7 DE NOVEMBRO BEATO GRAÇA DE KÓTOR RELIGIOSO Graça (Mula, próximo a Kótor, ou latinamente Cátaro, no território da atual república de Montenegro (Carna Gora), ex-Iugoslávia, 27 de novembro de 1438 – Veneza, 8 de novembro de 1508) trabalhou como marinheiro até os trinta anos de idade. Depois de ter ouvido, em Veneza, a pregação do célebre agostiniano Simão de Camerino, decidiu ingressar na Ordem como irmão não-clérigo e passou o restante de seus anos em Veneza, distinguindo-se por uma profunda humildade, amor ao trabalho, espírito de penitência e ardente devoção à Eucaristia. Seus restos foram trasladados a sua aldeia natal. O Papa Leão XIII confirmou-lhe o culto em 1889. Do Comum dos santos homens: para religiosos. OFÍCIO DAS LEITURAS SEGUNDA LEITURA Do Tratado sobre o trabalho dos monges, de Nosso Pai Santo Agostinho, bispo De opere mon. 25, 32-33; 28, 36: CSEL 41, 577-579. 586 Mostrai que não procurais o sustento fácil Dirá alguém: o que aproveita ao servo de Deus ter renunciado à atividade que exercia no mundo e ter-se convertido a esta vida e milícia espiritual, se ainda precisa andar às voltas com ocupações manuais como se fosse um trabalhador? Como se pudéssemos explicar facilmente com palavras quanto valeu ao rico o que o Senhor lhe disse que fizesse, se quisesse ser perfeito, a saber, que, uma vez vendido tudo o que tinha e distribuído à indigência dos pobres, ele o seguisse! Ora, quem seguiu o Senhor tão livremente como aquele que disse: “Terei a glória de não ter corrido em vão, nem trabalhado inutilmente”, e que, no entanto, recomendou tais trabalhos e ele mesmo os praticou? Tendo-nos instruído e informado, tão alta autoridade devia bastar-nos como argumento para abandonarmos as antigas riquezas e trabalharmos com nossas próprias mãos. Ajudados, porém, pelo próprio Senhor, talvez possamos chegar a conhecer de algum modo como aproveita aos servos de Deus ter que trabalhar, mesmo tendo deixado as anteriores ocupações. Se, com efeito, alguém se converte da riqueza a este gênero de vida e não se vê impedido por fraqueza corporal alguma, teremos porventura tão pouca compreensão das coisas de Cristo, que não entenderemos em que medida terá sido curado o tumor da antiga soberba, quando suposta pessoa abandonou os bens supérfluos com que antes perniciosamente se engrandecia? E sem que isso signifique que a humildade do trabalhador tenha de recusar aquelas poucas atividades que, naturalmente, são ainda necessárias à vida presente? Por outro lado, se alguém se converte da pobreza, não pense que, ao trabalhar, faz o mesmo que antes fazia, uma vez que se afastou daquele impulso por aumentar o patrimônio particular, por menor que tenha sido, e já não procura o que é próprio, mas o de Jesus Cristo e, tendo passado à caridade da vida comum, há de viver na companhia daqueles que têm uma só alma e um só coração dirigidos para Deus, sem que ninguém dentre eles considere coisa alguma como própria, mas tudo lhes seja comum. Mesmo aqueles que, tendo abandonado ou distribuído sua relativamente grande ou opulenta fortuna, quiseram contar-se, com piedosa e salutar humildade, entre os pobres de Cristo; se gozarem de saúde e estiverem livres de ocupações eclesiásticas, muito mais BEATO GRAÇA DE KÓTOR (07 DE NOVEMBRO) misericordiosamente agirão, se trabalharem com suas próprias mãos, do que quando repartiram tudo o que era seu com os pobres. Mostrai aos homens que buscais não o sustento fácil na vida consagrada, mas o Reino de Deus, através do estreito e áspero caminho deste propósito. RESPONSÓRIO Cfr. 2 Ts 3, 7. 8 R/. Não temos vivido entre vós na ociosidade, de ninguém recebemos de graça o pão que comemos, * para não sermos pesados a ninguém. V/. Trabalhando com esforço e cansaço, noite e dia. R/. Para não sermos pesados a ninguém. Ou: Dos Sermões de Santo Afonso de Orozco, presbítero Declamatio XXII, Feria V in Cœna Domini: Opera Omnia I, 1736, 456-457 A Eucaristia é sinal do grandíssimo amor de Cristo Considerai, irmãos, quão fiel amigo é o Cristo, que nunca se esquece de seus amigos. “Amou-os até o fim”, mostrando-lhes, na iminência de sua própria morte, os grandíssimos sinais do seu amor. De joelhos ante eles, lavou-lhes os pés, para deixar tanto a eles como a todos os cristãos um admirável exemplo de humildade. Disse-lhes: “Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz”. A soberba já não há de ter lugar entre nós, que somos terra e cinza, depois que a majestade eterna humilhou-se e aniquilou-se desse modo, tomando para si um ofício de escravo. Depois, mostrou ainda o sinal de um sublime amor, instituindo o admirável sacramento da Eucaristia em memória de sua morte santa. Disse: tomai, “isto é o meu corpo que se entrega por vós: fazei isto em memória de mim”. Palavras de fogo, que avivam chamas de caridade. “Fazei isto em memória de mim”: este memorial seja-vos espelho de toda a minha inocente vida e da minha dolorosa paixão. Levo vossos nomes inscritos em minhas mãos, ou melhor, a lança vos introduziu em meu coração e desejo levar-vos em meu seio qual mãe gestante. Por vossa parte, renovai minha memória, alimentando-vos com meu Corpo sacrossanto. Vamos, pois, caríssimos, lavemos os pés quanto antes, limpemos com lágrimas as manchas do coração por meio da penitência. Aproximemo-nos dignamente da mesa do Rei dos reis, Cristo Jesus e, alimentando-nos com este pão vivo “que desceu do céu”, consigamos os frutos mui fecundos deste divino alimento. O próprio Jesus Cristo disse: “Quem comer deste pão viverá eternamente”: digne-se Ele conceder-nos tal vida por sua gratuita benignidade. RESPONSÓRIO Cfr. SANTO AGOSTINHO, Solil. I, 1, 3 R/. Vós nos dais o pão da vida: * nós vos damos graças, Senhor. V/. Graças a vós sentimos sede dessa água que, uma vez bebida, desaltera para sempre. R/. Nós vos damos graças, Senhor. ORAÇÃO V/. Ó Deus, que chamastes o Beato Graça ao vosso serviço, para produzir bons frutos pela oração e pela penitência, concedei que, por sua intercessão, dediquemos toda a nossa vida somente a vós. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. R/. Amem. Pág. 2