Em certo Reino, à esquina do Planeta, Onde nasceram

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Só
ANTÓNIO NOBRE
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Em certo Reino, à esquina do Planeta,
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Na praia lá da Boa Nova, um dia,
Onde nasceram meus Avós, meus Pais,
Há quatro lustres, viu a luz um poeta
Que melhor fora não a ver jamais.
Edifiquei (foi esse o grande mal)
Alto Castelo, o que é a fantasia,
Todo de lápis-lazúli e coral!
Mal despontava para a vida inquieta,
Logo ao nascer, mataram-lhe os ideais,
À falsa-fé, numa traição abjeta,
Como os bandidos nas estradas reais!
Naquelas redondezas, não havia
Quem se gabasse dum domínio igual:
Oh Castelo tão alto! parecia
O território dum Senhor feudal!
E embora eu seja descendente, um ramo
Dessa árvore de Heróis que, entre perigos
E guerras, se esforçaram pelo Ideal:
Um dia (não sei quando, nem sei d’onde)
Um vento seco de mau sestro e spleen
Deitou por terra, ao pó que tudo esconde,
Nada me importas, País! seja meu Amo
O Carlos ou o Zé da Teresa… Amigos,
Que desgraça nascer em Portugal!33
O meu condado, o meu condado, sim!
Porque eu já fui um poderoso Conde,
Naquela idade em que se é conde assim…
Coimbra, 1889.
32A visão desalentada de um país decadente e sem futuro, sem quimeras, é sublinhada neste
soneto, cuja escrita é, curiosamente, situada em Coimbra, período da vida de António Nobre
em que o contacto com a instituição universitária foi pouco animador.
33O contraste entre as expectativas da infância e juventude, situadas num dos locais de eleição
da geografia afetiva do sujeito poético — a praia da Boa Nova —, e as ilusões perdidas da
idade adulta são particularmente evidentes neste soneto, nomeadamente através do uso de
títulos nobiliárquicos e das designações dos domínios senhoriais respetivos.
Porto, 1887.
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