vulnerabilidade ao hiv/aids: representações sociais de

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM E SAÚDE
VULNERABILIDADE AO HIV/AIDS: REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS DE IDOSOS RESIDENTES EM ZONA RURAL
MÁRCIO PEREIRA LÔBO
JEQUIÉ/BA
2011
2
MÁRCIO PEREIRA LÔBO
VULNERABILIDADE AO HIV/aids: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
DE IDOSOS RESIDENTES EM ZONA RURAL
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, área de concentração em
Saúde Pública, para apreciação e julgamento da Banca
Examinadora.
LINHA DE PESQUISA: Educação em Saúde e Sociedade.
ORIENTADORA: Profª. Drª Maria Adelaide S. Paredes
Moreira.
JEQUIÉ/BA
2011
3
Autorizo a reprodução total ou parcial deste trabalho por qualquer meio convencional
ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
L728 Lôbo, Márcio Pereira
Vulnerabilidade ao HIV/aids: representações sociais de
idosos
residentes em zona rural / Márcio Pereira Lôbo. – Jequié, 2011.
95 f.: il..; 30 cm.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia / Mestrado em Enfermagem e Saúde, 2011. Orientadora: Profª.
Drª. Maria Adelaide Silva Paredes Moreira
1.HIV/AIDS 2.Idoso 3.Representações Sociais 4.Contágio 5. Zona
rural. I. Moreira, Maria Adelaide Silva Paredes. II. Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, Programa de Pós Graduação em
Enfermagem e Saúde. III. Título.
CDD – 616.9792
4
5
Dedico aos meus pais, Laura e Ildefonso, seres impares
para a minha permanência sobre a terra. Sem vocês o
mundo não tem sentido e sem sentido não se produz.
Aos pesquisadores que buscam enveredar seus estudos sobre
as formas de prevenir a disseminação do HIV,
principalmente aqueles que têm esse olhar voltado para os
idosos.
6
AGRADECIMENTOS
A DEUS, verbo soberano, início, meio e fim, porta-voz do infinito. Ser que sempre me deu força para trilhar
os caminhos tortuosos da vida, ensinando-me que só quem perdoou na vida sabe o que é amar, porque
aprendeu que o amor só é amor se já provou alguma dor e, assim viu grandeza na miséria, descobriu que é no
limite que o amor pode nascer. Obrigado, Senhor, por sempre mostrar-me a luz no fim do túnel e jamais me
abandonar
Ao Pe. Fábio de Melo, que, no seu jeito especial de ser guia espiritual, me confortou nos momentos de
dificuldade e de tristeza vivenciados durante a confecção desse estudo e, também me alegrou por meio das
suas mensagens inspiradas por Deus
Aos meus pais, Ildefonso e Laura, que sempre estiveram na plateia da vida torcendo por minha vitória
À Prof.ª Maria Adelaide S. P. Moreira, minha orientadora, fonte de sabedoria, humildade, paciência,
carinho e competência, que possibilitou um repensar em pesquisa, estando sempre presente em todos os
momentos que precisei durante a realização das atividades do Mestrado
Aos meus irmãos Rosy, Eliene, Everaldo e Marcos, pelo apoio e incentivo durante a minha vida profissional
Aos meus queridos sobrinhos Ramon, Gel, Dadal, Ágata, Henrique, Joãozinho, Laércio, Lú e Rebert,
sobretudo Ramon, pelo apoio e ajuda constante na confecção desta dissertação
Ao Prof. Maximiliano Sandoval (in memorian), por ter sido o precursor no meu trilhar no mundo científico
e, por ser o primeiro a escrever junto comigo as primeiras linhas de um trabalho de pesquisa
À Prof.ª Vanda Palmarella, que sempre esteve presente nos momentos necessários para realização desse
estudo, contribuindo desde a formação do projeto.
À Prof.ª Ivône Nery – minha querida fadinha Girassol –, pessoa a qual não sei como agradecer, pois
enquanto ser humano e ser profissional deu-me a oportunidade de aprofundar meus conhecimentos acerca da
pesquisa, aceitando-me como orientando no Programa de Bolsa de Iniciação Científica PIBIC/CNPq. Além
disso, professora, agradeço-te por sempre mostrar a importância de ser autêntico e ético enquanto ser
humano
A todos os meus amigos, em especial Bruno, Léo Peixoto, Raniere, Josuel Leite, Fillipe Leite, Sérgio
Cascais, Lusivan e Tiele, pela compreensão da minha ausência, pelas viagens à cidade de Itajuru para coleta
de dados, pelas noites divididas na construção deste estudo, e pela disponibilidade de seu tempo para trocar
ideias sobre a pesquisa, e pelo auxílio na digitação e transcrição das entrevistas.
À Prof.ª Marizete Argolo, minha eterna professora, exemplo de mestre na formação educacional de um ser
humano. Muito obrigado por suas contribuições valorosas na troca de informações sobre a temática do
estudo e no empréstimo de boa parte da bibliografia utilizada.
7
A Juliana Oliveira (ou simplesmente “grandona”): amiga ,sua forma simples de saber ouvir me encheu de paz
e me fez refletir sobre a vida, principalmente no “focar” dos objetivos. Obrigado por sempre servir de
“trampolim” nos momentos em que as dificuldades apareceram e, até mesmo, pelas acolhidas nas madrugadas
para os desabafos
A Marcus Pita, companheiro, sincero, honesto e, sobretudo, um ser humano capaz de mostrar na
simplicidade da vida que a coisa mais importante no mundo é saber que podemos contar incondicionalmente
com pessoas certas em momentos certos. Obrigado pela confecção do abstract dessa pesquisa e por toda força
dada em momentos críticos da minha vida que culminou com a confecção desse material. Pita, os janeiros a
partir desse ano terão novo sentido
A Andréa Micheli, pela amizade e apoio em todos os momentos necessários
A todos os colegas da turma do mestrado, em especial, Liane, James, Nádja, Sumaya, Antônio Carlos e
Roséli, pela sinceridade, competência e incentivo para o nosso caminhar enquanto pesquisador
A toda equipe da Unidade de Saúde da Família Waldomiro Borges (USF de Itajuru), em especial aos
Agentes Comunitários de Saúde que foram molas mestras no contato com os informantes desse estudo
Aos idosos que participaram dessa pesquisa: sem vocês seria impossível a realização desse estudo. Obrigado
pela cordialidade e confiança em falar de um tema tão conflitante
À Professora Adriana Nery (azul sempre azul), pela amizade e apoio em todos os momentos do estudo
À Rosana Delmiro, amiga sincera, que compartilhou seu acervo bibliográfico que possibilitou melhor
construção desse trabalho
Aos professores Luiz Fernando Rangel Tura , Antônia Oliveira Silva, e Marcos Henrique Fernandes pela
participação e valiosas contribuições na qualificação da pesquisa, assim como por aceitar participar
juntamente com a professora enquanto banca examinadora e de defesa – momento sublime desse trabalho
A Jefferson Paixão, pelo apoio e amizade estabelecido nessa caminhada tão importante da minha vida
Aos professores do Programa de Pós-graduação em Enfermagem em Saúde (PPGES) em especial a Luzia,
Cezar, Adriana, Alba, Zenilda, Edite, Rita, Fábio, Eduardo e Cristina, pelo compromisso com o Programa e
competência enquanto professores do curso
À Nilda e Paulinha, pela torcida e pelo compartilhamento de energias positivas, sempre torcendo pelo êxito
em minha trajetória acadêmica e profissional. Obrigado pelas noites passadas juntos na confecção do projeto
de pesquisa e na escrita das primeiras linhas desse estudo juntamente com nosso “filho em comum”, o
pequeno Lupy
A todos os funcionários do PPGES, em especial Neilma, pelo apoio contínuo durante a realização das
atividades do mestrado, sempre dispostos a manter atendimento com qualidade de excelência
À Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, por ter proporcionado a realização do curso de mestrado
À Faculdade de Tecnologia e Ciências, unidade Jequié, na pessoa do coordenador do Curso de Enfermagem
Ronney Cabral, pelo apoio dispensado durante todo percurso do mestrado, sempre se mostrando flexível e
incentivando a conclusão dessa etapa
8
HI
A Paulo Henrique, companheiro incondicional que sempre torceu por meu sucesso profissional, ser
responsável principal por meu ingresso no Mestrado. Obrigado pela “prensa” dada desde o momento V/
da
inscrição no processo seletivo, sempre reforçando minhas potencialidades e mostrando que tudo é possível
quando se tem obstinação em se conseguir. Além disso, obrigado pela força dada durante a confecção AI
do
material, compartilhando momentos preciosos do seu tempo
DS
Aos Discentes do Curso de Enfermagem da FTC, em especial aos acadêmicos da disciplina Estágio
Supervisionado I (Cláudia, Fernanda Silva, Fernanda Farias, Mario Augusto, Carina, Maria Lucia,
,
Monique e Itana), pela força, torcida e incentivo constante
eld
A toda equipe de enfermagem da emergência do Hospital Prado Valadares (HPV) em especial Liane,
Rafaela, Fábrica, Diego, Vanilde, Ivonete Maia, Isabela Tourinho, Ramon Oliveira, Ramon Evangelista,
erl
Emanuela, Janine, Tiago, Pablo e Bráulio, pelo apoio e compreensão durante essa jornada, sempre dispostos
a ajudar no que fosse preciso
y,
À Rafaela, ex-aluna, enfermeira e amiga. Obrigado por sempre estar disponível nos momentos que mais
soc
precisei de você. Será sempre muito especial e constantemente lembrada em meu coração
ial
A Bráulio, ex-aluno, enfermeiro e hoje coordenador da emergência do HPV. Obrigado por sempre mostrar-se
sensível às minhas necessidades, e colaborar indiretamente para que pudesse dar conta das atividades do
rep
mestrado
A todos que, direta ou indiretamente, auxiliaram-me na construção deste estudo, assim como aqueles que me
res
deram força para continuar sendo a pessoa que sou, e pelas diversas discussões travadas sobre a
concretização deste estudo
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9
Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada
do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das
pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve,
palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que
contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que
sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa
demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto
durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que
ensina.
Cora Coralina
10
LÔBO, Márcio Pereira. Vulnerabilidade ao HIV/aids: representações sociais de
idosos residentes em zona rural. Dissertação (Mestrado). Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia, 2011.
RESUMO
A aids desde o seu surgimento é responsável por diferentes olhares em contextos
sócio históricos distintos, sofrendo varias interferências sociais e do conhecimento
médico quanto a sua forma de transmissão. Nos últimos anos o número de idosos
acometidos por essa doença está aumentando, revelando grande vulnerabilidade
destes a contaminação pelo HIV. Trata-se de uma pesquisa fundamentada na Teoria
das Representações Sociais que tem como objetivos: conhecer as representações
sociais sobre HIV/aids construídas por idosos residentes em zona rural frente a
vulnerabilidade e identificar as formas de transmissão do HIV. A coleta de dados foi
realizada na Unidade de Saúde da Família Waldomiro Borges, situada em Itajuru,
distrito de Jequié–BA, tendo 30 idosos como informantes que participaram de uma
entrevista semi-estruturada. Os dados foram processados pelo software Alceste 4.8,
sendo realizada uma análise dimensional que apontou quatro classes semânticas:
práticas sexuais, formas de contágios, descrições sobre contágio e causas. Os
resultados indicam que as práticas sexuais com penetração sem camisinha é
representada como principal forma de contágio do HIV sendo a velhice representada
como atenuante na transmissão do vírus. A transmissão da aids está representada
por meio dos objetos pérfuro-cortantes e, pelo contato de sangue, esperma e
secreção vaginal através do sexo, do beijo. Conclui que os idosos possuem
conhecimentos acerca da transmissão da aids, porém ainda ancoram as
representações da doença e da sua forma de transmissão em crenças que podem
colocá-los em situação de vulnerabilidade à aquisição do vírus. Espera-se que este
estudo subsidie ações educativas no campo do ensino, pesquisa e extensão
voltadas para esse grupo de pertença em suas necessidades de saúde, assim
como, venha contribuir na elaboração de políticas públicas voltadas para a
prevenção da aids na população idosa.
Palavras Chaves: HIV/aids, idoso, representação social, contágio, zona rural
11
LÔBO, Márcio Pereira. Vulnerability to HIV / aids: social representations of elders
living in rural areas. Dissertação (Mestrado). Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia, 2011
ABSTRACT
Aids since its emergence is responsible for different looks in different socio historical,
social and suffering several interference of medical knowledge about its
transmission. In recent years the number of elderly patients with this disease is
increasing, revealing the extreme vulnerability of HIV infection. This is a survey
based on the Theory of Representations which has as its objectives: to understand
the social representations of HIV / aids built by seniors living in rural areas face the
vulnerability and identify ways of HIV transmission. Data collection was performed at
the Health Unit Family Waldomiro Borges, located in Itajuru district of Jequié-BA, and
30 elderly as informants who participated in a semi-structured interview. The data
were processed using Alceste 4.8 software, and performed a dimensional analysis
showed that four semantic classes: sexual practices, forms of contagion, contagion
and descriptions of causes. The results indicate that the sexual practices with
penetration without a condom is represented as the main way of spreading HIV and
the elderly represented as mitigating the transmission of the virus. The transmission
of aids is represented through needlesticks, sharp injuries, and by contact with blood,
semen and vaginal secretions through sex, kissing. It concludes that the elderly have
knowledge about aids transmission, but also anchor the representations of the
disease and its mode of transmission of beliefs that may put them in a situation of
vulnerability to virus acquisition. It is hoped that this study subsidize educational
activities in teaching, research and extension aimed at this group belong to their
health needs, as well as will contribute to the elaboration of public policies for the
prevention of aids in the elderly.
Keywords: HIV / aids, elderly, social representation, contagion, rural.
12
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Dendograma da Classificação Descendente Hierárquica……………..
52
Figura 2: Imagens da aids segundo as palavras mais significativas associadas
à classe1..............................................................................................................
55
Figura 3. Imagens do HIV/aids segundo as palavras mais significativas
associadas à classe 2. ........................................................................................
59
Figura 4: Imagens da aids segundo as palavras mais significativas associadas
à classe 3............................................................................................................
64
Figura 5: Imagens da aids segundo as palavras mais significativas associadas
à classe 4............................................................................................................ 70
13
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Perfil sócio demográfico dos idosos que vivem no domicílio segundo
faixa etária, estado civil, escolaridade, renda e religião relacionando ao sexo.
Jequié – BA, 2011 (n=30) ……………………………………….....................……… 50
14
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Distribuição das palavras mais significativas segundo frequência e
quiquadrado na formação da classe/categoria1. .................................................... 53
Quadro 2: Distribuição das palavras mais significativas segundo frequência e
quiquadrado na formação da classe/categoria2…………........................................ 58
Quadro 3: Distribuição das palavras mais significativas segundo frequência e
quiquadrado na formação da classe/categoria3………………................................. 63
Quadro 4: Distribuição das palavras mais significativas segundo frequência e
quiquadrado na formação da classe/categoria4…………........................................ 67
15
LISTA DE SIGLAS
aids – Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida
ALCESTE – Analyse Lexicale par Contexte d'un Ensemble de Segment de Texte
CEP – Conselho de Ética em Pesquisa
CHD – Classificação Hierárquica Descendente
CNS – Conselho Nacional de Saúde
DST – Doença Sexualmente Transmissível
EUA – Estados Unidos da América
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana
IBGE – Instituto Brasileiro de Geometria e Estatística
INSS – Instituto Nacional da Previdência Social
MMSE – Mini Mental Examination
MS – Ministério da Saúde
OMS – Organização Mundial de Saúde
PPGES – Programa de Pós-graduação em Enfermagem em Saúde
RS – Representações Sociais
SINAN – Sistema de Informação de Notificação de Agravos
SIV – Simius Imunodeficiense Vírus
STLV-III – T-lymphotropic vírus type III
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TRS – Teoria das Representações Sociais
UCE – Unidades de Contexto Elementares
UCIs – Unidades de Contexto Iniciais
UDI – Usuário de drogas injetáveis
UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
USF – Unidade de Saúde da Família
16
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .................................................................................................... 18
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 20
1 OBJETO DE ESTUDO........................................................................................... 21
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 25
2 BASES TEÓRICAS ............................................................................................... 26
2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE ENVELHECIMENTO ......................................... 26
2.2 AIDS E IDOSOS ............................................................................................. 28
2.3 VULNERABILIDADE AO HIV/AIDS ................................................................ 31
2.4 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E AIDS EM IDOSO ....................................... 34
CAPÍTULO 3 ............................................................................................................. 42
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS .......................................................................... 43
3.1 TIPO DE ESTUDO .......................................................................................... 43
3.2 CAMPO DO ESTUDO ..................................................................................... 43
3.3 SUJEITOS DA PESQUISA ............................................................................. 44
3.3.1 CONSTITUIÇÃO DA AMOSTRA ................................................................. 45
3.3.2 ASPECTOS ÉTICOS .................................................................................. 45
3.4 INSTRUMENTO E PROCEDIMENTO PARA COLETA DE DADOS .............. 46
3.5 TÉCNICA DE ANÁLISE DOS DADOS ............................................................ 47
CAPÍTULO 4 ............................................................................................................. 49
4 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO HIV/AIDS E FORMAS DE CONTÁGIO ........ 50
4.1 APRESENTANDO OS SUJEITOS .................................................................. 50
4.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ...................................................................... 51
4.2.1 DIMENSÕES MAIS SIGNIFICATIVAS DAS REPRESENTAÇÕES SOBRE
HIV/AIDS ............................................................................................................... 52
4.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 71
17
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 76
APÊNDICES ............................................................................................................. 83
APENDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .......... 84
APENDICE B: INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS. .................................. 87
ANEXOS ................................................................................................................... 89
ANEXO A: MINI MENTAL EXAMINATION (MMSE) ............................................. 90
ANEXO B: PARECER CONSUBSTANCIADO EMITIDO PELO CEP ................... 92
ANEXO C: OFICIO DE APROVAÇÃO DA PESQUISA PELO CEP ...................... 93
ANEXO D: OFICIO SOLICITANDO LIBERAÇÃO DE CAMPO DE PESQUISA .... 94
ANEXO E: OFICIO APROVANDO A LIBERAÇÃO DE CAMPO DE PESQUISA .. 95
18
APRESENTAÇÃO
“Se queres prever o futuro, estuda o passado.”
Confucio
19
Este estudo encontra-se estruturado em quatro capítulos.
O primeiro capítulo trata da construção do objeto de estudo, apresentado a
temática investigada, o problema e a justificativa, com ênfase na questão de estudo
e nos objetivos.
No segundo capítulo se descreve a base teórica utilizada, centrada em
alguns aspectos sobre a velhice e o envelhecimento; aids em idosos; enfoque na
vulnerabilidade ao HIV/aids e a Teoria das Representações Sociais.
Com relação ao terceiro capítulo, o mesmo aborda o enfoque metodológico
apontando o tipo de estudo, canário da pesquisa; os sujeitos participantes do
estudo; tipo de amostra; técnica de coleta de dados; questões éticas e procedimento
de coleta de dados e a análise dos dados.
O quarto capítulo aborda os resultados e as considerações finais. Nos
resultados apresentamos o perfil dos idosos do estudo; as representações sociais
sobre HIV/aids e formas de contágio e nas considerações finais apontamos algumas
considerações centradas nos objetivos do estudo.
20
HIV
/AI
CAPÍTULO 1
DS,
eld
erly
,
Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida.
soci
Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um.
al
Fernando Sabino
repr
ese
ntat
ions
,
21
1 OBJETO DE ESTUDO
A presente pesquisa, que toma como objeto de estudo a vulnerabilidade ao
HIV/aids em pessoas idosas residente em zona rural, surgiu como uma proposta de
aprofundamento de estudos relacionados à infecção pelo Vírus da Imunodeficiência
Humana (HIV) e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids), por ter sido
observado em nossa prática profissional que a infecção pelo HIV estava presente
em todas as faixas etárias. Este aspecto chama atenção para a infecção de
pacientes idosos, que justificavam sua condição de soropositividade a vários fatores,
dentre eles a falta de informação sobre como se prevenir do vírus da aids, aliado a
ideia imbricada no imaginário destes, os quais concebiam que a aids é a doença do
outro e a não uma condição patológica que vai acontecer consigo (LÔBO, 2004).
Estudo realizado por Lôbo (2004) observou o quão difícil era o processo de
descoberta da soropositividade para o HIV, assim como continuar vivendo com uma
doença estigmatizante. A aids ainda é associada à morte, permanecendo
representações cristalizadas no imaginário social semelhantes às apontadas por
Sontag (2007), em seus estudos realizados na década de 90, visto que, até os dias
atuais, não existe nenhum recurso terapêutico que possibilite a cura dessa patologia.
Nessa perspectiva, é importante destacarmos que, apesar de ser estratégia
do Ministério da Saúde (MS) trabalhar o controle das DST/aids em nosso cotidiano,
não vemos atividades voltadas para o idoso, e somente aquelas ligadas a grupos
específicos de jovens, homossexuais, adultos em fase reprodutiva e usuários de
drogas, o que pode comprometer a formação de representações de vulnerabilidade
para o HIV entre os idosos, levando-os muitas vezes a acreditar que a aids não é
uma doença relacionada ao idoso, fato que se torna mais agravante quando
estabelecemos essa investigação junto aos idosos que vivem em zona rural, já que
os mesmos têm maiores dificuldade de compreensão das informações veiculadas
pela mídia.
Salienta-se a noção de vulnerabilidade entendida como o movimento que
considera a chance de exposição dos indivíduos ao adoecimento resultante de um
conjunto de fatores, não apenas individuais, mas também coletivos e contextuais
que
estão
implicados
com
a
maior
suscetibilidade
ao
adoecimento
e,
22
concomitantemente, com a maior ou menor disponibilidade de recursos de proteção
(MEYER et al, 2006; SALDANHA, FELIX, ARAÚJO, 2008).
Entretanto, apesar da aids não ter cura, existem diversas formas de prevenir
e controlar a contaminação do ser humano pelo HIV. Assim, guiado pela concepção
de que é possível prevenir as causas de uma doença por meio de diversas ações,
especialmente as ações educativas planejadas a partir das necessidades e/ou
conhecimentos prévios sobre uma doença ou agravo (PAIM, 2003; 2008), é que
buscamos estudar as Representações Sociais (RS) da vulnerabilidade ao HIV/aids
de pessoas idosas que residem na zona rural, uma vez que os idosos estão cada
vez mais vulneráveis a adquirirem o HIV conforme aponta os dados do Boletim
Epidemiológico aids/DST de 2010.
Logo, o número significativo de idosos contaminados ou vivendo com
HIV/aids pode estar relacionado ao aumento da expectativa de vida das pessoas, o
que representará uma população formada por maioria idosos, necessitando de
ações de saúde (preventivas, curativas e de reabilitação) voltadas para as
necessidades dos mesmos.
Segundo Delmiro (2011), no que se refere aos aspectos relacionados à vida
sexual da pessoa idosa, os mesmos estão experimentando o advento de drogas
que oferecem melhor qualidade no ato sexual, o que representa importante marco,
responsável por significativas mudanças de comportamento na esfera da
sexualidade, que veio proporcionar, por um lado, maior liberdade sexual e, por outro,
maior exposição ao risco de contágio de diferentes doenças, inclusive a aids, pela
prática do sexo desprotegido.
Agrava-se ainda a pouca ênfase que é dada às informações sobre as
práticas preventivas para essa população, sobretudo para os idosos residentes em
zona rural, já que estes vivenciam um contexto sociocultural diferenciado daquelas
pessoas que habitam as zonas urbanas, necessitando de atividades de educação
em
saúde
mais
intensificadas,
centradas
na
realidade
social,
isto
é,
contextualizadas.
Neste sentido, ainda é possível perceber que permanece por parte das
populações a existência de dificuldades de acesso à informação sobre as formas de
prevenção das doenças, tornando esses idosos mais vulneráveis ao contágio pelo
HIV. Por um lado, essa inferência sustenta-se pela dificuldade de acesso desses
idosos aos serviços de saúde e às campanhas de promoção e prevenção em saúde,
23
quando podem adquirir informações de como se prevenir das doenças; por outro
lado, é visível a dificuldade dessa população de interpretar as informações
veiculadas pelos meios de comunicação, devido à linguagem utilizada na confecção
dos materiais educativos que, em sua maioria, é produzido de forma linear, dirigida a
todos, independente de grau de escolaridade, cultura e contexto social, não
adotando uma linguagem coloquial própria da região, caracterizando mais uma
barreira na aquisição das informações de como evitar o contágio pelo HIV.
Ressalta-se ainda que, segundo Brasil (2010), o número de pessoas idosas
infectadas pelo HIV está aumentando em nosso país e, entre eles, conforme Delmiro
(2011), encontram-se enraizados diversos conceitos culturais e sociais acerca da
sexualidade e da transmissão das doenças.
A realização desse estudo justifica-se pela sua importância na definição de
políticas públicas de prevenção da aids para pessoa idosa a partir de realidades
contextualizadas socialmente em que se considera a subjetividade de uma doença
que, apesar de ter mais de três décadas, continua desafiadora para ciência,
governantes e sociedade. Conhecer o que pensam pessoas idosas residentes em
zona rural sobre o HIV/aids permite se conhecer como essa população utiliza as
informações que são recebidas para prevenção frente às condições de
vulnerabilidade em contextos singulares, configurando-se uma temática relevante de
estudo.
Além disso, em pesquisas realizadas nas bases de dados de periódicos e
trabalhos científicos e em observações cotidianas no meio acadêmico e sócio
regional, evidenciamos uma lacuna de conhecimento acerca desta temática
(vulnerabilidade ao HIV entre idosos residentes na zona rural), e acreditamos que
conhecer as Representações Sociais de idosos da zona rural sobre o HIV/aids e
suas formas de contágio possam dar “pistas” importantes para se desenvolver
práticas educativas direcionadas a esta população.
Neste sentido, a TRS configura-se um aporte teórico importante para melhor
caracterizar o nível de conhecimento ou informações dos idosos residentes em zona
rural, como se posicionam frente à aids, quais os sentidos atribuídos a esta, práticas
utilizadas para se protegerem da infecção pelo HIV/aids, assim como a sua condição
de vulnerabilidade à aquisição do HIV, definindo assim as dimensões das
representações sociais, configurando-se como objeto de estudo as representações
sociais de idosos da zona rural sobre a aids e suas formas de transmissão.
24
Neste contexto, este estudo tem o seguinte questionamento: quais as
representações sociais de idosos residentes em zona rural sobre o HIV/aids,
vulnerabilidade e formas de transmissão do HIV?
Para responder ao referido questionamento, estabelecemos para este
estudo os objetivos de conhecer as representações sociais sobre HIV/aids
construídas por idosos residentes em zona rural frente a vulnerabilidade e identificar
as formas de transmissão do HIV.
Dessa forma, acreditamos ser importante conhecer o que pensam os idosos
sobre a aids e suas formas de contágio para planejamento e desenvolvimento de
ações voltadas para o promoção da saúde e prevenção dessa doença nessa
população, uma vez que as RS têm como uma das funções guiar as
condutas/comportamentos do sujeitos (MOSCOVICI, 1978), justificando assim a
adoção da TRS, para entender a problemática da vulnerabilidade dos idosos frente
ao HIV/aids, uma vez que permite evidenciar a maneira pela qual os sujeitos
compreendem as coisas que o cercam, decodificando e criando teorias do senso
comum a partir das experiências vivenciadas no cotidiano para suas tomadas de
posição frente aos fenômenos conflituosos (MOSCOVICI, 2003).
25
CAPÍTULO 2
Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se
chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o
dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.
Dalai Lama
26
2 BASES TEÓRICAS
2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE ENVELHECIMENTO
O processo natural da vida de um ser humano inicia com o seu nascimento e
termina com a sua morte, e, no transcorrer desse período, os indivíduos vivenciam o
processo de crescimento e desenvolvimento, que, dia após dia, os direciona a seguir
o curso da vida representado pela infância, adolescência, fase adulta e velhice.
Podemos dizer, então, que o indivíduo encontra-se em processo de
envelhecimento constante, já que, a cada momento que passa, modificações
ocorrem no seu corpo, direcionando-o a vivenciar as modificações do corpo
inerentes a cada período do ciclo evolutivo da vida, que tem por última instância a
velhice.
O envelhecimento, segundo Veras (1995), é considerado como um termo
impreciso que muito flutua em termos de complexidades fisiológicas, psicológico,
social e cultural. Assim, a sua compreensão é diferente, a depender do ambiente em
que o individuo está inserido.
Outro fator que deve ser entendido a respeito do processo de
envelhecimento se refere às formas em que se dá o envelhecimento –
envelhecimento normal ou envelhecimento patológico.
Nesse sentido, Groisman (2002), em estudos sobre o envelhecimento
normal e patológico retrata as dificuldades da gerontologia delimitar seu campo e
definir seu objeto, já que estas dificuldades parecem derivar da impossibilidade de
delimitar as fronteiras entre o envelhecimento normal, com suas limitações
fisiológicas gradativas, e o envelhecimento patológico, caracterizado pelas
patologias que venham a se instalar na velhice.
Nesse ensejo, Brasil (2000) afirma que doenças que antes eram tidas como
um processo normal do envelhecimento (esperadas), hoje é considerado como
decorrente de um processo patológico.
27
Entendendo que as ações de prevenção devem ser iniciadas na infância, o
cenário vivenciado pelos idosos no surgimento da aids tornou-os vulneráveis a
aquisição da doença, visto que o aumento na expectativa de vida, associado ao
surgimento de diversas drogas que prolongam a capacidade do idoso manter uma
vida sexual ativa por mais tempo, os colocaram em situação de risco frente a
possibilidade de adquirir doenças vinculadas a transmissão do HIV por via sexual
(DELMIRO, 2011).
As ações de prevenção falharam durante o processo de envelhecimento da
maioria das pessoas que vivenciaram a descoberta da aids nos anos 1980 e até
mesmo com os idosos de hoje, que eram considerados adultos e jovens naquela
época, já que estamos a mais ou menos 30 anos da descoberta da doença. Essa
situação se deu porque a maior parte dessas pessoas em todo seu processo de vida
e envelhecimento não foi orientada corretamente quanto à relação, sexualidade,
doença e risco de morte, onde deveria relacionar o sexo desprotegido (sem
utilização de preservativo) com a aquisição de Doenças Sexualmente Transmissíveis
(DST) e aids, estabelecendo durante essa trajetória a relação vida sexual ativa,
prazer e reprodução humana (SOUSA, 2008).
Diante dessa problemática, é importante salientar que a concepção
especifica de envelhecimento cronológico não consegue estabelecer ações de
prevenção da transmissão do HIV nesse grupo de pertença, visto que os seres
humanos têm formas particulares de envelhecer que acomete as suas atividades
funcionais, sendo denominado envelhecimento funcional. Este, segundo Rosa et al
(2010) é originado da incapacidade funcional, sendo esta conceituada como
qualquer restrição para desempenhar uma atividade considerada normal para a vida
humana. Essa diferenciação é provocada pelo estilo de vida que cada pessoa adota
em seu dia a dia.
Ainda sobre essa vertente Kalache, Veras e Ramos (1987) discorrem que o
envelhecer mantendo todas as funções não significa problema para o indivíduo.
Porém, quando as funções começam deteriorar é que os problemas começam a
surgir. Assim o conceito de capacidade funcional é particularmente útil no contexto
do envelhecimento, já que na velhice a manutenção de autonomia está intimamente
ligada à qualidade de vida.
28
2.2 AIDS E IDOSOS
Por volta do final da década de 1970 surgiu nos EUA, Haiti e África Central
uma doença infecto-contagiosa que causava uma imunodeficiência no organismo
humano, apresentando uma série de complicações patológicas. A mesma acometia
principalmente os homens que faziam sexo com homens e, se tinha o conhecimento
que a sua principal forma de contaminação eram as relações sexuais sodomitas, por
esse motivo passou a ser conhecida como o “câncer gay”, sendo mais tarde
descoberto que a mesma não acometia somente esse grupo populacional, e,
mediante ao quadro clínico instalado pela mesma nessas pessoas foi denominada
Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida (aids) (PRATT, 1986, SANTOS et
al, 2002; Lôbo, 2004; LEITE, LEITE, 2011).
Assim, a aids, no contexto mundial, aparece como uma doença infecciosa,
letal e discriminatória trazendo muitas incertezas quanto a sua origem e história
natural, levando diversos estudiosos a construir incerteza quanto a gêneses do
agente causal e sua forma de propagação na população mundial (SANTOS et al,
2002; LEITE, LEITE, 2011).
Inicialmente a aids acometeu apenas gays, posteriormente essa doença
sofre diversas mudanças no seu perfil, passando a ser diagnosticada nos usuários
de drogas injetáveis, nos bissexuais e heterossexuais, sendo estes últimos
responsáveis pelos maiores números de pessoas infectadas ultimamente (BRASIL,
2009b).
Nesse sentido, a aids, que nasce relacionada aos jovens gays do sexo
masculino e de classe alta, sofre transformações em seu curso histórico, passando a
estabelecer
o
processo
da
heterosexualização,
feminização,
juvenização,
interiorização e pauperização, ao passo que a disseminação do HIV alcança as
mulheres e homens com práticas heterossexuais, crianças e mais tarde as
evidências de contaminação crescente entre os idosos, assim como o aumento do
número de casos nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento (SANTOS et
al, 2002; CALDAS; GESSOLO, 2007).
É importante ressaltar que, analisando a série histórica da aids, percebemos
que está ocorrendo grandes mudanças no perfil das pessoas que estão acometidas
pela mesma. Nessa perspectiva, é possível observar que inicialmente o número de
29
homens que eram acometidos por essa doença era bem superior ao número de
mulheres, pois dados do Ministério da Saúde mostram que existiam 314.294 casos
de aids envolvendo indivíduos do sexo masculino, enquanto que em sujeitos do sexo
feminino existiam 159.793 casos. Ao longo dos anos, a razão entre os sexos vem
diminuindo de forma progressiva, percebendo-se um incremento das taxas de
incidência de aids na faixa etária de maiores de 50 anos (BRASIL, 2009a).
Brito, Castilho e Szwarcwald (2001) nos apontam que desde o ano 2000
está havendo uma tendência espaço-temporal da aids para a interiorização no
Brasil, visto que a patologia não mais se restringe aos centros urbanos e já atinge
59% dos 5.507 municípios.
Além disso, segundo Lavor (2009), as pessoas que estão vivendo com HIV
e aids passaram a ter uma maior expectativa de vida devido o advento dos antiretrovirais, o que desenha no atual perfil de pacientes com HIV/aids um aumento no
número de pessoas com mais de 50 anos de idades vivendo com o vírus e um
número significativo de jovens com faixa etária de mais ou menos 20 a 30 anos que
já nasceram com o HIV e continuam em plena forma física,o que nos leva a inferir
que a melhoria nas condições de vida ofertada pelos novos tratamentos para a aids
levará num futuro próximo a vivenciarmos aumento significativo de casos de aids na
terceira idade.
Nessa perspectiva, é notório que a heterossexualização e a feminização da
aids é uma realidade no nosso país, fato que nos leva a refletir cada vez mais
quanto às medidas que estão sendo adotadas para controlar a transmissão da
doença, sobretudo do vírus entre idosos, visto que, além dos comportamentos
pessoais, como resistência e/ou falta de informação quanto à utilização de
preservativos, os profissionais de saúde nem sempre questionam durante as
consultas sobre a vida sexual desses idosos, por acreditarem que os idosos são na
maioria monogâmicos, não têm vida sexual ativa e/ou têm um ritmo sexual diminuído
(DELMIRO, 2011; LAVOR, 2009).
Além disso, é um desafio diagnosticar idosos soropositivos, por se tratar
mais de um diagnóstico diferencial, por estes se configurarem como grupo expostos
a múltiplas patologias, visto que diversos sinais e sintomas dessas doenças que
acometem os idosos podem facilmente ser confundidos com alterações orgânicas de
outras doenças, o que pode facilitar subnotificações de casos, diagnósticos tardios,
e terapêuticas incorretas. Além disso, esse fator pode levar esses idosos a
30
disseminarem o vírus com maior facilidade, uma vez que estes continuam mantendo
relações sexuais desprotegidas, podendo contaminar seus pares (GOMES; SILVA,
2008).
As situações ora apresentadas poderão estar facilmente influenciando na
modificação do perfil dessa doença, levando os idosos a formarem um grupo
expressivo de indivíduos contaminados pelo HIV ou vivendo com aids nos últimos
anos.
O Nordeste apresenta ainda, segundo dados do IBGE (2011), características
de uma população jovem, isso se deu porque seus níveis de fecundidade eram
muito altos até 1980, mas a rápida queda a partir dessa década indicou a clara
tendência de envelhecimento de sua população. Assim, o grupo de crianças
menores de 5 anos da Região Nordeste em 1991 correspondia a 12,8% da
população. Em 2000 esse valor caiu para 10,6%, chegando a 8,0%, em 2010. Já a
proporção de idosos na população passou de 5,1%, em 1991, a 5,8%, em 2000, e
7,2%, em 2010.
Assim, é possivel afirmar que o Brasil e a Região Nordeste vêm modificando
seu perfil demográfico e epidemiológico nos últimos anos, fazendo com que o
mesmo assuma características de países envelhecidos. Essa situação dar-se-á
devido a uma série de fatores conjugados, entre os quais o melhor controle das
doenças transmissíveis, a contenção de afecções crônicas, o surgimento de novas
drogas, a melhora das condições sanitárias e a redução da fertilidade, o que
favorece o aumento da expectativa de vida das populações (DELMIRO, 2011;
KALACHE, 1987).
Além disso, Costa, Porto e Soares (2003) nos aponta que na maior parte do
mundo a quantidade de pessoas idosas que vivem em áreas urbanas aumentou
consideravelmente. De acordo com dados do Censo 2010, 84,4% dos idosos
brasileiros vivem em centros urbanos, no Nordeste apenas 26,9% dos idosos
encontram-se na zona rural, porém a Bahia apresenta índices maiores de população
residindo em zona ruaral (27,9%) quando comparado às taxas do Nordeste e do
Brasil (15,%) (BRASIL, 2010).
Esses dados nos apontam que na Bahia as ações de prevenção da aids por
meio da difusão das formas de transmissão do HIV devem ser ampliadas, visto que
muitos desses idosos que se encontram na zona rural também estão suscepitíveis a
adquirir o vírus.
31
Segundo dados do Boletim Epidemiológico de 2009, a forma de transmissão
predominante da aids é por via heterossexual, tanto no sexo feminino (90,4% dos
casos) como no masculino (29,7% dos casos). Entre os homens, a segunda principal
forma de transmissão é homossexual (20,7% dos casos), seguida de uso de drogas
injetáveis (19%). Nas mulheres, a segunda maior forma de transmissão se dá entre
usuários de drogas injetáveis, com 8,5% dos casos (BRASIL, 2009a).
Assim, diante desse contexto, é imprescindível entender que é necessário
traçar políticas de prevenção as DST/aids que contemplem os idosos, considerando
suas singularidades, garantindo assim os direitos destes, conforme estabelecido
pela Lei Orgânica da Saúde 8080/90, assim como pela Lei 8842/96, que dispõe a
Política Nacional do Idoso, e pela Lei 10.741/03, que dispõe o Estatuto do Idoso.
2.3 VULNERABILIDADE AO HIV/AIDS
A aids, desde o seu surgimento no início da década de 1980, é responsável
por diferentes olhares em contextos sociohistóricos distintos.
Segundo Jodelet
(1998), essa doença nasce associada com o processo discriminatório, sendo a
primeira cujas histórias sociais e médicas se desenvolvem ao mesmo tempo.
Para a referida autora, o advento dessa epidemia sofreu várias interferências
sociais e do conhecimento médico, assim como estigmas, principalmente por parte
do saber informal associado às informações da mídia, sendo representada até data
mais recente como a morte, em particular dos homens que fazem sexo com homens;
posteriormente tendo sua representação ancorada na noção de doença disseminada
pelos comportamentos desviantes das normas sociais, relacionadas ao prazer, ao
sexo e à utilização de drogas injetáveis (UDI), formando assim os “grupos de risco 1”
(homossexuais, prostitutas, usuários de drogas injetáveis), sendo estes conhecidos
como o locus da doença. (SALDANHA, FELIX, ARAÚJO; 2008)
1
O termo “grupo de risco” foi largamente difundido e utilizado no início da pandemia de HIV/aids para indicar
aqueles indivíduos que colocavam as outras pessoas em risco de infecção pelo HIV que, epidemiologicamente é
considerado incorreto, posto que esta expressão designa indivíduos ou grupos mais propensos a adquirir certas
patologias, não a transmiti-las. Depois se passou à utilização da nomenclatura “comportamento de risco” que
se mostrou igualmente ineficaz. Atualmente, o termo considerado como o mais correto é de “vulnerabilidade”
(LEITE, LEITE; 2011, p.1)
32
Segundo Souza (2001), a partir da análise do impacto determinado pela
epidemia de aids em nível mundial, emergiu a noção de vulnerabilidade, tendo a
estrutura conceitual para avaliação crítica da vulnerabilidade à infecção pelo HIV
desenvolvida por Mann.
Nesse sentido, a referida autora afirma que Ayres (1997, p.12)
em seus
estudos definem vulnerabilidade ao HIV/aids como “o esforço de produção e difusão
de conhecimento, debate e ação sobre os diferentes graus e naturezas da
suscetibilidade de indivíduos e coletividades à infecção, adoecimento ou morte pelo
HIV/aids”.
Três planos interdependentes para mensurar a vulnerabilidade foram
definidos por Ayres et al (2003) para analisar as diversas situações mundiais frente
ao HIV/aids: vulnerabilidade individual (cognitiva e comportamento pessoal),
vulnerabilidade
social
(contexto
social)
e
vulnerabilidade
programática
-
anteriormente designada como “Programa Nacional de Combate à aids”.
Tomando por base ainda as concepções de Ayres (1997), ao apontar que
para compreender o conceito de vulnerabilidade é necessário ultrapassar a
concepção tradicional centrada no comportamento para adoção de estratégias de
redução de risco exclusivamente individual como a melhor a ser entendida no âmbito
das diferentes etapas históricas da epidemia e das respostas da comunidade
científica.
Souza (2001) segue afirmando que, para Ayres (1996, p:13), a noção de
vulnerabilidade busca fornecer
elementos para avaliar objetivamente as diferentes chances que todo
e qualquer indivíduo tem de se contaminar, dado o conjunto formado
por certas características individuais e sociais de seu cotidiano,
julgadas relevantes para a sua maior exposição ao HIV ou sua menor
chance de proteção.
Estudos realizados por Leite (2011) e Delmiro (2011) apontam diversos
fatores associados ao aumento no número de idosos contaminados pelo HIV com
mudanças sociais, demográficas e culturais, sobretudo na sexualidade, sendo que
este último pode estar diretamente relacionado com as evoluções tecnológicas,
principalmente
no
campo
da
indústria
farmacêutica,
responsável
pela
33
disponibilização de diversas medicações que proporcionam a ereção masculina e os
hormônios que melhoram a lubrificação feminina, permitindo uma melhora na libido
das mulheres que, fisiologicamente, com o avanço da idade tende a diminuir,
levando os idosos a manterem uma vida sexual ativa por muito mais tempo,
contrariando o que muitas vezes é colocado no plano simbólico imaginário que as
práticas sexuais entre idosos não existem, caracterizando o idoso como assexuado.
Assim, é necessário compreender que, apesar desses conceitos construídos
socialmente em torno dos idosos, a velhice conserva a necessidade sexual, não
havendo idade para atividade sexual estagnar e nem os pensamentos sobre sexo ou
o desejo deixem de existir. Estudos mostram que 74% dos homens e 56% das
mulheres casadas mantêm vida sexual ativa após os 60 anos (BRASIL, 2007).
Em pesquisa desenvolvida pelo Programa Nacional de DST/aids, em 2003,
envolvendo o comportamento da população brasileira sexualmente ativa, foi
comprovado que 39,2% das pessoas com mais de 60 anos mantém relações
sexuais; destes, 91,8% têm parceiro fixo, 5,5% têm parceria eventual, e 2,7%,
parceria fixa e eventual. Na faixa etária maior que 50 anos, 17,3% dos (as)
entrevistados(as) relataram ter tido cerca de 6,3 relações sexuais por mês, nos
últimos 06 (seis) meses, aproximando, assim, da média de 9,2 da população de 40 a
49 anos (BRASIL, 2003a).
A não utilização do preservativo é outro fator que pode levar ao aumento do
número de indivíduos com HIV/aids, já que esta é a única maneira que se pode
evitar o contaminação por via sexual. Porém, contata-se que a sua utilização ainda
apresenta resistência, uma vez que muitas pessoas acreditam que o preservativo
tira o prazer, interfere na ereção ou até mesmo que a utilização deste é sinônimo de
infidelidade no relacionamento (DELMIRO, 2011).
Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, em 2008, sobre a utilização de
preservativos em indivíduos entre 50 e 64 anos ainda tem expressividade
preocupante, visto que a utilização do preservativo nas relações sexuais nos últimos
12 meses foram as seguintes: 16,4% na última relação sexual; 37,9% com parceiros
casuais; 10,5% em todas as relações sexuais com qualquer parceiro; 10,0% em
todas as relações sexuais com parceiros fixos e 32,0% em todas as relações
sexuais (BRASIL, 2008).
34
Além disso, uma série de fatores conjugados, como melhor controle das
doenças transmissíveis com afecções crônicas; surgimento de novas drogas;
melhora das condições sanitárias e a redução da fertilidade estão favorecendo o
aumento da expectativa de vida da população brasileira (BERQUO; LEITZ, 1988);
assim como as pessoas que vivem com HIV/aids, principalmente devido à utilização
dos antiretrovirais, fato que nos leva a entender que o aumento da expectativa de
vida, associado à vida sexual ativa dos idosos e aos comportamento de risco de
alguns idosos, pode aumentar o número de contaminados pelo HIV, já que estes se
apresentam em condição de vulnerabilidade a aquisição do vírus.
2.4 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E AIDS EM IDOSO
As Representações Sociais (RS) contribuem, segundo Jodelet (2001, p. 21),
para a construção e interpretação da realidade social, pois esta se configura como
“uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo
prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto
social”.
A mesma assinala que as RS por serem estruturas de conhecimentos
cognitivos, afetivos e avaliativos, oriundos da relação de reciprocidade entre o
indivíduo e a sociedade, orientam e organizam as condutas e as comunicações
sociais, facilitando o processo de informação social. Permitem, ainda, apreender
uma riqueza de elementos figurativos do tipo: cognitivos, ideológicos, informativos,
normativos, atitudes, crenças, imagens, opiniões, valores, dentre outros, estes
organizados sempre sob a aparência de um saber que diz algo sobre o estado da
realidade.
Desse
modo,
nesse
estudo
buscamos
compreender,
a
partir
do
conhecimento dos idosos da zona rural, dentro da sua realidade social, as
representações sociais sobre a aids e sua forma de contágio, com vistas a discutir o
conhecimento sobre esta doença e a vulnerabilidade destes em se contaminar com
o HIV.
35
A Teoria das Representações, por sua interseção entre o individual e o
coletivo, rompe com a dicotomia observada nas representações coletivas de
Durkheim, compreendendo assim o indivíduo como ativo nas construções e
reconstruções de representações, na medida em que se insere no universo da
comunicação social, constituindo grupos que se aproximam tendo em vista o objeto
e os interesses que mobilizam em cada cultura (TURA, 2005a).
A representação social “compreende uma modalidade de conhecimento
particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação
entre indivíduos” (MOSCOVICI, 1978, p. 26).
A proposição da Teoria das Representações Sociais por Moscovici
desdobra-se em três correntes teóricas de estudo ou eixos teóricos considerados
como complementares, não sendo elas incompatíveis entre si, uma vez que provêm
de uma mesma matriz, a saber: uma mais fiel à teoria original, conduzida por Denise
Jodelet; outra que procura articulá-la com uma perspectiva mais sociológica,
conduzida por Willam Doise; e uma que enfatiza a dimensão cognitivo-estrutural das
representações, conduzida por Jean-Claude Abric (SÁ, 1998).
Neste estudo, optou-se por utilizar as abordagens dimensional e processual,
com ênfase no eixo dos trabalhos de Jodelet, por considerarmos a aids um grave
problema de saúde pública, já explorado nessa vertente enquanto fenômeno
possível de análise, semelhante aos já desenvolvidos pela referida autora, como
doenças presentes no mundo contemporâneo, que impõe um olhar não apenas do
ponto de vista biológico, mas considerando a subjetividade do adoecimento no
processo saúde-doença e os diversos contextos em que estão inseridos os
indivíduos.
Nóbrega (2001) destaca que a caracterização das representações sociais
como um processo criativo, de elaboração simbólica e cognitiva, serve de orientação
para o comportamento das pessoas, dessa forma, contraria Durkheim em sua teoria
que não compactua com este aspecto acreditando no fenômeno da reprodução do
pensamento.
No tocante a utilização do aporte teórico das representações sociais
aplicada aos estudos da aids, em que, segundo Jodelet (1998), é relevante se
conhecer o processo de assimilação ou não assimilação das informações, por ser
importante essa apreensão informal sobre determinados objetos que ainda são
conflituosos, fazendo-se necessário considerar “os sistemas de noções, valores e
36
modelos de pensamentos e de conduta que os indivíduos aplicam para se apropriar
dos objetos de seu ambiente, particularmente aqueles que são novos como foi a
aids nos anos 80” ( p. 26).
Neste estudo, procura-se conhecer o que pensam os idosos sobre a
vulnerabilidade do HIV/aids articulado ao modo como percebem a sua realidade e
seus conhecimentos sobre essa patologia, principalmente em relação às interações
sociais que vivenciam, podendo exprimir uma maior ou menor vulnerabilidade à
infecção pelo HIV. Dessa forma, Silva (2002), enfatiza que a TRS tem um foco
importante nas comunicações e nos comportamentos, por serem importantes a
estes, na orientação a partir dos processos de interação social, transformando
simbolicamente os fenômenos representados.
Para
compreender
o
modo
de
elaboração
e
funcionamento
das
representações sociais tornando algo não familiar em familiar, Moscovici (2003)
estabelece que as RS ocorrem por meio de dois processos: objetivação e
ancoragem, sendo estes responsáveis pela
interpretação e atribuição de
significados ao fenômeno social.
Para Moscovici (2003, p. 72), o processo de objetivação é considerado como
“um complexo de imagens que reproduzem visivelmente um complexo de ideias”.
Para tanto, é nesse processo que “as palavras são acopladas às coisas, o abstrato é
tornado concreto, o conceito é transformado em uma imagem ou em um núcleo
figurativo” (NÓBREGA, 2001, p. 73).
O processo de objetivação ocorre, segundo Nóbrega (2001), mediante três
etapas: constituição seletiva ‒ compreende mecanismos utilizados pelo público
consumidor dos meios de comunicação de massa, para se apropriar do
conhecimento teórico-científico, enquanto conjunto sistemático de ideias feito a partir
da seleção de elementos da informação enquanto fatos próprios do senso comum,
na seleção que é feita em função de critérios culturais (diferença no acesso de
informação de acordo com cada grupo) e normativos (exercem a função de retenção
dos elementos de informação, preservando a coerência com o sistema de valores do
próprio grupo); esquematização estruturante ou núcleo figurativo, formado pelo
elemento duro e mais estável da representação e corresponde ao consenso de
todos sobre um determinado objeto. O núcleo estruturante tem duas funções, a
geradora e a organizadora, a partir das quais é atribuído sentido ao objeto e
determinação dos elos unificantes entre os elementos periféricos que se entrelaçam
37
na formação do tecido representacional; e, naturalização ‒ confere uma realidade
plena ao que era uma abstração ao transformar as imagens em elementos da
realidade.
O processo de ancoragem para Moscovici (2003, p. 61) compreende um
processo que transforma algo estranho, desconhecido e perturbador, que nos
intriga, em nosso sistema particular de categorias, para comparar com o paradigma
de uma categoria que é pensado pelo sujeito sobre o objeto representado do que é
pensado e o que será apropriado para se ancorar por meio da classificação e
nomeação ao objeto estranho.
Este processo “classifica o que não possui nome, o que é estranho, não
existente, e ao mesmo tempo se constitui como ameaçador” (MOSCOVICI, 2003, p.
61), uma vez que, é “impossível classificar sem, ao mesmo tempo, dar nomes” (p.
66) e, por conseguinte, “o que é anônimo, o que não pode ser nomeado, não se
pode tornar uma imagem comunicável ou ser facilmente ligado a outras imagens” (p.
66).
Assim sendo, o processo de ancoragem é organizado, segundo Nóbrega
(2001), sob três dimensões: atribuição de sentidos – é o momento em que o sujeito
indivíduo se apropria de uma rede de significações, em que são articulados e
hierarquizados os valores já existentes na cultura; instrumentalização do saber – em
que confere um valor funcional à estrutura imageante da representação, à medida
que esta se torna uma teoria de referência que permite aos indivíduos
compreenderem a realidade; e, enraizamento no sistema de pensamento –
enquanto incorporação social da novidade atrelada à familiarização do estranho, a
partir dos mecanismos de classificação, de comparação e de categorização do novo
objeto em julgamento.
Segundo Moscovici (2003), é da soma de experiências e memórias comuns
que nós extraímos as imagens, linguagem e gestos necessários para superar o nãofamiliar, com suas consequentes ansiedades. Elas não são inertes, nem mortas, ao
contrário, são dinâmicas e imortais. Portanto, a
ancoragem e objetivação são, pois, maneiras de lidar com a
memória. A primeira mantém a memória em movimento e a memória
é dirigida para dentro, esta sempre colocando e tirando objetos,
pessoas e acontecimentos, que ela classifica de acordo com um tipo
38
e os rotula com um nome. A segunda, sendo mais ou menos
direcionada para fora (para outros), tira daí conceitos e imagens para
juntá-los e reproduzi-los no mundo exterior, para fazer as coisas
conhecidas a partir do que já é conhecido (MOSCOVICI, 2003, p.
78).
Ainda nesse sentido,Tura (2005a) afirma que o processo de constituição das
representações sociais tem por função destacar uma figura e carregá-la de sentidos.
A função duplicadora de um sentido por uma figura designa-se a objetivação e de
uma figura em um sentido ‒ a ancoragem. Desta forma, a objetivação é um
processo ligado especificamente ao funcionamento do pensamento social atribuindo
significado ao objeto, conferindo materialidade a ideias, palavras e esquemas
conceituais, formando o núcleo figurativo das representações sociais. A ancoragem
está relacionada à incorporação do novo no pensamento ou conhecimento
preexistente.
As representações sociais enquanto universo consensual de significados
construídos e compartilhados socialmente, segundo Silva et al (2003, p. 123),
possibilita os membros do grupo comunicarem-se e interagirem a
partir dos processos de objetivação e ancoragem, os quais são
responsáveis pela interpretação e atribuição de significados comuns
a problemática de seu universo, em particular, os de saúde.
Desse modo, os significados que os idosos atribuem à vulnerabilidade diante
do HIV/aids na adoção de práticas preventivas sempre que experimentam situações
de confronto com a aids, compreendem uma das formas de apreensão da TRS
(DELMIRO, 2011). Essa apreensão não se dá de forma automática nem mecânica,
mas se embasa no sentido que o sujeito, no caso o idoso, atribui à experiência com
a aids (objeto), no espaço das vivências e interações ao longo do tempo (MADEIRA,
1998a, p. 11).
As RS, de acordo com Madeira (1998b, p. 50), “não são um ato isolado ou
estático, uma vez que sofre interferências do meio social, psicológico e cultural
integrando a linguagem de viver do sujeito. Neste sentido, o objeto apropriado torna-
39
se objeto do sentido, uma vez que mobiliza condutas, definindo o sujeito em suas
relações” (p. 51).
Na construção de RS Moscovici (1978) identifica três sistemas indutores de
representação advindos da organização cognitiva de diferentes sistemas/formas de
comunicação, presentes na difusão, a propagação e a propaganda. A difusão – não
é dirigido a um grupo, mas a uma pluralidade de grupos e a mensagem sobre um
objeto é organizada de maneira indiferenciada, ignorando as diferenciações sociais,
não provocando mudanças de atitudes; o sistema de propagação – se opõe à
difusão, uma vez que exige organização complexa das mensagens, sendo
caracterizada como uma modalidade de comunicação em que as mensagens
produzidas por membros de um grupo se dirigem ao seu próprio grupo, visando a
harmonizar o objeto da comunicação com os princípios que fundam a especificidade
do grupo; e a propaganda – é uma forma de comunicação de um grupo que oferece
uma visão clivada de mundo, cuja dinâmica encontra-se inscrita nas relações sociais
conflituosas, salientando-as e alimentando-as e acentuando as diferenças sociais
(ORDAZ; VALA, 2000; NÓBREGA, 2001; VALA, 2006).
Assim sendo, entende-se a importância do papel da comunicação na
veiculação e propagação da aids como uma importante ferramenta para difusão da
mesma que possibilita os idosos acessarem informações sobre a mesma em seus
grupos de pertença, uma vez que é na comunicação que um objeto social é
disseminado, por meio do sistema de difusão, propagação ou propaganda, fazendo
circular o conhecimento acerca de determinado fenômeno, produzindo e
reproduzindo representações sociais de um determinado objeto e direcionando os
comportamentos dos sujeitos.
Diante do exposto, as representações sociais dos idosos residentes na zona
rural assumem relevante importância para a prática da saúde, possibilitando a
apreensão de conhecimentos sobre a vulnerabilidade frente à infecção pelo
HIV/aids, por definir comportamentos e/ou práticas e a comunicação entre grupos
sociais, em particular, nos idosos podendo ainda influenciar os idosos com a adoção
de práticas de saúde saudáveis. Nesse sentido, Jodelet (1998, p. 18) enfatiza que a
TRS vêm sendo utilizadas em “estudos que analisam as relações entre
conhecimento científico e profano, e no exame do papel que as concepções do
senso comum exercem sobre a apreensão de certas doenças”.
40
Esse aspecto encontra-se relacionado com as funções das RS como
mediadora dos comportamentos e das comunicações que circulam nos discursos
expressos pelas ideias e imagens que se materializam nos comportamentos ou
condutas (MOSCOVICI, 2003).
Nessa direção Abric (1998) apresenta quatro funções essenciais das RS:
função de orientação, que serve de guia para a ação, na medida em que esta orienta
as condutas e as práticas; função do saber: permite que os indivíduos adquiram
conhecimento prático do senso comum e os integrem em um quadro assimilável e
compreensível para eles próprios, em coerência com seu funcionamento cognitivo e
os valores aos quais eles aderem o que facilita a comunicação social, permitindo
compreender e explicar a realidade; função identitária: que define a identidade e
permite a proteção da especificidade dos grupos, esta situa os indivíduos e os
grupos dentro de um campo social, permitindo a elaboração de uma identidade
social e pessoal, ao mesmo tempo em que lhes assegura um lugar primordial nos
processos de comparação social; e a função justificadora: que permite, a posteriori,
a justificativa das tomadas de posição e dos comportamentos, é o momento em que
as representações intervêm na avaliação da ação, permitindo aos indivíduos explicar
e justificar suas condutas em uma situação ou face a seus parceiros.
Para Jodelet (2001), é importante explorar as representações sociais
relacionadas à doença e ao corpo, valorizando a percepção do senso comum, tendo
em vista a pluralidade e diversidade resultante da construção social e simbólica do
homem enquanto sujeito.
Logo, na investigação em busca de sentidos atribuídos ao HIV/aids pelos
idosos enquanto objeto de estudo, do ponto de vista de Moscovici (1978), busca-se
compreender as representações sociais como produto e processo social,
organizadas de diferentes maneiras nos grupos de pertenças sociais do ponto de
vista dimensional e processual com ênfase nas três dimensões: a atitude, a
informação e o campo de representação ou imagem e explorando o processo de
objetivação e ancoragem.
Desta
forma,
a
informação
relaciona-se
com
a
organização
dos
conhecimentos que os idosos possuem a respeito de um objeto social e o campo da
representação remete a ideia de imagem, enquanto modelo social, aos conteúdos
concretos e limitados das proposições acerca do HIV/aids e a atitude salientará a
41
orientação global dos idosos frete ao referido objeto de estudo, como defende
Moscovici (1978).
Embora se possa verificar a ocorrência da não existência de informações
coerentes sobre o HIV/aids, uma vez que não se pode falar desta de forma linear,
permitindo aos idosos apreenderem somente as informações que são importantes
para os mesmos nos seus grupos sociais, quando existe este saber é permitido
realizar uma discriminação precisa entre os níveis de conhecimentos, conforme
atesta Moscovici (1978).
Para tanto, as três dimensões da representação social possibilitam obter
uma visão panorâmica do seu conteúdo e do seu sentido com relação ao HIV/aids,
uma vez que para Moscovici (1978) uma pessoa só informa e representa alguma
coisa depois de ter adotado uma posição, e em função da posição adotada com
relação ao objeto de representação.
Assim, espera-se que ao eleger essa teoria para compreensão do referido
fenômeno, objeto de estudo, se possa conhecer o que pensam os idosos da zona
rural, sobre a referida doença, as informações ou conhecimento, imagens atribuídas
e como se posicionam frente a esta.
42
CAPÍTULO 3
Se quisermos progredir, não devemos repetir a história, mas
fazer uma história nova.
Mahatma Gandhi
43
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
3.1 TIPO DE ESTUDO
Este estudo é do tipo exploratório quantiqualitativo em que se considera as
vivências dos sujeitos em contextos sociais singulares, subsidiados no referencial
teórico das representações sociais, segundo Moscovici (1978; 2003), como tentativa
de se conhecer aspectos subjetivos do HIV/aids, explorando as dimensões das
representações sociais.
As pesquisas exploratórias visam "proporcionar maior familiaridade com o
problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Pode-se
dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou
a descoberta de intuições" (GIL, 1993, p.45).
3.2 CAMPO DO ESTUDO
A pesquisa foi desenvolvida no município de Jequié – BA, tendo como local
do estudo o Distrito de Itajuru que se localiza mais ou menos a 30km da sede da
cidade.
O município de Jequié situa-se na região Sudoeste da Bahia, tem uma
população de 151.820 habitantes tendo 8,21% da população residindo em zona rural
(IBGE, 2011). Devido a vegetação característica (caatinga) e ao clima tropical, a
mesma é conhecida como “Cidade Sol”.
Distante 358 Km de Salvador, sua
superfície é de 3.113 Km2.
Devido a dificuldade de acesso para as áreas de zona rural do município de
Jequié, e considerando o período estabelecido para a coleta dos dados da pesquisa,
utilizamos apenas USF Dr. Waldomiro Borges como campo de investigação, visto
que neste local existe o cadastramento de todos os indivíduos que habitam em sua
área de abrangência, inclusive os idosos, o que facilitou o encontro com a população
44
a ser estudada. Além a acessibilidade geográfica para esse distrito é melhor do que
a para o Distrito de Florestal, local onde realizamos estudo piloto para testar o
instrumento de coleta de dados desta pesquisa.
3.3 SUJEITOS DA PESQUISA
Foram utilizados como informantes do estudo 30 idosos de um universo de
404 idosos.
A participação dos mesmos foi condicionada ao cumprimento dos seguintes
critérios:
 Ter idade igual ou superior a 60 anos;
 Ambos os sexos;
 Residir no distrito de Itajuru;
 Estar cadastrado na USF Dr. Waldomiro Borges;
 Ter escore que, segundo aplicação do Mini Mental Examination (MMSE)
(Anexo A), não indique comprometimento cognitivo, ou seja: igual ou maior a 15
pontos para idosos analfabetos; igual ou maior a 22 pontos para idosos com 1 a 11
anos de escolaridade; e igual a 27 ou mais pontos para idosos com escolaridade
superior a 11 anos de estudo.
O MMSE foi proposto por Folstein, Folstein e McHugh, em 1975, e é
utilizado para o rastreio do comprometimento cognitivo utilizado na detecção de
perdas cognitivas. Este instrumento é provavelmente o mais utilizado mundialmente,
possuindo versões em diversas línguas e países, já sendo validado para a
população
brasileira.
Tem
sido
largamente
usado
para
o
rastreamento
epidemiológico tanto em estudos na comunidade como em asilos (ENGELHARDT;
LAKS; ROZENTHAL, 1997).
O MMSE fornece informações sobre diferentes parâmetros cognitivos,
contendo questões agrupadas em sete categorias, cada uma delas planejada com o
objetivo de avaliar funções cognitivas específicas como a orientação temporal (5
pontos), orientação espacial (5 pontos), registro de três palavras (3 pontos), atenção
e cálculo (5 pontos), recordação das três palavras (3 pontos), linguagem (8 pontos) e
45
capacidade construtiva visual (1 ponto). O escore do MMSE pode variar de um
mínimo de 0 ponto (maior grau de comprometimento cognitivo), até um total máximo
de 30 pontos (melhor capacidade cognitiva) (BRUCKI et al., 2003). É válido salientar
que, apesar deste instrumento ser bastante utilizado e indicado para rastreio
cognitivo, não fornece diagnósticos de quadros demenciais (BERTOLUCCI et al.,
1994; FILLENBAUM et al., 1999; LAKS et al, 2003).
3.3.1 CONSTITUIÇÃO DA AMOSTRA
O presente estudo utilizou amostra intencional e teve acesso a 40 idosos.
Ressaltamos que após aplicação do Mini Mental Examination (MMSE), utilizado
nesse estudo como instrumento para avaliar a capacidade cognitiva dos
informantes, dois idosos do sexo masculino não foram incluídos no estudo por
apresentar déficit cognitivo, e oito informantes, sendo cinco homens e três mulheres,
não aceitaram participar da pesquisa (não compareceram para realização da
entrevista, o que se configurou como segundo momento da coleta de dados),
perfazendo, dessa forma, 30 idosos como amostra da pesquisa de um universo de
404 idosos.
3.3.2 ASPECTOS ÉTICOS
Buscando cumprir o que dispõe a Resolução 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde (CNS), que trata da pesquisa envolvendo seres humanos, antes de
adentrar ao campo de pesquisa, foram elaborados o projeto de pesquisa e o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice A), atendendo assim as
exigências preconizadas pela aludida Resolução, a saber: linguagem acessível,
tema da pesquisa, responsáveis pela pesquisa devidamente identificados, objetivos,
finalidade / justificativa, informantes, local da pesquisa, técnica e instrumento de
coleta de dados, duração da pesquisa, assim como, esclarecidos a não existência
de risco para o informante, a liberdade do sujeito de se recusar a participar ou retirar
46
seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, a privacidade e anonimato dos
informantes e a possibilidade das informações (de forma anônima) prestadas por
eles serem expostas publicamente por meio da mídia escrita ou virtual e em eventos
de caráter científicos.
Após submissão do Projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), onde o projeto de pesquisa foi
avaliado pelos membros do referido comitê, e mediante aprovação do mesmo
(Anexo B) – comunicado pelo Of. CEP /UESB 046/2001 (Anexo C) – atribuindo o
número de protocolo 230/2010 e CAAE 0064.0.454.000-10, encaminhamos o of.
042/2011 – PPGES (Anexo D) ao Secretário Municipal de Saúde do Município de
Jequié solicitando autorização para realização da coleta de dados, diante da sua
aprovação e da Diretora do Departamento de Assistência à
Saúde (Anexo E),
iniciamos a coleta de dados na USF Waldomiro Borges.
3.4 INSTRUMENTO E PROCEDIMENTO PARA COLETA DE DADOS
Foi escolhida como técnica de coleta de dados a entrevista semiestruturada,
sendo guiado pelo roteiro de entrevista (Apêndice B), formado por três partes, a
saber: características sociodemográficas; 33 proposições relacionadas às formas de
contágio, devendo ser respondidas como verdadeiro ou falso, sendo justificadas as
respostas a seguir; e duas perguntas abertas referindo-se ao conhecimento dos
informantes sobre a aids, e quanto às pessoas que podem adquirir a aids, devendo
ser justificado a seguir a sua resposta.
A entrevista em si é considerada, segundo Barros e Lehfeld (1997, p. 57),
como uma “técnica que permite o relacionamento entre o entrevistado e o
entrevistador”. Gil (1993, p. 113) reforça esta compreensão, quando afirma que
“pode-se definir entrevista como técnica em que o investigador se apresenta frente
ao investigado e lhes formula perguntas, com objetivo de obtenção de dados que
interessam a investigação [...]”. Meihy (1996) considera este processo de coleta de
informação como sendo o período em que ocorre a gravação das informações
fornecidas pelo entrevistado frente aos questionamentos do pesquisador, este
momento deve ser efetuado segundo a conveniência do entrevistado.
47
Como forma de testar o instrumento a ser aplicado, foi realizado estudo
piloto com dez idosos residentes no distrito de Florestal. A referida população foi
escolhida para a realização de estudo piloto, pois apresenta características
parecidas com idosos que configuram os informantes desse estudo.
Assim, após a realização do teste piloto, ao adentrar ao cenário de pesquisa,
solicitamos ao enfermeiro da Unidade agendar uma reunião com os demais
membros da equipe, quando apresentamos o projeto de pesquisa e solicitamos a
colaboração dos mesmos no sentido de comunicar aos idosos que se encontravam
na área de abrangência a comparecer a USF para ter conhecimento das atividades
a serem desenvolvidas por nós, pesquisadores.
Assim, passamos a convidar aos idosos que encontravam na USF a
participar do estudo, sendo os mesmo esclarecidos do teor da pesquisa por meio da
leitura do TCLE, assim como esclarecendo quanto ao caráter voluntário e garantia
do anonimato das pessoas que participam da pesquisa. Dessa forma, após aceitar a
participar do estudo, assinado o TCLE, aplicávamos o MMES, e, tendo este idoso
escore significativo que não indicasse déficit cognitivo, agendávamos um momento
para aplicação do instrumento de coleta de dados por meio da entrevista, que teve
duração de mais ou menos 50 minutos. Assim, as entrevistas foram realizadas na
própria USF e também nos domicílios dos informantes.
A realização das entrevistas, assim como a aplicação do MMES, foram
realizadas por mim e por discentes do curso de graduação em enfermagem,
previamente capacitados para aplicar o instrumento de coleta de dados.
3.5 TÉCNICA DE ANÁLISE DOS DADOS
As informações obtidas das 30 entrevistas correspondem ao corpus que,
após constituição do banco de dados, foi submetido ao software Analyse Lexicale
par Contexte d'un Ensemble de Segment de Texte 2010 (Alceste), concebido por
Max Reinert, no final da década de 70, no âmbito das investigações em Psicologia
Social, e introduzido no Brasil, em 1998, por Veloz, Nascimento-Schulze e Camargo
(REINERT, 1998; CAMARGO, 2005). Este software é um instrumento auxiliar de
análise de dados, principalmente quando se trata de analisar grande quantidade de
48
material textual, proveniente de entrevistas, questionários e de diferentes
documentos escritos.
O Alceste é um software de estatística textual que tem como objetivo
principal identificar a organização tópica do discurso que compõe um corpus, ou
seja, a totalidade dos dados textuais. Emprega uma análise de classificação
hierárquica descendente e possibilita a uma análise lexicográfica do material textual,
oferecendo contextos (classes léxicas) que são caracterizados pelos vocabulários e
pelos segmentos de texto que compartilham este vocabulário (CAMARGO, 2005).
O programa toma como base um único arquivo (txt) ou Unidades de
Contexto Iniciais (UCI), que dependem da natureza da pesquisa e deverão ser
definidas pelo pesquisador. Um conjunto de UCIs constitui um corpus de análise.
O processo de análise segue as etapas apresentadas a seguir: 1) Leitura do
texto, redução das palavras com base em suas raízes (formas reduzidas) e
constituição de um dicionário; 2) Segmentação do material discursivo em Unidades
de Contexto Elementares (UCE’s); 3) Descrição das classes semânticas, seguida de
sua descrição através da quantificação das formas reduzidas e função das UCE’s,
bem como das ligações estabelecidas entre elas, 4) Análise da associação e
correlação das variáveis informadas às classes obtidas e análise das ligações
estabelecidas entre as palavras típicas em função das classes (dendograma)
(CAMARGO, 2005).
Os resultados, após processamento e análise de todos os dados resultantes
das
entrevistas,
foram
interpretados
a
partir
do
referencial
representações sociais, e apresentados em figuras e temas.
teórico
das
49
CAPÍTULO 4
Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso" Eu vou direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de encanto....
Olavo Bilac
50
4 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO HIV/AIDS E FORMAS DE
CONTÁGIO
4.1 APRESENTANDO OS SUJEITOS
Os idosos participantes desse estudo em sua maioria são do sexo masculino
(56,7%), sendo a faixa etária mais prevalente a de 60 a 70 anos (50%), e a idade
mínima de 60 e a máxima de 82 anos, com uma média de 70 anos, desvio padrão
de mais ou menos 6,4 e mediana de 70,5.
Os dados da tabela 1 apresentam o perfil sociodemográfico dos idosos que
vivem no domicílio, segundo faixa etária, estado civil, escolaridade, renda e religião
relacionando ao sexo.
Tabela 1: Perfil sociodemográfico dos idosos que vivem no domicílio segundo faixa etária,
estado civil, escolaridade, renda e religião relacionando ao sexo. Jequié – BA, 2011 (n=30).
VARIAVEL
FAIXA ETÁRIA
60 a 70 anos
71 a 80 anos
81 a mais
ESTADO CIVIL
Solteiro(a)
Casado(a)
Divorciado(a)
Convive maritalmente
Viúvo(a)
ESCOLARIDADE
Analfabeto(a)
1 a 8 anos de estudo
Ensino médio incompleto
Ensino médio completo
RENDA
Sem renda
Menos de 1 salário
1 salário
Mais de 1 salário
RELIGIÃO
Católico
Protestante
MASCULINO
N
%
FEMININO
N
%
TOTAL n(%)
08
08
01
47,1
47,1
05,8
07
06
-
53,8
46,2
-
15 (50,0)
14 (46,7)
01 (3,3)
01
05
08
03
05,9
29,4
47,1
17,6
01
04
04
02
02
07,7
30,8
30,8
15,4
15,4
02 (6,7)
09 (30,0)
04 (13,3)
10 (33,3)
05 (16,7)
05
11
01
-
29,4
64,7
5,9
-
08
04
01
61,5
30,8
07,7
13 (43,3)
15 (50)
01 (3,3)
01 (3,3)
02
13
02
11,8
76,5
11,8
01
01
10
01
07,7
07,7
76,9
07,7
01 (3,3)
03 (10,0)
23(76,7)
03(10,0)
13
04
76,5
23,5
06
07
46,2
53,8
19 (63,3)
11 (36,7)
51
Em relação ao estado civil, a maior parte são de mulheres casadas (30,8%)
ou divorciadas (30,8%) e de homens que mantém relacionamento estável
convivendo maritalmente (47,1%).
Observa-se que as mulheres, em sua maioria, são analfabetas (61,5%)
seguidas por aquelas que têm de 1 a 8 anos de estudo (30,8%), tendo apenas 7,7%
destas o ensino médio completo. Já, dentre os homens entrevistados, 64,4%
possuem de 1 a 8 anos de estudo, seguidos pelos analfabetos (29,4%) e por
aqueles que têm ensino médio incompleto (5,9%).
Os idosos desse estudo, em sua maioria, possuem renda equivalente a um
salário mínimo (76,7%), seguido por aqueles que recebem mais de um salário
mínimo, e menos de um salário mínimo, representando ambos 10%, tendo apenas
3,3% dos idosos que se declaram sem renda.
Quanto à religião, entre os homens o catolismos representa 76,5%, e entre
as mulheres, 46,2%, equanto que a religião protestante é professada por 53,8% das
mulheres e por 23,5 dos homens. A maioria dos idosos desse estudo professam ser
católicos (63,3%).
4.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Os resultados apreendidos das entrevistas e analisados pelo software
Alceste foram definidos a partir de um corpus formado por 30 Unidades de Contexto
Iniciais (UCI’s) e 416 Unidades de Contexto Elementar (UCE’s), classificadas a partir
das 480 selecionadas, correspondendo os segmentos de textos dimensionados pelo
programa com um aproveitamento de 78.60%, considerando a frequência, superior a
quatro palavras e x² com nível de significância superior a 3.84.
A análise hierárquica apontou quatro classes ou categorias formadas pelos
segmentos (UCEs) de textos diferentes entre si, representadas no dendograma
(figura 1) com suas relações inter-relacionadas.
52
----|----|----|----|----|----|----|----|----|----|
Classe.1 |-------------------------+
Eixo 3
|------------------+
Classe.2 |-------------------------+
Eixo 2
|
|---+
Classe.4 |--------------------------------------------+
|
Eixo 1
+
Classe.3 |------------------------------------------------+
Figura 1: Dendograma da Classificação Hierárquica Descendente.
Fonte: Alceste, 2011
Os conteúdos semânticos sobre HIV/aids para os idosos encontram-se
dimensionados em três eixos interligados formados pelas quatro classes
apresentadas, caracterizando as dimensões responsáveis pela construção de
representações sociais (MOSCOVICI, 1978), como: imagens ou campo de
representação sociais; conhecimento ou informação e posicionamento dos idosos
frente ao HIV/aids ou atitude.
As imagens são apresentadas em figuras, que foram definidas pela distância
calculada nas UCEs de cada classe, com suas frequências e seus respectivos quiquadrados (x²); os conteúdos/informações sobre a HIV/aids e o posicionamento dos
idosos são salientados nos referidos conteúdos; destaca-se os processos
sociocognitivos responsáveis pela formação de representações sociais: objetivação
(imagens) e ancoragem (conteúdos) apresentando o posicionamento dos idosos
frente o HIV/aids.
4.2.1 DIMENSÕES MAIS SIGNIFICATIVAS DAS REPRESENTAÇÕES SOBRE
HIV/AIDS
A classe/categoria 1 – práticas sexuais, formada por 179 UCE, em que os
idosos, em sua maioria homens, católicos, analfabetos, com idade de 71 a 80 anos,
que convivem maritalmente e recebem em torno de um salário mínimo, fazem alusão
às diferentes formas de transmissão do HIV/aids, com 68 palavras selecionadas,
conforme conteúdos no quadro 1.
53
Palavras
Camisinha
Com penetração
Estourar
Evitar
Homens
Homossexuais
Idosos
Mulher
Ouvir
Pega
Pode
Praticar
Prevenido
Prevenção
Protege
Rasgar
Relação
Sem camisinha
Sexo
Sexo pelo ânus
Transmitida
Transar
Usando
Velhos (as)
Viado
Frequência
chi2
120
137
07
10
222
08
144
180
06
338
144
170
10
12
18
08
04
127
185
23
21
32
87
18
07
174.09
243.45
09.43
05.71
191.25
06.58
129.64
136.94
04.03
04.72
07.37
192.36
09.29
16.36
09.27
10.80
05.35
68.01
213.92
06.54
24.59
41.00
70.08
20.00
05.29
Quadro 1: Distribuição das palavras mais significativas segundo frequência e quiquadrado
na formação da classe/categoria1. Fonte: Alceste, 2011.
Verifica-se que os idosos associam as práticas sexuais ao ato sexual com
penetração (x²=243.45) em que no momento do sexo (x²=213.92) ao praticar
(x²=192,36) uma relação (x²=05.35) entre homens (x²=191,36) e mulheres
(x²=136,94), utilizam camisinha (x² = 174). Os idosos (x²=129,64) devem realizar
atividade sexual usando (x² = 70,08) camisinha uma vez que transar (x² = 41, 000)
sem camisinha (x²=68,01) pode (x²=07,37) se contaminar e que a aids pode ser
transmitida (x²=24,59) entre velhos(as) (x²=20,0).
Além disso, mesmo com a utilização da camisinha como forma de prevenção
(x²=16,36) a mesma pode rasgar (x²=10,08) ou estourar (x²=09,43) e desta forma,
não prevenindo (x²=09,29); o não uso da camisinha não protege (x²=09,27) os
homossexuais (x²=06,58) ou demais adeptos ao sexo pelo ânus (x² = 06,54). Assim,
devem evitar (x²=05,71) a prática de sexo com viados (x²=05,29) já que, dessa forma
se pega (x²=04,72) doenças venéreas como ouvi (x²=04,03) falar.
A partir do final dos anos 70, com a emergência da aids, começaram a ser
realizados diversas pesquisas que buscavam compreender como ocorre a
propagação do HIV (LEITE, 2011).
54
Assim, ao perceber que a doença está relacionada às práticas sexuais,
diversos estudos passaram a ser realizados, inicialmente voltados para as práticas
sexuais de homens que fazem sexo com homens, posteriormente, com a
heterossexualização da doença, passaram a ser estudadas as práticas sexuais
envolvendo homens e mulheres, principalmente daqueles considerados em idade
sexualmente ativa (adultos jovens), sendo relegada a condição de estudo das
práticas sexuais entre idosos, fato que os colocaram em situação de grande
vulnerabilidade à aquisição do vírus, pois a aids estava representada até o início do
século XXI como doença de gays e de homens e mulheres que adotavam
comportamento de risco (CALAIS; JESUS, 2011).
Além disso, estudos realizados por Barbosa e Koyama (2008) ressaltam que
no final dos anos 90, com o aumento do número de casos de aids, inquéritos
populacionais seriados sobre comportamentos e práticas sexuais fossem realizados
com maior frequência. Os referidos inquéritos buscavam compreender melhor a
relação entre o exercício da sexualidade e a transmissão sexual do HIV, responsável
por grande parte dos casos nos países.
Pensar nas representações sociais da aids significa afirmá-la, segundo Tura
(2005b, p. 168), como “regendo as relações sociais que se estabelecem em torno
dessa realidade, assim como organizando comunicações e condutas e, por isso,
pode-se dizer que denotam/conotam, em sua organização e articulação, o vivido, a
experiência do concreto e os interesses que mobilizam”.
Assim, é perceptível que, embora a aids tenha se firmado como uma
pandemia de homens que tinham práticas sexuais com homens, as representações
dela com o passar dos anos, vem se modificando, podendo ser observado que os
idosos de zona rural já percebem a aids como uma doença que pode afetá-los.
Porém, ainda enfatizam a visão do sexo anal como forma de transmissão da aids,
relacionado a prática homossexual, chamando atenção ainda para o perigos dos
“viados” ou homossexuais adquirirem doenças venéreas.
Nesse sentido, Delmiro (2011) discute que a sexualidade é inerente ao ser
humano em todas as fases da vida, e a representação da prática sexual como
realidade na terceira idade é fundamental para compreender os riscos ao qual esse
grupo de pertença mostra-se vulnerável à aquisição de doença transmitida por via
sexual. Independente da forma e da idade em que o ato sexual seja realizado pelos
seres humanos, os mesmos encontrar-se-ão expostos à aquisição de DST, visto que
55
a utilização da camisinha pode sofrer danos físicos e devido ao seu rompimento
(seja ele pela má conservação do preservativo ou por erros na forma de utilização)
manter contato entre os fluídos corporais (esperma, secreção vaginal e sangue) e
contaminar o(a) parceiro(a).
A figura 2 apresenta imagens ou campo de representação da aids pelos
idosos que contribuíram na formação dessa classe, em que atribuem o HIV/aids à
realização de práticas sexuais com penetração com a utilização ou sem o uso da
camisinha entre homens, mulheres, homossexuais e idosos, o que está diretamente
relacionado com a aquisição do HIV, pois a camisinha quando usada corretamente
protege da transmissão das doenças venéreas, tendo remota possibilidade
aquisição do HIV por problemas como rasgar ou estourar a camisinha. Além disso,
muitos fatores são associados às práticas sexuais, no entanto a condição com
penetração aparece como principal.
Figura 2: Imagens da aids segundo as palavras mais significativas associadas à classe1.
Fonte: Alceste, 2011.
A realização de práticas sexuais na terceira idade é uma realidade. Sousa
(2008) discorre que a sexualidade do idoso deve ser vivida em plenitude, e estes
devem estar corretamente orientados quanto à utilização de mecanismos
tecnológicos que melhorem o desempenho sexual, associados à utilização do
preservativo e da limitação de parcerias com vistas a evitar novas infecções pelo HIV
entre os mesmos por meio dessa forma de contágio.
Verificou-se um tipo de ancoragem que os idosos utilizavam para falarem do
HIV/aids, abordando aspectos psicobiológicos, conforme atestam conteúdos em que
os idosos acreditam ser a camisinha uma das principais formas de evitar a
56
contaminação pelo vírus da aids, proporcionando para estes uma prática sexual
segura com riscos mínimos para a aquisição do HIV.
Porém, a condição de ser velho também é apontada como mecanismo de
proteção destes na aquisição do HIV, levando-os a acreditar que a partir dessa
idade podem se sentir mais livre nas práticas sexuais, já que nesse período da vida
a procriação não mais acontece, levando assim a adoção da liberdade sexual como
fator de vulnerabilidade desses idosos à contaminação pelo HIV.
Além disso, no imaginário desses idosos a heterossexualidade os imuniza
da aquisição do vírus da aids, quando realizam atividades sexuais sem camisinha
entre homens e mulheres, já que a representação da homossexualidade como fator
condicionante/determinante para a aquisição do HIV ainda está arraigada de forma
muito atual como era no início da pandemia.
{...} na prática de sexo com_penetracao entre um homem e uma
mulher idosa sem_camisinha porque o casalzinho sendo velho não
pega não; na prática de sexo com_penetracao entre um homem e
uma mulher idosa com camisinha porque usando camisinha não
pega; na prática de sexo com_penetracao entre dois homens com
camisinha não pega porque estão usando a camisinha (Ent. 21 Homem, 77 anos, casado, católico, aposentado, ensino
fundamental incompleto, renda de 1 salário mínimo).
{...} na prática de sexo com_penetracao entre um homem e uma
mulher idosa com camisinha pega não, porque está usando
camisinha; na prática de sexo com_penetracao entre dois homens
idosos sem_camisinha não pega aids, porque já estão velhos (Ent.
14 – Mulher, 61 anos, casada, protestante, analfabeta, renda
menor que 1 salário mínimo).
{...} na prática de sexo com_penetracao entre um homem e uma
mulher idosa sem_camisinha pega não, porque não é gay ou
homossexual; na prática de sexo com_penetracao entre dois homens
com camisinha não pega aids porque usou a camisinha (Ent. 17 –
Mulher, 77 anos, aposentada, convive maritalmente, protestante,
analfabeta, renda de 1 salário mínimo).
{...} na prática de sexo/com_penetracao entre dois homens
sem_camisinha porque é homem; prática de sexo com_penetracao
entre dois homens com camisinha porque usou a camisinha; na
prática de sexo com_penetracao entre/dois homens idosos com
camisinha (Ent 22 – Homem, 60 anos, lavrador, solteiro, católico,
ensino fundamental incompleto, renda de 1 salário mínimo)
57
{...} a aids pode ser transmitida se transar sem_camisinha porque
não usou a camisinha e a camisinha evita a aids; na prática de sexo
com_penetracao entre um homem e uma mulher sem_camisinha
porque não usou a camisinha (Ent. 30 – Homem, 69 anos,
aposentado, convive maritalmente, católico, ensino fundamental
incompleto, renda de 1 salário mínimo).
{...} pega aids se transar sem_camisinha porque não usou a
camisinha aí pode pegar qualquer doença venérea; prática de sexo
com_penetracao entre um homem e uma mulher sem_camisinha
porque não usou a camisinha; pratica de sexo com_penetracao entre
um homem e uma mulher idosa sem_camisinha porque não usou a
camisinha e tem que usar a camisinha mesmo; pratica de sexo
com_penetracao entre um homem e uma mulher idosa com
camisinha porque eles estão prevenidos; pratica de sexo
com_penetracao entre dois homens com camisinha porque se tiver
usando camisinha, ele tá prevenido, aí não pega não (Ent 6 –
Homem, 63 anos, aposentado, convive maritalmente, católico,
ensino fundamental incompleto, renda menor de 1 salário
mínimo).
{...} prática de sexo com_penetracao entre dois homens com
camisinha não pega porque o pinto está vestido ou usando
camisinha; prática de sexo com_penetracao entre dois homens
idosos sem_camisinha não pega porque os velhos já não saem
muito; prática de sexo com_penetracao entre dois homens idosos
com camisinha porque o pinto estar vestido ou usando camisinha {...}
(Ent. 1 – Homem, 72 anos, aposentado, convive maritalmente,
católico, analfabeto, renda de 1 salário mínimo).
Dessa forma, os resultados nos apontam, no que se refere às práticas
sexuais, que os idosos a representam como uma realidade nessa faixa etária da
vida, associando-a como uma forma de contágio ao HIV, mantendo ainda como
representação a homossexualidade como um dos fatores que aumenta a
probabilidade de uma pessoa adquirir a doença, e a condição de ser velho e praticar
o sexo não seguro (sem camisinha) como um atenuante ou até mesmo situação
imunizante na transmissão do vírus e o adoecimento por aids.
Porém, estes vêm desenvolvendo representações de que a aids pode ser
transmitida em qualquer tipo de relação sexual, inclusive entre os heterossexuais,
podendo sua prevenção ocorrer quando durante as práticas sexuais for utilizada a
camisinha.
Além disso, não é feito em sua maioria distinção entre grupo etário e sexo no
que se refere à prevenção da aids com a utilização do preservativo durante as
58
práticas sexuais, fato que apresenta divergência quando se trata das práticas
sexuais sem preservativo entre idosos, como já foi mencionado anteriormente, onde
estes representam a velhice como um atenuante na transmissão do HIV. Visto que
estes representam as relações sexuais na velhice como aquelas que acontecem em
sua maioria monogamicamente entre os idosos, fato que pode colocar os idosos em
situação maior de vulnerabilidade ao HIV.
Nesse sentido, Zornitta (2008) e Araujo et al. (2007) apontam que a
sexualidade do idoso em sua maioria é vivida em plenitude, tendo atualmente
características similares aos hábitos sexuais adotados pelos mesmos quando adulto,
já que estes idosos contam com o advento de remédios para disfunção erétil e
melhoramento da lubrificação vaginal, fatores que dentre outros permitem que estes
idosos tenham vida sexual cada vez mais ativa, contrariando o preconceito
representado e mantido no plano simbólico das pessoas de que o sexo na terceira
idade é algo abstrato ou inexistente.
A classe / categoria 2 – formas de contágios é formada por 43 UCE, em
que os idosos casados e com 1 a 8 anos de estudo falam de diferentes tipos de
contágio definidos por 45 palavras selecionadas (quadro 2).
Palavras
Frequência
chi2
Beijo na boca
15
53.28
Beijo
25
25.25
Boca
11
39.43
Chupar a vagina 18
125.26
Chupar
26
182.64
Contágio
05
04.80
Esperma
10
53.65
Homem
135
14.44
Idoso(A)
92
16.57
Líquido
08
23.95
Mulher
180
43.95
Pênis
34
145.03
Prática
170
09.54
Proteção
75
65.59
Rosto
23
06.52
Secreção vaginal 06
35.00
Sem camisinha
127
20.26
Sem proteção
53
176.71
Sexo
185
06.52
Vagina
08
13.85
Quadro 2: Distribuição das palavras mais significativas, segundo frequência e quiquadrado,
na formação da classe/categoria 2. Fonte: Alceste, 2011.
59
As formas de contágio da aids, segundo os idosos da zona rural avaliados, é
representada por prática (x²=09.54) sexual sem proteção (x²=176.71) adotadas pelas
pessoas. Os mesmos salientam que o ato de chupar (x²=182.64), chupar a vagina
(x²=122.26) assim como o pênis (x²=145.03) sem camisinha (x²=20.26) não confere
ao indivíduo proteção (x²=65.59) expondo-o ao esperma (x²=53.65), secreção
vaginal (x²=35.0) ou líquido (x²=23.95) que emerge da vagina (x²=13,85) levando-os
a poder se contaminar pela aids, uma vez que mulher (x²=43,95), idosos(a)
(x²=16,57) e homens (x²=14,44) podem se contaminar por uma pessoa que esteja
contaminada pelo HIV.
Os mesmos afirmam que o HIV é transmitido pelo sexo (x²=06,52), estes
ainda relatam com pouca certeza (x²=10,35) que o contágio da aids pode ocorrer
através do beijo (x²=23,25) sobretudo o beijo na boca (x²=53,28), estabelecendo
menor relevância quando este ocorre no rosto (x²=06,25).
Os idosos representam a via de transmissão sexual como a principal forma
de contágio do vírus, demonstrando que os mesmo têm certos conhecimentos sobre
as formas de contágio da aids, porém pairam determinadas incertezas entre alguns
idosos quanto à transmissão do HIV pelo beijo.
Esses dados convergem com os resultados apresentados por Silva, Paiva e
Santiago (2005) no estudo representações sociais de idosos sobre a prevenção e
transmissão da aids, onde os idosos também representam a transmissão da aids por
via sexual como predominante. Além disso, Brasil (2009b) define que as relações
sexuais envolvendo a presença de esperma e secreção vaginal é considerada como
uma das formas principais de transmissão do HIV.
Figura 3. Imagens do HIV/aids, segundo as palavras mais significativas, associadas à
classe2. Fonte: Alceste, 2011.
60
Nessa classe, os idosos, ao falarem do HIV/aids, se ancoram em conteúdos
psicossociais, a exemplo do comportamento de chupar, seja o pênis ou a vagina,
independente do sexo (homem, mulher) e da idade (jovens ou velhos), colocando o
idoso como pessoa vulnerável à aquisição da doença, pois através dessa prática há
a eliminação de “fluidos” como o esperma e secreção vaginal com poder de
contaminação.
{...} no beijo_na_boca porque não tem contato sexual, eu acho; no
beijo no rosto não passa aids porque está livre da área de contágio
que são boca, vagina, pênis, até respiração (...) ao chupar o pênis de
um homem sem_camisinha porque o vírus passa da boca para o
pênis e pelo esperma também; ao chupar_a_vagina de uma mulher
sem_proteção pega, por causa do líquido ou secrecao_vaginal (Ent.
20 – Homem, 65 anos, funcionário público, ensino médio
completo, renda maior que 1 salário mínimo)
{...} ao chupar o pênis de um homem sem_camisinha pega aids
porque não se protegeu; ao chupar_a_vagina de uma mulher
sem_proteção pega aids porque não tava protegido; no
beijo_na_boca deve pegar, não protegeu em nada; no beijo no rosto
pode pegar a doença também, porque não está protegido (Ent. 17 –
Mulher, 77 anos, aposentada, convive maritalmente, protestante,
analfabeta, renda de 1 salário mínimo).
{...} ao chupar o pênis de um homem sem_camisinha porque não
esta tendo proteção nenhuma e a aids passa pelo líquido ou
esperma do pênis; ao chupar_a_vagina de uma mulher
sem_proteção passa também pelo líquido da vagina ou
secreção_vaginal; da mãe para o filho porque o filho esta dentro do
ventre da mãe (...) ao chupar o pênis de um homem sem_camisinha
certeza que pega, porque a matéria ou esperma vai para-dentro da
boca; ao chupar_a_vagina de uma mulher sem_proteção certeza que
pega, porque não esta tendo a proteção e a matéria ou
secreção_vaginal pega na boca e transmite a aids (Ent. 21 Homem, 77 anos, casado, católico, aposentado, ensino
fundamental incompleto, renda de 1 salário mínimo).
{...} na prática de sexo entre duas mulheres sem_proteção; na prática
de sexo entre duas mulheres idosas sem_proteção; na prática de
sexo entre duas mulheres idosas com proteção; ao chupar o pênis de
um homem sem_camisinha; ao chupar_a_vagina de uma mulher
sem_proteção; no beijo_na_boca; no beijo no rosto (Ent. 23 –
Mulher, 71 anos, casada, protestante, aposentada, ensino
fundamental incompleto, renda de 1 salário mínimo).
{...} ao chupar o pênis de um homem sem_camisinha pega sim.
Porque quem vai chupar, tu me deixa. Porque não tem proteção
nenhuma e pega aids em que chupou, vai um negócio ou esperma
para boca, que nem sei o nome; ao chupar_a_vagina de uma mulher
61
sem_proteção deve pegar, o que tiver pega, porque não usou, não
esta usando proteção nenhuma (Ent. 12 – Mulher, 68 anos,
aposentada, casada, católica, ensino fundamental incompleto,
renda de 1 salário mínimo).
{...} prática de sexo entre duas mulheres idosas com protecao pode
pegar acho que pode elas que não vacilem pode ter contato com os
líquidos; chupar o pênis de um homem sem_camisinha, o caso não é
mole, eu acho que pode pegar pelo caso do vício que eles estão, não
dizem a aids pode pegar pelo beijo (Ent 5 – Mulher, 70 anos,
aposentada, convive maritalmente, protestante, ensino
fundamental incompleto, renda de 1 salário mínimo).
{...} um clíster de pimenta nas duas velhas; ao chupar o pênis de um
homem sem_camisinha acho que pega aids se a boca dela tiver com
um dente ferido ou tiver inflamado (Ent. 15 – Mulher, 60 anos,
funcionária público, católica, ensino médio completo, renda
maior que 1 salário mínimo).
{...} chupar o pênis de um homem sem_camisinha pega aids porque
está fazendo imundície; ao chupar_a_vagina de uma mulher
sem_proteção porque está fazendo sexo e pelo sexo que a aids
passa; no beijo_na_boca se tiver afta na boca, pode pegar aids;
chupar_a_vagina de uma mulher sem_ proteção pega não porque
não misturou o sangue; no beijo_na_boca deve ser que não pega
não, porque só o beijo não pega, acho que o beijo não transmite
(Ent. 24 – Mulher, 65 anos, aposentada, casada, católica,
analfabeta, renda de 1 salário mínimo).
Além disso, os mesmos entendem que o HIV pode ser transmitido pelo beijo,
apresentando como maior relevância o beijo na boca, uma vez que pode existir
algum ferimento ou patologia na boca dos envolvidos, fazendo com que haja contato
com o sangue. Por outro lado, ainda no que concerne à transmissão pelo beijo,
alguns idosos chamam atenção quanto à incerteza da transmissão do vírus da aids
pelo beijo na boca ou no rosto pois nesse ato não há contato sexual.
Entendendo que existem muitos (pré)conceitos acerca da aids em sua
constituição histórica, a concepção de proximidade de um ser para com outro pode
ser traduzida na dúvida da aquisição da doença pelo ato do beijo, já que é
amplamente divulgado as relações sexuais como uma forte representação de
contágio da aids.
Porém, segundo Sontag (2007), a aids nasce permeada por comportamento
discriminatório e estigmatizante, permanecendo no imaginário coletivo a noção de
transmissão associada às doenças infecto-contagiosas.
62
Essa condição de formulação representacional da aids faz com que essa
doença tenha relação do mecanismo de contaminação associado ao contato
humano, como ocorre na transmissão da tuberculose e da lepra. Dessa forma, os
idosos desse estudo ainda mantêm essas crenças no imaginário e apresentam,
mesmo que com uma representatividade menor, o beijo no rosto como forma de
contaminação da aids, visto que nesse ato existe o contato direto entre um ser sadio
e outro contaminado.
Chama-nos atenção nas falas dos idosos a noção de que a aids pode ser
transmitida pelo beijo quando existe contato do sangue com um ferimento ou
solução de continuidade corpórea na mucosa oral de ambos os parceiros, algo que é
apontado por BRASIL (2009b) como fonte de contágio para aids – a transmissão
pelo contato de sangue.
Verifica-se que a transmissão vertical do vírus também é apontada pelos
idosos como uma forma de contágio do vírus, fato confirmado em pesquisas
realizadas por Brasil (2009b) em que estabelece a transmissão do HIV da mãe para
o filho.
Salientamos que alguns idosos reapresentam o sexo oral como imundície,
ou algo nojento, chegando a duvidar da realização dessa prática por seus pares.
Alguns idosos estabelecem que o sexo oral entre mulheres idosas é visto como uma
prática que deve ser tratada com punição, como no relato seguinte, onde há a
indicação da utilização de “um clíster de pimenta nas duas velhas”. Esses conteúdos
nos levam a concordar com Moscovici (2003) quando este afirma que a
representação social estuda a maneira pela qual o indivíduo compreende o seu
mundo.
Nesse sentido, os conteúdos apresentados são sugestivos de que os idosos
da zona rural representam as formas de contágio, principalmente pelo contato dos
líquidos corporais, como: esperma, secreção vaginal e sangue pelo contato com a
boca e/ou com os órgãos genitais (pênis e vagina) durante as práticas sexuais
desprotegidas, ou seja, sem o uso de preservativo; assim como estes estabelecem o
beijo na boca ou rosto com uma representação menos significativa expressa como
uma forma de contágio da aids; a condenação da prática do sexo oral estabelecendo
punições para os adeptos dessa prática sobretudo, para idosas que fazem sexo com
mulheres.
63
A Classe/categoria 3 – descrições sobre contágio é definida por 33 UCE,
contempla as falas em que os idosos fazem alusão às formas de transmissão, com
55 palavras selecionadas (quadro 3).
Palavras
Frequência chi2
Água
04
28.76
aids
294
14.87
Beber
04
09.79
Boca
22
11.90
Calor/Quentura
32
10.23
Cama
28
50.14
Coisas/Pertences 44
19.62
Colher
30
375.24
Copo
35
316.57
Objetos pessoais 30
375.24
Dormir
28
50.14
Espirro
06
05.38
Exemplo
30
375.24
Faca
33
337.90
Garfo
30
375.24
Lavar
15
91.13
Objeto
61
180.02
Pessoa
195
40.62
Pratos
34
385.03
Sabão
15
07.48
Separada(o)
05
07.13
Tossindo
06
05.38
Usa
11
12.43
Utilizados
96
526.46
Vírus
92
08.58
Quadro 3: Distribuição das palavras mais significativas segundo frequência e quiquadrado
na formação da classe/categoria3. Fonte: Alceste, 2011
Contrapondo aos conteúdos relacionados com as formas de contágio
associadas ao HIV/aids pelos idosos na classe 2, pode-se verificar que os mesmos
têm conhecimento das formas de contágio da aids, porém ainda apresentam falsas
crenças, ao afirmarem que utilizar (x²=526.46), pratos (x²=385.03), colher
(x²=375.24), objetos pessoais (x²=375.24), garfo (x²=375.24), faca (x²=337.90), copo
(x²= 316.57), entre outros objetos (x²=180.02) sem lavar (x²=91.13) a pessoa
(x²=40.62) pode pegar aids (x²=14.87), já que estes materiais foram levados à boca
(x²=11.90), contaminando-os pela saliva.
64
Além de afirmarem que uma pessoa (x²=40.62), ao dormir (x²=50.14) na
cama (x² = 50.14) com um portador do vírus da aids, pode se contaminar devido ao
calor/quentura (x²=10.23) do portador do vírus.
Os idosos apontam ainda a água (x²=28.76) e o sabão (x²=07.48) como um
recurso a ser utilizado para higiene como forma de evitar contaminação. Estes ainda
acreditam que as coisas/pertences (x²=19.62) utilizadas pelas pessoas com aids
(x²=14.87) ou pelos portadores do vírus (x²=08.58) devem ser de uso individual,
assim como o referido portador deve dormir separado(a) das pessoas que não têm o
vírus (x²=08.58).
Chamam-nos atenção ainda para a crença da transmissão do vírus pelo ar,
ou seja, o contágio da aids associando ao espirro (x²=05.38) ou a tosse do portador
do HIV.
Tais conteúdos encontram-se ancorados em dimensões psicológicas
centradas em crenças que são discutidas por Sotang (2007), ao conceber a aids
como uma doença incurável e estigmatizaste, o que leva a crer que esta foi herdada.
Essas representações de outras doenças que tiveram curso parecido, em particular,
doenças estigmatizantes e de alta letalidade, como é o caso da tuberculose, tem
como forma de contaminação o ar.
Essa concepção encontra-se no imaginário coletivo e permite aos idosos, ao
falarem da aids, também se reportarem à mesma necessidade de separação dos
utensílios utilizados por seus portadores por se configurar uma forma de
transmissão, assim como na tuberculose. O que se percebe é a existência de
representações hegemônicas ou coletivas (MOSCOVICI, 1978) que continuam
cristalizadas no imaginário social e que são acionadas sempre que se vai falar da
aids, conforme atestam as imagens ou campo de representação da aids na figura 4.
Figura 4: Imagens da aids segundo as palavras mais significativas associadas à classe3.
Fonte: Alceste, 2011.
65
Nessa imagem é possível verificar que objetos que vão até a boca de um
indivíduo contaminado pela aids, como o garfo e outros utensílios domésticos, são
considerados como fontes de contaminação. Além disso, a transmissibilidade da
aids é reforçada pela ideia de que esta ocorre por meio do contato físico entre duas
pessoas ao dormirem juntas, justificando que essa forma de contaminação da aids
encontra-se fortemente associada à quentura proveniente do calor do corpo.
Os idosos, ao falarem da aids, se ancoram em dimensões sociais,
principalmente ao tratarem do contágio apontando a proximidade das pessoas que
têm o vírus com os não portadores, estabelecendo crenças de sua transmissão pelo
ar e pelo calor do corpo.
{...} utilizar os mesmos objetos utilizados pela pessoa que tem aids, a
exemplo de pratos, colher, garfo, faca, copo, dentre outros, pode
pegar porque o negócio de coisas que a pessoa come e bebe, usa
roupa se utilizado pode pegar aids (Ent 5 – Homem, 70 anos,
aposentado, convive maritalmente, católico, ensino fundamental
incompleto, renda de 1 salário mínimo).
{...} a exemplo de pratos, colher, garfo, faca, copo dentre outros
porque ele não lavou aquela colher ou aquele garfo ou se for beber
água no copo tem que lavar, se não lavar pega (Ent 3 – mulher, 82
anos, aposentada, viúva, católica, ensino fundamental
incompleto, renda de1 salário mínimo)
{...} não pega aids se lavar com água, sabão e bucha; porque ela
lava, lava com sabão, Bombril essas coisas, aí não pega não (Ent. –
15, 60 anos, funcionária pública, divorciada, católica, ensino
médio incompleto, renda maior que 1 salário mínimo)
{...} lavar as coisas com água e sabão, aí seca aquela louca aí eu
acho mais difícil (Ent. 7 – Mulher, 75 anos, divorciada,
aposentada, protestante, analfabeta, renda de 1 salário mínimo)
{...} dormir na mesma cama de uma pessoa contaminada pelo vírus
da aids porque a quentura contamina; porque colocou na boca tem
que pegar qualquer coisa da rema da aids que vai par o intestino e
contamina (Ent. 26 – mulher, 75 anos, aposentada, viúva,
protestante, analfabeta, renda de 1 salário mínimo)
{...} pode pegar por qualquer uma quenturazinha porque pega
através do calor da pele; qualquer coisa ali, está contaminado e se
não lavar pega aids (Ent 27 – Mulher, 73 anos, aposentada,
casada, protestante, fundamental incompleto, renda 1 salário
mínimo)
66
{...} uma pessoa com aids espirrando ou tossindo perto de uma
pessoa que não tem aids porque o espirro passou para outro, pelo
nariz (Ent. 22 – Homem, 60 anos, lavrador, solteiro, católico,
ensino fundamental incompleto, renda de 1 salário mínimo)
{...} se pegar da suja e usar aí pega, mas coisa desse povo ninguém
deve usar (Ent. 28 – Homem, 78 anos, aposentado, convive
maritalmente, católico, analfabeto, renda de 1 salário mínimo)
{...} dormir na mesma cama de uma pessoa contaminada pelo vírus
da aids não pega (Ent. 29 – Homem, 69 anos, açougueiro, viúvo,
protestante, fundamental incompleto, renda maior que 1 salário
mínimo)
{...} saliva da boca, está ali naquela coisa, se não lavar e desinfetar
tudo, deve pegar aids; aquela quentura_da_cama; tendo acesso com
a boca do outro {...} (Ent. 19 – Homem, 74 anos, aposentado,
convive maritalmente, católico, fundamental incompleto, renda
de 1 salário mínimo)
Os conteúdos em que os idosos abordam informações quanto às formas de
contaminação do vírus são sugestivos de se inferir a existência por parte dos idosos
de atitudes negativas, reforçada por comportamentos de discriminação frente aos
portadores, admitindo comportamentos idênticos para doenças infectocontagiosas
quanto à necessidade de isolamento social do doente, como forma de prevenção da
disseminação da doença. Nesse sentido, pode-se identificar um baixo nível de
informação sobre as formas de prevenção da aids e de contaminação entre os
idosos estudados.
A Classe/categoria 4 – fatores causais da aids – compostas por 161 UCE,
contempla as falas em que os idosos da zona rural fazem alusão aos
causais da aids, com 118 palavras selecionadas(quadro 4).
fatores
67
Palavras
Frequência
chi2
Afetado (a)
33
05.38
Agulha
60
88.21
aids
294
16.22
Alicate
51
75.24
Amamentar
43
45.31
Aplicar
04
06.40
Barba
31
53.05
Barbeador
29
49.37
Cabelo
06
05.11
Contaminado (a)
167
72.16
Corte
08
08.19
Dia
14
22.95
Doou
04
06.40
Esterilização
59
81. 66
Faz
102
69.09
Ferida
36
50.90
Filho/criança
63
73.57
Furo
45
11.77
Gente
05
08.02
Lâmina
05
08.02
Leite
14
17.91
Limpeza
26
28.95
Mãe
50
53.59
Mama
10
16.07
Mão
29
34.11
Material
10
11.37
Medicação
30
27.15
Passando
75
15.37
Pé
04
06.40
Pessoa
195
103.90
Roca
14
22.95
Rosto
23
07.22
Sangue
68
38.13
Sangue contaminado 05
08.02
Sangue na veia
25
42.13
Sujo
09
09.77
Trabalho
14
22.95
Unha
50
73.25
Usar
51
11.95
Vírus
92
61.73
Quadro 4: Distribuição das palavras mais significativas segundo frequência e quiquadrado
na formação da classe/categoria 4. Fonte: Alceste, 2011
Os idosos atribuem diferentes causas de transmissão da aids, que se
encontram
diretamente
relacionadas
com
necessidade
da
adoção
de
comportamentos e práticas para pessoa (x²=103.90) que tem alguém próximo com
aids, a não compartilhar agulhas (x²=88.21), e alicate (x²=75.24) ao fazer a unha
(x²=73.57) ao usar o barbeador (x²=49.37) a lâmina (x²=08.02) e a seringa
68
contaminado(a) pelo vírus (x²=61.73) da aids (x²=72.16) ou por sangue (x²=38.13)
sem realizar a esterilização (x²=81.66) e/ou limpeza (x²=28.95) correto; a
transmissão do HIV se faz (x²=69.09) da mãe (x²=53,59) para o filho/criança
(x²=73,57), quando esta amamenta
o filho, devido à contaminação do leite
(x²=17.91) passando pela mama (x²=16.07) da mãe (x²=53,59); a transmissão do
HIV pode ocorrer através de ferida (x²=59.90) proveniente de corte (x²=08.19) no
rosto (x²=07.22) durante a realização da barba (x²=53.05), pois desse corte sai o
sangue contaminado (x²=08.02) pelo HIV ou pode ter algum tipo de micróbio no pé
(x²=06.40) no cabelo (x²=05.11) e pode passar a aids (x²=16.22); outra forma de
transmissão ocorre ao aplicar (x²= 06.40) sangue na veia (x²= 42.13) e ser afetado
(x²=05.38) pelo vírus (x²=61.73) da aids (x²=72.16); e, ao usar (x²=11.95) material
(x²=11.37) sujo (x²=09.77) ao compartilhar uma mesma agulha (x²=88.21) ou ao
aplicar (x²=06.40) medicação (x²=27.15).
Representações sociais da aids construídas pelos idosos sobre as diferentes
causas de aids nessa classe estabelece relação positiva com a classe 1 e 2, já que
estas reforçam a passagem da aids de uma pessoa para outra por meio dos fluidos
corporais (sangue, esperma e secreção vaginal) acrescentando nessa categoria a
existência de contaminação pelo sangue por meio dos objetos perfurocortantes e
hábitos de compartilhamento de materiais como barbeadores e alicate de unha.
Nesse sentido, concordamos com Brasil (2009b) quando este estabelece
que uma das causas da aids ocorre mediante a exposição das pessoas por meio
das práticas relacionadas com os seguintes fatores de risco: relações sexuais
desprotegidas; utilização de sangue ou seus derivados não testados ou não tratados
adequadamente; a recepção de órgãos ou sêmen de doadores não testados;
reutilização de seringas e agulhas, bem como o seu compartilhamento; acidente
ocupacional durante a manipulação de instrumentos perfurocortantes, contaminados
com sangue e secreções de pacientes; gestação em mulheres HIV positivo (fator de
risco para o concepto), presentes nas falas.
{...} ao fazer unha com alicate não esterilizado por causa do sangue
dele mesmo; se furar com uma agulha ou se ferir com algum objeto
que tenha sido contaminado por uma pessoa que tenha o vírus da
aids porque não limpou a agulha (Ent. 23 – Homem, 71 anos,
aposentado,
casado,
protestante,
ensino
fundamental
incompleto, renda de 1 salário mínimo)
69
{...} da mãe para o filho; uma mãe com aids amamentando uma
criança; uma mãe sem aids amamentando uma criança; ao tomar
sangue_na_veia; ao fazer a barba com um barbeador utilizado por
outra pessoa (Ent. 7 – Mulher, 75 anos, aposentada, divorciada,
protestante, analfabeta, renda 1 salário mínimo)
{...} mãe com aids amamentando uma criança por causa do sangue,
o leite vem do sangue dela, e ela já está com o
sangue_contaminado; tomar sangue_na_veia porque se o sangue
estiver contaminado passa; (...) ao fazer a barba com um barbeador
utilizado por outra pessoa porque no barbeador passou tirou, não
deixa pegar (Ent. 21 – Homem, 77 anos, aposentado, casado,
católico, ensino fundamental incompleto, renda de 1 salário
mínimo)
{...} fazer pode ferir alguma coisinha no pé da unha, vir sangue pro
alicate e colocar no outro; ao se furar com uma agulha ou se ferir
com algum objeto que tenha sido contaminado por uma pessoa que
tenha o vírus da aids porque aquela agulha foi para o sangue da
pessoa; (...)só pegou na mão; ao usar a mesma agulha entre varias
pessoas para tomar medicação; pegar na mão de uma pessoa
contaminada pelo vírus da aids (Ent. 13 – Mulher, 64 anos, do lar,
viúva, protestante, ensino fundamental incompleto, sem renda)
{...} não tem como pegar pois está limpo; ir para a roça e trabalhar o
dia todo com uma pessoa que tem aids porque um está trabalhando
para um canto e outro para o outro aí nao pega não (Ent. 5 –
Mulher, 70 anos, aposentada, convive maritalmente, protestante,
ensino fundamental incompleto, renda de 1 salário mínimo)
{...} da mãe para o filho pega sim a criança nasce com aids, porque a
mãe esta doente e assim criança que está nela também vai estar
doente; tomou o leite contaminado da mãe; ao tomar
sangue_na_veia (Ent.17 – Mulher, 77 anos, aposentada, convive
maritalmente, protestante, analfabeta, renda de 1 salário
mínimo)
{...} se ferir com algum objeto que tenha sido contaminado por uma
pessoa que tenha o vírus da aids pega porque está contaminado o
material (Ent. 20 – Homem, 65 anos, funcionário público, casado,
protestante, ensino médio completo, renda maior que 1 salário
mínimo)
{...} quando se pega na mão de uma pessoa contaminada pelo vírus
da aids acho que não pega porque não tem ferimento aberto; (...)
pessoa que tenha o vírus da aids pega aids porque esta contaminado
e não fez a limpeza; (...) pra lá pro canto dele, a pessoa vai pra outro,
a pessoa não tem contato com ele, ele lá e a pessoa cá, aí não pega;
(Ent. 19 – Homem, 74 anos, aposentado, convive maritalmente,
católico, fundamental incompleto, renda de 1 salário mínimo)
70
É importante ressaltar que ao se ancorar em dimensões psicológicas para
falar da aids os idosos excluem o trabalho, as relações socioafetivas e o convívio
social, indicando para os portadores a adoção de comportamentos de exclusão e
isolamento, para evitar a transmissão. Para tanto, é necessário que esses se
mantenham longe de outras pessoas enquanto realizam suas atividades diárias no
trabalho, reforçando os dados encontrados na classe 3.
Figura 5: Imagens da aids segundo as palavras mais significativas associadas à classe 4.
Fonte: Alceste, 2011.
As imagens (figura 5) atribuídas pelos idosos ao HIV/aids salientam práticas
diretamente relacionadas com práticas pessoais, presentes no compartilhamento de
agulhas, alicates, seringas, barbeadores dentre outros materiais contaminados pelo
sangue com HIV, assim como a transmissão sanguínea propicia a disseminação do
próprio vírus; salientando de forma menos enfática a transmissão vertical da aids por
meio da amamentação.
Dessa forma, corroboramos com Tura (2005a, p. 21), ao afirmar que as
representações sociais “são saberes utilizados pelas pessoas em sua vida cotidiana
e comportam visões compartilhadas pelos grupos, que determinam condutas
desejáveis ou admitidas num campo de comunicação povoado de idéias e valores”.
Para o referido autor as representações sociais “modelam o mundo ou
tornam familiar aquilo que é estranho ou distante, compatibilizando diferentes
possibilidades linguísticas e intelectuais e possibilitando a constituição de uma lógica
e organização da vida cotidiana” (p. 21).
71
4.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo procurou conhecer as representações sociais sobre HIV/aids,
construídas por idosos residentes em zona rural frente à vulnerabilidade, e identificar
as formas de transmissão que os idosos apontaram como forma de contaminação
pelo HIV: práticas sexuais com penetração sem a utilização da camisinha. Os
mesmos ressaltam, ainda, que a utilização da camisinha é umas das formas mais
seguras de prevenir a transmissão do HIV nas relações sexuais, seja envolvendo as
práticas homossexuais, heterossexuais ou bissexuais, independente de sexo e
idade.
Entretanto, alguns idosos ainda representam a aids como doença contagiosa
que atinge principalmente grupo de risco (homossexuais), como no início da
pandemia, acreditando que o fato de serem heterossexuais e encontrarem-se com
idade avançada diminui os riscos de adquirirem o vírus da aids através de relações
sexuais desprotegidas, o que os coloca em situação de vulnerabilidade à aquisição
do HIV.
A aids, enquanto doença transmissível e incurável, se dissemina entre os
seres humanos, dentre eles os idosos, com maior significância nos últimos anos, por
meio do contato com fluídos corpóreos contaminados pelo HIV, a exemplo do
sangue, leite materno, secreção vaginal e esperma. As formas de contatos desses
fluídos perpassam pelas ações adotadas por estes seres humanos, como a prática
da relação sexual desprotegida, seja ela entre homens e mulheres, mulheres e
mulheres ou entre homens e homens; a hemotransfusão; a utilização de materiais
contaminados, como alicate de unha e agulhas; assim como durante o período
gestacional, momento de parto e pelo aleitamento materno, sendo esses três últimos
considerados como transmissão vertical, ou seja, passagem do vírus da mãe para o
concepto ou filho.
Identificaram-se representações sociais sobre o HIV, sendo a forma de
contágio associada às práticas sexuais sem proteção a principal. Os idosos
enfatizam que na realização do sexo oral ocorre o contato da mucosa oral com
esperma ou secreção vaginal, o que determina a passagem do vírus de um indivíduo
para o outro.
72
Ainda, no que se refere a tais tipos de contágio, os idosos da zona rural
afirmaram que o vírus da aids pode ser transmitido através do beijo, ressaltando que
o beijo na boca (principalmente quando existe contato de sangue com ferimentos na
cavidade oral das pessoas que estão se beijando) apresenta maior probabilidade de
contágio do que o beijo no rosto, já que nesse último acontece apenas o contato
com a pele dos envolvidos no ato. Ressalta-se ainda nessa classe que os idosos
apontaram a possibilidade da transmissão vertical do vírus da aids como forma de
contágio.
Nesse sentido, as representações que os idosos da zona rural têm acerca
das formas de contágio reforçam a certeza de exposição destes a contaminação
pelo HIV, quando não adotam práticas de sexo seguro.
Os idosos descrevem/informam formas de contágio, centrados em crenças
que se refere à transmissão do HIV, a exemplo do compartilhamento de objetos,
tosse e o espiro dos portadores do vírus da aids, assim como as relações íntimas
sem contato sexual, como dormir na mesma cama, compartilhando dos mesmos
lençóis e sentindo o calor de uma pessoa acometida pelo HIV. Os mesmos
apontaram também que água e sabão são produtos que podem destruir o vírus da
aids, tornando os objetos utilizados pelos soropositivos limpos.
Assim, estes resultados apresentam posicionamentos ou atitudes negativas
frente às formas de prevenção da aids, já que a descrição sobre suas formas de
contágio, nessa categoria, ancora-se em crenças que não diminuem a exposição
dos idosos ao vírus e desenvolvem nos mesmos a cultura da discriminação, fato
observado também no comportamento social dos seres humanos frente às doenças
infecto-contagiosas.
As causas descritas pelos idosos, em particular, reforçam a transmissão do
HIV entre os seres humanos através de fluídos corporais (sangue, esperma e
secreção vaginal), acrescentando nessa categoria a transmissão da aids por meio
de objetos perfurocortantes e hábitos de compartilhamento de materiais, como
barbeadores e alicate de unha.
Assim, percebemos que os idosos da zona rural têm conhecimento quanto
às formas de contágio da aids, porém, é necessário estabelecer estratégias de
educação em saúde para este grupo de pertença, no sentido de (re)elaboração das
representações sociais sobre aids e suas formas de transmissão do HIV, levando-
73
os a diminuir o (pré)conceito para com as pessoas soropositivas, assim como
tornando esses sujeitos menos vulneráveis à contaminação pelo HIV.
Frente a estes resultados e compreendendo que toda doença segue um
desenvolvimento próprio, conhecido como história natural da doença, a qual pode
ser descrita como conjunto de processos interativos que criam estímulo patológico
no meio ambiente, passando pela resposta do homem ao estímulo até as alterações
que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte, Leavell e Clark (1979 apud
ROUQUAYROL; GOLDBAUM, 2003) afirmam que é
possível traçar ações que
promovam e diminuam a vulnerabilidade ao HIV/aids pelos idosos.
Assim, as ações de saúde voltadas para os princípios da vigilância à saúde
proporcionam suporte técnico para o agir profissional embasado não só no princípio
do tratamento da doença, mas na promoção, proteção e recuperação da saúde.
Diante desse contexto, percebemos que ações de saúde podem ser
desenvolvidas para a redução da vulnerabilidade ao HIV/aids pelos idosos, uma vez
que no estabelecimento dessa estratégia é possível trabalhar com vistas ao controle
das causas, dos riscos e danos provocados por uma doença ou agravo.
No caso específico da vulnerabilidade ao HIV/aids em idosos, é possível
adotarmos ações que se intercalam entre as três formas de controle de uma doença
ou agravo, pois nessa situação é necessário que sejam estabelecidas ações de
saúde que busquem divulgar as condições que podem expor os idosos à
possibilidade de contaminar-se com o HIV, assim como é possível trabalhar de
forma preventiva, identificando os indivíduos soropositivos e estabelecendo para
com estes não só ações terapêuticas voltadas para a manutenção da sua saúde,
mas também estabelecer processos educativos com vista a informar aos indivíduos
infectados quanto às possibilidades de contaminarem outros indivíduos, assim como
incentivando o uso de preservativo e a diminuição no número de parcerias sexuais.
Ao entender que as ações programáticas em saúde possibilitam ao indivíduo
adentrar a um sistema de saúde territorializado por meio de uma oferta organizada,
os profissionais de saúde devem oferecer ao idoso atendimento na rede básica de
saúde ou na rede hospitalar abordando, identificando e atuando frente aos aspectos
relacionados à sexualidade e/ou práticas sexuais, contribuindo dessa forma, para
diminuir a vulnerabilidade destes indivíduos ao HIV/aids.
74
Assim como, devem ser realizadas investigações clínicas, atentando para os
sinais e sintomas que esses indivíduos estão apresentando. Essas informações
serão úteis para realizar a diferenciação diagnóstica de uma possível infecção pelo
HIV ou outra doença qualquer.
Ademais, as ações de promoção a saúde por meio de políticas públicas
transetoriais e intervenção social organizada são importantes para controlar as
causas de uma doença. Nesse sentido é necessário que o profissional de saúde
conheça os determinantes socioambientais que poderão colocar um indivíduo na
faixa etária acima dos 60 anos em situação de vulnerabilidade ao HIV/aids.
Vale salientar que nos países ocidentais a atenção voltada para a saúde do
idoso ainda encontra-se elementar, dentre eles o Brasil, pois, apesar de os idosos
serem amparados por políticas públicas específicas, na práxis muito pouco tem sido
realizado para garantir os diretos destes.
Nesse sentido, é possível percebermos que o controle das DST/aids nessa
faixa etária é muito pequeno, o que leva a aumentar consideravelmente o número de
pessoas idosas acometidas por essas doenças. Esse fato é preocupante para as
autoridades sanitárias em saúde pública, uma vez que esses indivíduos formam um
grupo de pessoas com características semelhantes no que se refere às suas
respostas imunológicas e de recuperação das doenças devido ao processo
fisiológico do envelhecimento, o que poderá levar esses indivíduos ao óbito em um
período de tempo inferior ao daqueles que se descobrem soropositivos ainda em
idade adulta.
Assim, torna-se necessário que o sujeito responsável por manter a
assistência, voltada para a prevenção da aids, ao indivíduo idoso, conheça o
processo da determinação social da doença em que esses indivíduos encontram-se
inseridos e, por meio destes conhecimentos, sejam capazes de estabelecer ações
que promovam a saúde desses indivíduos e previnam a contaminação dos mesmos
com o HIV. Essas ações podem ir desde as ações educativas em sala de espera em
unidades básicas de saúde até ações de mobilização social de massa projetada
pelos meios de comunicação.
Enfim, afirmamos que os objetivos dessa pesquisa foram alcançados, sendo
possível reafirmar a importância das implicações das representações sociais na
vulnerabilidade dos idosos da zona rural, no que tange às formas de contágio da
aids.
75
Nesse sentido Silva et al (2003, p. 123) esclarece que
a partir dos modelos explicativos para os fenômenos, em saúde, é
possível se identificar diferentes causas e estratégias de
enfrentamento utilizadas, tanto pelos usuários/clientes, quanto pelos
profissionais de saúde, frente ao processo saúde-doença, apontando
as representações organizadas em conjunto estruturados ligados ao
sistema de crenças grupais, fruto das experiências de seus membros
– um determinante importante a ser concebido.
Esperamos que este estudo possibilite um repensar para implementação de
ações de cuidados, em particular com ênfase nas práticas educativas no campo do
ensino, pesquisa e extensão voltadas para esse grupo de pertença em suas
necessidades de saúde, sobretudo em relação à prevenção do HIV/aids.
Salientamos que é escasso o número de pesquisas que aborda as
representações sociais de idosos sobre a aids e suas formas de contágio, sendo
esta uma das pesquisa pioneiras no campo das representações sociais envolvendo
aids e idosos da zona rural, suas formas de contágio e vulnerabilidade. Assim,
espera-se que este conhecimento não se esgote nessa dissertação, mas que se
torne “mola propulsora” para estudos que envolvam esta temática, visto que
algumas limitações foram encontradas no transcorrer desse estudo, principalmente a
dificuldade de acesso geográfico e resistência da população estudada em aceitar
sua participação nessa pesquisa, o que reduziu o número de informantes.
76
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83
APÊNDICES
84
APENDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB
Autorizada pelo Decreto Estadual nº 7344 de 27.05.98
Pós-Graduação Stricto Sensu (Mestrado) em Enfermagem e Saúde
___________________________________________________________________
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Resolução nº 196, de 10 de Outubro de 1996, sendo o Conselho Nacional de Saúde.
O presente termo em atendimento à Resolução 196/96, destina-se a
esclarecer ao participante da pesquisa intitulada “vulnerabilidade ao HIV/aids:
representações sociais de idosos residentes em zona rural”, sob
responsabilidade dos pesquisadores (Márcio Pereira Lôbo e Maria Adelaide Silva
Paredes Moreira), do Programa de Pós-graduação Stricto sensu em enfermagem e
Saúde (nível mestrado), do Departamento de Saúde, os seguintes aspectos:
Objetivos:
Conhecer as representações sociais sobre HIV/aids construídas por idosos
residentes em zona rural frente a vulnerabilidade e identificar as formas de
transmissão do HIV.
Metodologia:
Esta pesquisa consiste em um estudo do tipo exploratório, destacando os
aspectos quantitativos e qualitativos, com multimétodos de coleta de dados e
multitécnicas de análise, para apreensão e analise das representações sociais de
vulnerabilidade ao HIV/AIDS em idosos da zona rural baseado na Teoria das
Representações Sociais de Moscovici (1978).
Integrarão como cenários desta pesquisa as Unidades de Saúde da
Família com equipe única que situam na Zona Rural da Cidade de Jequié – BA.
Os sujeitos do estudo serão 30 idosos que vivem na zona rural e encontram-se
cadastrados em Unidades de Saúde da Família com equipe única, a partir de 60
anos de idade, de ambos os sexos que aceitem participar do estudo e tenham
condições de responder aos instrumentos, sendo que tamanho da amostra
poderá variar, já que adotaremos o critério de saturação de dados. Salientamos
que será realizado previamente a aplicação do teste Mini Mental State Exam
(Folstein et al, 1975), com vista a verificar se este não apresenta déficit
congnitivo o impeça de participar do estudo.
Será utilizado como estratégia de coleta de dados as técnicas projetivas
fundamentas pelo Teste de Associação Livre de Palavras (TALP), assim como, a
entrevista individual semi estruturada. Os dados coletados serão processados
utilizando-se de programas de computadores e interpretados a luz da Teoria das
Representações Sociais.
85
Justificativa e Relevância:
A realização desse estudo torna-se relevante e justifica-se pela possibilidade
de que por meio dos resultados obtidos, seja possível apreender as representações
sociais de idosos que se encontram em zona rural sobre as formas de contagio e as
condições de vulnerabilidade destes indivíduos singularmente ao HIV/aids, sendo
possível a partir dessas representações traçarmos estratégias de prevenção desta
doença entre essa população, visto que é salutar que o número de idosos estão
aumentando em nosso país e neles se encontra enraizado diversos conceitos
culturais e sociais acerca da sexualidade e da transmissão das doenças, sendo
necessário, conhecer as concepções de senso comum sobre as formas de contágio
da aids para daí planejarmos eficazmente as ações voltadas a promoção da saúde.
Participação:
Toda participação é voluntária, não há penalidades para alguém que decida
não participar desse estudo, em qualquer época, podendo dessa forma retirar-se da
participação da pesquisa, sem correr riscos e sem prejuízo pessoal.
Desconfortos e riscos:
O presente estudo não trará riscos para a integridade física ou moral, porém,
o informante poderá sentir-se constrangido por falar de temas conflitantes
envolvendo saúde sexual e sexualidade. Contudo os mesmos terão livre escolha de
manter-se participando ou negar a sua participação no estudo.
Confidencialidade do estudo:
Os registros de sua participação serão mantidos em sigilo. Se qualquer
relatório ou publicação resultar deste trabalho, a identificação do participante não
será revelada. Resultados serão relatados de forma sumariada e a pessoa não será
identificada, garantindo assim seu anonimato
Benefícios:
Os benefícios em participar desse estudo estão na relevância do tema
voltado para a população idosa, no conhecimento sobre as vulnerabilidades ao
HIV/AIDS e na adoção de práticas preventivas à infecção pelo HIV e adoecimento
pela AIDS, bem como contribuir na elaboração/implementação de políticas públicas
voltadas para a saúde na Terceira Idade.
Dano advindo da pesquisa:
Se houver algum dano decorrente desse estudo, o tratamento será oferecido
sem ônus para o participante sendo providenciado pelas pesquisadores
responsáveis, Maria Adelaide Silva Paredes Moreira – docente e pelo discente
Márcio Pereira Lôbo.
Garantia de esclarecimento:
Será garantido aos sujeitos da pesquisa qualquer esclarecimento adicional
quanto a sua participação no estudo.
86
Participação Voluntária:
Toda a participação dos sujeitos da pesquisa no projeto é voluntária e livre
de qualquer forma de remuneração e que o mesmo pode retirar seu consentimento
em participar da pesquisa a qualquer momento.
Consentimento para participação:
Eu estou de acordo com a participação no estudo descrito acima. Eu fui
devidamente esclarecido quanto os objetivos da pesquisa, aos procedimentos aos
quais serei submetido e os possíveis riscos envolvidos na minha participação. Os
pesquisadores me garantiram disponibilizar qualquer esclarecimento adicional que
eu venha solicitar durante o curso da pesquisa e o direito de desistir da participação
em qualquer momento, sem que a minha desistência implique em qualquer prejuízo
à minha pessoa ou à minha família, sendo garantido anonimato e o sigilo dos dados
referentes a minha identificação, bem como de que a minha participação neste
estudo não me trará nenhum benefício econômico.
Eu,
___________________________________________________,
aceito
livremente participar do estudo intitulado “vulnerabilidade ao HIV/aids:
representações sociais de idosos residentes em zona rural,” desenvolvido
pelo mestrando, Márcio Pereira Lôbo, sob a orientação da Profª. Drª. Maria
Adelaide Silva Paredes Moreira, da Universidade estadual do Sudoeste da
Bahia (UESB).
Nome do Participante_____________________________________________
Nome da pessoa ou responsável legal________________________________
Polegar direito
COMPROMISSO DO PESQUISADOR
Eu discuti as questões acima apresentadas com cada participante do estudo. É
minha opinião que cada indivíduo entenda os riscos, benefícios e obrigações
relacionadas a esta pesquisa.
______________________________________________Jequié, Data: __/__/__
Assinatura do Pesquisador
Para maiores informações, pode entrar em contato com:
Profª. Drª. Maria Adelaide Silva Paredes Moreira. Fone: (73) 3525-5534 –
[email protected]
Márcio Pereira Lôbo:. Fone: (73) 8801-6566 [email protected]
87
APENDICE B: INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS.
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB
Autorizada pelo Decreto Estadual nº 7344 de 27.05.98
Pós-Graduação Stricto Sensu (Mestrado) em Enfermagem e Saúde
___________________________________________________________________
Estamos realizando uma pesquisa sobre aids, representações sociais e idoso, e
gostaríamos de contar com sua participação respondendo algumas perguntas. As
respostas são anônimas e confidenciais e destinam-se exclusivamente para fins de
investigação científica. Não há respostas certas ou erradas. Interessa-nos a sua
opinião e resposta espontânea e individual.
Muito Obrigado por sua Colaboração.
Entrevista n ___ Data: ___/___/2011. Horário inicial: ___h___min / Final ___h___min
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Sexo: ( )
M - Masculino / F - Feminino
Idade: ____
Ocupação: ____________________
Estado Civil: ( )
Solteiro(a) / 2 – Casado(a) / 3 – divorciado(a) / 4 - convive maritalmente / 5 –
viúvo(a)
Religião: ( )
1 - Católico / 2 - Protestante / 3 - Espírita / 4 - 0utro ______________________
Grau de Escolaridade: ( )
1 – 1ª a 4ª série incompleta do Ensino Fundamental (EF) / 2 – 4ª série completa do
EF 3 – 5ª a 8ª série incompleta do EF / 4 – EF completo / 5 – Ensino Médio (EM)
incompleto / 6 – Ensino médio completo / 7 – Educação superior incompleta / 8 –
Educação superior completa / 9 – pós graduado __________________________
Renda Pessoal: ( )
1-Menos de 1 salário / 2 - 1 salário / 3 - Mais de um salário: quanto _____ 4- Sem
renda
Renda Familiar: ( )
1-Menos de 1 salário / 2 - 1 salário / 3 - Mais de um salário: quanto _____________
Como o senhor(a) adquiri informações para se prevenir de doenças
( ) TV / ( ) Rádio / ( ) computador (internet) / ( ) Jornal / ( ) serviço de saúde
( ) com os vizinhos / ( ) com profissionais (equipe de enfermagem, médico, ACS)
da USF / ( ) conversas com vizinhos e parentes / ( ) outros ___________________
88
A – Estabeleça como verdadeiro (V) ou falso (F) as assertivas referentes às formas
de pegar o vírus da aids e justifique sua resposta.
1. ( ) Transar sem camisinha
2. ( ) Prática de sexo com penetração entre um homem e uma mulher sem
camisinha
3. ( ) Prática de sexo com penetração entre um homem e uma mulher com
camisinha
4. ( ) Prática de sexo com penetração entre um homem e uma mulher idosa sem
camisinha
5. ( ) Prática de sexo com penetração entre um homem e uma mulher idosa com
camisinha
6. ( ) Prática de sexo com penetração entre dois homens sem camisinha
7. ( ) Prática de sexo com penetração entre dois homens com camisinha
8. ( ) Prática de sexo com penetração entre dois homens idosos sem camisinha
9. ( ) Prática de sexo com penetração entre dois homens idosos com camisinha
10. ( ) Prática de sexo entre duas mulheres sem proteção
11. ( ) Prática de sexo entre duas mulheres com proteção
12. ( ) Prática de sexo entre duas mulheres idosas sem proteção
13. ( ) Prática de sexo entre duas mulheres idosas com proteção
14. ( ) Chupar o pênis de um homem sem camisinha
15. ( ) Chupar a vagina de uma mulher sem proteção
16. ( ) Beijo na boca
17. ( ) Beijo no rosto
18. ( ) Da mãe para o filho
19. ( ) Uma mãe com aids amamentando uma criança
20. ( ) Uma mãe sem aids amamentando uma criança
21. ( ) Tomar sangue na veia
22. ( ) Fazer a barba com um barbeador utilizado por outra pessoa
23. ( ) Fazer unhas com alicate esterilizados
24. ( ) Fazer unha com alicate não esterilizado
25. ( ) Se furar com uma agulha ou se ferir com algum objeto que tenha sido
contaminado por uma pessoa que tenha o vírus da aids
26. ( ) Usar a mesma agulha entre varias pessoas para tomar medicação
27. ( ) Pegar na mão de uma pessoa contaminada pelo vírus da aids
28. ( ) Dormir na mesma cama de uma pessoa contaminada pelo vírus da aids
29. ( ) Utilizar os mesmos objetos utilizados pela pessoa que tem aids a exemplo
de pratos, colher, garfo, faca, copo dentre outros
30. ( ) Ir para a roça e trabalha o dia todo com uma pessoa que tem aids
31. ( ) fazer sexo pelo anus entre dois homens sem camisinha
32. ( ) Fazer sexo pelo anus entre um homem e uma mulher com camisinha
33. ( ) uma pessoa com aids espirrando ou tossindo perto de uma pessoa que não
tem aids.
B - O que o(a) senhor(a) sabe sobre a aids?
C - Para o(a) senhor(a) quem é que pode ter aids? Por quê?
89
ANEXOS
90
ANEXO A: MINI MENTAL EXAMINATION (MMSE)
91
92
ANEXO B: PARECER CONSUBSTANCIADO EMITIDO PELO CEP
93
ANEXO C: OFICIO DE APROVAÇÃO DA PESQUISA PELO CEP
94
ANEXO D: OFICIO SOLICITANDO LIBERAÇÃO DE CAMPO DE PESQUISA
95
ANEXO E: OFICIO APROVANDO A LIBERAÇÃO DE CAMPO DE PESQUISA
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