Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 CONVERSOR DE PULSOS ELÉTRICOS DE ALTA TENSÃO EM ELEVADA FREQUÊNCIA, PARA GERAÇÃO DE OZÔNIO ALEJANDRO H INCAPIÉ , M ARCOS G. ALVES, GUILHERME DE A. E MELO, C ARLOS A. C ANESIN Laboratório de Eletrônica de Potência (LEP), Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira (FEIS), Universidade Estadual Paulista (UNESP) Av. Prof. José Carlos Rossi, 1370 - Ilha Solteira - SP - CEP: 15385-000 E-mails: [email protected], [email protected] Abstract This paper proposes a power supply for ozone generation using a phase-shifted PWM full-bridge resonant inverter preceded by a boost rectifier with power factor correction (PFC) to obtain an intermediate DC bus. A high-frequency highvoltage transformer is included to generate the high-voltage pulses for ozone generation in the discharge chambers. A resonant circuit (Lr-Cr) is included to guarantee soft-commutations (ZVS-zero voltage switching and ZCS-zero current switching) for the active switches of the inverter stage, considering a constant switching frequency (near to 10kHz) close to a certain established resonant frequency. The circuit operation is discribed, the electrical and mathematical models of the transformer and discharge chambers are included in order to determinate the instantaneous voltages and currents at the output. The advantage of the proposed initial boost PFC rectifier in DCM (discontinous conduction mode) is its capability to allow a high power factor with reduced harmonic distortion at the input current, acting as an input voltage follower. The effectiveness and performance of the proposed power supply are analyzed, through simulation and experimental results, in order to produce the high voltages for ozone generation applied to cleaning industrial processes using ozonized water. Keywords High Electric Voltage Pulses, Pulsed Electric Fields, Ozone Production, Industrial Hygiene with Ozonized Water, High Power Factor Boost Rectifier, Full-bridge PWM Resonant Inverter. Resumo Este artigo propõe uma fonte de alimentação para a geração de ozônio usando um inversor PWM ressonante em ponte completa, com controle por deslocamento de fase, precedido por um retificador boost com correção ativa do Fator de Potência (FP) para a obtenção de um barramento CC intermediário. Um transformador de elevada tensão de saída e elevada frequência é incluído para fornecer os pulsos de alta tensão às câmaras de descarga para geração de ozônio. Um circuito série-ressonante (LrCr) é incluído para garantir comutações suaves (ZVS, Comutação com tensão nula, e, ZCS, Comutação com corrente nula) para os interruptores ativos do estágio inversor, considerando a freqüência de comutação constante (próxima a 10kHz) e pouco maior que a freqüência de ressonância estabelecida. A operação do circuito é descrita, os modelos matemáticos e elétricos para o transformador de alta frequência e para as câmaras de descarga são incluídos, com o propósito de determinar as tensões e correntes instantâneas na saída do conversor. A vantagem do retificador boost de entrada com correção do FP, operando em MCD (Modo de Condução Descontínua), é a sua capacidade de apresentar um alto fator de potência com reduzida distorção harmônica para a corrente de entrada, atuando como um seguidor da tensão de entrada. A eficácia e o desempenho da fonte de alimentação proposta para produzir em sua saída as tensões elevadas para a geração de ozônio, para uma aplicação em processos de limpeza industrial com água ozonizada, são analisadas através de resultados de simulação e experimentais. Palavras-chave Pulsos de Elevadas Tensões, Campos Elétricos Pulsados, Produção de Ozônio, Higienização Industrial com Água Ozonizada, Retificador Boost com Elevado Fator de Potência, Inversor Ressonante em Ponte Completa com freqüência constante. 1 gerado normalmente pela descarga de pulsos elétricos de alta tensão em determinada frequência em câmaras de descarga, geralmente construídas com tubos concêntricos de aço inoxidável, onde as moléculas de oxigênio são quebradas para, eventualmente, formar moléculas de ozônio a partir da união de átomos de oxigênio livres. O uso de fontes com elevadas tensões e freqüências para a geração de ozônio traz diferentes vantagens, baseadas principalmente no aumento da intensidade de campos elétricos aplicados nas câmaras de descarga. Quanto maior a frequência da tensão aplicada às câmaras, menor tensão de pico será exigida no processo de geração de ozônio, para uma dada potência elétrica de tratamento (Shimomura, 2003). Neste contexto, há uma diversidade de fontes de alimentação em elevadas freqüências de operação, com volume reduzido e alta eficiência (Rilize, 2011). Várias topologias de conversores têm sido propostas a fim de melhorar a eficiência elétrica e o incremento na concentração de ozônio produzido. Algumas destas se baseiam em inversores ressonantes com transformadores elevadores de tensão e elevada Introdução O ozônio é um poderoso desinfetante e agente oxidante (Health and Safety Executive, 1996). Tem aplicação bactericida, germicida, virucida, fungicida, entre outras (Vijayan, 2010), e não deixa resíduos poluentes nem contaminantes no ambiente (Rilize, 2011). Assim, misturado em água tem um número cada vez maior de aplicações industriais em limpeza, purificação e lavagem industrial (Kinnares, 2010). O ozônio pode ser produzido industrialmente de quatro formas principais: por eletrólise, pela incidência de radiação ultravioleta, geração de plasma frio e descarga elétrica por efeito corona (Health and Safety Executive, 1996). Atualmente, o método de descarga elétrica por efeito corona é o mais comum na indústria para a produção de ozônio (Smith, 2013), reciprocamente, uma das principais aplicações de campos elétricos pulsados na indústria é a geração de ozônio (Schiavon, 2012). No processo de descarga corona para aplicações de baixa potência, o ozônio é 569 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 um pré-regulador retificador Boost com correção ativa do fator de potência, operando no modo de condução descontínua, reduzindo-se perdas por comutações e simplificando seu controle, fornecendo um barramento CC de modo a atender as normas internacionais IEC 61000-3-2 (classe D) para a corrente de entrada. Portanto, a estrutura proposta consiste do arranjo série de dois estágios, para os quais se torna necessária a obtenção de elevadas eficiências individuais, garantindo-se um elevado rendimento global do sistema. frequência. Outras topologias propõem circuitos LCL ressonantes para obter altas tensões na saída, sem a necessidade de transformadores elevadores (Ketkaew, 2007). O objetivo da fonte de alimentação proposta neste trabalho é sua aplicação na produção de ozônio para ser dissolvido em água, aplicada na limpeza e higienização industrial, principalmente lavagem de recipientes de alimentos líquidos, equipamentos e instalações de reserva/armazenamento de alimentos líquidos. Portanto, resultando em processo com ação germicida e bactericida, lavagem eficiente e sem resíduos nocivos ao ser humano, como aqueles decorrentes do uso de produtos químicos. Na água de limpeza, o ozônio é muito mais eficiente que o cloro. Com base no tempo necessário para matar 99,99% de todos os microorganismos, o ozônio é 25 vezes mais eficaz do que o ácido hipocloroso, 2500 vezes mais eficaz do que o hipoclorito, e 5000 vezes mais do que cloramina. Por outro lado, equipamentos comerciais usados para a lavagem na indústria química e na indústria de alimentos líquidos, convencionalmente utilizam múltiplas câmaras de descarga coaxiais, onde geralmente se tem um conversor pulsante para cada câmara. Isto leva, ao longo do tempo de utilização, a divergência de operação e das concentrações de ozônio produzidas em cada uma das câmaras. Desta forma, a fim de homogeneizar e estabilizar a produção de ozônio é proposto um único conversor pulsante para as múltiplas câmaras de descarga associadas em paralelo, melhorando-se a eficiência desta produção (Amjad, 2013). Ainda, tipicamente, a frequência de operação dos conversores nos equipamentos comerciais normalmente é baixa (abaixo de 5kHz), com pouca energia associada aos pulsos de alta tensão, e, consequentemente, pouca eficiência na produção de ozônio. Desta forma, gerar tensões em níveis adequados e em alta freqüência (acima de 5kHz), de modo a garantir uma grande densidade de produção de ozônio a ser injetado em água, integra os objetivos deste trabalho. No entanto, trabalhar em alta frequência aumenta as perdas de comutação, podendo reduzir muito a eficiência do conversor, ainda mais para baixas potências de operação. Desta forma, propõe-se utilizar um estágio inversor ressonante para o estágio de saída, possibilitando que as comutações sejam não dissipativas nos interruptores, minimizando assim as perdas por comutação e permitindo a operação com frequências elevadas. Além disso, considerando a utilização de um único conversor chaveado em elevada freqüência (estágios de entrada e saída), com câmaras em paralelo para produção de ozônio, tem-se a redução do peso e volume da estrutura proposta, incluindo-se o transformador elevador. Considerando-se os equipamentos comerciais, infelizmente pela ausência de normatização nacional específica, normalmente os mesmos operam com reduzido fator de potência para a entrada. Desta forma, propõe-se para o estágio de entrada o uso de 2 Conversor Proposto O conversor proposto, mostrado na Figura 1, é composto por dois estágios, sendo o primeiro estágio um retificador Boost operando no Modo de Condução Descontínua (MCD), responsável pela obtenção de um barramento regulado em Corrente Contínua (CC) e, atuando como seguidor da tensão da entrada, apresenta um elevado fator de potência com reduzida distorção harmônica para a corrente de entrada; o segundo estágio consiste no uso de um inversor em Ponte Completa (Full-bridge) ressonante, com controle por deslocamento de fase (Phase-shift), o qual garante comutações com corrente nula num braço da ponte inversora e comutações com tensão nula no outro braço, minimizando-se as perdas de comutação, com frequência constante e modulação bipolar. O estágio inversor ressonante é composto pelo inversor em ponte associado os elementos em série indutância (Lr) e capacitância (Cr), para o ajuste da ressonância, e um transformador elevador; resultando numa estrutura com capacidade de geração de pulsos elétricos na saída com amplitude de até 6kV, com frequência em torno de 8kHz, os quais são aplicados em um conjunto em paralelo de 14 (quatorze) câmaras de descarga para geração de ozônio e imediata injeção em água. Transformador elevador Q1 Q4 Ilr + VAB - Q3 conversor Boost com correção natural do fator de potência Controle PI de tensão Lr Cr Modelo Câmara de descarga Q2 Inversor Full-Bridge Q1 Q2 Q3 Q4 Controle PWM PhaseShifted ZVD ZCD VAB Ilr Figura 1 – Conversor Proposto para a geração de Ozônio. 2.1 Conversor Boost Corretor do Fator de Potência O conversor retificador boost funciona como um seguidor da tensão de entrada, apresentando um alto fator de potência com baixa distorção harmônica na corrente de entrada. Opera em modo de condução 570 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 descontínua com uma frequência de comutação de 27kHz, considerando-se tensão de entrada de 220Veficazes, 60Hz, e saída com valores médios de 350V. A vantagem deste conversor boost como estágio de entrada é a capacidade de apresentar um alto fator de potência com baixa distorção harmônica para a corrente de entrada, com reduzida complexidade para o controle e comutações ZCS (entrada em condução do interruptor e bloqueio do diodo boost), devido operação no modo de condução descontínua. primário do transformador elevador de alta freqüência, são incluídos para reduzir e fixar a frequência de ressonância do circuito equivalente da carga da ponte inversora. Neste trabalho, a freqüência de ressonância é fixada perto de 8kHz. 2.2.2 Transformador de alta tensão e alta freqüência Tensões em torno de 5kV já têm a capacidade de gerar ozônio a partir de micro descargas no ar dentro das câmaras empregadas neste trabalho (Health and Safety Executive, 2013). Para atingir este nível de tensão um transformador de alta tensão e alta frequência com relação de transformação de 1:22 é utilizado. Pulsos bipolares têm vantagens ao reduzir os problemas de saturação do núcleo do transformador, além de propiciar o aumento da concentração de produção de ozônio (Honn, 1976), aumentando-se a densidade de seu fluxo a ser injetado em água. Ao evitar a saturação do elemento magnético (pulsos bipolares), aumenta-se a transferência de energia e também se reduz o número de espiras e volume do transformador. A fim de reduzir as perdas por dispersão, a especificação de um núcleo com elevada indução magnética é necessária (exemplo: núcleos tipo Iron Powder). 2.2 Inversor Ressonante em ponte completa PhaseShift Este inversor é responsável pela obtenção de uma tensão alternada pulsada de alta freqüência, com controle da largura de pulso, adequada para fins de produção de ozônio. Entretanto, considerando-se os níveis baixos da tensão na saída da ponte, utiliza-se para sua elevação um transformador operando em elevadas freqüências. Em série com o primário do transformador elevador temos os elementos ressonantes (Lr-Cr), os quais permitem, em conjunto com a carga equivalente, um comportamento para a evolução das tensões e correntes através dos interruptores ativos do inversor, que resultam em comutações não dissipativas. Para garantir uma operação ZVS e ZCS para as comutações do estágio de saída inversor, a frequência de operação do mesmo deve ser pouco maior do que a frequência de ressonância de sua carga equivalente. A ponte inversora com controle PWM Phase-shift (freqüência constante e deslocamento de fase), tem vantagens em relação ao controle da tensão de saída e ao aproveitamento ressonante da carga, fato que permite a melhora da concentração de ozônio gerado, em comparação com o controle convencional PWM. O inversor com controle PWM Phase-shift permite manter constante a tensão de saída aplicada nas câmaras, frente a eventuais variações de frequência. Em uma ponte inversora com controle PWM convencional a tensão de saída decresce com o aumento da frequência de comutação, principalmente devido ao efeito da alta frequência sobre o transformador, impedindo o aumento da produção de ozônio através do aumento da frequência (Rilize, 2011). Portanto, com o controle por deslocamento de fase (phase-shift) resolve-se este problema, mantendo-se constante a tensão de saída com o aumento da freqüência, melhorando-se a eficiência da produção de ozônio nas câmaras de descarga. Ligado a uma carga de natureza ressonante, o estágio inversor opera no modo ressonante para tensões e correntes de saída. Assim, a tensão e corrente nas câmaras de descarga e a corrente na saída do inversor apresentam formas de onda quase senoidais, portanto, bipolares. 2.2.3 Câmaras de Descarga Fisicamente, as câmaras de descarga para produção de ozônio são geralmente fabricadas a partir de tubos concêntricos ocos. O eletrodo central está coberto por um tubo de vidro de isolamento para impedir a geração de arcos indesejados, então é no espaço e volume de ar do canal de descarga, contido pelo eletrodo cilíndrico externo, onde é gerado o ozônio. O modelo elétrico para uma câmara de descarga pode ser representado por uma capacitância, formada pelo espaço (dielétrico) entre os elétrodos, em paralelo com uma resistência, a qual representa as microdescargas de corrente que rompem o dielétrico equivalente, durante a geração de ozônio, modelo este convencionalmente usado, devido à sua simplicidade e linearidade (Sung, 2013). Parâmetros elétricos do modelo da câmara de descarga podem ser obtidos a partir da geração do fenômeno de ressonância, fazendo-se uma analogia com o funcionamento de qualquer circuito ressonante RLC básico, onde o modelo da câmara faça parte do mesmo e as equações de seu comportamento em frequência sejam analisadas. Na determinação dos parâmetros elétricos das câmaras de descarga sabe-se que a capacitância equivalente aumenta o seu valor com o aumento da freqüência de operação perto da freqüência de ressonância e que a resistência equivalente reduz o seu valor com o aumento da freqüência de operação (Rilize, 2011). Portanto, o conjunto retificador boost e inversor FullBridge Phase-Shift associado ao modelo equivalente do transformador com as câmaras de descarga, resultam num conversor ressonante. 2.2.1 Indutor e Capacitor serie O indutor e o capacitor série-ressonantes (Lr-Cr), mostrados na Figura 1, em série com o enrolamento 571 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 Desta forma, este artigo apresenta a análise do conversor ressonante de alta frequência e alta tensão proposto, conversor este capaz de variar a tensão de saída e o formato das correntes na ponte inversora e circuito ressonante. Consequentemente, controlando a quantidade de produção de ozônio (Fukawa, 2008), a partir do ajuste da frequência de ressonância e do ângulo de deslocamento de fase (phase-shift) na operação da ponte inversora, tal que se obtenha uma tensão com valor de pico e frequência constante, desejável, aplicada aos elétrodos das câmaras de descarga. A simulação da fonte proposta e os resultados experimentais são apresentados na sequência, para confirmar as características da tensão de saída, da corrente ressonante, das comutações ZVS e ZCS para os interruptores do estágio inversor e o elevado fator de potência para o estágio retificador de entrada, e, finalmente, o aumento da concentração de ozônio a ser injetado em água, através da comparação com um produto comercial. Logo, o valor adotado para a indutância Boost foi de 0,27mH, implementada no núcleo EE30/15/7. Considerando-se a resposta em freqüência do estágio de entrada, através de seu diagrama de Bode, admitese para a condição de estabilidade uma margem de fase maior do que 45 graus com uma derivada de 20dB/dec em torno da frequência de cruzamento, apresenta-se em (3) os dados para o compensador empregado. ( ) ( ) ( ) (3) Na Figura 2 apresenta-se o comportamento da tensão e corrente de saída do estágio boost, frente a um degrau de exclusão e inclusão de 50% da carga, sendo que o sinal intermediário corresponde ao sinal de controle. Vo 370 360 350 340 330 Voc2 3 0.6 Análise da Operação via simulação 0.5 0.4 3.1 Conversor Boost com elevado fator de potência 0.3 Para o modo de condução descontínua, o projeto do retificador Boost concentra-se em determinar a indutância máxima que assegura uma condução crítica, próxima aos valores de pico da forma de onda de corrente no indutor Boost e da tensão de alimentação. Neste trabalho é utilizada uma tensão de alimentação de entrada de 220V (eficazes), uma potência de saída no barramento CC do estágio boost de 200W, uma tensão média de saída do estágio boost de 350V e uma frequência de operação de 27kHz. Para minimizar o ripple na tensão de saída do estágio boost emprega-se um filtro capacitivo de 220µF/450V. Observa-se que, quanto maior o ganho estático do conversor Boost, no MCD, maior será o valor da tensão de saída no barramento CC e melhor será a correção natural do fator de potência. Por outro lado, maiores serão os esforços nos semicondutores (diodo e interruptor). Desta forma, através de (1) e (2) pode-se especificar o valor máximo para a indutância Boost (indutância crítica), para o conversor Boost operando no MCD. 0.6 Io ( ) ( ) √ [ ( √ 0.4 0.2 0 0.2 0.6 Time (s) 0.8 1 Figura 2 – Tensão controlada de saída, sinal de controle e corrente na carga/saída do retificador boost. Considerando-se os dados de projeto do estágio de entrada boost, os resultados de simulação obtidos com o PSIM, admitindo-se atraso entre fundamentais da tensão e da corrente de entrada desprezível, com tensão de entrada senoidal, o Fator de Potência (FP) resultou aproximadamente em 0,96. 3.2 Inversor em ponte completa Phase-shift com carga ressonante A Figura 3 mostra as características de operação e sequência dos pulsos de controle dos interruptores da ponte inversora. Considerando-se operação PWM Phase-Shift, permitindo-se comutação ZCS no braço esquerdo (interruptores Q1 e Q3) e ZVS no braço direito (interruptores Q2 e Q4), admitindo-se frequência de comutação do inversor pouco maior do que a frequência de ressonância da carga equivalente. O período de funcionamento pode ser representado por dez subintervalos de tempo, sendo que cinco subintervalos podem ser diferenciados a cada meio período de funcionamento. Os sinais para os interruptores têm uma defasagem φ, conforme Figura 4, caracterizando-se a natureza da operação PWM Phase-Shifted. A tensão de saída pode ser variada alterando-se o valor do ângulo de defasagem φ. (1) )] 0.4 (2) Onde: Vp= Valor de pico da tensão de alimentação; D= Razão cíclica; fs= Freqüência de comutação; Pout(max)= Máxima potência ativa de saída; = Vp/Vo; Vo= Valor médio da tensão de saída. 572 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 (5) ( ) Fazendo a parte imaginaria igual a zero em (5) temse (6). (6) Isolando a capacitância CR, conforme (7), pode-se determinar o seu valor a partir de dados conhecidos (comerciais) e com tal especificação fixa-se a frequência de ressonância desejada para o sistema, conforme (6). Na caso desta proposta, como os parâmetros das câmaras de descarga já são conhecidos para uma frequência perto da frequência de ressonância e perto da frequência de chaveamento, o indutor Lr é fixado em 2,2mH, valor que compõe o parâmetro LT, onde as indutâncias de dispersão do transformador também são conhecidas. Figura 3 - Sequência de funcionamento e chaveamento do estágio inversor proposto. 4 Análise da Carga Equivalente O circuito equivalente aproximado do conjunto, associação do transformador de alta frequência, elementos ressonantes, câmaras de descarga e os pulsos de tensões bipolares gerados pelo inversor PWM Phase-Shift é mostrado na Figura 4. Em conjunto, o transformador, o circuito série-ressonante e as câmaras de descarga constituem a carga ressonante equivalente da ponte inversora. Com o circuito equivalente aproximado simplificado mostrado na Figura 4 pode-se obter, agrupando-se as indutâncias de dispersão do transformador do primário e do secundário refletida ao primário, junto com a indutância de ajuste Lr, a equivalente LT, e com as resistências dos enrolamentos do transformador e do indutor Lr, a equivalente RT. A resistência da carga equivalente diminui seu valor com o incremento da frequência de operação. A capacitância equivalente CT aumenta seu valor com o incremento da frequência de operação. Lembrando-se que, quanto maior a frequência de operação maior poderá ser a concentração da produção de ozônio (Rilize, 2011). Para fixar a frequência de operação ou ressonância do circuito pode-se começar do circuito equivalente da Figura 4, onde a frequência de ressonância corresponde ao ponto onde a parte reativa da impedância total faça-se zero, assim a impedância total do circuito pode ser definida pelas expressões (4) e (5). LT CR ( ) (7) Assim, para uma frequência de ressonância ω de aproximadamente 8kHz, levemente inferior à frequência de operação do estágio inversor, determina-se o valor da capacitância ressonante CR de 1µF, e, com estes dados, obtém-se o ponto de operação adequado para a aplicação. A frequência de ressonância pode ser verificada no diagrama de bode da função de transferência que relaciona a tensão de saída com a tensão bipolar fornecida pelo estágio inversor, conforme Figura 6, assim como na função de transferência que relaciona a corrente ressonante no primário do transformador com a tensão bipolar do inversor. Na Figura 5 a linha superior representa o comportamento em frequência da função de transferência para a tensão de saída e a linha inferior o comportamento da função de transferência para a corrente ressonante, pode-se verificar que a ressonância ocorre perto dos 8kHz, sendo que, para uma frequência de chaveamento igual ou superior a esta frequência de ressonância garante-se um bom comportamento ressonante para o circuito, com comutações ZCS e ZVS nos semicondutores da ponte inversora. A função de transferência da tensão nas câmaras de descarga em relação à tensão de entrada (saída do inversor em ponte) é apresentada em (8). RT (8) vinv Cc Rc A partir da simulação da estrutura no ponto de operação ressonante adotado, a tensão obtida nas câmaras de descarga e a corrente de saída do inversor são suficientes para a geração de ozônio com a estrutura proposta. Figura 4 - Circuito equivalente simplificado, estágio de saída. ( ) (4) 573 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 é controlado de forma digital através de um DSC (Digital Signal Controller) de baixo custo. Na Figura 10 apresenta-se a tensão e corrente de entrada do sistema, entrada do estágio retificador boost. A Distorção Harmônica Total (DHT) para a corrente de entrada é de aproximadamente 30%. Entretanto, mesmo com tal distorção, devido reduzida relação de ganho estático do estágio de entrada, todas as componentes harmônicas da corrente estão abaixo dos limites estabelecidos pela IEC 61000-3-2, na classe mais restritiva (classe D). Figura 5 - Diagrama de bode da tensão e corrente de saída do estágio inversor ressonante. A Figura 6 mostra detalhadamente a tensão e corrente no interruptor superior Q1 da ponte inversora, pertencente ao braço com comutação ZCS. Obviamente, para comutação ZCS durante o bloqueio, o interruptor mais recomendado seria um IGBT com diodo em antiparalelo encapsulado. Entretanto, considerando-se custos relativos para a potência da aplicação, mesmo com as 14 câmaras associadas em paralelo, utilizou-se um MOSFET. Figura 8 - Conversor proposto e desenvolvido para geração de ozônio e aplicação em processos de limpeza industrial. Figura 6 - Detalhe de comutação com corrente nula, ZCS, para a tensão e corrente no transistor Q1. A Figura 7 mostra a defasagem entre a tensão de saída nas câmaras de descarga e a corrente ressonante de saída do estágio inversor, podendo-se verificar que em tensão máxima a corrente é nula e vice-versa. Tal operação relaciona-se diretamente como o chaveamento ZVS, mostrado também na Figura 8 para a tensão e corrente através de Q2, interruptor do braço direito da ponte inversora. Ou seja, a entrada em condução dos interruptores deste braço ocorre com tensão nula, considerando-se a condução preliminar por seus diodos em antiparalelo (interruptores do tipo MOSFET). Figura 9 - Tensão e corrente de entrada do estágio retificador boost. A Figura 10 mostra as formas de onda da tensão nas câmaras de descarga de formato senoidal, com frequência de aproximadamente 8kHz e tensão pico de aproximadamente 6kV, junto com a corrente ressonante no primário do transformador de formato quase senoidal e de 2,3A em valores eficazes. Podese verificar que a defasagem entre estas formas de onda está próxima dos 90 graus, fato que garante comutação com tensão nula quando a corrente é máxima em um dos braços e comutação com corrente nula quando a tensão é máxima, nos braços à direita e à esquerda do estágio inversor, respectivamente. Na parte direita da Figura 10 se mostra a tensão Vab de saída da ponte inversora e a sua correspondente corrente de saída ressonante, pode-se verificar como em cada pulso positivo e negativo a corrente é incrementada de maneira ressonante. Deve-se observar que a aplicação de pulsos bipolares nas câmaras de produção de ozônio melhoram a eficiência do processo (aumento da concentração de Figura 7 - Tensão nas câmaras de descarga e corrente ressonante no primário do transformador; Detalhe de comutação com tensão nula, ZVS, para Q2. 6 Resultados Experimentais O protótipo implementado é apresentado na Figura 8, sendo que todo o sistema, estágios de entrada e saída, 574 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 ozônio), sendo uma importante vantagem para a estrutura proposta. No mesmo período de tempo de 5ms (500µs por divisão) são gerados aproximadamente 40 pulsos senoidais pelo conversor desenvolvido contra 5 pulsos pelo conversor comercial. Em termos da frequência dos pulsos de tensão, uma frequência pouco maior que 8kHz é obtida no conversor proposto, em relação aos 1,25kHz obtidos com o conversor comercial. Portanto, uma maior densidade de energia é transferida pelo conversor desenvolvido às câmaras de descarga. Em relação às medições experimentais de produção de ozônio, foram realizados um total de 5 testes oficiais como cada equipamento (produto comercial e o desenvolvido), com o objetivo de avaliar os níveis de ozônio residual obtidos ou produzidos por cada equipamento, considerando-se a injeção em um mesmo fluxo constante de água. Figura 10 - Tensão nas câmaras de descarga e corrente ressonante no primário do transformador elevador, e, tensão pulsada de saída do inversor. A Figura 11 mostra detalhadamente a tensão e corrente no interruptor inferior Q3, à esquerda, pertencente ao braço com comutação ZCS. Na parte direita se mostra as formas de onda de tensão e corrente em um dos interruptores do braço com comutação ZVS, Q2. A comutação ZVS é um importante instrumento para a redução das perdas em comutação e volume reduzido do dissipador empregado no conversor implementado. Figura 13 – Detalhe pulsos de tensão gerados pelo conversor desenvolvido. Figura 11 - Detalhe da tensão e corrente em um interruptor do braço ZCS, Q3, e, em um interruptor do braço ZVS, Q2. A Figura 14 mostra a comparação visual dos melhores resultados obtidos para cada equipamento, sendo a amostra à esquerda para o equipamento comercial, e, à direita o resultado obtido com o conversor desenvolvido. Nestes ensaios de colorimetria, quanto mais escura a amostra em cor rosa, maior a concentração de ozônio na amostra. Conforme se observa nos registros do equipamento utilizado, a concentração obtida com o produto comercial, em seu melhor resultado, atingiu 0,2mg/l, e, 0,5mg/l (mg/l: miligramas/litro). Em relação à tensão de saída gerada pelo conversor proposto, a Figura 12 mostra uma comparação das formas de onda de tensão de saída geradas por um produto comercial e pelo sistema proposto, no mesmo período de tempo correspondente a 5ms. Observa-se à esquerda, para o conversor comercial, a ocorrência de 5 pulsos de curta duração e uma tensão máxima de 8kV, e, à direita, para o conversor proposto, obtém-se um maior número de pulsos no mesmo período, com uma tensão máxima menor de aproximadamente 5,5kV. Apesar deste fato, pode-se inferir que para o conversor proposto tem-se uma maior densidade de energia transferida às câmaras. Em relação à densidade de energia transferida às câmaras de descarga, o menor nível de tensão obtido com o conversor desenvolvido é compensado com o aumento da frequência e o formato senoidal, bipolar, dos pulsos gerados, de acordo com detalhe da Figura 13. Figura 14 – Comparação das máximas concentrações obtidas de ozônio residual com o equipamento comercial e o conversor desenvolvido. Figura 12 - Pulsos de tensão gerados pelo conversor comercial em comparação com o conversor desenvolvido (em 5ms). 575 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 7 Analysis of an Ozone Generator System Operating at High Frequency with Digital Signal Controller”, Revista Ciência e Tecnologia, ISSN:1677-9649, vol. 15, n. 27, pp. 23-35, 2012. Health and Safety Executive, “Ozone: health hazards and precautionary measures. Guidance Note EH38,” 1996. [Online]. Avaible: http://www.hse.gov.uk/pubns/priced/eh38.pdf. [Acesso em 23 Outubro 2013]. J. M. 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Com o conversor comercial foi obtida uma concentração média de ozônio de 0,18mg/l e com o conversor desenvolvido foi obtida uma concentração média de 0,46mg/l. Ou seja, ficou demonstrado que o conversor desenvolvido consegue produzir uma maior concentração de ozônio residual do que aquela produzida com o conversor comercial testado. A operação com frequência de chaveamento constante, pouco superior à frequência de ressonância, garante a correta operação e comutações não dissipativas para o estágio inversor, assim como, permite elevada eficiência na produção de ozônio nas câmaras de descarga, considerando-se as tensões bipolares (bidirecionais), em relação às estruturas dos pulsadores convencionais para produção de ozônio. Portanto, considerando-se os resultados apresentados, conclui-se que com o conversor desenvolvido obtém-se uma maior transferência de energia às câmaras de descargas, fato que leva a uma maior produção de ozônio residual em fluxo de água para aplicações em processos de limpeza e higienização industrial, o que garante a maior eficácia germicida e bactericida para a aplicação. Agradecimentos Os autores gostariam de agradecer ao apoio do CNPq e FEPISA para o desenvolvimento deste trabalho. Referências Bibliográficas F. Fukawa, H. Togo e N. Shimomura, “Consideration of parallel reactors for ozone production using nanosecond pulsed power discharge”, 0-78038586-1/04 IEEE, pp. 387-390, 2004. F. Fukawa, N. Shimomura, T. Yano, S. Yamanaka, K. Teranishi e H. Akiyama, “Application of Nanosecond Pulsed Power to Ozone Production by Streamer Corona”, IEEE Transactions on Plasma Science, vol. 36, n. 5, pp. 2592-2597, 2008. G. J. Schiavon, C. M. Gonçalves Andrade, L. M. Matos Jorge e P. R. 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