Boletim Técnico Março 2016 - Edição nº 1 ‘O Brasil possui o mais importante mercado de fertilizantes da América Latina e ocupa posição consolidada entre os maiores produtores agrícolas do mundo. Neste contexto, estar atualizado em relação às tecnologias e tendências do mercado de agronegócio se tornou primordial para aumentar a produtividade agrícola e garantir vantagem competitiva. Assim, para fomentar ainda mais a competitividade da produção agrícola brasileira, a Vale Fertilizantes publicará o “Boletim Técnico Fertilizantes”, abordando temas como tecnologia aplicada na agricultura, clima, manejo da fertilidade do solo, nutrição de plantas, boas práticas no uso de fertilizantes, entre outros. Para você que busca informações de qualidade e credibilidade, o “Boletim Técnico Fertilizantes” será trimestral, possibilitando converter estas informações em decisões consubstanciadas, que resultem em maiores produtividade e competitividade para o produtor agrícola brasileiro. Compartilhe dessa iniciativa. Vamos, juntos, contribuir para o crescimento do agronegócio brasileiro.’ Marco Araújo Gerente de Desenvolvimento de Mercado Cálcio: a chave para o sucesso SOLOS DO BRASIL A fertilidade do solo é amplamente estudada em todas as regiões do mundo, a fim de determinar como deve ser feito o manejo dos nutrientes de forma que se obtenha a maior produtividade econômica para o sucesso da atividade agrícola. A situação não é diferente no Brasil, todavia os solos dominantes aqui encontrados apresentam algumas características que podem ser generalizadas com poucos impedimentos físicos, mas com muitos impedimentos químicos. As adversidades químicas são encontradas em função da posição geográfica do país, com clima tropical, caracterizado por grande volume de chuvas e elevadas temperaturas, acentuando o intemperismo e lixiviação do solo. Estes fatores fazem com que desde a sua formação, a partir da rocha, no geral pobre em nutrientes, em milhões de anos, os nutrientes sejam perdidos principalmente por erosão e lixiviação, deslocando da superfície do solo para camadas mais profundas ou sendo removidos do sistema, formando assim solos com baixo teor de nutrientes e com maiores teores de caulinita e óxidos de ferro e alumínio. Os valores de saturação por alumínio encontrados naturalmente indicam problemas potenciais de toxidez às plantas e dificultam que o sistema radicular da planta se desenvolva normalmente, deixando as raízes mais grossas, curtas e escuras e consequentemente com menor capacidade de absorção de água e nutrientes, deixando as plantas mais suscetíveis a veranicos. Dentro do Brasil, o Cerrado é um bioma que ocupa grande área, onde também são observados solos com maiores limitações químicas, com baixo nível de fertilidade natural. Em contrapartida, neste bioma estão concentradas as principais áreas agrícolas. Esta situação ocorre por ser uma área de relativa facilidade operacional pela baixa declividade e menores impedimentos físicos, sendo solos profundos e permeáveis em sua maioria. A agricultura no Cerrado brasileiro somente é possível devido ao manejo químico feito por meio da utilização de fertilizantes, correção da acidez e condicionamento da camada subsuperficial, proporcionando um ambiente em que o sistema radicular possa explorar as camadas mais profundas do solo em busca de água e nutrientes. O manejo da fertilidade do solo é de extrema importância pois, caso este seja interrompido, os níveis de fertilidade irão retornar aos baixos níveis naturais, comprometendo as produtividades econômicas. O CÁLCIO NA PLANTA Dentre os nutrientes da planta, um dos que apresentam teores limitantes à produtividade é o cálcio, que exerce diversas funções na planta, como manter a integridade estrutural da parede celular e membranas, agente cimentante entre as células, além de outras funções estruturais e regulações enzimáticas. Sua deficiência causa atraso na maturação das culturas, menor qualidade no produto e senescência precoce (Malavolta, 2006). Internamente na planta, o cálcio após ser absorvido é transportado via xilema para as partes novas e apresenta baixa redistribuição, tornando um nutriente que deve ser fornecido durante todo o ciclo da cultura. Devido a estes fatos, sua deficiência é observada primeiramente nos órgãos novos da planta. O CÁLCIO NO SOLO O fornecimento de cálcio no solo ocorre normalmente às plantas de maneira indireta, mas se negligenciada pode causar severas reduções na produtividade e no sucesso da atividade agrícola. Um modo em que o cálcio entra no sistema produtivo é por meio da calagem, recomendada para correção da acidez, predominante nos solos brasileiros. O calcário aumenta o pH do solo e fornece cálcio e magnésio às plantas, todavia por ser um carbonato de cálcio, apresenta baixa mobilidade no solo, tendo sua atuação restrita a camada em que foi incorporado. Entretanto é necessário realizar o fornecimento de cálcio em camadas de solo mais profundas, e a fonte que apresenta mobilidade no solo é o sulfato de cálcio que não tem cargas positivas ou negativas e possui uma solubilidade bem maior que o calcário. O sulfato de cálcio pode ser aplicado na superfície do solo e suas principais funções são neutralizar o alumínio tóxico às plantas e fornecer cálcio e enxofre em profundidade. Este produto é estudado e utilizado desde o inicio da década de 70, quando foi observada uma lavoura mais tolerante à seca e havia naquela área o sulfato de cálcio. Devido ao poder de neutralizar o alumínio tóxico e fornecer cálcio e enxofre, o uso do sulfato de cálcio é um grande responsável pelo sucesso da agricultura no Cerrado brasileiro, visto que a ação deste produto elimina os impedimentos químicos nas camadas mais profundas possibilitando o aprofundamento do sistema radicular das plantas cultivadas. A profundidade do sistema radicular é de fundamental importância, pois deste modo a planta explora maior volume de solo, absorvendo tanto os nutrientes na superfície como em subsuperfície, além de poder absorver água de camadas mais profundas de solo. Dentre as consequências do aquecimento global, a instabilidade climática e a ocorrência de períodos de veranicos cada vez mais frequentes, o uso do sulfato de cálcio se torna uma ferramenta imprescindível para a mitigação destes riscos, promovendo ambiente em que a raiz alcance a água presente em camadas mais profundas. Este efeito possibilita uma maior segurança ao produtor rural, que mesmo na presença de veranicos poderá obter bons rendimentos. FONTES DE CÁLCIO Conforme discutido, o cálcio normalmente entra no sistema indiretamente através do calcário como neutralizador de acidez e de sulfato de cálcio como condicionador de solo em profundidade. As fontes mais utilizadas que contêm o cálcio na forma de sulfato: - Gesso agrícola: Com aproximadamente 17% de cálcio e 14% de enxofre, apresenta-se na forma de pó e pode ser aplicado na superfície do solo. - Fertilizantes fosfatados obtidos via rota sulfúrica: os encontrados no mercado possuem normalmente entre 17 a 21% de P2O5 solúvel em CNA+H2O, 16-20% de cálcio, 8-13% de enxofre e eventualmente até 3% de nitrogênio é o adubo fosfatado mais usado no Brasil e isto ocorre pelo reconhecimento do agricultor pelos fertilizantes com melhores aproveitamentos agronômicos. Os fertilizantes obtidos via rota sulfúrica, assim como o superfosfato simples (SSP), fornecem o fósforo, cálcio e enxofre de forma mais equilibrada às culturas e apresenta um benefício que nenhum outro fertilizante fosfatado apresenta: o de promover um condicionamento gradual do solo, visto que uma tonelada aplicada de SSP equivale a aproximadamente 730 quilos de gesso (Lopes, 2010). Considerando que a construção da fertilidade do solo em profundidade é fundamental para a agricultura no Brasil, o uso contínuo dos fertilizantes fosfatados obtidos via rota sulfúrica proporciona fornecimento de fósforo às plantas e promove o condicionamento do solo em profundidade, mitigando riscos climáticos. CONSIDERAÇÕES Em síntese, o cálcio é o nutriente chave para o desenvolvimento das culturas no Cerrado, possibilitando maior profundidade das raízes e tornando o cultivo mais seguro e produtivo, em tempos de instabilidade do clima causados pela emissão de gases do efeito estufa. Visto detalhadamente os fatores que influenciam na disponibilidade, fornecimento e manutenção do cálcio no sistema solo, fica evidente que os solos brasileiros são pobres neste nutriente e que sua deficiência causa severas reduções em produtividade e menor aprofundamento do sistema radicular tornando a planta mais exposta às perdas de produtividade por veranicos. Gerência de Desenvolvimento de Mercado BIBLIOGRAFIA LOPES, A. S.; GUILHERME, L. R. G.; CUNHA, J. F. da. Superfosfatos simples. São Paulo: Sinprifert/ANDA, 2010. 48 p. il. MALAVOLTA, E. Manual de nutrição mineral de plantas. São Paulo: Agronômica Ceres, 2006. 638 p.