Leitura global de Os Lusíadas e Mensagem

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na história (...) e considerou os períodos anteriores, que o separavam
do passado glorioso, como a idade das trevas. (...) Os humanistas
desempenham uma ação importante neste processo de consciencialização cultural e aplicam os seus métodos ao próprio texto bíblico. (...)
Do trabalho individual, do estudo das bonae litterae, das humaniones
litterae, passa-se ao seu ensino em colégios e universidades. Os studia
humanitatis atraem discípulos de todas as partes do continente a Itália e a países como a França e a Espanha, onde floresciam as primeiras escolas. (...) Giovanni Pico della Mirandola (1463-1494), na sua
Oratio de dignitate hominis (1487), produz o que se pode chamar o
grande manifesto do Renascimento, ao proclamar a dignidade da
pessoa humana e a sua postura no universo. Pico refuta a conceção
neoplatónica que atribuía ao homem um papel intermédio entre o
mundo terrestre e divino. O homem possui uma capacidade ilimitada
de desenvolvimento espiritual. (...) Marsilio Ficino (1433-1499) traduziu diretamente do grego para latim todos os diálogos de Platão e
empreendeu, entre 1484-1492, a versão da obra de Plotino. Para
Ficino o universo é constituído por uma cadeia de entes, que vão
desde a matéria mais grosseira e a mais diversa à unidade pura e
indivisível da divindade. (...) Por outro lado, Petrarca descobre as
duplicidades e os logros da vida anterior na sua célebre carta de
1336, ao descrever a ascensão ao Mont Ventoux, e abre-se à confissão
entre o “eu” e o outro no Secretum (1347-1354), finíssima obra de
análise introspetiva que anuncia o homem moderno. (...)
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3.1. Os Lusíadas
• O Renascimento – contextualização epocal
“Movimento cultural italiano que procura recuperar o conhecimento da antiguidade greco-romana na pluralidade das suas manifestações e a sua visão do mundo, tendo em atenção o papel do indivíduo e a sua vida em sociedade. (...) Cronologicamente situa-se na
Itália entre a segunda geração do século XIV e a segunda ou terceira
geração do século XVI. (...) O termo Renascimento firma-se com a
publicação, em 1855, do volume La Renaissance, parte da Histoire de
France, de Jules Michelet, e a obra de Jacob Burkhardt, A Civilização
do Renascimento em Itália, saída em 1860. (...)
A originalidade do Renascimento português afirma-se nos descobrimentos marítimos e no pragmatismo científico que os torna possíveis. Um humanismo de preocupação moral reflete os efeitos da expansão e pondera as suas consequências dentro dos parâmetros
tradicionais da história antiga e da ética cristã, sob o regime de uma
monarquia absoluta, em que o soberano é o dispensador da liberdade
e dos direitos cívicos. As discrepâncias de tom que se possam notar
num discurso, que emprega a retórica da respublica romana para a
adaptar a um regime monárquico, revelam as dificuldades da integração do antigo no moderno e na incongruência de sentidos daí
decorrente, que trai um utopismo político mal formulado. (...)
A palavra renascimento, ou rinascita (...), envolve uma exploração metódica da antiguidade destinada a servir ao conhecimento dos
homens de Quinhentos e promovendo uma renovação das artes, das
letras e do saber académico. (...) Como conceito, o Renascimento
associa-se com o individualismo, o amoralismo e a totalidade do
saber, aparecendo a cultura ligada à personalidade e ao comportamento. Na obra tem o homem a sua realização e esta assume um papel
fundamental na ação do indivíduo. Petrarca (1307-1374), no seu
entusiasmo pela cultura antiga e nas suas descobertas da grandeza
da Roma imperial, teve a sensação de estar a viver um momento único
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