricos em metais situados na região mais interna da Galáxia (Rgal . 3 kpc), onde as dificuldades de observação são eminentes. Além disso, auxiliam no estudo de aglomerados globulares ricos em metais extragalácticos. As abundâncias obtidas são vı́nculos observacionais fortes aos modelos teóricos de evolução quı́mica da Galáxia e, particularmente, auxiliam na interpretação de como se deu a formação dos aglomerados globulares ricos em metais e como as várias subestruturas da Galáxia - halo interno, bojo e disco espesso - estão conectadas. 6.2 Perspectivas São muitas as perspectivas que se abrem em torno do presente trabalho de tese. Muitas delas serão realizadas em estágios de Pós-Doutoramento. 6.2 Perspectivas 170 • Realizar a análise detalhada de forma homogêna e sistemática de estrelas anãs e gigantes de campo do halo, do bojo e do disco espesso no intervalo de metalicidade −2.5 ≤ [Fe/H] ≤ +0.5 e comparar com os resultados obtidos para estrelas de aglomerados globulares ricos em metais. Os espectros das estrelas de campo já foram observados (R ≈ 80000) e foram reduzidos durante meu estágio de Doutorado Sanduı́che na Australian National University em 2007. • Estudar, usando ı́ndices espectrais, as variações de abundâncias em estrelas anãs e gigantes de 7 aglomerados globulares da Galáxia — NGC 6752 ([Fe/H] = −1.56), NGC 288 ([Fe/H] = −1.24), NGC 1851 ([Fe/H] = −1.22), Pal 12 ([Fe/H] = −0.94), NGC 6352 ([Fe/H] = −0.70), NGC 6388 ([Fe/H] = −0.60) e NGC 5927 ([Fe/H] = −0.37) —, com dados do espectrógrafo FORS2 (FOcal Reducer and low dispersion Spectrograph) do Very Large Telescope. • Definir um novo ı́ndice metálico com base no Tripleto de Cálcio visando a determinação de metalicidade em aglomerados globulares extragalácticos. Serão usados dados obtidos com o Telescópio Keck de 10m e o supercomputador da Swinburne University na Austrália. • Fazer a sı́ntese empı́rica do espectro integrado de M71, com base direta no diagrama cor-magnitude do aglomerado acoplado a uma biblioteca de espectros de alta resolução. Os modelos que queremos calibrar consistem de uma grade de modelos de espectros integrados de populações estelares simples, com idades entre 1 e 17 bilhões de anos e metalicidade entre −0.7<[Fe/H]< +0.2. • Estimar a idade espectroscópica de M71 usando linhas observadas de Balmer, de H β a H , com uma consistência com as idades inferidas dos diagramas cor-magnitude dentro de 1 a 2 bilhões de anos. Apêndice A Sı́ntese espectral A.1 Linhas atômicas e moleculares O arquivo de linhas atômicas é formado por mais de 30000 linhas que se estendem desde o ultravioleta até o infravermelho próximo. As linhas atômicas não identificadas da lista foram atribuı́das ao Fe I com potencial de excitação χ = 3 eV. O arquivo de linhas moleculares, por sua vez, consta das seguintes bandas moleculares: TiO α (C3 ∆-X3 ∆), TiO γ (A3 Φ-X3 ∆), MgH (A2 Π-X2 Σ), C2 (A3 Π-X3 Π), CN azul (B2 ΣX2 Σ), CN vermelho (A2 Π-X2 Σ), CH (A2 ∆-X2 Σ) e CH (B2 ∆-X2 ∆). Ambos arquivos têm sido constantemente atualizados à medida que parâmetros atômicos de melhor qualidade são disponibilizados para a comunidade cientı́fica. A.2 Modelos de atmosferas Adotamos os modelos MARCS de atmosferas para estrelas gigantes frias de Plez et al. (1992) e posteriores atualizações. Estes modelos satisfazem as hipóteses de geometria esférica homogênea, equilı́brio termodinâmico local e equilı́brio hidrostático, descrevendo as condições fı́sicas que dominam o transporte de energia na atmosfera das estrelas em termos de variáveis termodinâmicas como a temperatura, pressão do gás, pressão eletrônica, densidade e da pressão de radiação, incluindo as opacidades das linhas atômicas e moleculares. A variação destes mensuráveis fı́sicos com a profundidade óptica em cada camada estratificada da atmosfera das estrelas define um modelo de atmosfera estelar. A convecção foi tratada segundo o paradigma da teoria de comprimento de mistura e com os fluxos radiativo e convectivo obedecendo o princı́pio de conservação de energia. As equações abaixo definem a estrutura de um modelo de atmosfera estelar vinculada à A.2 Modelos de atmosferas 172 hipótese de equilı́brio termodinâmico local: 1] Pela teoria cinética dos gases, em condições de equilı́brio termodinâmico local, a pressão e a temperatura nas camadas da atmosfera estelar estão relacionadas da seguinte forma: Pgas = nkT, (A.1) onde n é a densidade numérica de partı́culas, k é a constante de Boltzmann e T é a temperatura local na camada, de forma que a distribuição das partı́culas nas camadas em um intervalo de velocidades entre (v, v+dv) é maxwelliana: m 3/2 dn 2 2 = 4πv e−mv /2kT dv n 2πkT (A.2) 2] Dentro do formalismo da Mecânica Estatı́stica os nı́veis discretos de energia de átomos, ı́ons, moléculas e núcleos são distinguı́veis e em condições de equilı́brio termodinâmico o número relativo destas estruturas em dois diferentes estados de energia (estados de excitação) pode ser determinado pela equação clássica de Boltzmann: ηl gl −(χl −χj ) = e kT , ηj gj (A.3) onde gl e gj são os pesos estatı́sticos (degenerescência) dos estados η l e η j relativo aos estados de energia acima do estado fundamental (potencial de excitação) χl e χj , respectivamente, e T é a temperatura de excitação. 3] As populações nos estados ionizados foram determinadas pela equação de Saha: ηj+1 2(2π)3/2 (kT)5/2 φj+1 (T) −(Ij,j+1 )/kT = e , ηj h3 Pe φj (T) (A.4) onde Pe é a pressão de elétrons, Ij,j+1 é a energia necessária para elevar o nı́vel de ionização j para o nı́vel j+1 e φj e φj+1 as funções de partição para cada nı́vel, respectivamente. 4] Equações de dissociação molecular no equı́librio são usadas para o cálculo das linhas moleculares. A.3 Opacidades A.3 173 Opacidades As fontes de opacidade responsáveis pela formação do continuum estelar são devido a absorção dos fótons por elétrons livres, transições ligado-livre e livre-ligado de HI, H − e metais; transições livre-livre na absorção e emissão de fótons por átomos, moléculas e ı́ons como H− , He− , H2 − , H2 + , CN− , C2 − , H2 O− , próton e H2 e espalhamento devido aos átomos, ao espalhamento Thompson de elétrons e pelo espalhamento Rayleigh de moléculas. No caso de estrelas frias o continuum é modelado principalmente pelos ı́ons e os radicais negativos de átomos e moléculas. O coeficiente de absorção atômica por unidade de atômos de hidrogênio [cm −1 ] para as linhas é calculado pela equação: πe2 2 H(a, s) √ , λ αgfP j me c 2 π∆λD kλ,atom = (A.5) onde: λ ∆λD = c a H(a, s) = π Z r +∞ −∞ a= 2kT + ξ2 m (A.6) 2 e−m dm (s − m)2 + s2 (A.7) λ2 γ 4πc∆λD (A.8) ∆λ ∆λD (A.9) s= Na equação A.5 e e me são a carga e a massa de repouso do elétron, respectivamente. A constante c é a velocidade da luz, λ é o comprimento de onda central da linha, α é a abundância do elemento por núcleo de átomos, ı́ons ou moléculas; gf é o produto do peso estatı́stico de um nı́vel pela força de oscilador f que está relacionada às probabilidades de transição ou coeficientes de Einstein; Pj é a fração de átomos no nı́vel inferior j na A.4 Constante de alargamento colisional 174 excitação (Lei de Boltzmann) e na ionização (Lei de Saha); ∆λD é a largura da linha devido ao efeito Doppler e H(a,s) é a integral de Hjerting responsável pelo cálculo do perfil da linha. Na equação A.8 γ é um parâmetro de amortecimento expresso pela soma parcial da largura colisional (γ6 ), natural (γnat ) e devido ao efeito Stark (γ4 ). O coeficiente de absorção molecular é o utilizado em Barbuy (1982): kλ,mol = πe2 2 H(a, s) , λ =N00nvJ √ 2 me c π∆λD (A.10) onde = é a força de oscilador da molécula, N”nvJ é a população de moléculas no nı́vel inferior de excitação eletrônico (n), vibracional (v) e rotacional (J) na transição. Uma vez conhecidas as fontes de opacidade do continuum e das linhas atômicas e moleculares obtém-se a profundidade óptica como uma integração destas quantidades ao longo de uma escala geométrica nas camadas da atmosfera estelar. Consequentemente o fluxo monocromático da radiação é computado e o espectro sintético é produzido. Se as propriedades dos espectros calculados do modelo reproduzem os espectros das observações significa que a fı́sica e a estrutura quı́mica do modelo de atmosferas reflete de fato a estrutura verdadeira das estrelas analisadas. A.4 Constante de alargamento colisional O alargamento térmico Doppler e o oriundo da componente de microturbulência não são suficientes para explicar o acentuado alargamento das linhas mais intensas como Na I e Ca I, onde os efeitos de amortecimento passam a ser importantes. O alargamento colisional ocorre devido a perturbação propagada aos átomos absorvedores quando estes colidem com partı́culas da atmosfera das estrelas. O alargamento colisional pode ser obtido pela equação abaixo dada em Gray (1992) e Ryan (1998): 2/5 γ6 C6 = 17 3/5 , nH v (A.11) onde nH é a densidade do átomo de hidrogênio, C6 é a constante de interação e v é a velocidade relativa média dos átomos e dos agentes perturbadores. As constantes de amortecimento para as linhas deste trabalho foram calculadas com base na teoria de A.5 Estrutura hiperfina 175 amortecimento estabelecida em Barklem et al. (1998a), por intermédio das tabelas de Anstee & O’Mara (1995), Barklem & O’Mara (1997) e Barklem et al. (1998b). Para algumas linhas o C6 foi obtido por sı́ntese espectral comparando o espectro sintético com o espectro solar e da estrela gigante Arcturus (ver, por exemplo, Barbuy et al. 2006). A.5 Estrutura hiperfina Prótons e elétrons são partı́culas com spin 1/2 que apresentam momento magnético próprio devido ao spin. O acoplamento do spin nuclear I com o momento angular J do elétron é conhecido como interação hiperfina. Esta interação é análoga ao acoplamento spin-órbita do elétron (L - S) e a um dado nı́vel o momento angular total vale F = I + J, onde os números quânticos assumem valores de |I-J| a |I+J|. Para um dado J e I há (2I + 1) estados possı́veis de F se J>I e (2J + 1) estados de F se I≥J. As transições são permitidas nos termos quando ∆F assume valores ∆F = 0 ou ±1 e proibidas quando F = 0 → F = 0. Os variados acoplamentos entre os momentos envolvidos provocam diferentes alterações nos nı́veis de energia: (3/4)K(K + 1) − J(J + 1)I(I + 1) 1 , ∆E = AK + B 2 2I(2I − 1)(2J − 1) (A.12) K = F(F + 1) − I(I + 1) − J(J + 1) (A.13) onde: As variáveis A e B são as constantes da estrutura hiperfina (HFS) determinadas experimentalmente. A interação pode alargar as linhas espectrais de 1 a 10 mÅ, de tal forma que os sistemas atômicos são desdobrados em subestruturas. Nas análise de abundância estelar caso as componentes de estrutura hiperfina sejam negligenciadas ou subestimadas para as linhas mais intensas (Ba, La, Eu, Mn, Cu), a abundância resultante será superestimada . Os cálculos de estrutura hiperfina foram realizados por um código gentilmente cedido pelo Professor Andrew McWilliam. Apêndice B Índices espectrais medidos Neste apêndice apresentamos todos os ı́ndices discutido no capı́tulo 5 com respectivas incertezas obtidas com base na estatı́stica de Poisson. Tabela B.1: Índices espectrais medidos e respectivas incertezas associadas. ID CN1 σCN1 CN2 σCN2 Ca4227 σCa4227 G4300 σG4300 Fe4383 σFe4383 (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) (11) ... 0.04322 0.16148 0.00931 -0.05119 -0.11786 0.15312 -0.03214 0.06381 0.05313 -0.09300 0.22158 0.16083 -0.04367 -0.12458 -0.04689 0.23949 0.09395 0.06381 0.13869 -0.16205 -0.11096 -0.11935 0.08145 -0.05832 0.10763 0.03659 -0.01914 0.10080 0.27506 -0.11522 0.05273 -0.01236 0.30405 0.00500 -0.28551 -0.22732 0.03427 -0.05273 -0.02359 0.02371 ... ... -0.14430 ... -0.04419 -0.08150 0.09121 0.33752 0.06822 0.00322 ... 0.00209 0.00286 0.00229 0.00791 0.00402 0.00276 0.00320 0.00178 0.00288 0.00632 0.00150 0.00292 0.01090 0.00753 0.00953 0.00155 0.00150 0.00191 0.00331 0.01560 0.00500 0.00471 0.00807 0.00184 0.00404 0.00196 0.00154 0.00125 0.00421 0.01992 0.00192 0.00495 0.00956 0.00544 0.01437 0.00721 0.00206 0.00420 0.01100 0.00272 ... ... 0.00606 ... 0.00658 0.00653 0.00629 0.00245 0.00707 0.00201 ... 0.07336 0.20422 0.03234 -0.02598 -0.07367 0.19179 -0.00845 0.11698 0.08605 -0.04139 0.27198 0.18856 -0.00666 -0.10661 -0.01048 0.30867 0.18146 0.09721 0.17676 -0.10893 -0.07487 -0.08912 0.12601 0.02940 0.14294 0.06304 0.05687 0.17497 0.30047 -0.04566 0.07980 0.00076 0.35146 0.04180 -0.26438 -0.20723 0.06479 -0.01804 0.00633 0.05826 ... ... -0.08624 ... -0.02330 -0.05349 0.12761 0.38891 0.09758 0.03490 ... 0.00244 0.00334 0.00269 0.00911 0.00460 0.00323 0.00374 0.00207 0.00337 0.00723 0.00175 0.00342 0.01261 0.00893 0.01100 0.00180 0.00173 0.00223 0.00388 0.01828 0.00573 0.00539 0.00939 0.00225 0.00472 0.00229 0.00182 0.00144 0.00504 0.02258 0.00225 0.00581 0.01113 0.00638 0.01701 0.00878 0.00240 0.00488 0.01277 0.00319 ... ... 0.00685 ... 0.00766 0.00753 0.00733 0.00287 0.00826 0.00236 1.40243 0.57001 0.65743 0.61062 1.20442 0.22357 0.83128 1.02249 1.95910 0.84705 0.33972 0.91187 0.69245 ... 0.76429 0.54118 2.09909 4.37277 0.33596 0.64753 ... 0.43956 0.45728 0.55541 3.85582 0.59885 0.46435 0.22444 3.27895 1.26933 -0.59468 0.50643 1.04621 1.94359 2.29010 0.86945 ... ... 0.98398 1.24578 1.30720 ... ... 0.43245 ... 1.01418 0.76681 0.54454 2.20860 0.68816 0.65140 0.06233 0.03885 0.05216 0.04255 0.13622 0.07454 0.05027 0.05736 0.02910 0.05208 0.11780 0.02664 0.05200 ... 0.12619 0.17870 0.02481 0.01886 0.03605 0.06135 ... 0.09148 0.08761 0.14618 0.01897 0.07394 0.03698 0.05328 0.01755 0.06688 0.39629 0.03598 0.08799 0.15123 0.08608 0.22357 ... ... 0.07342 0.18844 0.04702 ... ... 0.10648 ... 0.11492 0.11435 0.11504 0.03768 0.12664 0.03694 6.52152 5.92503 5.96941 6.61777 3.78093 9.08490 6.08654 ... 6.39225 6.44599 0.85977 6.88402 6.14833 3.92085 ... 4.96705 6.18513 ... 5.94786 5.97267 3.00907 0.12812 0.04795 ... ... 6.17838 5.15907 5.65096 4.67087 6.48284 2.63782 5.32540 5.31722 6.34852 5.69465 ... 3.81334 6.10977 5.08607 6.25670 6.68840 ... ... ... ... 5.22738 3.83046 ... 6.56970 6.07985 6.62719 0.10159 0.05891 0.07767 0.06490 0.23611 0.15210 0.07403 ... 0.04704 0.07955 0.20239 0.03843 0.07913 0.32847 ... 0.27965 0.03913 ... 0.05428 0.09010 0.41338 0.16555 0.15723 ... ... 0.10958 0.05645 0.03468 0.03349 0.10694 0.59020 0.05504 0.14631 0.22361 0.15290 ... 0.17853 0.05766 0.12400 0.30724 0.07455 ... ... ... ... 0.19162 0.19669 ... 0.06089 0.19627 0.05728 4.20713 ... 3.61326 2.60329 1.77363 0.83578 3.37153 2.97693 ... 4.06963 ... 4.58861 ... 1.47634 3.96273 1.76341 5.44020 7.48770 2.55372 3.79636 0.16882 0.69300 -0.34789 3.42389 6.14184 ... 2.40308 6.67513 6.25388 4.26310 4.59379 ... 2.94120 8.89226 6.57911 ... 3.68435 2.43395 3.63184 2.31461 4.48230 ... ... 0.31503 ... 4.25402 3.35720 3.26673 8.60797 3.19207 3.13987 0.14444 ... 0.11121 0.09691 0.32466 0.18196 0.10663 0.13212 ... 0.11329 ... 0.05606 ... 0.44154 0.26997 0.39538 0.05304 0.04667 0.08127 0.12857 0.56815 0.22525 0.21842 0.31066 0.04448 ... 0.08498 0.04359 0.04099 0.15185 0.74652 ... 0.20350 0.27095 0.19907 ... 0.24416 0.08702 0.17351 0.43753 0.10477 ... ... 0.26645 ... 0.25825 0.26601 0.24300 0.07663 0.27471 0.08479 155 138 114 253 1468 367 327 346 356 221 207 291 306 751 3791 1936 390 1511 1124 69 7677 51 488 7277 1351 573 505 1556 7498 917 1796 458 6761 566 439 619 1235 640 122 1035 787 292 258 2984 328 1060 1294 792 13 232 402 177 Tabela B.1 – continuação ID CN1 σCN1 CN2 σCN2 Ca4227 σCa4227 G4300 σG4300 Fe4383 σFe4383 (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) (11) -0.06555 0.03326 0.04630 0.07294 -0.04575 -0.00999 -0.13095 0.26481 -0.47637 -0.20698 -0.05243 0.07411 -0.03443 -0.02782 -0.03227 -0.47582 -0.15532 -0.07199 0.87056 -0.05583 -0.10577 -0.13661 0.03526 0.18035 -0.04897 -0.02560 0.01406 -0.17651 -0.03701 -0.06419 0.06705 -0.09128 -0.04674 -0.07782 -0.03427 -0.05018 0.01584 -0.10115 -0.03054 -0.05680 0.18144 -0.47713 -0.36121 0.91228 0.65785 0.34051 0.08280 ... -0.07973 -0.03084 -0.25368 -0.11943 0.08950 0.01186 -0.07156 0.10768 -0.04641 0.00364 ... -0.13785 -0.00156 0.04562 0.06081 0.08356 0.01706 -0.05420 -0.02960 -0.03718 -0.03726 -0.02069 -0.05408 -0.02555 0.05908 -0.03314 0.32203 -0.02477 -0.03900 0.59898 0.14645 -0.06735 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7.01376 6.49662 3.78778 6.78805 4.88181 -1.41249 6.31482 1.89742 5.60566 6.61648 5.74375 5.85833 6.55853 4.03163 6.09164 6.19278 5.41860 ... 6.25716 4.90365 5.30523 -1.32111 6.36811 6.54181 3.68958 2.62810 5.39462 4.20661 3.05938 4.31525 2.60527 5.52678 2.40803 1.93115 6.60797 6.34083 0.28995 0.17021 0.05505 0.12879 0.27375 0.26472 0.15617 0.04022 0.05744 1.72551 0.31174 0.03625 0.40083 0.47669 0.24242 0.69593 0.58547 1.08741 0.36736 0.31683 ... 0.20915 0.06453 0.32121 0.27408 0.22869 0.04287 0.07245 0.14783 0.17046 0.06147 0.13396 0.26768 0.27135 0.22174 0.27368 0.10090 0.07316 0.37867 0.17957 0.05880 0.51913 0.34537 0.15204 0.53275 0.58426 0.31192 ... 0.36646 0.23699 ... 0.23491 0.03626 0.06284 0.22987 0.07778 0.30334 0.18450 0.11376 0.12369 0.29540 0.04830 0.16551 0.25165 0.10393 0.26355 0.17795 0.31139 0.25044 ... 0.22945 0.25730 0.24976 0.34966 0.10780 0.11903 0.30908 0.39217 0.28533 0.39315 0.08590 0.29040 0.52215 0.17170 0.61903 0.33241 0.07623 0.06206 2.85185 ... 2.65181 3.46350 1.49539 3.77817 0.96461 6.13915 3.32696 6.94459 ... 4.90075 0.47772 ... 2.00205 2.92516 1.52503 3.67873 3.39299 1.77232 3.43794 ... 1.87757 7.83077 ... 4.09773 3.83291 -0.24489 4.14466 5.54108 3.24518 ... 4.32254 3.50866 3.62914 1.34962 5.27360 0.84223 3.59718 2.05268 4.30138 0.27190 1.34578 3.91007 1.32334 4.16090 1.42484 ... 0.57294 3.20632 3.56761 ... 5.66200 3.43493 1.98014 4.07202 2.18303 4.14242 4.30139 4.84172 3.12601 5.00537 ... 3.55485 3.93711 12.87503 3.34564 4.52232 3.34544 2.00333 3.22521 2.94711 3.09910 -2.46920 2.63306 3.79534 1.10257 2.19301 2.85040 1.57301 2.17886 1.99912 ... 2.27632 1.39969 ... 4.45550 3.13525 0.38755 ... 0.08199 0.18147 0.37778 0.35257 0.21184 0.05277 0.08513 2.48834 ... 0.05023 0.57048 ... 0.33880 0.86582 0.78843 1.27111 0.49865 0.43230 0.48384 ... 0.09987 0.39086 ... 0.31600 0.06323 0.09981 0.20541 0.13067 0.08977 ... 0.36258 0.37583 0.29753 0.39138 0.13822 0.10319 0.50286 0.25121 0.08311 0.70931 0.47705 0.21252 0.72966 0.71026 0.43431 ... 0.51187 0.32733 0.81444 ... 0.05088 0.09240 0.32230 0.11229 0.41935 0.12083 0.15996 0.13704 0.40588 0.06630 ... 0.34161 0.14846 0.33871 0.25024 0.41026 0.33815 0.40705 0.31751 0.35295 0.33919 0.43904 0.15386 0.16883 0.43295 0.52092 0.39194 0.55144 0.12137 0.40444 ... 0.24667 0.79086 ... 0.10726 0.09067 4126 1633 2001 1873 10387 1958 921 526 484 6548 1181 1785 11860 5871 6079 7299 7453 1214 951 2154 1219 1716 8009 654 1926 3 338 391 223 314 1325 294 4448 10218 3915 813 266 256 1934 206 407 1693 1818 6868 1210 2013 1161 6786 12299 888 7505 7573 452 10927 5964 1897 613 641 651 720 4 399 1282 1081 829 4482 1486 3909 1087 387 778 2045 1292 242 212 5412 574 78 1561 1894 881 7014 11907 523 2229 2153 513 5843 178 Tabela B.1 – continuação ID CN1 σCN1 CN2 σCN2 Ca4227 σCa4227 G4300 σG4300 Fe4383 σFe4383 (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) (11) -0.07463 -0.06654 -0.03459 -0.03597 -0.02301 -0.06957 0.01154 0.00631 0.00859 0.00954 0.01376 0.01594 -0.03743 -0.04187 0.00321 -0.00280 -0.00136 -0.04636 0.01316 0.00734 0.00995 0.01104 0.01594 0.01848 0.46931 0.55505 0.68996 0.37572 1.00646 1.24008 0.20410 0.11493 0.15462 0.17640 0.23899 0.27302 1.90226 3.58999 3.67910 4.65663 5.91934 4.27523 0.36061 0.19515 0.26479 0.27798 0.39427 0.47819 1.69964 1.04941 2.20097 2.23361 ... ... 0.48202 0.27398 0.36367 0.39137 ... ... 11331 1144 1815 616 8076 1409 179 Tabela B.2: Índices espectrais medidos e respectivas incertezas associadas. ID Hβ σHβ Mg1 σMg1 Mg2 σMg2 Mgb σMgb Fe5270 σFe5270 (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) (11) 1.23728 1.71328 1.24208 1.38706 2.65934 4.51381 1.09457 1.56316 1.16060 1.16138 3.56054 ... 1.04347 2.30296 1.44281 2.17713 2.16206 0.51285 1.60465 1.29073 2.53599 4.17705 4.67647 1.26708 3.44805 1.33233 1.76574 2.09879 1.41136 1.27861 2.85003 1.62785 1.29554 1.19253 1.58764 2.84987 3.39252 1.62410 3.24323 2.23247 1.09383 1.92752 1.14495 4.76758 6.10282 2.70831 3.51839 1.23244 1.65260 1.35785 1.58513 1.75579 1.61262 ... 1.25060 1.70260 1.46306 5.62486 ... 1.42297 0.49610 2.67965 1.27569 3.35735 2.46747 2.43809 2.76794 2.55815 0.87293 2.63540 2.37938 2.30168 5.05854 6.75657 1.30557 1.55802 1.28607 2.01372 ... 1.32851 1.53876 1.38286 3.66435 3.05098 1.31530 3.57394 0.05199 0.03203 0.04006 0.03437 0.11462 0.06618 0.03862 0.04784 0.02257 0.04050 0.09910 ... 0.04056 0.14787 0.09524 0.13621 0.01801 0.01603 0.03012 0.04644 0.18895 0.08207 0.07682 0.11188 0.01349 0.05689 0.03115 0.01436 0.01379 0.05491 0.24088 0.02992 0.07244 0.09369 0.07617 0.16601 0.09002 0.03179 0.06420 0.14782 0.03680 0.03211 0.04660 0.09328 0.06981 0.09482 0.09689 0.08777 0.02839 0.09753 0.03117 0.13275 0.07893 ... 0.06666 0.13353 0.12321 0.07594 ... 0.03053 0.74809 0.15076 0.01759 0.18422 0.21816 0.12179 0.28393 0.25426 0.39518 0.17575 0.15105 0.16977 0.10029 0.03381 0.13419 0.13123 0.11113 0.02289 ... 0.07405 0.04685 0.03284 0.06909 0.12844 0.13068 0.10651 0.08470 -0.12243 -0.15352 -0.20548 -0.00489 -0.01103 0.02683 0.01315 0.05118 0.03127 -0.15108 -0.03089 -0.14163 -0.01354 0.01762 0.00159 0.07967 0.16339 -0.00090 -0.01062 0.01715 -0.01638 -0.01882 0.02544 0.13626 -0.14624 -0.00179 0.10862 0.09837 0.38326 0.01463 -0.16368 0.01929 0.13259 0.05857 0.00785 0.00456 0.01277 -0.00102 -0.00871 0.00699 0.01005 0.02982 -0.01603 -0.03779 0.01935 -0.01609 0.02261 0.10058 0.01068 0.01555 0.00465 0.05786 0.00098 0.00825 -0.00494 0.01189 -0.01133 0.07177 -0.02152 0.33930 -0.14580 0.08821 0.00218 -0.14391 0.00421 0.02429 0.33351 0.35244 0.37760 -0.01270 0.00382 -0.14959 -0.03923 0.09388 0.00368 0.01817 0.00469 -0.05499 0.01308 0.05839 0.01911 -0.16222 0.00424 0.00446 -0.00595 0.00103 0.00070 0.00085 0.00073 0.00239 0.00146 0.00076 0.00095 0.00044 0.00079 0.00235 0.00040 0.00088 0.00298 0.00186 0.00277 0.00036 0.00029 0.00061 0.00091 0.00383 0.00181 0.00172 0.00221 0.00027 0.00126 0.00063 0.00027 0.00026 0.00118 0.00492 0.00067 0.00143 0.00178 0.00155 0.00336 0.00190 0.00063 0.00136 0.00297 0.00070 0.00065 0.00090 0.00207 0.00161 0.00198 0.00206 0.00171 0.00056 0.00193 0.00063 0.00266 0.00156 0.00062 0.00132 0.00268 0.00241 0.00175 0.00035 0.00060 0.01321 0.00348 0.00034 0.00383 0.00494 0.00252 0.00565 0.00552 0.00791 0.00394 0.00307 0.00335 0.00249 0.00087 0.00254 0.00259 0.00217 0.00046 0.00098 0.00146 0.00092 0.00065 0.00166 0.00264 0.00254 0.00227 0.12360 -0.11571 -0.00161 -0.07328 0.05761 0.03080 0.11273 0.09936 0.23330 0.11667 -0.16891 0.14155 -0.11593 0.06002 0.12448 0.06561 0.26260 0.46267 0.06318 0.09353 0.29555 0.02145 0.01528 0.12725 0.46681 -0.12155 0.04987 0.83700 0.39654 0.10001 0.26408 -0.17168 0.12197 0.27367 0.25694 0.07498 0.10344 0.77913 0.10073 0.06649 0.15129 0.07958 0.12110 0.02870 0.64557 0.13473 0.06787 0.12557 0.31425 0.10319 0.07392 0.10422 0.17183 0.06921 0.10383 0.07419 0.11348 0.03775 0.28018 0.06394 0.19814 -0.16468 0.23752 0.71677 -0.13159 0.09106 0.01862 0.04884 0.12368 0.03323 0.04665 0.10030 -0.18514 1.03372 0.87207 0.09613 0.13638 0.13770 -0.03216 0.12933 0.14398 0.11760 -0.16042 0.10155 0.11696 0.07971 0.00118 0.00082 0.00100 0.00086 0.00277 0.00170 0.00088 0.00110 0.00051 0.00092 0.00276 0.00047 0.00104 0.00347 0.00216 0.00321 0.00042 0.00034 0.00070 0.00105 0.00464 0.00210 0.00200 0.00257 0.00032 0.00149 0.00073 0.00000 0.00031 0.00124 0.00593 0.00079 0.00166 0.00207 0.00182 0.00390 0.00221 0.00083 0.00159 0.00345 0.00082 0.00075 0.00104 0.00240 0.00211 0.00231 0.00240 0.00199 0.00065 0.00225 0.00073 0.00310 0.00182 0.00072 0.00153 0.00311 0.00281 0.00203 0.00041 0.00070 0.01424 0.00409 0.00040 0.00498 0.00583 0.00293 0.00644 0.00582 0.00840 0.00411 0.00356 0.00390 0.00293 0.00000 0.00328 0.00301 0.00253 0.00054 0.00115 0.00170 0.00106 0.00076 0.00196 0.00308 0.00296 0.00264 2.68898 1.48913 2.54644 1.51620 1.93860 0.83520 2.63517 2.33412 5.80145 2.51160 1.31818 5.58068 2.51789 2.08246 2.91656 2.30901 5.87791 9.33388 1.38917 2.53874 ... 0.70527 0.65243 2.76926 7.98301 2.73845 1.35788 1.00676 9.42370 2.89567 ... 1.52897 3.07572 4.31677 5.40309 1.69603 ... ... 2.58008 2.43341 3.97123 1.30156 2.73249 1.06460 ... 3.18005 1.99589 2.88605 6.30576 2.79735 1.52584 2.91400 3.14839 1.62211 2.65167 2.33884 3.35021 0.80619 6.61085 2.11313 4.27093 1.62608 5.05040 ... 2.54280 2.13766 1.54703 2.40941 4.41888 1.96908 1.68826 2.08078 0.75280 ... ... 2.85480 3.39220 4.06774 -0.11196 2.92818 2.36277 2.96613 1.62607 2.33764 3.15775 2.14594 0.04557 0.02953 0.03525 0.03057 0.10763 0.06797 0.03389 0.04280 0.01837 0.03568 0.09635 0.01603 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1.25727 6.36810 1.99763 2.82585 0.95591 4.90434 1.14870 -3.16630 1.38027 1.59366 1.59301 2.33893 1.04964 1.57618 ... 0.69119 3.29142 3.71373 1.85090 2.10816 2.36165 -0.05713 1.99434 1.48794 2.10983 1.63417 2.45124 1.56531 2.04445 0.04909 0.03179 0.03787 0.03300 0.12007 ... 0.03668 ... 0.01947 0.03833 0.11879 0.01797 0.04177 0.14987 ... 0.13753 0.01597 ... 0.03005 0.04414 0.19353 0.09253 0.08909 0.15577 0.01307 0.05484 0.03116 0.01171 0.01087 0.05199 0.23596 0.02974 0.06970 0.08006 0.07239 ... 0.09305 0.03095 0.06691 0.14682 0.03365 0.03202 0.04347 0.10535 0.08361 0.09571 0.10188 ... 0.02447 0.09458 0.03105 0.13038 0.07467 0.03051 0.06482 0.13392 0.11721 0.08861 0.01505 0.02954 0.53794 0.15715 0.01531 0.18832 0.27030 0.12553 0.27111 0.24453 0.33750 0.17669 0.15162 ... 0.11499 0.04321 0.11508 0.12644 0.10483 0.02247 0.05214 0.07117 0.04502 0.03182 0.07465 0.12829 0.12445 0.11183 155 138 114 253 1468 367 327 346 356 221 207 291 306 751 3791 1936 390 1511 1124 69 7677 51 488 7277 1351 573 505 1556 7498 917 1796 458 6761 566 439 619 1235 640 122 1035 787 292 258 2984 328 1060 1294 792 13 232 402 4126 1633 2001 1873 10387 1958 921 526 484 6548 1181 1785 11860 5871 6079 7299 7453 1214 951 2154 1219 1716 8009 654 1926 3 338 391 223 314 1325 294 4448 10218 3915 180 Tabela B.2 – continuação ID Hβ σHβ Mg1 σMg1 Mg2 σMg2 Mgb σMgb Fe5270 σFe5270 (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) (11) 2.27763 2.09607 4.24373 1.73745 3.18473 1.15018 3.42373 2.65438 1.47979 2.84151 3.01131 2.34482 1.90330 2.93148 1.75539 2.04387 3.99887 ... 2.41246 2.46188 1.13113 2.08808 1.19955 1.21019 1.44506 1.93432 1.33173 1.50194 1.05207 1.06776 3.01291 1.39487 1.14953 1.36366 2.43080 1.49698 1.85734 1.33699 1.79732 1.50184 1.30644 2.79883 2.86741 1.68997 3.35560 3.78683 2.37763 2.84846 1.77719 3.78836 2.62474 1.11320 4.04459 3.83852 2.46969 2.69190 2.14027 2.26381 2.29504 0.13500 0.05256 0.03835 0.16576 0.09078 0.03032 0.22621 0.16302 0.07634 0.23267 0.22147 0.15288 0.13104 0.17181 0.11167 0.27810 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0.00080 0.00290 0.00085 0.00128 0.00099 0.00281 0.00046 0.00184 0.00233 0.00106 0.00272 0.00177 0.00266 0.00234 0.00286 0.00216 0.00254 0.00238 0.00276 0.00095 0.00120 0.00337 0.00396 0.00273 0.00380 0.00099 0.00292 0.00526 0.00181 0.00535 0.00331 0.00080 0.00067 0.00358 0.00204 0.00270 0.00280 0.00428 0.00448 0.05576 0.16865 0.03349 0.11142 0.04615 0.15681 0.02734 0.03474 0.09404 0.05421 0.09281 0.02436 0.08141 0.03488 0.10896 0.08254 -0.18082 0.33192 0.15032 0.06125 0.13332 0.06592 0.13636 0.12224 0.14578 0.07474 0.23893 -0.13204 0.12112 0.10736 0.05601 0.11589 0.13415 0.12819 0.05819 0.12598 0.08299 0.10434 0.09248 0.23621 0.11015 0.02280 0.03263 0.08656 0.53794 0.04604 0.05087 -0.14318 0.07916 0.07581 -0.01073 0.12460 0.11807 0.02945 0.04797 0.05693 0.05768 -0.14826 -0.01780 0.00319 0.00126 0.00100 0.00378 0.00222 0.00069 0.00538 0.00385 0.00175 0.00537 0.00524 0.00355 0.00308 0.00412 0.00260 0.00627 0.00327 0.00041 0.00076 0.00278 0.00093 0.00336 0.00099 0.00133 0.00115 0.00327 0.00054 0.00218 0.00272 0.00123 0.00316 0.00206 0.00310 0.00272 0.00333 0.00252 0.00295 0.00277 0.00321 0.00110 0.00139 0.00352 0.00420 0.00308 0.00482 0.00115 0.00340 0.00620 0.00210 0.00622 0.00386 0.00093 0.00078 0.00415 0.00238 0.00314 0.00325 0.00505 0.00527 2.05247 4.16956 1.08078 2.74445 1.23735 3.28265 1.41763 1.87656 2.78518 2.18355 3.10394 ... 2.39554 1.47326 3.10487 2.05155 0.98339 6.23868 4.54685 1.85115 2.97601 2.13041 2.54522 2.87809 2.56061 2.43530 6.13691 2.61034 3.02187 2.52370 1.71112 2.98442 3.53451 3.21511 1.65046 3.12756 2.41215 2.91980 2.54538 3.88277 2.63092 1.55868 1.87402 -1.51759 4.45043 1.74615 1.73564 2.03274 2.25041 2.00141 1.71805 3.80636 3.34937 1.08484 1.91467 1.80936 2.37608 1.96801 2.83997 0.12336 0.04674 0.03967 0.14501 0.08817 0.02631 0.20994 0.14822 0.06644 0.20595 0.19683 ... 0.11849 0.16069 0.09823 0.24458 0.11491 0.01469 0.02764 0.10823 0.03582 0.12993 0.03865 0.05105 0.04530 0.12516 0.01880 0.07305 0.10336 0.04758 0.12339 0.07839 0.11624 0.10309 0.13020 0.09562 0.11347 0.10516 0.12281 0.04220 0.05350 0.13625 0.16125 0.13994 0.22861 0.04467 0.13203 0.21047 0.08098 0.24222 0.14432 0.03375 0.02922 0.16388 0.09191 0.12187 0.12406 0.17150 0.18622 1.17302 2.90924 0.92942 1.51214 1.39074 2.81248 1.13405 0.65747 2.00677 1.06898 2.31253 1.03649 1.28457 0.86268 1.68903 ... 1.17812 4.41209 3.25964 1.20816 2.22412 1.31938 ... 2.13020 2.35925 1.32923 3.50330 -0.33876 1.80271 2.10204 0.79867 1.80873 1.85187 2.01140 -5.06105 1.89121 1.18041 1.82446 1.67391 4.10027 2.10637 1.08049 1.15810 1.69391 1.09506 1.79704 1.29846 1.19985 1.45859 1.80245 1.03627 2.48247 1.77796 0.65439 1.01999 0.82827 1.20654 0.92967 1.11685 0.13790 0.05173 0.04408 0.15914 0.09595 0.02832 0.22970 0.16729 0.07301 0.22814 0.21519 0.15329 0.13231 0.17882 0.10945 ... 0.12547 0.01611 0.03071 0.12015 0.03898 0.14343 ... 0.05557 0.04723 0.13935 0.02144 0.09056 0.11394 0.05178 0.13770 0.08705 0.12906 0.11367 0.20487 0.10542 0.12687 0.11643 0.13511 0.04340 0.05834 0.15132 0.18010 0.12911 0.18772 0.04923 0.14622 0.23761 0.08984 0.26055 0.15966 0.03747 0.03266 0.18158 0.10294 0.13635 0.14004 0.19099 0.20817 813 266 256 1934 206 407 1693 1818 6868 1210 2013 1161 6786 12299 888 7505 7573 452 10927 5964 1897 613 641 651 720 4 399 1282 1081 829 4482 1486 3909 1087 387 778 2045 1292 242 212 5412 574 78 1561 1894 881 7014 11907 523 2229 2153 513 5843 11331 1144 1815 616 8076 1409 181 Tabela B.3: Índices espectrais medidos e respectivas incertezas associadas. ID Fe5335 σFe5335 Fe5406 σFe5406 NaD σNaD Al3953 σAl3953 (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) 1.88008 ... 1.97289 1.51201 0.84823 0.60807 1.95244 1.06836 4.72869 1.93333 ... 4.29157 ... 1.27704 1.66556 0.81900 5.33949 7.84740 1.54715 1.85099 0.96876 0.93517 0.47508 1.79542 5.78717 ... 1.56723 7.22957 7.49795 1.87019 0.50466 ... 1.64737 4.20148 3.70541 0.84795 1.64902 1.73364 1.92711 1.29244 2.18442 1.58101 1.78686 0.67412 0.44214 2.22165 1.75503 1.66604 4.91128 1.48008 1.61127 1.51639 2.39855 1.42637 1.71704 1.17871 1.51552 1.27145 4.96871 1.68761 2.70095 ... 3.13278 0.84356 12.32339 1.01860 0.55601 0.59866 1.44650 1.12423 1.05292 1.60980 ... 5.24613 3.27638 1.40006 1.63310 2.61543 -0.03744 1.73680 2.70134 1.68266 ... 2.48048 1.61451 1.91833 0.05544 ... 0.04263 0.03747 0.13686 0.08541 0.04120 0.05323 0.02187 0.04331 ... 0.02001 ... 0.16750 0.10151 0.15765 0.01743 0.01242 0.03397 0.04955 0.21559 0.10502 0.10135 0.12151 0.01269 ... 0.03514 0.01210 0.01150 0.05849 0.27832 ... 0.07901 0.08733 0.08057 0.18939 0.10532 0.03488 0.07596 0.16604 0.03773 0.03606 0.04892 0.12070 0.09579 0.10880 0.11571 0.09366 0.02737 0.10735 0.03515 0.14848 0.08345 0.03466 0.07313 0.15119 0.13346 0.10090 0.01711 0.03344 0.59014 ... 0.01758 0.21571 0.27252 0.14303 0.31312 0.28284 0.38574 0.19938 0.17371 0.18361 ... 0.04609 0.12831 0.14373 0.11896 0.02510 0.06012 0.08037 0.04824 0.03606 ... 0.14355 0.13955 0.12593 1.13882 0.81074 1.02490 0.69764 0.69834 0.20029 1.13027 0.87886 ... 1.14638 0.36262 1.40417 1.05979 0.59313 0.88093 0.66817 1.96846 4.83822 0.71771 1.02622 0.82637 0.17910 0.48680 0.82457 1.88199 0.89615 0.76354 3.66878 2.03808 0.96000 0.71101 0.69960 1.04923 2.79188 2.10156 0.32044 0.84878 0.68479 0.97030 0.70795 1.14165 0.75698 ... 0.27678 0.19050 1.16092 0.99874 0.80134 2.84901 0.67056 0.72657 0.79867 ... 0.73745 0.99498 0.58279 0.90350 0.52541 3.11902 1.05350 2.37708 0.66861 1.78792 0.09819 -0.16567 0.74467 0.67329 -0.09022 1.28500 0.34240 0.29589 0.84906 0.17035 2.94921 2.33312 ... 0.90890 1.10601 0.00765 0.97835 1.51584 0.81257 0.59059 0.98286 0.79297 0.89782 0.04054 0.02593 0.03133 0.02730 0.09912 0.06286 0.03021 0.03839 ... 0.03170 0.08785 0.01533 0.03108 0.12306 0.07444 0.11403 0.01325 0.00930 0.02497 0.03604 0.15647 0.07758 0.07362 0.09015 0.00983 0.04462 0.02595 0.00924 0.00946 0.04283 0.19980 0.02445 0.05763 0.06456 0.06051 0.13842 0.07781 0.02576 0.05689 0.12118 0.02770 0.02647 ... 0.08908 0.07038 0.08134 0.08530 0.06898 0.02038 0.07913 0.02594 0.10869 ... 0.02559 0.05355 0.11081 0.09758 0.07521 0.01238 0.02438 0.42203 0.12690 0.01291 0.15961 0.18345 0.10416 0.22237 0.20780 0.27374 0.14689 0.12803 0.13545 0.09490 0.03593 0.09376 ... 0.08769 0.01865 0.04419 0.05897 0.03574 0.02656 0.06225 0.10841 0.10246 0.09418 2.04970 4.12518 ... ... 1.86168 1.48435 3.26561 1.95114 5.82846 2.04300 1.54693 6.36977 4.15998 1.80957 1.97370 1.47505 9.01046 8.81875 ... ... 1.10367 1.82498 1.59129 1.97723 8.36527 2.33871 1.98323 9.31503 7.66586 2.00605 1.16686 3.61287 2.14796 4.22998 3.70731 1.66702 1.80787 3.43285 2.10646 1.81988 3.78922 5.34830 3.11649 1.34410 1.63522 2.07268 1.74806 2.06663 7.95423 1.99062 ... 1.97674 2.67346 2.94943 2.24143 1.57460 1.94411 1.87059 ... 1.83346 2.56727 1.74240 2.57412 1.37398 1.67359 1.81616 1.48273 1.90269 2.13300 1.45882 1.61639 2.39961 1.56270 ... 2.96788 2.29584 2.06072 2.71342 1.39905 1.86579 3.18568 3.29840 1.54293 2.88919 2.01120 1.99952 0.03406 0.02094 ... ... 0.08544 0.05619 0.02444 0.03249 0.01238 0.02633 0.07733 0.01129 0.02479 0.10448 0.06277 0.09792 0.00893 0.00699 ... ... 0.13828 0.06769 0.06554 0.08238 0.00651 0.03734 0.02190 0.00636 0.00651 0.03592 0.17118 0.01986 0.04823 0.05104 0.05016 0.11823 0.06766 0.02100 0.04857 0.10179 0.02172 0.02072 0.02908 0.07828 0.06421 0.06969 0.07398 0.05800 0.01467 0.06577 ... 0.09164 0.05035 0.02116 0.04484 0.09422 0.08170 0.06604 ... 0.02050 0.34309 0.11132 0.01040 0.13655 0.15338 0.08961 0.18879 0.17100 0.22363 0.12586 0.10815 0.11474 0.08467 ... 0.07752 0.08678 0.07176 0.01536 0.04257 0.04919 0.02930 0.02138 0.05534 0.08917 0.08477 0.08046 ... 4.13757 ... ... 2.70808 3.41298 3.25623 3.73815 2.10982 3.68824 3.20823 ... -0.93592 3.97421 2.11603 3.34221 1.42806 0.42836 ... 3.03424 0.76813 3.64415 3.05270 2.73261 0.02643 3.21746 3.43203 1.00106 0.14208 3.76283 4.91702 3.20395 3.03072 0.28492 0.76744 5.39553 3.23324 4.10011 3.21900 4.49992 3.56031 ... ... 2.59936 ... 3.35157 3.74682 1.96757 2.30609 3.48433 ... 4.21065 2.69732 4.62421 2.87170 6.02303 3.02844 3.02401 0.99159 4.30435 ... 3.03023 2.11845 3.62595 2.56151 4.73762 6.10641 3.71238 2.91973 4.41565 4.87071 4.76836 3.15587 4.02323 5.02895 2.97128 4.51402 3.59507 ... 3.68973 3.37818 3.12163 3.12744 4.32998 4.54057 2.67857 ... 0.08959 ... ... 0.43285 0.14671 0.14144 0.15558 0.11406 0.14965 0.26721 ... 0.29136 0.57499 0.44516 0.51237 0.10927 0.13982 ... 0.17479 0.87924 0.18788 0.18440 0.47105 0.12503 0.22140 0.08805 0.12246 0.11679 0.20126 1.00968 0.08887 0.28683 0.82609 0.37679 0.49262 0.29572 0.08782 0.20280 0.57375 0.15401 ... ... 0.25309 ... 0.34487 0.32144 0.40522 0.16380 0.40631 ... 0.54356 0.36287 0.07610 0.26732 0.36726 0.60193 0.19063 0.13327 0.09241 ... 0.46108 0.09314 0.71557 0.98518 0.35331 0.96179 1.13530 1.82234 0.57983 0.43522 0.58302 0.24504 0.09952 0.79250 0.57746 0.44895 0.07471 ... 0.28871 0.18496 0.11315 0.19310 0.52777 0.37617 0.43378 155 138 114 253 1468 367 327 346 356 221 207 291 306 751 3791 1936 390 1511 1124 69 7677 51 488 7277 1351 573 505 1556 7498 917 1796 458 6761 566 439 619 1235 640 122 1035 787 292 258 2984 328 1060 1294 792 13 232 402 4126 1633 2001 1873 10387 1958 921 526 484 6548 1181 1785 11860 5871 6079 7299 7453 1214 951 2154 1219 1716 8009 654 1926 3 338 391 223 314 1325 294 4448 10218 3915 182 Tabela B.3 – continuação ID Fe5335 σFe5335 Fe5406 σFe5406 NaD σNaD Al3953 σAl3953 (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) 0.87306 2.58337 1.13201 1.46685 1.05595 2.07219 0.53781 0.99156 1.54993 0.97807 1.79819 1.06192 0.70701 0.21969 1.52332 0.90818 -1.36363 3.46056 4.45045 0.87000 1.87926 1.11736 1.84637 1.67528 2.45714 1.42512 3.38575 ... 1.65744 1.74458 0.82764 1.79260 1.55553 1.56550 0.82944 1.74358 1.09128 1.47703 1.22167 3.73995 1.68524 0.77934 0.63643 1.47053 0.39047 0.92866 1.05350 ... 1.27628 1.48455 ... 2.05710 2.25559 0.25566 1.00494 0.81040 1.06674 ... ... 0.15690 0.05849 0.05006 0.17853 0.10937 0.03200 0.26314 0.18734 0.08306 0.25830 0.24500 0.17362 0.15157 0.20478 0.12348 0.30002 0.21260 0.01791 0.03333 0.13706 0.04391 0.16330 0.04632 0.06286 0.05268 0.15674 0.02374 ... 0.12883 0.05865 0.15675 0.09804 0.14598 0.12960 0.16243 0.11887 0.14326 0.13244 0.15383 0.04812 0.06605 0.17349 0.20610 0.14637 0.21706 0.05714 0.16653 ... 0.10225 0.30012 ... 0.04221 0.03652 0.20857 0.11726 0.15481 0.15872 ... ... 0.66021 1.84446 0.45228 0.94456 0.41655 1.27635 0.72509 0.76916 0.88462 0.84180 1.24277 0.53570 0.43311 -0.00496 0.86581 0.46721 0.55254 2.73758 1.48507 0.43844 1.08969 0.80905 0.78638 1.04275 1.25471 0.16262 1.65304 0.85223 1.03263 0.96855 ... 1.10070 ... 0.98579 0.79228 1.00316 0.61309 0.73218 0.38858 ... 0.96588 0.37815 0.63973 0.51445 0.55319 0.77508 0.62449 0.21974 0.63888 0.09952 ... 1.49305 1.42794 0.17199 ... 0.42560 0.51563 0.19108 0.79311 0.11404 0.04318 0.03707 0.13000 0.08117 0.02339 0.18727 0.13587 0.06074 0.18672 0.18039 0.12673 0.10978 0.15019 0.09018 0.22145 0.10294 0.01296 0.02565 0.10055 0.03228 0.11813 0.03428 0.04599 0.03902 0.11870 0.01762 0.06550 0.09397 0.04300 ... 0.07184 ... 0.09431 0.11748 0.08732 0.10526 0.09733 0.11451 ... 0.04844 0.12625 0.14822 0.10777 0.15640 0.04178 0.12075 0.19226 0.07516 0.22388 ... 0.03065 0.02663 0.15184 ... 0.11344 0.11617 0.15584 0.16702 1.93974 2.84290 1.29847 2.08951 1.60935 3.89991 1.53842 1.63487 2.01688 1.66924 2.33288 1.89938 1.91228 1.69899 2.10037 1.68895 1.73143 5.01835 10.72231 1.49708 3.16729 1.62871 4.24248 2.21284 2.85732 2.06199 7.78670 2.08299 1.97172 2.04398 1.79999 1.62756 1.78727 2.00786 1.62529 1.74430 1.86543 2.14589 1.87789 5.92878 2.36532 1.48217 1.80273 1.77911 1.60446 1.70466 1.72585 1.72373 1.66726 1.84882 1.54874 -0.77358 2.75761 1.42899 1.65590 1.55366 1.98283 1.45762 1.63869 0.09731 0.03667 0.03322 0.10892 0.06918 0.01854 0.16221 0.11787 0.05101 0.16140 0.15047 0.10848 0.09420 0.12646 0.07573 0.18433 0.09011 0.01012 0.01686 0.08654 0.02618 0.10046 0.02708 0.03838 0.03213 0.09575 0.01240 0.05516 0.07904 0.03582 0.09794 0.06126 0.08849 0.07938 0.10130 0.07325 0.08843 0.08061 0.09458 0.02682 0.04005 0.10809 0.12771 0.09100 0.13524 0.03691 0.10407 0.16724 0.06379 0.18548 0.11257 0.02760 0.02204 0.13115 0.07363 0.09775 0.09716 0.13649 0.14313 3.47166 3.43362 3.67455 -0.28106 3.64951 2.33879 4.80290 3.46074 3.70292 2.18723 4.91327 4.05533 ... 4.67488 4.78713 6.79087 3.80224 3.54754 3.88414 4.76196 3.49782 3.55419 2.90108 ... 3.27849 4.77959 2.55373 3.16112 3.44093 3.09130 4.19127 2.37508 3.77577 3.51205 3.79242 2.93407 3.23094 2.48720 6.53663 2.71097 3.03503 3.75212 3.05079 0.18369 3.93562 3.64786 4.24166 3.96968 2.70793 4.19124 4.85807 ... 3.79642 3.50476 4.00095 3.42074 3.63461 4.66239 1.58806 0.49736 0.17819 0.08159 1.27920 0.26288 0.13003 0.74823 0.53511 0.28231 1.03946 1.01110 0.47317 ... 0.50955 0.45893 0.80568 0.32946 0.07812 0.10960 0.31327 0.14693 0.53072 0.17047 ... 0.20619 0.51265 0.13061 0.35116 0.59470 0.21529 0.40209 0.39374 0.74441 0.49106 0.48981 0.53113 0.50473 0.59800 0.28232 0.34024 0.25712 0.48791 0.64166 0.79269 0.64747 0.11143 0.46861 0.89711 0.32215 1.13152 0.44442 ... 0.09944 0.53636 0.27559 0.42193 0.49448 0.69923 1.00579 813 266 256 1934 206 407 1693 1818 6868 1210 2013 1161 6786 12299 888 7505 7573 452 10927 5964 1897 613 641 651 720 4 399 1282 1081 829 4482 1486 3909 1087 387 778 2045 1292 242 212 5412 574 78 1561 1894 881 7014 11907 523 2229 2153 513 5843 11331 1144 1815 616 8076 1409 Referências Bibliográficas Alonso, A., Arribas, S., & Martı́nez-Roger, C. 1996, A&AS, 313, 873 Alonso, A., Arribas, S., Martı́nez-Roger, C. 1998, A&ASS, 131, 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