Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal Sistema de Información Científica Paula Meyer Soares Passanezi Os investimentos em saúde preventiva no Brasil e seus efeitos na expansão do produto da economia Saúde Coletiva, vol. 4, núm. 16, julho-agosto, 2007, pp. 124-130, Editorial Bolina Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84201607 Saúde Coletiva, ISSN (Versão impressa): 1806-3365 [email protected] Editorial Bolina Brasil Como citar este artigo Fascículo completo Mais informações do artigo Site da revista www.redalyc.org Projeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto economia da saúde Passanezi PMS. Os investimentos em saúde preventiva no Brasil e seus efeitos na expansão do produto da economia Os investimentos em saúde preventiva no Brasil e seus efeitos na expansão do produto da economia Este artigo apresenta algumas considerações acerca da reestruturação das políticas sociais de saúde na América Latina e seus efeitos na trajetória de crescimento da economia, inclusive de países da América Latina. O objetivo deste trabalho é analisar os impactos dos investimentos em prevenção na trajetória de crescimento econômico utilizando informações tipo cross-section e do tipo time-series aplicadas a 144 países, inclusive do continente latino americano durante o período de 1990-1998. A base analítica do estudo é o modelo de Mankiw, Romer e Weil (1992). Os resultados confirmam a hipótese de que os gastos em saúde exercem uma influência significativa sobre o crescimento econômico. Descritores: Crescimento econômico, América Latina, Políticas sociais de saúde. This article discusses the restructuring of welfare policies in Latin America and its effects in the economic growth of the region. The purpose of the paper is to examine the impact of social investments in prevention in economic growth utilizing cross-section and time-series information for 144 countries, including Latin American countries during the period 19901998. The analytical basis is the Mankiw, Romer and Weil (1992) model of growth. The results confirmed the hypothesis of the positive influence of health investments on economic growth. Descriptors: Social representation, Family, Burning. Este artículo discute la reestructuración de políticas sociales de salud en América Latina y sus efectos en el crecimiento económico de la región. El propósito del papel es examinar el impacto de los investimientos en prevención y las inversiones sociales en crecimiento económico que utiliza cruz-sección e información del tiempo-serie para 144 países, incluso los países latino americanos durante el periodo 1990-1998. La base analítica es el modelo de Mankiw, Romer y Weil (1992). Los resultados confirmaron la hipótesis de la influencia positiva de inversiones de salud en el crecimiento económico. Descriptores: Representación social, Familia, Quemadura. PAULA MEYER SOARES PASSANEZI Doutora em Economia. Coordenadora do Curso de Ciências Econômicas da Uninove. [email protected] Recebido: 08/11/2006 Aprovado: 02/07/2007 INTRODUÇÃO m sua literatura, a Economia da Saúde destaca a relevância da política de saúde nos sistemas econômicos sob duas óticas: como parte essencial do bem-estar e pelo fato dos gastos se justificarem em termos puramente econômicos. Isto leva à necessidade de regulamentação da distribuição dos recursos, seja pelo setor privado, seja pelo setor público, este último a corrigir as imperfeições do primeiro. O aspecto econômico da distribuição dos recursos de saúde E efetiva-se de dois modos: pelo modo preventivo e pelo modo curativo. A literatura da Economia da Saúde, porém, contém uma lacuna quanto à análise mais profunda deste segmento fundamental a ser considerado: a prevenção como forma de investimento na produtividade e no crescimento da economia. Percebemos que diante das questões de saúde das populações pobres, tornam-se necessários investimentos substanciais nos bens públicos globais, nos quais se incluem o aumento da coleta e análise de dados epidemiológicos, a prevenção às do- economia da saúde Passanezi PMS. Os investimentos em saúde preventiva no Brasil e seus efeitos na expansão do produto da economia enças infecciosas e o desenvolvimento da pesquisa acerca das doenças concentradas nos países pobres (na maioria, mas não exclusivamente, as doenças tropicais). Estes gastos são caracterizados como preventivos. Em termos per capita, o melhor uso dos recursos de saúde pública em prevenção - justamente por seu caráter de bem público e devendo, portanto implicar a não-exclusão e a universalização – alcança resultados mais abrangentes, além de apresentarse como alternativa menos onerosa em relação aos gastos em saúde curativa. Por essa razão, os recursos destinados à saúde preventiva são passíveis de análise profunda, uma vez que seu retorno impacta positivamente no crescimento e no desenvolvimento da economia. O presente trabalho tem como objetivo discutir e fazer uma reflexão sobre os efeitos dos investimentos em saúde de um determinado grupo de países, inclusive países da América Latina, levando em consideração recentes avanços teóricos. A EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE NA AMÉRICA LATINA E A RELEVÂNCIA DOS INVESTIMENTOS EM SAÚDE NO CRESCIMENTO ECONÔMICO A literatura que aborda a questão do crescimento econômico mento e o desenvolvimento2. Paradoxalmente, neste e em outros e os efeitos dos investimentos em capital humano é bastante modelos, considera-se a formação do capital humano como uma ampla. No campo empírico, muitos trabalhos procuraram testar fonte de crescimento literalmente embutida nos indivíduos, os os pressupostos das teorias de crescimento econômico, com o quais podem ofertá-lo se forem vivazes e saudáveis. Desta maobjetivo de desenvolver um esboço dos principais fatores que neira, a acepção da formação de capital humano como fonte de determinam o crescimento econômico destes países. crescimento também garante uma visão mais próxima de como Na área de saúde, essas questões são amplamente discutimudanças no estado de saúde da população podem influenciar das por muitos autores, estes compartilham a idéia de que a o crescimento e, em conseqüência, o bem-estar. condição primordial para o crescimento econômico aflorar é a Por sua vez, Grossman observa que a saúde contribui existência de um ambiente macroeconômico estável e políticas para o conforto e a performance econômica de várias forsociais eficazes, que possibilitem o aumento da produtividade mas. Segundo o autor, o aumento da produtividade está dida mão-de-obra empregada1-3. Muita destas medidas dita “estaretamente relacionado a política de concessão de recursos à área de saúde3. Existe, portanto, um trade-off bilizadoras” falharam, como os planos de combate à inflação nos anos 80. direto entre a saúde e a acumulação de capiA trajetória de crescimento econômico de tal humano. alguns países da América Latina, remete-nos Nos anos 80, por exemplo, uma profunda a uma reflexão acerca de outras importantes crise econômica abateu vários países da Amévariáveis, que até então, não tinham sido conrica Latina e o que, por sua vez, refletiu imesideradas, como os investimentos em progradiatamente na condução das políticas sociais mas sociais de saúde e de educação coesos e e de saúde, resultando na adoção de reformas abrangentes. que tem como princípios norteadores, a busca A relevância do tratamento, dado a medidas da eficiência de um lado e o aumento da jussanitárias e de prevenção de doenças ao invés da tiça social do outro4. resolução propriamente dita e apontada por alTais reformas suscitaram a modificação dos “O ASPECTO ECONÔMICO guns autores1. Os custos de prevenção demonstracritérios e prioridades da política econômica em geral, principalmente a substituir a conram uma tendência de elevação na proporção do DA DISTRIBUIÇÃO DOS REaumento da idade da população, caracterizando o CURSOS DE SAÚDE EFETIVA- cepção paternalista por um Estado subsidiário4. investimento em saúde como um fator de extrema SE DE DOIS MODOS: PELO Ao Estado, caberia a função relativa ao finanimportância ao crescimento econômico. ciamento, a regulação e o desenvolvimento soMODO PREVENTIVO E PELO cial. A expansão da rede de serviços de saúde O modelo de Lucas destaca a importância MODO CURATIVO” da formação do capital umano para o crescicaberia à iniciativa privada. economia da saúde Passanezi PMS. Os investimentos em saúde preventiva no Brasil e seus efeitos na expansão do produto da economia MODELO DE CRESCIMENTO COM CAPITAL HUMANO APLINa verdade, os sistemas nacionais de saúde latino-americaCADO A ECONOMIA DA SAÚDE nos se desenvolveram de forma desarticulada e desconexadas O artigo “Contribution to the Empirics of Economic Growth” às necessidades de sua população5. A configuração destes sisde autores da área9 faz uma avaliação empírica do Modelo temas se deu sem nenhum planejamento prévio, a criação de de Solow (1946). Observou-se que o modelo apresenta um algumas estruturas refletiam respostas de grupos específicos da bom desempenho, mas que este poderia ser melhorado com população a necessidades conjunturais de saúde. a inclusão do capital humano – ou seja, de mão-de-obra No caso do Brasil, Passanezi, aponta que desde a criação qualificada e de diferentes níveis de instrução que podem dos institutos de previdência e saúde, os interesses de categorias contribuir de modo diferenciado na equação final do cresciprofissionais e grupos específicos da sociedade estiveram lado a mento econômico. lado na configuração destas instituições e das leis que regem os Sendo assim, podemos reescrever o modelo de Solow com serviços de previdência e de saúde6. A necessidade de manutencapital humano aplicado à economia da saúde, mantendo as ção de bases partidárias favoreceu a formação destas alianças. premissas básicas do modelo de que as taxas de poupança, Diante disso, alguns países implementaram programas parcrescimento populacional e progresso tecnológico são exóciais de descentralização da saúde, observando-se as demandas genas ao modelo. A função de produção adotada no modelo principais de concessão de serviços de saúde. Os resultados possui rendimentos decrescentes de escala, e a remuneração oriundos dessa política descentralizadora, culminou na formados fatores de produção é dada pelos seus respectivos produtos ção de um sistema de saúde plural e sem foco específico. marginais . Para o referido ensaio adotaremos a função de proComo mostra Bianquin e Silva7 “Em geral a oferta de servidução Cobb-Douglas em fases. ços de saúde terminou organizando-se em torno de um sisteA função de produção é (1) Y(t) = K(t) (A(t)H(t))1- 0< < ma de prestação de serviços, composto por: um setor público que atendia a uma população mais vulnerável; e um sistema 1, Y(t): produto em t, K(t) : estoque de capital em t, H(t) : o trade seguros de saúde, que em alguns casos se balho qualificado. transformaria de um sistema coletivo para um Sendo A(t) = f(S), representa a tecnologia sistema de caráter individual (Chile, Argentina aumentada de trabalho e está diretamente e Colômbia).” relacionada ao volume de investimentos reaAs diferenças nas estruturas organizaciolizados em saúde, expresso por S. nais de saúde refletem os gastos públicos reaA acumulação de capital humano ocorre lizados na área de saúde. Isso se deve, sobretambém a medida em que as pessoas deditudo, a desarticulação dos sistemas de saúde, cam mais tempo ao aprendizado de novas a falta de integração e a coordenação entre os “EM TERMOS PER CAPITA, O habilidades, em vez de trabalhar. Denotemos diversos subsistemas (privado, público e de como u a fração de tempo em que as pessoMELHOR USO DOS RECURSOS DE as dedicam ao aprendizado de habilidades, seguridade social). A pluralidade de relações entre subsisteSAÚDE PÚBLICA EM PREVEN- e como L a quantidade de trabalho usado na mas acabaram originando sistemas de saúde ÇÃO - JUSTAMENTE POR SEU produção. fragmentados, o que suscitou a adoção das A mão-de-obra não-qualificada que está CARÁTER DE BEM PÚBLICO E aprendendo habilidades durante o tempo reformas mencionadas anteriormente7. A reestruturação do sistema de saúde a partir de DEVENDO, PORTANTO IMPLICAR u gera o trabalho qualificado H de acordo uma reformulação profunda induziu resultaA NÃO-EXCLUSÃO E A UNIVER- com: (2) H (t) = e n/uL(t). dos diversos e diferenciados por país. equação de acumulação de capital é SALIZAÇÃO – ALCANÇA RESUL- dadaA pela A participação da iniciativa privada na profunção abaixo, em que s é a taxa TADOS MAIS ABRANGENTES” de poupança, ∂ é a taxa de depreciação do visão de serviços engendrou em uma fragmentação de responsabilidades dentro do sistema capital e g, a taxa de aperfeiçoamento tecnopúblico. A gestão de áreas relevantes em saúde, como ambulalógico: 3º d k(t)/dt = sY – (n+∂+g) K 0 < s <1 0 < ∂ < 1 0 toriais e de prevenção, ficaram de certo modo, comprometidos e < g< 1 dependentes de políticas tracejadas pela iniciativa privada. Transformando a expressão acima em termos de unidades Considerando o estudo realizado pela Organização Munde trabalho não-qualificado L(t), por letras minúsculas e reesdial da Saúde em 2001, observar-se-á a importância dos invescrevendo a função de produção em termos de produto por tratimentos em prevenção e sua influência no desenvolvimento balhador, temos então: 4º (dk(t)/dt) = sye – (n+∂+g) ke = ske econômico das nações8. O grande destaque do relatório é que - (n+∂+g)k e . milhões de pessoas estão morrendo pela falta de serviços de No estado estacionário4 temos que ke * e ye * convergem atenção primária a saúde, e isto implica custos econômicos, para os seguintes valores: 5º ke * = [ s/(n + ∂+ g)] 1/(1-) e 6º ye * assim como os custos implícitos à falta de saúde. O custo da = [ s/(n + ∂ +g)] /(1-) disponibilidade dos recursos de saúde é administrável, e é uma Neste estado (compreende o ponto em que o montante de fração dos benefícios decorrentes. capital por trabalhador permanece constante e cresce a economia da saúde Passanezi PMS. Os investimentos em saúde preventiva no Brasil e seus efeitos na expansão do produto da economia uma taxa igual a g), como podemos do Banco Mundial, que dos 208 países verificar na equação (5ª), o estoque mencionados (pela falta dos dados nede capital k e está positivamente corcessários ao teste que segue), selecionou uma amostra de 144 países. Os dados relacionado com a taxa de poupanforam obtidos pela publicação anual do ça, s, e negativamente com a taxa de Banco Mundial, o World Development crescimento populacional, n, depreIndicators (WDI) de 200210. ciação , ∂ e taxa de aperfeiçoamento tecnológico. O modelo de crescimento econô“OS CUSTOS DE PREVENÇÃO Reescrevendo a equação (6ª), e mico aplicado a economia da saúde, DEMONSTRARAM UMA TENDÊNCIA visa evidenciar a hipótese de que, ao tomando o produto Ye * de estado esconsiderar o gasto em prevenção como tacionário como sendo: 7º Ye * = [ s/ DE ELEVAÇÃO NA PROPORÇÃO DO investimento em capital humano, in(n + ∂ +g)] /(1-) A(t)H(t). Tirando o AUMENTO DA IDADE DA POPULAdependentemente do tipo de política logaritmo natural da equação, podeÇÃO, CARACTERIZANDO O INVESTI- adotada na economia (ênfase na distrimos derivar o produto por trabalhador no estado estacionário: 8ª ln ye * MENTO EM SAÚDE COMO UM FATOR buição pelo setor público ou pelo setor privado), tem-se acréscimos ao produto. = /(1-)ln s - /(1-) ln (n + ∂ +g)] DE EXTREMA IMPORTÂNCIA AO Portanto, espera-se uma correlação po+ln A(t)+ln H(t). Sendo que ln A(t) corCRESCIMENTO ECONÔMICO” sitiva como resultante da análise de daresponde aos investimentos realizados dos. em saúde e lnH(t) os gastos realizados O modelo de regressão utilizado conem aprimoramento das habilidades da siderou a combinação desses dois tipos de variáveis (cross-secmão-de-obra. ln(s) será tomada como sendo relativo as intion e time-series) e empregou a técnica conhecida como míniversões realizadas nesta economia a partir de uma alocação mos quadrados. oriunda dos recursos destinados a poupança. Dito de outra forma, trata-se da formação bruta de capital realizada em Metodologia de análise dos dados do crescimento econômico um determinado período. e variáveis do setor saúde Quanto à metodologia aplicada aos dados disponíveis, é posO MODELO ECONOMÉTRICO E SEUS EFEITOS NA SAÚDE sível a identificação de variáveis referentes à melhora da saúde PREVENTIVA das populações, enquanto capital humano, que podem impacA modelagem de fatos econômicos é uma técnica amplamente tar no aumento do produto (ou da renda) destes países. Porém, difundida atualmente na ciência econômica, e é uma forma de foi necessária a seleção de variáveis que melhor permitissem a analisar certos fatos econômicos dentro de um contexto circunobtenção de resultados. dado de restrições. Independente do grau de riqueza da economia, o aspecto A averiguação empírica do modelo de Mankiw, Romer e do acesso aos recursos básicos que atingem a melhora da saúWeil9 aplicado a economia da saúde diz respeito aos efeitos de da população é favorável diante destes resultados. A interdos investimentos como parâmetro do capital humano. pretação a que se chega é que, independentemente do grau de Os resultados desta inferência, identificam o impacto dos riqueza das economias, a abrangência destes recursos é grande, investimentos sobre o produto da economia dentre as variáveis refletindo o R2 baixo para as três últimas variáveis observadas. de capital físico, crescimento da população, conhecimento e depreciação contidas no modelo. Nesse sentido, o estudo ecoUm particular dos dados de vacinação, é que os mesmos nométrico será feito a partir da equação (8ª). A especificação não representam resultado significativo diante da relação gasto econométrica é a que segue: 9ª (ln yit+1 - ln yit ) = ß0 + ß1 ln em saúde e renda interna per capita dos países, uma vez que, mesmo intuitivamente, pode-se observar que nas economias (s) -ß2 ln (nit +g+∂) + ß3 ln (Ait) i = 1, 2,...144 países t = 1,2,...6 menos desenvolvidas, o gasto em prevenção designa a vacinaperíodos de tempo. ção, enquanto prioridade abrange a maior parcela das crianTemos ß0 como a constante e ß1.... ß3 os coeficientes das deças. Então, mesmo que a renda do país seja baixa, a vacinação mais variáveis que desejamos estimar. Toma-se (g +∂) como sendo não pode ser utilizada como proxy no modelo de crescimenigual a 0,05 e iguais para todos os países da América Latina10. to. Outra observação aponta como impróprio o uso da variável Como dito anteriormente, a equação de convergência não exivacinação para teste do modelo, uma vez que, os países em ge a suposição de que as economias estejam continuamente em seu desenvolvimento localizados na zona tropicais designam gasestado estacionário. A taxa de crescimento de y aumenta quando as tos grandes em vacinação contra doenças. Já os países de clima economias investem mais. Do mesmo modo, para os valores ∂ e g, temperado não têm gastos elevados com vacinação. uma menor taxa de n aumenta a taxa de crescimento. O quadro 1 aponta que as variáveis como água potável e instalações sanitárias não foram consideradas ilustrativas APLICANDO O MODELO ECONOMÉTRICO para o modelo de crescimento econômico tratado, por dois Para o uso deste modelo, utiliza-se como base os dados economia da saúde Passanezi PMS. Os investimentos em saúde preventiva no Brasil e seus efeitos na expansão do produto da economia Quadro 1. Variáveis de prevenção das doenças Acesso a água Acesso a instalapotável ções sanitárias % da população % da população Taxa de imunização infantil % de crianças com menos de 12 meses Sarampo DTP 1995-99a 1995-99a 78 75 70 64 88 88 87 87 88 90 78 74 82 83 1990 2000 1990 2000 76 70 75 74 .. 73 70 81 76 82 80 87 79 75 49 40 47 43 .. 44 38 56 46 59 54 79 52 48 .. 90 .. .. 97 81 85 72 78 90 85 89 78 83 91 79 49 .. .. 87 55 .. .. 31 55 .. .. 36 55 .. .. 63 57 89 82 Mundo Renda baixa Renda média Renda média baixa Renda média alta Renda baixa e média Leste da Ásia e Pacífico Europa e Ásia central América Latina e Caribe Meio L e N da África Sul da Ásia África Sub-saariana Renda alta União Européia Fonte: WDI, Banco Mundial, 200210. “AS DIFERENÇAS NAS ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS DE SAÚDE REFLETEM OS GASTOS PÚBLICOS... SOBRETUDO, A DESARTICULAÇÃO DOS SISTEMAS DE SAÚDE, A FALTA DE INTEGRAÇÃO E A COORDENAÇÃO ENTRE OS DIVERSOS SUBSISTEMAS ” motivos. Um deles é que a quantidade de países sem indicação da porcentagem da população com acesso a água potável e instalações sanitárias é muito grande, principalmente os subdesenvolvidos, o que viesa os resultados econométricos sobre a amostra. O outro motivo, é o fato de se identificar países em desenvolvimento com porcentagem da população com acesso a estes recursos, como a República Islâmica e a Índia, o que novamente enviesa a amostra. A taxa de imunização infantil é outra variável disponível, abrangendo todos os países da amostra. Porém, observa-se que, sendo caracterizada medida preventiva, mesmo os países de renda baixa têm grande abrangência das crianças vacinadas, tornando-se esta variável pouco significativa diante da proposta de análise do impacto de uma que tenha maior correlação com o produto da economia, que é o caso dos gastos em saúde per capita. Diante das possibilidades de melhor selecionar dados que ilustrem esta reflexão, o gasto em saúde per capita tem impacto positivo sobre o produto per capita nas economias do mundo, assim como uma amostra suficiente para a inferência. Uma vez que não há disponibilidade de dados significativos em prevenção, houve a necessidade de se estabelecer a hipótese de que o aumento do gasto em saúde 97 tem impacto positivo sobre a renda das economias, ou tem implícito o aumento do gasto em prevenção. A disponibilidade dos dados de gastos em saúde é considerável, assim como há maior correlação entre gastos em saúde per capita e a renda per capita das economias (vide quadros 1, 2 e 3). Esta é a proxy aplicada à questão que leva ao teste empírico. A observação foi feita entre os anos de 1990 e 1998, sendo utilizada a média dos dados para cada país nesta série. Estimativas do modelo de crescimento a partir de investimentos em saúde Para estimar-se a equação de con92 vergência descrita na equação (8ª), 75 emprega-se a medida do PIB dividido 59 pela população economicamente ati91 va (PEA) de 1990 a 1998. O quadro 3 91 apresenta os resultados das estimativas do modelo de crescimento, considerando os investimentos em saúde (A t) e em capital físico (s). Os coeficientes estimados pela regressão foram esperados e mostram uma relação positiva para ß0, ln(Sit) e ln (sit) uma relação negativa para ln (nit +g+∂)it. Isto reforça a tese de Mankiw, Romer e Weil 9 de convergência condicional, de que quanto mais longe do estado estacionário mais rápida a convergência para um novo padrão de crescimento. Ou seja, quanto maior os investimentos em saúde, maior o efeito no nível de produto per capita. 87 Quadro 2. Resultados, considerando y=Y(t)/L(t) Variável dependente: In Y Métodos dos Mínimos Amostra: 144 Variável Coeficiente Erro Padrão Estatística t ß0 6.408658 ln (sit) 0.276423 Ln (n it +g+∂)it -0.353674 ln (Sit) 0.796589 R2 0.932286 R2 ajustado 0.930835 Erro padrão 0.407051 da regressão Soma dos 23.19662 quadrados dos resíduos Log likelihood -72.86906 Estatística 2.118932 Durbin-Watson Prob. 11.67801 0.0000 0.548780 2.431925 0.0163 0.113664 -1.821208 0.0707 0.194197 38.64994 0.0000 0.020610 10.55672 Mean dependent var 1.547770 Desv. padrão da variável dependente 1.067626 Critério de Akaike Critério de Schwarz 1.150121 Estatísitca F Prob. (estatística F) 642.5106 0.000000 Fonte: resultados obtidos da análise dos dados do WDI, Banco Mundial, 200210. economia da saúde Passanezi PMS. Os investimentos em saúde preventiva no Brasil e seus efeitos na expansão do produto da economia resultado:144.0,0723 No que diz respeito = 10,4112, que com 9 a existência de heterosgraus de liberdade, na cedasticidade, aplicatabela de X 2 , é menor mos o Teste White para a amostra de 144 países. que: Os resultados são apreX2 a 5% = 16,9190 sentados no quadro 3. X 2 a 10% = 14,6837 A heterocedastidade X 2 a 25% = 11,3887 ocorre quando há uma Finalmente, pode-se forte dispersão dos daafirmar que os resultados em torno de uma dos comentados antereta; uma dispersão periormente, atendem aos rante um modelo ecopressupostos para infenométrico regredido. rências a partir do moSua correção pode ser delo proposto e estimado realizada por meio do por meio dos métodos Teste White, que consisdos mínimos quadrados te em um teste residual. ordinário. Desta forma, Suportado pelo teste F, para o período analisa“A DISCUSSÃO ACERCA DO CRESCIMENTO E DESENVOLVIque indica que a regresdo, é possível identificar MENTO ECONÔMICO DAS NAÇÕES É BASTANTE ANTIGA E são de White não existe que a variável investi(F=1,161293), o teste de mento em saúde é uma REMONTA O SÉCULO XVI. NAQUELE TEMPO, MALTHUS CONSqui-quadrado (n.R 2 das variáveis explicativas TATOU DOIS FATOS IMPORTANTES E QUE PODERIAM COMPROda determinação do proX 2gl), sob a hipótese de METER A SOBREVIVÊNCIA HUMANA” duto da economia para o que se o valor de quigrupo de países selecioquadrado obtido exceder nados. o valor de qui-quadrado crítico no âmbito escolhido de significância, também indiCONSIDERAÇÕES FINAIS ca a ausência de heteroscedasticidade. A discussão acerca do crescimento e desenvolvimento ecoA amostra considerada apresenta o seguinte Quadro 3. Teste de Heterocedasticidade Teste de Heterocedasticidade white: Estatística F 1.161293 Probabilidade 0.324934 Obs*R-squared 10.41896 Probabilidade 0.317644 Equação de Teste: Variável Dependente: resíduo2 Método: Quadrados Mínimos Variável C ln fbkf ln fbkf2 ln fbkf x ln (n + g + ∂) ln fbkf x ln saúde Ln (n + g + ∂) Ln (n + g + ∂)2 ln (n + g + ∂) x ln saúde ln saúde Ln saúde2 R2 R2 ajustado Erro padrão da regressão Soma dos quadrados dos resíduos Log likelihood Estatística Durbin-Watson Amostra: 144 países Estatística t Coeficiente Erro Padrão -5.121625 0.308195 0.173272 -0.305363 -0.165380 -3.712379 -0.449852 0.194304 0.245263 0.001169 0.072354 0.010049 0.360595 17.42386 -52.26512 1.747448 6.417216 -0.798107 1.967157 0.156670 0.203856 0.849975 0.719844 -0.424208 0.081771 -2.022480 4.067854 -0.912614 0.685777 -0.655975 0.124264 1.563641 0.340131 0.721084 0.010882 0.107461 Mean dependent var Desv. Padrão da variável dependente Critério de Akaike Critério de Schwarz Estatísitca F Prob. (estatística F) Fonte: Resultados obtidos da análise dos dados do WDI, Banco Mundial, 200210. Probabilidade 0.4262 0.8757 0.3969 0.6721 0.0451 0.3631 0.5130 0.1203 0.4721 0.9146 0.161088 0.362421 0.864793 1.071030 1.161293 0.324934 economia da saúde Passanezi PMS. Os investimentos em saúde preventiva no Brasil e seus efeitos na expansão do produto da economia Isso atesta mais nômico das nações uma vez que o é bastante antiga e bem-estar de uma remonta o século população depenXVI. Naquele temde, sobretudo, de po, Malthus conspolíticas coesas e tatou dois fatos integradas da área importantes e que de saúde. poderiam comproInfelizmente, meter a sobrevivênno que diz rescia humana, pois a peito a evolução população crescia do sistema de a taxas mais exposaúde da Amérinenciais do que a ca Latina, obseroferta de alimenvamos uma retos. A conjugação “INVESTIMENTOS EM PREVENÇÃO GARANTEM O BEM-ESTAR DA POPULAÇÃO, estruturação “às destes fenômenos AO MESMO TEMPO EM QUE, DIMINUI OS GASTOS COM TRATAMENTOS FUTUROS avessas”, e direpoderia, no futuDISPENDIOSOS DECORRENTES DA FALTA DE ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE” cionada a grupos ro, comprometer a específicos de existência da espépessoas. Após um longo e árduo período de crise econômicie, mesmo considerando as catástrofes naturais, e que estaca, o sistema de saúde destes países passou por profundas vam de certo modo fora do alcance de controle do homem, transformações, que não consideravam a inclusão em mascomo epidemias, pragas, desastres naturais e outros. sa de pessoas anteriormente desassistidas pelos sistemas de Observou-se a ocorrência de uma série de acontecisaúde. Pelo contrário, o compartilhamento de responsabilimentos que culminaram a morte súbita e em grande escala dades com a iniciativa privada, eximiu parcialmente a parde populações inteiras. O aperfeiçoamento e a descoberta ticipação do estado nesta área. de novos procedimentos de saúde possibilitaram o conheciA adoção de políticas diferenciais e exclusivas a determento mais de perto, acerca de um dos componentes mais minadas camadas da população, como ocorreu em alguns importantes para funcionamento do sistema de produção, o destes países podem, de certa maneira, comprometer o homem, ou como denominamos na literatura econômica, o crescimento da economia em longo prazo, além do nível capital humano. de bem-estar da população. Ao longo dos anos, o capital humano aprimorou-se e torOs resultados obtidos na consecução deste estudo atesnou-se peça-chave na condução de políticas de crescimento tam essa premissa de forma enfática, sendo, portanto, imeconômico. Dito de outra forma, o crescimento e o desenprescindível atentar e dar maior atenção a organização da volvimento econômico das nações, de certo modo, depende estrutura de serviços de saúde, que atenda a população de das políticas de saúde e da prevenção de doenças. forma universal e com equidade. Para fins de obtenção de resultados, observa-se que há De nada adianta direcionar recursos em áreas da saúforte evidência empírica de que os gastos em saúde per cade, que são peculiares a um pequeno grupo. Investimenpita têm impacto significativamente positivo sobre o produtos em prevenção garantem o bem-estar da população, ao to da economia. mesmo tempo em que, diminui os gastos com tratamentos Também, por meio de testes econométricos, verificou-se futuros dispendiosos decorrentes da falta de atenção prique a relação entre variáveis não contém violação das hipómária à saúde. teses de regressão das variáveis selecionadas. ■ Referências 1. Van ZA, Muysken J. “Health and endogenous growth”, Journal of Health Economics 20, 2001; 169-185. 2. Lucas Jr, Robert E. “On the Mechanics of Economic Development”. Journal of Monetary Economics, 1988; (22): 3-42. 3. Grossman M. “On the concept of health capital and the demand for health”. Journal of Political Economy, 1972; 223-255. 4. Cohn A. Reforma do estado e saúde. Revista sociedade e Estado. 1997;12(1): 85-101. 5. Almeida C. Equidade e reformas setorial na América Latina:um debate necessário. Caderno de Saúde Pública, 2002; (18): 23-36. 6. Passanezi PMS. A evolução das instituições segundo Douglass North: uma visão crítica com aplicação para o caso da previdência social no Brasil. 2002. 221f. Tese (doutorado) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo. 7. Bianquin HA, Silva JF. Políticas sociais: trabalho e saúde na América La- tina, Revista da Saúde, 2002;1: 22,. 8. OMS, International Serial Data System, 2002. 9. 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