Zimbro_dez_2015 - Amigos da Serra da Estrela

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Dezembro 2015
ÁGUAS DA MONTANHA É SINAL
DE PUREZA?
AMAP
UM NOVO MODELO QUE COMPROVA QUE
EXISTEM ALTERNATIVAS
A Estrela da Serra:
O Passado de um Topónimo
PROJECTO LIFE TAXUS
FICHA TÉCNICA
Edição de Dezembro de 2015
A “ZIMBRO” é editada pela Associação Cultural Amigos da Serra da
Estrela com distribuição é gratuita.
Os artigos de opinião são da responsabilidade dos seus autores.
Director
José Maria Serra Saraiva (presidente da ASE)
Corpo redactorial
Tiago Pais
José Amoreira
Rómulo Machado
Layout e Paginação
Bruno Veiga
4. Editorial
José Maria Serra Saraiva
6. 10. 12. Águas da montanha é sinal de pureza?
António José Alçada
Conferência de Paris
Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações climáticas (COP21).
A “Música Nova”
Baú das Memórias
14. 18. 24. 28. 38. Colaboraram neste número
José Maria Serra Saraiva
António José Alçada
Pedro Rocha
Fabio Silva
Bruno Veiga
AMAP - Um novo modelo que comprova que existem alternativas
Pedro Rocha
Conservação da Natureza
Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela
Projecto Life Taxus
Restaurar Bosquestes de Teixo
A Estrela da Serra: O passado de um Topónimo
Fabio Silva
Institute of Archaeology, University College London, Reino Unido
Projecto para a valorização das potencialidades turisticas do Vale do Beijames
Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela
40. Fotografia de capa
Bruno Veiga
www.brunoveiga.com/photography
Reconhecimento
Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela
Sede e redacção:
Rua General Póvoas, 7 - 1º
6260 - 173 MANTEIGAS
www.asestrela.org
ASE: [email protected]
Redacção: [email protected]
EDITORIAL
José Maria Serra Saraiva
Zimbro
A caminho dos 40 anos da data da criação do Parque Natural da Serra
da Estrela (PNSE), valerá a pena reflectir sobre se esta instituição
mereceu a Serra da Estrela e se os pressupostos originários que
justificaram a sua criação têm vindo a ser cumpridos.
Fundamentado num conjunto de realidades e valores que a Serra da
Estrela possuía, o Decreto-Lei nº 557/76 de 16 de Julho dá suporte
legislativo ao PNSE, declarando que “O maciço da Serra da Estrela
constitui uma região de característica economia de montanha,
onde vive uma população rural que conserva hábitos e formas de
cultura local que interessa acautelar e promover.” Talvez não seja
despropositado o facto de no site do Instituto da Conservação da
Natureza e das Florestas (ICNF) se referir apenas “uma região de
característica economia de montanha”, menosprezando “onde vive
uma população rural que conserva hábitos e formas de cultura local
que interessa acautelar e promover.”
Tal supressão de texto confirma a orientação que tem vindo a ser
observada e sentida pelas populações locais, ou seja, o afastamento
do PNSE enquanto instituição das pessoas e da realidade serrana. Tal
atitude tem sido um erro que nunca foi corrigido e que se acentuou
com o decorrer dos anos.
Apesar da paisagem da Serra da Estrela ser um forte convite à reflexão,
ela não foi suficientemente eficaz para contrariar a tendência que o
País, do Minho ao Algarve, exprime no ditado – Lisboa é Portugal e o
resto é…, sendo evidente quanto de verdade neste aforismo tem sido
posto em prática uma vez que é quase nada o que se decide na Serra.
É voz do Povo que quando algo nasce torto tarde ou nunca se
endireita.
Quando nos primórdios do PNSE se colocou a questão da localização
da sua Sede, houve fortes pressões por parte de alguns concelhos
com peso político que se posicionaram para conseguir esse desígnio.
O Concelho de Manteigas tinha importância pelos valores naturais
do seu território, já que era o único cujo território se situava
integralmente no interior do PNSE, mas não possuía, no entanto, peso
político e por isso não entrou no “jogo” dos concorrentes. A escolha
de Manteigas para Sede do Parque Natural da Serra da Estrela foi uma
forma simpática para evitar a “guerra” com os demais concelhos. Se
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
“O maciço da Serra da Estrela
constitui uma região de
característica economia de
montanha, onde vive uma
população rural que conserva
hábitos e formas de cultura
local que interessa acautelar
e promover.”
Foto por Bruno Veiga
a solução tivesse ficado por aqui, o processo
tinha sido fechado com chave de ouro. Mas
não, era preciso compensar os derrotados e
para tal repartiu-se o “mal pelas aldeias” (neste
caso, as pretensas mais-valias) e montou-se
uma estrutura que acabaria por destruir toda
a capacidade orgânica de funcionamento
eficaz. Ou seja, toda a energia que o PNSE
necessitava para pôr em prática os objectivos
que justificaram a sua criação, era gasta com a
sua estrutura dispersa, nunca se conseguindo
ultrapassar esta anacrónica realidade.
Presentemente a situação entra ainda mais
em conflito com os desígnios programados de
outrora porque o PNSE esfumou-se, ou seja,
não se dá pela sua presença e actividade. O seu
responsável máximo reside em Viseu e passará o
tempo a servir de “caixeiro-viajante” rodando de
a Área para Área sem possibilidade de saber o
que se passa em cada uma.
O sentimento das pessoas que vivem na Serra
da Estrela é de revolta face à agressividade que
vem sendo observada e já por diversas vezes
foi denunciada pela ASE, por parte do pessoal
técnico, que revela uma profunda ignorância das
práticas ancestrais na agricultura e pastorícia
que deviam proteger e valorizar, em vez de
reprimir e autuar.
Por tudo o que foi dito e pela atitude negativa
e errada que os responsáveis pelo Parque
Natural da Serra da Estrela têm vindo a adoptar
contra quem pratica o montanhismo, cujos
exemplos de conduta deveriam servir de
orgulho a qualquer dirigente que tenha apreço
pela conservação do espaço natural sob a sua
responsabilidade, estamos conscientes das
nossas razões para que evoquemos cada vez
mais o nome da Serra da Estrela esperando que
o PNSE venha um dia a merecê-la!
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
Águas da montanha é sinal
de pureza?
Foi com muito gosto que acedi ao convite da ASE em escrever
um pouco sobre a minha experiencia na exploração de
sistemas de abastecimento público de água na zona serrana,
mais concretamente em Manteigas.
Quando cá cheguei em 2005, em pleno período de seca, fui
confrontado com a qualidade da água proveniente da Fonte
Paulo Luis Martins. Nunca imaginaria tal coisa porque
desde o tempo dos meus avós que ouvia que a água da serra
era sinonimo de pureza. E, efetivamente, das 18 captações
que servem Manteigas apenas a Fonte Paulo Luis Martins
apresentava incumprimentos.
O problema só surgiu com a alteração legislativa sobre a
qualidade da água para consumo humano, concretamente
com o Decreto-lei 243/2001. Até à data, os parâmetros
de qualidade eram cumpridos, embora aparecesse alguns
vestígios de Arsénio (variava entre os 12 e os 15µg/l).
Foto por Bruno Veiga
Águas da montanha é sinal de pureza?
- Coagulação/filtração – tratamento
convencional para coagular o arsénio;
- Alumina ativada – elimina o arsénio da água
por adsorção com alumina;
- Osmose inversa - sistema de agua em pressão,
passando através de um filtro membrana
retendo o Arsénio
- Troca iónica – o arsénio é adsorvido por uma
resina, sendo esta periodicamente regenerada
com solução de clorito de sódio;
- Oxidação/filtração – oxidação seguida de
filtração.
Foram efetuados ensaios laboratoriais de
oxidação com Hipoclorito de Sódio e com
oxidação com Dióxido de Cloro, recorrendo
posteriormente à filtração com areia e também
à coagulação com sal de Alumínio, tendo-se
obtido, em ambos os processos, valores residuais
de Arsénio na água.
Foto por Bruno Veiga
O problema era tecnicamente complexo.
A estação de Tratamento de Agua tinha
pouco espaço para ampliações e os pareceres
de especialistas apontavam para soluções
insustentáveis.
Com poucos recursos financeiros abracei este
objetivo como vital, tendo recorrido à ajuda
de uma colega especialista em química, a Dra.
Silvia Cardoso, e a um especialista em geologia,
o Dr. Paulo Carvalho.
Primeiro estudámos o motivo da presença do
Arsénio: efetivamente o contacto da água com
a rocha, mais concretamente complexos xistograuváquico ante-ordovício com mineralizações
ricas em Arsénio, confirmando-se assim a
origem do problema. A Fonte Paulo Luis
Martins está assente na falha da Vilariça, que
vai de Bragança a Manteigas, predominando
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
sedimentos xistos grauvaques, que em contacto
com a água percolada transmite Arsénio.
No entanto esta reação pode ocorrer muitos
quilómetros a montante da Serra da Estrela,
mais concretamente nos xistos grauvaques da
bacia do Douro.
Um dado interessante era, que em período
seco, os níveis de Arsénio subiam tendo-se
registado valores record em 2005. O facto deviase ao aumento do tempo de contacto da água
com a rocha, uma vez que as velocidades de
escoamento baixavam.
Era mesmo necessário resolver o problema.
Foi-nos autorizado um orçamento reduzido e
tínhamos um desafio pela frente.
A primeira ação foi ver como quimicamente se
podia remover o Arsénio da água. Os processos
que encontramos foram:
“Até à data, os parâmetros de
qualidade eram cumpridos,
embora aparecesse alguns
vestígios de Arsénio”
Porem, a implementação de um sistema de
tratamento que contemplasse uma destas
soluções na atual Estação de Tratamento
de Agua, não foi possível, em face das
condicionantes já mencionadas. Ainda foram
feitas experiências com meios técnicos que
tínhamos, mas os resultados não foram
satisfatórios.
Assim sendo alterou-se a opção e tentou-se o
processo de Adsorção com Oxido de Ferro.
Foram igualmente efetuadas experiencias
laboratoriais e obtiveram-se resultados ainda
melhores. Os vestígios de Arsénio eram da
ordem de 1µg/l.
A solução estaria encontrada. Porem no
mercado os produtos de Oxido de Ferro
não eram adequados ao tratamento de água
potável, uma vez qua a granolumetria ficava em
António José Alçada
suspensão na água.
Continuamos à procura e consultamos
empresas no estrangeiro, tendo-se finalmente
encontrando um meio filtrante à base de Óxido
de Ferro, próprio para tratamento de água e que
não alterava a turvação da água tratada.
Com a colaboração da manutenção, construi-se
uma estrutura e um sistema hidráulico, tendo-se
adquirido um filtro e o respetivo meio filtrante
em Oxido de Ferro, ao fornecedor encontrado.
Conseguiu-se assim resolver um problema
aparentemente complexo, e com custos
associados abaixo do orçamento aprovado.
O projeto foi amplamente vzdivulgado,
nomeadamente em encontros nacionais de
tratamento de águas para consumo humano,
como o ENASB e o Congresso Nacional da
Agua, e, com a colaboração do Prof. António
Sampaio Duarte, da Universidade do Minho,
foi esta investigação foi publicada na revista
“Sustainability”, na edição 2009-1-1288-1304,
tendo já sido referenciado mundialmente por 4
vezes.
António José Alçada, Msc em Hidráulica e Recursos
Hídricos.
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
Temos vindo, no âmbito
da ASE, a fazer todos os
esforços para dar o nosso
contributo à escala da
Serra da Estrela.
Conferência de Paris (COP21)
Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações climáticas (COP21).
Paris foi palco, durante o Mês de Dezembro,
da Conferência das Nações Unidas sobre as
Alterações climáticas (COP21).
O acordo final, celebrado pelas 192 nações
representadas pode ser consultado em http://
unfccc.int/resource/docs/2015/cop21/eng/l09r01.
pdf aponta por conter o aquecimento global abaixo
dos 2 graus Celsius, procurando limitá-lo ao 1,5,
prevendo uma verba de 100 bilhões de dólares por
ano para os países em desenvolvimento, com início
em 2020.
Negociar um acordo envolvendo quase duas
centenas de Estados, é de uma complexidade que
envolve questões internas de cada membro, da
economia, ao crescimento e desenvolvimento, à
segurança e independência das suas Nações.
As conclusões da Conferência não tranquilizaram
o movimento ecologista por considerar não ter
sido suficientemente ambiciosa face à gravidade
das alterações climáticas que ameaçam, a vida do
planeta.
A complexidade interna de cada país face aos
problemas que as alterações do clima originam,
só poderão ser ultrapassados com um despertar
consciente dos cidadãos de cada Estado em
confrontar os seus governos para políticas
ambientais que eliminem o consumo energético
baseado em combustíveis fósseis, em políticas
que garantam a sustentabilidade das florestas,
aposta em transportes públicos mais eficientes,
não ignorando as questões da água e do apoio
à manutenção das populações nos seus espaços
naturais, para destacar as mais relevantes.
Preocupados com as alterações do clima, temos
vindo, no âmbito da ASE, a fazer todos os
esforços para dar o nosso contributo à escala
da Serra da Estrela. É assim com as propostas a
defender o encerramento da estrada da Torre,
que a ser aceite implicaria retirar o trânsito do
ponto mais elevado da Serra da Estrela; o fim
da aplicação de sal-gema, que funde milhares
de metros cúbicos de neve que tão necessária é
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
para o reabastecimento dos lençóis freáticos;
garantia de melhor qualidade da água (como é
do conhecimento público existem análises feitas
por organismos credíveis que apontam para
elevados níveis de cloreto de sódio); campanhas,
de florestação, preferencialmente em zonas de
altitude; políticas de turismo mais sustentáveis
que tenham um retorno mais vantajoso para as
populações residentes; medidas de conservação
de minimizem os riscos de erosão dos solos.
A próxima Conferência do Clima irá acontecer
na cidade de Marraquexe – Marrocos, em
Novembro de 2016.
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
A “Música Nova”
privado de trabalho pelo encerramento das
fábricas. Entretanto duas novas surgiram mas
numa escala de empregabilidade muito inferior.
Dificilmente os namorados terão hoje a coragem
de por em causa a continuidade das “suas” moças
na Banda. A escola tem cada vez menos crianças
e sem elas não há futuro!
A Música Nova tem sede e Mestre novos, e
goza de boa saúde.
A Filomena, quem sabe se pelos ares
oxigenados, das caminhadas que fez pela
Serra da Estrela, e pela sua força de vontade,
surpreendeu-nos através da escrita. Com
mais de uma dezena de livros editados e dois
prémios: - A Sopa (2004) — com o qual ganhou
o Grande Prémio de Literatura DST; A Cova
do Lagarto (2007) — galardoado com o Grande
Prémio de Romance e Novela APE/DGLB
“A Música Nova tem sede
e Mestre novos, e goza de
boa saúde.”
A “Música Nova”
Baú das Memórias
Fomos ao baú das memórias e demos com este
belo texto da nossa associada, Filomena Marona
Beja, escrito em 1985, por ocasião da realização
da 7ª Marcha e 7º Acampamento Nacionais de
Montanha, no Covão da Ponte, organização da
responsabilidade da nossa Associação.
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
Passaram-se 30 anos desde que a Filomena
fez este belo retrato de momentos de grande
envolvimento cultural com a natureza plena.
Comparar alguns detalhes do texto com a
actualidade permitem desde logo avaliar o que
mudou, localmente neste curto espaço de tempo.
Desde logo quem era operário têxtil viu-se
Foi no fim do dia, no Covão da Ponte,
num concerto improvisado entre as últimas
árvores da mata serrana e o rio. Résteas de
sol confundiam, num reflexo único, músicos e
instrumentos.
No anonimato dos clarinetes, dos trompetes,
da percussão, duas ou três gerações de
músicos faziam arte. Vieram à grande festa
da Montanha tocar Mozart e outros clássicos
muito clássicos, também Johon Lenon e Paul
McCartney. Tocaram e encantaram; alertaramse sensibilidades, aquietou-se o bulício do
acampamento, mais pessoas sentaram-se no
chão e ficaram a ouvir.
São cerca de cinquenta artistas; quando a banda
recolhe voltam ao campo, à fábrica, à escola.
Na Música Nova (*) pais e filhos aprenderam
as “notas” e o instrumento, sonharam com
belas partituras, com concertos de orquestras
desconhecidas, com longínquos festivais.
Talvez marginalizados pelos centros nacionais
de cultura eles são grandes, no mundo sem
fronteiras do saber popular.
Toda a Beira, e muitas outras regiões do
país, os solicitam, disputam até. Estão em
festas, espectáculos, encontros; são notícias na
Imprensa Regional. Permanecem modestos e
disciplinados, não faltam aos ensaios, mais do
que o êxito continuam a amar a música.
Os mais pequenos (impecáveis de
compostura) são o João Paulo – 12 anos, na 3ª
classe – e o Sérgio – 8 anos, 2ª classe – que 90
lições de solfejo puseram a ler música antes de
saberem as letras. O Sr. António Almeida é dos
mais antigos: operário reformado, camponês até
morrer, 59 anos de vida, 25 de música. Bonitas,
airosas no fardamento, a Lúcia de 17 anos e a
Natércia de 16, operárias têxteis, são as únicas
raparigas. Já foram 12, todas boas executantes,
todas muito estimadas pelos colegas, mas umas
casaram outras foram proibidas de continuar,
pelos namorados…
Com gestos seguros o Maestro José Dias
dá instruções para a última peça. O Mestre
(**) é um tecelão de 32 anos, auto-didata na
música, sempre no caminho da valorização e do
aperfeiçoamento.
Irrompe o ritmo de jazz; vibra na ramaria,
na água, nas fragas e nas nossas mãos.
Impunemente os mosquitos do entardecer
transformaram em estação de serviço,
executantes e ouvintes. Há um solo de trompete,
há mais força em todos os metais e nas palmas a
compasso. Ninguém improvisa mas todos criam
e recriam beleza.
Mais uma maravilha da Serra da Estrela, esta
Música Nova, de Manteigas.
Filomena
Junho, 1985
(*) Nome carinhoso por que é conhecida a
Filarmónica Popular Manteiguense, fundada em
1877.
(**) A forma popular da palavra tem o mesmo
valor da erudita.
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
AMAP - UM NOVO MODELO QUE COMPROVA QUE EXISTEM ALTERNATIVAS
O alimento é o pilar central das sociedades,
é o sustento do corpo humano, que apenas
saciado permite que nos expressemos como
artistas, seres criativos e livres, como já nos dizia
Agostinho da Silva.
A importância dos alimentos é central, é a base
da liberdade e com essa consciência todos os
movimentos ligados às questões de Soberania
Alimentar consideram que os bens alimentares
não devem ser tratados como mercadoria.
Alimento é um direito e cabe à comunidade
civil, controlar onde é produzido, como é
produzido, como é distribuído e consumido e
qual o destino do lucro ou seu beneficio.
AMAP
UM NOVO MODELO QUE COMPROVA QUE EXISTEM ALTERNATIVAS
Pedro Rocha*
Dia nove de Setembro em Berlim, decorreu o
encontro Europeu das AMAP (Associação para
a Manutenção da Agricultura de Proximidade),
organizado pela agência Internacional
URGENCI.
Nos mesmos dias que decorria o Congresso
Solikon, mesmo ali ao lado, sobre economia
solidária. Apareceram quase mil pessoas
de todos os cantos da europa. Falou-se de
economia solidária, de novos modelos socioeconómicos, de democracia participativa,
de soberania alimentar, software livre, etc.
Apresentaram-se caso práticos de sucesso, casos
iguais aos que dizem ser utópicos num mundo
moderno, e quem lá esteve sabe que a alternativa
existe, está em marcha e é viável.
Mas falta ganhar mais visibilidade, continuar a
crescer, ser pragmático e ao mesmo tempo ser
cuidadoso para que o crescimento não traga a
subversão dos modelos apresentados. Dentro
do encontro Europeu das AMAP chegou-se à
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
conclusão que não nos podemos esconder mais.
Somos um milhão e meio de pessoas em todo
o mundo e em rápido crescimento e por isso
trabalhou-se na primeira declaração europeia
das AMAP.
Agora, essa mesma declaração é apresentada
e discutida em Portugal, naquele que será o
primeiro encontro nacional das AMAP.
Em Portugal este modelo alternativo de
relação entre consumidores e produtor é ainda
desconhecido do público, mas alguns novos
produtores, assim como redes, organizações e
colectivos demonstram grande interesse no seu
desenvolvimento.
Com este encontro lançamos o desafio para a
criação de uma dinâmica de âmbito nacional
com o objectivo de promover, desenvolver e
implementar o modelo das AMAP em Portugal.
“A economia solidária é utópica a não ser que
asseguremos, em primeiro lugar, a soberania
alimentar”.
Numa frase: - Os, alimentos são um bem
público, não privado, nem do Estado!
As AMAP (Associação para a Manutenção
da Agricultura de Proximidade), também
conhecidas como CSA (Community Supported
Agriculture), é apenas um dos modelos sócioeconómicos que responde à necessidade de
atingir a soberania alimentar, sendo porventura
a solução que o tem feito da forma mais
eficiente e genuína. Ou seja, passando para as
pessoas o poder de participar ativamente nos
processos de produção, distribuição e acesso
(comercialização), dos seus alimentos. Um
modelo sócio-económico que na sua definição,
como é proposto na Declaração Europeia de
Berlim, fala em escala humana, parceria direta,
partilha e relação de longo prazo.
“Associação para a Manutenção da Agricultura
de Proximidade (AMAP) é uma parceria direta,
baseada na relação humana entre o grupo de
consumidores e um ou mais produtores, onde
os riscos, responsabilidades e recompensas da
produção agrícola são partilhadas, através do
estabelecimento de uma ligação de longa duração”
No movimento europeu para as AMAP, não
se conhecem representantes, títulos ou cargos.
Pedro Rocha
Os participantes são mandatados pelas bases
e resumem-se a veículos de comunicação,
expressando a realidade local, presente na
sua origem. Sendo mandatados, o trabalho
desenvolvido tem de regressar à base, para
que novamente seja exposto e apenas depois
disso poderá haver uma verdadeira Declaração
Europeia, que seja representativa de todo o
Movimento e onde todos se possam rever. De
facto é um processo longo, demasiado para
um mundo que gira cada vez mais rápido.
Mas a mesma velocidade que nos faz avançar,
trai a nossa essência. Somos seres sociais
e a solidariedade apenas se revela quando
mantemos a escala humana. Por isso amamos os
que nos são mais próximos, por isso ajudamos
todos os amigos, por isso contribuímos para
o nosso bairro. Dito isto e resumindo, somos
solidários, partilhamos responsabilidades e
riscos, participamos, quando conhecemos
o destinatário das nossas ações. O segredo
das AMAP tem sido o saber multiplicar-se,
preservando uma escala pequena a nível local
e atuando como movimento crescente à escala
global. Essa é a receita do seu sucesso, essa
a formula que permite que todos se sintam
incluídos, que todos participem.
Desde os anos 70 que o conceito foi sendo
desenvolvido, mas é a partir do inicio deste
Século que realmente surge a cada ano com
mais força. Em França em 15 anos surgiram
mais de 1500 grupos de consumidores dentro
do modelo AMAP e existem mais de 300
000 pessoas ligadas ao movimento. Mais
recentemente o modelo tem chegado a muitos
países, como o BRASIL onde já existem 35
grupos e em PORTUGAL onde são conhecidos
pelo menos 5 grupos.
Depois de Berlim, cabe agora à Associação
Moving Cause organizar o primeiro encontro
Nacional das AMAP, onde o modelo
será apresentado a coletividades, redes,
organizações, produtores e consumidores
em geral. Apresentaremos e discutiremos a
declaração europeia, falaremos do modelo
AMAP, da metodologia de criação de grupos
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
de consumidores e lançaremos a base para a
criação da rede nacional. Este é o propósito
do encontro, porque cá, em PORTUGAL, as
alternativas também são possíveis, haja vontade,
haja gente. Certamente existe.
COMIDA COM MENOS
EMISSÕES
Mais uma vez os líderes mundiais encontraramse para discutir as alterações climáticas. Mais
uma vez o consenso sobre a necessidade de
actuar aumenta, assim como as evidencias.
Mais uma vez os discursos são vazios de acção.
Nenhum discurso faz reduzir as emissões de
dióxido de carbono. Nenhuma palavra fará os
problemas climáticos se resolverem.
Enquanto os líderes de cada país continuarem
a defender os seus interesses individuais, toda e
qualquer cimeira estará condenada ao fracasso.
Apenas o colectivo interessa. Não o colectivo da
humanidade, mas sim de toda a vida no planeta.
Mas não nos façamos depender das decisões dos
líderes políticos. Não nos desresponsabilizemos
daquilo que está unicamente nas nossas mãos.
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
Cada um de nós tem um poder incalculável de
mudança. Tudo começa pela simples decisão
daquilo que escolhemos comer.
Como dizia um amigo, o primeiro acto
consciente do dia começa ao pequeno-almoço.
A indústria agro-alimentar é uma das maiores
poluidoras do planeta, consequência dos
milhões de toneladas de pesticidas que são
produzidos e aplicados na agricultura, poluindo
ar, água, solo, o nosso organismo e todos os
outros seres vivos. A produção em grande
escala, em localizações distantes da fonte de
consumo, obriga ao uso intenso de transporte,
armazenamento e refrigeração, implicando
gastos energéticos significativos. A política da
prateleira cheia para encher o olho, dos preços
baixos, para vender mais, provoca apenas
desperdício de comida, de energia e uma
distribuição injusta dos bens alimentares.
Toda a cadeia de distribuição alimentar é arcaica
e de uma paupérrima eficiência energética.
Contudo, nada nos impede de optar por
soluções mais eficientes e mais sustentáveis.
A decisão está em cada um de nós. Quem nos
impede de ter um sumo de laranja ao pequenoalmoço, com as laranjas da região? Quem
nos impede de optar pelos alimentos que são
produzidos localmente? O argumento do preço,
não convence, não chega e está errado. Pagamos
menos no imediato, mas muito mais depois,
com o flagelo do desemprego, com as alterações
climáticas e com os problemas de saúde que
uma agricultura irresponsável e eticamente
condenável nos trás. Afinal, qual o valor que
damos à vida?
Na cimeira pelo clima, não se fala apenas da
humanidade, mas sim da vida no Planeta, que
não é propriedade de ninguém, mas que cabe à
espécie humana preservar. Conheço produtores
dispostos a trabalhar diretamente para os
consumidores, dispostos a converter as suas
explorações para o modo de produção biológica,
dispostos a responder a uma solução mais
eficiente e sustentável.
A decisão está nas mãos do consumidor, a
mudança de hábitos alimentares e nas escolhas,
no acto de compra, dos alimentos que é diária e
não depende de decisão superior.
Se existe acto político que contribui para
mudar o mundo, esse encontra-se presente a
cada momento que abrimos a boca para nos
alimentar.
*Pedro Rocha
Nasceu em 1976 em Espinho - Portugal, mas
foi entre as praias da Aguda e os campos de
Arcozelo que cresceu.
No ano de 2000 concluí o Curso de Ciências do
Ambiente e Poluição na Universidade de South
Wales no Reino Unido.
Ainda como estudante frequenta o
Departamento de Proteção Ambiental da
Politechnika Wroclawska.
No mesmo ano, inicia atividade profissional
na consultora alemã Hydroplan GmbH, sendo
consultor no projeto de desenvolvimento rural
em Cabo Verde.
Em 2005 inicia o projeto de agricultura
biológica Raízes, na produção e distribuição de
produtos biológicos, do qual ainda é sócio.
Desde 2014 dedica-se à prestação serviços como
agricultor urbano e consultor, promovendo
novos conceitos de relação entre consumidores
e produtor.
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
Às vezes basta
um pouco de
imaginação para
que a Natureza se
refaça
Conservação da Natureza
Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela
A ideia de que sem dinheiro não é possível
Vista do cimo do Cantaro Magro.
Foto por Bruno Veiga
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
preservar a Natureza, não é totalmente
verdadeira. Às vezes basta um pouco de
imaginação para que a Natureza se refaça,
não querendo com esta afirmação dar como
adquirido que, em determinadas circunstâncias
e dependendo de realidades muito concretas e
da urgência na intervenção, não tenham de ser
necessários investimentos financeiros para que
se consigam resultados mais imediatos.
Vem o tema da conservação da Natureza a
propósito do que a este nível tem (ou não) sido
feito na Serra da Estrela por quem tem essa
responsabilidade. Se quisermos ser rigorosos e
procurar saber que acções foram concretizadas
nestes quase 40 anos que já soma a tutela da
conservação – o Parque Natural da Serra da
Estrela (PNSE) – temos alguma dificuldade em
encontrar casos dignos de registo.
A retirada das barracas da Nave de Santo
António; o encerramento do círculo das
barracas postadas na rotunda da Torre onde se
vendia quase tudo (peles de Grândola, louça do
Redondo, queijo de que não se sabe a origem
certificada e que na actualidade não diferirá
muito do passado, exceptuando ao nível das
instalações); os estudos científicos desenvolvidos
por algumas Universidades e por investigadores
a título individual; a recuperação de alguns
edifícios com interesse patrimonial e pouco
mais.
Sobre as barracas clandestinas da Nave de
Santo António, o processo da sua remoção
coerciva foi facilitado por não haver uma
única construção ilegal que fosse pertença de
algum cidadão de Manteigas, concelho que
detinha, e detém, a administração territorial
daquela área, tendo sido a própria Comissão
Administrativa (recorde-se que, após o 25 de
Abril, os Municípios foram presididos por
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
Foto 1 – Entrada Norte da Nave de Santo António, deixando clara a possibilidade de entrada das pessoas, através
da pequena abertura, e o impedimento a viaturas com as
cancelas.
estes Órgãos de transição) a exigir a sua
erradicação. Só não se entende como é
que foi possível brindar quem prevaricou,
desfrutando durante alguns anos daquele
ambiente, propondo-lhe como recompensa
pelo abuso de ter usurpado um espaço
comunitário, mudar de ares para as Penhas
da Saúde!? Os cidadãos de Manteigas, cuja
noção de cidadania tem sido exemplar
uma vez que nunca abusaram construindo,
clandestinamente, na Serra, tiveram como
“prémio” a escolha da moreia glaciária
da Lagoa Seca para aterro do entulho das
construções que foram destruídas na Nave
de Santo António!
Curiosamente, algumas intervenções
positivas ao nível da preservação ambiental
na Serra da Estrela provieram mais de
iniciativas pontuais e à margem da cúpula
do PNSE, que nem delas se apercebeu e
que são hoje um exemplo evidente de que
é possível conservar, com pouco trabalho e
sem gastar um cêntimo, bastando capacidade
de iniciativa, imaginação e alguma ousadia
contra quem “decide”.
Muitas das pessoas que conhecem a Serra,
pelo menos desde meados dos anos 80
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
Foto 2 - A colocação
de pedras para evitar
o acesso de viaturas.
Vê-se o painel com
informação sobre a
Reserva Biogenética
e o suporte para o
recipiente do lixo.
das viaturas intrusas sobre a importância
daquele magnífico local para que, decorrido
apenas um ano, o Covão d’Ametade deixasse
de ter carros. Também deixou de haver
uma insignificante receita da cobrança das
entradas dos mesmos...
Lamentavelmente, o Covão d’Ametade
não tem merecido, da parte de quem tem
responsabilidades sobre a sua gestão, a
intervenção que merece no sentido de ser
garantida a sua conservação e ao mesmo
tempo que seja gerar riqueza para a região.
O caso mais cómico sobre formas de gerir
os processos de conservação passouse na Nave de Santo António. Uns anos
depois das barracas terem sido demolidas
os carros continuavam a invadir aquele
espaço, pondo em causa a preservação do
cervunal (pasto de altitude). Lembrou-se
um técnico do PNSE que o melhor seria
abrir, o que foi feito, valas nas duas entradas
para a Nave. Se fosse necessário combater
algum incêndio florestal naquela zona
as viaturas ficavam impedidas de o fazer,
incapacidade que originou protestos dos
Serviços Florestais. A opção passou então
por voltar a repor tudo como estava antes
e colocar uns grandes blocos de granito a
barrar as entradas, mantendo-se na mesma
a questão do combate aos fogos. É aflitivo e
desconcertante, de facto, conviver com estes
métodos de gerir a conservação dos espaços
naturais!
Foto 3 – Covão do Boi, em Dezembro de 2015
do século transacto, lembrar-se-ão de que era
habitual, no período estival, o Covão d’Ametade
estar apinhado de viaturas, de roulotes, algumas
delas até com lugar marcado de ano para ano,
com o PNSE a cobrar pela entrada dos veículos!
À revelia da Direcção do PNSE e correndo o
risco de sanção disciplinar (que esteve por um
triz), bastou conversar com os proprietários
Foto 5 – Cruzamento da EN 339
com o ramal para a Torre
Foto 4 – Nesta imagem ainda são visíveis os cubos que a
JAE colocou.
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
Covão da Ametade
Foto por Luis Matosinhos
A questão foi resolvida conforme mostra
a fotografia (1), sem custos e sem que
superiormente se desse por isso!
Covão do Boi era um local em risco de perder
o cervunal com a constante invasão de carros,
ficando conspurcado por todo o tipo de lixo
deixado ali por merendeiros e por plásticos
que o vento trazia e eram usados para deslizar
na neve, sendo depois abandonados, como
ainda hoje acontece. Não se podia culpabilizar
as pessoas por entrarem naquele Covão com
as viaturas porque quem fez a estrada teve o
cuidado de preparar a entrada com calçada, em
cubos, induzindo os automobilistas a fazê-lo.
No Covão do Boi não foi necessário pedir aos
visitantes para não entrarem com os automóveis
que destruíam o cervunal: bastou colocar
as pedras (foto 2) para impedir o seu acesso
e limpar o espaço poluído pelos plásticos.
Estes nocivos despejos para o meio ambiente
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
continuam a ser ali depositados pelo vento por
incapacidade de controlo de quem os utiliza
para deslizar na neve. Quanto à regeneração do
cervum e demais espécies arbustivas foi esperar
que a Natureza fizesse a sua parte. Também
neste caso a iniciativa para preservação daquele
espaço foi assumida à revelia da Direcção do
Parque Natural.
A foto mostra ainda o painel informativo do
PNSE sobre a Reserva Biogenética e um suporte
em ferro para fixar o recipiente para o lixo.
O Parque Natural ainda não evoluiu para a
necessidade de serem os turistas a levar os seus
resíduos até onde haja recolha (zonas urbanas)
dos mesmos. Em vez dessa postura pedagógica
optou por montar um sistema de recolha de lixo,
substituindo-se às Autarquias, mas que deixou
de funcionar por se tornar financeiramente
insuportável. Para não falar da passagem de
3 profissionais, qualificados para trabalhar
na área da conservação, os quais se viram
assim preteridos dessa função para passarem a
conduzir durante anos uma viatura de recolha
do lixo!
O resultado da intervenção não autorizada
no Covão do Boi, passados vinte anos, pode
ser observado nas fotos (3 e 4). Na foto 4 são
visíveis os cubos de granito que a antiga Junta
Autónoma de Estradas (JAE) colocou para
permitir o acesso das viaturas, quase cobertos
pelo avanço do cervunal – a Natureza a
regenerar-se!
medida que se vai subindo a Serra a quantidade
de disparates aumenta e tais evidências
revelam a incompetência em lidar com alguns
processos de gestão no Planalto Superior da
Serra da Estrela. A última foto (5) foi tirada
no cruzamento da EN 339 com o ramal para a
Torre.
Neste local sempre se depositou bastante
neve que era arrastada pelo vento, chegando a
ultrapassar os postes de orientação que têm uns
6 metros de altura. Tal já não vem acontecendo
porque a queda de neve tem vindo a diminuir.
Do ponto de vista do Centro de Limpeza
da Neve, que tem a missão de manter a via
desobstruída e em boas condições de circulação,
a solução foi rebaixar os estratos de granito
adjacentes à via evitando assim uma deposição
de neve tão alta, facilitando desse modo o
trabalho.
Do ponto de vista ecológico e turístico não
podiam ter feito pior e as culpas terão que ser
imputadas ao Parque Natural da Serra da Estrela
por ter permitido que tal disparate tivesse sido
consumado.
Uma vez mais se confirma que a estrada que
rasga a Serra da Estrela, no seu ponto mais
elevado, foi o maior erro e aquele que, a não
ser corrigido, irá colocar em risco o turismo, a
boa conservação natural e o desenvolvimento
socioeconómico da região.
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
Projecto Life Taxus
Restaurar Bosquestes de Teixo
[9580* Florestas Mediterrânicas de Taxus Baccata] LIFE 12 NAT/PT/000950
Está a decorrer desde julho de 2013 o projeto
LIFE TAXUS – Restaurar bosquetes de teixo
[9580* Florestas mediterrânicas de Taxus
baccata cujo objetivo central consiste em
contribuir para a recuperação deste habitat
prioritário, de forma a manter a diversidade
do mosaico florestal, melhorando as áreas
existentes e incrementando a área de ocupação
na Rede Natura 2000.
De forma a alcançar este objetivo, têm sido
dinamizadas diversas ações concretas no
terreno, assim como iniciativas de divulgação
nas áreas de intervenção, os Sítios de
importância Comunitária Serra da Estrela e
Peneda-Gerês. Em seguida é apresentada a
evolução decorrente da implementação das
principais ações previstas no projeto.
No âmbito da ação C2 – Melhoria do estado
de conservação, a intervenção no SIC PenedaGerês iniciou-se no final de março de 2014
com o controle de vegetação sub-serial numa
área de 2 ha nas imediações do rio Maceira e
corte de alguns exemplares de Chamaecyparis
lawsoniana, espécie exótica que pontualmente
estava a provocar a asfixia de alguns teixos
adultos. Na época seguinte, entre outubro de
2014 e março de 2015, foram intervencionados
19,05 há, nos quais se incluem 1.025 metros
lineares de limpezas em caminhos pedestres que
correspondem a cerca de 1,28 há, admitindo que
os trabalhos foram efetuados numa faixa com
largura média de 12.5 metros.
Ao nível do incremento da área de ocupação
dos bosquetes de teixo, previsto na ação C3,
a realizar na Serra da Estrela, as condições
climatéricas adversas, nomeadamente com
temperaturas muito baixas e queda de neve,
seguida de um curto período de primavera
implicaram que as operações no terreno nem
sempre tenham tido a evolução desejável.
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
Taxus Baccata
Foto de autor desconhecido
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
Projecto Life Taxus
Durante as duas épocas de plantação, entre a
primavera de 2014 e a primavera de 2015, foram
plantadas 7.507 árvores e arbustos, numa área
correspondente a 33% do previsto no projeto. A
tabela que se segue apresenta a distribuição das
plantas instaladas no terreno, em cerca de 5 há,
segundo as espécies utilizadas.
2014, em que os especialistas foram unânimes
em considerar que a produção de teixo por
semente é sempre melhor devido à salvaguarda
da variabilidade genética, também foi referido
que a estacaria poderá ser interessante como
forma de preservar o material genético de
núcleos e/ou espécimes, prevenindo que
Para a implementação da ação de incremento
de habitat (ação C3.) prevista para o SIC Serra
da Estrela, é de referir que nos viveiros florestais
da S.ª da Graça – Malcata, encontram-se em
número suficiente exemplares que permitem
assegurar as plantações e retancha, assim como o
período pós-LIFE.
No seguimento da troca de experiências nas
jornadas internacionais sobre o teixo, que
decorreram na Catalunha em dezembro de
algum fenómeno estocástico os possa afetar.
Como tal, tendo em conta a existência de
um número de teixos superior aos 10.000
exemplares inicialmente previstos, na primavera
de 2015 procedeu-se à recolha de estacas
em dois exemplares masculino e feminino
existentes na Barroqueira, tendo sido obtidas
cerca de 300 estacas que foram tratadas com
hormonas de enraizamento e colocadas em
tabuleiros com substrato enriquecido com
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
adubo e, posteriormente, colocadas na estufa de
germinação, com rega regular e ventilação.
No que respeita à divulgação do projecto, é de
referir os seguintes aspetos: o site do projecto
(http://lifetaxus.quercus.pt) apresenta uma
afluência superior a 58.000 visitas; estão
instalados 10 painéis informativos nas áreas
de intervenção do projeto; foram promovidaos
dois eventos de apresentação pública do projeto
junto das comunidades locais; procedeu-se
à divulgação de dois spots sobre o projeto e
disponibilizados outros dois spots referentes
a testemunhos; foi elaborada uma exposição
interpretativa, um folheto e uma brochura,
distribuídos por cerca de 3.500 pessoas;
participou-se nos programas “Sociedade Civil” e
“Biosfera”.
De forma específica, o Programa Educativo “O
tesouro das bolinhas vermelhas” dinamizado no
âmbito da ação E7, direcionada para a educação
ambiental, envolveu até à data cerca de 1.800
alunos e professores, superando os 1.000 alunos
previstos no projeto. A dinamização do projeto
teve como suporte a exposição do projeto,
uma apresentação multimédia e um Guião de
Exposição Pedagógica concebidos para o efeito.
A ação em rede com outros projetos nacionais
e internacionais, têm sido de uma enorme
relevância para a melhoria dos resultados
obtidos no projeto, decorrente da partilha e
troca de experiências que proporciona. De
entre os intercâmbios é de referir a participação
da equipa do projeto constituida pelo Nuno
Forner e Domingos Patacho nas “IV Jornadas
Internacionais do Teixo”, que decorreu entre
os dias 23 e 25 de Outubro de 2014 em
Poblet (Catalunha), e posterior visita por parte
da colaboradora do projeto LIFE11 NAT/
ES/000711 – “TAXUS – Improvement of
TAXUS baccata conservation status in northeastern Iberian Peninsula”, Antónia Caritat,
que teve oportunidade de visitar as intervenções
efetuadas na Serra da Estrela. Outra iniciativa
a referir prende-se com a visita do Diretor do
“WIGRY NATIONAL PARK na Polónia,
e técnicos afetos aos projetos LIFE11 NAT/
PL/000431 “Endangered species and habitats
protecion of the Natura 2000 “Ostoja
Wigierska” site” e LIFE11 NAT/PL/428
“Acitve protection of lowland populations of
Capercaillie in the Bory Dolnoslaskie Forest
and Augustwska Primeval Forest”. Esta visita,
que contou com o acompanhamento por
parte do ICNF - Instituto da Conservação da
Natureza e das Florestas, permitiu a troca de
experiências ao nível da gestão e implementação
de projectos, assim como possibilitou mostrar
aos técnicos alguns dos valores naturais que
estiveram na base da classificação de duas
áreas emblemáticas da Rede Natura 2000 em
Portugal.
É ainda de entatizar a troca de informação com
entidades e/ou projetos nacionais que estão a
trabalhar com teixo, nomeadamente o Jardim
Botânico do Faial, assim como com o LIFE
Maciço Montanhoso (LIFE11 NAT/PT/327)
na Madeira.
O projeto envolve diversas entidades
O projeto coordenado pela Quercus conta
localmente com o apoio de diversas entidades,
que de forma direta ou indireta contribuem
para alcançar os objetivos definidos no
projeto, nomeadamente o ICNF (Instituto da
conservação da Natureza e das Florestas), os
Baldios de São Pedro de Manteigas, Cortes do
Meio, Unhais da Serra, Santa Maria e Fafião.
O acompanhamento cientifíco está a cargo do
CEG – IGOT (Centro de Estudos Geográficos
– Instituto de Geografia e Ordenamento do
Território da Universidade de Lisboa).
Este projeto é cofinanciado pelo programa
LIFE+ da União Europeia e pela Valormed –
sociedade Gestora de Resíduos de Emabalagens
e Medicamentos.
In suplemento Life, da Quercus
Ambiente de Novembro/
Dezembro2015
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
A Estrela da Serra: o passado de um topónimo
Fabio Silva
Institute of Archaeology, University College London, Reino Unido
Investigar a origem de um topónimo é uma
forma de arqueologia: é necessário escavar
lentamente, removendo camada a camada o
passado recente para se revelarem indícios de
um mais remoto. É, portanto, uma viagem no
tempo, sequencial, traçando um percurso que
vai da situação atual para trás. É isto que se
pretende fazer neste artigo: explorar o passado
do nome Serra da Estrela. Um passado algo
confuso pela situação atual: embora a designação
oficial seja Serra da Estrela, e este seja o termo
comumente usado, outro topónimo é tido
como sinónimo da mesma: Montes Hermínios.
Esta confusão de termos não é em nada
desmistificada pela presença, já nos primeiros
séculos do Reino de Portugal, de ambas as
designações, ou variações das mesmas. No
entanto, investigações recentes vieram trazer um
novo elemento que parece fechar o círculo entre
as atuais lendas do nome da Serra da Estrela
e as antas pré-históricas do vale do Mondego,
identificando a Estrela que dá nome à Serra.
Este trabalho investigativo não pretende ser
exaustivo. Trabalhos detalhados focados na
compilação e análise de todas as variantes
conhecidas da lenda do nome da Serra da
Estrela, ou na compilação de todas as menções
em registos históricos aos vários nomes da Serra,
seriam verdadeiros tesouros para uma melhor
compreensão da evolução do topónimo, mas
também da própria memória social, etnografia
e folclore na longue durée. Mas também seriam
dignos de teses de doutoramento, envolvendo
vários anos de estudo. Com este trabalho
pretendem-se estabelecer traços gerais para um
estudo diacrónico do topónimo Serra da Estrela,
desde o presente etnográfico até ao passado
pré-histórico, notando semelhanças e diferenças
e tentando dar corpo a uma explicação para a
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
Vista da Torre.
Foto por Bruno Veiga
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
congruência entre a narrativa arqueológica com
seis mil anos e as lendas atuais.
O Presente Etnográfico
Comecemos então pelas lendas que explicam
o nome da Serra da Estrela. Uma versão, tão
generalista como concisa, é a presente no
website do Município da Covilhã:
“Conta o povo que o nome Serra da Estrela foi
dado em tempos que já lá vão por um pastor
que vivia em parte incerta no Vale do Mondego.
Passava as noites a contemplar uma estrela
que brilhava tanto que iluminava o cimo de
uma serra próxima. Até que se decidiu e foi
ao encontro daquela luz cintilante que o atraía
tanto, na companhia do seu fiel cão. Depois
de muitos dias de subida chegaram ao cume.
Impressionado com a luminosidade da estrela,
disse para o seu cão: ‘a este lugar que parece
favorito dos astros vou chamar Serra da Estrela
e a ti que me acompanhaste vou dar-te o mesmo
nome.’”
Existem outras variantes desta lenda, algumas
das quais incluem outros elementos, mas o
cerne da narrativa é sempre o encapsulado
acima. Existe, no entanto, um conjunto de
variantes em que a narrativa não termina com a
chegada do pastor ao cume. Nestas, e após este
feito, o pastor decide estabelecer-se na serra
ou arredores. A estrela descende e assume a
forma de uma rapariga, que vive com o pastor.
Um rei (o Rei do Mundo, em algumas versões)
recebe notícias disto e cobiça a rapariga-estrela.
Ele envia um emissário (ou chama o pastor
à corte, em algumas variantes) e oferece ao
pastor muitas riquezas e bens em troca da sua
companheira celeste. “O pastor não aceitou, pois
preferia ser pobre do que perder a sua estrela.”
Mas a rapariga, ao aperceber-se da avareza
humana, volta à forma estelar e regressa à
abóbada celeste.
Esta variante parece ter-se materializado na
forma de Nossa Senhora da Boa Estrela. Em
Covão do Boi, a uns meros 500 metros da Torre,
existe um santuário dedicado à aparição da
Virgem Maria a um pastor. Nossa Senhora da
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
Boa Estrela é padroeira dos pastores e é também
conhecida por Nossa Senhora dos Pastores. A
história coincide, quase ponto-por-ponto, com a
lenda acima descrita com a explicação adicional
de que a estrela que tomou forma feminina
era, de facto, a Virgem Maria. Aparições
Marianas são um tema recorrente nas tradições
religiosas Ibéricas, e seria fácil considerar esta
como apenas mais uma variação deste tema,
não fora o caso de ela se enquadrar muito mais
naturalmente nas lendas que explicam o nome
da Serra. Se estas lendas tivessem sido contadas
e transmitidas séculos atrás, é fácil perceber
que um cristão, possivelmente do clero, teria
interpretado a lenda (tida como verdadeira por
quem a conta) como uma aparição Mariana,
particularmente tendo em conta a associação da
Virgem com uma estrela (Stella Maris, Estrela
do Mar), popular desde pelo menos o século
IX d.C. O santuário e o seu culto, celebrado
anualmente na segunda semana de Agosto, pode
ter resultado de uma hibridização de crenças
locais com uma interpretação cristã, que teria
ocorrido em determinada altura no passado
histórico.
Embora seja difícil determinar quão antigas
estas lendas são (os mais antigos registos datam
de inícios do século XX) elas fornecem-nos
a única explicação popular para o topónimo
Serra da Estrela. No entanto, esta designação
é certamente mais antiga, como é confirmado
pelos registos históricos.
A Estrela da Serra: o passado de um topónimo
forma corrente no registo histórico dos séculos
posteriores. É também importante notar que
o documento deixa implícito que enquanto a
parte egitaniense chama ao “monte” Serra da
Estrela, o resto do país – ou pelo menos o clero
– deveria chamar-lhe Ermio.
Existe, no entanto, uma ligação segura entre
a Serra e a Estrela anterior a esta sentença.
José Leite de Vasconcelos, o famoso etnógrafo,
arqueológo e historiador português, notou que
no foral da Covilhã, concedido por D. Sancho
I em 1186, coexistem as designações de Stella
e de Ermio. Segundo o mesmo autor ambos
os termos corresponderiam a toda a serra. No
entanto, José David Lucas Batista notou que no
foral Stella “deve ser entendida como respeitante
a um ponto determinado e de área reduzida e
não a toda a Serra.” Esta área, descrita no foral,
corresponde ao Malhão da Estrela, mais famoso
atualmente como a Torre. Esta interpretação
da geografia do foral da Covilhã é também
defendida por Jorge de Alarcão.
O Período Histórico
Parece-nos, portanto, que estamos perante
uma evolução toponímica. Nos finais do século
XII e durante o século XIII, a corte e o clero
designariam a serra como um todo por Ermio.
No entanto a Torre seria inicialmente designada
por Stella, “estrela”, podendo já as povoações
a oriente da Serra – a “parte egitaniense” –
denominar toda a serra por Serra da Estrela.
Era Medieval
A mais antiga menção ao topónimo Serra da
Estrela nos registos históricos remonta a uma
sentença de 28 de Fevereiro de 1256 sobre os
limites das dioceses de Coimbra e da Guarda.
Esta sentença, homologada pelo papa Alexandre
IV a 27 de Abril do mesmo ano, menciona “o
monte no qual dizem estar situados os ditos
lugares que a parte egitaniense chama não
Ermio mas Serra da Estrela.” Segundo José
David Lucas Batista a serra encontrava-se
então numa transição do nome Ermio (ver
mais abaixo) para a forma atual que se torna a
Em registos anteriores o “monte” aparece
sempre com uma designação derivada de
Ermínio – Hermeno, Ermeno, Ermeo ou Ermio
sendo variantes comuns. A menção mais antiga
descoberta por Lucas Batista data de 1113 onde
uma vinha de S. Romão aparece descrita como
estando “em território da Serra, sob o monte
Hermeno”. Entre este registo e a sentença de
1256 descrita acima, muitos outros exemplos
existem sem que, no entanto, as descrições
permitam uma identificação segura da atual
Serra da Estrela com este “monte Ermínio” ou
se, pelo contrário, o topónimo designaria todo
Fábio Silva
o sistema montanhoso Montejunto-Estrela,
que forma a parte ocidental da Cordilheira
Central ibérica. É precisamente esta a lógica
que encontramos nos períodos que precedem
a formação do Reino de Portugal, sendo isto
claro na geografia árabe, mas também, como irei
defender, na Romana.
Períodos Árabe e Romano
Contemporaneamente com os registo
mencionados na secção anterior, Ibn Sa‘îd
al-Magribi, geógrafo árabe, escrevia o seu
Kitâb bast al-ard fî-l-tûl wa-l-‘ard, no qual
complementava a obra geográfica de alIdrîsî. Embora contemporânea dos registos
portugueses, esta obra advém de uma contínua
ocupação árabe desde 711 e, portanto, os
topónimos nela designados deverão ser
anteriores à obra. Nesta, a zona da Serra da
Estrela aparece designada como Jabal Shârra
que, segundo António Rei, se refere a toda a
Cordilheira Central ibérica. Este topónimo
é bastante interessante na medida em que é
tautológico – ambas as palavras são sinónimas
embora em línguas distintas: jabal é árabe
para montanha (cf. Jabal Tariq, “montanha de
Tariq”, o herói da invasão de 711); enquanto
shârra é uma arabização de serra, ou melhor
do seu correspondente no “latim” então falado
na Ibéria. Este tipo de toponímia tautológica
é comum no choque entre duas culturas,
com línguas e hábitos diferentes, aquando da
confusão entre o substantivo próprio – o nome
específico de determinado acidente orográfico –
e o substantivo comum que designa a sua forma.
No entanto, e ao contrário de tantos topónimos
de Portugal cuja origem remonta à ocupação
Árabe, as variações de Ermínio encontradas
nos primeiros registos portugueses deverão ter
origem no termo latino Herminius mons. Este
termo sobrevive até nós através de duas obras da
literatura clássica: o De Bello Alexandrino e As
Vidas dos Césares. Já muita tinta foi derramada
relativamente às menções, casuais, ao Herminius
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
mons nestas obras e não tenciono aqui repeti-las
(o leitor interessado encontrará mais informação
em praticamente todas as obras mencionadas na
bibliografia no final deste artigo). Convém, no
entanto, dizer que, de Leite de Vasconcelos até
Jorge de Alarcão, passando por Lucas Batista e
muitos outros, várias são as dúvidas levantadas
relativamente à identificação deste topónimo
romano com a Serra da Estrela em específico.
Isto porque, com base nas duas menções que
sobreviveram, é igualmente possível que o
termo designasse todo o sistema MontejuntoEstrela, então mal diferenciado. Esta confusão
não é ajudada pelo facto da etimologia do latim
Herminius ser obscura.
António Borges de Figueiredo sugeriu, já
em 1886, o que é possivelmente a melhor
etimologia para este estranho termo. Ele
atribui o termo à junção de duas palavras
celtas: ar e meneiu, a primeira servindo de
partícula aumentativa e a segunda designando
um qualquer monte ou elevação, “vindo por
consequência a palavra significar grande
elevação, monte alto.” Embora as línguas
celtas do território hoje português estejam
ainda muito pouco estudadas esta hipótese é
viável. Nas línguas celtas ainda hoje existentes
variantes de meneiu são usadas para descrever
montanhas: por exemplo, mynydd é galês para
montanha, enquanto que na Escócia diz-se
monadh. Por outro lado, a partícula aumentativa
ar- ou er- está também atestada na língua
ibérica Tartéssica, contemporânea da menos
estudada língua dos Lusitanos, significando
“sobre” e “após” respetivamente. Ar-meneiu pode
então efectivamente ter sido um substantivo
comum celta designando uma grande elevação.
De facto, outras possíveis variações locais do
original celta são patentes na toponímia dos
sistemas montanhosos nacionais. Exemplos já
conhecidos, e compilados por Lucas Batista,
incluem Aramenha – uma povoação do
concelho de Marvão, Ermelo – duas povoações
no norte do país associadas à Serra do Gerês
e à Serra do Marão, e também em Aeminium
— antigo nome da cidade de Coimbra, sempre
associada ao rio Mondego e à Serra da Estrela
no qual ele nasce.
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
Herminius mons seria, portanto, também
um topónimo tautológico que junta dois
substantivos comuns: um indígena – celta –
e o outro da cultura invasora – o latim, em
nada diferente de Jabal Shârra, o termo árabe
debatido acima. A associação da Serra a uma
estrela parece então perder-se na Antiguidade
Clássica. No entanto, podemos discernir aqui
uma lógica de ligação entre o registo histórico e
o que o precede.
associada a uma estrela,
embora esta tradição
não fosse generalizada
a todo o território hoje
português, mas circunscrita
à parte egitaniense. É mais
tarde, após a formação
do Reino de Portugal,
que a toponímia local
se expande tornando-se
eventualmente a designação
oficial da Serra.
Dados recentes, e inesperados,
descobertos pelo autor vieram
substanciar esta hipótese, mas
para os seguirmos teremos de
sair da Serra em si e virarmonos para o vale do Mondego há
seis mil anos.
A Pré-História
Os nomes dados pelas culturas invasoras,
sejam elas a romana ou a árabe, transformaram
um substantivo comum da língua indígena
num substantivo próprio. Estes termos eram
claramente usados pela classe governante, mas
sobre as comunidades locais pouco sabemos. O
nível de integração da cultura invasora, seja ela
a romana ou a árabe, e dos povos e costumes
indígenas à Península Ibérica são ainda hoje
foco de discussão pelos estudiosos na matéria.
Permanece assim em aberto a hipótese de existir
uma continuidade de tradição na qual a Serra
(ou apenas a região da Torre) se encontrasse
Descobertas dos últimos
20 anos, em especial dos
habitats Neolíticos na bacia
do Mondego, permitiram
reconstruir a vida local
durante o quinto milénio
antes da era cristã. As
evidências arqueológicas indicam que pequenas
comunidades viviam à base da caça e recoleção
de bolotas e outros frutos de inverno. A
agricultura, a ser praticada, teria tido um papel
bastante reduzido. Por outro lado, a pastorícia
de ovelhas e cabras, introduzida na região pelas
primeiras comunidades Neolíticas, sugere que
os invernos seriam passados em terras baixas
e a primavera e verão nos pastos da Serra da
Estrela. De facto, tanto a cultura material datada
do Neolítico, como evidências palinológicas
(pólen) e antracológicas (carvão) atestam a
presença e impacto ambiental de comunidades
na Serra da Estrela neste período.
As primeiras estruturas megalíticas foram
construídas cerca de mil anos depois. O tipo
mais comum na região é a anta, orca ou dólmen,
constituída por uma câmara poligonal feita de
megálitos. A câmara tem uma entrada que pode
ou não ter um corredor, também ele megalítico.
Tanto este como a câmara continham um teto
lítico, e toda a construção era coberta por um
montículo de terra e pedra, denominado hoje
por mamoa. No seu auge, uma anta típica
teria o aspeto de um monte artificial com uma
carapaça pétrea e uma abertura singular (o
acesso ao corredor), embora hoje em dia apenas
o esqueleto pétreo tenha sobrevivido em muitos
casos. Datações por radiocarbono indicam
que as antas desta região do país tenham sido
construídas entre 4300 e 3700 a.C., embora
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
tenham continuado a ser usadas depois deste
período.
O arqueológo João Carlos de Senna-Martinez,
do Centro de Arqueologia da Universidade de
Lisboa, e colaboradores sugeriram, com base nas
evidências arqueológicas, um modelo económico
para as comunidades Neolíticas da bacia do
Mondego. Neste, o núcleo
megalítico marcava o
território de inverno e,
nesse sentido, legitimaria
a sua ocupação. Com
efeito, os habitats
Neolíticos da bacia do
Mondego aparecem em
proximidade de antas e
sugerem uma ocupação
sazonal focada nos meses
do Outono e Inverno.
Uma combinação
de metodologias
de arqueologia da
paisagem e de arqueoastronomia enriqueceu
esta imagem da vida Neolítica no centro de
Portugal. Tanto arqueológos da paisagem
como arqueoastrónomos estão interessados
na orientação de estruturas megalíticas,
em particular quando estas têm um único
corredor e entrada. A presença de um padrão
na orientação de várias estruturas semelhantes
e contemporâneas pode indicar que a direção
escolhida tivesse um significado especial que
poderia estar relacionado com a topografia local
ou com a abóbada celeste.
A região do baixo Mondego contém um núcleo
megalítico de bastante interesse, centrado no
município de Carregal do Sal, mas estendendose também para os municípios de Tondela e
Nelas. As antas deste núcleo encontram-se todas
orientadas para um único acidente orográfico no
horizonte: a Serra da Estrela, a mesma onde os
construtores de antas teriam passado os meses
quentes do ano. O fato de que este padrão se
observa em todas as antas deste núcleo sugere
um papel preponderante para a Serra da Estrela
na ideologia destas comunidades pré-históricas,
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
podendo até ser considerada sagrada. Este
alinhamento sugere também uma ligação entre
a função das estruturas megalíticas e a Serra da
Estrela. Além de terem funções potencialmente
rituais e funerárias, as antas do vale do
Mondego também marcavam os territórios
invernais dos seus construtores, enquanto a
Serra da Estrela, no horizonte, marcaria os
A Estrela da Serra: o passado de um topónimo
o seu nascimento heliacal. Durante o período
pré-histórico que nos interessa, o nascimento
heliacal de Aldebarã ocorreria em finais de
Abril ou mesmo nos primeiros dias de Maio,
dependendo de fatores climáticos. Podemos
então afirmar que a estrela apareceria pela
primeira vez no céu oriental em finais de Abril/
inícios de Maio em alinhamento com a Serra da
Estrela e as antas do vale do Mondego.
pastos veranis. Consequentemente, parece que
tanto a topografia natural como a construída
pelo homem ancoravam o movimento sazonal
destas comunidades pré-históricas.
O alvo dos alinhamentos era uma zona
em particular da Serra que é visível do
interior de todas as câmaras das antas. Isto
sugere que estes “portugueses” do Neolítico
poderiam ter uma motivação por detrás dos
alinhamentos com aquela zona em particular.
Essa zona correspondia exatamente à posição
de nascimento de Aldebarã – a estrela mais
brilhante da moderna constelação do Touro e a
14ª estrela mais brilhante do céu noturno – no
período de construção das antas.
Embora as estrelas, quando visíveis, nasçam e se
ponham sempre no mesmo local do horizonte
ao longo do ano, estrelas que se encontram a
esta distância do pólo celeste passam por um
período em que não são observadas no céu
noturno. Após este período de invisibilidade a
sua primeira aparição é de madrugada, nascendo
imediatamente antes do Sol: este é denominado
Como mencionado acima, as evidências
arqueológicas sugerem que, na primavera e
verão, os construtores de antas levariam as
suas ovelhas e cabras para os pastos da Serra
da Estrela. Se estas comunidades observavam
o nascimento heliacal de Aldebarã, como os
alinhamentos das antas sugerem, eles poderiam
usá-lo como um marcador ritual para o
movimento sazonal. O período de invisibilidade
de Aldebarã – dos finais de Fevereiro a finais
de Abril – seria a perfeita intervalo de tempo
para se efetuarem as preparações para quaisquer
rituais que fossem encenados nas antas, assim
como as preparações para a transumância.
Fábio Silva
Esta narrativa, baseada inteiramente nas
evidências arqueológicas, parece replicar, por
palavras não muito diferentes, as lendas do
nome da Serra da Estrela discutidas no início
deste artigo. O herói das lendas é um pastor
que vivia no vale do Mondego, onde viu uma
estrela nascer sobre uma serra no horizonte.
Isto motivou-o a ‘seguir’ esta estrela, levando
consigo o seu cão. A
comparação com as
comunidades Neolíticas
é bastante sugestiva.
Primeiramente, também
elas habitavam o mesmo
vale, onde o núcleo
megalítico e habitats
foram encontrados.
Segundamente, também
elas, como o herói da
lenda, eram pastores.
Finalmente, os dados
indicam que elas levariam
as suas ovelhas e cabras
consigo para os pastos
da Serra da Estrela. Na
lenda, o movimento
transumante do pastor
é desencadeado pela
observação da estrela
sobre a serra. No caso
dos construtores das antas, sugere-se que o
nascimento heliacal de Aldebarã sobre a Serra,
isto é, Aldebarã na sua função de Estrela da
Manhã, servia o mesmo propósito.
De facto, a importância de Aldebarã na
cosmologia pré-histórica do Ocidente
Peninsular parece não se restringir ao vale do
Mondego. De acordo com medições inéditas
feitas pelo autor no âmbito de um projeto
financiado pela National Geographic Society,
para cima de dois terços das antas em território
português a norte do Mondego encontravam-se
alinhadas com o nascimento de Aldebarã. As
restantes encontram-se alinhadas com outras
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
Variação da Vegetação
estrelas brilhantes na vizinhança desta, a saber:
Alnath e/ou as Plêiades, também estas na
constelação moderna do Touro, e Alnilam, na
constelação de Orionte. Na Galiza, onde este
tipo de estudos é menos corrente, os poucos
dados existentes sugerem algo semelhante: a
maior parte das antas galegas encontram-se
alinhadas com Aldebarã, as outras também
podem ser explicadas como encontrando-se
alinhadas com as estrelas mencionadas. A sul,
em particular no Alentejo onde se encontra
a maior concentração de monumentos
megalíticos da Península Ibérica, a situação não
é muito diferente embora mais afetada pelas
predisposições académicas dos investigadores.
Os dados parecem demonstrar um interesse
numa região do céu específica que se estende
por todo o Ocidente Peninsular, mas é
importante realçar que, com base nos dados
das antas do Norte de Portugal, comunidades
independentes nunca parecem ter abdicado do
seu individualismo e livre‐arbítrio, uma vez que
diferentes núcleos megalíticos concentram‐
se em diferentes alvos astronómicos desta
mesma região do céu. Antevê‐se assim um
fundo cosmológico, semelhante partilhado
pelas comunidades Neolíticas ocupando uma
vasta região (o Ocidente Peninsular, senão
mesmo toda a Ibéria), mas potencialmente
com ideologias e escolhas individuais. Este
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
modelo, meramente hipotético, não seria muito
diferente do que se observa dentre as sociedades
caçadoras‐recolectoras e horticultoras, por
exemplo, da América do Norte, da Amazónia
ou da Austrália. No entanto, mais trabalhos
científicos são necessários para confirmar estas
hipóteses.
Conclusão: Aldebarã, a estrela da Serra
Fecha-se assim o círculo que começou com as
recentes lendas envolvendo um pastor, uma
estrela e a Serra, e termina com as evidências
arqueológicas com seis mil anos que parecem
validar estas narrativas. A coincidência é
grande demais para ser simplesmente ignorada.
No entanto, a sua aceitação levanta questões
importantes sobre a história das comunidades
que hoje rodeiam a Serra da Estrela.
O facto de que as lendas foram registadas
em aldeias e vilas no sopé da Serra da
Estrela, em particular a este da mesma,
e que o nome atual se encontra atestado
historicamente nesta mesma região, sugere que
as comunidades nómadas construtoras de antas
do vale do Mondego, a determinada altura, se
sedentarizaram não neste vale, mas na “parte
egitaniense” da Serra. Esta região fornece
suficiente terra plana arável para permitir uma
vida sedentária com base na agricultura. Esta
hipótese, embora especulativa, é ecoada nas
variantes da lenda do pastor que assertam que
o mesmo, ao chegar à Serra, por ali ficou. Esta
região do território português, mais ou menos
entre a Guarda e a Covilhã, contém poucos
indícios datados do Neolítico, mas bastantes dos
posteriores períodos, designados por Calcolítico
e Idade do Bronze. Foi nestes períodos que
a agricultura ganhou a preponderância atual
enquanto fonte de subsistência primária, não
só na Península Ibérica, mas um pouco por
toda a Europa. Existem também indícios de
deflorestação pelo fogo em torno da Serra da
Estrela nestes períodos, provavelmente devido à
prática de queimadas para limpeza de terrenos
para posterior cultivo.
É então possível que estas comunidades
Neolíticas, após vários anos de transumância
sazonal entre o baixo Mondego e a Serra onde
ele nasce, ditada pelo nascimento heliacal da
estrela Aldebarã, tenham feito uma última
viagem para o sopé egitaniense da Serra onde
assentaram permanentemente, dedicando-se
primariamente à agricultura e, eventualmente,
tendo sido a origem das comunidades e povos
hoje presentes nesta região do território
português. A memória do estilo de vida préhistórico, assim como da associação entre a
Serra e a sua Estrela, teria sido mantida e
transmitida oralmente e apenas localmente,
talvez mesmo enquanto explicação do nome
da Serra: o conto oral é afinal a melhor forma
de transmitir informação e conhecimento em
sociedades pré-literárias. Eventualmente estes
contos iriam “oficializar-se” de três formas:
enquanto topónimo na sentença de 1256
mencionada acima, enquanto ideologia na
aparição de Nossa Senhora da Boa Estrela em
século indeterminado e, finalmente, enquanto
lenda nos registos etnográficos dos vários
académicos que, desde o século XIX, têm vindo
a prospetar o país.
Referências Bibliográficas
Batista, José David Lucas (1993) Do Ermínio
à Serra da Estrela: Notas sobre uma alteração
toponímica e outros estudos. Manteigas:
Câmara Municipal de Manteigas e Parque
Natural da Serra da Estrela.
Borges de Figueiredo, António C. (1886)
Coimbra Antiga e Moderna. Lisboa: Livraria
Ferreira.
de Alarcão, Jorge (1993) Arqueologia da Serra
da Estrela. Manteigas: Parque Natural da Serra
da Estrela.
Leite de Vasconcelos, José (1980 [1941])
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Imprensa Nacional – Casa da Moeda.
Marques, G (1997) Lendas de Portugal Vol. 4.
Rio de Mouro: Círculo de Leitores.
Rei, António (2005) ‘O Gharb al-Andalus
em dois geógrafos árabes do século VII/XIII:
Yâqût al-Hamâwî e Ibn Sa’îd al-Maghribî.’
Medievalista 1(1): 1-22.
Silva, Fabio (2015) ‘The View from Within: a
‘time-space-action’ approach to Megalithism
in Central Portugal.’ Em F Silva e N Campion
(coord) Skyscapes: The Role and Importance of
the Sky in Archaeology. Oxford, Reino Unido:
Oxbow Books.
Silva, Fabio (2015) ‘Once Upon a Time...:
when Prehistoric Archaeology and Folklore
Converge.’ Journal for the Academic Study of
Religion 28(2): 158-175.
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
Projecto para a valorização das
potencialidades turisticas do Vale do Beijames
Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela
ASE | Ao submeter ao Orçamento Participativo
para 2016, da Câmara Municipal da Covilhã, a
ASE viu votada pelo público a sua proposta para
a Valorização das Potencialidades Turísticas do
Vale do Beijames.
O projecto consiste na recuperação de antigas
veredas utilizadas pelos pastores e carvoeiros,
para as colocar ao serviço do turismo pedestre.
À semelhança do que fez no Vale do Zêzere,
no concelho de Manteigas, a ASE vai agora dar
continuidade a esse trabalho ligando assim os
vales do Beijames e Zêzere através de uma rede
de percursos pedestres que os valorize.
Os trabalhos, de recuperação das veredas vai ter
a duração de seis meses e irá dar trabalho a 4
pessoas da região durante este período de tempo.
Contrariando uma tendência que tem vindo
a “fazer escola” no país, a ASE irá proceder a
uma sinalética muito genuína, com raízes em
elementos por onde os percursos se desenvolvem
que importa destacar e valorizar.
Após a conclusão, destes trabalhos o Vale do
rio Beijames irá beneficiar de um conjunto
de percursos que o percorrem em toda a sua
extensão, ligando as terras chãs, onde ainda se
cultivam os campos de uma maneira tradicional
e a actividade caprina que mistura os espaços
agrícolas com os matos e florestas; às zonas mais
elevadas e escarpadas, de onde é possível olhar
paisagens, agrestes e da rara beleza.
A valorização turística destes vales não
é feita ao acaso pela ASE. Para além do
significado interesse que o vale do Beijames
tem, é importante a sua promoção para que o
desenvolvimento ajude as dinâmicas locais e a
população tenha condições de vida que evite
a sua fuga para outras paragens. Por outro a
diversidade da oferta turística é fundamental
para descomprimir a excessiva pressão humana
que se faz sentir no Planalto Superior da Serra
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
A totalidade da rede de percursos do vale
do Beijames será de aproximadamente 50
quilómetros.
da Estrela, área com ecossistemas muito frágeis,
onde predominam reservas naturais de grande
importância para a conservação que importa
acautelar.
Daí que desconcentrar os fluxos do turismo por
outras áreas da Serra nos parece dever ser um
primado que tem de estar na agenda de qualquer
entidade responsável pela gestão da conservação
dos espaços naturais e que a ASE faz questão de
promover de uma forma muito objectiva.
A totalidade da rede de percursos do vale
do Beijames será de aproximadamente 50
quilómetros. Será possível aceder à rede através
da Grande rota do Zêzere, da vereda de “A Lã e
a Neve” que liga Manteigas à Vila do Carvalho/
Covilhã, ao percurso do Poço do Inferno e às
variantes que levam à Serra de Baixo e ao Vale do
Zêzere/Torre.
A ASE tem vindo a colaborar com a Junta
de Freguesia da Vila do Carvalho, no sentido
de se encontrar a melhor solução, para uma
alternativa à vereda tradicional que liga esta vila
à de Manteigas, através de um traçado mais bem
trabalhado e mais interessante do ponto de vista
cénico.
O início dos trabalhos de recuperação dos antigos
caminhos, serão iniciados logo que o Município
da Covilhã disponibilize os montantes aprovados.
A Direcção
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
Reconhecimento
Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela
A nossa Associação viu reconhecido, pela
Assembleia Municipal de Manteigas, o trabalho
que tem vindo a promover na defesa da Serra da
Estrela.
Desse facto damos conhecimento, do Ofício
BC-AM/144 de 15/12/2015 que nos foi
remetido pelo Senhor Presidente da Assembleia
Municipal daquele Município, onde é referida
uma Moção, cujo teor ignoramos, sobre o
lançamento da Grande Rota do Zêzere, e um
voto de louvor “pelo trabalho de preservação
do património natural e cultural desenvolvido
pela Associação Cultural Amigos da Serra da
Estrela” que mereceram a unanimidade dos
votos daquele Órgão Autárquico.
O reconhecimento da Assembleia Municipal de
Manteigas ao trabalho da ASE é significativo e
revela que o rumo que temos seguido estará no
caminho certo e é motivo de regozijo para todos
quantos têm pugnado pela defesa dos valores
naturais da Serra da Estrela.
No entanto, tal voto de confiança não nos
deve esmorecer dos objectivos que originaram
a criação da nossa Associação; manter uma
vigilância permanente contra os malefícios que
intentem contra o património natural, cultural
e patrimonial, do maior maciço montanhoso do
país; propor soluções para a sua defesa, através
de medidas que garantam a sustentabilidade dos
seus ecossistemas, e a garantia de que a melhoria
das condições de vida dos seus residentes será o
melhor desígnio para assegurar a gestão dos seus
recursos.
Os momentos não têm sido fáceis e será
assim que se anunciam os próximos tempos. A
Serra da Estrela precisa de muitos amigos para
contrariar tendências muito negativas que têm
vindo a ser promovidas na procura de interesses
que desprezam a Serra da Estrela.
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
ZIMBRO - EDIÇÃO 2015
Jorge Paiva
Botânico e Investigador
ELEIÇÕES PARA OS ÓRGÃOS SOCIAIS
Na caixa do correio, uma vez mais, um
envelope do nosso amigo e associado
Jorge Américo Rodrigues de Paiva,
mais conhecido apenas por Jorge Paiva,
pois é assim que sempre fez questão de
ser tratado, envia-nos os votos de um
Bom Ano, a nós e a muitos milhares
mais. Com a sua peculiar sensibilidade e
preocupação pelas questões do ambiente
e da conservação da natureza remata
sempre o postal com uma mensagem
forte, - “Que a época festiva do final
do ano ilumine a consciência humana
e não se derrubem árvores, produtoras
de biomassa, despoluidoras e fábricas de
oxigénio”.
Na sequência das informações que foram publicadas na edição de Outubro, nomeadamente o prazo
anunciado no calendário eleitoral, comunico a recepção, de uma única lista para ser votada.
Nesse sentido as próximas eleições irão ter a sufrágio a lista única, assim constituída:
Lista candidata às eleições para os órgãos da
Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela
MESA DA ASSEMBLEIA GERAL
Há 25 anos que recebemos esta singular
forma de nos desejar um mundo melhor,
mais amigo do ambiente e de todos os
seres vivos.
No cartão de Boas Festas deste ano, dános uma vez mais uma aula de botânica e
zoologia sobre duas espécies que o ilustra:
o Pinheiro-ancião, Pinus longaeva D.K.
Bailey, com cerca de 5000 anos de idade,
e a Tartaruga das Galápagos, Chelonoidis
nigra Quoy & Gaimard, que raramente
atinge 200 anos de idade, não se
escusando a “comparar” a insignificância
da nossa longevidade com a destes seres
vivos.
Longa vida ao amigo Jorge Paiva são os
nossos sinceros votos.
Presidente: Vice-Presidente: Secretário: 2º Secretário
Rómulo Valdemar Ribeiro Machado
João Manuel dos Santos Matos Martins
Siggi de Matos
Filipe José Lopes Saraiva CONSELHO FISCAL
Presidente:
Vice-Presidente: Vogal: Vogal:
Luís Ferrão Saraiva
Maria Eduarda Fonseca da Costa Vale
António Manuel Albino Carvalhinho
Susana Maria Pinto de Noronha
DIRECÇÃO
Presidente: Vice-Presidente: Secretário: Tesoureiro: Vogal: Vogal:
Vogal: José Maria Serra Saraiva
José Augusto Azevedo Veloso
Paulo Barbosa Silva
João Pedro Maurício de Sousa
Carlos Alberto Morais Rosa
Catarina Lopes da Cunha Martins
Tiago Vasconcelos Duarte Moreira Pais
O Presidente da Mesa da Assembleia Geral,
Rómulo Valdemar Ribeiro Machado
ASSOCIAÇÃO CULTURAL AMIGOS DA SERRA DA ESTRELA
Edição de Dezembro de 2015
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