CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DO GINECEU DE FLORES DICLINAS E MONOCLINAS DE Solanum lycocarpum A. ST.- HIL.. Larissa Résio de Oliveira1; Tânia Maria de Moura2; Erika Mendes Graner3; Cássia Regina Fernandes3, Marcilio Almeida3 .(1 Iniciação Científica – Universidade Estadual de Goiás/UnU Morrinhos e-mail: [email protected]; 2 Universidade Estadual de Goiás/UnU Morrinhos. Rua 14, nº 625, Jd. América, Morrinhos/GO. CEP 75650-000. e-mail: [email protected]; 3 Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP). Avenida Pádua Dias, nº 11, Piracicaba/SP). Termos para indexação: Lobeira do Cerrado; Anatomia do Ovário; Biologia Reprodutiva; Solanum lycocarpum A. St. – Hil,; Caracterização Anatômica do Gineceu. Introdução Solanum lycocarpum A.St.-Hil, conhecida popularmente como lobeira, é uma espécie típica do Cerrado brasileiro, e apresenta ampla distribuição neste bioma principalmente em áreas antropizadas. Os frutos dessa planta são freqüentemente consumidos pelo lobo guará (Chrysocyon brachyurus), que representa o principal agente dispersor de sementes dessa espécie (Martins; Motta Junior, 2000), do qual provém o nome da espécie lyco= lobo e carpum= fruto (lycocarpum), fruta do lobo (Silva Junior, 2005). A espécie é andromonóica, ou seja, apresenta no mesmo indivíduo flores hermafroditas e masculinas funcionais (Oliveira Filho; Oliveira, 1988). É uma espécie que floresce e frutifica durante todo o ano (Almeida et al., 1998; Moura, 2007), porém, a floração é mais intensa durante a estação chuvosa (Moura, 2007). Segundo Oliveira Filho e Oliveira (1988) todas as flores de S. lycocarpum possuem pistilo, porém o ovário é atrofiado nas flores masculinas funcionais. Estes autores ainda comentam que estas flores (funcionalmente masculinas), o estilete fica sempre oculto no interior das anteras, enquanto, nas hermafroditas, o estilete ultrapassa a altura destas, expondo estigma acima do ápice das anteras. As flores masculinas funcionais e hermafroditas de S. lycocarpum não apresentam diferenças morfológicas marcantes exceto pelo comprimento do estilete e pelo tamanho um pouco maior das flores hermafroditas (Oliveira Filho; Oliveira, 1988). Segundo Moura (2007) a maioria das flores produzidas nesta espécie são masculinas funcionais (95%), no entanto, a autora sugere que existe alta conversão de flores masculinas em frutos, uma vez que o número destes obtidos durante o período avaliado, foi maior que o número de flores hermafroditas produzidas. Por esta razão acredita-se que algumas flores consideradas como masculinas funcionais sejam capazes de produzir frutos. Portanto, o presente trabalho teve por objetivo caracterizar a anatomia do gineceu das flores diclinas e monoclinas de S. lycocarpum e determinar quais são funcionais e se convertem em frutos. Material e Métodos As flores de Solanum lycocarpum foram coletadas em uma população antropizada situada próxima ao Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Caldas Novas/GO. A população era composta por aproximadamente 35 indivíduos, com altura que variável entre 0,80 a 3,0 m com predominância de Brachiaria, caracterizando a área como local de pastagens. Foram coletados ramos reprodutivos de S. lycocarpum com finalidade de confecção de Voucher: Solanum lycocarpum A. St.-Hil, Resio, L. (1); 17046’22’’S; 48039’55’’W, 01/06/2008 (UEG, UFG, ESA) Foram coletadas flores com os três comprimentos de estigma. Os pistilos foram fixados em Álcool 70% e conduzidos ao Laboratório de Morfogênese e Biologia Reprodutiva de Plantas, Departamento de Ciências Biológicas, ESALQ/USP, para confecção das lâminas histológicas, as quais forma analisadas e fotomicrografadas em microscopia de luz (Carl Zeiss, Jenamed 2, Jena Germany) sendo as imagens capturadas na mesma.. Para tanto, os ovários foram fixados em solução Karnovisky (1965), desidratados em série alcoólico-etílica em concentrações crescentes [10, 20, 30, 40, 50 60, 70, 90 e 100% (v/v)], com permanência de 10 minutos em cada uma delas. Uma vez desidratados, foram infiltrados em resina hidroxietil metacrilato (Leica-Historesin) segundo as recomendações do fabricante, cujos blocos foram seccionados a 0,5 µm de espessura por meio de navalhas de aço do tipo C acopladas a micrótomo rotoativo manual (E. Leitz, Wetzlar). Os cortes transversais aderidos às lâminas histológicas foram corados com azul de toluidina 0,05% por 15 minutos (Sakai, 1973) e montados em sintética Entellan (Merck). Resultados e Discussão Solanum lycocarpum apresenta flores com estiletes de três comprimentos distintos, para os quais o presente trabalho emprega os termos “curto”, “intermediário” e “longo” por motivos didáticos. O termo curto se refere ao estilete de menor comprimento encontrado em flores de S. lycocarpum, o termo longo refere-se ao estilete com maior comprimento presente em flores desta espécie, enquanto intermediário refere-se ao comprimento médio entre os dois extremos. Os três tipos de flores estão representados na Fig.1 (A) flor considerada masculina funcional (estilete curto); (B) flor que apresenta comprimento intermediário de estilete; (C) flor hermafrodita (estilete longo). Fig. 1 – Flores de S. lycocarpum. A – estilete curto; B – estilete intermediário; C – estilete longo. A Fig. 2 apresenta o ovário dos três tipos de flores. Fig. 1 (A) ovário da flor de estilete curto; Fig. 2 (B) ovário da flor de estilete intermediário; Fig. 2 (C) ovário da flor de estilete longo. A B 100µm C 100µm 100µm Fig. 2 – Figura apresentando corte de ovário dos 3 tipos de flores. A – estilete curto; B – estilete intermediário; C – estilete longo. A Fig. 2 indica que, embora as flores de S. lycocarpum apresentem diferentes comprimentos de estilete, não há diferença entre os ovários dos três tipos de flores, sugerindo que todas as flores de S. lycocarpum possuem ovários com óvulos, aptos à conversão em frutos e sementes, respectivamente. Oliveira Filho e Oliveira (1988) comentam que em flores masculinas de S. lycocarpum o ovário é morfologicamente semelhante ao das flores hermafroditas, com óvulos atrofiados e diâmetro apresentando-se com menos da metade dos encontrados em flores hermafroditas. Em flores masculinas funcionais ocorre, inclusive, a formação do saco embrionário, como pode ser observado na Fig. 3. 100µm Fig. 3 – Formação de sacos embrionários (seta) em flores de S. lycocarpum com estilete curto. A formação do saco embrionário é indicativo de que a não funcionalidade das flores masculinas é decorrente da presença de estilete atrofiado e não do ovário, como é afirmado por Oliveira Filho e Oliveira (1988). Acredita-se que o estilete neste tipo de flor seja atrofiado devido ao seu comprimento e diâmetro apresentarem-se menores que as flores hermafroditas. Oliveira Filho e Oliveira (1988) realizando trabalho de polinização manual em S. lycocarpum demonstraram que, na polinização cruzada, os grãos de pólen germinam e os tubos polínicos se desenvolvem até a base do estilete, tanto nas flores de estilete curto, como nas de estilete longo, porém as flores masculinas foram invariavelmente abortadas. O trabalho realizado por Moura (2007) demonstrou que apenas 5% das flores produzidas por S. lycocarpum são de estiletes longos, e que o número de frutos produzidos nesta espécie, no período de um ano é equivalente a aproximadamente 8% da produção de flores no mesmo período. De acordo com a autora, isso se deve a uma alta conversão de flores em frutos, embora tenha considerado que a flor com estilete longo seja a única capaz de produzir frutos. No entanto, a estimativa de 8% de formação de frutos, permite sugerir que não apenas flores com estiletes longos estão produzindo frutos. O estudo desenvolvido por Oliveira Filho e Oliveira (1988) corrobora com esta hipótese, pois estes autores observaram que possivelmente um dos frutos, dos 25 observados, originou de flores de estilete de comprimento intermediário. Este baixo número de produção de frutos originada de flores de estilete intermediário apresentado pelos autores supracitados, provavelmente está relacionado ao fato de que esses somente verificaram o sucesso na formação de fruto a partir de flores hermafroditas, ou seja, apenas flores de estiletes longos. Para resultados conclusivos em relação à formação de frutos em S. lycocarpum se faz necessário estudos anatômicos de estiletes, com observação simultâneas da conversão de flores em frutos em campo, a fim de constatar se as flores de estilete intermediário se comportam como flores masculinas ou hermafroditas. Conclusões Não foram constatadas diferenças anatômicas nos ovários e óvulos pertencentes a pistilos com diferentes comprimentos de estilete nas flores de Solanum lycocarpum. Isso indica que a viabilidade do estilete apresenta-se com fator determinante na formação de frutos nesta espécie. Agradecimentos Agradecemos à equipe do Laboratório de Morfogênese e Biologia Reprodutiva de Plantas, Departamento de Ciências Biológicas, ESALQ/USP, em especial à Dra. Cristina Vieira de Almeida pelo apoio recebido durante o desenvolvimento do trabalho em laboratório. Referências bibliográficas ALMEIDA, S. P.; PROENÇA, C. E. B.; SANO, S. M.; RIBEIRO, J. F. 1998. Cerrado:Espécies vegetais úteis. 1 ed. Planaltina: EMBRAPA – CPAC. 464p. KARNOVSKY, M.J.A. A formaldehyde-glutaraldehyde fixative of high osmolality for use in electron microscopy. Journal of Cell Biology, New York, v.27, n.2, p.137-138, 1965. MARTINS, K. Diversidade genética e fluxo gênico via pólen e sementes em populações de Solanum lycocarpum St. Hil. (Solanaceae) no Sudeste de Goiás. 2005. 128p. Tese (doutorado) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba. MARTINS, K. & MOTTA JUNIOR, J.C. 2000. The maned wolf, Chrysocyon brachyurus (Mammalia: Canidae), as seed disperser of Solanum lycocarpum (Solanaceae) in Southeastern Brazil: a test with captive animals. 3rd International Symposium-Workshop on Frugivores and Seed Dispersal. São Pedro, p. 217. Resumo. MOURA, T. M. Estrutura genética populacional em lobeira (Solanum lycocarpum A. St.Hil., Solanaceae), em ambientes naturais e antropizados no estado de Goiás. 2007. 97p. Dissertação (Dissertação Ecologia Aplicada) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo. Piracicaba. OLIVEIRA FILHO, A. T.; OLIVEIRA, L. C. A. Biologia floral de uma população de Solanum lycocarpum St. Hill. (Solanaceae) em Lavras MG. Revista Brasileira de Botânica. São Paulo, v.11, n.1/2, p.23-32, 1988. SAKAI, W. S. 1973. Simple method for differential staining of paraffin embedded plant material using toluidine blue O. Stain Technology 4S:247-49. SILVA JUNIOR, M. C. 100 Árvores do Cerrado: Guia de campo. 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