PODEMOS PLANEJAR O SUCESSO? Fernando Schuler* Há aproximadamente uma década, muito se tem discutido sobre planejamento. São planos de negócio, planos de expansão, planos de marketing e planos para substituir planos mal-elaborados. Há de tudo, pode-se escolher. Existe também o modismo de se falar de planos estratégicos, sem que se conheça a essência dos mesmos. Alguns pensam que essa é uma ferramenta desenvolvida apenas para as grandes organizações, outros que deve ser implementada em alguns segmentos privilegiados do mercado. É com essa dúvida que convive hoje grande parte dos empreendedores brasileiros da micro, pequena e média empresa. Sonhar, idealizar, discutir idéias e realizar é o que existe de mais saudável no atual momento empresarial. Planejar o sucesso é na realidade ter visão clara e objetiva do futuro da organização. Não importa o tamanho da empresa, mas o desejo de realizar do empreendedor, da forma como assume riscos do seu negócio, da consciência de que a mudança do ambiente externo é tão rápida que a única certeza estável é a própria mudança. Será que podemos planejar o nosso sucesso? Ou só o fracasso é objeto de previsão? Sei que muitos empreendedores se perguntam, será que nessa minha atividade caberia um planejamento estratégico? Se fizermos uma análise mais crua de um planejamento, não considerando blá-blá-blás, backups e vaidades pessoais, descobriremos que a essência dessa ferramenta é de uma simplicidade medieval. Um bom exemplo é a nossa vida: quem atualmente não planeja seu futuro, suas necessidades, desenvolve ou agrega valores, faz uma análise mais crítica sobre os seus pontos fracos e a melhorar; quem não tem um olhar mais atento às oportunidades e ameaças trazidas pelo ambiente externo? Qual o significado de todas essas preocupações, medo do fracasso ou planejamento do sucesso futuro? Nas aulas de MBA e Pós-graduação, os alunos, muitos deles pequenos empreendedores, trazem sempre dúvidas sobre qual segmento de negócio deve ser contemplado com um plano estratégico. Respondo com a simplicidade de uma única palavra: Todos. Com toda a diversidade culinária da região nordeste, muita gente não acredita que se faz planejamento estratégico de marketing para segmentos tipo: farinha de milho, colorífico, temperos e outros. E por que não fazer para pequenos e médios empreendimentos que se dedicam à reforma de pneus? Algo contra? Será que todos os elementos que envolvem esta atividade não são perfeitamente mensuráveis? Quando estava na Bolívia dirigindo uma pequena afiliada de uma multinacional americana, muitas vezes me surpreendia com uma dúvida: será que um planejamento estratégico para uma atividade daquele porte era requerido? Na época, nosso consultor internacional – Sr. G. Badi - me convenceu de que não era o tamanho das organizações quem determinava a elaboração ou não de um planejamento, mas a necessidade de planejar o futuro do negócio. Conforme o conhecido e respeitado consultor e professor Antoninho Marmo Trevisan, “Não existe nada mais difícil de fazer, nada mais perigoso de conduzir, ou de êxito mais incerto do que tomar a iniciativa de introduzir uma nova ordem nas coisas, porque a inovação tem inimigos em todos aqueles que se têm saído bem sob as condições antigas, e defensores não muito entusiásticos entre aqueles que poderiam sair-se bem na nova ordem das coisas”. Diz ainda o professor que, ao nos conduzir nos meandros da gestão estratégica, com certeza, a resistência ao novo e ao desconhecido tem instigado executivos e consultores a persistirem num enfoque sistemático e cada vez mais essencial na gestão das empresas e entidades do terceiro setor para posiciona-las em seu ambiente de competição, garantindo o sucesso continuado. Como empresários ou dirigentes, por vezes oscilamos entre o pragmatismo da administração orientada para resultados e um conceito abstrato chamado estratégia que nos confronta e nos coloca em xeque perante o futuro. Por que então vacilamos quando somos confrontados com esses conceitos fundamentais? A resposta está na reação natural das pessoas e de organizações de qualquer tamanho de lutar contra uma perturbação da cultura e da estrutura de poder dentro da empresa ou entidade, ao invés de enfrentar os desafios posicionados pelo ambiente externo. O professor Gary Hamel, da London Business School, reconhecido como uma das maiores autoridades em Gestão Estratégica, confessava sentir certo desconforto quando tinha de dizer a matéria que lecionava. A razão do embaraço? A dificuldade de encontrar uma metodologia para ensinar que proporcionasse por si mesma um alto grau de sucesso na Gestão Estratégica. Comentava ele que, ao apresentar aos alunos casos de sucesso, os mais perspicazes argumentavam que o sucesso do caso apoiava-se na sorte, na percepção de oportunidades e na capacidade de liderança de um executivo ou empreendedor e não na escolha da metodologia utilizada! Em muitas de nossas conversas com empresários, alguns afirmam não estar preocupados em ter um planejamento estratégico agora, pois o ambiente está muito tumultuado, com as indefinições da política e do governo, crises e etc. Na realidade, todos deveriam entender que esse é o momento primordial para as empresas terem um planejamento estratégico estruturado, pois só assim poderão delinear um futuro esperado para suas organizações e maneiras de alcançar ou se aproximar, o mais possível, desse futuro desejado. “A fábrica do futuro terá apenas dois empregados: um homem e um cachorro. O homem estará lá para alimentar o cachorro; e o cachorro, para impedir que o homem toque no computador” – Warren Bennis. Sugiro a todos que consultem os assuntos relacionados a Planejamento Estratégico. Todos esses exemplos foram para mim um grande aprendizado. A reflexão do caro leitor sobre o tema, sem dúvida, será de grande valia para o sucesso na sua vida profissional. Referências Costa, Eliezer Arantes. Gestão Estratégica. Saraiva 2003. Oliveira, Djalma Pinho Rebouças. Gestão Estratégica. Saraiva 2004. ___________. Excelência na Administração Estratégica. Atlas 1999. (*)Diretor Sócio da Proactive Consultores Associados e consultor do SEBRAE