RAQUEL ESTOLANO SANTOS Distribuição espacial da variabilidade genética intrapopulacional de Tabebuia impetiginosa e Tabebuia serratifolia em uma Floresta Estacional Semidecidual. Montes Claros, Minas Gerais. 2011 Raquel Estolano Santos Distribuição espacial da variabilidade genética intrapopulacional de Tabebuia impetiginosa e Tabebuia serratifolia em uma Floresta Estacional Semidecidual. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Montes Claros, para obtenção de título de Mestre em Ciências Biológicas. Área de concentração: Biologia e Conservação. Orientador: Prof. Dr. Marcílio Fagundes Co-orientador (a): Profª. Drª Rosane Garcia Collevatti Montes Claros, Minas Gerais. 2011 Raquel Estolano Santos Distribuição espacial da variabilidade genética intrapopulacional de Tabebuia impetiginosa e Tabebuia serratifolia em uma Floresta Estacional Semidecidual. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Montes Claros, como requisito necessário para a conclusão do curso de Mestrado em Ciências Biológicas, avaliada e aprovada pela banca examinadora: Orientador: _____________________________________________________ Dr. Marcílio Fagundes Examinadores: ____________________________________________________ Dr. Rodrigo Oliveira Pessoa ____________________________________________________ Dr. Afrânio Farias De Melo Júnior Data de aprovação: 14 /03 / 2011 Montes Claros, Minas Gerais. DEDICATÓRIA A Deus, a minha mãe Fátima, as minha tias Lucimar, Socorro, Neta, e a minha irmã Ruth, pelo amor, apoio e dedicação. AGRADECIMENTOS A minha mãe Fátima pelo amor, apoio e também auxílio financeiro durante o curso. A minha querida e amada irmã Ruth que sempre me apoiou e incentivou em todas as conquistas da minha vida. As minhas tias Lucimar, Socorro e Neta, pelo apoio e incentivo nos meus estudos, mesmo de longe. A Flávia e seu marido Gustavo por me acolherem em sua casa nos primeiros meses que cheguei a Montes Claros, e também pela força durante todo o meu mestrado. A Dona Iraci e seu Divino por terem me acolhido em sua casa durante o período em que cursei as disciplinas em Montes Claros. As minhas amigas Ana Paula, Silmara e Tânia pela força e motivação ao longo do meu curso. A minha co-orientadora Rosane Garcia Collevatti pelo apoio e incentivo para cursar o meu mestrado, e também por depositar em mim confiança para realizar um projeto. Ao meu orientador Marcílio Fagundes pelo companheirismo e incentivo ao longo do meu mestrado. Ao meu namorado Eduardo pelo apoio, força e compreensão nos meses em que fiquei fora. As Su, Fran e Karita que me acolheram em Goiânia no período em que precisei para terminar de desenvolver o projeto na UFG. Ao pessoal do laboratório LGBio, em especial a Su, Fran, Jac, Monique que me acolheram e me ensinaram as metodologias que precisei. A Marina, minha companheira de projeto, pelas dicas, companheirismo e auxílio no meu projeto. A Paty pelo companheirismo e auxílio no meu projeto. Ao programa de Pós-graduação da Universidade de Montes Claros e o pessoal da secretaria do curso, pelo apoio e compreensão no tempo que precisei ficar fora. Aos professores do curso de mestrado da Unimontes: Henrique, Fred, Mario, Geraldo, pelo apoio e força ao longo do meu mestrado. A Michele amiga que fiz no curso de mestrado da Unimontes que me ajudou ao longo do curso. A Larissa e Michelinha amigas que fiz em Montes Claros e que me auxiliaram e apoiaram ao longo do meu curso. Aos colegas do curso de mestrado em Ciências Biológicas da Unimontes pelo companheirismo ao longo do curso. LISTA DE FIGURAS Figura 01 Parque Ecológico Altamiro de Moura Pacheco (PEAMP) no mapa delimitado pela linha preta .................................................................... 12 Figura 02 Indivíduo de Tabebuia impetiginosa (A); frutos e sementes (B); madeira (C); flores e folhas em destaque (D) ...................................... 14 Figura 03 Indivíduo de Tabebuia serratifolia (A); frutos e sementes (B); madeira (C); flores e folhas em destaque (D) ...................................................... 15 Figura 04 Relação da área de coleta demonstrando os 5 transectos contendo 8 parcelas cada um. ................................................................................... 16 Figura 05 Mapa da distribuição espacial dos indivíduos de Tabebuia amostradas no Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco-GO........................... 17 Figura 06 Gel de poliacrilamida 6 % corado com nitrato de prata contendo amostras de PCR do primer Tau 21 em 18 indivíduos de T. impetiginosa. Ladder 10 pb ............................................................... 27 Figura 07 Distribuição das freqüências alélicas para os seis locos polimórficos utilizados nos indivíduos de T. impetiginosa. O eixo das ordenadas indica as freqüências alélicas e o eixo das abscissas indica os alelos encontrados para cada loco................................................................... 29 Figura 08 Distribuição das freqüências alélicas para os seis locos polimórficos utilizados nos indivíduos de T. serratifolia.O eixo das ordenadas indica as freqüência alélicas e o eixo das abscissas indica os alelos encontrados para cada loco.................................................................... 31 Figura 09 Distribuição dos pares de indivíduos da população de T. impetiginosa e Tabebuia serratifolia........................................................................... 33 Figura 10 Relação entre o o parentesco ( Fij ± SE) e os pares de distância entre todos os indivíduos da população de T.impetiginosa............................. 34 Figura 11 Relação entre o o parentesco ( Fij ± SE) e os pares de distância entre todos os indivíduos da população de T.serratifolia ............................... 34 LISTA DE TABELAS Tabela 01 Descrição dos locos microssatélites desenvolvidos para Tabebuia Aurea por Braga et al.(2007) ............................................................. 18 Tabela 02 Sistema de coloração do gel de acrilamida, apresentados por Creste et al., (2001) .......................................................................................... 21 Tabela 03 Classes de distância usadas nas análises da estrutura genética espacial para as duas espécies de Tabebuia, determinada pelo programa SPAGeDi 1.3 a partir da distância em metros entre pares de indivíduos............................................................................................... 24 Tabela 04 Descrição dos seis locos microssatélites desenvolvidos para Tabebuia aurea por Braga et al.(2007), transferidos para T. impetiginosa e T. 26 serratifolia.............................................................................................. Tabela 05 Caracterização dos seis locos microssatélites observados em Tabebuia impetiginosa quanto ao número de alelos por loco (A), número de indivíduos analisados para cada loco (N); heterozigosidade esperada sob equilíbrio de Hardy-Weinberg (Nei 1978) (He); heterozigosidade observada (Ho) e coeficiente de endogamia (f)......................................................................................... 28 Tabela 06 Desequilíbrio de ligação entre os pares de locos para T. impetiginosa. O valor limite de significância após correção de Bonferroni é 0.003333................................................................................................. 28 Tabela 07 Caracterização dos seis locos microssatélites observados em Tabebuia serratifolia quanto ao número de alelos por loco (A), número de indivíduos analisados para cada loco(N); heterozigosidade esperada sob equilíbrio de Hardy-Weinberg (Nei 1978) (He); heterozigosidade observada (Ho) e coeficiente de endogamia 30 (f)............................................................................................................ Tabela 08 Desequilíbrio de ligação entre os pares de locos para T. serratifolia. O valor limite de significância após correção de Bonferroni é 0.003333................................................................................................. 30 Tabela 09 Diversidade genética nas populações de T. impetiginosa e T. serratifolia. N - Número de indivíduo analisados por loco; A- número de alelos por loco (média); He – Heterozigosidade esperada sob equilíbrio de Hardy-Weinberg (Nei 1978);Ho– Heterozigosidade observada; Fis - Coeficiente de endogamia; realizado com programa FSTAT baseado em 10000 permutações com nível de significância 32 p< 0,05................................................................................................... Tabela 10 Estrutura genética espacial (SGS) e vizinhança genética para as duas espécies de Tabebuia. N- número de indivíduos amostrados; Ddensidade (indivíduo por ha); F1- intra-grupo Fij ; b- inclinação da regressão para relação logarítmica do parentesco; Sp- parâmetro que mede a força da estrutura genética espacial ; Nb- vizinhança genética;R- índice de agregação............................................................ 34 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS % Porcentagem °C Grau Celsius μg Micrograma μl Micro litro μM MicroMolar λ dNTP Desoxirribonucleotídeo Trifosfato SSR Seqüências simples repetidas BSA Albumina de soro Bovina Lambda ng Nanôgrama M Molar mg Miligrama mM MiliMolar NaCl Cloreto de sódio PCR Reação em cadeia polimerase Taq Thermus aquaticus EDTA Ácido Etileno pH Potencial Hidrogeniônico CTAB Cetil Trimetil-amonio brometo DNA Desoxirribonucléico Ho Tris-Cl Tris HCl pb Pares de base Heterozigosidade observada He Heterozigosidade esperada A Número de alelos por loco diamino tetraacético Ácido Fis coeficiente de endogamia RESUMO Distribuição espacial da variabilidade genética intrapopulacional de Tabebuia impetiginosa e Tabebuia serratifolia em uma Floresta Estacional Semidecidual. ESTOLANO-SANTOS, Raquel. Ms. Ciências Biológicas. Universidade Estadual de Montes Claros. Fevereiro, 2011. Orientador: Dr. Marcílio Fagundes. Co-orientador (a): Dr. (a). Rosane Garcia Collevatti. No Cerrado, a família Bignoniaceae é amplamente representada pelos gêneros Tabebuia, Tecoma e Jacaranda. Embora o gênero Tabebuia, conhecido popularmente como ipê, possua ampla distribuição e alto valor econômico, as espécies mais estudadas do gênero são as da floresta amazônica, sendo poucos ainda os estudos sobre genética desse gênero nas Florestas Estacionais do Cerrado. Tabebuia impetiginosa e Tabebuia serratifolia são espécies utilizadas de forma não sustentável e comercial em diversas áreas, como nas indústrias farmacêuticas e principalmente, madeireiras. A fragmentação e destruição de habitats têm levado a diminuição das populações e extinção local das mesmas. A estrutura genética espacial está diretamente relacionada à história de vida da planta, e pode ser afetada tanto por processos ecológicos quanto por processos demográficos e genéticos. Este trabalho visa o estudo da estrutura genética espacial de duas espécies de Tabebuia, com o objetivo de dar subsídio para sua conservação e manejo. No Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco-PEAMP, remanescente de Floresta Estacional Semidecidual, sul de Goiás, foram mapeados e amostrados 31 indivíduos de T. impetiginosa e de 62 indivíduos de T. serratifolia. Todos os indivíduos foram genotipados utilizando seis locos microssatélites. T. impetiginosa apresentou uma média de 11,3 alelos por loco com variação de 6 (TAU 21) a 16 (TAU 28) alelos. Já T. serratifolia apresentou uma média de 4.3 alelos por loco variando de 2 (TAU 21 e TAU 31) a 8 alelos (TAU 15). T. impetiginosa apresentou maior diversidade genética (He = 0, 804) que T. serratifolia (He = 0, 473). O coeficiente de endogamia (f) foi significativo para as duas espécies (p > 0, 00833) e todos os locos estão em equilíbrio de ligação (p > 0, 003333). Ambas as espécies apresentaram autocorrelação espacial significativa (b = -0, 0036, p < 0, 001). Entretanto, o parentesco diminui fortemente e foram significativas somente até 20 metros para ambas as espécies. Assim, a estrutura genética espacial é significativa, porém fraca (Sp = 0,036 para T. impetiginosa e 0,032 para T. serratifolia). A vizinhança genética, estimada pela estrutura genética espacial, foi ligeiramente maior para T. serratifolia que para (Nb=29,92) T. impetiginosa (Nb=27,35). Nossos resultados mostram que, apesar das espécies estudadas serem dispersas pelo vento, esta dispersão está limitada a pequenas distâncias originando uma população cada vez mais aparentada. ABSTRACT Spatial distribution of genetic variability for Tabebuia impetiginosa and Tabebuia serratifolia in a Semideciduous Forest. ESTOLANO-SANTOS, Raquel. Ms. Ciências Biológicas. Universidade Estadual de Montes Claros. Fevereiro, 2011. Orientador: Dr. Marcílio Fagundes. Co-orientador (a): Dr. Rosane Garcia Collevatti. In the Cerrado, the Bignoniaceae family is widely represented by the genus Tabebuia, Tecoma and Jacaranda. Although the genus Tabebuia, popularly known as Ipê, has wide distribution and high economic value, the most studied species of the genus are those of the Amazon rainforest, yet little research on the genetics of this genus in the Cerrado Seasonal Forests. Tabebuia serratifolia and Tabebuia impetiginosa species are used unsustainably and trade in several areas, as in the pharmaceutical and mainly timber. The fragmentation and habitat destruction have caused the decline of populations and local extinction of them. The spatial genetic structure is directly related to the life history of the plant, and can be affected both by processes of ecological and demographic processes and genetic factors. This work aims to study the spatial genetic structure of two species of Tabebuia, aiming to give support to their conservation and management. State Park Altamiro de Moura Pacheco-PEAMP reminiscent of semideciduous forest, southern Goiás were mapped and sampled 31 individuals of T. impetiginosa and 62 individuals of T. serratifolia. All individuals were genotyped using six microsatellite loci. T. impetiginosa averaged 11.3 alleles per locus ranging from 6 (TAU 21), 16 (TAU 28) alleles. Since T. serratifolia showed an average of 4.3 alleles per locus ranged from 2 (TAU TAU 21 and 31) to 8 alleles (TAU 15). T. impetiginosa showed higher genetic diversity (He = 0, 804) that T. serratifolia (He = 0, 473). The inbreeding coefficient (f) was significant for either species (p > 0.00833) and all loci are in linkage equilibrium (p <0.003333). Both species showed significant spatial autocorrelation (b = -0, 0036, p <0, 001). However, the relationship was significant decreases strongly and only 20 meters for both species. Thus, the spatial genetic structure is significant but weak (Sp = 0.036 and T. impetiginosa 0.032 for T. serratifolia). The genetic neighborhood, estimated by the spatial genetic structure was slightly larger than that for T. serratifolia (Nb = 29.92) T. impetiginosa (Nb = 27.35). Our results show that, despite the species being dispersed by wind, this dispersal is limited to short distances, producing a population increasingly relative. SUMÁRIO RESUMO............................................................................................................................. 1 ABSTRACT......................................................................................................................... 2 SUMÁRIO........................................................................................................................... 4 1. INTRODUÇÃO............................................................................................................... 5 1.1. Estrutura Genética Espacial (SGS) e suas implicações nas populações de plantas ..... 5 1.2. Efeitos da fenologia da floração na estrutura genética de plantas................................7 1.3. Uso de marcadores microssatélites em estudos genéticos.............................................. 8 1.4. Gênero Tabebuia .......................................................................................................... 11 2. MATERIAL E MÉTODOS ..........................................................................................12 2.1. Caracterização da Área de estudo ...............................................................................12 2.2. Espécies de estudo: T. impetiginosa e T. serratifolia................................................. 13 2.3. Experimento de campo ............................................................................................... 16 2.4. Extração e quantificação do DNA .............................................................................. 17 2.5. Transferibilidade dos primers de Tabebuia aurea para Tabebuia impetiginosa e Tabebuia serratifolia. ........................................................................................................ 18 2.6. Genotipagem por meio de eletroforese em Gel de poliacrilamida 6% ..................... 20 3. ANÁLISES ESTATÍSTICAS........................................................................................23 3.1. Determinação da Diversidade Genética ..................................................................... 23 3.2. Determinação da Estrutura Genética Espacial e dispersão das sementes .................. 24 4. RESULTADOS...............................................................................................................26 4.1. Transferibilidade de primers SSR de Tabebuia aurea para Tabebuia impetiginosa e Tabebuia serratifolia ......................................................................................................... 26 4.2. Caracterização dos locos microssatélites ................................................................... 27 4.2.1 Tabebuia impetiginosa.................................................................................... 27 4.2.2 Tabebuia serratifolia ...................................................................................... 30 4.3. Determinação da Diversidade Genética ..................................................................... 32 3 4.4. Estrutura genética espacial e Dispersão de sementes................................................. 32 5. DISCUSSÃO...................................................................................................................35 5.1. Sucesso na transferência dos Marcadores Microssatélites ......................................... 35 5.2. Diversidade Genética ................................................................................................. 35 5.3. Estrutura genética espacial e Dispersão de sementes ................................................. 37 6. CONCLUSÃO................................................................................................................42 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................43 4 1. INTRODUÇÃO 1.1. Estrutura Genética Espacial (SGS) e Fluxo Gênico em Espécies Arbóreas A caracterização da estrutura populacional na abordagem genética e evolutiva procura quantificar a variabilidade morfológica e quantitativa existente entre os indivíduos, como o comportamento reprodutivo, os padrões de fluxo gênico e as diferentes estratégias adaptativas aos ambientes locais (Martins, 1987). A estrutura genética espacial nada mais é do que a distribuição não aleatória dos genótipos dentro de uma população (Vekemans e Hardy 2004). A estruturação genética pode ocorrer dentro de grupos locais de plantas ou na progênie de indivíduos. A migração, as mutações, a seleção natural e a deriva genética que operam no contexto histórico de cada espécie de planta são as principais forças que determinam a estruturação espacial (Loveless & Hamrick, 1984). Em uma escala ecológica, a limitação de pólen e sementes, o isolamento de pequenas manchas, a mortalidade diferencial e a seleção por microhabitats são os fatores determinantes da distribuição genética espacial de populações de plantas (Epperson, 1993). A estruturação espacial de genótipos ou isolamento por distância dentro de populações e subseqüente endogamia biparental pode ocorrer mesmo que haja limites de dispersão de sementes moderados (Epperson & Chung, 2001). Um exemplo é a ocorrência de endogamia que não depende apenas das características genéticas do indivíduo, mas, também, da configuração espacial dos seus aparentados. A estrutura genética espacial e a taxa de cruzamento são, portanto, os principais fatores controlando o sistema de reprodução, os níveis de endogamia e mesmo a dinâmica da variação genética dentro de populações de plantas (Epperson & Chung, 2001). O fluxo gênico entre as populações determina o grau de diferenciação genética entre elas. O fluxo gênico em plantas é caracterizado pela movimentação dos grãos de pólen e sementes entre e dentro de populações. Se o fluxo gênico se restringe provavelmente ocorrerá variação na população em conseqüência da seleção natural local ou deriva genética. Por outro lado, o fluxo gênico em longas distâncias promove a homogeneidade genética entre populações da mesma espécie (Slatkin, 1985; Ellstrand, 1992). 5 Nas populações de plantas os genótipos são arranjados de forma aleatória e estão estruturados no espaço e no tempo. A estrutura espacial é determinada pelo modo de reprodução, dispersão de pólen e semente de cada espécie, que geralmente possuem limitações físicas. Por outro lado, a estrutura genética temporal refere-se à divisão das gerações. Assim os mecanismos de dispersão podem modelar a composição e a estruturação genética das populações de plantas (Hamrick, 1982). O fluxo gênico em plantas possui dois estágios: o haplóide representado pela dispersão do pólen, e o diplóide que é a dispersão das sementes. A grande maioria das espécies arbóreas é polinizada por animais, principalmente por insetos, morcegos e beijaflores. Os mecanismos de dispersão de cada espécie também influenciam na estruturação genética das populações (Bawa et al., 1985). A dispersão de sementes nos ambientes tropicais é realizada na sua grande maioria por animais (zoocoria)(Ohsawa et al., 1993). Dispersores de sementes de uma espécie precisam, portanto, ser suficientes e eficientes para a manutenção dessa espécie, conseguindo dispersar o mais longe possível as sementes da árvore mãe. Caso isso não ocorra as sementes serão dispersas na vizinhança das árvores mães, originando assim à estrutura genética espacial, onde indivíduos próximos tendem a ser mais semelhantes (geneticamente) entre si do que indivíduos espacialmente distantes (Wright, 1943). Muitos estudos de simulação demonstram que, quando o fluxo de pólen e sementes é restrito em uma população, a homozigose se desenvolve mais rapidamente devido a endogamia e deriva gênica (Wright, 1943; Sokal & Wartenberg, 1983). Wright (1943) descreveu o modelo de isolamento por distância, sugerindo que o fluxo gênico restrito geograficamente dentro de uma população local gera a estruturação genética. Assim, quanto maior for à distância do fluxo gênico, maior será o tamanho da vizinhança, menor será a taxa de deriva genética e, portanto menor será a diferenciação genética entre a vizinhança. Modelos teóricos de isolamento por distância mostram que indivíduos espacialmente próximos são mais correlacionados entre si do que os indivíduos mais distantes, e que a estimativa da coancestria decline gradualmente entre pares de indivíduos localizados espacialmente próximos para os de longas distâncias geográficas (Loiselle et al., 1995). Esse declive corresponde a regressões lineares que podem ser utilizadas para 6 estimar a distância de dispersão utilizando a densidade populacional e a distância média ao quadrado da movimentação dos genes. 1.2. Efeitos da fenologia da floração na estrutura genética de plantas Variações no número de flores e no tempo de florescimento são freqüentemente observadas entre plantas de uma mesma população (Pors & Werner, 1989; Dieringer, 1991; Washitani et al., 1991; Okayama et al., 2003). Estas variações podem afetar o fluxo de pólen e a estruturação genética das populações. Por exemplo, a floração em massa de plantas próximas aumenta a troca de pólen entre plantas vizinhas e, conseqüentemente, a média de polinização a longa distância cai. Este fato está associado ao movimento antecipado do polinizador entre plantas vizinhas, conseqüentemente o fluxo de pólen a longa distância diminui, gerando um impacto sobre a estrutura espacial de populações de plantas (Schmitt, 1983). Assim, efeito da fenologia floral (tempo de floração e número de flores), na distância do fluxo de pólen pode ter conseqüências bastante significativas na estrutura genética espacial (Schmitt, 1983; Loveless & Hamrick, 1984). Estudos têm demonstrado que a densidade floral pode afetar fortemente a distância do fluxo de pólen (Levin & Kerster, 1969). Padrões de dispersão de genes podem ser sensivelmente diferentes em populações que apresentam distribuição contínua e alta densidade em relação aquelas que formam colônias com maior ou menor grau de isolamento (Martins, 1987). Segundo Futuyma (1992), se existir limitações físicas entre os indivíduos de uma população de forma a limitar o cruzamento entre todos os indivíduos (cruzamentos aleatórios), haverá maior probabilidade de cruzamentos entre indivíduos próximos, o que gera a redução de heterozigotos e formação de grupos, estruturando a população. Portanto, o sistema de cruzamento é fundamental dentro da composição das populações, pois determina a taxa de auto-fecundação, cruzamentos correlacionados, padrão de distribuição de indivíduos parentes e fluxo gênico de uma determinada espécie (Hamrick, 1982). Diversos estudos têm detectado estrutura genética espacial dentro de populações de espécies arbóreas tropicais (Sebbenn et al., 1998; Chung et al., 1999; Chung & Epperson, 2000; Giudice-Neto & Kageyama, 2000; Dutech et al., 2002; Moreira et al.,2009). Por isso 7 se faz necessário o estudo de mais espécies para entender como estas populações estão respondendo as diferenciadas condições e quais são suas adaptações para tal. Pouco se sabe sobre a estrutura genética dos Ipês, grande parte dos estudos é voltada para testes de germinação para utilização dessas espécies em reflorestamento e arborização (Stockman et al., 2007; Sarzi et al., 2008). Uma das ferramentas utilizadas para quantificar estes fatores é o uso dos marcadores moleculares no estudo da genética de populações, que possibilita avaliar a diversidade genética dentro e entre populações. 1.3. Uso de Marcadores Microssatélites em Estudos Genéticos Marcadores moleculares são, todo e qualquer fenótipo molecular proveniente de um gene expresso, ou de um segmento específico de DNA, que podem corresponder a regiões expressas ou não. Os marcadores moleculares demonstram as diferenças entre dois ou mais indivíduos na seqüência de seus nucleotídeos ao longo da fita de DNA (Ferreira & Grattapaglia, 1995). Os marcadores moleculares microssatélites são utilizados em trabalhos de determinação de paternidade, estimativas de diversidade, fluxo gênico, taxa de cruzamento, parentesco, na construção de mapas genéticos e também na quantificação dos efeitos gerados pela fragmentação dos habitats que servem como subsídios para a conservação das espécies (Collevatti et al., 2001a; 2001b; Gaiotto et al., 2003; Zucchi et al., 2003; Lemes et al., 2007). O uso de marcadores moleculares iniciou-se na década de 60 através da introdução da técnica de eletroforese em isoenzimas. O número de marcadores moleculares então foi ampliado, e a aplicabilidade dessa técnica passou a incluir potencialmente o estudo em todas as espécies de plantas. Posteriormente, na década de 70, o desenvolvimento do processo chamado de PCR (Polymerase chain reaction) que é a amplificação de DNA em cadeia utilizando a enzima DNA polimerase, possibilitou a descrição de outras classes de marcadores moleculares (Ferreira & Grattapaglia, 1995). Através dos avanços da biologia molecular, hoje existem diversas técnicas que permitem a detecção da variabilidade genética através do acesso direto de uma seqüência de DNA destacando-se: RFLP (Restriction Fragment Length Polymorphism), RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA), AFLP (Amplified Fragment Length 8 Polymorphism), SCAR (Sequence Characterized Amplified Regions); STS (Sequence Tagged Sites) e microssatélites (Ferreira & Grattapaglia, 1995). No final da década de 80, três grupos de cientistas isolaram e descreveram os microssatélites ou SSRs (Simple Sequence Repeats) como marcadores que consistem de seqüências curtas contendo de um a seis nucleotídeos repetidos em tandem (lado a lado), cujo nível de polimorfismo produzido é devido à variação no número de unidades de repetição em um determinado loco (Litt & Luty, 1989; Weber & May, 1989; Tautz, 1989). Todos os organismos até hoje já analisados apresentaram microssatélites, principalmente no interior de regiões não codificantes do genoma (Hancock, 1999). Os microssatélites já foram observados em humanos (Litt & Luty, 1989), Drosophila (Diptera: Drosoplhilidae) (Tautz, 1989), e plantas como, por exemplo, Eucalyptus grandis (Brondani et al., 1998). As unidades de repetição dos marcadores microssatélites são geralmente mono-, di, tri- ou tetranucleotídeos. De acordo com Oliveira et al.,(2006), os marcadores microssatélites são classificados segundo o tipo de seqüência repetida que podem ser perfeitos (a seqüência repetida não é interrompida por nenhuma base nitrogenada), imperfeitos (apresentam outras seqüências além daquelas repetidas em tandem) e os compostos (quando ocorre à repetição de mais um tipo de motivo). Marcadores microssatélites são de natureza co-dominante, possuem alto polimorfismo genético, riqueza de alelos por locos, alta heterozigosidade. Cada loco microssatélite pode ser amplificado por PCR e analisados de uma só vez em sistemas semiautomatizados ou automatizados. Estas características são na sua grande maioria desejadas em um marcador molecular (Ferreira & Grattapaglia, 1998). O alto nível de polimorfismo encontrado em seus locos (Weber &May, 1989; Tautz, 1989) faz dos microssatélites um dos marcadores moleculares mais utilizados em diversos tipos de estudos populacionais (Brown et al., 1996). Isto porque o seu polimorfismo está associado à alta taxa de mutação encontrado nas regiões microssatélites, que variam de 10-2 a 10-6 eventos por loco e por geração, comparado a regiões codificantes do genoma, que apresentam taxas de mutação entre 10-9 a 10-10 (Goldstein & Schlotterer, 1999). 9 Essas mutações são causadas por alterações no número das unidades de repetição, e a maioria delas resulta na modificação em seu número de cópias (Eisen, 1999). Dois mecanismos podem explicar essas modificações: o primeiro é o crossing-over desigual onde a presença das unidades repetidas em tandem aumenta a probabilidade da ocorrência do alinhamento desigual entre as cromátides dos cromossomos homólogos durante a recombinação, o que gera modificações no tamanho das seqüências dos microssatélites (Harding et al., 1992). O segundo mecanismo é do slippage da DNA polimerase, e é o mais aceito hoje em dia. Ele se dá através do avanço ou recuo da DNA polimerase durante a replicação o que resulta no aumento ou diminuição das unidades repetitivas (Tachida & Lizuka, 1992). A vantagem de se usar os marcadores microssatélites se dá pelo fato de requerer pouca quantidade de DNA e podem ser obtidos entre pesquisadores ou centro de pesquisa, pois cada loco é definido por um par de seqüências de primers (Powell et al., 1996). Podem ser utilizados em espécies taxonomicamente relacionadas devido sua a alta homologia encontrada nas regiões flanqueadoras, pois são conservadas entre as espécies (Moore et al., 1991). A desvantagem do uso dos marcadores microssatélites está relacionado ao desenvolvimento de primers específicos, que requerem muito trabalho e tempo, além do custo ser bastante alto (Rafalski et al., 1996). Embora existam essas desvantagens muitos pesquisadores vêm desenvolvendo marcadores microssatélites para várias espécies tanto de plantas tais como, Manihot esculenta (Chavariaga et al., 1998), Populus tremuloides (Dayanandan et al. 1998), Caryocar brasiliense (Collevatti et al., 1999), Fragaria vesca L (James et al. 2003), Passiflora edulis f. flavicarpa (Oliveira et al. 2005) Anacardium occidentale (Croxford et al. 2006), Tabebuia aurea (Braga et al. 2007), entre outros, como também para animais, Myrmecophaga tridactyla (Garcia et al. 2005), Inia geoffrensis (Gravena et al., 2007) entre outros. 10 1.4- Gênero Tabebuia As espécies do gênero Tabebuia recebem vulgarmente o nome de Ipê. Os Ipês são caracterizados por possuírem floração sazonal, que são classificadas em dois tipos: cornucópia e “big bang”. A primeira é quando ocorre uma produção maciça de flores durante 3 a 10 semanas e a segunda é quando ocorre uma floração explosiva durante apenas alguns dias (Gentry, 1974). São espécies arbóreas utilizadas de forma não sustentável devido seu valor econômico e comercial em diversas áreas, como nas indústrias farmacêuticas, madeireira e no reflorestamento de áreas degradadas (Santos et al., 2005). Embora o gênero Tabebuia possua ampla distribuição e alto valor econômico, as espécies mais estudadas do gênero são típicas da floresta amazônica, especialmente estudos voltados para distribuição, polinização e fenologia (eg. Gentry, 1974, 1990). Os estudos envolvendo aspectos genéticos são poucos encontrados ainda na literatura, ainda mais envolvendo marcadores microssatélites. Braga et al. (2007), desenvolveu 21 locis microssatélites para o gênero Tabebuia que possibilitará estudos mais aprofundados sobre a genética de populações dessas espécies. Estudos com espécies de Ipês em áreas de cerrado ainda são raros. Assim são necessários mais estudos sobre a diversidade genética, fluxo gênico, sistemas de cruzamento e evolução das espécies que ocorrem no cerrado. Esses estudos servem de referencial teórico para a implementação correta do manejo e conservação de áreas florestais remanescentes (Seoane et al., 2000; Kageyama, 1987), o que auxilia no acúmulo de dados que apontam quais direções devem ser tomadas para minimizar o impacto ambiental provocado nestes ecossistemas que são cada vez mais perturbados (Kageyama, 1987). Este trabalho teve como objetivo avaliar o padrão espacial da variabilidade genética de T. serratifolia e T. impetiginosa, por meio do uso de marcadores microssatélites utilizando técnicas de autocorrelação espacial. 11 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Caracterização da Área de estudo O presente estudo foi realizado no Parque Ecológico Altamiro de Moura Pacheco (PEAMP) (Figura 01), em uma área de floresta estacional semi-decídua próxima à Trilha do Tamanduá (“16°31, 902‟-16°32‟11” S e 49°08, 366‟-49°08‟18” W), PEAMP, Goiás. O PEAMP é uma unidade de conservação de proteção integral que está situado a 22 km de Goiânia as margens da BR-060/156, integram áreas dos municípios de Goiânia, Goianápolis, Teresópolis e Nerópolis. Abrange uma área de 4.123 há e possuiu uma altitude que varia de 740 a 920 m (Semarh, 2009). Figura 01 - Parque Ecológico Altamiro de Moura Pacheco (PEAMP) no mapa delimitado pela linha preta. Fonte: Sistema Estadual de Estatística e de Informações Geográficas de Goiás – SIEG – www.sieg.go.gov.br 12 A vegetação predominante do PEAMP é a floresta estacional semidecidual, além da existência de matas de galeria e pequenas manchas de cerrado sensu stricto e cerradão, com características de zona de transição cerrado/floresta estacional, sendo a família Bignoniaceae, família das espécies em estudo, a segunda mais representativa no PEAMP (Haidar et al., 2005). A vegetação do PEAMP apresenta grande variedade de espécies de alto valor econômico como a aroeira, jatobá, cedro, jequitibá, além de outras espécies como ipês, barriguda, guatambu, angico, que há algumas décadas atrás, recobriam a maior parte da região central do Estado, estabelecendo ligação com a Floresta Atlântica através do Rio Paranaíba (Semarh, 2009). Contudo, essa vegetação se encontra em diferentes condições de perturbação, uma vez que antes da criação do Parque a área foi utilizada como fazenda, havendo muitos pastos abandonados, clareiras para a extração de madeira e antigos roçados intercalados com trechos mais preservados (SEMARH, 2009). 2.2 Espécies de estudo: T. impetiginosa e T. serratifolia Tabebuia impetiginosa (Figura 02) é uma árvore decídua durante o inverno, heliófita, característica das florestas semidecíduas e pluviais. Ocorre tanto em florestas primárias densa, como em formações abertas e secundárias podendo atingir 12 metros de altura (20 a 30 metros no interior de florestas) (Lorenzi, 2002). Apresenta flores em forma de trombetas, sua a floração inicia-se nos meses de maio a agosto. Possui folhas compostas e palmadas, com 5 folíolos que caem durante a floração. Produz frutos em forma de vagens de 25 cm que se abre liberando as sementes aladas que são amplamente dispersas, porém de forma descontínua em toda sua área de distribuição. Sua polinização é realizada por abelhas, mais especificamente as espécies Partamona Cupira, Trigonoma spinipes (Lorenzi, 1992). 13 B A C D Figura 02 - Indivíduo adulto de Tabebuia impetinosa (A); frutos e sementes (B); madeira (C); flores e folhas em destaque (D). Fonte: Árvores Brasileiras. (Lorenzi, 2002) No Brasil ocorre do Piauí e Ceará até Minas Gerais, Goiás e São Paulo, tanto na mata pluvial atlântica como na floresta semidecídua (Lorenzi, 2002). Em Minas Gerais passa das matas para os pastos como árvores solitárias e ocasionalmente ocorre no cerrado e na caatinga (Rizzini, 1978). Tabebuia serratifolia (Figura 03) é encontrada em quase todo o território nacional (Lorenzi, 1992). Segundo Carvalho (1994), ocorre na Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname, Trinidad & Tobago, Venezuela e no Brasil. No Brasil é bastante freqüente na região Amazônica ocorrendo desde o Ceará até São Paulo na floresta pluvial atlântica; na região sul da Bahia e no norte do Espírito Santo é um pouco mais freqüente do que no resto da costa (Lorenzi, 2002). 14 B A C D Figura 03 - Indivíduo adulto de Tabebuia serratifolia (A); frutos e sementes (B); madeira (C); flores e folhas em destaque (D). Fonte: Árvores Brasileiras. (Lorenzi, 2002) É uma árvore do tipo caducifólia, sua folhagem é renovada anualmente; as folhas caem no inverno e aparecem logo após a floração que ocorre no período de julho a outubro. É uma planta decídua, heliófita, característica da floresta pluvial densa, sendo também largamente dispersa nas formações secundárias, como capoeiras e capoeirões; porém, tanto na floresta como na capoeira, prefere solos bem drenados situados nas encostas (Lorenzi, 1992). Possui flores hermafroditas que são dispostas em inflorescências nas pontas dos ramos. As folhas são opostas, digitadas e 5-folioladas. Os frutos são vagens coriáceas, deiscentes que amadurecem no período de outubro a dezembro, produzindo grande quantidade de sementes leves e aladas, que são dispersas rapidamente pelo vento geralmente de forma uniforme e sempre muito esparso (Lorenzi, 1992). As flores atraem abelhas e pássaros, principalmente beija-flores, sendo que os principais polinizadores são as abelhas (Carvalho, 2003). Os eventos reprodutivos são observados em árvores com oito anos de idade e 8-10m de altura, em áreas abertas, e em árvores com 10-15m de altura, na floresta (Lorenzi, 1992). 15 2.3 Experimento de campo A coleta foi realizada em uma área bastante íngreme, onde foram traçados cinco transectos perpendiculares a trilha do Tamanduá. Cada transecto possuindo oito parcelas de aproximadamente 20X20 m cada, o que equivalente a um total de 3.200 m² por transecto (Figura 04). Figura 04 - Relação da área de coleta demonstrando os 5 transectos contendo 8 parcelas cada um. Todos os indivíduos de Tabebuia impetiginosa (25 adultos e 6 juvenis) e T. serratifolia (26 adultos e 36 juvenis) encontrados dentro das parcelas foram coletados, anotados e georreferenciados através de um aparelho de GPS (Sistema de Posicionamento Global) (Figura 05). 16 Figura 05 – Mapa da distribuição espacial dos indivíduos de Tabebuia amostradas no Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco-GO. As folhas das árvores maiores foram coletadas com auxilio de podão e quando não possível o alcance das mesmas foi retirado um pedaço do câmbio dos troncos. A retirada do câmbio foi realizada por meio de um instrumento de metal cilíndrico com diâmetro de 1 cm. As folhas coletadas ou câmbio foram armazenados em saquinhos plásticos contendo a identificação de cada árvore, e conservados em sílica gel até o armazenamento dos mesmos no laboratório em freezer vertical à - 20º C. Através das informações genéticas e geográficas (coordenadas geográficas) de cada planta foi possível estimar o índice de agregação (R) intrapopulacional das duas espécies de Tabebuia. Esse índice de agregação é estimado para diferentes classes de distância geográfica, e permite a inferência do padrão de distribuição espacial das árvores em cada população. Os valores de R indicam: <1, distribuição agregada; 1, distribuição aleatória; e >1, associam-se à distribuição regular (Degen, 2000; Degen et al., 2001a; Hardesty et al., 2005). Os valores do índice de agregação foram estimados pelo programa SPAGeDi 1.3 (Hardy & Vekemans, 2009). 2.4 Extração e quantificação do DNA O DNA das folhas ou câmbio de T. serratifolia e T.impetiginosa foram extraídos de acordo com o protocolo de extração de DNA adaptado de Doyle & Doyle (1987). As 17 amostras de DNA foram quantificadas em gel de agarose 1% (0,30 g de agarose e 30 ml de TBE 1X) utilizando λ 20, 60 e 100 ng/ml como marcador. Posteriormente as amostras foram diluídas para obtenção de DNA em concentração final de 3 ng/ml e volume final de 100 µl. 2.5 Transferibilidade dos primers de Tabebuia aurea para Tabebuia impetiginosa e Tabebuia serratifolia Para testar a transferibilidade dos primers desenvolvidos por Braga et al., (2007), foram escolhidos ao acaso quatro indivíduos de T. impetiginosa e T.serratifolia. Estes indivíduos foram submetidos à amplificação via PCR contendo 15 µl de volume final utilizando 21 pares de primers microssatélites (Tabela 01). Para amplificação por meio de PCR para cada reação foi utilizado, 1 unidade de Taq DNA polymerase (Phoneutria, MG) 0,9 µM e cada primer (forward e reverse), 1 X tampão (10 mM Tris-HCl, pH 8,3, 50 mM KCl, 1,5 mM MgCl²) 250 µM de dNTP, 0,25 mg de BSA e 9,0 ng de DNA. Todos os primers foram inicialmente testados com temperatura de hibridação igual à 56º C baseadas nas temperaturas utilizadas em T. aurea, para a qual os primers foram desenvolvidos. Os primers que não amplificaram ou apresentaram alta freqüência de bandas inespecíficas foram testados com temperaturas de hibridação variando de 50º C à 58º C até que se encontrasse a temperatura ideal para cada primer. Os produtos de PCR primeiramente foram observados em gel de agarose 3% (0,90 g de agarose e 30 ml de TBE 1X), para detectar se houve amplificação ou não para as temperaturas testadas. Tabela 01 - Descrição dos locos microssatélites desenvolvidos para Tabebuia aurea por Braga et al.(2007). Loco SSR Repetição do motivo Tau 07 (AG)25 Seqüência do primer (5’-3’) F: CCATAAGCTGCATCAACACA R: ATCCTAAGATCGGTACTCCA Tau 08 (TC)6(CC) F: TCACAAACTAGAGCGACTGA (TC)27 R: TGCCAATATGTTGACATTGA 18 Tau 09 (AG)25 F: TTCCATAAGCTGCATCAACA R: ATCCTAAGATCGGTACTCCA Tau 10 (AG)34 F: ATTCCAATTGACTAAGTCCA R: CCTCACACGGATATGTCGCA Tau12 (TC)8(TA) (TG)29 F: CATCATCAAGGTCAAGATCA R: CATTCTAGTCTTCCATAAGT Tau 13 (TC)22(ACTCCC) F: CATCATCAAGGTCAAGATCA R: CATTCTAGTCTTCCATAAGT (TC)4(AC)11 Tau 14 (CT)3(TCC) (CT)20 Tau15 (AG)32 Tau 16 (CT)33(CA)11 Tau17 (GA)7(GC) (GA)3(GC)5 F: GGTAACGGATTGCTGGTTGT R: CATTGCGAATGGCCTATGGT F: TTTGAGGGGTTGAAGCATTT R: CATTGTGGTCCCTCTCAACA F: GCTTGTAGCAACGTTAGGTTT R:TGTGCATTGTGACTACCAGCTA F: TGGCCGTGTTGATGTTTATG R: TGCCTCACGCTCTATGTGTC (GA)21(GGGAGG) Tau 18 (GT)10(GA)35 Tau 19 (GA)33 F: TGAATCGGATTAATCGTGGA R: GTGCATTGTGACTACCAGCTA F: AGGGCAAGCTTTTCCAGTTT R: TTCCTCACACGGATATGTCG Tau 20 (GA)42 F:GTCTATGTTTGTGTGTGTCTCTCA R: TTCATGGTGGGAAGTTAGGG Tau21 (GA) Tau 22 (CT)18(CCCTCTCGTCA) F: CTTTTGGGGGTCTTTGGAAT R:TGAAAGAGACAGAGACAAAGATACA F: TATCTCTCCGCCGTACACCT R: CCAATCGAAGAGCCCATTTA (GT)3 Tau 23 (CT)28 F: GCATCTTTGCACCTCTCCTC R:CAAGCACAACAAGTAAATAGATCAG Tau 24 (GA)33 F: TGTAAACTACTCCTCCAAGCATC R: GTGTGATTAGGTGAGTTTTCTAAGG Tau 27 (CT)24(CA)8(CC)(CA)7 F: GGTAAATCATCTTCCGCTTCC R: ACTGCAGAATCGCCTTTTGT Tau28 (CT)33 F: TCAGCCACTACACAACCAAAG R: GGGAAGCAATGGAGTCAAAA Tau 30 (TC)23 F: TAGTTTAAGGGTGCCGTTGG R: CGAACATAAAGAGGCAACCA Tau31 (CT)28(CA)10 (CTT) (GT)5 F: TCGTGCAGCTTTTGAGTCTG R: CTGCAAAACACAAAGCGAAA 19 As amplificações foram realizadas em termociclador Applied Biosystem 9600 thermal controller (Apllied Biosystem, Foster City, CA) sobre as seguintes condições: 95º C 5‟ (1 ciclo) 94ºC 1‟ 50º à 52ºC 1‟ (temperatura de hibridação de cada par de primer) Desnaturação } 35 ciclos 72º C 1‟ 72º 10‟ Extensão final 2.6 Genotipagem por meio de eletroforese em Gel de poliacrilamida 6% Para a confirmação da amplificação dos locos, os produtos de PCR foram analisados em géis desnaturantes de poliacrilamida 6% corados com prata (Bassam et al., 1991) e o tamanho dos fragmentos foram determinados por comparação com um DNA de tamanho conhecido 10 pb DNA ladder standard (Invitrogen, MD). Após a confirmação das temperaturas de cada primer, foram genotipados todos os indivíduos da população das duas espécies utilizando gel de poliacrilamida 6 % corado em prata. O gel de poliacrilamida desnaturante 6% (1000 ml) continha: 14,4 g de uréia, 10,0 mL solução de acrilamida/bis-acrilamida (29:1), 3,0 mL de TBE (10X 108,0 g de Tris; 53,0 g de ácido bórico; 40,0 mL de solução de EDTA pH 8,0; completar o volume para 1 litro de H2O), 22,5 μL de TEMED, 450 μL de solução de persulfato de potássio e água destilada). Os géis desnaturantes polimerizados foram montados em cuba de eletroforese vertical, modelo Sequi-Gen da marca BioRad, contendo tampão TBE (1X – 100 ml Tampão TBE (10X); 900 ml H2O) em ambos os pólos (porção superior e inferior). Esta cuba foi conectada a uma fonte de eletroforese Amershan Pharmacia Biotech (EPS 1001), 20 ajustada à corrente elétrica de 90 Watts, por um tempo médio de três horas e meia, necessária para uma boa separação dos fragmentos amplificados. Antes da aplicação das amostras (produtos de PCR) para a separação eletroforética, estas foram submetidas às condições de desnaturação em um tratamento prévio com formamida: foram colocados 6 μL de tampão de amostra (900 μL de bromofenol, 900 μL xilenocianol, 900 μL TBE (10X), 4,5 ml de Ficol 30 % diluído em água destilada, 1,8 mL de EDTA 0,5 M pH 8,0, 3,6 g de sacarose); na proporção de 3:1 (com formamida) em tubo eppendorf, junto com 5 μL do produto amplificado. Estes tubos foram aquecidos a 94 º C por 5 minutos e subseqüentemente colocados em banho de gelo (tratamento desnaturante), seguindo-se à aplicação no gel. Para a visualização dos alelos (produtos da amplificação), os géis foram submetidos ao passos descritos no sistema de coloração apresentados por Creste et al., (2001) (Tabela 02). Tabela 02 – Sistema de coloração do gel de acrilamida, apresentados por Creste et al. (2001). Procedimento Solução Tempo Nº reutilização 1. Fixação Etanol 10%, ácido acético 1% 10‟ 3 2. Lavagem Água destilada deionizada 1‟ - 3. Pré-tratamento Ácido Nítrico 1,5% 3‟ 4 4. Lavagem Água destilada deionizada 1‟ - 5. Impregnação 0,2% Ag NO3 20‟ 3 6. Lavagem Água destilada deionizada 30‟‟ - 7. Lavagem Água destilada deionizada 30‟‟ - 8. Revelação1, 2 15g/500 mL Na2CO3, 0,27 mL formaldeído¹ 4-7‟ - 9. Bloqueio Ácido acético 5‟ 5 10. Lavagem Água destilada deionizada 1‟ - ¹-Acrescentar na solução de revelação na hora de utilizar. ²-Durante a revelação colocar aproximadamente metade da solução (resfriada a 12°C) e manter sob lenta agitação até a solução ficar escura e adicionar então o restante da solução. 21 Após a revelação e secagem das placas, os géis foram digitalizados para o arquivamento das informações para futuras consultas. Após a digitalização, estas foram colocadas sobre a luz branca para a análise do produto amplificado e genotipagem de todos os indivíduos, utilizando-se como padrão de peso molecular o marcador 10bp (Invitrogen TM ), que apresenta uma faixa de fragmentos de tamanhos que varia entre 10pb e 330pb, em intervalos de 10 pb. 22 3. ANÁLISES ESTATÍSTICAS 3.1 Caracterização da diversidade genética Os locos foram caracterizados quanto à heterozigosidade observada e esperada e testados quanto à aderência ao Equilíbrio de Hardy e Weinberg (NEI, 1978) e equilíbrio de ligação, utilizando o programa FSTATS 2.9.3.2 (GOUDET, 2002), de acordo com os seguintes parâmetros: (He) heterozigosidade média esperada em equilíbrio de HardyWeinberg, (Ho) heterozigosidade observada, (A) Número médio de alelo por loco e (Fis) coeficiente de endogamia de cada loco. O desequilíbrio de ligação, que representa a associação não aleatória entre alelos de diferentes locos em uma população, também foi estimado. Dessa forma, o teste de desequilíbrio de ligação foi realizado entre todos pares de locos para todos os indivíduos (adultos e juvenis) com base em uma estatística G de razões de logaritmos de máximaverossimilhança. A significância estatística foi calculada com base em 1000 permutações, usando uma correção seqüencial de Bonferroni (95%, α=0,05) através do programa FSTAT 2.9.3.2 (Goudet, 2002). Para verificar a diversidade genética das populações de T.impetiginosa e T. serratifolia, foram estimados os seguintes parâmetros com o auxílio do programa FSTATS 2.9.3.2 (Goudet, 2002): heterozigosidade média esperada em equilíbrio de HardyWeinberg (He), heterozigosidade observada (Ho). Assim como o índice de fixação Fis (coeficiente de endocruzamento intra-populacional a nível populacional), que mede a redução de heterozigosidade de um indivíduo com relação a sua sub-população. Esses testes foram baseados em 10000 randomizações, com o nível de significância de p ≤ 0,05 corrigidas pelo teste de Bonferroni (Goudet et al., 1996), para testar a se os valores de Ho, He e Fis são iguais para as duas espécies. 23 3.2 Determinação da Estrutura Genética Espacial e dispersão das sementes O coeficiente de parentesco, também chamado de coeficiente de coancestria é baseado na probabilidade de se identificar alelos de dois genes homólogos em uma amostragem. Um método utilizado para o estudo da estrutura genética espacial é a estimativa do coeficiente de coancestria por classe de distância (Loiselle et al., 1995), que faz inferência à identidade por descendência dos alelos. O parentesco (coancestria) foi estimado utilizando o estimador de Nason FIJ, que calcula o FIJ entre todos os pares de indivíduos (Loiselle et al., 1995). Para testar a hipótese de que T. serratifolia e T. impetiginosa apresentam estruturação genética espacial foi realizada uma análise de autocorrelação espacial. Este método verifica a estrutura de parentesco (FIJ) com a dispersão de sementes, onde são calculados os valores médios do coeficiente de parentesco para cada intervalo de distância (Tabela 03), e realizado uma regressão linear dos valores com a distância geográfica, ou seu logaritmo. Todos os cálculos individuais são feitos para cada loco e uma média ponderada multiloco é calculada (Wright 1943; Rousset, 1997). Utilizou-se um intervalo de confiança de 95% de probabilidade do coeficiente médio de coancestria para cada classe de distância com base no erro padrão (EP) da média das estimativas, obtido por reamostragem jackknifed entre locos. O coeficiente de coancestria e o erro padrão foram estimadas usando o programa SPAGeDi 1.3 (Hardy & Vekemans, 2009). Testes de 10.000 permutações foram realizados para verificar a significância do parentesco de cada classe de distância e da regressão. Tabela 03 - Classes de distância usadas nas análises da estrutura genética espacial para as duas espécies de Tabebuia, determinada pelo programa SPAGeDi 1.3 a partir da distância em metros entre pares de indivíduos. Classes de Distância (m) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Espécies T.impetiginosa 20 40 60 80 90 100 120 150 160 170 200 240 280 300 400 550 T. serratifolia 1 5 10 15 20 25 35 45 65 100 190 195 200 215 225 310 24 550 A intensidade da estrutura genética espacial também foi mensurada através da estatística Sp de acordo com Vekemans & Hardy ( 2004) através da seguinte equação: onde, F1 é o coeficiente de parentesco entre os indivíduos da primeira classe de distância (o FIJ intra-grupo), e é a inclinação da regressão baseado no logaritmo da distância espacial. As estimativas indiretas de dispersão das sementes foram calculadas com base na vizinhança genética (Nb), através da seguinte fórmula: Onde, distância e é o coeficiente de parentesco médio entre indivíduos da primeira classe de é a inclinação da regressão baseado no logaritmo da distância espacial (Hardy & Vekemans, 2002). 25 4. RESULTADOS 4.1 Transferibilidade de primers SSR de Tabebuia aurea para Tabebuia impetiginosa e Tabebuia serratifolia Os testes de transferibilidade dos primers desenvolvidos para T. aurea para T. impetiginosa e T. serratifolia foram bem sucedidos. Assim, dentre os 21 pares de primers testados, seis foram selecionados para genotipagem de todos os indivíduos de T. impetiginosa e T. serratifolia por apresentarem produtos de PCR com amplificações sem bandas inespecíficas. Todos os seis primers apresentaram número de pares de base (amplitude dos alelos) dentro dos intervalos observados em T. aurea. As temperaturas de hibridação dos primers das duas espécies T.impetiginosa e T. serratifolia variaram entre 50º e 52º C (Tabela 04). Tabela 04 - Descrição dos seis locos microssatélites desenvolvidos para Tabebuia aurea por Braga et al.,(2007), transferidos para T. impetiginosa e T. serratifolia. Loco SSR Repetição do motivo Tamanho do Fragmento Ta (º C) e amplitude dos alelos (pb) Tau12 Tau15 Tau17 Tau21 Tau28 Tau31 (TC)8(TA) (TG)29 (AG)32 (GA)7(GC) (GA)3(GC)5 (GA)21(GGGAGG) (GA)26 (CT)33 (CT)28(CA)10 (CTT) (GT)5 180 (146-212) * 132-184 132-146 151(104-166) * 125-161 125-141 222 (148-240) * 104-228 124-228 238 (198-290) * 184-228 184-186 186 (140-190) * 134-180 154-176 265 (210-270)* 233-270 232-250 52º 50º 50º 52º 52º 52º *- Intervalo entre o tamanho mínimo e máximo do alelo em pares de bases (pb) observado para T. aurea, T. impetiginosa (em negrito) e T. serratifolia (em itálico); Ta - temperatura de hibridação dos primers em T. impetiginosa e T. serratifolia. 26 Todos os primers testados foram polimórficos para as duas espécies, apresentando assim mais de um alelo por loco (Figura 06). Figura 06 - Gel de poliacrilamida 6 % corado com nitrato de prata contendo amostras de PCR do primer Tau 21 em 18 indivíduos de T. impetiginosa. Ladder 10 pb. 4.2 Caracterização dos locos microssatélites 4.2.1 Tabebuia impetiginosa O número de alelos por loco para T. impetiginosa variou de 6 (TAU 21) a 16 (TAU 28) apresentando uma média de 11,3 alelos por loco (Tabela 05). A distribuição das freqüências alélicas variou bastante entre os locos, porém a maioria dos alelos apresentou uma freqüência menor que 0,3. Os locos que apresentaram alelos com freqüência maior que 0,3 foram TAU 17 e TAU 21, sendo que TAU 21 apresentou o alelo de maior freqüência (0,68) (Figura 07). A heterozigosidade média observada foi igual a 0, 466, no qual o loco TAU 21 apresentou a maior heterozigosidade observada (0.76) e o TAU 15 a menor (0.29). A heterozigosidade média esperada foi igual a 0.804 (Tabela 05). O loco TAU 12 apresentou a maior heterozigosidade esperada equivalente a 0, 918 e o loco TAU 21 a menor com 0, 532. A heterozigosidade observada foi menor que a esperada para todos os locos, com exceção do loco TAU 21, resultando em valores positivos e significativos de f (Tabela 05). Todos os locos estão em equilíbrio de ligação (p > 0, 003333) (Tabela 06). 27 Tabela 05 - Caracterização dos seis locos microssatélites observados em Tabebuia impetiginosa quanto ao número de alelos por loco (A), número de indivíduos analisados para cada loco(N); heterozigosidade esperada sob equilíbrio de Hardy-Weinberg (Nei 1978) (He); heterozigosidade observada (Ho) e coeficiente de endogamia (f) (significativo para todos os locos seguidos de p > 0.00833). Locos Tau12 Tau15 Tau17 Tau21 Tau28 Tau31 Média N 28 27 30 30 26 26 A 12 12 11 6 16 11 11.3 Ho 0.46 0.29 0.3 0.76 0.57 0.42 0.466 He 0.918 0.840 0.782 0.532 0.915 0.842 0.804 f 0.416 0.163 0.105 0.561 0.538 0.315 0.343 Tabela 06 – Desequilíbrio de ligação entre os pares de locos para T. impetiginosa. O valor limite de significância após correção de Bonferroni é 0.003333. Pares de Locos Tau12 X Tau15 Tau12 X Tau17 Tau12 X Tau21 Tau12 X Tau28 Tau12 X Tau31 Tau15 X Tau17 Tau15 X Tau21 Tau15 X Tau28 Tau15 X Tau31 Tau17 X Tau21 Tau17 X Tau28 Tau17 X Tau31 Tau21 X Tau28 Tau21 X Tau31 Tau28 X Tau31 Valores de p 0.00333 0.00667 0.29000 0.00333 0.35333 0.00333 0.14333 0.00333 0.01000 0.56333 0.00333 0.02667 0.02333 0.78667 0.00333 28 Figura 07 - Distribuição das freqüências alélicas para os seis locos polimórficos utilizados nos indivíduos de T. impetiginosa. O eixo das ordenadas indica as freqüências alélicas e o eixo das abscissas indica os alelos encontrados para cada loco. 29 4.2.2 Tabebuia serratifolia O número de alelos por loco para T. serratifolia variou de 2 (TAU 21) a 9 (TAU 15) com média de 5,5 alelos por loco (Tabela 07). A distribuição das freqüências alélicas variou bastante entre os locos, porém a maioria dos alelos apresentou uma freqüência menor que 0,3. Os locos que apresentaram alelos de maior freqüência foram TAU 15 e TAU 21, onde TAU 21 foi o que apresentou o alelo de maior freqüência (0,9) (Figura 08). A heterozigosidade média observada foi igual a 0, 286, no qual o loco TAU 15 apresentou a maior heterozigosidade observada (0.631) e o TAU 21 a menor (0.016). A heterozigosidade média esperada foi igual a 0.473. O loco TAU 12 apresentou a maior heterozigosidade esperada equivalente a 0.682 e o loco TAU 21 a menor com 0.143. A heterozigosidade observada foi menor que a esperada para todos os locos, com exceção do loco TAU 15, resultando em valores positivos e significativos de f (Tabela 07). Todos os locos estão em equilíbrio de ligação (p > 0, 003333) (Tabela 08). Tabela 07 - Caracterização dos seis locos microssatélites observados em Tabebuia serratifolia quanto ao número de alelos por loco (A), número de indivíduos analisados para cada loco(N); heterozigosidade esperada sob equilíbrio de Hardy-Weinberg (Nei 1978) (He); heterozigosidade observada (Ho) e coeficiente de endogamia (f) (significativo para todos os locos seguidos de p > 0.00833). Locos Tau12 Tau15 Tau17 Tau21 Tau28 Tau31 Média N 45 57 62 59 45 44 A 6 9 7 2 6 3 5.5 Ho 0.333 0.631 0.338 0.016 0.330 0.068 0.286 He 0.682 0.448 0.489 0.143 0.659 0.420 0.473 f 0.772 0.570 0.406 0.882 0.089 - 0.238 0.375 Tabela 08 – Desequilíbrio de ligação entre os pares de locos para T. serratifolia. O valor limite de significância após correção de Bonferroni é 0.003333. Pares de Locos Tau12 X Tau15 Tau12 X Tau17 Tau12 X Tau21 Tau12 X Tau28 Tau12 X Tau31 Tau15 X Tau17 Valores de p 0.00333 0.00667 NA 0.07000 0.00333 0.00333 30 Tau15 X Tau21 Tau15 X Tau28 Tau15 X Tau31 Tau17 X Tau21 Tau17 X Tau28 Tau17 X Tau31 Tau21 X Tau28 Tau21 X Tau31 Tau28 X Tau31 0.00333 0.34000 0.01333 0.00667 0.04667 0.00333 0.00333 0.00333 0.57667 Figura 08 - Distribuição das freqüências alélicas para os seis locos polimórficos utilizados nos indivíduos de T. serratifolia. O eixo das ordenadas indica as freqüências alélicas e o eixo das abscissas indica os alelos encontrados para cada loco. 31 4.3 Caracterização da Diversidade genética O teste de permutação para comparação das duas espécies revelou que os valores de heterozigosidade observada (p = 0,00020) diferiram dos valores de heterozigosidade esperada (p = 0,00160) resultando em um coeficiente de endogamia Fis (p =0,81120) igual estatisticamente entre as duas espécies. O número médio de alelos por loco foi menor em T.serratifolia (5,5) do que em T. impetiginosa (11,3). A heterozigosidade média observada nas duas espécies foi menor que a esperada, gerando valores de Fis positivos e significativos para a população das duas espécies (Tabela 09). Tabela 09- Diversidade genética nas populações de Tabebuia impetiginosa e T. serratifolia. N - Número de indivíduo analisados por loco; A - número de alelos por loco (média); He – Heterozigosidade esperada sob equilíbrio de Hardy-Weinberg (Nei 1978); Ho - Heterozigosidade observada; Fis - Coeficiente de endogamia; realizado com programa FSTAT baseado em 10000 permutações com nível de significância p< 0,05. População N A Ho He Fis T.impetiginosa 27,8 11,3 0, 529 0, 642 0, 176 T.serratifolia 52 5,5 0, 296 0, 344 0, 139 4.4 Estrutura genética espacial e Dispersão de sementes A distribuição espacial dos indivíduos nas duas espécies diferiu bastante. Em T. impetiginosa a distância entre as árvores variou de 20 a 550 metros, apresentando uma média de 29 m, onde a maioria dos indivíduos (70 %) apresentou uma distância de até 325 metros (Figura 09 A). Já T. serratifolia apresentou uma distância média entre as árvores de 114 m variando de 1 a 550 metros de distância. A maioria dos indivíduos (70 %) apresentou uma distância de até 136,2 metros (Figura 09 B). 32 A B Figura 09 - Distribuição dos pares de indivíduos da população de T. impetiginosa e Tabebuia serratifolia. Os valores do índice de agregação calculados com o auxílio do programa SPAGeDi 1.3 (Hardy & Vekemans, 2009), foram respectivamente de 0.0603 e 0.0178para T. impetiginosa e T. serratifolia (Tabela 10). Todos os valores são menores do que 1, o que indica que as espécies exibem um padrão espacial dos indivíduos de forma agregada. A análise de autocorrelação espacial foi significativa para ambas as espécies demonstrando que o parentesco é relacionado com o logaritmo da distância (R2 = 0.06030, b = - 0,036 P < 0, 001). Em T. impetiginosa o parentesco diminuiu fortemente após a primeira classe de distância, e foi significativo até 20 metros (Figura 10). Assim a estrutura genética espacial é significativa, porém fraca com baixo nível de Sp = 0,036. A vizinhança genética, estimada a partir da estrutura genética espacial, foi de Nb=27,35 m (Tabela 10). Em T. serratifolia o parentesco diminuiu fortemente após a quinta classe de distância, e foi significativo até 20 metros (Figura 11). Assim a estrutura genética espacial é significativa, porém fraca com baixo nível de Sp = 0,033. A vizinhança genética, estimada a partir da estrutura genética espacial, foi de Nb=29,92 m (Tabela 10). 33 Tabela 10 – Estrutura genética espacial (SGS) e vizinhança genética para as duas espécies de Tabebuia. N- número de indivíduos amostrados; D- densidade (indivíduo por ha); F1intra-grupo Fij; b- inclinação da regressão para relação logarítmica do parentesco; Spparâmetro que mede a força da estrutura genética espacial ; Nb- vizinhança genética; Ríndice de agregação. Espécie N D (Ind/ha) F1 b Sp Nb R T. impetiginosa 31 0,71 0,13 ±-0,087 - 0,036 0,036 27,35 0.0603 T. serratifolia 62 3,57 0,338 ±-0,099 -0,032 0,033 29,92 0.0178 Figura 10 - Relação entre o o parentesco ( Fij ± SE) e os pares de distância entre todos os indivíduos da população de T.impetiginosa. Figura 11 - Relação entre o o parentesco ( Fij ± SE) e os pares de distância entre todos os indivíduos da população de T.serratifolia. 34 5. DISCUSSÃO 5.1 Sucesso na transferência dos Marcadores Microssatélites De modo geral, o sucesso na transferibilidade (amplificação heteróloga) de seqüências de DNA via PCR está relacionada inversamente com a distância evolutiva entre duas espécies (Zucchi et al., 2003). Assim a porcentagem de locos transferidos para as duas espécies deste estudo se deu principalmente pelo fato de se tratar de uma amplificação entre espécies do mesmo gênero, bastante aparentadas evolutivamente. Visto que o desenvolvimento de marcadores microssatélites possui um alto custo e é bastante demorado, a transferibilidade dos locos microssatélites entre espécies do mesmo gênero ou até mesmo entre famílias foi fundamental no presente estudo. O uso desses iniciadores heterólogos vem crescendo cada vez mais em estudos com espécies arbóreas tropicais (Ciampi et al., 2000; Zucchi et al., 2003; Feres et al.,2009). Diversos trabalhos já demonstraram o sucesso da transferibilidade de primers microssatélites em plantas entre espécies do mesmo gênero como por exemplo: Tabebuia roseo-alba (Feres et al.,2009), Tabebuia aurea (Braga et. al, 2006) . 5.2 Diversidade Genética O número médio de alelos por loco encontrado em Tabebuia impetiginosa (11,3) foi próximo ao encontrado em outros estudos realizados com Bignoniaceas tais como: Jacaranda copaia (13,3) (Jones et al., 2005), T. aurea (18,8) (Braga et. al, 2006), Tabebuia roseo-alba (14,9) (Feres et al.,2009). Em Tabebuia serratifolia este número foi menor (5,5), porém também próximo a valores já descritos na literatura. Em estudos realizados com isoenzimas em Tabebuia cassinoides o número médio de alelos por loco foi de 2,6 (Cavallari-Neto, 2004), sendo este bem menor do que o encontrado no presente estudo para T. serratifolia. Demonstrando que o uso dos marcadores microssatélites é mais viável do que outros marcadores, pois eles apresentam uma grande quantidade de alelos por loco, mesmo que este número pareça baixo. 35 Se comparado com outros trabalhos realizados com primers transferidos, como por exemplo, em Tabebuia roseo-alba (He= 0, 852) (Feres et al.,2009), a Heterozigosidade média esperada tanto em T. impetiginosa (0.804), quanto T. Serratifolia (0.473) foram satisfatórias. De modo que, T.impetiginosa apresentou valor bem próximo ao encontrado por Braga et al. (2007) em T. aurea (0,890). Por outro lado, T.serratifolia apresentou valor menor que o encontrado por Braga et al. (2007), porém valores menores de He já foram encontrados para espécies do mesmo gênero como de 0.439 para Tabebuia ochracea por Moreira et al.(2009) e Eugenia dysenterica (He = 0.44, Zucchi et al., 2002) demonstrando que a He nas espécies transferidas geralmente são menores do que as obtidas nas espécies para os quais os primers foram desenvolvidos. A heterozigosidade observada foi menor que a heterozigosidade esperada para as duas espécies, o que significa que existe um excesso de homozigotos na população em relação ao esperado pelas proporções do EHW. Como os indivíduos estudados pertencem à mesma população, o alto valor de f (Ti= 0.343; Ts= 0.375) indica uma alta taxa de cruzamentos aparentados entre os indivíduos dessa população das duas espécies, o que é de grande importância visto que este tipo de acasalamento determina a estrutura dessa população. Todos os locos das duas espécies estudadas estão em equilíbrio de ligação (p > 0, 003333) (Tabela 06 e 08). Isso indica que os alelos dos diferentes locos não estão associados, assim todos os locos apresentam uma herança mendeliana simples e segregam independentemente. As espécies estudadas não diferiram quanto ao coeficiente de endogamia, onde ambas apresentaram Fis positivo e significativo. Os valores de Fis negativos ou próximos de zero indicam que há variabilidade genética na população devido à maior número de heterozigotos, enquanto que valores distantes de zero indicam maiores níveis de homozigose (Nei, 1978). Este resultado, aliados aos valores de Fis encontrados em todos os locos das duas populações, indica que o acasalamento entre indivíduos aparentados ocorre com certa freqüência. Cruzamentos entre indivíduos parentes em populações naturais têm sido relatados em diversos estudos do sistema de reprodução de espécies arbóreas tropicais (Seoane et al., 2005), sugerindo que a estruturação genética intra-populacional possa ser um padrão comum das espécies arbóreas tropicais.Como por exemplo em Caryocar 36 brasiliense ( Collevatti et al., 2010) e Tabebuia roseo-alba (Feres et al., 2009). Contudo os valores encontrados de Fis para as duas espécies não foram tão altos (Ti= 0, 176; Ts=0, 139), apresentando um He (mede a diversidade genética) alto e significativo, levando em consideração o número de alelos encontrados na população. Isso nos indica que a população tanto de T. impetiginosa quanto T. serratifolia possuem alta variabilidade genética dentro de suas populações. Estas estimativas da diversidade genética das duas espécies são relevantes para a conservação in situ de Tabebuia, visto que quanto maior e positiva for à diversidade genética das espécies maior a ocorrência de novas recombinações genotípicas e maior o potencial evolutivo de cada espécie (Reed & Frankham, 2003). 5.3 Estrutura genética espacial e Dispersão de sementes Os resultados obtidos no presente estudo revelam que as duas espécies de Tabebuia possuem uma estruturação genética espacial significativa, porém fraca. Este resultado demonstra que apesar das espécies de Tabebuia serem dispersas pelo vento, esta dispersão está limitada a pequenas distâncias originando uma população cada vez mais aparentada. Em estudos realizados em outras espécies arbóreas também foram encontrados níveis baixos de estruturação genética como, por exemplo, para Caryocar brasiliense (ver Collevatti et al., 2010) e Dipteryx alata (Soares et al.,2008). Na literatura é descrito que espécies de plantas dispersas pelo vento são menos suscetíveis a perturbações das paisagens (Ghazoul, 2005), onde a dispersão pelo vento pode ser facilitada pela fragmentação. Assim árvores com pequenas sementes dispersas pelo vento são favorecidas em relação às árvores que possuem dispersão realizada por animais e que possuem frutos grandes (Fore et al., 1992 ; Cordeiro & Howe, 2003). No entanto as espécies do presente estudo estão situadas em uma área de preservação ambiental e ainda assim demonstraram uma estruturação genética espacial positiva e uma distribuição agregada dos seus genótipos, concluindo que mesmo espécies que possuam dispersão de sementes pelo vento são suscetíveis a uma distribuição não aleatória dos seus genótipos. 37 Como o fluxo gênico em plantas é caracterizado pela movimentação dos grãos de pólen e sementes entre e dentro de populações, visto que plantas com dispersão anemocórica são mais favorecidas, o fato dessas duas espécies de Tabeuia apresentarem uma estrutura genética espacial positiva pode estar relacionada com a sua dispersão via pólen. A taxa de cruzamento em plantas hermafroditas, como em Tabebuia, vai depender de fatores tais como: presença e intensidade de mecanismos de auto-incompatibilidade; comportamento forrageiro dos polinizadores (abelhas) entre e dentro de árvores, que por sua vez são influenciados pela densidade de florescimento das árvores na população e; aborto seletivo de frutos e sementes de autofecundação (Murawski & Hamrick, 1991). Portanto o fluxo de pólen é um dos fatores mais importantes que influenciam a estrutura genética de espécies arbóreas (Dick et al., 2003),sendo que, nas populações naturais o fluxo gênico intenso pode efetivamente contrapor os efeitos da deriva genética ou seleção direcional (Burczyk et al., 2004). Em um estudo sobre o fluxo de pólen realizado em T. roseo-alba (Feres, 2009), revelou uma tendência no aumento de autofecundação em árvores isoladas, e os resultados de correlação de paternidade mostraram que existe uma maior probabilidade de sementes compartilharem o mesmo parental dentro de um mesmo fruto que entre frutos de uma mesma árvore. As causas desses cruzamentos correlacionados podem ser atribuídas ao comportamento dos polinizadores visitando de forma sistemática árvores próximas, poliandria ou depósito de múltiplos grãos de pólen de um simples polinizador e pequeno número de vizinhos próximos (Sun & Ritland, 1998) ou fenologia das árvores. Possivelmente vários destes fatores tenham contribuído para a alta taxa de cruzamento biparental observadas em T. roseo-alba (Feres, 2009). No presente estudo ambas as espécies apresentaram auto-correlação espacial significativa, indicando uma relação significativa entre o parentesco e o logaritmo da distância. Onde, o parentesco diminui fortemente e foi significativo somente até 20 metros para T. impetiginosa e para T. serratifolia. O que indica que até essa distância o parentesco entre os indivíduos das duas espécies dentro dessa população estão diretamente relacionados com a distância física entre os indivíduos da mesma. A troca do fluxo gênico então é maior entre árvores mais próximas corroborando a idéia de que os polinizadores permanecem em pequenas manchas de grupos de árvores mais próximas. Que podem ser confirmadas através da análise da vizinhança genética, estimada a partir da estrutura 38 genética espacial, que também foi pequena para as duas espécies T. serratifolia (Nb=29,92) e T. impetiginosa (Nb=27,35), se levado em consideração o tamanho amostral e a distância física entre todos os indivíduos. O fluxo gênico via semente pode ser o responsável por dois terços do tamanho da vizinhança genética, sendo assim o conhecimento de sua extensão também é essencial para estimar o tamanho reprodutivo de populações de espécies arbóreas tropicais (Hamilton, 1999). A correlação entre parentesco e a distância é também observada através da estimativa do coeficiente de coancestria, onde foi observada uma distribuição agregada dos genótipos para as duas espécies de Tabebuia, indicando agrupamentos de indivíduos aparentados. Estudos realizados em Caryocar brasiliense também demonstraram uma distribuição agregada dos genótipos e revelou que tal distribuição pode promover um elevado tempo de residência de polinizadores em uma árvore individual e dentro de um número restrito de plantas mais próximas causando um elevado percentual de autopolinização e conseqüentemente um aumento da probabilidade de parentesco dentro das progênies (Collevatti et al ., 2010). Como a síndrome de floração em Tabebuia se dá de forma rápida e ao mesmo tempo os polinizadores que são pequenos (abelhas), podem percorrer um percurso pequeno de uma árvore para outra, tornam essa polinização mais restrita a pequenas distâncias como demonstrado em nossos estudos. Isso acarreta em poucas gerações eventos de acasalamentos entre indivíduos aparentados, o que gera uma diminuição na diversidade genética dessas populações e futuramente em deriva gênica levando a uma possível extinção local dessas espécies. Como a densidade também influencia na estrutura genética das populações, nossos resultados confirmam o modelo de isolamento por distância descrito por Wright (1943), que já dizia que o tamanho da vizinhança e o número de indivíduos dentro dela são determinados pela extensão do fluxo gênico e pela densidade da população local. Quanto maior for à distância do fluxo gênico, maior será o tamanho da vizinhança, menor será a taxa de deriva genética e, portanto menor será a diferenciação genética entre a vizinhança. A população de T. impetiginosa como de T. serratifolia amostrados para o presente estudo foram baixas devido sua baixa densidade no próprio Parque. No levantamento realizado pela Semarh em 2007, baseado em uma amostra de 14.000m² (1,4 ha) a 39 densidade para a comunidade amostrada foi de 1.097,86 árvores por ha e a dominância 19,96 m²/há, porém demonstraram uma baixa densidade para as duas espécies de Tabebuia onde a Densidade Absoluta (n/ha) para T. impetiginosa foi de 0,71 e para T. serratifolia foi de 3,57 árvores por ha. As espécies de Tabebuia do presente estudo além de possuírem uma baixa densidade no PEAMP-GO, também se encontram na lista de espécies ameaçadas embora verificasse que, de um modo geral, as formações de florestas estacionais estão ameaçadas em todo o Brasil Central devido a sua substituição por cultivos agrícolas, pela pecuária e naquelas sobre afloramentos calcáreos ou basálticos, pela mineração para a produção de calcáreo, cimento ou brita (Felfili, 2003). Dentre as espécies encontradas no Parque destacam-se algumas espécies que estão ameaçadas pela erosão genética que suas populações têm sofrido devido à super exploração de madeira: Cedrella fissilis (Cedro), Cordia tricotoma (Louro preto), que estão em perigo na região de modo que sua madeira já não está mais disponível em escala, no mercado. Tabebuia serratifolia (Ipê amarelo), Astronium fraxinifolium e Myracruodruon urundeuva estão, também, sob intensa ameaça apesar de ainda haver madeira no mercado (Semarh, 2009). O PEAMP não se vê fora dessa realidade isto devido à alteração histórica da região e da presença das áreas urbanas nas proximidades dos Parques. Esta se encontra em diferentes condições de perturbação, uma vez que antes da criação do Parque a área foi utilizada como fazenda, havendo muitos pastos abandonados, clareiras para extração de madeira, antigos roçados intercalados com trechos mais preservados. Isto se traduz em um isolamento muito grande e em problemas de dispersão para as espécies da flora que dependem da zoocoria para propagar suas sementes. Nossos resultados sugerem que as espécies do presente estudo podem ser afetadas pela fragmentação e pela perturbação dos seus hábitats naturais devido às características do histórico de vida dessas plantas, levando a significativa estrutura genética espacial. Portanto, são necessários estudos complementares sobre estas duas espécies dessa população em relação ao fluxo gênico via pólen para corroborar os resultados aqui obtidos. Portanto o conhecimento do modo como a variabilidade genética está estruturada no espaço, aliado a outras características da espécie podem fornecer subsídios para programas de conservação de germoplasma, auxiliando na definição de unidades evolutivamente estáveis (UEE) ou unidades de manejo (UM) (Eizirik, 1996). Para as 40 espécies que apresentam potencial de utilização econômico, estas informações também podem ser utilizadas em programas de domesticação As análises realizadas sugerem que processos estocásticos, tais como o modelo de isolamento-por-distância ou “steppingstone”, são mais adequados para explicar o padrão espacial de divergência genética nas duas espécies de Ipê na população do PEAMP no Estado de Goiás. Além disso, a existência de um padrão espacial na variação genética é importante para a compreensão de como ocorre à dinâmica dos alelos entre as sub-populações dessa espécie. Essa informação pode ser utilizada para otimizar a amostragem da variabilidade genética para sua subseqüente utilização. 41 6. CONCLUSÃO 1. A estrutura genética espacial intra-populacional indica que as duas espécies de Tabebuia analisadas apresentam estruturação em parentesco e formam grupos de vizinhança, em diferentes escalas geográficas. 2. Há correlação entre parentesco e a distância física dos indivíduos gerando assim uma distribuição agregada dos genótipos para as duas espécies de Tabebuia, indicando agrupamentos de indivíduos aparentados. 42 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BASSAM, B. J.; CAETANO-ANOLLES, G.; GRESSHOFF, P. M. Fast and sensitive silver staining of DNA in polyacrylamide gels. Analytical Biochemistry, 196: 8083. 1991. BRAVO, J.P.; HOSHINO, A.A.; ANGELICI, C.M.L.C.D. 2006. Transferability and use of microsatellite markers for the genetic analysis of the germplasm of some arachis section species of the genus Arachis. 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