UMA ANÁLISE DO PROCESSO FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA EM UMA EMPRESA VAREJISTA DA CIDADE DE TIMÓTEO – MINAS GERAIS Matheus Silva Dornelas / Aluno de Administração Msc. José Geraldo Teixeira / Professor (Unileste) RESUMO As empresas estão tendo que buscar estratégias que as tornam mais competitivas. Uma dessas alternativas é a formação de preços. O presente estudo tem por objetivo oferecer recomendações gerenciais para correta formação de preço para a empresa varejista de pequeno porte da cidade de Timóteo, Minas Gerais. A metodologia utilizada consiste na pesquisa exploratória com abordagem qualitativa, onde a coleta de dados foi com base a entrevista com responsável pela formação de preço de venda da empresa. De acordo com o entrevistado, a empresa utiliza controles financeiros, mas eles não funcionam corretamente devido à falta de tempo, e isso influencia no fluxo de caixa, pois não tem um controle assíduo por se tratar de empresa familiar. Outra dificuldade percebida pela entrevista foi o fato de acontecer situações onde o mesmo desconhece qual a porcentagem do lucro, por se tratar de um produto novo ou inexplorado. Quando tem que alterar o preço de venda, é outra dificuldade, pois tem que modificá-la no sistema e remarcá-la fisicamente. Uns dos problemas constatado do preço é que em certas ocasiões, estar abaixo ou acima do real, tendo como consequência a aceitação parcial do mercado consumidor. O entrevistado deixa claro que para realizar uma precificação é primordial conhecer os produtos, o volume de venda, bem como seus custos e a época que eles têm maior venda para a empresa se organizar e planejar a compra para ter a maior vantagem no lucro. Palavras-chaves: Formação de Preços. Gestão de custos. Estratégias de Precificação. 1 INTRODUÇÃO A competitividade do mercado tem exigido a busca contínua cada vez mais em aprimorar a qualidade em todos os processos e atividades que executam, buscando obter a aceitação dos seus produtos e serviços e alcançar não apenas a permanência no mercado que atuam, mas também, outros objetivos desejados. Segundo dados do Sebrae (2005), no Brasil o porte da maioria das empresas é caracterizado por Micro e Pequenas Empresas. Porém, muitos desses empreendimentos nascem sem ter um coerente planejamento e acompanhado da CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 245 falta de análise de fatores que influenciam seu crescimento, acabam por vir à falência muito cedo. O presente artigo pretende demonstrar as metodologias usadas pelas Pequenas e Médias Empresas para formação do preço de venda, item indispensável para a formação do lucro. Definir o preço de venda é uma tarefa importante para os gestores, pois é por esse meio da formação do preço de venda que a empresa começa efetivamente a competir no mercado cada vez mais acirrado. O mercado cada vez mais competitivo gera a necessidade, nas empresas varejistas, um melhor planejamento na formação do preço de venda. Assim, a boa definição de preço de venda é fundamental para as empresas atingirem o sucesso e a maximização do lucro esperado. Conforme Bernardi (1998, p.217): Não pode ser desconsiderado quando da definição da estratégia de formação de preços de venda. A adoção da correta estratégia para formar os preços de venda facilita as tomadas de decisões dos gestores, tornandoas mais precisas e dinâmicas. Conforme Assef (1997) as principais finalidades da correta formação de preço de venda são: proporcionar a longo prazo o maior lucro possível, permitir a maximização “lucrativa” da participação de mercado, maximizar a capacidade produtiva, evitando ociosidades e desperdícios operacionais e maximizar o capital empregado para perpetuar os negócios de modo auto sustentado. Nesse mesmo sentido Assef (1997) cita que “a correta formação de preços de venda é a questão fundamental para sobrevivência e o crescimento auto-sustentado das empresas, independentemente de seus portes e de sua área de atuação. Cita também que é “somente através de uma política eficiente de preços, as empresas poderão atingir seus objetivos de lucro, crescimento a longo prazo, desenvolvimento de seus funcionários, atendimento qualificado a seus clientes e etc.” CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 246 Santos (2000, p. 189) afirma que “o calculo do preço de venda deve levara um valor que traga a empresa a maximização dos lucros, que possa atender a qualidade, em atender os anseios do mercado aquele preço determinado e que melhor aproveite os níveis de produção. O objetivo deste trabalho é propor um modelo de gestão de custo para uma correta formação do preço de venda para uma empresa varejista de pequeno porte, na cidade Timóteo – Minas Gerais. Para atingir os objetivos do trabalho, como metodologia será utilizada a abordagem qualitativa, de caráter exploratório, através de um estudo de caso onde se pretende averiguar os métodos e estratégias de formação de preço de venda utilizada pela empresa varejista em estudo. 2 REFERENCIAL TEORICO 2.1 Formação de preço de venda A formação do preço de venda mais apropriada são um dos fatores mais preocupantes na vida dos gestores, isso porque essas tomadas de decisão na gestão de preço de venda estão ligadas diretamente ao mercado, as necessidades das partes interessadas, como clientes, fornecedores, governo e etc. Segundo Cogan (2013, p. 154), “a estratégia de preços distintos ou variáveis é aquela onde diferentes preços são aplicados a diferentes compradores, para o mesmo produto”. Já para Assef (1997, p.1): quem forma o preço é o mercado em que ele se insere. Para alijado da competição o empresário deve conhecer perfeitamente as regras de participação. Se pensar diferente e estabelecer seus preços somente considerando premissas de custos e margem, certamente está a meio caminho da dificuldade e falta de competitividade. CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 247 Para os empresários os aspectos mercadológicos devem ser analisados minuciosamente para definir a melhor estratégia de formação de preços. Assaf (1997, p.2) afirma que a “identificação e o conhecimento do mercado de atuação, das condições comerciais e mercadológicas das empresas concorrentes são essenciais na formação dos preços de venda”. Além disso, Bernardi (1998, p. 218) enfatiza que “o preço que o mercado estaria disposto a pagar não significa o mais alto possível a ser praticado, mas aquele que representa valor para o consumidor, o que resulta num preço competitivo”. Os conhecimentos do mercado estão relacionados a fatores como o avanço da tecnologia, a concorrência e a inovação. Para Assef (1997, p. 2), “assim como os seres vivos, os produtos e serviços têm um ciclo de vida, ou seja, uma duração, medida em unidade de tempo”. Um modelo claro do ciclo de vida dos produtos pode ser destacados pela troca dos disquetes por CD’s regraváveis, depois pelos pen drives e agora HD externo. Com os avanços da tecnologia, está cada vez mais comum um produto ser lançado para substituir produtos citados como imortais. O ciclo de vida do produto (CVP) é considerado uma boa ferramenta para decisões na gestão de preços de venda. É verificada a existência de quatro etapas distintas nos ciclos de vida dos produtos e serviços, onde cada etapa possui estratégias mercadológicas diferentes de precificação. As etapas de ciclo de vida dos produtos e serviços se dividem na seguinte maneira: Introdução, Crescimento, Maturidade e Declínio. 2.2 Custos na formação de preços de venda O gestor, na escolha da metodologia de formação do preço de venda, se ampara em ferramentas contábeis como a contabilidade de custos, com o objetivo de interpretar e analisar os custos dos produtos, dos serviços, dos componentes da organização, dos concorrentes e o tipo de mercado. CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 248 Segundo Crepaldi (1998, p. 209): Embora a fixação dos preços de venda dos produtos de fabricação da empresa seja uma tarefa bastante complexa, que leva consideração vários fatores, tais como as características da demanda do produto, a existência ou não de concorrentes, haver ou não acordo entre os produtores, sem dúvida o CUSTO de fabricação do produto é uma variável que desempenha um papel importante. Beulke e Bertó (2001, p. 161): A formação do preço de venda dos produtos, mercadorias e serviços, elementos essencial da gestão econômico-financeira e mercadológica das empresas, envolve inúmeros fatores na sua composição cabendo destacar: as estruturas de custo, a demanda (mercado), a ação da concorrência, o governo, os objetivos pretendidos como produto/mercadoria/serviço. 2.2.1 Terminologia em custos A área de custos possui terminologia própria que, entretanto, muitas vezes é utilizada de forma equivocada. Assim sendo, é importante a definição dos termos utilizados com maior frequência, a fim de evitar qualquer erro na interpretação dos conceitos apresentados. Gasto: Para Martins (2010, p.24) o gasto “compra de um produto ou serviço qualquer, que gera sacrifício financeiro para entidade (desembolso), sacrifício esse representado por entrega ou promessa de entrega de ativos". Temos também em Bernardi (1998, p.39) “tudo que se desembolsa para atender às finalidades da empresa, através de atividades de produção, administração e vendas” Custo: Segundo conceito de Bernardi (1998, p.39) custo: “são gastos direcionados à produção de bens; portanto, inerentes à atividade de produzir”. Já para Crepaldi (1998, p.57), "gasto relativo a bem ou serviço utilizado na produção de outros bens ou serviços, são todos os gastos relativos à atividade de produção". CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 249 Desembolso: É definido por Martins (2010, p. 25), desembolso “pagamento resultante da aquisição de um bem ou serviço”. Completado por Crepaldi (1998, p. 57)“ é o pagamento resultante da aquisição de um bem ou serviço. Pode ocorrer concomitantemente ao gasto (pagamento à vista) ou depois deste (pagamento a prazo)". Despesas: É definido por Crepaldi (1998, p. 57) como “gasto com bens e serviços não utilizados nas atividades produtivas e consumidos com finalidade de obtenção de receitas". Bernardi (1998, p 40) afirma que “São gasto inerentes a obtenção de receitas e administração da empresa, portanto próprios das atividades de vendas e administração”. Investimento: Segundo conceito de Bernardi (1998, p 40) investimento: “São gastos necessários ás atividades produtivas, de administração e de vendas que irão beneficiar períodos futuros”. Já para Martins (2010, p. 25), investimento " gasto ativado em função de sua vida útil ou de beneficio atribuíveis a futuro(s) período(s)". Perda: Pela definição de Crepaldi (1998, p.58), perda é: “gasto não intencional decorrente de fatores externos fortuitos ou da atividade produtiva normal da empresa”. Martins (2010, p. 26) afirma ser “o bem ou serviço consumido de forma anormal e involuntária”. 2.2.2 Métodos de apropriação de custos 2.2.2.1 Custeio por Absorção O método de custeio por absorção consiste na adequação de todos os custos utilizados na formação de produtos ou serviços. Este técnica é adotado pelas as empresas por atender as exigências societárias e fiscais. Beulke e Bertó (2001, p. 49) afirmam que: CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 250 Como próprio nome indica, esse sistema de custeio se caracteriza pela apropriação de todos os custos aos produtos (tanto variáveis como fixos, ou então tanto diretos como indiretos) [...] a conseqüência é que nesse sistema se obtém um custo total do produto/mercadoria ou serviço, que, acrescido de um resultado desejado, aponta um certo preço de venda. Apesar das maiorias das empresas adotarem este método, o custeio por absorção, como técnica gerencial, o mesmo pode levar o administrador a tomar decisões erradas, tendo em vista, a utilização de rateios para apropriar estes custos e a existência de custos fixos. 2.2.2.2 Custeio Direto (marginal) Por este método, leva em consideração apenas os custos que têm relação direta com os processos de manufaturas ou aos produtos derivados desse processo. O custeio direto ou variável separa os custos fixos e os classifica como despesa. Crepaldi (1998, p.111) afirma que: O custeio variável (também conhecido como custeio direto) é um tipo de custeamento que consiste em considerar como custo de produção do período apenas os custos variáveis incorridos. Os custos fixos, pelo fato de existirem mesmo que não haja produção, não são considerados como custos de produção e sim como despesas, sendo encerrados diretamente contra o resultado do período. Beulke e Bertó (2001, p. 54) afirmam que: O custeio marginal parte do principio de que um produto, mercadoria ou serviço só é responsável pelos custos e despesas variáveis que gera. Pela conceituação do tópico anterior, os custos e despesas variáveis de são os que variam com o volume de produção e de vendas, logo só existiriam se o produto existisse e não existiram em circunstancia contrária. São custo e despesas que surgem com o produto e desaparecem com ele. 2.2.2.3 ABC - Custeio baseado em atividades O método Custeio Baseado em Atividades – (ABC), consiste em apropriar os custos CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 251 às atividades relacionadas nos processos de produção e não aos produtos. Este método procura reduzir as distorções provocadas pelo rateio dos custos indiretos. Martins (2010, p.87) diz que “O Custeio Baseado em Atividades, conhecido com ABC (Activity-Based Costing), é uma método de custeio que procura reduzir sensivelmente as distorções provocadas pelo rateio arbitrário dos custos indiretos”. “O elemento de partida para a formação de preço de venda nesse sistema é a identificação de custo independente direto (tanto o variável como o fixo).” (BEULKE; BERTÓ, 2001, p.170) Martins (2010. p.294) afirma que: Uma das grandes vantagens do ABC frente a outros sistemas de custos mais “tradicionais” é que ele permite uma análise que não se restringe ao custo do produto, sua lucratividade ou não, sua continuidade ou não etc; mas permite que os processos que ocorrem dentro da empresa também sejam custeados. 2.2.2.4. O mark-up “A expressão “mark-up” é caracterizada pela ideia de formar preço de venda como tomando como base os custos”, para Bernardi (1998, p.250), mark-up pode então ser definido como um índice ou percentual que irá adicionar-se aos custos e despesas, o que não significa que deva ser aplicado linearmente a todos os bens e serviços”. Ainda nesse sentindo Martins (2010 p.218) afirma que calcular preço baseado em custos é determinar o “preço de dentro para fora, o ponto de partida é o custo do bem ou serviço apurado segundo um dos critérios estudados: Custeio por Absorção, Custeio Variável etc. Sobre esse custo agrega-se uma margem, denominada markup”. CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 252 2.2.2.5. Preços com base no custo pleno Os métodos de formação de preço com base no custo pleno são o emprego dos custos do produto acrescentando o lucro esperado, conforme mencionado por Cogan (2013, p.156), “Esse método se baseia na aplicação de todos os custos do produto acrescido de lucro”. Encontramos também em Bruni e Famá (2008 p. 268), “os preços são estabelecidos com base nos custos plenos ou integrais – custos totais de produção, acrescidos das despesas de vendas, de administração e da margem de lucro desejada”. 2.2.2.6. O modelo RKW O modelo RKW (reichskuratorium fur wirtschaftlichtkeit) em português Conselho administrativo do império para eficiência econômica ele tem por objetivo em destinar despesas e custos aos fabricados. De acordo com Perez Jr., Oliveira e Costa (2009, p.278) a abordagem RKW “consiste em alocar todos os gastos à unidade do produto, prevendo determinado volume de atividade”. Na concepção de Martins (2010, p.220), essa abordagem consiste no rateio não só dos custos da produção como também de todas as despesas da empresa, inclusive financeiras, aos produtos. 2.2.2.7. Método de Custeio por Absorção O custeio por absorção consiste em apropriar todos os custos incorridos na fabricação de produtos, sejam eles direto ou indireto, fixo ou variável. Segundo Megliorini (2012, p. 22), “o método de custeio por absorção é aquele em que os custos fixos e os custos variáveis são apropriados aos produtos. Ou seja, os produtos “absorvem” todos os custos incorridos em determinado período”. O custeio por absorção apresenta algumas vantagens ao seu respeito, conforme CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 253 Ferreira (2007, p. 160): Por ser o método adotado pela contabilidade financeira, é, portanto, válido tanto para fins de balanço patrimonial e demonstração de resultados como também para o imposto de renda na apresentação dos lucros fiscais; e traz melhores informações à gerência, para o estabelecimento dos preços de venda, visando a recuperação de todos os custos incorridos pela empresa. 2.2.2.8 Abordagem da Margem de Contribuição Devido à grande concorrência obriga as empresas tenham necessidade de diferenciar quais são os seus produtos que mais maximiza o lucro, e se existe algum produto esta causando algum prejuízo. Para isso, há uma necessidade de conhecer os custos associados aos produtos, e a capacidade de cada produto na geração do faturamento. Conforme afirma Perez Jr., Oliveira e Costa (2009, p.328), A correta identificação e segregação dos gastos permitirá a obtenção e a análise da margem de contribuição dos produtos e/ou departamentos, que é uma das mais importantes ferramentas da contabilidade gerencial, para tomadas de decisões nas organizações. Conforme afirma Crepaldi (1998), a margem de contribuição é uma ferramenta utilizada pelos gestores na tomada de decisões. Do ponto de vista da análise da margem de contribuição, os custos variáveis são retirados das vendas e os fixos são deduzidos da margem de contribuição para assim obter a renda líquida de cada bem e/ou serviço. A margem de contribuição é descrita por Bernardi (1998 p. 159) como “a diferença entre o valor das vendas, os custos variáveis e as despesas variáveis de venda. Isso significa que se pode avaliar o quanto cada venda contribui para pagar os custos fixos e despesas fixas”. CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 254 2.2.2.9 Abordagem do custo ABC O método ABC auxilia na gestão dos processos de produção, facilitando a análise das estruturas organizacionais e operacionais, tendo maior importância em relação a outros modelos de custeio. No entanto, não demonstra que os demais devem ser excluídos, devido a existência de empresas que não necessitam de um método de custeio complicado como o ABC. Devido à necessidade de obter corretas informações surgiu o método de custeio Baseado em Atividades (ABC). Conforme afirma Leone (2000, p. 252): A contabilidade de custos como instrumento de administração, teve que rever seus conceitos, seus sistemas e seus critérios, para começar a produzir informações mais precisas, que dessem suporte às muitas decisões gerenciais sobre novas alternativas de produção e de controle que deviam fazer face à concorrência. Surgiu então, o critério ABC, que veio para atender a essas novas necessidades. Segundo Martins (2010, p. 294): Uma das grandes vantagens do ABC frente a outros sistemas de custos mais tradicionais é que ele permite uma análise que não se restringe ao custo do produto, sua lucratividade ou não, sua continuidade ou não etc; mas permite que os processos que ocorrem dentro da empresa também sejam custeados. 3 METODOLOGIA A realização de uma pesquisa científica agrega conhecimento e aprendizado ao ser humano. Gil (2010, p.1) afirma que a pesquisa é “como um procedimento racional e sistemático que tem o objetivo de proporcionar respostas aos problemas que são propostos“. O presente estudo é também caracterizado pela pesquisa exploratória que busca, através do objetivo principal, a descoberta de respostas e aprimoramento de idéias na formação de preço de venda na loja varejista Timóteo. Segundo, Gil (2010, p.27): CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 255 As pesquisas exploratórias têm como propósito proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Seu planejamento tende a ser bastante flexível, pois interessa considerar os mais variados aspectos relativos ao fato ou fenômeno estudado. Para atender o objetivo do estudo, a pesquisa utiliza abordagens qualitativas, pois conforme Godoy (1995, p. 58). As principais características da pesquisa qualitativa são: Possui caráter descritivo; o processo é o foco principal de abordagem e não o resultado ou o produto; a análise dos dados é realizada de forma intuitiva por quem pesquisa; não necessita do uso de técnicas e métodos estatísticos e, tem como grande preocupação a interpretação de fenômenos e a atribuição de resultados. Além disso, foi utilizada como instrumentos de coleta de dados a entrevista que segundo Cervo, Brevian (1996, p.136) “Conversa orientada para um objetivo definido: recolher dados, através do interrogatório do informante, dados para a pesquisa.” A entrevista será feita com o responsável pela formação do preço de venda da empresa no período de 11/09/2015 a 14/09/2015 e posteriormente foi feita a análise dos dados coletados. Os dados serão analisados e discutidos no estudo de caso. Segundo Gil (2010 p.94) “Procura descobrir, com a precisão possível, a freqüência com que o fenômeno ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza e características”. 4 ESTUDO DE CASO Neste capítulo está apresentada a descrição e análise do estudo de caso. Inicialmente descrevem-se as características gerais da empresa em estudo e, posteriormente, será demonstrado como a empresa calcula o preço de venda, por meio de entrevista. Na sequência são demonstradas as análises que visam atingir o objetivo geral deste artigo, ou seja, avaliar como é feita a implantação do preço de venda e oferecer recomendações para uma correta formação de preço de venda em uma empresa varejista. CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 256 4.1 Histórico da Empresa Com base em informações obtidas na contabilidade, site e documentação (Contrato Social) da empresa em estudo, a mesma foi fundada em 1992 na cidade de Timóteo-MG. É classificada como uma Microempresa e está enquadrada no Regime do Simples Nacional. É constituída por dois sócios com o Capital Social equivalente à R$ 280.000,00 (duzentos e oitenta mil reais). Tem como sua principal atividade o comércio varejista, disponibilizando grande variedade e qualidade de marcas, nas linhas de medicamentos veterinários, vacinas, arames, telas, rações e farelos, adubos, inseticidas, sementes, ferramentas e construção civil. Atualmente a empresa conta com o quadro de três funcionários. Sua estrutura é dividida nos seguintes setores: administrativa, vendas, e logística conforme apresentado na figura 1. Figura 1 Estrutura Organizacional da Empresa pesquisada GERENTE ADMINISTRATIVA VENDAS LOGÍSTICA Fonte: Elaborado pelo autor 4.2 Resultados da entrevista Foi realizada uma entrevista com o responsável pela formação do preço de venda comercial da empresa sobre os métodos de formação de preço de venda utilizados pela empresa, conforme apresentado abaixo. 1. Quais controles financeiros você utiliza no dia a dia da sua empresa? CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 257 Os controles financeiros feitos pela empresa são controle de contas a receber, controle de contas a pagar e controle de estoques. 2. Sua empresa trabalha com Fluxo de Caixa? Não. Por que é uma empresa familiar, pois trabalhamos com base na confiança. Temos um programa aqui na empresa que auxilia nesse fluxo de caixa, mas ele não funciona direito devido o nosso dia-dia, às vezes efetuou uma venda ou retirada do caixa e esquecemos-nos de lançar. 4- Seus controles financeiros são feitos: A empresa tem um auxilio de um software onde nele existe um recurso especifico da área financeira. 5 – Você tem controle das despesas, custos e investimentos feitos pela empresa? Sim. A empresa tem um controle, alguns são feitos de forma manual, e outras estão descritos em notas fiscais. 6. Você sabe qual o capital de giro mínimo necessário para a sua empresa? Sim. Nosso capital de giro mensal é em torno de R$25.000. 7. Você conhece o custo de todos os seus produtos e serviços? Sim. Os custos estão especificados nas notas fiscais. 8. Com relação aos gastos com funcionário você sabe informar corretamente os seguintes itens: Sim. Salários, encargos, horas trabalhadas por empregado/mês. A contabilidade da empresa descrimina nos holerites dos funcionários, os gastos que temos. 9. A empresa elabora o preço de venda com base: Nós elaboramos o preço de venda em várias opções uma delas é com base na CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 258 época, devido o preço alterar em determinadas épocas do ano, às vezes fazemos maior estoque de produtos no verão, pois ele tem maior saída no outono e inverno e vice-versa, e quando esse estoque acabar o nosso preço não estará defasado e passamos a comprar com novo custo. Também no local, aqui somos únicos, ha uma ameaça de chegada de concorrentes, hoje temos essa regalia de ditar o preço, agora quando o local estiver mais “povoado” teremos que colocar com base nos concorrentes. E por ultimo de acordo com o produto, pois cada um tem uma saída diferente, e isso influencia no percentual do lucro da empresa. 10. A empresa utiliza algum método para calcular o preço de venda dos seus produtos? Sim. A empresa utiliza o seguinte método, pegamos o custo do produto descrito na nota mais os impostos (como somos optantes pelo simples nacional utilizamos 6%), e considero mais os 3% do cartão (pois eu repasso esse valor para o cliente final) e mais os 10% de despesas fixas da loja (IPTU, energia, alvará e etc.), e por fim somamos o lucro que queremos ter (isso varia de produto para produto, de acordo com o volume de venda). 11. Se marcou sim acima, qual o método utilizado na formação de preços de venda pela empresa: Preço com base no custo do produto. Preço de venda com base no valor percebido pelo mercado consumidor. Preço de venda com base nos concorrentes. Preço de venda com base no retorno sobre o capital investido. 12. Quais são as situações em que as decisões de formação de preço de venda são da maior importância: Nessas opções são a duas situações. Quando a empresa tem de estabelecer o preço pela primeira vez. E também quando as circunstâncias levam a empresa a considerar as possibilidades de alterar os preços. 13. Quais são os fatores internos e externos que influenciam na formação de preço de venda: CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 259 Fornecedores às vezes é um produto novo, desconhecido, até perguntamos aos vendedores qual a margem de lucro que os outros clientes dele colocam. Concorrência, isso ocorre de acordo com fatores como cliente reclama do valor, os concorrentes trabalham com a margem menor e etc. E por fim a demanda, quanto maior o volume de compra, melhor o custo e maior a maximização do lucro. 14. A empresa já teve problemas ao determinar o preço de venda (por não apurar/adicionar custos aos produtos), tais como: Preço de venda abaixo do real, o que diminui os lucros da empresa. Às vezes ficamos com a mercadoria muito tempo em estoque, que acabamos ficando defasado. Também o preço de venda acima do real, o que dificulta as vendas, nós fazemos uma pesquisa de mercado, ou até mesmo os próprios clientes falam, se tiver alguma coerência, reduzimos a margem de lucro. Esforço de venda não orientado para produtos mais lucrativos, isso fica muito em relação ao que o cliente deseja, por se tratar de produtos rurais, temos medicamentos talvez tenham um produto que é mais rentável, que não vai atender todas as necessidades dos clientes, então esforçamos as vendas para atender as necessidades de sua criação. 15. Qual a aceitação do mercado às diversas alternativas de preços da empresa? Aceitam parcialmente. Sempre tem aqueles clientes que reclama dos preços praticados pela empresa. Conforme o entrevistado, a empresa usa a seguinte fórmula para cálculo do preço de venda: Cálculo do preço de venda da empresa em estudo: CP x 1,06 x 1,03 x 1,10 x L Onde: CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 260 CP = Custo do produto 1,06 = Imposto 1,03 = A taxa de cartão 1,10 = Despesas fixas l = Lucro Fonte: Empresa pesquisada Elaborado pelo autor 5. Considerações Finais Visto que a formação de preço é essencial e que desenvolve um papel de importante em todas as empresas, para buscar maior competitividade no mercado. Foi realizada uma entrevista com o responsável pela formação de preço na empresa, para análise do processo de precificação da empresa. De acordo com o entrevistado, a empresa utiliza controles financeiros, mas eles não funcionam corretamente devido à falta de tempo, e isso influencia no fluxo de caixa, pois não tem um controle assíduo por se tratar de empresa familiar. Outra dificuldade percebida pela entrevista foi o fato de acontecer situações onde o mesmo desconhece qual a porcentagem do lucro, por se tratar de um produto novo ou inexplorado. Quando tem que alterar o preço de venda, é outra dificuldade, pois tem que modificá-la no sistema e remarcá-la fisicamente. Uns dos problemas constatado do preço é que em certas ocasiões, estar abaixo ou acima do real, tendo como conseqüência a aceitação parcial do mercado consumidor Quanto às estratégias de formação de preços utilizados pela empresa de acordo com a entrevista realizada, pode-se observar que o mecanismo utilizado no processo de precificação da mesma ocorre pelo conhecimento tácito definido por Nonaka e Takeuchi (1997, p.32), “é muito pessoal e difícil de ser codificado, ou seja, expresso por palavras. Por essência, é prático e é geralmente fruto de uma longa experiência, de uma convivência”. podemos até em certas ocasiões comparar com CONCISA - Revista Multidisciplinar da Área de Ciências Sociais Aplicadas, ISSN 2448-1602, Coronel Fabriciano, n. 2, p. 245-263, nov. 2015. 261 as metodologias em estudo, mas percebemos que eles não tem o conhecimento teórico, que poderia utilizar para maior ganho e controle de seus custos. O entrevistado deixa claro que para realizar uma precificação é primordial conhecer os produtos, o volume de venda, bem como seus custos e a época que eles têm maior venda para a empresa se organizar e planejar a compra para ter a maior vantagem no lucro. REFERÊNCIAS ASSEF, Roberto. Guia pratico de formação de preços: para pequenas e médias empresas. 4 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. BERNARDI, Luiz Antonio. Política e formação de preços: uma abordagem competitiva e sistemática e integrada. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1998. BEULKE, Rolando; BERTÓ, Dalvio José. Estrutura e análise de custos. São Paulo: Saraiva, 2001. BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Gestão de custos e formação de preços: com aplicações na calculadora HP12C e Excel. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2009. CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino . Metodologia científica. 4. ed. São Paulo: Makron Books, 1996. COGAN, Samuel. Custos e formação de preços: análise e pratica. São Paulo: Atlas, 2013. CREPALDI, Silvio Aparecido. 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