II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DA UNAERP CAMPUS GUARUJÁ A educação ambiental no ensino de geografia. Leonardo Rezende Faria Especialista em Educação Ambiental UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora [email protected] Resumo: A presente monografia tem como objetivo inserir no ensino de Geografia, princípios da Educação Ambiental Transformadora, com intuito de contribuir para a construção de uma sociedade calcada no Desenvolvimento Sustentável. São enfatizadas discussões sobre a inserção da Educação Ambiental no ensino de Geografia em diferentes níveis, tanto em sala de aula, como também, através de trabalhos de campos e outros eventos que possam contribuir para conscientização ambiental dos alunos. Palavras-chave: Educação, meio ambiente e geografia. Seção 4 - Curso de Especialização em Educação Ambiental Apresentação: Oral 1. Introdução. Existe uma nítida preocupação quanto à seriedade dos problemas ambientais que ameaçam a qualidade de vida no planeta Terra. A população humana e as demais espécies existentes no planeta já sentem os efeitos da degradação ambiental mundial provocada pela atividade humana. Florestas estão sendo destruídas, os recursos oceânicos e costeiros exauridos, rios e lagos contaminados, os solos estão sendo erodidos, desertos crescem a cada ano, espécies são extintas, a fome e a pobreza assolam uma parte significativa da humanidade. Conflitos e problemas sociais agravam-se intensamente. Diante deste quadro, fica evidente a necessidade de se considerar a crise ambiental no ensino da Geografia em seus diversos níveis e conteúdos programáticos. 2 A CRISE AMBIENTAL E O ENSINO DA GEOGRAFIA A relação da sociedade com o seu entorno é algo que preocupa à análise geográfica. Como os impactos negativos causados pela ação antrópica vem aumentando significativamente, promovendo um declínio na qualidade de vida em todo o planeta, fica evidente a necessidade de se considerar a crise ambiental no ensino de Geografia. Aqui se propõe apresentar efeitos da crise ambiental que se manifesta nos subsistemas naturais estudados pela Geografia, considerando a relação destes com a atividade humana. 2.1 - A contaminação da hidrosfera. No ensino da Geografia, que fique evidente a necessidade de se debater o problema da escassez de água de boa qualidade, apontando problemas e alternativas para soluções futuras, considerando a questão a nível mundial e refletindo sobre a situação local, afinal toda cidade, depende da água para a sua manutenção. A contaminação da água é uma ameaça à permanência da vida e, a Geografia, não pode se omitir diante desta realidade. O que está em jogo na preservação e devida utilização dos recursos hídricos, é exatamente a jornada da humanidade no Cosmos. 2.2 - A poluição da atmosfera Diante da degradação ambiental que afeta a todos os subsistemas, mais uma preocupação expressiva para a humanidade é a poluição atmosférica. O uso indevido dos recursos energéticos vem causando sérios problemas relacionados com a atmosfera. Chuva ácida e fumaça, lançamento de substâncias tóxicas no ar. Apresentando todo este panorama, o professor de Geografia deve promover a discussão sobre a utilização de energia pelas diversas nações do mundo, propondo não somente alternativas, como fontes não poluentes de energia, bem como, permitindo uma análise crítica da política mundial de energia. Vale a pena ressaltar que o controle e a utilização de reservas energéticas, como por exemplo, o petróleo, além de causarem prejuízos ambientais pelo seu uso inadequado, também, geram conflitos pela sua posse. 2.3 - A litosfera: contaminação dos solos. No tocante à litosfera, cabe uma consideração inicial para a discussão sobre a crise ambiental e o ensino da Geografia. De acordo com Demétrio Magnoli (2001, p.10) “a noção de grandiosidade do tempo geológico começou a se firmar nas últimas décadas do século XVIII”. Também a partir do século XVIII, a humanidade passou a causar maiores impactos ao meio ambiente através do desenvolvimento da indústria. Em curto espaço de tempo, a sociedade industrial degradou o ecossistema terrestre e colocou a sua existência em estado de constante ameaça. Uma situação paradoxal se coloca: sabendo da longa história da morfologia do planeta Terra e da formação dos ecossistemas, uma conduta de preservação deveria ser afirmada; afinal, o ecossistema terrestre em toda a sua exuberância, é resultado de um tempo geológico grandioso e a vida é um acontecimento formidável na história do Universo. Conhecer a dinâmica do solo e a relação das atividades humanas com a sua devida conservação é um aspecto significativo para a Geografia. O solo é um recurso vital para a agricultura e seu uso devido é imperioso para a produção de alimentos. 2.4 - Biosfera: a extinção da biodiversidade O estudo da biosfera é condição básica para a implementação de medidas de preservação e conservação da biosfera. A economia é um argumento que pode ser utilizado em defesa da biodiversidade. Inúmeras drogas são produzidas utilizando-se substâncias extraídas de plantas. Além da medicina, a biodiversidade possui grande valor nutricional. A vida humana é extremamente dependente da sobrevivência de outras espécies de animais e plantas. A qualidade de vida humana depende da biodiversidade. “A diversidade biológica das espécies é a fonte mais importante da Terra. Os humanos dependem de uma vasta variedade de espécies vivendo em ecossistemas saudáveis, para o ar que respira, a água que bebe, e para manter a produtividade do solo nas plantações“(Corson,1996, p.103). 2.5 - A sociosfera: expressão da crise civilizacional. Estando ciente da profunda crise presente na sociosfera o professor de Geografia deve se posicionar diante das novas tendências de organização da sociedade, ampliando o debate com seus alunos e possibilitando o desenvolvimento de uma postura crítica diante do modelo de sociedade que se impõe. A Geografia é uma ciência e enquanto tal deve servir à humanidade, não apenas a pequenos grupos que são detentores dos meios de produção que se beneficiam com o consumismo acelerado e exacerbado. A crise da civilização mostra que há urgência da prática da Educação Ambiental. A sociedade humana possui incivos impactos na biosfera e suas ações repercutem sobre a sua própria qualidade de vida. Toda a humanidade está exposta ao risco ambiental, mas dentro desse processo são poucos aqueles que estão sendo beneficiados pelo processo de produção vigente. Discutir Educação Ambiental na escola é, também, falar em princípios de ética e justiça. A Geografia, por ser uma matéria que versa sobre o meio ambiente natural e sua relação com o social, tem uma função primordial dentro desse processo. 3.PRESSUPOSTOS TEÓRICOS PARA A INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE GEOGRAFIA Com a intenção de relacionar a Educação Ambiental Transformadora no ensino de Geografia, propõe-se a análise de categorias que são comuns nas reflexões de geógrafos e educadores ambientais, permitindo uma interpretação acerca da questão ambiental e das possibilidades de mudança. 3.1 - Trabalho O professor de Geografia tem que se imbuir da ética profissional oferecendo informações aos seus alunos sobre a exploração do trabalho e desigualdade na distribuição dos benefícios. É importante que se questione a utilização de normas e leis que o próprio Estado persiste em não cumprir. A Educação Ambiental para a transformação deve ser trabalhada nas diversas classes sociais. O grande passo para o futuro é reconhecer o valor de todos os grupos sociais. Os negros, índios, as mulheres, possuem um valor insofismável. Preservação da vida humana perpassa pela valorização do trabalho e do direito de acesso a todas as pessoas aos processos de produção e consumo. O futuro será testemunho da nossa ação no presente, espaço vivido em geral por crianças que precisam ser educadas para refletir o valor da vida humana. A informação a serviço da transformação. A realização da humanidade pela dignidade do trabalho. 3.2 - A Territorialização Contemporânea e o Papel da Educação Ambiental A Geografia, ciente das transformações mundiais e sabendo da distribuição dos recursos e conhecendo os padrões de produção e consumo em todo mundo, deve oferecer condições para estabelecer críticas à territorialização do globo. Conscientizar que a sociedade civil deve se organizar e oferecer resistência ao atual processo desigual de globalização da economia que invade os territórios, instala indústrias e meios de produção nos diversos países, explora mão-de-obra, matéria-prima e uma série de vantagens oferecidas por países em desenvolvimento e, além de tudo, concentra os benefícios desse processo mundial de produção sobre o poder de oligopólios sediados em países centrais, é uma conduta efetiva de Educação Ambiental. A sustentabilidade é uma preocupação concernente a diversos países, pois envolve a própria proteção da vida na Terra. Os problemas ambientais refletem peremptoriamente os desníveis de desenvolvimento. A falta de condições básicas de sobrevivência das populações dos países mais pobres em contraste com o esbanjamento e desperdício de países industrializados desenvolvidos põe em risco a vida na Terra. A pobreza, fruto de políticas sociais inadequadas nos países periféricos, induz à necessidade de redistribuição equitativa dos recursos disponíveis. 3.3 - Espaço, paisagem e lugar: a ação humana e o meio geográfico. A sustentabilidade passa pelo respeito à sensibilidade e todos os elos afetivos presentes entre os diversos povos e seus lugares. Viver de maneira sustentável no planeta Terra significa valorizar o outro. A alteridade tem que estar presente e ser bem trabalhada no ensino, é preciso saber conviver com as diferentes etnias e culturas, respeitando o direito dos grupos sociais de defenderem os lugares que amam. Educação Ambiental é falar também em afetividade e amor. A Geografia não é uma ciência fria, neutra, calculista, ela considera também a emoção. Somos humanos e não máquinas, “o que nos torna seres humanos e não máquinas é a emoção” (WILSON, 1994, p.374). O lugar da humanidade no universo é o planeta Terra. A esperança no futuro é cultivar a semente do amor e afeição pelo planeta Terra. Como afirma o cientista Carl Sagan (1985, p.103) “a Terra é um mundo pequeno e frágil. Necessita ser tratada com carinho”. 4 PROPOSTAS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE GEOGRAFIA Apresenta-se aqui propostas práticas para se trabalhar a Educação Ambiental no ensino da Geografia. Atividades que podem ser desenvolvidas em sala de aula e no campo, visando a conscientização ambiental. O professor de Geografia pode trabalhar com a Educação Ambiental nos diversos conteúdos da Geografia. Escolas com concepções de ensino mais avançadas podem até garantir a Educação Ambiental como uma das disciplinas, embora ainda não esteja totalmente viabilizada sua inclusão. Meio Ambiente é um dos temas transversais proposto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. É uma exigência do ensino atual que seja ensinado para os estudantes noções sobre meio ambiente com a inclusão de práticas de Educação Ambiental. A realização de trabalhos de campo representa um excelente recurso para a Educação Ambiental e o ensino da Geografia. Em campo o aluno pode visualizar aspectos da paisagem e da apropriação do meio pela sociedade, que nem sempre são possíveis em sala de aula. Em sua escola o professor de Geografia pode realizar palestras, seminários e outros eventos com o objetivo de divulgar informações sobre a questão ambiental e a apresentação de propostas de educadores ambientais para os principais problemas que afetam a humanidade. A oportunidade do aluno de estabelecer vínculos com profissionais de outras escolas e instituições de ensino e pesquisa é profícua, no sentido de despertar a sua atenção para as questões ambientais, sensibilizá-lo sobre os problemas e apresentar propostas práticas que podem ser utilizadas em sua vida pessoal e profissional. BIBLIOGRAFIA ADAS, Melhem. Geografia: os impasses da globalização e o mundo desenvolvido. São Paulo: Moderna, 2002. ARRUDA, Francimar Duarte. 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