INFORMAÇÃO O balão eluidor de fármaco Dr. João Carlos Silva Chefe do Serviço de Cardiologia - Laboratório de Hemodinâmica do CHSJ, Porto O TRATAMENTO PERCUTÂNEO DA DOENÇA coronária tem sofrido uma evolução marcada nas últimas décadas. O primeiro marco dessa evolução foi a introdução, por Gruntzig, da angioplastia com balão, em 1977. Cedo se percebeu, no entanto, que esta técnica tinha várias limitações, que lhe conferiam um certo grau de imprevisibilidade no resultado: o retrocesso elástico do vaso (elastic recoil), a possibilidade de ocorrer uma dissecção oclusiva (que podia terminar em cirurgia de emergência) e a reestenose. A fisiopatologia da reestenose após angioplastia com balão envolve o remodeling negativo do vaso, o elastic recoil e a trombose no local da lesão. Se bem que a trombose pôde ser reduzida pelo uso dos antiagregantes, a reestenose persistia. Este último problema ocorria numa percentagem significativa de casos, que podia chegar aos 30% e eventualmente mais, dependendo dos subgrupos. A introdução dos stents, cerca de 10 anos depois, veio resolver, pelo menos parcialmente, parte destes problemas. Ao «escorar» o vaso pelo seu interior, prevenia o elastic recoil e limitava acentuadamente a possibilidade de dissecção, tornando o resultado angiográfico imediato mais previsível (e melhor). Veio, no entanto, introduzir um novo desafio, o da reestenose intrastent (in stent restenosis – ISR). Esta ocorre fundamentalmente pela formação de neo-íntima composta sobretudo por células musculares lisas e matriz extracelular. Ocorre em 15-30% dos casos (dependendo dos subgrupos), sendo, portanto, menos frequente que a reestenose após angioplastia por balão. As tentativas de reduzir a taxa de ISR através da administração sistémica de fármacos 2 foi infrutífera devido às insuficientes concentrações de fármaco conseguidas localmente com esta via de administração. A administração local de fármaco foi então explorada usando-se várias técnicas, conseguindo-se grandes concentrações locais do fármaco, minimizando-se a indesejada toxicidade sistémica. Das várias técnicas testadas, foi a administração do fármaco através do próprio stent (o que, do ponto de vista conceptual, faz mais sentido, já que é o stent que induz o processo de reestenose) que evidenciou os melhores resultados, tornando-se então os stents eluidores de fármaco (drug eluting stents – DES) o elemento chave no tratamento da doença coronária aterosclerótica. O uso dos DES está, no entanto, associado a um risco pequeno, mas clinicamente significativo de trombose tardia do stent, não tendo sido resolvido o problema da ISR (que, contudo, foi francamente reduzida quando em comparação com os stents não revestidos (bare metal stents – BMS). Parede vascular Balão insuflado Superfície do balão em contacto com a parede vascular. 30 segundos de insuflação do balão para a entrega eficaz do fármaco na parede vascular Parede vascular Balão insuflado O fármaco paclitaxel migra para a parede vascular. A matriz dissolve-se e o paclitaxel migra até às células musculares livres, prevenindo a proliferação celular. Até há poucos anos, as alternativas para o tratamento da ISR passavam pela redilatação com balão, colocando-se eventualmente outro stent por dentro do primeiro. Esta estratégia estava associada a uma elevada taxa de nova reestenose. Em 2002/3, contemporaneamente com o início da disponibilidade dos primeiros DES (Cypher e depois Taxus) para o uso clínico, iniciaram-se os primeiros testes animais aplicando-se um novo conceito, o de que era possível conseguir níveis elevados de um fármaco antiproliferativo (paclitaxel, que era o fármaco utilizado no stent Taxus) na parede dos vasos com apenas um curto contacto (1 minuto), através da insuflação de um balão revestido pelo fármaco (drug eluting baloon - DEB). O fármaco era misturado com um produto de contraste radiológico, Iopromide, que lhe aumentava a libertação e solubilidade. As vantagens potenciais do DEB incluem: 1 - Transferência homogénea de fármaco para o vaso; 2 – Rápida libertação de elevadas concentrações do fármaco para a parede do vaso; 3 – Ausência de polímero que pode fazer diminuir a inflamação crónica e o estímulo para a trombose tardia; 4 – A ausência de stent permite não distorcer a anatomia original do vaso e 5 – A necessidade de dupla antiagregação fica limitada a um mês, em vez de um ano, quando se usa um DES na ISR. No final de 2003 iniciaram-se os primeiros ensaios clínicos (PACOCATH ISR I e II) randomizados e duplamente cegos, que no conjunto englobaram 108 doentes e que compararam a estratégia balão convencional (POBA – Plain Old Balloon Angioplasty) vs balão com paclitaxel (DEB – Drug Eluting Balloon) na ISR. Os resultados foram significativamente melhores com DEB, com uma in-segment late lumen loss (ISLLL) aos 6 meses de 0,11±0,44 vs. 0,8±0,79 mm e uma incidência de reestenose binária no segmento de 3/54 (6%) vs 25/54 (51%). Os resultados angiográficos tiveram repercussão clínica também estatisticamente significativa, com uma TLR (Target Lesion Revascularization) aos 12 meses de 2/54 (4,0%) no DEB vs 20/54 (37%) no POBA e uma incidência de MACE (Major Adverse Cardiac Events) aos 12 meses de 9,0% vs 44,0%. Esta diferença manteve-se estatisticamente significativa aos 60 meses de follow-up. No estudo PEPCAD II, o DEB foi comparado com a implantação de um DES (Taxus) em que o fármaco era o mesmo do DEB (paclitaxel), em doentes com ISR de um BMS. Mais uma vez, os resultados foram favoráveis ao DEB, quer angiográficos aos 6 Vilamoura • 22 a 24 de Abril de 2012 meses (ISLLL 0,17±0,42 vs 0,38±0,61 mm; reestenose binária 4/66 (7%) vs 12/65 (20,3 %)), quer clínicos (TVR 4/66 (6,3%) vs 10/65 (15,4%); MACE 7,6% vs 16,9% ao ano e TVR 5/66 (7,6%) vs 12/65 (18,5%); MACE 15,2% vs 27,7% aos 3 anos). O PEPCAD DES alargou a experiência do DEB à reestenose dos DES, randomizando-se 110 doentes com DES-ISR (os DES podiam ser com paclitaxel, sirolimus ou everolimus) para DEB (n=72) ou POBA (n=38), evidenciando a significativa superioridade do DEB na análise aos 6 meses (ISLLL 0,43±0,61 vs 1,03±0,77 mm; reestenose binária 17,2% vs 61,3%; TVR 11/72 (15,3%) vs 14/38 (36,8%); MACE 16,7% vs 50%). Mais recentemente, no ACC 2012, foram apresentados os resultados de um registo real-world «all-comer» (SeQuent Please International Registry), que envolveu 2095 doentes (2234 lesões) em que o DEB foi utilizado. Os doentes tinham BMS-ISR (n=743), DES-ISR (n=782) ou lesões «de novo» (n=491). Deste último grupo, 101 doentes necessitaram de BMS adicional, após o que também foi utilizado um DEB nesse segmento. No follow-up aos 9 meses, o estudo revelou uma baixa taxa global de TLR - 5,2% Embora o DEB tenha sido inicialmente avaliado no uso clínico na ISR, o âmbito da sua aplicação tem sido estendido a outras situações como o tratamento de bifurcações e lesões em vasos pequenos (�2,8 mm), também com bons resultados. (9,6% no DES-ISR, 3,8% no BMS-ISR, 1,0% no DEB só e 2,4% no DEB+BMS) e de MACE - 6,7% (11,6% na DES-ISR, 5,3% na BMS-ISR, 2,6% no DEB só e 2,4% no DEB+BMS). De notar ainda que foram apenas registados 2 casos de trombose de stent. Embora o DEB tenha sido inicialmente avaliado no uso clínico na ISR, o âmbito da sua aplicação tem sido estendido a outras situações como o tratamento de bifurcações e lesões em vasos pequenos (≤2,8 mm), também com bons resultados. Esta última representa um grupo especialmente difícil de tratar já que as alternativas existentes (que incluem POBA, BMS e DES) estão associadas a elevadas taxas de reestenose. Os bons resultados evidenciados com o sistema pioneiro (Paccocath, que depois evoluiu para o Sequent Please), nos estudos atrás referidos, motivaram o interesse de várias companhias, havendo actualmente cerca de uma dezena de sistemas disponíveis a nível mundial, dos quais 4 estão comercializados em Portugal (Sequent Please, Dior, Pantera Lux e In.Pact). Parece que nos próximos anos o DEB vai ter um papel crescente na angioplastia coronária, sendo interessante saber até que ponto as novas plataformas (Scaffold - stent bioabsorvível) vão destronar esta e as outras tecnologias actualmente em uso. Vascular Systems SeQuent Please Balão farmacológico ® A única evidência científica reconhecida pela Sociedade Europeia de Cardiologia B. Braun Medical, Lda. | Est. Consiglieri Pedroso, 80 | Queluz de Baixo | 2730-053 Barcarena Tel. 214 368 200 | Fax 214 368 280 | www.bbraun.pt Vilamoura • 22 a 24 de Abril de 2012 Contribuinte nº 501506543 | Cons. Registo Com. Cascais nº 501506543 | Julho 2012 3