O Projeto Prussiano de Império Alemão Após a derrota de Napoleão e a busca da reorganização do mapa mundi, a luta contra o princípio nacional tornou-se a marca das disputas políticas na Europa. Em relação ao Império Austro-Húngaro e o Império Czarista russo, a luta era contra o princípio das nacionalidades - uma exigência para a sobrevivência do império dinástico dos Habsburgos e dos Romannov. A busca por uma nova forma de governo levou a essa luta contra o liberalismo e o nacionalismo. O Estado Habsburgo já era dinástico e transnacional antes de 1789. A Rússia Imperial e a Prússia eram Estados supranacionais e possuíam lealdade dinástica. A França e a Inglaterra foram os responsáveis por essa mudança. Assim, a ação do Estado dinástico seria inevitavelmente dirigida à liquidação dos movimentos nacionais. Esses movimentos só seriam vitoriosos caso os Estados dinásticos fossem derrotados e submetidos pelo Estadosnacionais. A Prússia dominava terras e povos não-germânicos, em especial na Polônia, e tinha profunda devoção à dinastia Hohenzollern – que foi a dinastia soberana da Prússia e do Império Alemão até o fim da Primeira Guerra Mundial (1918). Apresentação organizada e editada pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila A Rússia Imperial e a Prússia eram Estados supranacionais e possuíam lealdade dinástica. Em 1618, a família passou a governar o Ducado da Prússia, sendo o seu chefe detentor do título de Duque e, desde 1701, adquiriram o título de Reis da Prússia. Em 1871, a casa, já concretizada como uma das mais poderosas e influentes da Europa, unificou os Estados germânicos e passou a governar o Império Alemão, através do primeiro Kaiser, Guilherme I - em 1918, o Império foi extinto e foi proclamada a República de Weimar, como consequência da Primeira Guerra Mundial. O futuro grandioso do Estado prussiano só poderia ser garantido se a Prússia fosse o núcleo da unificação de toda a Alemanha. Um projeto de unidade alemã centrada na Prússia colocava medo em Berlim 1. Cabia expropriar os direitos legítimos de antigos príncipes e governantes alemães em prol da dinastia Hohenzollern reinante em Berlim; 2. Implica claramente expulsar a Áustria (de natureza germânica) do interior da Alemanha. O projeto da Prússia na Europa implicava opor-se ao princípio da legitimidade. Berlim se via entre a razão de estado e suas próprias convicções (dinásticas e conservadoras). Os políticos prussianos, em sua maioria, acreditavam que a unidade alemã só se daria através da Prússia. • O projeto chamado Pequena Alemanha implicava que Berlim assumiria sua missão borússica contra os interesses da Alemanha. • As reformas liberais empreendidas em Berlim havia comprovado que a política estamental estava esgotada, como também a ideia de que o Estado prussiano era expressão exclusiva da aristocracia militar. A medida que o Estado dinástico se tornava nacional, maiores as chances de sobreviver na Europa como uma potência. Foi no âmbito do Estado que a crise da dominação estamental e conservadora poderia ter sua resolução. A Prússia só teria chance de se colocar como uma potência europeia se se identificasse como uma “nação” alemã. Constituía o projeto único da Prússia: 1. Afastamento da Áustria; 2. Resolução da questão dos pequenos Estados; 3. A assunção do seu papel de motor da unidade alemã. O que estava em jogo era a vocação nacional ou borússica do Estado único da Prússia. O grande problema de tal projeto era assumir compromissos político avançados para a época. Muitos dirigentes da elite percebiam que o projeto diminuiria seu poder, e por isso não estavam solícitos a tais mudanças. E esse é o ponto central, pois a Prússia se depara com uma profunda crise em torno do projeto nacional. “A lógica do Estado, ou seja, sua vontade contínua de potência, percebida por segmentos liberais, da burguesia à universidade, e de parte do Exército contrapunha-se aos próprios grupos dominantes, presos à noção de privilégio” (p.224). Apresentação organizada e editada pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila Em busca da unidade nacional A questão da implantação do projeto nacional passou por muitas discussões em busca de uma resolução. Em meio a essa busca, surge o programa de Bismarck: a realização violenta e conservadora do programa nacional de unidade alemã. As forças liberais durante as guerras liberais contra a ocupação napoleônica não podiam ser contidas pelos interesses dos grupos privilegiados, então assumiam aspecto de agitação. Silva diz que grande parte dessa agitação vinha dos estudantes organizados na chamada Burschenschaft (fraternidade de estudantes). A atuação desses estudantes, principalmente em 1817, culminou em 1819, no assassinato do espião austríaco Kotzebue, que remetia informes regulares da situação alemã ao czar da Rússia. A partir desse assassinato, Metternich conseguiu impor uma Estado policial a toda Alemanha. Com essa mudanças, a liberdade de expressão nas universidades seriam afetadas, e as ordens de prisão contra vários intelectuais geravam uma onda de imigração para a Europa Ocidental. A Prússia e o projeto nacional estavam ameaçados por causa dessa reação reacionária. A aliança entre Berlim e Viena levou a Alemanha no mesmo ponto de partida. A influência de Metternich sobre o rei e sobre o ministro, em Berlim, era forte e decisiva. Os professores, escritores e filósofos eram os alvos principais dessa política antinacional, antiliberal e conservadora. Os alemães, que adotaram a cidadania prussiana, viam na guerra de libertação um forte sentimento nacional pangermânico. Novamente a ideia de uma libertação conservacionista foi barrada e o projeto pangermânico foi dito como uma traição. O grupo conservador se emancipou do grupo reacionário. Ocasionado na distinção entre Apresentação organizada e editada pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila 1. O restauradores, defensores da pulverização política medieval na Alemanha. 2. E os conservadores modernizantes e autoritários, interessados em constituir um Estado alemão. Com os conservadores seria possível constituir uma aliança dos liberais nacionalistas. A questão nacional cindirá em duas correntes: 1. Os conservadores se afastarão cada vez mais dos restauradores; 2. E os reacionários no momento em que passarem a admitir a possibilidade de uma missão borússica da Prússia. Entre os liberais temos: 1. Os que assumem a missão borússica da Prússia, entendendo que a implantação de uma constituição levaria a unificação nacional. 2. E os que são contrários à dinastia Hohenzollern e interessados na democratização do país. A realização do projeto borússica encontrava duas ordens de impedimento: O Projeto Prussiano de Império Alemão 1. O bloqueio da política externa da monarquia pela Kamarilla, reacionário e antiliberal; 2. E a hegemonia da Áustria sobre a Alemanha. O projeto internacional de Viena correspondia ao imobilismo do pessoal político em torno do rei em Berlim, vendo-se claramente o congelamento da política externa prussiana. Após o Congresso de Viena e as revoluções liberais, a Prússia se via paralisada pelo debate do projeto nacional. Era clara a preferência da “Pequena Alemanha” (sem a Áustria). A questão caminha para a concretização : “uma revolução “pelo alto”, passiva em relação aos objetivos populares e centrada na dinastia Hohenzollern, ou, uma ampla revolução popular, antiaristocrata (...)? Esse era o dilema dos nacionalistas alemães” (p.226). O reacionarismo austríaco Áustria mantinha sua política externa ativa, e não desejava ampliar as forças nacionais e liberais. O império austríaco era multiétnico, e o princípio nacional era a mais grave ameaça ao império Habsburgo, e o seu medo maior era de conflitos internos. A diplomacia dos congressos servia para pôr em acordo os interesses dos membros da “pentarquia” e tentar impor que os Estados rebeldes não provocasse atrito com os vencedores de Napoleão. O Pacto de Garantia estabelecia a colaboração internacional, e ganhava a França. A ameaça de rebeliões nacionais na Alemanha e Itália fez com que o Congresso de Aechen, de 1818, definisse o funcionamento básico do sistema de poder na Europa. A França, considerada uma fonte de problemas, é admitida no Pacto da Quádrupla Aliança (Áustria, Prússia, Rússia e Inglaterra). O congresso de Troppau, em 1820, o de Laybach, em 1821, e Verona, em 1822, patenteavam-se o crescente conflito entre a Grã-Bretanha e Rússia. Os pontos onde os conflitos mais se destacavam eram o império otomano, a Ásia Central, o Alasca e a Califórnia. A aliança conservadora, após algum tempo, passou a se tornar perigosa para os governos constitucionais. Silva revela que “a noção de pentarquia, ou sistema de equilíbrio de Estado, guardava notável coerência para a diplomacia britânica” (p.227). Na verdade, a pentarquia em nada tinha haver com a tentativa de paz, entre as nações. A limitação da soberania constituía uma arma contra a revolução, e também contra alterações do status quo. Por causa dessa ameaça, o primeiro ministro britânico Castlereagh formula, em 5 de maio de 1820, uma doutrina baseada na política externa inglesa. E nesse mesmo tempo, os Estados Unidos formularam a Doutrina Monroe, prenunciando uma nova divisão do mundo em esfera e influência. A crise belga (1830-1831) fez com que os últimos traços de solidariedade entre os vencedores de Napoleão desaparecessem. A filosofia da unidade nacional Hegel percebe que a paz deveria ser rompida por uma guerra conduzida pela Prússia, daí se percebe que as teses hegelianas serão a base do realismo em relações internacionais, e que as teses hegelianas contrapõem as de Kant. Apresentação organizada e editada pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila Hegel acreditava que a maior tarefa colocada para uma época é a transformação de um povo em nação. Falta então uma constituição escrita para a identificação entre nação e Estado. O Projeto Prussiano de Império Alemão A missão da Prússia para que seus planos (“produção” de uma guerra) se tornassem realidade era: 1. Adornar-se com o consticionalismo e realizar a ideia de uma nação, permitindo que o espírito alemão encontre seu lugar na história. Caso não existisse uma guerra, o povo tenderia a não se realizar como nação, e desapareceria. Hegel diz “na existência de um povo, o fim substancial consiste em ser Estado e em se manter como tal; um povo que não se constitui como Estado (...) não tem lugar na História” (p.228). Quando Hegel fala em História, ele se referia a história europeia. O Oriente e seus vastos impérios não conheceria o Estado-ideia. Hegel é atraído por aquilo que ainda não existia, e este será o programa de Bismarck. A postura de Hegel é de um crítico do conceito Estado moderno, negando as teses de Haller e de outros reacionários. Hegel não concorda que o Estado é fruto fortuito da história e que, portanto, não guardaria qualquer relação com conceito de progresso. Para Hegel, esse conceito é uma fuga de pensamento. Assim, Hegel denuncia a ação da Santa Aliança e oferece um programa alternativo frente ao imobilismo. Hegel se utiliza das ideias de Maquiavel, e diz que o príncipe deve usar de astúcia, da força e da violência para manter um Estado. Silva afirma que é preciso inverter o axioma de Manheim para compreender o pensamento conservador. Hegel estabelece, diante da ideia reacionária da Santa Aliança, a autonomia da ideia conservadora, tornando-a independente dos seus grilhões medievais, feudais e estamentais. • Assim, Hegel inaugura uma possibilidade moderna, uma revolução pelo alto, obrigando os conservadores a escolher entre a colaboração com os novos conservadores ou o risco de não-realização na história. • É possível observar que Hegel recusa o absolutismo, e todos os seus privilégios. • Em 1819, as decisões de Karlsbad fez com que muitos universitários fossem expulsos das universidades. O apoio de alguns liberais, entre colegas de Hegel, ao ato de Sand, prefigurava um equívoco, o contágio do irracionalismo na política, e a substituição pela violência. Passado como Utopia •Hegel não encontrou um terreno fácil para implantar as suas ideias. • Naquele momento, muitos acreditavam que a Alemanha deveria voltar com o Sacro Império da Nação Alemã. • Voltar ao velho império era como retroceder. • O reinado de Frederico Guilherme III (1797-1840) e de Frederico Guilherme IV (1840-1861) são marcados por tais tensões de regressão, afastando a Prússia do seu projeto inicial. • Esse tempo foi marcado por um tempo de nostalgia e romantismo, em que tudo foi feito para que as pessoas vivessem como se estivesse na Idade Média. • A arte contemporânea encontrou nesse clima melancólico uma maneira de expressar suas artes. • Os temas básicos das artes eram a solidão, as brumas, o anoitecer e as primeiras luzes. Diante do distanciamento do rei em relação a realidade, Frederico Guilherme IV é declarado, em 1858, louco, um demente. Guilherme I, príncipe da Prússia, assumiu o trono. Guilherme I cessa os sonhos e as fantasias, e construirá a unidade alemã com Otto von Bismarck. Construindo o Império Alemão Silva revela que “a constituição de uma Alemanha imperial - Deustsche Reich - em 1871 (...) representou um forte impacto sobre o equilíbrio europeu” (p.230). Surgiram, entre 1871 e 1880, novos e poderosos Estados, como, por exemplo, a Itália e o Japão. Ainda nessa época não se pode afirmar que precisava-se com urgência de uma nova ordem mundial. Mas o impacto desses novos Estados fez com que, em um futuro próximo, fosse destruída completamente a ordem mundial emanada da derrota de Napoleão e do Congresso de Viena. Por enquanto, a pentarquia procurou adaptar-se às novas condições decorrentes da emergência da Alemanha imperial, forte e unificada. A pentarquia baseava-se na primazia de Grã-Bretanha, Rússia czarista, Áustria-Hungria, França e Prússia, nas relações internacionais. Depois da Guerra da Crimeia (1853-1856), a Europa passou por um período de tranquilidade, esse período de paz foi quebrado pelas guerras de unificação da Alemanha e Itália. Os conservadores e liberais ingleses não acreditavam na ascensão germânica, ao ponto de a temerem. Porém, no final do século XIX, começaram a surgir vozes de advertência sobre o “perigo germânico”. A emergência da Alemanha imperial A Alemanha, antes da sua unificação, em 1871, funcionava como um território de fronteira, uma zona que servia de intermédio por um lado entre os interesses franceses e o império austro-húngaro, e por outro lado a interesses entre o império czarista e da Áustria-Hungria. A entrada de Bismarck no poder mudou o equilíbrio de poder entre nacionalistas e reacionários na corte de Berlim. Com Guilherme I no trono, e Bismarck chanceler, iniciou-se uma política de fortalecimento da Prússia e de unificação da Alemanha. Apresentação organizada e editada pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila Bismarck, em seu projeto, exclui a Áustria de qualquer participação no processo político alemão. Através de extremo nacionalismo e do uso do poder militar da Prússia, Bismarck construirá a nova potência alemã. Conquistas de Bismarck: 1. Aliado a Áustria, vence o Reino da Dinamarca na Guerra dos Ducados (1864-1865). 2. Venceu a guerra austro-prussiana, contra sua ex-aliada Áustria. 3. Venceu o Estado Maior prussiano, e cria o império alemão em 1871. O Reich alemão de Bismarck A estrutura política de Bismarck será a própria origem da crise imperial alemã. Bismarck, através da Constituição, transformou a Alemanha num império federal regido por duas “casas”. Foi criado o Bundesrat, um senado imperial, que tinha 25 estados que o representavam e, em 1871, os líderes desses estados aceitaram a criação do Reich. O peso demográfico era elemento que contava nas decisões parlamentares, sendo assim, a Prússia e a Baviera, os mais populosos, concentravam a maioria dos votos da casa. Berlim foi escolhida como a casa do Reich. O poder supremo de nomear, demitir, comandar as forças armadas ficavam nas mãos do Kaiser, o imperador. Os cargos nas universidade, forças armadas e academias e a alta burocracia do Reich foram reservados para representantes dos junkers, esses impuseram ao conjunto do Estado alemão seus próprios princípios de hierarquia, disciplina e lealdade. A outra “casa”, uma câmara de baixo, era o Reichstag, eleita por sufrágio universal, o que para a época era um grande avanço democrático . O Reichstag não podia nomear ou demitir o chanceler. Como o poder ficava centrado nas mãos de poucos, alguns historiadores denominaram tal sistema de “parlamentarismo de fechada”. A federação alemã era na verdade uma liga de príncipes, regida de Berlim de forma bastante autoritária. Essa estrutura política começou a gerar conflitos entre os democráticos e o autoritarismo imperial. Os membros do Reichstag queriam o direito político (votar os orçamentos imperiais). Membros da alta burocracia estatal criticavam os deputados liberais e sociais-democratas, como “traidores”, por criticarem orçamentos militares imperialista e agressivos. Apresentação organizada e editada pelos profs. Rodrigo Teixeira e Rafael Ávila Em 1890, Bismarck é demitido pelo imperador Guilherme II, sendo o próprio Bismarck vítima do sistema criado por ele. Sob o domínio do chanceler Bismarck, grupos como o Estado-Maior do Exército, burgueses enobrecidos, corpo diplomáticos, professores, não conseguiram dominar o monarca. Mas com Guilherme II no trono e Bismarck demitido, esses grupos conseguiram se autonomizar e dominar o monarca. O Projeto Prussiano de Império Alemão O segundo Reich foi destruído, entre 1918 e 1919, em virtude da derrota militar. “Mas a própria guerra só aconteceria em razão da baixa institucionalidade e da ausência de controles efetivos sob corpos sociais e burocráticos – como a diplomacia e o EstadoMaior – por parte do parlamento” (pag.233). Referência Bibliográfica: SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. O Projeto Prussiano de Império Alemão. In: SILVA, Francisco Carlos Teixeira da; CABRAL, Ricardo Pereira; MUNHOZ, Sidnei J. (coordenadores). Impérios na História. Ed. Elsevier. Rio de Janeiro, 2009. O Projeto Prussiano de Império Alemão