ISSN 1677-6704 REAÇÕES ADVERSAS MEDICAMENTOSAS DE INTERESSE ODONTOLÓGICO ADVERSE DRUG EFFECTS OF DENTAL INTEREST Melissa Rodrigues de ARAUJO1 Ana Maria Trindade GRÉGIO2 Luciana Reis de AZEVEDO3 Maria Ângela Naval MACHADO4 Tatiana MATTIOLi1 Lúcia de Fátima Ávila de CASTRO1 RESUMO Diversas drogas podem estar associadas com alterações patológicas nos tecidos bucais. As apresentações clínicas são heterogêneas e podem exacerbar-se quando há sinergismo entre os fármacos. As reações adversas às drogas dependem do fármaco, da farmacodinâmica, da farmacocinética e da variabilidade individual. As alterações são bastante variáveis, incluindo desde vermelhidão ou eritema na pele até anafilaxia. O artigo faz uma breve revisão da literatura destacando algumas manifestações clínicas bucais provocadas por alguns grupos de drogas. UNITERMOS: Manifestações bucais; Drogas; Efeitos adversos; Odontologia; Monitoração de medicamentos INTRODUÇÃO A maioria dos pacientes que vem ao consultório odontológico recebe terapia medicamentosa em algum momento do seu tratamento. Smith e Burtner24 identificaram efeitos adversos bucais associados a 131 fármacos. Alguns destes fármacos produzem alterações de tecidos moles e duros afetando a saúde bucal dos pacientes. As erupções mucocutâneas da região bucal e peribucal são reações adversas comumente relatadas após a administração de uma variedade de medicamentos. Estes efeitos adversos têm um amplo espectro de apresentações clínicas que podem mimetizar outros sinais e/ou sintomas da doença para a qual está realizando o tratamento, incluindo manifestações sistêmicas e locais10. A patogênese das reações adversas aos medicamentos está relacionada a mecanismos imunológicos e não imunológicos, sendo a maioria mediada pelo sistema imune, ou podem ocorrer alergias às drogas. Há três mecanismos envolvidos nas alergias às drogas. Primeiro: reações mediadas por Ig E que ocorrem quando a droga interage com a Ig E ligada aos mastócitos. Segundo: reações alérgicas envolvendo reação citotóxica na qual os anticorpos se ligam à uma droga que já está ligada a uma superfície celular. E no terceiro mecanismo, a circulação do antígeno é prolongada sensibilizando o sistema imune, o que estimula a produção de mais anticorpos contra a droga. As reações não imunológicas independem dos anticorpos, afetam diretamente os mastócitos causando liberação de mediadores químicos, podem resultar de uma superdosagem ou toxicidade, ou estarem relacionados à afinidade de receptores específicos1. As reações de hipersensibilidade são caracterizadas por um dano nas respostas imunomediadas. Estas reações de hipersensibilidade imuno-mediadas ocorrem em 6 a 10% das reações adversas medicamentosas19. As manifestações clínicas mais comuns de reações adversas a medicamentos na boca são: xerostomia, aumentos de volume, ulcerações não específicas, mucosite vesículo-bolhosa ou ulcerativa, pigmentação e aumento gengival10. 1 - Mestre em Estomatologia pela PUC PR. 2 - Doutora em Farmacologia, 3 - Doutora em Estomatologia, Professora Adjunta de Anatomia , Estomatologia e da pós-graduação em Odontologia da PUC PR. 4 - Doutora em Periodontia, Professora Titular de Patologia , Estomatologia e da pós-graduação em Odontologia da PUC PR. 28 Revista Odontológica de Araçatuba, v.26, n.2, p. 28-33, Julho/Dezembro, 2005 Reações adversas medicamentosas.pmd 1 11/4/2006, 09:59 ISSN 1677-6704 As reações adversas às drogas dependem do fármaco, da dose, da farmacocinética, da farmacodinâmica e da predisposição individual. As alterações são bastante variáveis, incluindo desde eritema na pele e até reação de anafilaxia1. Os efeitos adversos também dependem da idade do paciente. Pacientes idosos que fazem uso de diversas medicações concomitantemente devem ser bem avaliados, não apenas pela interação medicamentosa, mas também pela alteração nos mecanismos de distribuição, biotransformação e eliminação16. REVISÃO DA LITERATURA 1 FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA NERVOSO CENTRAL Vários são os fármacos de ação sobre o sistema nervoso central que podem interagir com os tecidos bucais. Dentre estes fármacos, os principais são: os Antidepressivos, Ansiolíticos, Opióides, Anticonvulsivantes e Antipsicóticos. Tais drogas são altamente lipossolúveis e por isto permeiam facilmente os líquidos e tecidos corporais. Os antidepressivos são fármacos que inibem a recaptação de noradrenalina, serotonina e dopamina no sistema nervoso central, ou ainda impedem a enzima monoamino-oxidase (MAO) responsável pela degradação das catecolaminas (noradrenalina, adrenalina e dopamina). As drogas antidepressivas possuem afinidade pelos receptores adrenérgicos e colinérgicos presentes nas glândulas salivares. A ação anticolinérgica das drogas antidepressivas e ansiolíticas pode estar relacionada a esta afinidade e à redução do influxo colinérgico e simpático ao sistema nervoso central. O principal efeito colateral destas drogas é a inibição do efeito secretagogo causado pelo estímulo colinérgico. Desta forma, podem ocorrer hipossalivação, retenção urinária, xeroftalmia, constipação intestinal, atonia vesical entre outros efeitos6. A freqüente correlação entre a administração destas drogas e a atividade de cáries é bem documentada na literatura, a extensão, o tipo e a distribuição dessas lesões apresentam-se de forma diferente dos casos ocasionados por dieta cariogênica23. Campisi et al. 3 relataram o caso de um paciente com síndrome Bipolar que fazia uso de Carbonato de lítio e após 2 anos apresentou reações liquenóides dolorosas e com sensação de queimação em mucosa jugal. Os autores acreditam que as reações liquenóides ocorreram por uma mudança na imunorregulação causada pela droga. Pacientes que realizam tratamento com antidepressivos podem apresentar xerostomia, hipotensão ortostática e interação com vasoconstritores, assim como a administração concomitante com outras drogas pode potencializar efeitos indesejáveis 11. A xerostomia e mudanças na viscosidade da saliva são complicações freqüentemente relatadas pelo uso de antidepressivos11. A hipossalivação, efeito adverso mais comum na boca, tem sido associada a mais de 500 medicamentos, e ainda há os efeitos sinérgicos encontrados principalmente em idosos polimedicados1, 9. A sensação de boca seca é relatada como o efeito adverso mais freqüente. Diversos medicamentos podem afetar a produção de saliva, porém o mecanismo exato em que este fato ocorre ainda não está completamente elucidado. Os antidepressivos podem causar diminuição do fluxo salivar 24. Spencer et al.25 afirmaram que as drogas que atuam no sistema nervoso central, como antidepressivos e ansiolíticos, causam hipossalivação por induzirem a liberação de neurotransmissores, o que promove um efeito anticolinérgico que diminui o estímulo parassimpático sobre os receptores muscarínicos colinérgicos presentes nas glândulas salivares. Há diversos mecanismos que explicam a ação xerogênica das drogas. As drogas que potencialmente causam hipossalivação podem ser divididas em: drogas que agem no sistema colinérgico (antidepressivos tricíclicos, antagonistas dos receptores muscarínicos, antagonistas dos receptores alfa, antipsicóticos, diuréticos e antihistamínicos), drogas que agem no sistema simpático (anti-hipertensivos, antidepressivos, supressores de apetite, descongestionantes, broncodilatadores, relaxantes musculares e analgésicos 22. As anfetaminas têm efeitos excitatórios no sistema nervoso central. Reduzem o fluxo salivar e diminuem os níveis de cálcio e fosfato na saliva. Alterações no fluxo salivar e nos níveis de enzimas e proteínas podem causar efeitos destrutivos na saúde dental e da mucosa1. Os benzodiazepínicos são drogas ansiolíticas que induzem a liberação do neurotransmissor inibitório GABA (ácido γaminobutírico). São capazes de alterar a função das glândulas salivares, incluindo a secreção de proteínas e enzimas. O Clonazepam está associado à sensação de queimação bucal e secura de boca1. Os antidepressivos, assim como antiinflamatórios, vasodilatadores e analgésicos, podem causar ulcerações bucais acompanhadas de queimação bucal, gosto metálico, disgeusia ou ageusia. O contato direto da droga com os tecidos bucais pode induzir a uma úlcera química ou hipersensibilidade local. Estas lesões também podem surgir dos metabólitos ativos destes 29 Revista Odontológica de Araçatuba, v.26, n.2, p. 28-33, Julho/Dezembro, 2005 Reações adversas medicamentosas.pmd 2 11/4/2006, 09:59 ISSN 1677-6704 medicamentos quando são biotransformados pelo fígado ou por enzimas plasmáticas (esterases plasmáticas) e encontrados na secreção salivar5. Estas lesões podem ser únicas ou múltiplas, e surgem após algumas semanas de tratamento medicamentoso. Dentre os fármacos possíveis causadores destas lesões, são citados: antiinflamatórios não-esteroidais (diclofenaco, indometacina, naproxeno, ácido acetil salicílico), drogas usadas no tratamento da artrite reumatóide (azatioprina, metotrexato), drogas inibidoras da enzima conversora da angiotensina (captopril, enalapril), drogas antagonistas dos receptores da Angiotensina II (eprosartan), antidepressivos (fluoxetina, lítio) e drogas utilizadas no tratamento para a AIDS (foscarnet, zalcitabina) 14. Zacny13 relatou que o uso crônico dos opióides está freqüentemente associado com efeitos anticolinérgicos, como retenção urinária, boca seca e constipação intestinal, além de perturbação do trato gastro-intestinal, náuseas e anorexia. 2 ANTI-HIPERTENSIVOS Os anti-hipertensivos são fármacos utilizados no tratamento da hipertensão arterial sistêmica, produzem vasodilatação, causam relaxamento da musculatura lisa vascular, reduzem freqüência, força e débito cardíaco por bloquear os receptores adrenérgicos ou ainda pela inibição da enzima conversora da angiotensina (ECA). O angioedema é uma tumefação edematosa difusa dos tecidos moles que envolvem os tecidos conjuntivos submucoso e subcutâneo, que pode afetar também o trato gastrointestinal e respiratório, cuja causa mais comum é a degranulação de mastócitos. Este quadro leva a liberação de histaminas e alterações clínicas características 18. O angioedema, reação de hipersensibilidade à drogas, é geralmente associado aos medicamentos inibidores da ECA. Os medicamentos inibidores da ECA são capazes de inibir a degradação da bradicinina e presumivelmente resulta num angioedema causado pelo aumento dos níveis desta cinina. Os medicamentos mais envolvidos são: Captopril, Lisinopril e Enalapril2. Janson 9 relatou o caso de um paciente idoso que apresentou evolução fatal de um angioedema associado ao uso de Captopril por 2 anos. O Captopril pode causar disgeusia, como gosto salgado na boca. É reversível na maioria dos casos, regredindo geralmente após 2 a 3 semanas mesmo com a continuação da medicação1. Sugerese que este efeito se deva pela biotransformação hepática do fármaco que libera metabólicos ativos responsáveis pela ocorrência da disgeusia5 . Síndrome da ardência bucal é uma sensação de queimação na mucosa bucal e língua, sem alterações clínicas da região afetada. São referidas como causas: fatores psicogênicos, alterações hormonais, deficiência de ácido fólico, ferro, vitaminas do complexo B ou reação de hipersensibilidade a materiais utilizados em prótese dentária. As principais drogas anti-hipertensivas com potencial para causar queimação bucal são: Captropil, Lizinopril e Enalapril1. Gislon da Silva 8 relatou dois casos de sialoadenite nas glândulas parótida e submandibular após a utilização de Captopril. Um paciente apresentou eritema facial e xerostomia associado ao edema da glândula salivar. No outro, a sialoadenite foi acompanhada de eritema conjuntival. O autor sugere uma reação idiossincrática do tipo B. A hipossalivação é um efeito adverso muito comum associado às drogas que atuam no sistema nervoso central e sistema cardiovascular. Os antihipertensivos e diuréticos são responsáveis pela diminuição da velocidade do fluxo salivar, e esta diminuição é potencializada quando estas drogas são administradas concomitantemente, como relataram Lima et al.13. As drogas anti-hipertensivas reduzem o fluxo simpático pela inibição das catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), diminuem a neurotransmissão adrenérgica ou diminuem a resposta ao estímulo simpático junto aos receptores alfa e beta, isto é, ao impedir o estímulo simpático nestes receptores inibe-se o estímulo secretor das glândulas salivares. Os diuréticos potencializam a ação dos anti-hipertensivos5. Castells et al. 4 relataram o caso de uma paciente que apresentou disgeusia, gosto metálico e queimação bucal após a administração de Eprosartan (antagonista receptor da Angiotensina II). Williams27 relatou o caso de um paciente com ulcerações bucais associadas ao aumento da dose de metildopa para tratamento da hipertensão. A diminuição da dose permitiu a regressão das lesões. 3 ANTIMICROBIANOS Os antimicrobianos são drogas inibidoras do crescimento de microrganismos, que impedem a sua replicação ou síntese protéica e/ou destroem a membrana da parede celular do microrganismo. O mecanismo pelo qual os antimicrobianos provocam efeitos colaterais nos tecidos bucais é incerto. Os antibióticos são drogas amplamente utilizadas tanto na Odontologia como na Medicina. As penicilinas estão associadas às reações de hipersensibilidade tipo I ou desordens mediadas pela Imunoglobulina E (Ig E), que podem variar de aumento de volume em tecidos isolados na boca a anafilaxia severa. Os lábios são os locais mais acometidos, seguidos pela língua. A mucosa afetada aparece edematosa e eritematosa minutos ou horas após administração destes fármacos10. 30 Revista Odontológica de Araçatuba, v.26, n.2, p. 28-33, Julho/Dezembro, 2005 Reações adversas medicamentosas.pmd 3 11/4/2006, 09:59 ISSN 1677-6704 As penicilinas têm sido associadas a várias reações, como estomatites alérgicas, erupções do tipo lupus eritematoso, eritema multiforme, além de xerostomia, glossite e distúrbios do paladar. A Amoxicilina é comumemente associada à ocorrência de glossite, língua pilosa negra e estomatite, bem como o Cefaclor, a Cefalexina e o Cefadroxil que também podem provocar distúrbios no paladar e diminuição da salivação24. Os antimicrobianos administrados por via sistêmica podem alterar a microbiota bucal e conseqüentemente predispor o indivíduo a infecções bacterianas ou fúngicas1. Como a candidose é uma infecção fúngica oportunista vários medicamentos sistêmicos de uso prolongado podem predispor o paciente à infecção, sejam fármacos que levam a depressão do sistema imunológico com finalidade terapêutica ou como reação adversa 7. O eritema multiforme é considerado uma doença alérgica mediada tanto pela IgE como uma vasculite por imuno-complexo7. Em sua forma mais grave é chamada Síndrome de Stevens Johnson. É uma condição mucocutânea ulcerativa e bolhosa aguda, freqüentemente causada por medicação, embora possa ser desenvolvida após infecção herpética. Há diversas drogas com potencial para causar eritema multiforme, sendo muitas vezes inespecíficas, como a Clindamicina1. A administração de Clindamicina pode levar a distúrbio gastrointestinal, que se apresenta na forma de diarréia ou colite pseudomembranosa potencialmente fatal. A antibioticoterapia prolongada permite um crescimento excessivo de leveduras e fungos na boca, trato intestinal e vagina. Tais superinfecções podem resultar em glossite, estomatite e vaginite. A glossite e a estomatite também podem constituir manifestações de uma reação alérgica17. A tetraciclina é um antibiótico causador de várias reações adversas na boca. É capaz de formar um quelato com o cálcio, impedindo a sua fixação em dentes e ossos, interage com o cálcio e íons bivalentes tais como alumínio e magnésio. Logo, a administração destes sais é contra-indicada com a tetraciclina. Ainda, deposita-se nos dentes e ossos durante a atividade metabólica. A cor amarela brilhante da droga é refletida nos dentes irrompidos. Com o tempo a tetraciclina oxida-se passando do amarelo para o cinza ou castanho, com perda da sua propriedade fluorescente. A pigmentação é diretamente proporcional ao tempo. Quando são administradas por período prolongado em adultos são incorporadas à dentina fisiológica que continuamente se forma20. As minociclinas (derivadas semi-sintéticas da tetraciclina) têm sido administradas para tratamento da acne vulgar e seus efeitos adversos são bem descritos na literatura. A pigmentação acomete vários tecidos e fluidos como unha, tireóide, pele, esclerótica, osso e dente. As pigmentações em mucosas bucais devem-se em grande parte dos casos, a uma pigmentação no osso adjacente à mucosa que o recobre, o que a deixa com aspecto pigmentar26. Ao contrário da tetraciclina, a minociclina não se liga ao cálcio dentário. A pigmentação ocorre pela quelação com o ferro e formação de componentes insolúveis 20. Treister et al.26 relataram dois casos de pigmentação mucosa verdadeira em palato duro secundária à utilização de minociclina. O metronidazol, importante droga antiprotozoária, utilizada para tratamento da periodontite, tem sido associado a efeitos colaterais como: náusea, estomatite, língua saburrosa e gosto metálico na boca17. 4 FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE OS AUTACÓIDES 4.1 Anti-histamínicos: Freqüentemente, os anti-histamínicos são associados a efeitos colaterais sobre SNC e efeitos antimuscarínicos, incluindo boca seca. Estes efeitos ocorrem por inibição dos receptores M3 presentes nas glândulas salivares. Os principais fármacos anti-histamínicos relacionados com secura de boca são: Astemizol, Fexofenadina, Loratadina, Mizolastina e Terfenadina15. 4.2 Imunossupressores: Fármacos imunossupressores, tais como os corticosteróides sistêmicos e inalatórios (beclometazona), estão comumente relacionados a infecções oportunistas na boca. Isto se deve à ação supressora da atividade inflamatória, impedindo a ação de células de defesa, tais como, linfócitos T, macrófagos e enzimas responsáveis pela lise de corpos estranhos. Dentre as infecções oportunistas, destaca-se a candidose. Ela apresenta-se sob as formas pseudomembranosa aguda, atrófica aguda e atrófica crônica. A apresentação clínica mais característica consiste em numerosas placas brancas e aveludadas, presentes em toda a mucosa bucal. O manejo medicamentoso destas infecções consiste na aplicação tópica de antifúngicos, tais como o gel de miconazol (10 a 14 dias/ 4 vezes ao dia). Os corticosteróides também exercem outros efeitos colaterais, tais como Síndrome de Cushing e retardo no processo de cicatrização e reparação tecidual, permitindo a disseminação das infecções12. 5 FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE A HEMOSTASIA Pacientes usuários crônicos de anticoagulantes orais normalmente possuem valores do tempo de pró-trombina duas vezes maiores que os níveis basais. A hemorragia intrabucal está associada a pacientes usuários de fármacos que diminuem o número de plaquetas, alteram a coagulação ou interferem na integridade vascular. 31 Revista Odontológica de Araçatuba, v.26, n.2, p. 28-33, Julho/Dezembro, 2005 Reações adversas medicamentosas.pmd 4 11/4/2006, 09:59 ISSN 1677-6704 Os principais fármacos que alteram a hemostasia são: Heparina, AAS, Warfarina. Outros fármacos seriam: Quinina, sulfa, Alopurinol, Barbitúricos, Cloranfenicol, Fenilbutazona21. CONCLUSÃO Os mecanismos pelos quais as drogas agem podem produzir efeitos indesejados nos pacientes, porém muitas vezes não é possível identificar qual droga está causando determinada alteração, pois nossos pacientes são polimedicados e estas reações se fazem por meio da interação farmacológica. Muitas vezes estas alterações são inespecíficas e a variação individual deve ser considerada. O cirurgião dentista deve estar atento às várias reações adversas e efeitos colaterais que podem comprometer os tecidos bucais para prevenilos ou mesmo tratá-los quando possível. Além dos efeitos nos tecidos bucais, a administração de medicamentos pode comprometer a saúde do paciente - a xerostomia pode aumentar o índice de cáries e a estomatite pode dificultar a higiene bucal e a alimentação do paciente. ABSTRACT Many drugs have been associated with pathologic or non-pathologic manifestations in the oral tissues. Clinical features are heterogeneous and may be aggravated when other drugs are taken together. Adverse reactions are dependent on the type of drug, drug dose and individual patient differences. Oral manifestations of drug reactions may be variable, including an erithema in the skin and anaphylaxis. This article reviews the literature and emphasizes some oral manifestations of drug reactions. 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