Aspectos bioquímicos da infecção viral pelo vírus HBV Edna Almeida 2º ano Bioquímica Introdução ao vírus Foi em 1964 que Blumberg conseguiu identificar o antigénio de superfície deste vírus, e denominou-o antigénio Austrália actualmente denominado AgHBs (Dane DS, Cameron CH, Briggs M, 1970). Em 1970, Dane identificou partículas do vírus no soro de um paciente. Confirmou-se a natureza viral destas partículas, detectou-se um DNA endógeno dependente da DNA polimerase e que esta se encontrava dentro dele. Estas descobertas permitiram a caracterização do genoma do vírus da hepatite B. (Robinson et al., 1974). Infecção pelo vírus O primeiro surto de VHB foi em 1883 em que a infecção era causada pelo uso de agulhas mal esterilizadas numa clínica. Mais tarde (1942), o maior surto de VHB foi detectado em militares que tinham sido imunizados contra a febre-amarela, uma vacina que continha soro humano. A Hepatite B é responsável mundialmente por 2 milhões de mortos/ano, sendo a maior incidência nos países subdesenvolvidos. Descrição geral do vírus O genoma deste vírus é o único por ter uma natureza compacta, por ter grelhas de leitura sobrepostas e por ser dependente da transcriptase reversa. Família dos hepadnavírus (família de vírus de DNA hepatotróficos) O seu genoma é constituído por 3200 nucleótidos e está parcialmente em cadeia dupla, uma longa e uma curta Descrição geral do vírus A partícula infecciosa: A partícula infecciosa do vírus da hepatite B (partícula de Dane) possui uma estrutura interna ou core (AgHBc), um invólucro externo AgHBe e antigénios de superficie (AgHBs). O core é composto por DNA (que se duplica dentro dos núcleos infectados) e DNA polimerase. A camada mais externa é composta por um revestimento que é adicionado ao vírus no citoplasma e antigénios de superfície. Antigénios de Superfície Constituído por glicoproteínas e lípidos e compreende três componentes moleculares básicos: Pré-S1, Pré-S2 e pequeno S. [adaptado de 2002 James A. Perkins] Outras partículas vírais encontradas no soro Há também partículas subvirais mais pequenas (filamentosas e esféricas) encontradas no soro de um individuo infectado, e são constituídas apenas por antigénios se superfície, já enunciados anteriormente (AgHBs, AgHBe) [Murray et. al, Medical Microbiology, 2005, 66] Ciclo de vida O RNAm por um lado é traduzido em proteínas (p. ex. HBsAg) e por outro lado é empacotado numa nucleocápside. No citoplasma, o RNA da nucleocápside vai servir de molde para a síntese da cadeia menos (-) e da cadeia mais (+) do DNA. [http://www.labmed.pt] Replicação do vírus da hepatite B 1) Modificação do genoma em forma de RC-DNA para a forma circular e entrada no nucleo. O genoma do vírus está parcialmente em cadeia dupla, É circular mas não é fechado covalentemente.Tem cerca de 3,2Kb de comprimento (DNA relaxado ou RC-DNA). RC-DNA é convertido num plasmídeo covalentemente fechado,o cccDNA circular. 2) Produção de pgRNA,e encapsulamento com proteína P (co-factor da transcriptase reversa) 3) Acção da transcriptase reversa e transformação de novos genomas de RC-DNA; A síntese de (+) DNA é feita através do DNA (-), o que faz com que se gerem novos RC-DNA.O RC-DNA contendo a nucleocápsula vai ser envolvido libertado pela membrana plasmática [Beck J,Nassal M, in World Journal of Gastroenterology,2007 ] Genoma do vírus O RC-DNA está parcialmente em duas cadeias, é circular e é indicado por linhas pretas grossas, com o P ligado covalentemente à extremidade 5' do (-) DNA e o primer do RNA (linha em zigzag) à extremidade nos 5’ do (+) DNA. A parte tracejada simboliza os comprimentos heterogéneos da cadeia positiva. DR1 e DR2 são zonas sobrepostas. O círculo exterior simboliza o pgRNA terminal redundante com o ε perto da extremidade 5', e da cauda poli-A ligada à extremidade 3'. O mRNA precoce é quase idêntico, excepto que ele começa ligeiramente acima. [Adaptado de: Beck J,Nassal M, in World Journal of Gastroenterology 2007] No genoma do vírus há 4 cadeias de leitura aberta (ORF, open reading frames) na cadeia positiva do genoma do vírus: • Gene pré-S/S: O gene pré-S/S codifica as proteínas do invólucro do vírus (AgHBs) que é detectado no soro de pacientes infectados. • Gene pré-C/C: Codifica uma proteína solúvel (AgHBe), a proteína do invólucro extreno. A proteína da nucleocápside (AgHBc), o “core” possui o DNA viral. O core é composto por DNA (que se duplica dentro dos núcleos das células infectadas) e DNA polimerase. • Gene P: Codifica a DNA polimerase/transcriptase reversa. • Gene X: Codifica uma proteína de significado pouco claro. Diagnóstico/Sintomas É possível ser-se infectado com o vírus da hepatite B e não apresentar quaisquer sintomas de doença Pode causar: Mau estar, cansaço e perda de apetite (algo semelhante a uma gripe). Por vezes, observa-se uma coloração amarelada nos olhos. Quando mais grave provoca insuficiência hepática fulminante e fatal. O diagnóstico da infecção é obtido com base na sorologia. Indivíduo terá de possuir antigénios (HBsAg) mas apenas a presença isolada de anti HBc pode fazer o diagnóstico 100% fiável. Fases da doença A doença ocorre em 3 fases: Fase prondrómica (Inicia-se subitamente: anorexia, mau estar náuseas vómitos, febre e intolerância ao tabaco. ) Níveis altos de AgHBs, o AgHBe e de carga viral. Níveis normais de aminotransferases. Fase ictérica (Após 5 a 10 dias, a urina fica escura e detecta-se icterícia – o paciente sente-se melhor apesar da icterícia.) Níveis mais baixos de carga viral, aumento das aminotransferases e existe AgHBe no soro. Fase de recuperação (uma a duas semanas depois detecta-se o pico da icterícia e o vírus começa a regredir lentamente.) Esta fase é caracterizada pela passagem de portador crónico para o estado de portador inactivo de AgHBs. Baixos níveis de carga viral e aminotransferases normais. Tratamento O uso de interferões foram os primeiros a serem usados pois reparouse que até um terço dos indivíduos tratados desenvolviam uma resposta: perda do DNA do vírus e do AgHBe. Actualmente há cinco drogas aprovadas para este tratamento: interferão alfa, lamivudina, adenovir, entecavir e telbivudina. Nenhuma medicação consegue erradicar de maneira eficaz o VHB dos hepatócitos. Não há nenhum antiviral que consiga erradicar a curto prazo diminuir os níveis de cccDNA dos hepatócitos de forma eficaz,. Prevenção O objectivo diminuir a incidência da doença e assim minorar as graves consequências que a evolução crónica pode acarretar. O VHB pode ser transmitido: Por via parental; Transfusão de sangue ou derivados; Agulhas compartilhadas por consumidores de drogas; Entre parceiros homossexuais de sexo masculino em instituições fechadas Informação e aconselhamento (não partilhar objectos pessoais eventualmente contaminados – lâminas, escovas de dentes, tesouras, roupas interiores, usar barreiras protectoras nas relações sexuais...); Usar luvas no manuseamento de sangue e outros produtos orgânicos; Vacinação.