INTRODUÇÃO SALMOS Autoria A descoberta dos chamados Rolos do Mar Morto, nas cavernas do monte Qunram, é considerada a maior descoberta arqueológica do século XX, e deu origem a uma série de pesquisas e relatórios científicos que colaboram, até hoje, para melhor compreensão dos manuscritos bíblicos, além de atestar a autenticidade de muitas cópias historicamente mais recentes. A primeira coletânea pré-exílica de salmos foi organizada na época de Davi, quando a liturgia do culto a Javé (Yahweh o nome santo e impronunciável de Deus, em hebraico transliterado muitas vezes em Jeová, Iavé ou Adonai – o Eterno – é em geral traduzido por Senhor) começava a tomar forma. Os primeiros salmos a serem agrupados, e que mais tarde dariam origem ao Saltério, foram denominados “Orações de Davi, filho de Jessé” (72.20). Outros foram compostos durante o exílio. Contudo, foi durante o reinado do seu filho Salomão (um dos reis considerados “davídicos”) e o exercício do serviço litúrgico e religioso no primeiro templo, que os salmos, definitivamente, passaram a fazer parte da tradição judaica. Assim, o livro dos salmos é a compilação de várias coletâneas da fina obra literária bíblico-canônica-judaica (poemas, hinos e cânticos espirituais) e representa a etapa final de um processo que demandou séculos de vívida história. Foram os mestres e servos pós-exílicos do templo, entretanto, que completaram e concluíram a coletânea final de 150 salmos (número com o qual concordam a Septuaginta e o Texto Hebraico, ainda que cheguem a essa cifra de modo diferente), ao final do séc. III a.C. As expressões “Salmos” e “Saltério” provêm da Septuaginta (a primeira e mais notável tradução grega do AT, elaborada por um grupo de eruditos de Alexandria, por volta do ano 285 a.C.) e, a princípio, referiam-se aos instrumentos de cordas usados nas liturgias da época (harpa, lira, alaúde etc...). Mais tarde, passaram a designar não apenas os instrumentos mas, igualmente, os cânticos que acompanhavam os cultos. Os títulos hebraicos originais tehilim (louvores) e tephillot (orações) deram origem ao termo que usamos hoje: Salmos. É costume, nas sinagogas em todo o mundo, recitar uma oração anterior e em preparação reverente à leitura devocional dos salmos, cujo primeiro parágrafo aqui transliteramos: lehi ratson milefanêcha Adonai Elohênu velohê avotênu, habocher bedavid avdo uvezar’o acharav, vehabocher beshirot vetishbachot, shetefen berachamim el keriat mizmorê tehilim sheecrá keilu amaram David hamélech alav hasshalom beatsmo, zechuto toguen alênu. “Ó Eterno, nosso Deus e Deus de nossos pais, que com amor acolheste Teu servo David e seus descendentes, e que Te deleitas com cânticos e louvores, possam ser de Teu agrado os Salmos que vou pronunciar. Considera-os como se pelo próprio rei David – de abençoada memória – tivessem sido recitados.” De acordo com os títulos (parte integrante do texto bíblico que, na Bíblia King James e, posteriormente, em outras traduções, aparece como subtítulo ou junto ao primeiro versículo), Davi foi autor ou fonte de inspiração de 73 salmos. O próprio Senhor Jesus Cristo afirmou categoricamente a validade do título do Salmo 110 e a autoria de Davi (Mc 12.36). Devido à fraseologia hebraica empregada nos manuscritos, que significa, de modo geral, “pertencente a”, surge uma dificuldade na precisão das autorias, pois essa expressão pode ser igualmente interpretada no sentido de “concernente a”, “para uso de”, ou ainda “dedicado a”. Portanto, o nome pode referir-se ao título de uma coleção de salmos que havia sido reunida em torno de determinada personagem (como “de Asafe” ou “dos coraítas”, por exemplo). Contudo, especialmente depois dos estudos sobre os Rolos do Mar Morto, não há dúvida entre os mais renomados biblistas, de que houve um Saltério composto por esse notável compositor, músico e cantor; coletânea que pode ter incluído hinos e escritos a respeito de alguns dos reis “davídicos” posteriores, ou ainda salmos escritos “à moda de Davi”. O nome “Davi” também é usado no Saltério, em sua forma original, como substantivo coletivo, a fim de representar os reis de sua dinastia. Nos livros hebraicos de orações, a memória de Davi é tradicionalmente reverenciada como “o doce cantor de Israel”, cujos Salmos manifestam sua exaltação, esperanças, tristeza e alegria, temor e angústias, perseverança e amor a Am Israel, o Povo de Israel, sempre invocando a ajuda do Eterno (Adonai) e, mesmo nos momentos mais difíceis, manifestando sua confiança absoluta no socorro dEle!” Sendo assim, Asafe foi autor de 12 salmos, os filhos de Corá compuseram 11, Salomão foi autor de dois, e Moisés e Etã foram autores de um salmo cada. Cerca de 50 salmos não têm autor definido, embora a Septuaginta apresente Ageu e Zacarias como autores de cinco salmos. Os mais recentes relatórios baseados nos Papiros ou Rolos do Mar Morto e, portanto, em averiguações e estudos apurados em relação aos mais antigos manuscritos do AT, atestam que a maioria dos salmos foi escrita por volta do ano 1000 a.C. e que não há um único salmo canônico que tenha sua composição datada depois do ano 300 a.C. Propósitos Qualquer tentativa de estudo, sistematização ou esboço do Livro dos Salmos deve ser geral e considerar dois aspectos fundamentais da sua constituição: o Saltério é oração, devoção e poesia, do começo ao fim. E a teologia que perpassa os Salmos deve ser analisada em sua essência confessional e doxológica; jamais de forma abstrata ou, de outro extremo, como um mero catecismo de doutrinas. Alguns pregadores, na tentativa de sistematizar a teologia inerente ao Saltério, transformaram obras de arte canônica, teológica e de louvor a Deus, em pílulas pragmáticas de doutrina e, não raro, propagaram muitas heresias. Portanto, cada salmo deve ser analisado e compreendido à luz da coletânea e, evidentemente, do todo das Escrituras, pois que uma verdade bíblica isolada deve corresponder e harmonizar-se à Verdade geral das Escrituras Sagradas. Portanto, a essência teológica dos Salmos, o centro gravitacional da História e de toda a criação, seja a filosofia, a ética, a moral e a fé, ou ainda os mistérios da terra e dos céus, resume-se em Deus (Yahweh – Javé ou Iavé – o Senhor). É muito sintomático que o mais respeitado e imponente rei dos judeus tenha-se curvado, humildemente, diante do Rei dos reis, o Senhor dos senhores, clamando por sua misericórdia e reconhecendo a soberania, a justiça e o amor leal de Deus. O Saltério é dividido em cinco livros, cada um dos quais encerrado com uma doxologia. Portanto, no estudo dos salmos, mais significativo que algum diagrama geral é a classificação deles, de acordo com os assuntos tratados. Cerca de metade dos salmos é de Davi ou de algum dos seus descendentes (davídicos) e, conforme seus títulos, vêm quase todos do período áureo de Israel, isto é, de aproximadamente 1.000 a.C. E, sem dúvida, alguns deles foram compostos mais tarde, até mesmo no tempo do cativeiro, como o salmo 137, por exemplo. A grande virtude dos cânticos espirituais, hinos e, portanto, dos salmos, é atingir – simultaneamente – espírito, razão e coração, provando que conhecimento intelectual não é o bastante: o âmago do espírito humano deve também ser tocado pelo poder da Graça remidora de Deus. É importante frisar, especialmente para os leitores ocidentais, de língua portuguesa, que a poesia milenar hebraica não consiste em rima, nem obedece a um sistema métrico semelhante ao nosso, mas consiste principalmente em repetição de pensamento (idéias) numa cláusula paralela. Como neste exemplo: “Não nos trata segundo os nossos pecados nem nos retribui de acordo com as nossas culpas” (Sl 103.10). A simples observação a essa regra do paralelismo hebraico pode nos ajudar a interpretar palavras obscuras e, algumas vezes, certos enigmas bíblicos, ao lermos com atenção o paralelo mais claro. Ou seja, uma frase ajuda na compreensão da outra e do sentido geral da mensagem, pela associação ou esclarecimento da idéia central que está sendo comunicada. Outro recurso lingüístico observado com freqüência nos poemas hebraicos é a dramatização, assim como as figuras de linguagem (símiles e metáforas, em profusão). Davi escrevia como quem sentia o coração dos seus leitores e ouvintes. Quando interpretamos os salmos messiânicos, é importante ficarmos alertas para o fato de que, nesse caso, Davi também escreveu na primeira pessoa, ainda que exiba, com vívidos detalhes, as experiências do Mestre e Messias (Sl 22). Cerca de metade dos salmos pode ser classificada como “orações de fé em tempos de crise”. Quantas pessoas atravessaram guerras, longos períodos de graves enfermidades, calamidades, depressões profundas, falências, desilusões, traições, amarguras terríveis, dor e medo, orando, com fé e persistência lendo os salmos bíblicos. Alguns desses salmos passaram para a História como ícones universais de devoção, piedade e confiança em Deus. É comum ver a Bíblia aberta em um desses salmos, como um símbolo de reverência e convite à leitura (Sl 23; 91 e 121). Aproximadamente outros 40 salmos foram consagrados especialmente ao tema da adoração e louvor (Sl 100 e 103, por exemplo), os quais deveriam ter uma participação em nossas leituras e meditações diárias. Considerando que uma classificação detalhada dos salmos é uma tarefa extremamente difícil e, de certa forma, sempre imprecisa, o Comitê de Tradução da Bíblia King James deixa aqui apenas uma sugestão didática de reunião dos salmos, para estudo: Salmos do Homem Sábio (Sl 1; 15; 101; 112 e 113); Salmos Reais (Sl 2; 21; 45; 72; 110 e 132); Orações Pessoais (Sl 3,7,8); Louvor Salvífico (Sl 30,34); Louvores Comunitários (Sl 12; 44; 79); Louvor Pela Salvação da Comunidade (Sl 66; 75); Expressão de Fé (Sl 11; 15; 52); Hinos à Majestade de Deus (Sl 8; 19; 29; 65); Hinos à Soberania de Deus (Sl 47; 93 – 99); Cânticos de Sião (Sl 46; 48; 76; 84; 122; 126; 129 e 137); Cânticos de Peregrinação (Sl 120 – 134); Cânticos Litúrgicos (Sl 15; 24; 68); Cânticos Didáticos (Sl 1; 34; 37; 73; 112; 119; 128; 133); Salmos Penitenciais (tradicionalmente assim chamados, e que incluem partes dos salmos 38; 130 e 143, além dos conhecidos Sl 51 e 32); Salmos Vindicativos (Sl 69; 101; 137 e certas porções dos salmos 35; 55 e 58); Salmos Históricos (Sl 78; 81; 105 e 106); Salmos de Revelação (19; 119); Salmos Messiânicos (Sl 2; 8; 16; 22; 40; 41; 45; 68; 69; 89; 102; 109; 110; 118); Salmos Messiânicos Proféticos (2; 45; 110). É importante notar as revelações feitas, por meio dos salmos, em relação ao Messias (Cristo, em grego). No Sl 45.6, o Cristo aparece como Deus; no salmo 110, Ele é o Rei-Sacerdote e Senhor de Davi; no salmo 2, Ele é o Filho de Deus, digno de todo louvor e adoração. Outros salmos anunciam: os sofrimentos do Messias (Sl 22), seu sacrifício vicário (Sl 40), e sua ressurreição miraculosa (Sl 16.10, 11). O salmo 89 nos apresenta o Cristo como Aquele que completará o pacto davídico (Aliança), em cumprimento às esperanças garantidas pelo Senhor a Israel e a todo o povo de Deus. Data da primeira publicação Ao questionarmos a data da publicação dos salmos, uma primeira pergunta se faz necessária: de qual salmo especificamente estamos falando? Porquanto o Saltério é composto de salmos que vão desde a época pré-exílica, passando por todo o tempo de cativeiro, até o pós-exílio. Como já vimos, o processo de descobrimento, seleção e formação da coletânea canônica dos salmos levou vários séculos, e foi concluído somente no final do século III a.C. Os salmos eram reverenciados e usados como “Livro de Orações” – o que significava, também, ensino, louvor e adoração – nos cultos realizados no templo de Zorobabel e Herodes, portanto, na reconstrução do templo de Salomão, ou no chamado “segundo templo”, bem como para uso litúrgico em todas as sinagogas (Lc 20.42; At 1.20). No primeiro século da era cristã, já era conhecido como o “Livro dos Salmos”, o que significa também todo o cânon do Antigo Testamento Hebraico ou “Escritos” (Lc 4.24-44). Como já vimos, muitas coletâneas antecederam a formação final dos Salmos, e as primeiras coleções surgiram pelas mãos de Davi, na época dos primeiros cultos no templo construído por determinação de seu filho com Bate-Seba, o terceiro rei de Israel, Salomão (971 – 931 a.C.). Considerando que metade de todo o Saltério é de autoria de Davi (ou davídicos), e que quase todos foram originados no período áureo de Israel e alguns até mais tarde, podemos datar as primeiras publicações dos Salmos por volta do ano 1000 a.C. Esboço Geral dos Salmos LIVRO I Como vencer os momentos de crise, angústia e depressão (Sl 1 – 41) Louvando e adorando ao Senhor Deus Yahweh (8; 24; 29; 33) Exaltando a majestade e o amor leal do Senhor (2; 21) Reverenciando a justiça misericordiosa e severa de Deus (1; 15) Confessando e abandonando o pecado (32) Crendo, absolutamente, na revelação do Senhor (19) LIVRO II Como orar com fé, em meio às adversidades da vida (Sl 42 – 72) Louvando e adorando ao Senhor – Adonai (47; 48; 50; 65 – 68) Exaltando a majestade e o amor leal do Senhor (45; 72) Confessando e abandonando o pecado (51) Entregando nossos adversários à justiça divina (58 e 59) LIVRO III Como manter a fé em Deus diante das aflições nacionais (Sl 73 – 89) Louvando e adorando a Deus Todo-Poderoso (75; 76) Observando o mover de Deus na História (78; 81) Analisando o amor leal de Deus por Sião e pelo Templo (84; 87) Suplicando a repreensão de Deus contra os ímpios (82) LIVRO IV Como descobrir a força que Deus dá para vencer as crises (90 – 106) Cultivando uma fé inabalável diante dos obstáculos (90; 91; 94) Observando o mover de Deus na História (105; 106) Reconhecendo a justiça amorosa e certeira do Senhor (101) LIVRO V Como manter plena confiança em Deus diante das provações (107 – 150) Crendo e exaltando a majestade soberana do Senhor (110; 132) Esperando pelo socorro do Altíssimo nas aflições nacionais (129; 137) Agarrando-se com toda a fé ao amor e à justiça de Deus (112; 116) Agarrando-se com todo amor e confiança à Palavra de Deus (119) Analisando o amor leal de Deus por Jerusalém (112) Encontrando consolo, paz e forças no Espírito de Deus (120 – 134) Dando sempre graças a Deus – Halel (113 – 118; 136 e 146 – 150). SALMOS PRIMEIRO LIVRO Salmos de 1 a 41 Os dois únicos caminhos Abençoado com felicidade1 é o homem que não segue o conselho dos ímpios,2 não se deixa influenciar pela conduta dos pecadores, nem se assenta na reunião dos zombadores. 2 Ao contrário: sua plena satisfação está na lei do SENHOR,3 e na sua lei medita, dia e noite! 3 Ele é como a árvore plantada à margem de águas correntes: dá fruto no tempo apropriado e suas folhas não murcham; tudo quanto realiza prospera! 4 Não é o que ocorre com os ímpios! Ao contrário: são como a palha que o vento carrega. 5 Por isso os ímpios não sobreviverão ao 1 Julgamento, nem os pecadores na congregação dos justos.4 6 Pois conhecer o SENHOR é o caminho dos justos; o caminho dos ímpios, porém, conduz à destruição.5 O triunfo do reino do Messias Por que os gentios se amotinam1 e os povos intrigam em vão? 2 Os reis da terra preparam seus ardis e, unidos, os governantes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Cristo,2 proclamando: 3 “Façamos em pedaços os seus laços, sacudamos para longe de nós seus vínculos!”3 4 Do seu trono celeste, o SENHOR põe-se a rir e a ridicularizá-los. 5 E no seu devido tempo os repreenderá com ira, e em seu furor os confundirá de pavor,4 declarando: 2 1 Abençoado com felicidade: ou, como no original hebraico “Quão verdadeiramente feliz”. A chave da felicidade é a obediência à Palavra de Deus (A Tôrâ, Lei em hebraico, no AT). Os Salmos 1 e 2 são o prefácio do Saltério (conjunto de poemas e hinos hebraicos de adoração a Deus). Como guardiães da Sabedoria apontam para os únicos dois caminhos possíveis ao ser humano: a “roda dos zombadores” ou a “congregação dos justos” (v.5). 2 Ímpios: pessoas sem piedade, cruéis, desumanas, sem o devido respeito a Deus e à sua Palavra, incrédulas, auto-suficientes, arrogantes, que não enxergam seus erros e não se arrependem. O termo hebraico chataim significa a perversidade franca, impiedosa e permanente. 3 Senhor: em hebraico YHWH (o nome sagrado e impronunciável de Deus, mais tarde transliterado para Yahweh ou Javé), é o mais significativo nome de Deus no AT. Tem um sentido duplo: o Ser auto-existente, pois a palavra no original é relacionada ao verbo “ser” (Êx 3.14), e o Redentor de Israel (Êx 6.6). Esse nome ocorre 6.823 vezes no AT, especialmente associado à santidade de Deus (Lv 11.44-45), a seu ódio contra o pecado (Gn 6.3-7) e a sua misericordiosa provisão de redenção (Is 53.1-10). A tradição judaica e cristã considera este Salmo como messiânico, da mesma forma que o Sl 110. Suas perspectivas são messiânicas e escatológicas. Na expressão original “conhecer o Senhor” ou, literalmente, “conhecendo o Senhor”, o particípio hebraico yôdêa está no estado construto, que rege o objeto direto. Portanto, “Senhor” é objeto do verbo “conhecer” e não, sujeito. Na frase, está subentendido o sujeito de totalidade. 4 Os pagãos e perversos não suportarão a ira de Deus no dia do Juízo Final (76.7; 130.3; Ed 9.15; Ml 3.2; Mt 25.31-46; Ap 6.17). A expressão original “comunidade” refere-se à “assembléia” dos crentes em Deus (justos); os adoradores que se reúnem no santuário para o culto e serviço espiritual dedicado ao Senhor (15.1,2; 22.25; 26.12; 35.18; 40.9,10; 111.1; 149.1). 5 O resultado final de uma vida dedicada à impiedade, sob a influência do maligno, é a punição eterna (Ap 20.11-15). Capítulo 2 1 Amotinam: revoltam-se ou se enfurecem como na LXX (Septuaginta, tradução para o grego pré-cristão de todo o AT, realizada por um grupo de 70 eruditos de Alexandria em 285 a.C.). 2 Cristo: ou Cristos, em grego, transliterado da forma aramaica Mashíah, que deu origem às palavras Messias e Cristo, ambas significando o Ungido de Deus – Jesus. 3 A humanidade insana fugindo dos “laços” e “vínculos” do amor de Deus. Uma profecia do Calvário, onde os reis e governantes estão representados por Herodes e Pilatos, e os povos, pela população de Israel, todos unidos contra Jesus Cristo, o Ungido do Senhor (At 4.25-28 e 1Co 2.8). 4 O motivo do riso de Deus é a arrogância daqueles que se acham sábios e, não, o sofrimento humano. Deus tem prazer em confundir (apavorar) os falsos sábios (1Co 1.20; Cl 2.15; Ap 11.18; 18.20). 7 6 “Fui Eu que consagrei o meu Rei sobre Sião, meu monte sagrado!”5 7 Proclamarei6 o decreto do SENHOR. Ele me disse: “Tu és meu Filho; Eu hoje te gerei. 8 Pede, e Eu te darei as nações como herança, os confins da terra como tua propriedade. 9 Tu as regerás com cetro de ferro,7 como um vaso de oleiro as espatifarás”. 10 Por isso, ó reis, sede prudentes; aceitai a correção, magistrados da terra! 11 Servi ao SENHOR com temor, e vivei nele com alegria e tremor. 12 Rendei ao Filho8 adoração sincera, para que não se ire e vos sobrevenha repentina destruição, pois a sua ira se acende depressa. Verdadeiramente felizes são todos os que nele depositam sua plena confiança.9 SALMOS 2, 3 O socorro vem do Senhor Um salmo de Davi quando teve de fugir de Absalão, seu filho 3 SENHOR, como se avoluma o número dos meus opressores, numerosos os que se rebelam contra mim!1 2 São muitos os que dizem a meu respeito: “Deus jamais o socorrerá!” (Pausa)2 3 Mas tu, SENHOR, és o escudo que me protege, minha glória e o que me ergue a cabeça. 4 Em alta voz eu clamo ao SENHOR, e do seu monte sagrado ele me responde. (Pausa) 5 Eu me deito e logo adormeço. Desperto de novo, pois é o SENHOR que me sustém. 6 Não temo os milhares de inimigos que me cercam por todos os lados. 7 Ergue-te a meu favor, SENHOR! Salva-me, 5 O primeiro “monte sagrado de Deus” foi o Sinai (Êx 3.1; 18.5), onde Moisés recebeu de Deus a Lei ( Êx 24.12-18; Dt 33.2; cf. 1 Rs 19.8). Quando Davi edificou o Templo sobre a colina de Sião (2 Sm 5.9), ela tornou-se o único monte (residência) de Deus, para onde as pessoas “subiam” a fim de ouvi-lo e adorá-lo. Sião deu seu nome a toda a cidade de Jerusalém, cidade do Rei messiânico, em que se reunirão todos os povos e nações (Sl 48.1; Is 2.1-3; 11.9; 24.23; 56.7; Jl 3.6; Zc 14.16-19, cf. Hb 12.22; Ap 14.1; 21.2). 6 Depois dos rebeldes (v.3) e de Yahweh (v.6), o Messias (Cristo) toma a palavra. O decreto desenvolve a promessa de adoção dada ao herdeiro de Davi em 2Sm 7.14. Estas palavras eram pronunciadas como oráculos pelo rei, no rito de coroação, para marcar o momento em que o novo soberano formalmente assumia sua herança e títulos (Dt 17.18; 1Sm 10.25; 2Rs 11.12). A conexão entre esta proclamação e a ressurreição, em At 13.33 (cf. Rm 1.4), é duplamente significativa. Na ocasião do batismo de Cristo e na sua transfiguração, o Pai O proclamou Filho e Servo, usando palavras extraídas deste versículo e de Isaías 42.1 (Mt 3.17; 17.5; 2Pe 1.17). 7 O livro de Apocalipse cita estas palavras três vezes; uma vez, a respeito do cristão vitorioso (2.27) e duas vezes, a respeito do seu Senhor (12.5; 19.15). A LXX usa o verbo “reger” (literalmente, em hebraico, pastorear) em vez de “quebrar”, utilizado em algumas versões. Isso permite percebermos o largo alcance da promessa. Contemplando, inicialmente, uma disciplina de ferro e, em seguida, a derrota final dos incorrigíveis (cf. Jr 19.10-11). O cetro (ou vara) de ferro tinha as funções de um cajado para o pastoreio e uma arma contra os assaltantes (Lv 27.32; Ez 20.37). Veio, assim, a ser símbolo de governo. 8 Filho: em aramaico, Bar, e em hebraico pode ser entendido também como “puro” ou “pureza, sinceridade”. Os versículos 11 e 12 permitem traduções alternadas. 9 A tradução da Bíblia King James Atualizada contou com a cooperação de um grupo com cerca de 60 eruditos de vários países e denominações cristãs, que tiveram acesso aos mais antigos e melhores manuscritos, especialmente após as últimas publicações dos estudos sobre os Rolos do Mar Morto. Essa é a razão pela qual alguns textos bíblicos, especialmente em língua portuguesa, diferenciam-se da maioria das versões tradicionais, mesmo das novas edições da King James em inglês. Capítulo 3 1 Este salmo (dirigido ao chefe dos cantores para ser musicado) faz parte dos salmos históricos de Davi (3, 7, 18, 30, 34, 51, 52, 54, 56, 57, 59, 60, 63, 142). Davi teve de fugir da revolta de seu próprio filho, Absalão (2Sm 15.13), e estava rodeado de inimigos e sofrimento (2 Sm 15.26; 18.33). 2 Os salmos (em hebraico, meez-mohr ou mizmôr) são poemas acompanhados de música e eram usados no louvor e adoração a Deus. Por isso, os salmos apresentam alguns termos técnicos, como “Pausa” ( Selal ou Selah, palavra derivada da raiz hebraica slh e que corresponde ao verbo aramaico “curvar”), um sinal de reverência ainda maior e uma notação musical para indicar interlúdio, mudança de acompanhamento musical ou uma indicação, para o regente do coro, sobre a entoação de uma frase do respectivo versículo, em voz cantada para servir de antífona (recitação) responsória dos fiéis. Outro termo comum é “Ao mestre de canto”, em salmos que faziam parte de uma coleção de poemas reservados para ocasiões especiais. SALMOS 3–5 Deus meu! Quebra o queixo de todos os meus inimigos, e arrebenta os dentes dos ímpios.3 8 Do SENHOR vem a salvação! E sobre aqueles que são teus, a tua bênção! (Pausa) A segurança do fiel a Deus Ao mestre de música, com instrumentos de corda. Um salmo de Davi. 4 Quando te invoco, responde-me, ó Deus, minha justiça! Na angústia tu me aliviaste:1 tem misericórdia de mim e ouve as minhas súplicas!2 2 Ó filhos dos homens, até quando difamareis minha honra? Até quando estareis amando ilusões e procurando a falsidade? (Pausa) 3 Sabei que o SENHOR faz maravilhas para o seu fiel; o SENHOR me ouve quando eu o invoco. 4 Estremecei de ira,3 mas não pequeis; re- 8 fleti em vosso leito e acalmai-vos. (Pausa) 5 Oferecei sacrifícios4 justos como Deus requer e depositai toda a vossa confiança no SENHOR. 6 Numerosos são os que dizem: “Quem nos fará ver a felicidade?” Faze, ó SENHOR, resplandecer sobre nós a luz da tua face!5 7 Colocaste em meu coração mais alegria do que a daqueles que têm fartura nas épocas de trigo e vinho. 8 Em paz me deito e logo adormeço, porque só tu, ó SENHOR, me fazes viver seguro e sem medo.6 Oração da manhã Ao mestre de música: para flautas. Um salmo de Davi. Dá ouvidos, ó SENHOR, às minhas palavras, considera os meus pensamentos íntimos.1 2 Concede tua atenção ao meu clamor2 5 3 Davi, arrependido e perdoado, buscou com fé o livramento de Yahweh, que o abençoou com sua graça, misericórdia e poder. Deus tinha a reputação histórica de desferir poderosos golpes nos maxilares dos homens arrogantes e rebeldes. Capítulo 4 1 Literalmente: “Tu, que no aperto me abriste espaço”. 2 Salmo de confiança e gratidão para com Deus, do qual unicamente vem a felicidade. Também conhecido como oração da tarde com origem no passado (Gn 48.15-16). 3 Estremecei de ira, como, literalmente, em hebraico, ou “irai-vos”, como em algumas versões. Os sentimentos de insatisfação e cólera jamais devem dar ocasião a qualquer tipo de violência ou agressividade. O conselho aqui é, literalmente: “durma, meditando no caso, antes de agir”. Paulo vai além e nos exorta a acabar com o sentimento de revolta e indignação antes do pôr-do-sol (Ef 4.26). 4 O sangue de um animal inocente e sem mácula (defeito) era o ritual (símbolo) requerido para a expiação dos pecados de um coração quebrantado e sinceramente arrependido. Deus não aceita sacrifícios, ofertas e rituais hipócritas como os oferecidos por Absalão (2 Sm 15.1-14). Sacrifícios justos ou de justiça são aqueles oferecidos de acordo com a Lei (Ml 1.6-14) e, acima de tudo, com verdadeiro amor ao Senhor (Mc 12.33). Em Cristo, toda a necessidade de sangue como holocausto cessou; e a fé genuína no Filho de Deus e o amor cristão passaram a ser os sacrifícios exigidos pelo Senhor para a plena redenção (Sl 51.17; Pv 15.8; Os 6.6; Rm 12.1; Ef 5.2; Hb 10.5; 1 Pe 2.5). 5 Face, ou fisionomia. Expressões freqüentes no Saltério (Salmos), que indicam a bondade de Deus e dos reis quando permitiam que seus súditos os olhassem no rosto. É a face que demonstra os pensamentos e sentimentos e designa a personalidade. Embora o homem não possa ver a face de Deus (Êx 33.20; 34.29-35), é possível ter um vislumbre da sua glória por meio da comunhão com seu Espírito, o que faz dissipar todo temor e aflição. 6 Uma tradução do aramaico e siríaco: “Em felicidade me deito e logo pego no sono, pois vós, ó Senhor, me fazeis permanecer em segurança, na solidão”. A palavra hebraica – lebadad indica que só o Senhor nos pode proporcionar toda a segurança de que precisamos para descansar confiantes e em paz. (Dt 12.10; 33.28). O temor gera preocupação que nos tira o sono, mas o que confia no Senhor pode descansar em paz e sem receio (Pv 1.33). Capítulo 5 1 Este é um salmo em que Davi pede a Deus que responda a sua oração da manhã. Seu lamento íntimo é contra a propaganda fraudulenta dos inimigos que o rodeiam. Descreve o ódio divino ao pecado e pede que o Senhor o guie na justiça. A expressão mais literal, “pensamentos íntimos”, pode também ser traduzida como “meditação”, como aparece na antiga KJ (1611). Outras versões usam a palavra “gemido”. 2 Davi não gritou como se o fizesse aos ouvidos de quem não ouve; mas toda a sua tristeza e o ímpeto de sua angústia interior jorravam num choro abafado e sofrido. O verbo hagah, do qual deriva o substantivo hagig (discurso), significa tanto falar distintamente como sussurrar ou murmurar. Uma antiga versão hebraica traduziu “ao meu clamor por socorro” assim: “aos meus lamentos como o de pombo” (Is 38.14). 9 por socorro, meu Rei e meu Deus, pois é a ti que eu suplico. 3 Pela manhã, ó SENHOR, ouves a minha voz; logo cedo te apresento o meu sacrifício3 e aguardo com esperança.4 4 Porque tu, ó Deus, não tens prazer na injustiça, e contigo não pode habitar o mal. 5 Os arrogantes não são aceitos na tua presença; odeias todos os que agem com maldade. 6 Destróis os mentirosos; os que têm sede de sangue e os fraudulentos são abomináveis ao SENHOR . 7 Quanto a mim, graças à tua grande misericórdia,5 poderei entrar em tua casa; e me prostrarei em direção ao teu sagrado templo, com reverência e adoração. 8 Conduze-me, ó SENHOR, na tua justiça, por causa dos que me espreitam.6 Aplaina à minha frente o teu caminho! 9 Na boca deles não há palavra sincera, suas mentes tramam continuamente o mal. Suas gargantas são como um tú- SALMOS 5, 6 mulo aberto, e com suas línguas seduzem e enganam.7 10 Condena-os8 ó Deus! Caiam eles em suas próprias tramas. Expulsa-os por causa dos seus muitos pecados, porque se rebelaram contra ti. 11 Mas alegrem-se todos os que em ti colocam a sua fé; cantem de felicidade para sempre! Estende sobre eles a tua proteção. Rejubilem-se em ti os que amam o teu Nome! 12 Em verdade, SENHOR, tu abençoas o justo e, como escudo, o cercas9 da tua benevolência. Súplicas durante a provação Para o mestre de música. Com instrumentos de cordas. Em oitava. Um salmo de Davi. 6 SENHOR, não me castigues na tua ira nem me corrijas no teu furor!1 2 Tem piedade de mim, ó SENHOR, pois estou perdendo as forças. Cura-me, SENHOR! Pois estremecem meus ossos. 3 O hebraico não tem substantivo aqui, só o verbo anterior “preparar”, que pode ser usado para apresentar algo em uma festa ou cerimônia (23.5). É um termo sacerdotal para preparar o fogo do altar e dispor os pedaços do holocausto (Lv 1.6-7). Uma alusão ao sacrifício diário, à porta do tabernáculo de Deus, local marcado por Deus para falar com seu ungido (Êx 29.42). Davi ora nesse sentido, expressando sua certeza de perdão (expiação) e fé na resposta do Senhor. 4 Deus marcou um encontro com Davi na tenda da congregação (templo; no NT, nosso corpo) e certamente viria. Não apenas para ouvir, mas também para falar ao coração amargurado e temeroso de Davi. A expressão “aguardando com esperança” nos remete aos profetas que ficavam esperando (vigiando) os primeiros sinais do cumprimento da Palavra do Senhor (Is 21.6,8; Mq 7.7; Hc 2.1). A palavra hebraica , tsapah (esperança), tem o sentido de depositar diante de Deus as aflições e esperar a resposta libertadora do Senhor. 5 Davi reconhece que, se Deus fosse julgar simplesmente seu caráter e não sua causa, seria arruinado. A palavra hebraica hesed, traduzida por “misericórdia” tem o sentido de “amor leal e interminável” (Os 2.19-20). 6 Os que me espreitam , segundo a derivação do original hebraico, traz a idéia de vigilância em relação aos adversários que não perderão uma oportunidade para destruir os que estão no Caminho do Senhor (Lc 11.53-54). Davi não é apenas um adorador, mas um peregrino fiel que, a cada passo, encontra resistência. Sua oração por um “caminho plano” não busca conforto, mas, sim, o progresso legítimo e o livramento dos ardis de seus inimigos. 7 “Os que têm sede de sangue e os fraudulentos” usam todos os recursos da comunicação para efetivar suas maldades. Os métodos são os da Serpente no Éden e de seus filhotes: o Sedutor e o Difamador. A expressão “túmulo aberto” indica o sofrimento a que todos estamos expostos, pelo fato de vivermos em um mundo hostil à realidade espiritual (Rm 3). 8 O termo hebraico asam significa “cortar” ou “destruir”, sendo uma palavra única para expressar o oposto de “justificar” (34.2122) neste grande julgamento em que toda a humanidade está envolvida: desmascaramento dos ímpios, colapso dos maus e expulsão (ou rejeição) dos que se insurgem contra Deus e seu Reino (2 Sm 15.31). 9 As expressões hebraicas katsinah “como um escudo” e ratson “favor ou benevolência” são combinadas para assegurar ao fiel (justo ou justificado) o cerco protetor de Deus. A expressão “o cercas” ocorre uma única outra vez em 1Sm 23.26-29, para descrever a força hostil que rodeava Davi até que o Senhor providenciou o livramento (pedra de escape), evidenciando que é Deus quem, de fato, ampara seus filhos. O escudo da época tinha uma grande saliência que se erguia de seu centro, encimada por uma adaga, o que o fazia uma eficiente arma de defesa e ataque. Capítulo 6 1 Este é o primeiro dos “Salmos Penitenciais de Davi” (6, 32, 38, 51, 102, 130 e 143). É um salmo de alguém profundamente perturbado. As orações e as lágrimas derramadas diante de Deus não foram em vão, pois, ao final do saltério, há louvor pela resposta do Senhor. Este salmo traz palavras para aqueles que não encontram ânimo sequer para orar. SALMOS 6, 7 E a minha alma está extremamente apavorada.2 Até quando, SENHOR! Até quando?3 4 Volta-te, SENHOR, e liberta minha alma;4 salva-me por teu amor misericordioso! 5 Porque entre os mortos5 não há adoração a ti; no túmulo, quem poderá te render louvores? 6 Estou esgotado de tanto gemer, todas as noites eu choro na cama, banhando meu leito com lágrimas. 7 Meus olhos derretem-se de tristeza pela insolência6 dos meus opressores. 8 Afastai-vos de mim, malfeitores todos; porque o SENHOR escutou a voz do meu pranto! 9 O SENHOR ouviu a minha súplica; o SENHOR respondeu a minha oração! 10 Serão humilhados e aterrorizados7 todos os meus inimigos; cobertos de vergonha se retirarão depressa! 3 10 Deus defende o justo Canto de confissão de Davi. Entoado ao SENHOR, acerca de Kush, o benjamita. 7 SENHOR, meu Deus, eu me abrigo em ti! Salva-me de todos os meus perseguidores. Liberta-me!1 2 Que não me agarrem, como leões e, levando-me para longe, me estraçalhem, sem haver quem me livre. 3 SENHOR, meu Deus, se procedi como me culpam, se em minhas mãos há injustiça e iniqüidade, 4 se paguei com o mal ao amigo que me fez o bem, se de tudo despojei meus adversários,2 5 que o inimigo me persiga até alcançar, que me pisoteie vivo sobre a terra e arraste a minha honra3 no pó! (Pausa) 6 Levanta-te, SENHOR, na tua indignação! Ergue-te contra o excesso de fúria dos meus opressores. Desperta-te, meu Deus! Estabelece o teu juízo designado!4 2 As palavras no original hebraico nibhalah meod apontam para as emoções altamente perturbadas do ser em geral (alma e corpo) e são muito semelhantes àquelas pronunciadas por Jesus Cristo em sua agonia (Mt 26.38). 3 Os salmos nos ensinam que todas as demoras de Deus são para amadurecimento do tempo apropriado (37) ou da pessoa (119.67). 4 Liberta minha alma é a forma mais literal de se traduzir a expressão hebraica no original. O termo hebraico nefesh (Gn 2.7) designa a respiração vital dos seres viventes e que se retira por ocasião da morte. A expressão “minha alma” equivale freqüentemente ao pronome reflexivo “eu próprio, mim mesmo, minha face, minha vida, minha glória”. Esses diferentes sentidos de “alma” permanecerão vivos no NT como “psiqué”, do grego, psiché (Mt 2.20; 10.28; 16.25-26; 2Co 4.16; 15.44). 5 Entre os mortos, lugar dos mortos, além, sepulcro ou túmulo, são algumas das traduções do termo hebraico Sheol, que indica o estado dos seres sem vida e a tragédia da morte como aquilo que silencia a adoração do ser humano, na terra, a seu Criador (Is 38.1819). Os gritos do salmista proclamam que o tempo de vida é curto demais, tudo passa muito depressa, e a morte é inexorável e certa (Jo 9.4; Hb 9.27). Davi sabe que o Senhor tem acesso ao Sheol, e que haverá ressurreição (139.8; Pv 15.11; Is 26.19; Dn 12.1-3), mas pede a Deus que o poupe para que ele recorde (louve e adore), ainda nesta vida, os grandes feitos do Senhor (Is 63.7). 6 A KJ traduz: “envelhecem por causa dos meus inimigos”, mas a palavra hebraica ‘ategah significa “insolência”; e ‘atgah “envelheceu” é conjetura. Os opressores não são apenas os inimigos e adversários, mas também os remorsos e tormentos mentais (31; 35; 38; 69 e os amigos de Jó). 7 A mesma expressão usada no original já comentada (nibhalah meod) para descrever a extrema perturbação no ser de Davi (vv. 2,3) agora é aplicada aos inimigos do Senhor em sua derrocada e expulsão. Capítulo 7 1 A justiça será a salvação, pois as duas coincidem quando Deus julga a causa do oprimido. Deus é o juiz de toda a terra e a maldade derrota a si mesma. Este é o primeiro dos salmos imprecatórios, que pedem juízo ou maldição contra os inimigos de Deus. O termo hebraico Shiggaion, traduzido neste salmo por “canto”, significa uma canção arrebatadora, que ajudava a expressar a confissão dos pecados de Davi, seu arrependimento e sua fidelidade ao Senhor. Quanto ao nome Kush (Cuxe, Cuch ou ainda Cush), o benjamita, que aparece no título, não é mencionado em nenhum outro texto bíblico. Sabemos que em Benjamim, a tribo de Saul, havia alguns inimigos mortais de Davi (2Sm 16.5-14). 2 Pior que a perseguição é a calúnia (Jó 31). Davi revela algo do seu código de honra (conduta, caráter) com Deus e que fazia parte da tradição judaica dos fiéis (Êx 23.4-5; Lv 19.17-18; 1Sm 24.10-11; Pv 25.21). 3 A palavra hebraica kebod significa literalmente “minha glória”, mas também se refere aos órgãos onde os antigos semitas acreditavam localizar-se os sentimentos e emoções (fígado, ventre, rins, entranhas). Um termo que, como no caso, também pode designar a alma, quando usado em paralelo com os elementos vitais do ser humano. Davi estava disposto a ter seu nome (reputação) enxovalhado, mesmo após a morte (pó ou túmulo), caso seus inimigos provassem sua culpa diante de Deus. 4 Em paralelo aos apelos de Davi por vindicação pessoal, há uma revelação maior sobre a justiça universal de Deus. A justiça e o juízo não são uma preocupação, mas sim uma convicção (At 17.31). A expressão hebraica urah, “desperta-te”, tem o sentido mais amplo de construir ou estabelecer o direito. 11 Reúna-se ao teu redor a assembléia dos povos. Das alturas reina sobre todas as nações da terra.5 8 O SENHOR é quem julga os povos. Julgame, SENHOR, conforme a minha justiça, segundo a inocência que há em mim! 9 Deus justo, que sondas as mentes e entranhas,6 dá fim à maldade dos ímpios, e ao justo dá segurança e paz. 10 Deus é o escudo que me cobre, o salvador dos corações retos. 11 Deus é o justo juiz! Deus que demonstra, a cada dia, seu extremo zelo. 12 Caso o homem não se converta, Deus afiará sua espada; pois já armou seu arco e o aponta, 13 preparou para si armas de morte e produziu suas flechas flamejantes. 14 Todo aquele que gera maldade concebe o sofrimento e dá à luz a desilusão.7 15 Quem cava um buraco como armadilha cai em fossa profunda, que ele mesmo fez.8 7 SALMOS 7, 8 Assim, sua maldade se voltará contra ele e sobre a própria cabeça cairá sua violência. 17 Eu, porém, darei graças ao SENHOR por sua justiça, salmodiarei e cantarei louvores ao Nome do SENHOR, o Altíssimo!9 16 A glória do Criador Para o mestre de música. Conforme a melodia Os lagares.1 Hino de louvor de Davi 8 SENHOR, nosso soberano Deus,2 como é majestoso o teu Nome por toda a terra! Tu cuja glória é cantada acima dos céus!3 2 Pela boca4 das crianças e dos recémnascidos instruíste os sábios e poderosos, silenciando os inimigos e maldosos, porque são adversários teus. 3 Quando admiro os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali estabeleceste,5 5 Calvino, em seu comentário, lembra que Davi sugere que Deus se manteve quieto e, por algum tempo guardou silêncio, para, no momento certo, erguer-se tão alto que não só uma ou duas, mas todas as nações da terra pudessem contemplar sua glória. 6 Deus tem o poder de sondar e pôr à prova os pensamentos mais racionais e os sentimentos mais apaixonados e complexos da nossa alma. Literalmente: “pões à prova o coração e os rins”. 7 Deus é o sujeito das ações narradas no v.13, ao passo que o v.14 descreve as atitudes do ímpio, cuja fertilidade para o mal é comparada ao processo da gestação e parto. O raciocínio é o mesmo usado por Jesus Cristo a respeito da árvore má e do tesouro mau (Lc 6.43-45). Metáfora semelhante é usada por Paulo ao explicar sobre o ciclo da tentação: cobiça–pecado–morte (Tg 1.15). 8 O mal sempre se voltará contra quem o pratica, mesmo que leve tempo. O efeito que uma atitude maldosa tem sobre a pessoa que a acalenta e destina é mais desastroso para ela própria do que qualquer sofrimento que possa causar a outras pessoas (1Jo 2.11). Calvino e Lutero concordaram em que “aprofundar a cova” significava, no original, construir um tipo de armadilha para caçar leões e outros animais selvagens, muito comum no oriente, e que consistia na escavação de um grande buraco que era superficialmente coberto com ramos e pequenos galhos de árvore. 9 O verbo hebraico zamar (em grego: psallein) traz o sentido de salmodiar, tocando instrumentos musicais e cantando os feitos de Deus. O título “Altíssimo” (em hebraico: Élyôn ) aparece raras vezes fora dos Salmos. Surge, pela primeira vez, na história de Melquisedeque e Abrão (Gn 14.18). As religiões cananitas davam um título semelhante ao deus Baal, mas tanto Abrão como Davi explícita e claramente, reivindicaram esse título, para o Senhor. Capítulo 8 1 Este salmo é um dos mais belos exemplos de como um hino de louvor a Deus deve ser composto: celebra a glória e a graça de Deus, enquanto descreve a natureza e os feitos do Senhor, bem como o mundo em relacionamento com Ele. Davi expressa sua admiração diante da majestade do Senhor, que usa os fracos para destronar os poderosos. A palavra lagares (em hebraico, gittith) é derivada de Gate e indica uma melodia associada a essa cidade. 2 A primeira palavra é o nome incomunicável de Deus; a palavra seguinte, em hebraico, Adonenu, nosso Soberano ou Senhor, é derivada da raiz dan, que significa governar, julgar, suportar. 3 O uso do verbo hebraico tenah (colocar ou pôr) faz que possamos ler literalmente: “Puseste a tua glória acima dos céus” (Is 6.3). 4 Contra os poderosos, pretensos sábios, vingadores, adversários e inimigos, Deus apresenta o simples louvor que brota “da boca” (em hebraico mephi) dos mais fracos deste mundo. Entretanto, conforme a Entrada Triunfal haveria de demonstrar (Mt 21.15-16), a livre confissão de amor e fé é uma resposta devastadora ao acusador. 5 Entre todas as criaturas da terra, somente o ser humano é capaz de olhar com admiração (refletir ao contemplar algo). Deus ensina que, ao olhar os céus, não devemos pensar num Criador ordeiro, mas distante e, sim, no Deus que cuida de cada detalhe e visita os seus como o mais amoroso dos pais (Is 40.26-31). O universo criado por Deus não é destituído de significado, frio e vazio, mas um lar aconchegante para sua grande família (Is 45.18; 51.16). SALMOS 8, 9 pergunto: Que é o homem6 para que com ele te importes? E o filho de Adão para que venhas visitá-lo? 5 Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos7 e o coroaste de glória e de honra. 6 Tu o fizeste dominar sobre as obras das tuas mãos; tudo sujeitaste debaixo dos seus pés: 7 todos os rebanhos e manadas e os animais selvagens também, 8 as aves do céu, os peixes do oceano e tudo o que percorre as correntes marítimas. 9 SENHOR, nosso soberano Deus, como é majestoso o teu nome por toda a terra! 4 Graças a Deus: Justo Juiz! Do mestre de música. Para oboé e harpa. Um salmo de Davi.1 Alef SENHOR, quero render-te graças de todo o meu coração, e proclamar todas as tuas maravilhas. 2 Em ti quero alegrar-me e exultar; tocar e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo. 3 Meus inimigos, retrocedendo, tropeçaram em tua presença e pereceram. Bet 9 12 4 Pois defendeste o meu direito e a minha demanda: sentaste em teu trono como justo juiz.2 Guimel 5 Corrigiste as nações, destruíste os ímpios; por toda a eternidade apagaste o nome deles.3 6 O adversário foi totalmente derrotado para sempre; arrasaste as suas cidades e já não há quem delas se lembre. 7 O SENHOR reina para sempre; para o julgamento firmou o seu trono. He 8 Ele julga o mundo com justiça, governa os povos com retidão. Vav 9 O SENHOR é abrigo seguro para os oprimidos, uma fortaleza nos tempos de angústia. 10 Em ti confiam todos os que conhecem o teu nome, porque tu, SENHOR, jamais abandonas aqueles que Te buscam. Zayin 11 Tocai, cantai e louvai ao SENHOR, que reina em Sião; proclamem entre as nações as suas façanhas: 12 Ele busca os assassinos4, lembra-se do sangue derramado e os vinga, não se es- 6 Segundo a tradição judaica, a palavra enosh (homem) expressa a fragilidade humana em razão de seu doloroso estado resultante do pecado. A segunda expressão, traduzida como “homem”, é ben Adam, literalmente, “o filho de Adão”. Como o designativo Adão significa “homem”, formado de Adamah (pó e terra), “o filho do homem” é uma referência à descendência humana, terrena, caída e apóstata. Uma forma de conscientizar o homem sobre sua origem e fim (Gn 2.7; 3.19). Entretanto, a forma ben Adam é superior à simples enosh e, usada pelos monarcas, indica o homem em sua melhor condição humana (quando demonstra características divinas como bondade, lealdade, amor e justiça). Nesse caso, a frase “o filho de Adão” poderia ser, literalmente, “o melhor dos homens” ou “o maior príncipe do mundo”, segundo defende Calvino. 7 Em hebraico Elohim (Deus ou divindade), nome algumas vezes aplicado aos seres celestiais. Os melhores e mais antigos textos judaicos, bem como a Septuaginta e as sucessivas revisões da KJ, traduzem Elohim, nesta frase, como “anjos”. Capítulo 9 1 Davi louva ao Senhor, o justo Juiz, por destruir os ímpios. O termo “exultar”, em hebraico, E-eltsah, significa literalmente “saltar de alegria”. Em algumas versões aparece Muth-Labben (nome de uma melodia de significado desconhecido). A partir deste salmo, serão observadas algumas diferenças entre as versões da Bíblia quanto à numeração dos salmos, sendo que a Septuaginta e a Vulgata (seguidas mais de perto pela Igreja Católica Romana) contam os Salmos 9 e 10 como um poema único, enquanto as igrejas evangélicas herdaram a forma de contagem hebraica. Entretanto, neste caso, a ausência de título para o Sl 10 e a presença de um acróstico fragmentário que se inicia no Sl 9 e termina no Sl 10 justificam o entendimento de ser uma peça poética que se complementa, pois falam da dupla realidade de um mundo caído: o triunfo certo e futuro de Deus e o sucesso atual e passageiro dos ímpios. O Sl 9 tem a maioria das primeiras 11 letras do alfabeto hebraico (com 22 letras ao todo), como iniciais de versículos alternados; o Sl 10, no entanto, depois de começar com a 12ª letra, abandona o esquema alfabético até os versículos 12-18, onde aparecem as quatro últimas letras. Isso ocorre devido ao mau estado do Textus Receptus e de outros originais. 2 O AT considera o julgamento divino como já realizado, sendo que o “Dia do Senhor” o trará à luz. Esse tema escatológico é freqüente nos salmos. 3 Embora a maioria das versões traduza alguns verbos hebraicos no tempo passado como presente, na realidade esses verbos são “perfeitos proféticos”, formando uma característica vital para o correto entendimento do AT, pois descrevem acontecimentos futuros como se já tivessem acontecido, tão certo é o cumprimento deles e tão clara a visão. 4 Literalmente, no original: “Ele busca o sangue derramado e exige contas”. 13 quece jamais do clamor do necessitado. Het 13 Misericórdia, SENHOR! Vê minha aflição! O sofrimento causado pelos que me odeiam. Salva-me das portas da morte, 14 para que, junto às portas da cidade5 de Sião, possa eu cantar louvores a ti e ali exulte em teu livramento. 15 Os povos caíram na cova que com astúcia abriram; no laço que ocultaram, seus pés se prenderam. Tet 16 O SENHOR é conhecido pela justiça que exerce; os ímpios caem em suas próprias tramas. Interlúdio6 (Pausa) Yud 17 Voltem os ímpios para o inferno,7 todos os povos que se esquecem de Deus! Kaf 18 Mas os necessitados jamais serão esquecidos, nem será frustrada a esperança dos pobres e humildes. 19 Ergue-te, SENHOR! Não permitas que um simples mortal vença! Julgados sejam todos os povos na tua presença. 20 Coloca em seus corações o terror,8 ó SENHOR! Para que saibam as nações da SALMOS 9, 10 terra, que não são mais do que seres humanos. (Pausa) Deus ouve a oração do aflito e vence o mal Por que, SENHOR, permaneces afastado e te ocultas no tempo da aflição? Lamed 2 Com arrogância os ímpios perseguem o indefeso; que fiquem emaranhados em suas próprias tramas! 3 O infiel se gaba de sua própria ambição, o avarento menospreza1e insulta a Deus. 4 O ímpio é soberbo, não quer saber desse assunto. “Deus não existe!” é tudo o que de fato pensa. 5 Seus negócios têm contínuo sucesso;2 muito além da sua compreensão está a tua Lei, por isso ele faz pouco caso dos seus adversários, 6 pensando consigo mesmo: “Eu sou inabalável! Desgraça alguma me atingirá, nem a mim nem aos meus descendentes”. Pê 7 Sua boca está sempre cheia de fraudes, maldições e ameaças; violência e todo tipo de maldade estão em sua língua. 8 Põe-se de emboscada próximo aos vi- 10 5 Cidade ou filha, em hebraico. Davi descobre que o melhor antídoto contra o sofrimento está no louvor ao Senhor. Assim, as portas da morte não poderão impedi-lo de atravessar as portas de Sião. 6 Interlúdio ou Higaiom, no original hebraico. Momento solene, apropriado para a meditação, recitação de textos bíblicos em voz baixa, com ou sem acompanhamento de instrumentos suaves (arpejo). 7 Os perversos (ímpios e infiéis) voltarão para o inferno. Eles não apenas “partirão” ou “serão lançados”, como traduzido em algumas versões, mas retornarão ao seu estado natural de morte e de atos de morte (maldade). A palavra hebraica Sheol ou Sheolah, traduzida aqui como “inferno”, também pode ser entendida como “sepultura”, “volta ao pó” e “profundezas da morte”. 8 É notório como Deus tem permitido o terror entre as nações como mais uma chance para que o homem observe o produto de seu egoísmo e ambição. É necessário que o homem se humilhe e reconheça sua pequenez e a necessidade da direção divina. Mas a humanidade, em sua arrogância, tem se rebelado ainda mais contra Deus e, por isso, passará por mais aflições e sofrimentos, entristecendo sobremaneira o coração do Criador. Capítulo 10 1 No original hebraico, esta palavra tem o sentido mais apropriado de “ignorar “ e “desprezar”. Não crer na participação pessoal de Deus em nossas vidas, relacionamentos e negócios é uma forma de blasfêmia, termo empregado semelhantemente em 1Rs 21.10; Jó 1.5. Em algumas versões essa expressão foi traduzida por “maldiz ou amaldiçoa” interpretando o eufemismo usado para o termo literal: “abençoar” em seu sentido amplo: “despedir-se de”. 2 Deus, nesse intervalo de tempo, coloca-se distante, permitindo que o tirano ganancioso prospere muito bem às custas dos pobres. A palavra hebraica significa “sucesso”. É uma missão dos Salmos tocar no âmago desse problema, conservando viva a sua dor, em contraste com nossa passividade, familiaridade e, às vezes, triste cumplicidade com um mundo corrupto. É importante lembrar que Deus é favorável ao progresso, sucesso e a todo o bem-estar humano. Mas esses desejos só serão legítimos e honestos quando realizados na companhia de Deus, evitando assim a exploração do homem pelo homem. Mas o soberbo e avarento estão presos às coisas da terra (pó e terra têm muita afinidade) e ocupados demais no chão para dar atenção à grandiosidade do que paira sobre eles. SALMOS 10, 11 larejos3 e às escondidas massacra o inocente. Ayin 9 Fica à espreita como leão escondido; coloca-se de tocaia para apanhar o necessitado; agarra o pobre e o arrasta em sua rede. 10 Ele espreita, se agacha, se encurva, e o infeliz cai em seu poder.4 11 Imagina consigo mesmo: “Deus se esqueceu; escondeu seu rosto e nunca dará atenção a isto”. Qof 12 Levanta-te, SENHOR! Ergue a tua mão, ó Deus! Não te esqueças dos desamparados. Resh 13 Por que o ímpio despreza a Deus, dizendo em seu íntimo: “Tu não me pedirás contas”? 14 Mas tu vês o sofrimento e a dor; e tomas esses sentimentos em tuas mãos. O sofredor se entrega a ti, pois tu és o protetor do órfão. Shin 15 Quebras o braço do ímpio e do maldoso, pedes contas de sua crueldade, até que dela nada mais seja visto. 16 O SENHOR reina todos os dias e eternamente; da sua terra desapareceram os outros povos. 14 Tav Tu, SENHOR, ouves a oração dos necessitados; tu lhes fortalecerás o coração e atenderás ao seu clamor. 18 Defende o que não tem pai e o oprimido, a fim de que o homem, que é pó, já não provoque o terror.5 17 Refúgio em Deus Para o mestre de música. Um salmo de Davi. 11 No SENHOR eu me refugio. Como podeis dizer-me: “Foge como um pássaro para os montes? 2 Vê! Os ímpios preparam os seus arcos, ajustam com precisão as flechas nas cordas, para atirar ocultamente contra os retos de coração. 3 Se os fundamentos estão destruídos, que pode o justo fazer?” 4 Mas o SENHOR está no seu templo sagrado, o SENHOR tem seu trono nos céus. Seus olhos observam tudo; vê atentamente os filhos de Adão. 5 O SENHOR prova o justo, mas o ímpio e aqueles que amam a injustiça são odiados por Ele. 6 Sobre os ímpios Deus fará chover brasas ardentes e enxofre incandescente; vento causticante é o que terão. 7 Porquanto justo é o SENHOR, e ama a justiça; os íntegros verão a sua face!1 3 Algumas versões traduzem, neste versículo, a palavra hebraica haçirîm como “juncos”, como em Is 35.7, mas aqui a palavra correta é haçerîm, que significa “vilarejos”, “povoados” ou “recinto”. Jerônimo traduziu a expressão hebraica como um particípio: “Põe-se de espreita perto das fazendas”. O sentido no original é o de uma raposa que durante a noite se coloca de tocaia junto ao curral e espera por uma presa. 4 Este versículo mostra as artimanhas que o tirano usa para enganar e devorar suas vítimas, consideradas como pobres, desamparadas e infelizes em suas mãos. A expressão hebraica qerê, literalmente, “se rebaixa” e, em grego, ketib “rebaixado”, ilustram o quanto de falsidade e demagogia é usado pelos poderosos para iludir os incautos. 5 Algumas revisões usam a expressão “defendes o órfão” ou “fazes justiça ao órfão”; a expressão no original usa a metáfora da orfandade, para trazer à luz o desejo de Deus de ser reconhecido, como Pai, pela humanidade. Assim, o homem deixaria sua condição de simples “criatura de pó e terra” e herdaria as características divinas do seu Pai e Criador. Entretanto, por mais distante que seja o dia da justiça, a promessa do Pai não é adiada: Ele fortalecerá os corações (v. 17). Os arrogantes e perversos serão lembrados em sua humana insignificância e não mais causarão terror aos pobres e mais fracos. Esse é o sentido do verbo hebraico arots. A graça do Senhor é a nossa força (2Co 12.8-10). Capítulo 11 1 A expressão hebraica “contemplar a face de Deus” é freqüentemente usada nos Salmos, no sentido de estar em pé ante sua presença, como servos diante de um Senhor misericordioso e amável, que autoriza seu servo a assumir essa postura. (16.8-11; 17.15; 23.6; Is 38.11). Evidentemente, não há qualquer contradição em relação à impossibilidade de o ser humano ver a face de Deus (Êx 33.20). Este salmo termina como começou: com o Senhor, cuja natureza é justa, apresentado como a resposta para o medo e a frustração (v. 3). A primeira frase do salmo revelou onde está a segurança daquele que crê; a última linha mostra onde deve estar seu coração. Os salmistas podiam ver a Deus com os olhos da alma (ser), e aguardavam o dia da ressurreição, quando poderiam, então, olhar para a face do Senhor sem que fossem destruídos. 15 O mundo falso Para o mestre de música, em oitava. Um salmo de Davi. 12 Socorro, SENHOR! Já não há quem seja leal; já não é possível confiar em ninguém entre os seres humanos. 2 Cada qual mente ao seu companheiro; seus lábios bajuladores falam com segundas intenções. 3 Que o SENHOR golpeie todas as bocas fraudulentas e a língua arrogante 4 dos que proclamam: “Venceremos pelo poder do nosso falar; nossos lábios são como lâminas cortantes! Quem poderá mandar em nós?” 5 “Por causa da opressão do necessitado e do clamor do pobre, agora me levantarei”, diz o SENHOR.“Eu os protegerei e salvarei a quem por isso anseia.”1 6 As palavras do SENHOR são verdadeiras, são puras como a prata purificada num forno, sete vezes refinada. 7 SENHOR, tu nos guardarás seguros, e desse tipo de gente nos livrarás para sempre. 8 Os ímpios vagueiam soberbos por toda parte, quando a corrupção é exaltada na sociedade.2 Oração de livramento Para o mestre de música. Um salmo de Davi. 13 Até quando me esquecerás, SENHOR? Para sempre? Até quando SALMOS 12–14 encobrirás de mim tua face? Até quando sofrerei com preocupações e tristeza no coração, dia após dia?1Até quando prevalecerá o inimigo contra mim? 3 Olha para mim e responde, SENHOR, meu Deus. Renova o brilho da vida nos meus olhos, caso contrário me entregarei ao sono da morte; 4 e o meu inimigo virá a dizer: “Eu venci”; e os meus adversários festejarão o meu fracasso. 5 Contudo, eu confio em teu amor; o meu coração se enche de alegria e satisfação em tua salvação. 6 Desejo cantar ao SENHOR por todo o bem que me tem feito.2 2 O tolo não crê em Deus Para o mestre de música. Um salmo de Davi.1 14 Diz o tolo em seu coração: “Deus não existe”. Todas as suas atitudes são corruptas e abomináveis: não há um que faça o bem. 2 Dos céus o SENHOR se inclina sobre a humanidade, para ver se há alguém que tenha juízo e sabedoria, alguém que busque a Deus de coração. 3 Todos se desviaram, igualmente se corromperam; não há ninguém que faça o bem, não há um sequer.2 4 Será que os maldosos nunca aprendem? Eles devoram o meu povo, como se co- 1 No original hebraico, “anseia” é, literalmente, “ofega”. Deus virá em socorro de todo aquele que de todo o coração o busca. 2 Quando as pessoas de um povo (sociedade) começam a valorizar positivamente as atitudes ardilosas e desonestas de ho- mens maldosos (Jz 9.4), a corrupção se instala como estilo de vida daquela geração e todos passam a viver se enganando, numa neurose coletiva, em busca de vantagens pessoais. No original, a expressão “vagueiam” sugere um modo, bem público e sem receio da lei, de perambular pela cidade, com más intenções. Capítulo 13 1 A palavra hebraica yomam tem o sentido de uma dor que volta dia após dia. Davi, ao repetir quatro vezes “até quando”, demonstra toda a sua aflição no que diz respeito a seu relacionamento com Deus, com os inimigos e consigo mesmo. No AT “encobrir a tua face” ou “ocultar o rosto” significava a recusa da ajuda prática de Deus. As expressões “olha para mim”, “lembra-te” ou “desperta-te” não têm a ver com estados de consciência de Deus, mas, sim, são prelúdios à intervenção poderosa do Senhor na vida de seus filhos (Êx 2.24-25). 2 Por maior que seja uma pressão emocional, tentação ou dor, a escolha de confiar em Deus é do fiel, não do inimigo. A aliança de amor com Deus deve prevalecer em qualquer aflição. Assim o salmista lembra o pacto de amor de Deus, reafirma sua confiança nesse amor e passa a concentrar sua atenção, não na qualidade da sua fé, mas no objeto dela – o Senhor – e em seu resultado final: a vitória. Davi crê de tal forma na providência divina, que a frase em que aparece “todo o bem que me tem feito” tem, no original hebraico, o sentido de agradecer a Deus por haver concedido muito mais do que o salmista desejava. Davi tem certeza de que ainda cantará esse louvor a Deus, olhando para trás e contemplando o dia de dores, quando o Senhor ouviu sua oração e o salvou. Capítulo 14 1 Este salmo é muito semelhante ao 53, no qual o profeta revela um detalhe a mais sobre como Deus protege os justos (53.5); literalmente: “Pois Deus espalhará os ossos daqueles que se acampam contra ti, tu os confundirás; porque Deus os rejeitou”. 2 O espírito de impiedade se revela de duas maneiras: pelo desrespeito público às leis de Deus (1-3) e pela exploração do Seu SALMOS 14–16 messem pão, e não clamam pelo SENHOR? 5 Agora todos estão tomados de terror, porque Deus está presente a favor dos justos. 6 Vós, malfeitores, tentais frustrar a esperança dos humildes, mas o refúgio do pobre é o SENHOR. 7 Que a salvação de Israel venha de Sião! Quando o SENHOR restaurar o seu povo,3 Jacó exultará e Israel celebrará com grande alegria! O homem de Deus Um salmo de Davi. 15 SENHOR, quem poderá hospedarse em teu tabernáculo?1 Quem há de morar no teu santo monte?2 2 Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica a justiça, que de coração fala a verdade 3 e não usa a língua com maledicência, que nenhum mal faz a seu semelhante nem lança calúnias e afrontas contra seu companheiro. 16 A seus olhos, o ímpio é desprezível; mas dedica honra aos que temem o SENHOR. Mantém a palavra empenhada3 e, mesmo saindo prejudicado, não volta atrás; 5 não empresta seu dinheiro com usura,4 nem aceita suborno contra o inocente. Quem assim conduz sua vida caminhará seguro e em paz. 4 A fidelidade de Deus Um canto silencioso de Davi. 16 Defende-me, ó Deus, pois eu me abrigo em ti. 2 Ao SENHOR declaro: “Tu és o meu Senhor; não tenho bem maior além de ti”.1 3 Quanto aos fiéis que há na terra, eles é que são os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer. 4 Muitos serão os sofrimentos dos que deixam o SENHOR e buscam outros deuses; eu não tomarei parte nos seus sacrifícios de sangue, e os meus lábios sequer mencionarão seus nomes. povo (4-6). A palavra hebraica para “tolo” ou “insensato” é nābāl (1Sm 25.25) que, neste salmo, significa um tipo de perversidade violenta, injusta e sem piedade. No NT, Paulo demonstra os malefícios de não se crer em Deus (Rm 1.18-32). Como na ocasião que precedeu o Dilúvio, Deus observa a raça humana e não vê ninguém que “tenha juízo e sabedoria” em suas atitudes, tampouco encontra “um que faça o bem”. O sentido original do v.3 indica uma degeneração moral entre os seres humanos, mais literalmente, um apodrecimento das virtudes divinas que fazem de uma pessoa um ser humano (Rm 3.10-12). 3 A KJ (1611) traz: “Quando o Senhor fizer voltar os cativos do seu povo”. Estudos sobre os melhores e mais antigos originais reforçam a fidelidade da tradução usada aqui. O apóstolo Paulo nos ensina a orar com a expectativa de redimidos por Deus para a grande celebração que se aproxima (Rm 8.19-25). No início do Sl 126 há outro exemplo desse antegozo. Capítulo 15 1 Há duas idéias na palavra tabernáculo: uma, de adoração formal e sacrifício (Êx 29.42), e a outra, demonstrando a generosidade e a hospitalidade de Deus, que aguarda a chegada do peregrino (adorador e hóspede ansioso) a seu lar. Algumas versões apresentam as palavras “santuário” ou “tenda”, à imagem do antigo santuário do deserto (Êx 23.19). 2 Davi descreve o caráter de uma pessoa qualificada para viver (literalmente: tabernacular) com Deus. As perguntas paralelas e sinônimas do v.1 são respondidas nos versículos seguintes por uma descrição de onze pontos vitais que distinguem uma pessoa justa, correta, em ação, palavra, atitude e finanças. Essas qualidades não são naturais no homem (que é pó); são virtudes divinas, concedidas por Deus. 3 O homem e a mulher de Deus devem orar e refletir no Senhor antes de empenhar sua palavra, sabendo que uma pessoa de Deus não deve agir como aqueles que, não tendo o Espírito de Deus, tratam levianamente seus compromissos e, muitas vezes, usam a palavra firmada apenas para enganar e tirar alguma vantagem do seu próximo. Entretanto, ao perceber o erro cometido em determinado contrato ou palavra afiançada, o fiel a Deus pode corretamente implorar sua desobrigação (Pv 6.1-5), desde que aceita pela outra parte. No caso de recusa da desobrigação e de impossibilidade de uma renegociação, a palavra dada deverá ser cumprida (2Co 1.15-23). 4 A Palavra de Deus não desaprova o ato de se receberem juros e correção monetária por dinheiro emprestado (Dt 23.20; Mt 25.27). O que Deus condena é a exploração financeira (usura) do aflito e necessitado, no sentido de tirar proveito das desgraças do próximo e obter lucro abusivo (Lv 25.35-38; Dt 23.19). O AT proíbe a venda de alimentos, com lucro, para os necessitados. No contexto da família, o membro em situação difícil deveria ser sustentado por seus parentes até se reerguer financeiramente. Fora da família, a Lei permitia o ganho de juros moderados, ao mesmo tempo que proibia a extorsão e encorajava a generosidade (Êx 23.9; Lv 19.33-34). Davi vai além neste salmo, e não faz diferença entre um irmão e um desconhecido necessitado. Capítulo 16 1 Neste cântico de confiança, que deveria ser entoado de forma silenciosa para não provocar a ira dos pagãos que dominavam Jerusalém na época, Davi declara que assim como confiou no Senhor como sua suficiente porção nesta vida (vv.1-8), da mesma maneira confiará em Deus para preservá-lo na morte (vv.9-11). 17 SENHOR, tu és a minha parte na herança e o meu cálice; és tu que garantes o meu futuro. 6 As divisas das terras caíram para mim em lugares agradáveis; tenho uma maravilhosa herança!2 7 Darei louvores ao SENHOR, que me aconselha; na calada da noite o meu coração me ensina! 8 Tenho sempre o SENHOR diante de mim. Com Ele à minha direita, não serei abalado. 9 Essa é a razão da alegria que trago no coração e, no íntimo, exulto de prazer; e assim meu corpo repousará em paz, porque tu não me abandonarás nas profundezas da morte, 10 nem permitirás que o teu santo sofra decomposição.3 11 Tu me fizeste conhecer o caminho da vida, a plena felicidade da tua presença e o eterno prazer de estar na tua destra.4 5 Oração do oprimido Uma oração de Davi. 17 Ouve, ó SENHOR, meu justo lamento; dá atenção ao meu clamor. Responde a minha oração, que não procede de lábios mentirosos.1 SALMOS 16, 17 2 Que minha sentença favorável venha da tua face; vejam os teus olhos onde está a justiça! 3 Podes sondar-me o coração, examinarme a consciência durante a noite, provarme com fogo, e iniqüidade alguma encontras em mim; pois minha boca não é falsa diante de ti, 4 como costuma agir a humanidade. Eu observei a palavra dos teus lábios e evitei o caminho dos maldosos. 5 Meus passos seguem firmes nas tuas veredas; meus pés não escorregam. 6 Eu clamo a ti, ó Deus meu, pois tu me respondes; inclinas para mim os teus ouvidos e ouves a minha oração. 7 Demonstra as maravilhas2 do teu amor leal, Tu, que com a tua destra salvas os que em Ti buscam refúgio e defesa contra seus agressores. 8 Protege-me como a pupila dos teus olhos,3 abriga-me à sombra das tuas asas protetoras, 9 longe dos ímpios que me oprimem, dos inimigos mortais que me rodeiam. 10 Eles enchem seus corações de insensibilidade, e suas bocas transbordam de arrogância. 11 Seguem-me os passos, e já me cercam; 2 Davi expressa que Deus é sua maior e melhor herança e que jamais pensaria em seguir outros deuses, ou em compartilhar louvores que não fossem dirigidos ao Senhor. Davi lembra que o fato de ter sido deserdado é uma honra e uma indicação de que ele só depende do Senhor, pois Deus também não dera a seus sacerdotes qualquer porção de terra, assegurando-lhes somente: “Eu sou a tua porção e a tua herança” (Nm 18.20). A tribo mais favorecida na partilha das fronteiras (divisas) não possuiu herança mais rica do que a que coube a Davi (Js 19.51; Fl 1.21; 3.8). 3 Davi faz uma alusão messiânica que será mais tarde, no NT, enfatizada pelos apóstolos Pedro e Paulo (At 2.29ss.; 13.34-37). 4 Andar nos caminhos do Senhor é viver em plenitude (25.10; Pv 4.18). A presença de Deus ou “a face do Senhor” são expressões que no original que indicam felicidade total e eterna. Um tipo de gozo que o sistema mundial, sob o qual vivemos, não pode proporcionar. A palavra hebraica para “alegria” ou “felicidade” (literalmente: alegrias) refere-se a delícias e satisfação (plenitude, derivada da mesma raiz que “satisfação” em 17.15). O Senhor concede as alegrias da sua face (o significado de presença) e da sua mão direita (destra). O refugiado do v.1 se vê, agora, herdeiro, e sua herança é maior do que jamais poderia imaginar. A expressão correta, no final do versículo, é “na tua destra” e não “à sua direita”, pois o sentido, diferente do v.8, é mostrar que da mão direita (destra) de Deus procedem todas as bênçãos e dádivas (Gn 48.14ss.; Pv 3.16). Capítulo 17 1 Davi não está afirmando que é um homem sem falhas ou pecados. Está defendendo sua integridade de fé, assim como Deus defendeu a honestidade espiritual de Jó (Jó 1.8; 42.8). Nem Jó muito menos Davi eram isentos de pecados, mas foram homens sinceros diante de Deus, que amaram o Senhor de todo o coração e preferiram o Senhor a todos os demais bens da terra. Davi filtra seus sentimentos e conclui que sua religiosidade não é fingida (1Jo 3.18-21) e por isso apela a Deus para que pronuncie a sentença favorável. 2 A mesma expressão usada por Deus na repreensão à falta de fé de Sara (Gn 18.14). O fiel não pode esquecer que nada é impossível (literalmente: maravilhoso) para Deus. O termo “amor leal”, como já foi visto, refere-se à bondade interminável do Senhor; à fidelidade de Deus a uma aliança feita com um homem que, confiando sua vida nas mãos do Senhor, crê que essa aliança jamais será quebrada por Ele, mesmo considerando a infidelidade do homem (Os 2.19-20). 3 Pupila ou “a menina dos olhos” é figura de linguagem que, ao lado de outras expressões como “asas protetoras”, demonstra de forma clara e eloqüente, o quanto Deus é sensível às nossas necessidades, e com que carinho nos protege. Os olhos são SALMOS 17, 18 seus olhos estão fitos em mim, prontos para derrubar-me. 12 São como um leão ávido pela presa escolhida, como feras sanguinárias salivando pela vítima, na tocaia. 13 Levanta-te, SENHOR! Confronta-os! Arrasaos! Com tua espada, livra-me dos ímpios. 14 Com tua mão, SENHOR, livra-me das pessoas mundanas, dos homens maldosos desta terra, cuja recompensa está nesta vida. Enche-lhes o ventre de tudo o que lhes reservaste; fartem-se disso os seus filhos, e o que sobrar fique para suas crianças de colo. 15 Eu, contudo, graças à tua justiça, verei a tua face; quando despertar, terei a plena satisfação de ver tua semelhança em mim.4 Deus soberano salvador (2Sm 22.1-51) Para o mestre de música. Um salmo de Davi, 18 servo do SENHOR. Ele cantou as palavras deste hino de louvor ao SENHOR, quando este o livrou das mãos de todos os seus inimigos e das garras de Saul. Assim se expressou Davi:1 18 Eu te amo2 com todo o meu ser, ó SENHOR, minha força. 2 O SENHOR é o meu penhasco3 e minha fortaleza, quem me liberta é o meu Deus. Nele me abrigo; meu rochedo, meu escudo e o poder que me salva, minha torre forte e meu refúgio. 3 O SENHOR seja louvado! Pois clamei a Deus por livramento e estou salvo dos meus inimigos. 4 As cordas da morte me enredaram; as torrentes da destruição me aterrorizaram. 5 Os laços do inferno me envolveram,4 e as ciladas da morte me atingiram. 6 No meu desespero clamei ao SENHOR; gritei por socorro ao meu Deus. Do seu os órgãos mais sensíveis do corpo humano. A presença de qualquer cisco nos olhos é imediatamente comunicada ao cérebro que ordena sua pronta remoção. Assim também, qualquer situação que venha a causar preocupação ao servo de Deus é digna da atenção especial do Senhor, que nos cobre com suas poderosas asas, como a águia protege seus filhotes (Rt 2.12; Sl 36.7; 57.1; 63.7; 91.4). 4 No versículo anterior, Davi diz para Deus que não quer ter nada a ver com os perversos, que só buscam prazeres da carne, ostentação, vaidade, orgulho e os bens materiais deste mundo (sistema econômico, político, social e religioso). Davi chega ao ponto de pedir a Deus que dê aos mundanos abundância do que eles mais amam; assim eles naufragarão em sua própria lama. O fiel de coração, porém, tem prazer no Senhor e nas coisas celestiais. Sabe que suas necessidades materiais serão supridas diretamente pelo Pai e se alegra com aquele grande dia em que verá o Senhor face a face. Davi sabia que só os semelhantes podem se comunicar mutuamente (Tt 1.15 com Mt 5.8). Temos a promessa de que o veremos como Ele é e de que seremos semelhantes a Ele! (1Jo 3.2; 2Co 3.18). Conhecer a face de Deus foi um privilégio de Moisés (Nm 12.6-8; Dt 34.10). Moisés não viu a face de Deus como num sonho, mas acordado. Assim, os fiéis verão a Deus na ressurreição e desfrutarão desse prazer por toda a eternidade (Is 26.19; Dn 12.2). A hora do despertar, a aurora, é o momento privilegiado da generosidade divina e simboliza a salvação (Is 8.20; 9.1; 33.2; Lm 3.22-23; Sf 3.5; Jo 1.4-5; 8.12). Capítulo 18 1 É importante lembrar que estas notas, impressas em letras menores, logo abaixo do título da maioria dos Salmos, fazem parte do texto canônico da Bíblia Hebraica (diferentemente das notas marginais acrescentadas pelos massoretas e que não constam na KJ), e se incluem na numeração dos versículos desta. Quase a metade dos Salmos tem a anotação: ledáwîd (de Davi) e 55 salmos trazem a expressão: lam-e-natssêah (Ao mestre de música). Em muitos salmos, os versículos no texto hebraico têm sua numeração desencontrada em relação aos publicados em nossas Bíblias, devido ao fato de o versículo número 1 ser atribuído a essas notas (como em algumas edições católicas). O Novo Testamento reafirma a autenticidade bíblica e canônica desses títulos (Mc 12.35-37; At 2.29-34; 13.35-37). Neste hino de louvor a Deus, por grande vitória alcançada, Davi relata o que o Senhor fez por ele (vv.1-3), relembra o livramento de Deus (vv.4-19), apresenta o fundamento para o livramento (vv.20-30), relembra uma vez mais a vitória (vv.31-48) e se compromete a viver continuamente louvando a Deus (vv.49-50). Esse cântico também é encontrado em 2Sm 22, tendo sido escrito após a morte de Saul e o estabelecimento do reino davídico. Como afirmava Calvino, muitas verdades neste salmo aplicam-se melhor a Jesus Cristo (o Messias) do que a Davi (Rm 15.9). 2 A palavra no original em hebraico racham, é rara, muito emotiva e expressiva. Significa amar com as mais profundas e veementes afeições do coração, com a comoção de todas as entranhas (como era na época, a típica forma oriental de se referir aos sentimentos). Uma tradução literal e antiga: “Eu te amarei com todos os anelos do afeto, ó Jehovah”. 3 A palavra hebraica sela , usada aqui, significa aqueles precipícios íngremes que oferecem refúgio a homens e animais; onde as abelhas fazem colméias e de onde o mel era coletado em grande abundância (Dt 32.13). Esse é um termo diferente daquele traduzido nos versículos seguintes por “rocha”, significando “penhasco” ou “rochedo” (1Sm 23.25-28; 24.22), apesar de essas palavras serem menos comunicativas do que “rocha” para o leitor ocidental nos dias de hoje. 4 Embora Davi fosse rei e, como tal, pudesse falar em nome de seu povo, todo o salmo está no singular para expressar a emoção da experiência pessoal. Davi foi abençoado porque Deus teve “amor leal a mim”, ou como em algumas traduções “se 19 templo Ele ouviu a minha voz; minhas súplicas chegaram à sua presença e seus ouvidos me deram atenção. 7 Então, toda a terra estremeceu e agitouse5 e os fundamentos dos montes se abalaram; tremeram por causa da ira de Deus. 8 Das suas narinas subiu fumaça; da sua boca saíram brasas vivas e fogo devorador. 9 Ele rompeu os céus e desceu; nuvens escuras estavam sob seus pés. 10 Montou um querubim e voou,6 deslizando sobre as asas do vento. 11 Fez das trevas um manto no qual se ocultou; das nuvens escuras, carregadas de água, o abrigo que o envolvia. 12 Com o fulgor da sua presença, as nuvens se desfizeram em granizo e raios, 13 quando dos céus trovejou o SENHOR e fez ressoar a voz do Altíssimo. 14 Atirou suas flechas e afugentou meus inimigos, com os seus raios os arrasou. 15 O fundo do mar apareceu e os alicerces da terra foram expostos por causa da tua severa repreensão, ó SENHOR, com o sopro forte das tuas narinas. 16 Das alturas estendeu a mão e me agarrou;7 arrancou-me das águas profundas. 17 Livrou-me do meu adversário pode- SALMOS 18 roso, de todos os meus inimigos, muito mais fortes do que eu. 18 Eles me atacaram no dia da minha infelicidade, mas o SENHOR foi o meu abrigo e protetor. 19 Ele me concedeu plena libertação; livrou-me por causa do seu amor leal a mim. 20 O SENHOR me tratou conforme o meu justo coração; conforme a honestidade das minhas mãos, recompensou-me. 21 Pois tenho andado nos caminhos do SENHOR; não tenho agido como ímpio, afastando-me do meu Deus. 22 Todos os seus mandamentos estão presentes em meu ser; não me desviei dos seus decretos e preceitos. 23 Tenho sido irrepreensível para com ele e não me permiti praticar qualquer mal. 24 O SENHOR me recompensou segundo a minha justiça, conforme a pureza que seus olhos viram em minhas mãos. 25 Ao fiel e bondoso te revelas fiel e bondoso,8 ao irrepreensível te revelas irrepreensível, 26 ao puro te revelas puro, mas com o perverso reages à altura. 27 Salvas os pobres9 e os que são humil- agradou” dele (v.19), e não só porque, como monarca, representava seu povo. Vemos Deus movendo o mundo, usando armas devastadoras contra a morte e as hostes do inferno, por amor a um insignificante ser humano. (Belial, como aparece em algumas versões, é a palavra registrada no original, mas de difícil tradução, estando ligada sempre à descrição de coisas malignas ou destrutivas. Forma sinônimo com as palavras morte e Sheol, sendo ainda um dos nomes de Satanás, em 2Co 6.15). O salmo ensina que grande é o valor do indivíduo para o Senhor, bem como a dívida da pessoa humana para com seu Deus. 5 Davi utiliza esplendorosamente as metáforas para revelar a teofania (manifestação de Deus) que relembra o grande livramento do mar Vermelho, por meio do fogo, da nuvem e da separação das águas (v.15), assim como os fenômenos ocorridos no monte Sinai, que “tremia violentamente” e “estava coberto de fumaça”, pois Deus “havia descido sobre ele em chamas de fogo” (Êx 19.18). 6 Os versículos anteriores revelaram a ira contra os poderes do mal. A “fumaça”(Is 6.4) dramatiza a reação da santidade do Senhor diante do pecado, e “narinas”, em hebraico, têm a ver com o “órgão da ira”. O “fogo devorador” (Dt 4.24) representa o zelo de Deus, e a lista continua enquanto a tempestade se aproxima, escurecendo a terra para o julgamento divino (Ez 10.2). Em Ez 1.4-14, o temporal com raios e trovões terríveis forma o cenário para o surgimento de seres sobrenaturais que prenunciam a presença santa e justa do Senhor Deus. Esses “seres viventes” (querubins, conforme Ez 9.3) surgem em contextos que enfatizam a santidade inviolável de Deus: guardam a árvore da vida (Gn 3.24), o Santo dos Santos (Êx 26.31,33), o propiciatório (Êx 25.1822), e carregam o carro-trono sobre o qual Deus cavalgava para exercer julgamento (Ez 1.15-25; 10.1-8). 7 Deus não apenas socorre, busca e segura seus filhos, mas literalmente os “agarra”, não permitindo que nem o mundo nem o diabo os arranque de Suas amorosas “garras” (Jo 10.28; Rm 8.35). Este salmo é rico em alusões ao êxodo, assim como ocorre em Jz 5.4-5 e Hc 3. 8 A palavra hebraica hasîd, benignidade, ou “bondoso”, relaciona-se à expressão hesêd “amor fiel” ou “amor leal”, amor em que se comprometem, fielmente, parceiros de uma aliança e que passou a ser, nos Salmos, um termo que representa os servos de Deus como “piedosos” e “santos”(50.5). 9 Davi pede a intervenção de Deus em favor dos desprotegidos e necessitados. Eles são as vítimas sociais que freqüentemente aparecem nos Salmos. A palavra hebraica anî tem o sentido de pobreza material. Neste versículo, Davi refere-se à situação de desamparo social do povo antes de falar da virtude daqueles que reconhecem sua condição humana (pó e terra) dependente de Deus (o Espírito da vida). SALMOS 18, 19 des, mas humilhas os soberbos e altivos. 28 Tu, SENHOR, conservas brilhando a minha luz; o meu Deus transforma em luz as minhas trevas. 29 Com a tua ajuda posso atacar uma tropa; com o meu Deus posso transpor muralhas. 30 Este é o Deus cujo caminho é perfeito; a palavra do SENHOR é comprovadamente verdadeira. Deus é um escudo para todos aqueles que nele buscam abrigo. 31 Pois quem é Deus além do SENHOR?10 E quem é a Rocha a não ser o nosso Deus? 32 O SENHOR é o Deus que me reveste de poder e faz o meu caminho perfeito. 33 Torna os meus pés ágeis como os da corça, sustenta-me firme nas alturas. 34 Exercita minhas mãos para a batalha e fortalece meus braços para vergar o arco de bronze. 35 Tu me dás o teu escudo da salvação; tua mão direita me garante a vitória; desces ao meu encontro para dignificar-me. 36 Aplainaste o meu caminho, para que, andando livre, meus tornozelos não se torçam. 37 Persegui os meus inimigos e os alcancei; e não regressei enquanto não foram destruídos. 38 Arrasei-os, e não conseguiram reerguer-se; morreram debaixo dos meus pés. 39 Deste-me poder para a batalha; subjugaste os que me traíram e se voltaram contra mim. 40 Colocaste os meus inimigos em fuga e exterminei os que me odiavam. 41 Gritaram por salvação, mas não houve 20 quem os livrasse; clamaram até pelo SE- NHOR, mas Ele não lhes respondeu. 42 Eu os reduzi a pó, poeira que o vento carrega. Pisei-os como quem pisa na lama das estradas. 43 Tu me livraste de um povo rebelado; fizeste-me o grande chefe das nações; um povo que não conheci coloca-se ao meu serviço. 44 Assim que me ouvem, me obedecem; são estrangeiros que se curvam a mim. 45 Todos perderam a coragem; enfraquecidos e apavorados saem dos seus redutos. 46 O SENHOR vive! Bendita a Rocha da minha vida! Exaltado seja Deus, o meu Salvador! 47 Este é o Deus que pelo meu bem executou vingança,11e que faz as nações me servirem. 48 Tu me salvaste dos meus inimigos; sim, fizeste-me vencer os meus adversários, e dos meus agressores violentos me livraste. 49 Por isso, eu te bendirei entre todas as nações, ó SENHOR; cantarei louvores ao teu santo Nome. 50 Deus dá grandes vitórias ao seu rei; e age por seu Ungido com amor fiel,12 por Davi e por toda a sua descendência, para sempre. Deus do universo e da alma Para o mestre de música. Um salmo de Davi. 19 Os céus revelam a glória de Deus, o firmamento proclama a obra de suas mãos. 2 Um dia discursa1 sobre isso a outro dia, 10 Davi se inspira no Cântico de Moisés (Dt 32.4, 31) para exaltar ao Deus Único e Todo-Poderoso: a Rocha (no original hebraico: sûr). 11 Não é permitido ao fiel se vingar, mas, sim, entregar essa difícil e delicada tarefa a Deus, que o fará com justiça e amor corretivo pelo ser humano (Dt 32.35; Rm 12.19, 13.4). 12 O apóstolo Paulo cita o v.49 deste salmo como a primeira de uma série de profecias que demonstram que Jesus Cristo veio para os gentios e não somente para os judeus (Rm 15.8-12). Embora Davi exalte a fama de Javé como conhecida em todo o mundo, a compreensão integral de suas palavras retrata o Ungido do Senhor, como o próprio Cristo (Messias), louvando a Deus entre seus irmãos, adoradores gentios. Embora todo rei davídico pudesse apropriar-se destas verdades, este salmo pertencia especialmente a Davi, de quem era o próprio testemunho, e a Jesus Cristo, seu “descendente” (no original, um substantivo singular e coletivo ao mesmo tempo) por excelência, assim como era o descendente supremo de Abraão (Gl 3.16). Capítulo 19 1 Davi usa alguns dos temas preferidos pelos assírio-babilônicos (os astros, os ciclos do sol e da lua) para exaltar o Senhor, o Criador. Os antigos tinham o costume de “beijar as mãos” em reverência ao sol, à lua e às hostes celestiais (Jó 31.26-27; 2Rs 21 e uma noite compartilha conhecimento com outra noite. 3 Não há termos, não há palavras, nenhuma voz que deles se ouça; 4 entretanto, sua linguagem é transmitida por toda a terra, e sua mensagem, até aos confins do mundo. Nos céus, Ele armou uma tenda para o sol2 5 que é como um noivo que sai de seu aposento, como feliz herói, a caminhar em sua jornada. 6 Parte de uma extremidade dos céus e percorre o seu caminho até o outro extremo; nada escapa ao seu fulgor. 7 A lei do SENHOR é perfeita, e revigora todo o ser. As palavras que vêm do SENHOR são dignas de confiança, e transformam os mais humildes em sábios.3 8 Os preceitos do SENHOR são justos, e proporcionam alegria ao coração. Os mandamentos do SENHOR são cristalinos e iluminam o entendimento. SALMOS 19 O temor do SENHOR é puro, e permanece eternamente. As ordenanças4 do SENHOR são verdadeiras e todas igualmente justas. 10 São mais desejáveis do que o ouro, mais do que muito ouro refinado; são mais doces do que o mel, do que as gotas do favo. 11 Por suas ordenanças teu servo é esclarecido; e existe grande recompensa em a elas obedecer. 12 Quem pode perceber os próprios erros? Purifica-me dos que ainda não me são claros.5 13 Da mesma forma livra o teu servo do orgulho, para que ele nunca me domine; então experimentarei a integridade, e serei inocente de grande transgressão. 14 Que as palavras da minha boca e o meditar do meu coração sejam aceitáveis6 na tua presença, SENHOR, minha Rocha e meu vingador! 9 23.5); os modernos tentam compreender personalidade e futuro por meio da astrologia. Mas somente o cristão pode compreender a amplitude da alegria filial que sente, ao olhar para o firmamento e para os astros como criação do seu Pai (Rm 1.18-23; Rm 1.20). O termo “discursa” sugere, no original, o borbulhar irreprimível de uma fonte. Os capítulos 37 e 38 de Jó desenvolvem esse tema com lirismo e verdade. 2 Ao falar do movimento do sol, Davi usa expressões igualmente encontradas na mitologia babilônica. Contudo, Davi faz questão de frisar que, embora magnífico, poderoso e exultante, o sol é obediente ao Senhor, pois Deus posicionou-o no espaço e indicou a trajetória que deveria cumprir todos os dias (do ponto de vista do poeta e observador); o céu inteiro é apenas uma “tenda” e trilho para que ele caminhe. E tudo isso é somente “a borda das suas obras” (Jó 26.14). 3 Davi usa o nome revelado de Deus, Javé (o Senhor) sete vezes; antes disso, empregou o nome específico de Deus (em hebraico, El) apenas uma vez, e no v.1. O famoso filósofo Kant afirmou: “Duas constatações povoam a mente de admiração e reverência sempre novas e crescentes: os céus estrelados por sobre nós, e o padrão ético e moral escrito em nosso íntimo”. 4 A expressão hebraica mispâtîm significa as decisões judiciais ou ordenanças que o Senhor registrou sobre as várias situações humanas. A Lei (em hebraico Tôrâ ou Torah) é a vontade revelada de Deus, enquanto edût tem a ver com o aspecto da verdade atestada pelo próprio Deus (1Jo 5.9) e também com a declaração pactual do Senhor (Êx 25.16; Dt 9.9). “Preceitos” e “mandamentos” revelam a maneira precisa e fiel com que Deus se dirige à humanidade, enquanto temor e reverência deve ser a resposta humana à Palavra de Deus. 5 Foi a lei mosaica que estabeleceu certas distinções entre pecados; porém, foram elas também que enfatizaram que nenhum pecado (tipo, qualidade ou dimensão) seria tolerado diante de Deus. O ser humano tem grande dificuldade para discernir e reconhecer seus erros e pecados; ou porque imagina que ser humano é tentar acertar mediante a prática de muitos erros, ou porque acha que, tendo chegado a determinada posição de maturidade ética e espiritual, seus erros são irrelevantes, comparados à moral de nossa sociedade. Porém, a Palavra de Deus revela o coração humano (Lv 18.5) e, por isso, não devemos confiar apenas em nossas consciências, no que diz respeito à percepção de erros cometidos. Somos culpados diante de Deus não por uma falta ou duas, mas por incontáveis pecados, os quais nos privam da plena bênção divina. O termo hebraico shegioth, aqui traduzido por “erros”, além de significar faltas menores, também pode ser compreendido como a astúcia de Satanás em lidar com o egoísmo e a vaidade humana, a ponto de neutralizar a capacidade de autocrítica das pessoas. Por esse motivo a grande maioria dos homens não consegue ver “um por cento dos seus erros”, segundo afirmou Calvino. Davi usa o verbo hebraico nakan, oriundo de uma palavra que significa “ser inocente”, ou seja, Davi reconhece a incapacidade humana de ser justo a ponto de enumerar todas as suas faltas e confessá-las a Deus, mas suplica que o Senhor lhe revele os pecados cometidos e o “purifique” (torne-o inocente), especialmente do pecado do orgulho, o qual é a porta de entrada para uma série de calamidades na vida humana. 6 Davi aprendeu que é impossível evitar o pecado, mas sabe que sacrificar a mente e o coração ao Senhor (Os 14.1-2; Rm 12.1-5) é agradável a Ele e a melhor maneira de se afastar da prática do pecado. Deus é visto por Davi não como juiz, pois se o considerasse simplesmente assim, Davi seria destruído por causa dos seus pecados; mas ele considera o Senhor como “Rocha” (refúgio, abrigo). E mais que isso, Davi exalta a Deus usando a palavra hebraica go’el, o vingador do sangue (Nm 35.19), redentor SALMOS 20, 21 O dia da angústia Para o mestre de música. Um salmo de Davi. 20 Que o SENHOR te responda no dia da angústia, que o Nome do Deus de Jacó te proteja!1 2 Do santuário te envie ajuda e de Sião te sustenha. 3 Que recorde tuas ofertas de manjares e aprecie o teu holocausto!2 (Pausa) 4 Que te dê o que teu coração deseja e realize todos os teus planos! 5 Saudaremos a tua vitória com brados de alegria e ergueremos as nossas bandeiras em Nome do nosso Deus. Que o SENHOR atenda a todos os teus pedidos! 6 Agora sei que o SENHOR dará vitória ao seu Ungido;3 dos seus santos céus lhe responde com o poder salvador da sua mão direita. 7 Alguns confiam em carros e outros em cavalos,4 mas nós confiamos no Nome do SENHOR, o nosso Deus. 8 Eles vacilam e caem, nós, porém, nos levantamos e ficamos de pé. 22 9 SENHOR, concede vitória ao rei; e respon- de-nos no dia em que a ti clamamos! O dia da vitória Para o mestre de música. Um salmo de Davi. 21 O rei se alegra na tua força, ó SENHOR! Como é grande a sua felicidade pelas vitórias que lhe proporcionas. 2 Tu lhe concedeste o desejo do seu coração e não lhe rejeitaste as súplicas dos seus lábios. (Pausa) 3 Tu o recebeste dando-lhe ricas bênçãos, e em sua cabeça puseste uma coroa de ouro refinado. 4 Ele te pediu vida, e tu a concedeste, vida longa e dias felizes sem fim.1 5 Pelas vitórias que lhe deste, grande é a sua glória; de esplendor e majestade o cobriste. 6 Sim! Tu o constituis como grande bênção perene e o enches de alegria com a tua presença. 7 Sim! O rei confia no SENHOR: por causa da lealdade do Altíssimo,2 ele jamais será abalado. e campeão (Lv 25.25, 47-49; Jó 19.25; Jr 50.34; Is 41.14; 43.14; 44.6, 24; 49.7; 59.20). Javé que vinga, salva e tira da morte (das mãos de Satanás) seus fiéis em todos os povos, tribos e nações (v.4). Capítulo 20 1 Em Israel não se atribuía ao nome divino nenhuma potência mágica, como era costume de algumas religiões pagãs. Havia o pacto de Deus com Jacó e sua descendência. Com a bênção sacerdotal de Nm 6.24-27, o Senhor permitiu que seu Nome fosse colocado sobre os filhos de Israel, para distingui-los com a sua marca de possessão. A essa idéia foi acrescentada a de agirem em prol de Deus (v.5), é o que fica expresso na declaração de Asa: “Em ti confiamos, e no teu Nome viemos contra a multidão” (2Cr 14.11). Toda essa carga espiritual e cultural é transportada para o NT (Jo 14.14; 17.6; At 3.6; Ap 3.12). 2 As palavras “santuário” e “Sião” são as mesmas originalmente usadas para a expressão “santidade”, onde a arca de Deus (mas ainda não seu Templo) significava sua presença (2Sm 6.17). Davi não coloca sua fé na arca, como nos dias de Eli, nem nos holocaustos (sacrifícios de animais que eram totalmente queimados em louvor a Deus), como nos dias dos profetas, mas sim no Nome e na Pessoa de Deus. 3 É importante voltar a frisar que a palavra hebraica, aqui traduzida por “Ungido”, significa “Messias” ou “Cristo” (Mt 1.17; Sl 2.2; Êx 29.7; 1Sm 9.16; 16.13) e que também se aplicava a Davi, rei legítimo e sagrado, de quem Deus testificara, pela unção externa, ser ele o seu escolhido (ungido) para reinar sobre o povo do Senhor. E toda a nação foi testemunha ocular dos maravilhosos feitos de Deus por meio de Davi. Todavia, o Ungido do Senhor, em quem toda a raça humana se personifica é também chamado de “o fôlego da nossa vida”, “a sombra protetora” (Lm 4.20), “a lâmpada de Israel” (2Sm 21.17) - títulos que prenunciam o Messias, o Cristo, o Filho de Deus. A própria palavra traduzida por “vitória” (vv.6 e 9), traduz palavras afins, derivadas da raiz “salvar” (o nome de Jesus). 4 Devemos ter em mente que “carros e cavalos” eram as forças militares mais poderosas da antigüidade, mas que, para Israel, traziam à memória as intervenções milagrosas de Deus junto ao mar Vermelho e no rio Quisom (Êx 14; Jz 4). Capítulo 21 1 A expressão hebraica traduzida aqui, e em vários salmos, por “vitórias” é derivada da raiz “salvar” (o nome de Jesus) e quando usada em contextos de batalha, acrescenta um significado positivo (triunfal) a “salvação”. Algumas versões usam simplesmente a expressão “salvação”, com isso perdem o aspecto vitorioso da expressão. 2 A lealdade de Deus é comunicada no original pela expressão hebraica hesed (Os 2.19), que significa o amor fiel e inextinguível de Deus por seus filhos. A expressão Elyon traduzida aqui por “Altíssimo” é um dos nomes de Deus em hebraico e expressa o poder e a soberania do Senhor Deus. 23 8 Tua mão alcançará todos os teus inimigos; tua destra atingirá todos os que te odeiam. 9 No grande dia em que te manifestares farás deles uma fornalha ardente. O SENHOR os engolirá em sua ira, o fogo os devorará. 10 Extirparás da terra sua geração, com sua descendência, na humanidade. 11 Embora tramem o mal contra ti e elaborem ciladas terríveis, nada conseguirão; 12 pois tu os colocarás em fuga quando mirar contra eles o teu arco. 13 Exalta-te, SENHOR, na tua força! Nós cantaremos e tocaremos em teu louvor. O salmo da cruz Para o mestre de música. Conforme a melodia A Força da Manhã. Um salmo de Davi. 22 Meu Deus! Meu Deus! Por que me desamparaste?1 Por que estás tão distante de salvar-me, tão longe dos meus gritos de aflição? 2 Deus meu! Eu clamo de dia, mas não respondes; durante a noite, e não recebo descanso! 3 Tu, contudo, és o Santo, és Rei, és o louvor de Israel.2 4 Nossos antepassados confiaram em ti, tiveram fé em ti, e os livraste. 5 Clamaram a ti e foram libertos; em ti SALMOS 21, 22 creram, e não se desapontaram. 6 Quanto a mim, sou verme, e não mais um homem, motivo de zombaria do povo, humilhado e desprezado pela humanidade. 7 Ridicularizam-me todos os que me vêem; balançando a cabeça e gesticulando, lançam insultos contra mim, dizendo: 8 “Volte-se para o SENHOR! Que Ele o livre! Salve-o, se é que lhe quer bem!”3 9 Apesar de tudo, foste tu quem me tiraste do ventre e preservaste-me junto ao seio de minha mãe. 10 Desde o meu nascimento fui consagrado a ti; desde o ventre de minha mãe tu és o meu Deus. 11 Não fiques longe de mim, pois a tribulação está perto e não há quem me ajude.4 12 Muitos bois selvagens me rodeiam; como touros, os poderosos de Basã5 me cercam. 13 Rugem como leões ferozes e escancaram a boca contra mim. 14 Eu me derramo como água, e meus ossos todos se desconjuntam; meu coração, como a cera, se derrete dentro de mim. 15 Meu vigor secou-se como caco de barro, e a minha língua gruda no céu da boca; tu me colocas no pó, à beira da morte. 1 A expressão “A Força da Manhã”, no subtítulo, vem do hebraico: ayeleth hashachar. Este é um típico salmo profético-messiânico e um dos mais citados no NT. Jesus Cristo citou esta primeira frase enquanto estava na cruz (Mt 27.46) em aramaico: Eloí, Eloí, Lemá sabactâni. Em alguns textos, o nome de Deus, Eloí, foi vertido para o hebraico Eli. Quando Jesus tomou sobre si o pecado de toda a humanidade, sentiu a mais terrível das dores: o afastamento (abandono) do Pai (2Co 5.21), pois Cristo fez-se maldição em nosso lugar (Gl 3.13). 2 Davi sente a retirada protetora, familiar, da doce comunhão de Deus, enquanto o inimigo se aproxima envolvendo a atmosfera ao seu redor com toda a sorte de sentimentos angustiantes e aterradores. Contudo, Davi cessa de debater-se em suas próprias mágoas, remorsos e tristezas, para não se afundar ainda mais numa diabólica melancolia, e busca auxílio na rocha da santidade de Deus: canto de louvor dos adoradores do Senhor. Em algumas versões da KJ aparece: “entronizado entre os louvores de Israel” (v.3). O sentido da expressão no original quer revelar o significado interior das instituições visíveis, ou seja, o palácio ou o trono de Deus não está no Templo, monte ou nação, mas no coração do Seu povo, daqueles que o adoram sinceramente em fé e prática (Is 66.1-2). Nosso louvor deve ser um trono para Deus e não uma plataforma para a vaidade humana. 3 O argumento filosófico daqueles que não conhecem a Deus é, de fato, sempre equivocado e utilitarista: “se Deus existe, por que há tanto sofrimento?”, “por que as guerras e a fome?”, “por que os crimes e a violência?”, “por que a tragédia?”. Tais frases revelam uma humanidade em busca de um “deus de conveniência” para serviços gerais de proteção, conforto e bem-estar. Evidentemente, devemos combater o mal e buscar a justiça, a começar por nosso próprio coração. É importante salientar que os gestos e as palavras dos vv.7 e 8 foram reproduzidos no Calvário (Mt 27.39,43) mais de mil anos depois de este salmo ter sido escrito. 4 A verdadeira confiança é mãe da segurança. Confiar em Deus é sentir-se seguro, mesmo em meio às mais severas tribulações. Deus é o Senhor do universo, dono de todo ouro e prata e rico em amor por aqueles que nele aprenderam a confiar, seus adoradores. Sem fé (confiança) no Senhor, qualquer lugar, por mais confortável que pareça ser, será um tormento (Jr 12.5b). 5 Região do norte da Transjordânia, famosa por suas criações de bovinos bem nutridos em suas colinas de pastos verdejantes (Am 4.1). Basã ou Bashan, em grego, significa “animais gordos”. SALMOS 22, 23 Uma multidão de cães me cercou, um bando de malfeitores me envolveu!6 Traspassaram7 minhas mãos e meus pés. 17 Posso contar meus ossos um a um, mas as pessoas me encaram com desprezo. 18 Dividiram as minhas roupas entre si e lançaram sortes pelas minhas vestes. 19 Tu, porém, ó SENHOR, não fiques longe! Força minha, vem depressa em meu auxílio. 20 Salva minha vida da espada, livra o meu ser do ataque dos cães. 21 Salva-me da boca dos leões e dos chifres dos búfalos raivosos. Sim, tu me respondes. 22 Vou anunciar teu nome aos meus irmãos;8 cantar-te-ei louvores no meio da congregação: 23 “Vós que temeis ao SENHOR, louvai-o!” Glorificai-o, todos vós, descendentes de Jacó; reverenciai-o, descendência toda de Israel! 24 Pois não desprezou nem desdenhou o sofrimento do aflito; não ocultou sua face do angustiado, mas ouviu seu clamor por ajuda. 25 De ti vem o meu louvor na grande congregação; cumprirei os meus votos9 16 24 na presença dos que o temem. 26 Os pobres se alimentarão até ficarem satisfeitos; louvarão ao SENHOR aqueles que o buscam: “Que vossa vida seja longa e próspera!” 27 Todos os confins da terra se lembrarão e se converterão ao SENHOR, e todas as famílias das nações se prostrarão diante dele. 28 Pois ao SENHOR pertence o reino: Deus governa as nações! 29 Todos os ricos e poderosos da terra se fartarão e o adorarão; haverão de ajoelhar-se diante de Deus todos os que descem ao pó, até aquele que não pode preservar a própria vida. 30 Sua descendência a ele servirá; e anunciará o SENHOR às gerações futuras. 31 E, a um povo que ainda não nasceu, testemunhará seus grandes feitos de justiça, pois Deus tudo fez com poder e glória.10 O bom Pastor Um salmo de Davi. 23 O Senhor é o meu pastor; nada me falta.1 6 Este é o drama humano: os fortes contra os fracos, muitos contra um só, os maus contra os bons. A turba é retratada como bestial (touros, bois, búfalos, leões, cachorros) e refere-se à turba humana, quando age com sutileza e falsidade, ou com a brutalidade do Calvário. O contexto sugere alguns dos motivos pelos quais as pessoas são levadas a tramar o mal contra seus semelhantes: a inveja (v. 8), a compulsão de agir motivada por um grupo (vv.12,16 ; cf. Êx.23.2), a ganância (v. 18), o gosto pervertido (v. 17), ódio e desejos destrutivos influenciados pelo Diabo (Jo 8.44). 7 A Bíblia hebraica cria uma polêmica ao traduzir a palavra caäru (traspassaram) por caäri (como um leão). O Comitê Internacional de Tradução da KJ para a língua portuguesa entende que no processo de transcrição dos originais a letra yod ( )יfoi substituída pela letra vav ( )וpor serem muito semelhantes. Esse pequeno descuido fez que muitos judeus não aceitassem o fato de este salmo ser uma perfeita profecia da crucificação de Jesus Cristo. Entretanto, as traduções Septuaginta (compilada dois séculos antes da crucificação), Vulgata, Siríaca, Arábica e Etiópica rejeitam as vogais massoréticas, acrescentadas às consoantes hebraicas muito tempo depois de Cristo, e apresentam redação semelhante à KJ. Todos os autores dos Evangelhos também citaram e aplicaram este salmo à crucificação de Jesus. 8 O autor de Hebreus faz referência a este versículo como sendo uma expressão do Messias de que “não se envergonha de (nos) chamar irmãos” (Hb 2.11,12) e que, portanto, fica entre nós e não somente nas alturas. Em sua festa de ações de graças, os pobres (humildes) são bem-vindos para se alimentar até ficarem plenamente satisfeitos (v. 26). 9 Davi se refere ao banquete da alegria, na chamada festa votiva. A lei mosaica encorajava aqueles que haviam prometido algum serviço a Deus, no caso de serem atendidos nas suas orações e súplicas, a cumprirem seu voto com um sacrifício, a ser seguido por uma festa que poderia durar até dois dias (Lv 7.16). A felicidade do contemplado nunca deveria ser reservada apenas para si e seus familiares, mas, sim, compartilhada com seus amigos, servos, e especialmente com os levitas e necessitados (pobres). Todos comeriam, testemunhariam os feitos de Deus e cantariam salmos diante do Senhor (Dt 12.17-19). 10 Davi tem a visão da pregação da cruz às gerações de mil anos à sua frente. Vê também a grande festa do Senhor, quando os ricos e poderosos se banquetearão com os pobres e humildes, pois todos serão um em Deus (Is 25.6). O salmo que começou com um grito de aflição e desespero se encerra com um brado de glória a Deus que “tudo fez”. Uma declaração semelhante ao clamor do Senhor: “Está consumado!” (Jo 19.30). Capítulo 23 1 Este é considerado o mais belo e conhecido cântico de confiança de Davi em Deus. Neste salmo não se manifestam queixas de aflição ou súplicas por livramento. É uma expressão poética e profética de gratidão ao Senhor (Yahweh). Um salmo de plena 25 Em verdes prados me faz descansar, e para águas tranqüilas me guia em paz.2 3 Restaura-me o vigor e conduz-me nos caminhos da justiça por amor do seu Nome.3 4 Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, pois tu estás comigo;4 a tua vara e o teu cajado me protegem. 2 SALMOS 23 Tu prepararás um banquete para mim na presença dos meus inimigos; me honrarás, ungindo minha cabeça com óleo e fazendo transbordar o meu cálice.5 6 A felicidade e a misericórdia certamente me acompanharão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor por dias sem fim.6 5 confiança e visão messiânica, ao mesmo tempo. Davi usa a metáfora preferida dos reis, e a mais compreensível e íntima, para retratar o Senhor como o supremo Pastor que provê todas as necessidades de suas ovelhas (seu povo, seus filhos) e as protege e defende. As figuras de linguagem até então usadas (rei, libertador, rocha, escudo) eram apropriadas, porém não transmitiam a idéia de proximidade pessoal, companheirismo constante e amizade fraterna que a palavra “pastor” revela (Gn 48.15; Is 40.10; 49.10; Jr 17.16; 31.9-10; Ez 34; Sl 80.1; 95.7). 2 Os “verdes prados” eram remansos ou campinas de relvas com pequenas lagoas (em hebraico: , neoth) onde as ovelhas podiam encontrar refrigério, segurança, paz e repouso (a mesma expressão, em hebraico: , rabats, usada ao descrever a Arca da Aliança na busca por um lugar de descanso para Israel - Nm 10.33). Deus se coloca como Pastor para mostrar ao mundo que não trata seu rebanho como um mercenário (Jo 10). Assim como um pai que compreende sua condição altruísta de homem de família, o Senhor igualmente decidiu viver em família (em rebanho) para cuidar dos seus, por meio de uma relação permanente de amor e ensino. 3 Em algumas versões aparece a tradução “refrigera-me a alma” no início deste versículo. Entretanto, essa expressão hebraica, nos melhores e mais confiáveis originais disponíveis, traz o sentido literal de “conversão de todo o ser” ou “renascimento do fiel”. Pode retratar, ainda, a ovelha desgarrada que é trazida de volta (Is 49.5; 60.1; Os 14.1-2; Jl 2.12 e Hb 2). Por outro lado, “restaura o vigor” é muito mais do que simples refrigério. Significa a possibilidade de um novo começo de vida (físico ou psicológico Is 58.12; Pv 25.13; Lm 1.11,16,19). Deus, por zelo (amor) ao seu Nome, nos converterá e transformará em pessoas cujos caminhos serão os do Senhor; e nossos testemunhos demonstrarão ao mundo o poder e a misericórdia de Yahweh – o único e soberano Senhor do universo (Ez 36.22-32). 4 Os “verdes prados” e “o vale da sombra da morte” são ambos “caminhos” do Senhor. Esse fato coloca em Deus a responsabilidade última sobre tudo o que acontece em nossas vidas. Nossos inimigos podem tramar, o Diabo pode tentar, nós podemos fraquejar, mas só Deus dirige as nossas vidas e permite, ou não, cada um de todos os eventos que ocorrem conosco, com um propósito soberano, instrutivo e benéfico. Além disso, a presença do Senhor nos livra do pior dos monstros: o medo. A palavra hebraica salmâwet, cujo significado literal é “sombra da morte”, que ocorre cerca de 20 vezes no AT, tem igualmente o sentido de “escuridão” e de fases críticas na vida, quando não conseguimos enxergar a saída (Jó 38.17; Jr 2.6; Mt 4.16; Lc 1.79). Nosso Senhor é Deus e também Pastor e companheiro. Sempre que necessário, ele caminha ao nosso lado e não só à nossa frente. O Senhor nos acompanha armado de “vara” (uma espécie de cassetete carregado à cintura) e de “cajado” (para ajudar a caminhar e para conduzir o rebanho), que eram também arma e instrumento de controle, pois a disciplina gera confiança e segurança (1Sm 17.35). Em última análise, só o Senhor pode nos guiar através da morte; todos os demais guias, parentes e amigos recuam ou permanecem, e o viajante tem de prosseguir sozinho. 5 A metáfora usada ganha tons mais íntimos, deixa de tratar os homens como ovelhas e revela o grande banquete do triunfo eterno, onde o próprio Senhor é o Anfitrião. No Oriente antigo, um homem que fosse perseguido por seus inimigos precisava entrar, ou ao menos tocar, na tenda do monarca em quem buscasse refúgio, para estar seguro. Seus inimigos eram obrigados a deter-se e olhar de fora para dentro, sem nada poder fazer contra o perseguido, agora hóspede, e, portanto, protegido por seu hospedeiro. Como era costume dos anfitriões mais hospitaleiros, a cabeça do hóspede era ungida (untada, umedecida com substância oleosa e perfumada) e farta refeição era oferecida (41.9; Gn 31.54; Ob 7). O Anfitrião divino ultrapassa todas as expectativas de hospitalidade. A refeição assume proporções de banquete, quando ungüentos de alto valor e perfumes suaves são derramados sobre a cabeça do hóspede ilustre (45.7; 104.15; Êx 24.8-12; 2Sm 12.20; Sl 16.5; Ec 9.8; Dn 10.3; Lc 7.46; 1Jo 2.20). Todas as necessidades são supridas e todos os inimigos afastados, pois o Anfitrião é mais que um hospedeiro; é amigo do hóspede. O quadro retrata tranqüilidade, segurança e fé em meio às aflições da vida. Um equivalente veterotestamentário de Rm 8.31-39 ou 2Co 12.9-10. 6 A profecia é muito melhor que a perspectiva de uma grande festa. No mundo do AT, comer e beber na casa de alguém criava um vínculo de compromisso, amizade e lealdade mútuas. Foi assim em Êx 24.8-12, onde os anciãos de Israel viram a Deus, e comeram e beberam. O mesmo ocorreu na Última Ceia, quando Jesus anunciou ser aquele o cálice de uma nova Aliança em seu sangue (1Co 11.25). Somos muito mais que simples convidados para uma festa, ou hóspedes por alguns dias. Deus deseja conviver conosco por todo o sempre, literalmente “para a duração dos dias” (Mt 22.32). Nesse compromisso, a felicidade e as misericórdias (amor leal) de Deus acompanham (literalmente: perseguem) os fiéis, assim como Seus juízos perseguem os ímpios (83.15), hoje e sempre. SALMOS 24, 25 O Rei da Glória e o seu Reino Um salmo de Davi. 24 Do SENHOR é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os seus habitantes.1 2 Ele próprio fundou-a sobre os mares e firmou-a sobre os rios.2 3 Quem pode subir ao monte do SENHOR? Quem pode ficar de pé no seu santo lugar? 4 Aquele que tem as mãos limpas e o coração puro, e não se entrega à mentira, nem age com falsidade. 5 Este receberá do SENHOR a bênção, e Deus, o seu Salvador, lhe fará justiça. 6 Estes são aqueles que o buscam, que procuram a tua face como Jacó, ó Deus.3 (Pausa) 7 Levantai, ó portas, os vossos frontões; abram-se, ó antigos portais, para que entre o Rei da Glória! 8 Quem é o Rei da Glória? É o Eterno, o 26 poderoso e valente. Deus forte, o bravo das guerras. 9 Levantai, ó portas, os vossos frontões; abram-se, ó antigos portais, para que entre o Rei da Glória! 10 Quem é o Rei da Glória? É o SENHOR dos Exércitos: Ele é o Rei da Glória!4 Acróstico de súplicas1 Um salmo de Davi. 25 A ti, SENHOR, elevo o meu ser. Alef 2 Em ti tenho confiado, ó meu Deus. Não permitas que eu seja humilhado, nem que meus inimigos escarneçam de mim! Bet 3 Nenhum dos que acreditam em ti será decepcionado; envergonhados ficarão aqueles que, sem motivo, agem como traidores.2 Guimel 1 Este é um salmo cantado tradicionalmente no Dia da Ascensão, o qual já inspirou grandes obras sacras. Este salmo foi entoado para escoltar a arca, em cânticos, com harpas e alaúdes, de Quiriate-Jearim até o monte Sião (1Cr 13.8), o que, igualmente, é comemorado nos salmos 68 e 132. Assim como Davi e a arca transformaram a fortaleza dos jebusitas em monte e cidade de Deus, o Vencedor chegará para possuir a cidade que conquistou. Os salmos cantados naquela ocasião (96 e partes de 105 e 106) têm a finalidade de exaltar a vinda final e permanente do Senhor (1Cr 16). 2 Esta expressão, no original, é clara e enfática ao dizer que tudo pertence ao Senhor. Ele é o Criador, Fundador, Estabelecedor e Sustentador do universo; da terra em todos os seus aspectos: frutífera (1.a), habitada (1.b) e sólida (2). A expressão “tudo o que nela existe” é a mesma palavra traduzida por “plenitude” em outras passagens. As riquezas e fertilidade da terra pertencem prioritariamente ao Senhor, para santificação e posterior bênção à humanidade (Is 6.3). Os salmos reivindicam o mundo habitado (1.b), para Deus como Criador (2), Rei e Juiz (9.7-8). O NT revela uma perspectiva ainda mais abrangente (Jo 3.16-17). O Senhor criou a terra “sobre os mares” (literalmente: “acima dos mares”) como em 8.1, mas a figura poética retrata a terra sólida surgindo das águas, com alusão a Gn 1.9-10, conforme 2Pe 3.5. No AT as profundezas dos mares relembram a falta de forma da terra (Gn 1.2), a ameaça iminente (46.5) e a falta de paz (Is 57.20). Entretanto, os mares, rios (literalmente: “correntes de águas abaixo”) e toda a terra seca pertencem ao Senhor e a seu povo (46.2-4; 74.13; 96.10,11). 3 Os limpos de coração estarão em pé diante do trono, louvando ao Senhor (Ap 7.9). “Subir ao monte do Senhor” expressa o desejo sincero de conhecer a Deus para verdadeiramente adorá-lo em todos os lugares (Gn 13.14; 19.27-28; Is 2.2-3; Mc 9.2). A bênção do Senhor era compreendida no AT como o sorriso de aprovação de Deus ao caráter do fiel. Essa pessoa tem aceitação, recebe ajuda divina para viver em retidão, é abençoada na saúde, família e negócios. A maioria dos manuscritos do Texto Massorético registra a expressão: “a tua face, Jacó”. Ocorrendo a haplografia da consoante “” hebraica, a frase fica mais compreensível: “a tua face como Jacó”, numa referência à bênção e ao encontro de Deus com Jacó, em Peniel (Gn 32.29-30). 4 Os versículos de 7 a 10 falam profeticamente da ascensão de Cristo, o Senhor, depois de sua vitória sobre o pecado e a morte, e também de seu Reino vindouro, quando sua soberania será reconhecida sobre toda a terra. “Portas” e “Portais” relembram o regresso da arca a Jerusalém (Êx 15.1-18; Sl 46; 48; 76; 87; 132.8, 14; 68.7,8; Jz 5.4,5; Hc 3.3-7; Is 14.31; Mt 21.1-11) e a entrada à Nova Jerusalém pelas doze portas (Ap 21.12). A palavra hebraica ראשים, rashim, traduzida por “frontões” (cabeças), aparece em algumas traduções derivadas da Septuaginta, como “príncipes”; mas, o pronome “vossos”, anexado a ela, demonstra que o sentido mais apropriado e literal é este: que os portões ergam suas cabeças ao Rei da Glória, o Vencedor. Capítulo 25 1 Neste salmo, Davi suplica ao Senhor proteção, orientação e perdão (vv.1-7), descreve alguns dos atributos de Deus (vv.8-14), e ora por livramento (vv.15-22). Com pequenas exceções, cada verso deste acróstico (composição poética, muito usada pelos escritores hebraicos, na qual o conjunto das letras iniciais dos versos forma, verticalmente, palavras ou frases) começa com letras sucessivas do alfabeto hebraico. 2 Os “inimigos”, sempre presentes nos salmos davídicos, se opõem a Davi ideologicamente, e não apenas pessoalmente. A 27 Faze-me conhecer, ó SENHOR, os teus caminhos, ensina-me a trilhar tua vereda. Dalet 5 Orienta-me a seguir a tua verdade e ensina-me a mantê-la, pois tu és o Deus da minha salvação e a minha esperança está em ti todos os dias.3 He 6 Lembra-te, meu Deus, da tua misericórdia e recorda-te da tua graça, que existem desde sempre. Zayin 7 Não relembres os pecados e desobediências da minha juventude, lembra-te de mim, conforme teu infinito amor. Het 8 Misericordioso e justo é o SENHOR e, por isso, aos pecadores reensina seu caminho. Tet 4 SALMOS 25 Dirige os humildes na justiça e os instrui no seu caminho.4 Yud 10 Todos os caminhos do SENHOR são amor e fidelidade para os que obedecem aos preceitos da sua aliança. Kaf 11 Pela honra de teu nome, ó SENHOR, perdoa minha grande iniqüidade. Lamed 12 Quem é aquele que teme ao SENHOR? Ele lhe ensinará o melhor caminho a seguir. Mem 13 Sua alma viverá em plena felicidade e seus descendentes herdarão a terra.5 Nun 14 A intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais Ele revelará os se9 vitória deles o desmoralizaria, mas principalmente tudo quanto representava: sua convicção de que a humanidade deveria viver pela ajuda e comunhão de Deus, e não simplesmente por sua natural astúcia. Os versos 20 e 21 ajudam a esclarecer esse tema, definindo a sinceridade e a retidão como sendo a defesa de Davi e de todo o que crê, virtudes essas consideradas ingênuas por seus inimigos. Davi ainda confessa que, sem o amor misericordioso de Deus, sua defesa não resistiria às armas mundanas da traição (cilada, armadilha, cf. 15) e do ódio (cf.19, o mesmo de Caim – Gn 4.1-9). Logo, não foram os inimigos que conseguiram ditar as regras da batalha, mas, sim, o Deus de Davi. Todos aqueles que cantam ou recitam este salmo (poema) proclamam a mesma fé de Davi. 3 Em primeiro lugar, o servo de Deus pede a instrução geral de Deus (v.4: “teus caminhos”, “tua vereda”), após o que suas faculdades de discernimento serão aperfeiçoadas (Hb 5.14). Esta oração altruísta (não interesseira, nem egoísta) tem algumas características: 1) Persistência: ao ficar pacientemente alerta pelo “primeiro sinal das mãos do Senhor” nos vv.5, 15 e no Salmo 123.2. Era costume o servo ficar atento às mãos do seu senhor para lhe obedecer prontamente a seus sinais de comando. 2) Penitência: palavra muito usada pela igreja Católica, cujo sentido é reconhecer-se como “pecador” (palavra que, no original hebraico, identifica aqueles que erram o alvo – v.8), e não como um aluno capaz, aplicado e merecedor. 3) Obediência: a atitude dócil que se compreende pelas palavras “humilde” e “paciente” (derivadas da expressão hebraica ‘ānāw v.9 e 18.27). 4) Reverência: o Senhor honra com sua intimidade, graça e misericórdia aqueles que o respeitam (temem – vv.12,14) em amor como Deus – Único e Soberano – sobre todo o Universo. A palavra hebraica sôd significa: amizade, intimidade, concílio, conselho, como em Jr. 23.18; Am 3.7. Essa busca de orientação divina é muito diferente das consultas pagãs quanto a destino e futuro (Is 47.13). 4 Davi sabe que não é o tempo que cura uma mente culpada, mas a graça de Deus. Por isso, seu apelo à lembrança da Aliança não é leviano nem uma forma de escapar ao castigo divino. Davi fala a verdade e pede que o Senhor olhe para a sinceridade do seu coração. Deus “reensina” os pecadores e “dirige” os humildes, não apenas por sua bondade e misericórdia, mas porque Ele mesmo é “misericordioso e justo” e deseja reproduzir seu caráter em seus filhos humanos. O salmista revela a manifestação da graça divina, a qual o Senhor concede àqueles que, sendo subjugados por seu poder e trazidos debaixo de seu jugo, suportam espontaneamente e se submetem a seu governo. Mas essa docilidade ou mansidão jamais será encontrada no ser humano, até que o coração, que é naturalmente arrogante, egoísta e presunçoso, seja humilhado e vencido pelo Espírito Santo. Ao empregar, no original, a palavra hebraica ענדים, anavim, que significa: o pobre, infeliz ou aflito, cujo sentido metafórico refere-se àquele que se tornou manso, doce, paciente e humilde, Davi nos revela as aflições que servem para restringir e subjugar tanto a obstinação da carne quanto a graça da própria humildade. É Deus quem nos humilha e Ele mesmo é quem nos toma pelas mãos e nos guia por toda a vida. 5 A tradição dos sábios de Israel ensinava que o temor do Senhor produz uma bênção espiritual (a salvação e proteção de Deus) e uma bênção material (família, terra e os bens), bênçãos cuja duração seria perene, uma vez que a descendência dos servos de Deus herdaria suas posses na terra e seu testemunho de vida com Deus. Os servos gozariam da companhia do Senhor na terra e ao longo da eternidade. No NT, o apóstolo Paulo também defende a idéia da plena bênção de Deus (1Tm 4.8), embora entendendo que nem sempre Deus trata com os servos segundo seus desejos mais imediatos. Quando Deus retrai sua bênção de seu próprio povo, é porque deseja despertá-los para o senso de sua condição e levá-los a descobrir o quanto se acham afastados do perfeito amor e temor do Senhor. Entretanto, em comparação com a sociedade mundana em que vivemos e em relação às pessoas que desprezam a Palavra de Deus, todos os servos são grandemente abençoados e se sentem felizes, visto que, mesmo em meio a dificuldades financeiras ou nas aflições, sofrimento e dor, jamais perdem a certeza da presença pessoal de Deus e podem usufruir das consolações e da paz que somente o Espírito Santo pode proporcionar ao salvo. SALMOS 25, 26 gredos da sua aliança.6 Samek 15 Os meus olhos estão sempre voltados para o SENHOR, pois somente Ele livrará meus pés da cilada. Ayin 16 Volta-te para mim e tem misericórdia de mim, pois me sinto só e em muita aflição.7 Pê 17 As angústias do meu coração se multiplicaram; liberta-me da minha desolação. Tsade 18 Olha para minha agonia e sofrimento, e perdoa todos os meus pecados. 19 Considera como se multiplicam meus inimigos e com que crueldade me odeiam. Resh 20 Protege e salva minha vida! Que eu não seja envergonhado, pois em ti me abrigo! Shin 21 Que a sinceridade e a retidão me preservem, pois em ti deposito toda a minha confiança. Tav 28 Ó Deus, liberta Israel de todas as suas atribulações!8 22 Pedido de justiça e livramento Um salmo de Davi. 26 Ó SENHOR, sê meu juiz! Pois com integridade1 tenho caminhado pela vida afora e não vacilei em minha confiança no SENHOR. 2 Examina-me, SENHOR, e submete-me a provas2; sonda meus sentimentos e minha mente. 3 Diante dos meus olhos contemplo o teu fiel amor, e continuamente sigo a tua verdade. 4 Não me associo com pessoas falsas3, nem caminho com os hipócritas. 5 Detesto a reunião dos malfeitores, e não me assento com os ímpios. 6 Lavo minhas mãos em sinal de inocência e, assim, poderei andar ao redor do teu altar, ó SENHOR.4 7 Ergo minha voz para cantar hinos de gratidão e proclamar todas as tuas maravilhas. 6 Davi tinha profetizado que o Senhor seria o mestre dos piedosos e humildes. Os segredos mais íntimos de Deus estão reservados para os servos fiéis. A Aliança de Deus é seu segredo, mistério e conselho. Ao chamar a Lei de segredo, o Senhor demonstra que sua doutrina vai muito além da letra e só poderá ser compreendida por quem verdadeiramente amar a Deus – Único e Soberano - de todo o coração, alma, entendimento e força; e ao próximo como a si mesmo (Dt 6.5; Mc 12.29-31). Para os perversos, ímpios, arrogantes, e para todos que se aproximam das Escrituras sem verdadeira humildade e temor do Senhor, o conselho de Deus é como “um livro lacrado” (Is 29.11). As Sagradas Escrituras (os segredos de Deus) foram entregues pelo Senhor para instrução do seu povo e não apenas para os eruditos. A prerrogativa básica para compreender a Palavra de Deus não é erudição, mas santidade e amor ao Senhor. 7 A expressão hebraica usada nos originais, יחיר, yachid, significa um estado de solidão e desolação. Ou seja, Davi não sentia falta da companhia de pessoas, sentia falta da presença de Deus. Por isso, sentia-se destruído (desolado); no sentido hebraico: empobrecido, infeliz. 8 Para Davi, “confiar” é “esperar em Deus”, o que significa “aceitar o tempo e a sabedoria do Senhor”. A fé de Davi está expressa desde o v.2 e declarada nos vv.5, 8-10 e 14-15. Essa “fé esperançosa” marcava a diferença entre as atitudes de Davi e de Saul diante de Deus (1Sm 26.10-11; 13.8-14), assim como entre Isaías e o povo de Israel (Is 30.15-18). A palavra originalmente empregada e traduzida neste salmo, como “confiança” tem a ver com “confiança e zelo” mais do que simples e estática resignação. Ao final do salmo, essa “esperança” ainda não foi concretizada, mas Davi continua firme e corajosamente “crendo e esperando”. É por isso que este salmo torna-se ainda mais relevante para aqueles que aceitam com alegria o encorajamento tranqüilo, certo e seguro, do Senhor, em Is 30.18 e 64.4. Capítulo 26 1 No original hebraico, o sentido de “integridade” não se refere a isenção absoluta de pecados, erros ou defeitos, mas, sim, à sinceridade de propósito e a uma certeza de devoção exclusiva e integral ao Senhor (1Rs 9.4). 2 A palavra hebraica צרף, tsaraph, significa “pôr à prova”, como o refinador testa seu ouro, dissolvendo-o e fundindo-o. Nesse sentido ela é usada também no Sl 66.10. Davi sabe que Deus observa o íntimo de cada ser humano e busca os verdadeiros adoradores. Por isso pede que o Senhor o veja por dentro e considere seu amor e lealdade. Deus não se comove com cerimônias, rituais, ladainhas e palavras lisonjeiras. Deus vê “nossos rins e entranhas”, como aparece em algumas traduções mais literais. Para os antigos hebreus, as entranhas controlavam as decisões, e os rins, os sentimentos mais íntimos e secretos. 3 Como no Sl 1, Davi sabe que as más companhias podem corromper boas pessoas. Por isso se afasta de todos que agem com falsidade e astúcia fraudulenta. A expressão hebraica נעל־מים, naälamim, significa: “encerrados e encobertos pela dissimulação” ou “aqueles que se camuflam com a falsidade, para praticar o mal”. 4 A lavagem das mãos em solene demonstração de inocência (pureza), em ocasiões especiais, era ordenada pelo ritual mo- 29 8 Eu amo, ó SENHOR, a casa em que habitas e o lugar onde tua glória permanece.5 9 Não ceifes minha alma com a dos ímpios, nem minha vida com a dos assassinos;6 10 suas mãos executam planos perversos, e a prática do suborno lhes é peculiar.7 11 Mas eu vivo em integridade; livra-me e tem misericórdia de mim. 12 Os meus pés estão firmes na verdade; e, perante a grande assembléia, bendirei o SENHOR.8 Minha luz e salvação Um salmo da Davi. 27 O SENHOR é a minha luz e a minha salvação: a quem temerei? O SALMOS 26, 27 SENHOR garante a minha existência; o que eu haveria de recear?1 2 Quando os perversos, meus inimigos, avançarem contra mim para dilacerarme, eles é que tropeçarão e cairão por terra.2 3 Ainda que um exército me cerque, meu ser não se entregará ao temor; ainda que uma guerra estoure contra mim, manterei minha fé inabalável. 4 Um anseio manifestei ao SENHOR, e sua realização buscarei: que eu possa viver na casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a glória do SENHOR e buscar sua orientação no seu templo. 5 Pois no dia da adversidade Ele me pro- saico, e era comum entre os judeus (Dt 21.6,7). Era usual entre eles antes da oração; e os sacerdotes, em particular, não podiam realizar qualquer ofício sacro no santuário enquanto não derramassem água limpa do lavatório, lavando suas mãos (Êx 40.30-33). O termo hebraico original נקיון, nikkayon, significa ao mesmo tempo “o ato de limpar algo” e o estado moral de pureza e inocência. Davi faz uma alusão à prática dos sacerdotes que, quando ofereciam sacrifícios, andavam ao redor do altar; sua intenção era demonstrar que, como primeiramente lavavam suas mãos e, então, exerciam seu sacro ofício no altar, os sacerdotes sentiam profunda necessidade de pureza pessoal, para poderem se envolver-se no serviço divino. Com esse gesto, Davi igualmente lembra a Festa dos Tabernáculos, na qual o povo, ao sétimo dia, circundava o altar sete vezes, levando ramos de palmeiras em suas mãos e cantando hosanas, em memória à queda de Jericó. Cerca de 1000 anos mais tarde, Pilatos repetiria o gesto de “lavar as mãos”, proclamando-se “inocente do sangue deste justo”. Procurava eximir-se de culpa, diante do povo judeu que clamava pela crucificação de Jesus Cristo (Mt 27.24), o Cordeiro de Deus sacrificado por nossos pecados e para nossa Salvação (Hb 10.1-14). 5 Davi entra no santuário, como sincero adorador, em busca da comunhão e proteção do Senhor. Os profanos e dissimulados (falsos), até quando freqüentam assembléias sacras, cometem pecado, pois não vão em busca de perdão e reconciliação com Deus, mas por interesse pessoal ou conveniência social e política. Algumas traduções mais literais trazem: “a habitação de tua casa”, o que é um hebraísmo, uma maneira bem hebraica de se referir ao “lugar da tua habitação”. Essa expressão também era o título dado ao tabernáculo (1Sm 2.29,32) e, posteriormente, ao templo de Salomão (2Cr 36.15). No deserto, a glória de Deus permanecia visivelmente sobre o tabernáculo (Êx 40.34ss.); no judaísmo essa expressão que significa “habitação” (shekînah), veio a ser o termo para definir fatos dessa natureza. Mas é em Jo 1.14 que temos a declaração integral da realidade prenunciada na nuvem e no fogo. A expressão “habitou” ou, mais precisamente, “tabernaculou” nos remete ao Tabernáculo de Deus, que hoje, somos nós, o Corpo de Cristo, onde o Espírito Santo habita. É impressionante que João tenha escolhido a palavra grega skēnē (tenda), tão semelhante ao termo hebraico shekînah (habitação), na formação dos verbos usados. 6 A imagem visualizada por Davi é a de um grande ajuntamento (em hebraico: אסףasaph) de tudo o que deve ser destruído, uma alusão a Abraão, em Gn 18.25, e à parábola do joio, em Mt 13.30. A expressão no original “homens de sangue” (vv.4,5), aparece em algumas versões como “homens sanguinários”, o que em nossos dias corresponde àqueles por meio dos quais vidas inocentes são aniquiladas. 7 O termo hebraico זמה, zimmah, significa a habilidade em tramar o mal e planos ardilosos. Davi se reporta a Dt 16.19 e admoesta especialmente os notáveis da sociedade que, muitas vezes, são os que mais se dão a subornar e a serem subornados. Davi lamenta que a justiça estivesse exposta à venda e de que tão facilmente pessoas vendessem sua honra e o temor a Deus. 8 A profissão de fé de um homem piedoso: 1) integridade e devoção (v.1). Davi está determinado a persistir no caminho do Senhor; 2) humildade (v.11), ao reconhecer que não poderia ser aceito sem o perdão e o acolhimento divino; 3) confiante certeza (v.12), pois ninguém implora (v.11b), nem confia (v.1b), em vão. E, assim, o salmo que começou defensivo e apreensivo quanto aos inimigos, termina com louvor e a alegria de juntar a voz aos companheiros de fé na grande assembléia dos salvos (justificados). Capítulo 27 1 Nas mãos de Yahweh – O Senhor – estão o nosso passado, presente e futuro. Aquele que o ama, obedecerá à sua Palavra, terá certeza da sua proteção, e poderá repetir, com coragem, a proclamação do apóstolo Paulo: “...Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8.31). “Luz” é a metáfora que simboliza tudo o que deriva da verdade e do amor, as mais belas virtudes, o poder e a alegria da vitalidade. (43.3; Is 5.20; 97.11; 36.9). O poder das forças do mal não é ignorado, mas está subjugado pela “luz de Yahweh” (Javé em hebraico). Mesmo que nossa vida na terra se extinga, é o Senhor quem garante vida perene à alma fiel. 2 Algumas versões usam os verbos no pretérito, como se Davi estivesse se referindo ao passado. No entanto, essa ênfase é SALMOS 27 tegerá, e estarei abrigado no recôndito do seu tabernáculo. Acima dos altos rochedos serei colocado em segurança. 6 Então triunfarei sobre os adversários que me rodeiam. Em seu tabernáculo oferecerei sacrifícios de triunfo e gratidão; cantarei e louvarei ao SENHOR.3 7 Ouve a voz do meu clamor, ó SENHOR; tem piedade de mim e responde às minhas súplicas. 8 Meu coração compreendeu o teu mandamento: “Buscai a minha face”, e por tua presença meu ser anela.4 9 Não ocultes de mim a tua face, não me afastes de ti em ira;5 tu tens sido o meu Advogado. Não me negues tua ajuda, nem 30 teu amparo, ó Deus, meu Salvador!6 10 Ainda que meu pai e minha mãe me abandonem, o SENHOR me acolherá.7 11 Ensina-me o teu caminho, SENHOR; guia-me pela vereda dos justos e protegeme dos que me perseguem.8 12 Não me entregues ao apetite dos meus adversários, pois são caluniadores e se levantam contra mim, bufando crueldade. 13 Eles me fariam desesperar, não fora minha fé perseverante de que viverei para ver a bondade do SENHOR. 14 Confia, pois no SENHOR! Assim, fortalecerás teu coração, por depositares somente no SENHOR toda a tua esperança.9 desnecessária, pois o próprio contexto, nos melhores originais, é claro e forte o suficiente. O termo hebraico קרבkarab é usado aqui com o propósito de descrever uma alcatéia de lobos preparando-se e salivando para atacar e devorar a carne de sua presa. Mas Davi é iluminado pelo Senhor para registrar que os filhos de Deus jamais serão “devorados” pelo inimigo. Ao contrário, a ênfase “eles é que” reforça a idéia de que Deus nos livrará dos inimigos enquanto os veremos tropeçando em suas próprias maldades e caindo pelo caminho. O Senhor, além de ser a Luz que nos conduz, é também a fortaleza, o refúgio que rechaça e aniquila os perseguidores. (Êx 14.19-24; 1Sm 23.26-27; 2Rs 6.15). 3 Davi usa algumas variações da palavra “casa”, como templo (que é a palavra padrão para descrever a residência divina ou real, cf. 45.15,16), mas isso não significa que o Templo de Salomão já existisse. Essa palavra, bem como “tabernáculo”, empregase por suas associações religiosas e, não, pelos materiais de construção, pois não se podem interpretar as duas palavras literalmente. Assim como a expressão “recôndito”, que no original é “caverna do leão” (10.9; 76.2; Am 1.2; 3.8), tabernáculo fala do tipo de proteção acolhedora com a qual um hóspede era agraciado por um monarca. Davi recorda-se do seu refúgio nas montanhas e sabe que o Senhor o abençoará com paz ainda maior. Por isso, o oferecimento de ações de graça (2Sm 6.14-17; Sl 18.1-3, 26.6-8). Em latim Sacrificia jubili e, em francês, nas palavras de Calvino, Sacrifice de triomphe. Literalmente em hebraico: “Sacrifícios de aclamação e retumbância jubilosa”. Atos que se reportam à Lei - que apontava para as trombetas soando no momento dos sacrifícios (Nm 10.10), cujo som principal era mais alto, jubiloso e triunfante - chamavam-se precisamente תרועהtrughnah ou truah, que no original hebraico quer dizer “triunfo” (Nm 10.5-7). 4 Segundo os melhores e mais antigos originais hebraicos, a expressão “Buscai a minha face” remete a Am 5.4ss. e significava “ir consultar a Yahweh” em seu santuário (2 Sm 21.1). Esse termo assumiu um sentido mais geral: “procurar conhecê-lo, viver em sua santa presença” e servir ao Senhor com sinceridade e fidelidade, apesar das nossas falhas (Dt 4.29; Sl 40.17; 69.7; 105.3). 5 Uma das primeiras características de uma pessoa afastada de Deus é seu estado contínuo e sistemático de ira. A expressão hebraica original נטהnatah traduz um abandono da presença do Senhor, abandono que lança o rebelde num estado de íntima e constante murmuração, frustração, agonia, desespero e contrariedade irrompendo em manifestações de desprazer e ira. Davi suplica pela constante companhia do Senhor, a fim de não perder a lucidez e a sabedoria divina para agir na segurança da verdade, em busca da paz. 6 O sentido do termo hebraico לףleka é ambíguo, uma vez que a letra ל, lamed, é freqüentemente usada como preposição “de” ou “concernente a”. Mas o fato é que Davi está imerso em profunda reflexão sobre a Palavra do Senhor e em verdadeira oração, que é o diálogo franco e aberto com Deus. A situação triunfante (v.6) está no futuro, na esperança certa de Davi quanto ao socorro do Senhor. Entretanto, no presente, a realidade parece mostrar um afastamento de Deus. Mas Davi evoca sua confiança no “amor ajudador” do Senhor, que sempre tomou a iniciativa de “estar ao lado” (em grego, paraklêtos; ou advocatus, em latim) dos seus filhos, para socorrê-los (Zc 13.9; Jo 14.16). 7 Davi usa uma linguagem forte e hipotética para demonstrar ao Senhor toda a sua confiança no amor leal e misericordioso de Deus para com seu povo. Não há qualquer evidência de que Davi tivesse sido desprezado por seus pais. Davi expressa que o amor de Deus vai muito além dos sentimentos humanos e começa onde o amor humano se esgota. Deus não se esquece do seu povo, assim como uma mãe que amamenta não se esquece do seu bebê (Is 49.15). 8 Davi não se tornou apenas um adorador que busca a presença de Deus (v.8), mas também um seguidor (discípulo) e peregrino que se compromete a seguir o Caminho, ao longo do qual encontra obstáculos e resistências dos inimigos. Em sua oração, não pede conforto (o caminho dos justos), mas progresso certo (protege-me dos que me perseguem). Os inimigos estão representados pelos “que me perseguem” ou “os que me espreitam”, termos que no original hebraico trazem a mesma idéia de vigilância em relação aos adversários que nos observam com o objetivo de encontrar um motivo para nos destruir (Lc 11.54). 9 O Comitê de Tradução da Bíblia King James optou por uma tradução mais próxima dos originais hebraicos, hoje disponíveis para estudo dos exegetas. Portanto, os versos 13 e 14 diferem da própria tradução da King James de 1611 que, nesse caso, 31 A resposta vem do Senhor Um salmo de Davi. 28 A ti, ó SENHOR, eu suplico, Rocha minha, não deixes de ouvir o meu clamor. Pois, se permaneceres em silêncio, serei como os que voltam ao pó.1 2 Ouve a voz das minhas súplicas, quando clamo a ti por livramento, quando ergo minhas mãos em direção ao Santo dos Santos.2 3 Não me juntes aos ímpios e maldosos, no castigo que a eles está reservado, pois falam como amigos com seus companheiros, mas, na realidade, abrigam crueldade no coração.3 4 Retribui-lhes segundo seus feitos, conforme suas más obras; responde-lhes na SALMOS 28 medida de suas ações e dá-lhes o que merecem. 5 Porque não desejam reconhecer os feitos do SENHOR nem as obras de suas mãos, Ele os destruirá e jamais permitirá que se reergam.4 6 Bendito seja o SENHOR, pois atendeu às minhas petições. 7 O SENHOR é a minha força e o meu escudo. Nele confiou meu coração e do SENHOR recebeu favor. Todo o meu ser muito se alegrou, e com meu cântico eu o louvarei.5 8 O SENHOR é a força do seu povo; Ele é a fortaleza salvadora do seu ungido.6 9 Salva o teu povo e abençoa a tua herança! Apascenta-os como seu pastor e conduze-os para sempre.7 assemelha-se à tradução francesa de Calvino, baseada na Septuaginta (tradução grega do AT) na qual a expressão grega άνδρζου “Sê varonil” ou, como na Vulgata - tradução em latim do AT, Viriliter age “Age como homem”, foi traduzida, em algumas versões da Bíblia, por “Seja forte”, “Coragem!” ou ainda “Tenha bom ânimo”. Capítulo 28 1 Davi estaria passando por alguma doença grave. Seu medo não era da morte em si, mas de morrer em meio à zombaria dos inimigos e à vergonha injusta. Davi precisava da companhia perdoadora e restauradora do Senhor. A expressão “voltam ao pó” tem a ver com o Seol (Sl 6.5), mas ao mesmo tempo sugere o isolamento das masmorras destinadas aos piores pecadores (Is 14.15-19; Ez 32.27-30). O silêncio de Deus é o pior dos castigos. E a pessoa que anda sobre a terra sem poder conversar com Deus é como um zumbi (morto-vivo). 2 As mãos erguidas expressam diversos aspectos da oração: aqui o gesto tem a ver com a súplica de um livramento. O Salmo 63.4 expressa o anseio de buscar a Deus; Êx 17.9ss. refere-se à intercessão que roga o poder divino sobre outras pessoas. O apóstolo Paulo, em 1Tm 2.8, dá instruções para que se levantem mãos “santas” e “em harmonia”. O termo hebraico דבירdebir significa a sala interior do tabernáculo ou do templo, podendo ser também o “lugar santíssimo”, onde se encontrava a arca do concerto. É sugestivo que esse termo seja derivado de דבדdabar que significa o ato de se expressar por meio de palavras. Ou seja, Deus criou o homem para dialogar com ele. O ser humano não pode viver sem ouvir o Senhor. Ao mesmo tempo Deus deseja falar com o homem e revelar seus maravilhosos segredos. O ser humano é convidado a abrir seu coração no Santo dos Santos (lugar santíssimo) e ouvir o coração de Deus. Davi via no santuário o emblema do pacto de Deus e a graça prometida, exatamente como hoje os cristãos invocam o Senhor Jesus Cristo – que desceu dos céus para que pudéssemos ser elevados ao Pai – sempre que desejam orar e abrir seus corações a Deus (Jo 14). 3 O verbo hebraico משך, mashak, é melhor traduzido, a partir de seu contexto original, por “apreender” ou “apoderar-se de”, como os soldados se apoderaram de Cristo para crucificá-lo (Jo 19.16). O sentido da palavra “junte” é o de “arrastar juntamente”. Davi rogava que não fosse confundido e tomado com a multidão dos ímpios pela fúria avassaladora do juízo, pois seu coração era sincero em seu amor pelo Senhor. A Septuaginta traduz essa expressão para o grego: Mὴ συνελκύση̣ς την ψυχήν μου, “não ajuntes minha alma com”, e acrescenta: Κίαν μὴ συναπολέλη̣ς με, “e não me destruas juntamente com”. Davi expressa a indignação de todos os fiéis quanto à injustiça que ainda reina na terra e quanto à convicção de que um dia de juízo torna-se uma necessidade moral, pelo que devemos “clamar dia e noite”, pois a ira do Senhor já foi despertada (Lc 18.7). 4 Esta expressão também pode ser traduzida de forma mais literal: “que Ele os destrua, e não os edifique”. Essa era uma figura de linguagem comum entre os hebreus, segundo podemos ver em Malaquias de Edom (literalmente): “eles edificarão, Eu, porém, demolirei” (Ml 1.4). 5 É comum na literatura hebraica sagrada os profetas alterarem os tempos verbais com o objetivo de enfatizar o cumprimento das promessas do Senhor. Este versículo obedece aos tempos verbais do hebraico original. Uma demonstração da certeza da resposta divina (Sl 12.5,6). 6 Davi relembra sua condição de ungido; o escolhido do Senhor. Esse termo é, no original, a base da palavra Messias (conceito que só seria melhor elaborado no NT – Ef.1.3-13) e, por paralelismo (estilo poético dos salmos), se refere ao povo ungido (escolhido) de Deus. 7 Davi tinha plena consciência de sua missão, desde quando fora ungido por Deus pelas mãos de Samuel. Em diversas ocasiões as Escrituras atribuem a Davi o título de pastor, mas ele mesmo atribui tal ofício ao Senhor, salvo no caso em que ele é ministro (servo) de Deus. Foi Calvino quem observou que “A humanidade é pisoteada pelos pés dos reis (governantes), uma vez que a maioria rejeita e desdenha carregar a cruz de Cristo”. (Veu que la plus grand part rejette et desdaigne de porter le joug de Christ). SALMOS 29 Louvai a majestade de Deus Um salmo de Davi. 29 Tributai ao SENHOR, vós, filhos dos poderosos, rendei ao SENHOR glória e força.1 2 Tributai ao SENHOR a glória devida ao seu Nome. Adorai ao SENHOR, por causa do esplendor da sua santidade.2 3 A voz do SENHOR ressoa sobre o bramido das águas. O Deus glorioso troveja, o SENHOR está sobre a vastidão dos mares. 4 A voz do SENHOR expressa força; a voz do SENHOR é majestosa. 5 A voz do SENHOR quebra os cedros; o SENHOR despedaçou os cedros do Líbano.3 32 6 O SENHOR faz o Líbano saltar como bezerro; e o monte Hermom, como cria de búfalo.4 7 A voz do SENHOR corta os céus com raios flamejantes. 8 A voz do SENHOR faz tremer o deserto; o SENHOR faz tremer o deserto de Cades. 9 A voz do SENHOR faz tremer as corças e desnuda os carvalhos nas florestas.5 E no seu templo todos bradam: “Glória!” 10 Acima do Dilúvio estabeleceu o Eterno seu trono. O SENHOR reinará para sempre. 11 O SENHOR concederá força ao seu povo; o SENHOR abençoará o seu povo com paz.6 1 A palavra hebraica ‘ אליםēlîm é plural de ‘ēl, sinônimo de ‘ễlōhîm, Deus. Em certas expressões compostas, ‘ēl significa “poder” (Gn 31.29; Dt 28.32). A Septuaginta traduziu essa expressão para o grego, primeiramente no caso vocativo “vós, filhos de Deus”. As traduções Vulgata, Arábica e Etiópica a seguem literalmente. Jerônimo dá o mesmo sentido em latim Afferte Domino filios arietum. As paráfrases caldaicas é que traduziram “A assembléia dos anjos, filhos de Deus”, significando anjos de Deus. Entretanto, neste texto de Davi, não se trata de “anjos” (como ocorre no Sl 8.5,6), mas, sim, de “os poderosos da terra”. Assim, a melhor tradução para essa expressão é: “vós, filhos dos poderosos”. Davi não está convidando os seres celestiais para adorarem a Deus, pois isso eles já fazem diuturnamente. Davi, sim, está sendo dirigido por Deus para conclamar os reis e governantes da terra, do mais nobre ao mais vil, a se humilharem e se renderem em louvor e adoração ao Rei dos Reis e Senhor dos Senhores: Yahweh. 2 A soberba, o orgulho e a arrogância são os grandes obstáculos humanos à verdadeira e plena adoração a Deus – o Criador. Davi exorta nobres e plebeus a terem a mesma atitude dos anjos, em sua devoção ao Senhor. As palavras “glória” e “santo” são exatamente as mesmas usadas pelos serafins em Is 6.3 para expressar louvores a Deus: nesta passagem, “santo” se refere ao que Deus é, e “glória” tem a ver com tudo quanto procede do Senhor. Sua glória como Criador – o Eterno – enche toda a terra, como cantam os serafins, enquanto a “glória do seu nome” é a revelação explícita de quem Ele é, que é oferecida a seus servos por meio de suas palavras e grandes feitos. A expressão hebraica “ בהררתna beleza da sua santidade” (derivada da expressão הרר “honrar ou magnificar”) é a forma mais literal e tecnicamente correta de dar eloqüência à santidade de Deus. 3 Davi nos apresenta a mais dramática imagem do poder e da majestade de Yahweh – nosso Deus, Soberano e Juiz. O Nome do Senhor (Yahweh – Javé – Jehovah, em hebraico) é mencionado dezenove vezes, reverenciado em glória e poder sobre todos os elementos da terra: a natureza e a humanidade. As repetições relembram o estilo de alguns poemas hebraicos da antigüidade, como o Cântico do Mar (Êx 15), os oráculos de Balaão (Nm 23 e 24) e o Cântico de Débora (Jz 5). Este poema profético de Davi revela uma terrível tempestade que se levanta do oeste sobre o mar Mediterrâneo, passa por sobre toda a Canaã, desde o Líbano e o Monte Hermom (Siriom), no extremo norte, a Cades (Cadesh), no extremo sul. Aí Israel permanecera por algum tempo com Moisés, enquanto peregrinava pelo deserto. Num clímax sereno, os trovões vão desaparecendo e o Senhor surge entronizado, em julgamento sobre seu mundo, mas também – e principalmente – para ser uma bênção entre aqueles que o amam: seus filhos, seu povo. Os vv.5 e 6, quando comparados a Is 2.12-17, nos profetizam o Dia do Senhor, quando os “cedros do Líbano” (reis e poderosos pagãos), bem como todos os arrogantes, ímpios e maldosos e todas as artes e edificações nas quais o ser humano coloca seu orgulho e louvor, serão aniquilados pelo poder da glória do Senhor. Embora esse quadro sugira o terrível dia do juízo final, neste salmo o tom dominante é o júbilo do crente, expresso no v.9: “todos bradam: Glória!” 4 Literalmente, em hebraico: “O Eterno os faz saltar como bezerros, os próprios montes do Líbano e Siriom, como filhotes”. Os sidônios chamavam o monte Hermom de Siriom; os amorreus o chamavam de Senir (Dt 3.9). 5 Algumas versões trazem: “faz as corsas darem à luz”. Entretanto, o termo hebraico original יחילyachil, às vezes traduzido como “abortar”, neste caso significa “tremer”. Por outro lado, em aramaico, a expressão tem o sentido de “sacudir os animais da floresta”. A expressão hebraica transliterada “os carvalhos” difere da expressão “faz darem cria as corças”. Entretanto, as majestosas árvores (como o cedro e o carvalho), simbolizam a arrogância dos inimigos de Deus e do seu povo, e que serão humilhados a ponto de reconhecer a glória do Senhor (Is 2.13; 10.18,33; 32.19; Jr 21.14; 46.23; Ez 21.2; Zc 11.2). Por isso, a expressão “todos bradam” foi transliterada do original hebraico como “tudo grita”, enfatizando que “tudo” pertence a Deus. Portanto, Deus requer um brado de “Glória!”, não apenas ao santuário material, mas principalmente dos “templos vivos” (1Co 3.16-17; 6.19). 6 A palavra hebraica traduzida por “Dilúvio” só aparece nos originais de Gn 6 a 11. Davi escolheu a expressão mais significativa para mostrar ao mundo de sua época e a todas as gerações futuras: 1) Que o poder e a majestade do Senhor são sobre todas as potestades: 2) O universo e tudo o que há pertencem ao Senhor. 3) Os ímpios, arrogantes e toda a glória humana serão aniquilados. 4) Assim como Deus primeiro julgou o mundo por meio do Dilúvio, mediante o fogo virá o juízo final (2Pe 3.3-10). 5) Os 33 A restauração vem do Senhor Salmo e cântico de Davi para a dedicação da Casa ao Senhor.1 30 Eu te exalto, ó SENHOR, pois que me reergueste e não permitiste que meus inimigos2 escarnecessem de mim. 2 SENHOR meu Deus, a ti clamei por livramento e tu me curaste.3 3 Ó SENHOR, tiraste-me4 do fosso da morte; pouco antes de descer à cova, devolveste-me a vida. 4 Cantai louvores ao Senhor, vós que sois SALMOS 30 seus servos,5 e dai graças ao seu santo nome. 5 Pois sua fúria dura um só instante, mas sua misericórdia prolonga-se através da vida. O pranto pode durar uma noite, mas a alegria nasce ao romper do dia.6 6 Em meio a prosperidade, afirmei: Jamais serei abalado!7 7 Foste tu, ó SENHOR, que por tua mercê, estabeleceste a minha força como uma montanha; contudo, ao encobrires a tua face, fiquei aterrorizado. salvos e fiéis devem bradar: Glória! Pois seremos abençoados com a paz do Senhor para sempre. Veremos o “arco da aliança do Senhor” nos céus, como os salvos do Dilúvio testemunharam a graça de Deus, cujo sinal se perpetua até nossos dias. O salmo que começou em Gloria in excelsis termina com in terra pax. Capítulo 30 1 A expressão original em aramaico aqui traduzida por “Casa” é a mesma utilizada para “templo” ou “palácio” (2Sm 5.11; 6.9-14; 1 Rs 8.63). A tradição judaica aponta para a celebração – ainda hoje vigente – de Hanuká, comemoração da dedicação do altar do templo: רבירdebir “sala interior do templo” ou “lugar santíssimo”. Davi consagra seu palácio real ao Senhor e ensina o povo a consagrar suas vidas (seus templos) e suas casas ao Senhor. Pois sem ações de graças não existe qualquer uso puro e lícito dos bens que Deus nos permite possuir por um tempo. Por isso, ao oferecerem as primícias a Deus, reconheciam que estavam oferecendo ao Senhor o excedente do ano inteiro (essa é a idéia básica do dízimo, melhor compreendida no NT). De igual forma, ao consagrar a Deus suas habitações, declaravam-se arrendatários de Deus, confessando-se estrangeiros, e que Deus era quem os hospedava e lhes concedia a moradia. A cerimônia passou a ser levada tão a sério pelo povo de Deus, que uma família só declarava sua residência “consagrada”, quando se sentia segura para afirmar que aquela “casa” podia ser considerada como um “santuário de Deus”, pois nela reinava genuína piedade e imaculado culto a Deus – Yahweh. Embora o rigor dessas leis não prevaleça no NT, o apóstolo Paulo nos exorta a que todas as coisas, as quais Deus nos concede a graça de conquistar, sejam ainda “santificadas pela palavra de Deus e pela oração” (1Tm 4.4-5). Davi estava exultante pela dupla bênção recebida: havia recebido a restauração da própria vida e a restauração do reino. Em algumas traduções da Bíblia, bem como no AT em hebraico, este subtítulo é considerado como o primeiro versículo do salmo. 2 Estando debilitado física e psicologicamente, Davi rogava a Deus que seus inimigos não vissem, em sua ruína, motivo para zombar do poder e do cuidado que o Senhor dispensa aos que nele esperam. De modo semelhante, Ezequias, mais tarde, buscaria no Senhor forças para que suas esperanças prevalecessem sobre seus inimigos (2Rs 19.3). No NT, o apóstolo Paulo expressa sua preocupação positiva (At 20.24), e vê o cumprimento da graça do Senhor (2Tm 4.7). Mais importante do que começar bem é terminar bem. 3 O termo hebraico original רפאrapha significa “curar”, mas seu sentido é ainda mais amplo, podendo ser compreendido também como “restaurar” ou “recompor”. Algumas vezes é aplicado à “reforma” de uma casa e em outros casos refere-se a um “livramento” importante. Deus respondeu às orações de Davi e o abençoou com cura física, emocional, e o livrou de todos os seus inimigos. Por isso Davi conclama todos os fiéis – de todas as épocas – a se unirem num brado de louvor ao Senhor. 4 Davi esteve muito doente, à beira da morte. Ao mesmo tempo foi perseguido cruelmente por seus inimigos que, como lobos, procuravam destruí-lo e festejar sua derrota com seu próprio sangue. Esta expressão é a mesma usada em Êx 2.10, quando a filha do faraó dá o nome de Moisés ao filho adotivo, dizendo: “Porque eu o tirei das águas”. Nos originais, em hebraico, oדליתני “içar de um poço”. Literalmente seria: “Tu me tens içado para fora de um calabouço”. Davi se viu próximo do Sheol (sepulcro, profundezas, pó ou lugar dos mortos) Ez 32.18-32; Jó 3.13-19; 10.22; Ec 2.16; Is 5.14; 14.13; 26.19; 38.18-19; Dn 12.1-3; Jn 2.2; Hc 2.5; Mt 16.18; Jo 9.4; Hb 9.27. 5 O termo hebraico חסיריםchasidin significa “mansidão”, mas com freqüência descreve os fiéis e sua adoção celestial, a qual deve motivá-los à prática do bem em favor do próximo (Mt. 5.45). 6 O termo hebraico transliterado em “indignação” deve ser compreendido ao lado da expressão “pequeno intervalo de tempo”, demonstrando a cólera ou ira momentânea do Senhor com sua repreensão e correção, severa e amorosa, e nunca desassociada de sua eterna misericórdia e proteção para com os seus. O NT tornará mais claro esse conceito de “tristeza que produz alegria” (2Co 4.17; Jo 16.20-22), bem como a correlação entre os problemas agudos, graves, mas passageiros, e o “eterno peso de glória” (2Co 4.17). Literalmente: “Ao entardecer, o choro pode chegar para passar uma noite...”. 7 A expressão hebraica שלוהshiluah tem a ver com um tipo de segurança que é fruto da fé nas circunstâncias favoráveis, as quais podem nos induzir a crer que somos auto-suficientes, esquecendo-nos de nossa dependência constante de Deus. É saudável desenvolver uma elevada auto-estima e autoconfiança. Entretanto, quando essas virtudes se tornam em arrogância e soberba, a queda está próxima (Pv 1.32-33; Jr 22.21). SALMOS 30, 31 A ti, ó meu Deus8, clamei. Ao SENHOR supliquei misericórdia: 9 Que proveito haverá em meu sangue, se me fizeres descer à sepultura? Acaso louvar-te-á o pó? Poderá ele proclamar a tua fidelidade?9 10 Ouve, SENHOR, e tem misericórdia de mim; SENHOR, sê tu o meu socorro. 11 Converteste o meu pranto em dança; substituíste meu traje de luto por roupas de alegria.10 12 Para que todo o meu ser cante louvores a ti e não se cale. Ó SENHOR, Deus meu, ações de graças te dedicarei por todo o sempre.11 8 34 Fortaleza na angústia Um Salmo de Davi. Ao mestre de música. 31 Em ti busquei refúgio, ó SENHOR; não permitas que eu jamais seja frustrado. Por tua justiça, abriga-me.1 2 Inclina para mim teu ouvido e apressate em resgatar-me. Sê minha Rocha inabalável, a fortaleza da minha salvação. 3 Tu és meu rochedo e a minha fortaleza; pela honra do teu Nome, conduze-me e guia-me. 4 Livra-me da cilada que me armaram, pois tu és o meu refúgio. 5 Nas tuas mãos entrego o meu espírito; tu me resgataste, SENHOR, o Deus verdadeiro.2 8 O termo usado no hebraico original é יהוהYahweh,Yehovah ou Jehovah. Modernamente os textos judaicos traduzem como Adonai (Javé) ou Eterno. Calvino traduziu por Dominus. 9 O sangue contém a vida (Gn 9.6; Lv 1.5; Sl 72.14; 106.38), portanto, Davi se refere à possibilidade da sua morte. Alguns tradutores acham a expressão “proveito” um tanto comercial, mas qualquer sinônimo não poderá fugir ao sentido original de “prejuízo”. Davi está refletindo sobre seu grave pecado de desobediência direta às ordens de Deus e à Lei, ao promover, em Israel, um censo com finalidade militar e por vaidade pessoal (Êx 30.12-15; Nm 1.2-4, 47-49; 2Sm 24; 1Cr 21). Deus se enfurece com a falta de obediência (que em última análise é traição) de Davi a Ele e à Lei, da qual deveria ser fiel guardião e promotor, e permite que uma epidemia mate cerca de setenta mil israelenses; sendo Davi, como ungido do Senhor, o responsável direto por essa desolação entre seu povo. 10 Davi cometera muitos erros e pecados, mas não nutria qualquer insensibilidade estóica (impassibilidade diante da dor e dos infortúnios), como ocorria com os reis pagãos. Ao ver seu povo perecendo por sua causa, Davi prostrou-se e suplicou a misericórdia e o perdão do Único que poderia socorrê-lo: Yahweh – o Senhor. Davi cobriu-se de cilício (em hebraico: שקsak), uma pequena túnica feita de crina, lã áspera ou farpas de madeira, que por penitência os antigos usavam sobre a pele, sem qualquer proteção. Era um sinal público de arrependimento e martírio por um pecado cometido. A tristeza leva o fiel ao arrependimento e à sabedoria (2Co 7.10). Deus se compadeceu de Davi e reconheceu a sinceridade do seu arrependimento; pois o Senhor não olha as lágrimas, mas vê o coração, e perdoou a Davi. O perdão liberta e promove alegria interior. Davi agora podia ir ao templo, trocar a roupa de luto e tristeza por vestes de regozijo, fazer novos votos de fidelidade a Deus e oferecer sacrifícios de louvor e gratidão ao Senhor com cânticos e danças espirituais, conforme a tradição judaica da época (2Sm 6.16; Sl 26.6-7; 118.27-28). 11 O termo hebraico original כבורkebod significa “glória” e pode também ser usado no sentido abstrato de “plenitude do ser”, o que no pensamento grego seria “alma” e para nós “coração”: o centro dos sentimentos, num sentido figurado. Os antigos hebreus criam que o ser humano recebia a “Imago Dei” (Imagem de Deus) dentro de si, e que essa “glória” ia se intensificando e dominando a natureza humana à medida que a pessoa se consagrasse em devoção a Deus. Davi vencera uma batalha, mas não a guerra. Outros embates e fraquezas viriam, mas uma certeza permaneceu: a vitória será sempre daquele que, em obediência, crer no Senhor (Rm 8.28-37). Capítulo 31 1 Diversos homens de Deus fizeram uso deste salmo: Jeremias escreve suas confissões olhando para o v.13; Jonas faz uso do v.6, e Jesus faz uso da primeira parte do v.5, suas últimas palavras, ao padecer na cruz do Calvário, cerca de mil anos mais tarde. O próprio Davi, em sua velhice, começa uma de suas últimas orações, o salmo 71, retomando o conteúdo dos primeiros versos deste salmo 31. Em algumas cópias gregas, surge a expressão “Liberta-me” que aqui foi traduzida por “abriga-me”, por estar mais de acordo com os mais antigos e fiéis originais em hebraico. Davi buscou proteção no Senhor e a resposta de Deus é prova de sua existência e de seu cuidado pessoal para com aqueles que nele crêem. O silêncio de Deus acarretaria a zombaria dos inimigos sobre seu nome e a destruição de seu servo. Davi não pede porque é inocente ou mereça, mas, sim, porque é redimido (v.5). 2 Depois de presenciar a morte de milhares de pessoas do seu povo, Davi chega ao mais profundo entendimento sobre o que é viver: é entregar sua força vital (o espírito) nas mãos do Senhor. Davi louva a Deus por seu resgate. A palavra hebraica original transliterada em pāđâh raras vezes é empregada com respeito a expiação; o sentido mais comum e correto é o de libertação ou resgate das aflições. O livramento aqui é tão certo como se já tivesse ocorrido (o verbo hebraico está no tempo perfeito, o que corresponde ao pretérito perfeito em português), ou que os livramentos do passado motivam Davi a esse ato de completa entrega do seu ser a Yahweh (em hebraico, – )יהוהDeus Único e Verdadeiro (Lv 6.4; 1Rs 14.27; Jr 36.20; Lc 23.46). Davi condena a idolatria e aponta para o Único capaz de nos livrar das ciladas do inimigo e da morte eterna. Cerca de mil anos mais tarde, Jesus Cristo repete a expressão de entrega de Davi, diante do seu povo. Agora não eram milhares de pessoas morrendo por causa do pecado 35 Repudio os que se mantêm em crenças vãs e enganosas. Eu, porém, confiarei só no SENHOR!3 7 Exultarei com grande alegria por tua misericórdia, pois viste a minha aflição e compreendeste a angústia da minha alma. 8 Não me entregaste nas mãos do inimigo, mas aplainaste um caminho para que meus pés passassem seguros.4 9 Tem misericórdia de mim, ó SENHOR! Pois o desespero tomou conta da minha alma e do meu corpo; os meus olhos se consomem em prantos. 10 A minha vida tem transcorrido em aflição, em lamentos, meus anos; devido à culpa, minhas forças se esgotaram e meus ossos se enfraqueceram.5 11 Por causa da quantidade de inimigos que me cercam, tornei-me um escândalo; para meus vizinhos, objeto de desonra; e terror, para os meus amigos. Os que me 6 SALMOS 31 vêem na rua fogem para longe da minha presença. 12 Sou esquecido por eles como se estivesse morto; sou considerado como um vaso quebrado. 13 Ouço muitos murmurando sobre mim; o pavor me cerca por todos os lados,6 pois sei que conspiram contra mim, tramando como tirar-me a vida. 14 Mas em ti confiei, ó SENHOR, e proclamei: “Tu és o meu Deus!” 15 Os meus dias estão em tuas mãos; livra-me dos meus inimigos e daqueles que me perseguem.7 16 Faze resplandecer sobre mim a tua face;8 salva-me por tua benevolência. 17 Não seja eu decepcionado, pois com fé te invoquei; humilhados e sem esperança deixa os ímpios; que calados, fiquem no túmulo.9 18 Sejam emudecidos os seus lábios men- de um ungido do Senhor, mas sim o Ungido de Deus que entregava seu fôlego de vida humana, seu espírito, em sacrifício ao Pai, para a salvação de milhões e milhões de cristãos, pelos séculos dos séculos. Por isso, Estêvão o invoca para que seja seu refúgio, ao clamar: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (At 7.59). 3 Davi tinha uma convicção inegociável: ele amava ao Senhor de todo o seu coração, e só no Senhor confiava como sendo o Único e verdadeiro Deus – Criador do universo e da raça humana. Assim como creram Abel, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Moisés e todos os demais profetas e homens de Deus (Hb 11). A expressão hebraica הבלhebel não se refere apenas a adoração a ídolos, mas também inclui em seu amplo significado, as crenças em teorias fúteis, ilusórias e inverossímeis. Por isso, todos quantos se deixam influenciar por cultos a ídolos, superstições, benzeduras, astrologia ou amuletos, assim como os animistas, deístas, heréticos ou agnósticos precisam ouvir a voz de Deus, arrepender-se de seus pecados, e entregar-se ao Senhor (Cl 2.8). Algumas versões trazem “tu detestas” ou “aborreces”, mas o termo no original hebraico indica que Davi é quem se expressa; “eu rejeito” ou “eu detesto” podendo ser estas outras traduções plausíveis. 4 O verbo hebraico original, aqui traduzido por “entregaste” era, normalmente, usado para indicar a condenação de alguém à prisão, contrastando com a liberdade declarada no v.8, o que dá à poesia hebraica beleza e significado ainda maiores. Deus usa seu poder para amorosamente escutar o íntimo (alma) de cada um de nós, e nos responde segundo sua misericórdia infinita e seu plano maravilhoso para cada indivíduo, por quem ele anseia ser chamado de Abba (papai ou pai querido, em aramaico Êx 3.6; Mc 14.36; Rm 8.15; Gl 4.6). 5 A expressão hebraica עוןon tem um significado amplo e curioso para a cultura ocidental: tanto pode significar “pecado” como castigo – especialmente na forma de culpa – que advém do erro cometido e persegue renitentemente o culpado, aterrorizando sua mente, chegando a provocar depressões profundas e diversas reações psicossomáticas (cefaléias, dores musculares, diabetes, alergias, bronquites, úlceras e até cânceres). Além disso, a forma hebraica usada aqui ( )וןעsignifica a “aflição” do remorso que a iniqüidade (extrema injustiça) sempre produz (Gn 4.13; 1Sm 28.10; 2Rs 7.9; Is 53.6-11). Ocorre que não era Deus quem estava condenando Davi, mas, sim, ele mesmo (a consciência), os homens (inimigos), e o diabo (o Inimigo), nossos maiores acusadores. Ao tirar os olhos do perdão de Deus, veremos um exército pronto a nos fuzilar. Jeremias conhecia esse assédio perverso (Jr 6.25; 20.3-10; 46.5; 49.29; Lm 2.22), a que chamou de “terror de todos os lados”. 6 A expressão hebraica “Magor- Missabib” (Terror-por-todos-os-lados) foi o mesmo nome que Jeremias deu a Pasur, o sacerdote que havia mandado açoitar o profeta, significando que “ele seria terrível para si e para todos os seus amigos” (Jr 20.1-4). 7 Em meio aos rumores de morte e às ciladas dos inimigos, Davi recorre à sua mais poderosa arma: sua fé absoluta em Yahweh – Nosso Único e Poderoso Deus. E afirma sua convicção no livramento do Senhor conjugando, no original hebraico, o futuro, como se passado fora. Além disso, Davi enfatiza a soberania de Deus e sua intimidade e dependência do Senhor para viver cada dia, antes de expressar suas petições. 8 Davi recorre à Palavra de Deus, como todos nós deveríamos proceder – especialmente em meio às tribulações da vida – e suplica a bênção do Senhor (Nm 6.25), que se tornou marca e tradição do povo de Deus. Essa expressão hebraica traz, em seu sentido original, a idéia de: “Senhor, mostra tua misericórdia e generosidade para com teu servo”. 9 Davi suplica que o Senhor demonstre, uma vez mais, que a fé daqueles que confiam em Deus não é vã; ao contrário dos SALMOS 31, 32 tirosos, pois com arrogância e desprezo desonram os justos. 19 Imensa é a misericórdia que destinas àqueles que te temem e que, à vista de todos, dispensas aos que em ti buscam refúgio. 20 No recôndito da tua presença os abrigas das intrigas dos soberbos; na tua habitação, os proteges das línguas maledicentes. 21 Bendito seja o SENHOR que me fez conhecer sua misericórdia e lealdade quando eu estava em uma cidade cercada.10 22 Em meu desespero, pensei: Fui excluído da tua presença! Contudo, tu ouviste as minhas súplicas quando clamei por teu socorro.11 36 23 Amai o SENHOR, vós todos os seus fiéis. O SENHOR defende os leais, mas aos arrogantes retribui com largueza.12 24 Sede fortes e corajosos; Ele fortalecerá o vosso ser, vós todos os que confiam e esperam no SENHOR!13 O perdão que restaura Um salmo didático de Davi.1 32 Bem-aventurado aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados apagados! 2 Como é feliz aquele a quem o SENHOR não considera iníquo e em cuja alma não há hipocrisia!2 3 Enquanto mantive meus pecados inconfessos, meu ossos se definhavam e minha alma se agitava em angústia.3 caluniadores e ímpios, cuja astúcia e crueldade os conduzirá para o silêncio do Sheol (expressão hebraica para morte, túmulo, sepulcro ou volta ao pó) e à completa falta de esperança. Os incrédulos e faladores serão obrigados a se calar diante da justiça e do poder do Senhor – nosso salvador. 10 Davi exalta a proteção que o Senhor concede a seus fiéis, realizando seus feitos em público (“diante dos filhos dos homens”, como traduziu Calvino). Por isso, com esse eulogium (louvor, em latim), o salmista proclama o poder da divina providência, porquanto ela é suficiente para eliminar todos os males e promover o livramento e a justiça; enquanto brilha sobre os piedosos, concedendo alívio, consolo e vitória, ela cega, cala e debilita as mãos dos perversos. A expressão hebraica ריבסיםrikasim indica que as pessoas perversas e malévolas são antes de tudo “soberbas”, pensam sobre si mesmas muito além do que convém e, por isso, se julgam merecedoras do serviço e louvor dos mais humildes (v.20). Aos fiéis, entretanto, o Senhor os guarda, protegidos, em seu recôndito; “seu mais oculto” ou “à sombra da tua presença”, como em alguns textos hebraicos. 11 A expressão hebraica חפזchaphaz, traduzida em algumas versões por “pressa” ou “espanto”, realmente tem um significado mais amplo, refletindo o estado de ansiedade, pânico e desespero que conturbava o equilíbrio psicológico de Davi naquele momento, assim como já havia ocorrido outras vezes (116.11). O termo hebraico אבןaken deve ser entendido aqui como palavra adversativa, “todavia” ou “não obstante”, a fim de mostrar que apesar dos maus pensamentos e sentimentos de deserção, com os quais todos nós somos tentados, a graça e a imensurável bondade do Senhor trouxeram Davi à sensatez da fé, venceram a incredulidade, e moveram sua alma a conclamar seu povo para confiar em Deus e adorá-Lo. 12 A expressão hebraica original על־יתרal-yether aparece em algumas versões com o sentido de “dar ao ímpio o que ele merece”. Entretanto, a expressão tem um sentido mais complexo e abrangente, mostrando que a justiça de Deus é extremamente severa para com o incrédulo, podendo estender-se a seus filhos e netos. 13 Esta é uma tradução mais significativa do ponto de vista do conteúdo dos melhores originais hebraicos. Estamos diante de uma garantia de ajuda e companheirismo de Deus, se tivermos a ousadia (coragem) de aceitar o convite do Senhor, em vez de uma dupla exortação, como aparece em algumas versões. De qualquer forma, não se trata de uma promessa de pôr fim aos problemas, mas de conceder capacidade para vencê-los (Lc 22.42,43). Capítulo 32 1 Este salmo é uma seqüência do Salmo 51, e são chamados de “salmos penitenciais”. Neles Davi confessa seus pecados cometidos a partir do momento em que se permitiu tentar e seduzir pelos encantos físicos de Bate-Seba. A expressão hebraica maskil, traduzida aqui como “didático”, significa um poema contemplativo e pedagógico, em que as duas partes (vv.1-7 e 8-11) de ritmo diferente se respondem. Tendo experimentado, no corpo e na alma, quão severa é a correção (o peso da mão divina) do Senhor contra aqueles que fazem o que não é justo diante de Deus, proclama seu aprendizado: estar em íntima comunhão com Deus é a verdadeira felicidade. Davi descreve a bênção do perdão do Senhor, que restaura plenamente o fiel, e que se seguiu à disciplina e à confissão (vv.1-5); depois anima outros a buscarem o livramento divino em vez de teimosamente se recusarem a segui-lo (vv.6-10), exortando-os, finalmente, a se alegrarem no Senhor (v.11). 2 No NT, o apóstolo Paulo fará uso deste texto para mostrar que a justiça em nós criada, não vem de nós mesmos, mas é uma dádiva de Deus, concedida aos fiéis (Rm 4.6-8). Somente pela fé no Senhor, é possível apropriar-se da justificação e, portanto, sentir-se plenamente restaurado (Gn 15.6). A expressão “alma” ou “espírito” traduz o sentido hebraico antigo de “entranhas” ou “íntimo dos sentimentos e decisões humanas”. 3 O reconhecimento do erro, com a devida e sincera confissão ao Senhor, e o forte propósito de se afastar dele, incluindo, quando possível, restituição do prejuízo causado, fazem parte de um processo terapêutico que conduz o pecador a libertação 37 Pois dia e noite a tua mão pesava sobre mim e minhas forças se desvaneceram como a seiva em tempo de seca.4 Pausa 5 Confessei-te o meu pecado, reconhecendo minha iniqüidade, e não encobri as minhas culpas. Então declarei: Confessarei minhas transgressões para o SENHOR, e tu perdoaste a culpa dos meus pecados. Pausa 6 Dessa maneira, todos os que têm fé orem a ti, enquanto podes ser encontrado; quando as muitas águas se levantarem, elas não os alcançarão.5 7 Tu és o meu abrigo seguro; tu me livras das aflições e com cânticos de salvação me envolves.6 Pausa 8 Diz o SENHOR: Instruir-te-ei e te guiarei 4 SALMOS 32, 33 no caminho a seguir; os meus olhos estarão sobre ti para aconselhar-te. 9 Não sejais como o cavalo ou a mula, que não possuem compreensão, mas precisam ser controlados com o uso de freios e rédeas, caso contrário não poderiam obedecer. 10 Muitos são os sofrimentos do ímpio, mas a bondade do SENHOR protegerá quem nele confia. 11 Alegrai-vos no SENHOR, ó justos, e cantai bem alto, vós todos que sois retos de coração!7 Louvai o Criador do Universo Ó justos, exultai no SENHOR! O desejo dos retos é louvar a Deus.1 2 Celebrai ao SENHOR com harpa, oferecei-lhe música com lira de dez cordas. 33 e felicidade plenas. O verbo hebraico חרש, na conjugação hiphil, significa: ponderar, considerar, estar em profunda meditação e preocupação. No texto, seu sentido não é o de “cobrir” ou “calar”, como aparece em algumas versões, mas, sim, o de “não confessar” ou “não declarar” ao Senhor – com genuíno arrependimento – os erros (pecados) cometidos. Em 1Co 11.30, o apóstolo Paulo esclarece sobre o auto-exame das consciências diante de Deus, antes de se participar da comunhão dos fiéis. Muitas doenças são fruto de consciências pesadas e em falta diante do Senhor, cuja cura estaria na confissão a Deus e na comunhão com os irmãos de fé. 4 As expressões hebraicas transliteradas em lesaday “um feixe de palha ou um campo” e leshaddi “minha seiva” formam um jogo de palavras poéticas de difícil decifração. Tanto que Jerônimo traduziu por: “revolvi-me em minha miséria enquanto se inflamava a ceifa”. O texto siríaco apresenta uma boa tradução: “minha dor se revolveu em meu peito até aniquilar-me”. Em aramaico: “minha seiva se alterava com o ardor da seca”. 5 Davi se refere ao tempo da Graça, ou seja, hoje. Haverá um tempo em que a Graça do Senhor será recolhida da terra e, nesse dia, não haverá mais possibilidade de se falar com Deus por meio da oração com a certeza de que ele está pronto para ouvir com misericórdia e perdão (Is 55.6-7). Na versão Septuaginta (o AT em grego), a tradução é: “No tempo de achar favor”; na Arábica, “Numa época de se ouvir”; e na Siríaca, “Num tempo aceitável”. A expressão “as muitas águas” tem a ver com a lembrança do grande juízo do dilúvio e se refere a todos os perigos e sofrimentos dos quais parece não haver qualquer possibilidade de escape. Entretanto, para aquele que coloca toda a sua confiança (fé) no Senhor – Yahweh, permanece a profecia de Joel: “E ocorrerá que todo aquele que clamar o nome do Senhor será salvo” (Jl 2.32). 6 Os salmos de Davi são recitados até hoje nas casas judaicas e nas sinagogas em todo o mundo. Alguns judeus costumam ler todo o livro uma vez por semana, outros completam a leitura e recitação em um mês. Este versículo é assim transliterado: Ata séter li mitsar titserêni, ranê falet tessovevêni sêla. Como já foi explicado, o termo sêla ou selá foi traduzido como Pausa. 7 Davi confessou seus pecados ao Senhor e, tendo sido perdoado pelas misericórdias de Deus (1Jo 1.9), agora retoma sua posição de rei e profeta ungido. Nos melhores textos hebraicos, aparece a tradicional intervenção do Senhor, quando fala por meio do profeta: “Diz o Senhor:”(v.8), para todos nós, pois no texto original as instruções do Senhor estão no plural (v.9). Somos exortados a cultivar uma alma (espírito) capaz de aprender e adquirir sabedoria. Se o perdão é bom, a comunhão é melhor. Se já sentimos o “peso da mão” do Senhor, é melhor valorizarmos seu toque mais suave e seus conselhos. Somos convidados a uma cooperação inteligente e amiga com Deus (Jo 15.15). Por mais que se adestre um cavalo, jamais se poderá ensiná-lo a refletir sobre um conselho dado. Por isso, as expressões hebraicas ( רשעatitude indomável e impensada) e ( בטחatitude dócil e reflexiva) são usadas em bela oposição poética para ilustrar o contraste dos irracionais em relação aos sábios. Cavalos e mulas só aprendem a obedecer em função de pressões e condicionamentos físicos (Jr 8.6). Mas todos aqueles que amam o Senhor com sinceridade podem bradar de alegria, expressando na adoração os cantos de livramento, já antecipados pelo salmista, em meio à aflição (v.7). Capítulo 33 1 Não há indicação de autoria neste salmo. Entretanto, a convocação inicial retoma a nota com a qual terminou o salmo anterior: “exultai”, é da mesma raiz que “cânticos de salvação” e “cantai bem alto” (32.7,11). O termo hebraico אוהavah significa “querer” ou “desejar”. Embora algumas versões o tenham traduzido por “ficar bem”, o sentido mais fiel da expressão original é mostrar que os fiéis sentem naturalmente um forte desejo de louvar a Deus por meio de poemas, hinos e cânticos; notadamente em voz alta SALMOS 33 Entoai-lhe um cântico novo, tocai com arte e júbilo na ovação.2 4 Porque a Palavra do SENHOR é verdadeira; Ele é fiel em tudo o que realiza. 5 Ele ama a justiça e o direito; a terra está repleta da bondade do SENHOR.3 6 Os céus foram criados mediante a palavra do SENHOR, e todos os corpos celestes, pelo sopro de sua boca.4 7 Ele recolhe as águas do mar num vaso, e dos abismos faz reservatórios.5 8 Toda a terra tema o SENHOR; tremam diante dele todos os habitantes do mundo. 9 Pois ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo surgiu. 10 O SENHOR desfaz os planos das nações e frustra os intentos dos povos.6 11 Mas os planos do SENHOR permanecem 3 38 para sempre, os projetos do seu coração por todas as gerações. 12 Feliz a nação cujo Deus é o SENHOR, o povo que Ele escolheu para lhe pertencer! 13 O SENHOR olha dos céus e observa toda a humanidade; 14 do seu trono Ele contempla todos os habitantes da terra; 15 Ele que forma o coração de todos, que conhece tudo o que fazem. 16 Não há um monarca que se salve com a força dos seus exércitos; nem o guerreiro mais poderoso pode se livrar. 17 O cavalo é ilusão de livramento, e todo o seu vigor não ajuda a escapar. 18 Eis que os olhos do SENHOR estão sobre os que o temem, sobre os que firmam toda a esperança em suas misericórdias, e com muita alegria espiritual. Os anjos são mestres nesse mister. Enquanto, no verso 3 o verbo “entoai” reflete com propriedade os gritos de aclamação ao Rei (Nm 23.21), pede, também, três qualidades raramente encontradas juntas em músicas religiosas: originalidade, perícia e santo fervor. 2 Quanto mais os fiéis são dedicados a fazer a vontade de Deus, mais belo e eloqüente é o louvor que produzem. A expressão hebraica היטיבheytib é uma convocação a que se cante com força e harmonia; alto e afinado. Esse termo tem origem nos gritos de guerra do passado (Êx 32.17; Js 6.5; Jz 7.20-21; 1Sm 17.20,52; Jr 4.19; 49.2; Os 5.8; Am 1.14). Era uma saudação a Yahweh – o Senhor, como Rei e Comandante da guerra (Nm 23.21; Sf 1.14; cf. 1Sm 10.24), e à arca sagrada, seu baluarte (1Sm 4.5; 2Sm 6.15). Depois do Exílio esse “grito ritual” (ovação ou aclamação) toma um sentido cultural e litúrgico; ele exalta Yahweh, Rei de Israel e dos gentios (Sl 47.2,6; 89.16; 95.1; 98.4,6), o Salvador (Is 44.23) e o Juiz (Jl 2.1), bem como seu Messias (Zc 9.9). Esse brado de louvor é lançado nos dias de festa (Ed 3.11, cf. Jó 38.7), nos sacrifícios de ação de graças (Sl 27.6; 100.1; Jó 33.26) e nas liturgias (Sl 95.1,2; 100.1 cf. Nm 10.5). 3 Os versículos 4 e 5 são o coração deste salmo: Deus é fidedigno em todas as suas palavras e obras, caracterizadas por retidão, justiça e graça. O sofrimento e a injustiça que ainda cobrem a terra não provêm de Deus, são frutos de desobediência, ignorância, arrogância e avareza humanas, insufladas pelos ideais destrutivos e perversos de Satanás. Olhemos, por exemplo, a figura do deus grego Zeus, deus que odiava e guerreava com outros deuses e com a humanidade. Milhões de pessoas, ainda hoje, crêem em deuses semelhantes, e o resultado dessa fé descabida é dor e ódio. 4 O salmista invoca o ato da criação (Gn 1) para exaltar o poder e o propósito de Deus para com a humanidade. Deus ordenou, e as coisas vieram a existir do nada. Deus fez tudo o que existe mediante sua “palavra” e “sopro”, ou seja, seu “hálito”, cujo vocábulo original hebraico é o mesmo para “espírito” (Jó 26.13). O sopro de Deus é o “verbo”, a “palavra”, o “logos eterno”: Jesus Cristo – a expressão criadora exalada por Deus – o Pai (Jo 1.1-5). A palavra de Deus é sempre criadora e produtiva, jamais volta vazia (Is 55.11). Por isso, devemos viver e pregar a Palavra. O salmista confirma a veracidade e originalidade do primeiro capítulo de Gênesis, refuta qualquer teoria sobre a geração espontânea e casual do universo, e afirma – na seqüência – que todas as pessoas da terra poderiam estar gozando de excelente condição de vida, se apenas, cressem, com sinceramente, no verdadeiro Deus e Pai – Yahweh (Is 1.1-20). 5 A bondade de Deus para com a humanidade se revela na maneira amorosa e especial com que o Senhor colocou nosso planeta em sua órbita elíptica e precisa, ao redor do Sol. Mais próximos não suportaríamos o calor, mais distantes a terra seria apenas uma grande esfera congelada no espaço. O zelo de Deus para com sua criação levou-o a fazer da terra um grande jardim para os seres humanos. A expressão hebraica transliterada em nō’đ significa odre – normalmente usado para conter o vinho – botija ou vaso. As traduções antigas, lendo o Texto Massorético, traduziram equivocadamente a expressão nē’ď, que significa “montão”. As versões antigas entendiam que as consoantes hebraicas significavam “odre”. Os textos hebraicos hoje usados nas sinagogas trazem a expressão “vaso”, no sentido de “lugar” ou “recipiente” onde o Senhor, delicadamente, represou as águas dos mares e oceanos para desenvolver nosso ecossistema planetário. 6 O salmista compara a glória obediente da natureza à rebeldia injusta do homem. Os planos do Senhor serão todos implementados e sua vontade permanecerá eternamente (Is. 40). Todos os projetos humanos e as próprias ciladas do diabo redundam em nada e apenas servem para cumprir a Palavra de Deus (Is 44.25ss; 45.4-5) onde, aos escolhidos de Deus, são reveladas as implicações da salvação (v.12; Is 41.8-13; 42.1). A tradução grega, Septuaginta, acrescenta uma frase que não está no original hebraico nem nas versões Caldaicas e Siríaca, a saber: Καὶ άθετει βουλὰς άρχόντων, ou seja, “e frustra os conselhos dos príncipes”. A Vulgata, Arábica e Etiópica, copiando a Septuaginta, cometem o mesmo equívoco e apresentam também esse acréscimo. 39 para livrá-los da morte e garantir-lhes a vida, mesmo em épocas de fome. 20 Todo o nosso ser espera no SENHOR; Ele é o nosso amparo e a nossa proteção! 21 No SENHOR se alegrará nosso coração, já que em seu santo Nome colocamos toda a nossa fé. 22 Derrama sobre nós tua bondade, ó SENHOR, em proporção às esperanças que só em ti depositamos.7 19 Graças pelo livramento Um salmo de Davi, quando se fingiu de louco diante de Abimeleque, que o expulsou. E, assim pôde escapar.1 34 Bendirei o SENHOR em toda circunstância, seu louvor estará sempre em meus lábios.2 Alef SALMOS 33, 34 2 Eu me gloriarei no SENHOR; que todos os humildes e oprimidos ouçam e se alegrem.3 Bet 3 Proclamem a majestade do SENHOR comigo, e todos a uma voz, exaltemos o seu Nome. Guimel 4 Busquei o SENHOR e ele me respondeu, e dos meus temores todos me livrou. Dalet 5 Contemplai-o e sereis iluminados de felicidade; vossos rostos jamais experimentarão a decepção.4 He 6 Clamou este pobre homem, e o SENHOR o atendeu; e o libertou de todas as suas tribulações. Zayin 7 O Anjo do SENHOR acampa-se ao redor 7 O julgamento e a salvação ficaram evidentes, pois o poderoso domínio de Deus não é tirano. Baseia-se no perfeito conhecimento (vv.13-15), controle (vv.16-17) e amor (vv.18-19). A palavra hebraica para “todos”, no v.15, é “juntos”, o que assevera não sua uniformidade, mas, sim, o discernimento que Deus tem de todos os seres humanos, como indivíduos. Os versos 18 e 19 são uma afirmação de que o fiel, com Deus, é maioria, contrariando o antigo adágio secular, nascido no coração amargurado de Voltaire: “Dizem que Deus sempre favorece os grandes exércitos”. Mesmo em nosso mundo corrupto e violento, não é a força que tem a última palavra. Quando ela prevalece, é por algum propósito divino, não por seu próprio poder (Is 10.15; Jr 27.5-6). Mas o olhar amoroso e justo de Deus estará para sempre sobre seus fiéis, para protegê-los e os livrar de todo mal. Finalmente, a esperança está no “Nome de Deus”, ou seja, em seu caráter revelado (Êx 34.5-7). Essa “esperança certa” não se concentra na dádiva – mesmo considerando que há lugar para isso (Rm 8.18-25) – mas no Doador. Essa esperança (fé), jamais nos decepcionará (Rm 5.5). Capítulo 34 1 Como já foi comentado, todos os textos iniciais dos Salmos, aqui apresentados em forma de subtítulos, fazem parte do texto sagrado original em hebraico e compõem o primeiro versículo: Ledavid, beshanoto et tamo lifne Avimélech, vaigareshêhu vaielach. Este é um salmo de gratidão pelo livramento milagroso de Davi das mãos de Aquis, cujo título monárquico era Abimeleque, rei de Gate, e que significa “pai e rei”. O subtítulo indica a ocasião como sendo a de 1Sm 21.10ss, e que colocara em risco a vida de Davi. É um acróstico, cujos versículos (menos o último) começam com as letras sucessivas do alfabeto hebraico (que aqui aparecem antes do início dos versículos), excetuando-se waw ou vav. Passados mais de mil anos, o apóstolo Pedro faz menção deste salmo em suas orientações à Igreja do Senhor (1Pe 2 e 3). 2 Davi tem mais uma experiência do poder e da atenção pessoal que Deus concede aos seus servos. O original hebraico nos transmite a idéia de um contínuo louvor a Deus, independentemente das circunstâncias. Quando, enfim formos colocados em terreno seguro e em melhores condições, poderemos comemorar o amor de Deus e testemunhar ao mundo, o valor de colocarmos toda a nossa esperança no Senhor e a Ele sermos fiéis. O NT é ainda mais explícito: “Em tudo dai graças” (1Ts 5.18; conforme Rm 8.28,37). 3 Em sua humilhação, Davi louva ao Senhor e conclama todos os fiéis que passam por situações humilhantes e que estão se sentindo oprimidos a erguerem louvores ao Senhor em todo o tempo, ou seja, sob qualquer condição. Assim como Paulo, que também passou pela vergonha de ter de fugir do governador nomeado pelo rei Aretas, mas que se “orgulhou” nas fraquezas e perseguições por causa do Senhor (2Co 11.30-33). A expressão hebraica ענויםanavim descreve um tipo de pessoa que, ao passar por situações humilhantes ou aflitivas, não se revolta, mas humildemente busca, com fé, uma solução divina. 4 O verbo hebraico נהרוnaharu é derivado da raiz אורor e significa “iluminados”, como em Is 60.5, onde descreve o rosto radiante da mãe que revê seus filhos, considerados perdidos para sempre. O mesmo termo se refere ao rosto de Moisés, em Êx 34.29, quando descia do monte, após falar com Deus. O NT também usa um termo semelhante, ao descrever o rosto do cristão contemplando a glória de Jesus Cristo (2Co 3.18). Calvino faz a seguinte observação: “Iluminados são aqueles que anteriormente se definhavam em trevas, ergueram seus olhos para Deus, como se a luz lhes surgisse repentinamente; os que se sentiram oprimidos e submersos na humilhação, novamente revestirão seus rostos de jovial alegria”. A palavra “decepção” também pode ser entendida como “vexame” ou “vergonha”. SALMOS 34 dos que o temem, e os liberta.5 Het 8 Provai e vede como o SENHOR é bom. Como é feliz o homem que nele se abriga! Tet 9 Temei ao SENHOR, vós os seus santos, pois nada falta aos que o temem. Yud 10 Os leões podem sofrer de fome, mas para os que buscam o SENHOR nada lhes faltará.6 Kaf 11 Filhos vinde e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do SENHOR. Lamed 12 Quem de vós quer ter prazer na vida, e deseja longos dias para viver em felicidade? Mem 13 Guarda tua língua do mal e teus lábios de falarem falsamente. 40 Nun Aparta-te do mal, e pratica o bem; busca a paz e empenha-te por conquistá-la.7 Samek 15 Os olhos do SENHOR contemplam os justos, e seus ouvidos estão atentos ao seu clamor por socorro. Ayin 16 A face do SENHOR está contra os que praticam o mal, para da terra apagar qualquer lembrança deles. Pê 17 Suplicam os justos, e o SENHOR os ouve e os liberta de todas as suas aflições.8 Tsade 18 Perto está o SENHOR dos que têm o coração quebrantado, e salva os de espírito abatido. Qof 19 O justo enfrenta muitas adversidades, 14 5 A expressão hebraica traduzida por “O Anjo do Senhor” e extraída do versículo em hebraico, aqui transliterado em Chone mal’ach Adonai saviv lireav vaichaletsem, surge em várias partes das Sagradas Escrituras. Em muitos casos, esse termo se refere ao próprio Deus vindo à Terra (Gn 12.7; Gn 16.7; Gn 18.22-33;). Outras vezes, refere-se também a Deus, mas na pessoa de Jesus Cristo: o Príncipe do Exército do Senhor, como em Js 5.14; 6.2. A essas aparições de Deus e seu Filho se dá o nome de teofania. Mas o termo “O Anjo do Senhor” também pode ser usado para identificar “um anjo” ou “legiões de anjos” que o Senhor destaca para missões específicas e para nos acompanhar e zelar por nossas vidas. Esses “anjos” também são chamados de “principados e potestades” e, por ordem do Senhor, estão sempre ao nosso redor (acampados e vigilantes), cuidando da preservação da nossa vida e, às vezes, em luta contra as potestades do mal, evitando que o diabo possa cumprir em nós seu alvo destrutivo (2Rs 6.8-20). São “espíritos ministradores” criados por Deus para servirem “aos que hão de herdar a salvação” (Hb 1.14). Dessa forma, jamais estamos sós. Temos o Pai e o Filho, unidos ao Espírito Santo, que reside na alma dos cristãos. E dispomos de uma multidão de anjos ministradores observando-nos diuturnamente. Não é comum vê-los ou ouvi-los, por causa dos planos de Deus (que espera de nós, primeiramente, fé em sua Palavra – Jo 20.29; Hb 6.5; 1Pe 1.3-12), e devido à diferença de dimensões nas quais vivemos, mas ao deixarmos essa vida nos encontraremos com eles para o início do eterno regozijo com Nosso Senhor (Lc 16.22; At 23.9). Uma vez que “o Anjo do Senhor” deixa de aparecer depois da Encarnação, infere-se freqüentemente que “o Anjo do Senhor”, na maioria das vezes em que o termo aparece no A.T, refere-se à Segunda Pessoa da Trindade: Jesus Cristo, A Palavra (logos, em grego), o Verbo Eterno. 6 Se o discípulo de Eliseu viu e creu, muito melhor é crer em Deus primeiro e reservar os louvores para o momento da concretização da esperança (Jo 20.29). Hb 6.5 e 1Pe 2.3 insistem em que o primeiro passo para ver é acreditar, pela fé. A defesa e as provisões eram as necessidades de Davi nesse momento, registradas em 1 Samuel 21, que é o cenário deste salmo. O rei usa algumas expressões (falta/faltará), relembrando as verdades do salmo 23. O Senhor permite a fome, mas supre as necessidades (Dt 6.24; 8.3; Rm 8.28,37). 7 Este é um trecho escrito na antiga linguagem da sabedoria hebraica, como em Provérbios, como se um velho, sábio e amoroso pai estivesse ensinando seu amado filho a caminhar pela vida, com sucesso. A fórmula não mudou desde a criação do universo e não mudará: o temor do Senhor é o princípio da sabedoria. O bem que se ensina (v.12) vai de mãos dadas com o bem que se pratica (v.14). Davi, numa primeira fase da vida, andava de acordo com esses princípios e os recomendava a todos, como faz aqui (1Sm 24.7; 26.9,23). Pedro lê Davi e cita trechos deste salmo em suas mensagens à Igreja de Cristo (1Pe 2.1,22; 3.10-12). 8 Deus acompanha pessoalmente cada ser humano em sua trajetória sobre a terra. Essa companhia é tão pessoal que as Escrituras revelam (v.15) que os olhos de Deus vêem o que nos é oculto, de modo que possa suprir nossas necessidades antes de pensarmos em lhe pedir, mas seus ouvidos estão abertos para nós, o que significa que ele leva a sério nossas palavras e orações e pode conversar conosco. A expressão hebraica צדיקיםtsaddikim foi omitida de algumas versões, mas significa o clamor dos justos. Entretanto, a triste situação das pessoas que deixam o mal lhes dominar o coração e as intenções colocam-se igualmente de forma pessoal, no sentido de o rosto de Deus se virar contra elas (v.16). Nós não sabemos o que se passa no íntimo da alma humana, e muito menos quem são os escolhidos do Senhor, por isso a ninguém devemos julgar (essa não é a nossa função). Devemos proclamar a Palavra de Salvação, pois mesmo a mais cruel das pessoas ainda tem uma chance de salvação e reabilitação em Deus (v.18). 41 mas de todas elas o SENHOR o liberta. Resh 20 O SENHOR preserva-lhe todo o ser, nenhum osso sequer é quebrado.9 Shin 21 Os ímpios serão destruídos por sua própria maldade, e os que odeiam os justos serão condenados.10 Tav 22 O SENHOR resgata a vida dos seus servos; todos os que nele buscarem refúgio serão absolvidos.11 O Senhor é o vingador Um salmo de Davi 35 Advoga minha causa, ó SENHOR, contra os que me acusam; combate contra os que me perseguem.1 SALMOS 34, 35 Veste a armadura e toma o escudo; levanta-te e vem em meu socorro!2 3 Empunha a lança e o machado de guerra contra os meus perseguidores; dize à minha alma: Eu Sou a tua salvação. 4 Sejam humilhados e cobertos de vexame os que buscam tirar-me a vida; retrocedam envergonhados e sejam aniquilados os que tramam a minha ruína. 5 Sejam como a palha que o vento carrega, quando o Anjo do SENHOR os espalhar. 6 Tornem-se-lhes os caminhos tenebrosos e escorregadios, quando o Anjo do SENHOR os perseguir.3 7 Pois sem motivo prepararam uma armadilha oculta para me apanhar; e sem causa abriram uma cova para me tragar. 8 Que de súbito venha sobre os inimigos 2 9 Deus tem um cuidado todo especial para com seus filhos. Por isso, as metáforas usadas apontam para os detalhes desse amor leal (Lc 12.7). Entretanto, este trecho da Escritura vai mais além e se revela uma profecia acerca do Messias, que se cumpre em Jo 19.36, tendo como pano de fundo a história da libertação de Israel e a marca do sangue do cordeiro nos umbrais das portas (Êx 12.46). 10 O termo hebraico רעהraäh pode ser traduzido por “maldade”, “malícia” ou “miséria”. Entretanto, o contexto do versículo demonstra que a impiedade (com a qual os cruéis abastecem suas motivações) recairá sobre suas próprias cabeças. Tendo ensinado não haver maior defesa e segurança que uma vida justa, piedosa e irrepreensível, Deus declara perversos (mesmo quando ninguém ou coisa alguma parece se opor a eles) de repente as coisas se voltarão contra eles e os aniquilarão. Os ímpios são a causa e o instrumento da própria destruição. 11 O termo “absolvidos” vem da expressão “não serão condenados” que advém do mesmo verbo hebraico que se traduz “declara-os culpados” ou “condena-os!” (5.10 cf. Hb 11). É uma palavra que se associava fortemente a culpa e a sua devida punição ou expiação (perdão e salvação) (Os 5.15; 10.2). Assim, Davi leva a interpretação para “nenhuma condenação” ou plena absolvição daqueles que verdadeiramente se refugiam no Senhor (Rm 8.1, 33-34). Desse modo, o cristão pode cantar com grande alegria este salmo, adicionando gratidão e louvores, por conhecer o custo inimaginável da salvação no verso 22a e o alcance ilimitado do amor em 22b. Capítulo 35 1 Este é um salmo da coleção dos denominados “imprecatórios” (Sl 7,35,55,58,59,69,79, 109,137 e 139). São salmos que invocam juízo ou maldição sobre os inimigos do salmista. Entretanto, os propósitos dessas imprecações são: demonstrar o justo e reto juízo de Deus contra os ímpios (58.11); demonstrar a autoridade de Deus sobre os ímpios (59.13); levar o ímpio a buscar o Senhor (83.16); motivar os justos a louvarem a Deus (7.17). Por isso, encorajados por seu zelo para com Deus e sua repulsa para com o pecado, os salmistas clamam a Deus para que puna o perverso e os vingue com sua justiça e sabedoria. A libertação celebrada no Salmo 34 agora é vista como nem sempre imediata ou indolor, mas sujeita, de acordo com a vontade de Deus, a atrasos (do nosso ponto de vista) e a momentos agonizantes. Davi, no entanto, jamais duvida em seu coração de que seu dia virá. Cada pedido de socorro já prevê o momento da vitória e do livramento: todas as três grandes divisões deste salmo terminam com esperança (35.1-10: discorre sobre as tramas; 35.11-18: revela o cerco dos cruéis e 35.19-28: a exultação maligna é aniquilada pelo Senhor). Segundo recentes estudos, este salmo é da mesma época em que Davi estava sendo perseguido por Saul, sendo, de certa forma, um desenvolvimento de 1Sm 24.15. A imprecação não é exatamente contra Saul (pois Davi mesmo havia poupado a vida de Saul), mas contra aqueles que fomentavam a inveja doentia que Saul sentia por Davi. 2 A palavra hebraica traduzida por escudo é מגןmaguen. Os recentes estudos sobre os chamados Rolos do Mar Morto, encontrados nas imediações do monte Qunram, revelaram que a expressão transliterada por Hachazec maguen vetsiná, vecúma beezrati refere-se ao uso de uma proteção para o corpo e um escudo mais leve, no centro do qual se ergue uma forte saliência encimada por uma adaga; arma de defesa e ataque usada especialmente pela cavalaria. Algumas versões traduziram essa expressão por “pavês” ou “broquel”. 3 Este salmo é uma espécie de continuação do Salmo 34; justamente por isso foram colocados lado a lado pelo Cânon. O contraste entre 34.5,7 e este verso demonstra claramente as bênçãos de buscar a face do Senhor e a maldição que está sobre os ímpios e aqueles cujo coração não ama a Deus e seus princípios. As expressões “vexame, envergonhados, aniquilados, espalhar e caminhos tenebrosos” têm a ver com a essência do castigo eterno (Dn 12.2), enquanto “o Anjo do Senhor” é a nossa salvação e a condenação de todos aqueles que insistem em não render seus corações ao Senhor Deus, Yahweh (Êx 23.20-22). SALMOS 35 a destruição: sejam enredados pela própria cilada que me armaram, caiam na cova que escavaram para me matar e lá se arruínem de vez.4 9 Então, todo o meu ser transbordará de gratidão ao SENHOR e se regozijará na sua salvação. 10 Proclamarei ao mundo, de corpo e alma: Quem poderá se assemelhar a ti, ó SENHOR? Tu livras os humilhados e fracos, do opressor, e os necessitados e pobres, dos exploradores.5 11 Falsas testemunhas se levantam e me interrogam sobre atos que não cometi. 12 Retribuem-me o bem com o mal, e essa decepção enluta a minha alma.6 13 Da minha parte, entretanto, quando estiveram doentes, usei vestes de lamento; humilhei-me com jejum e derramei sobre meu próprio peito muitas orações.7 14 Andei vagueando e lamentando como 42 por um amigo ou irmão; prostrei-me enlutado, como quem chora por sua mãe. 15 Contudo, assim que tropecei, eles se alegraram e contra mim se ajuntaram; reuniram-se às ocultas para me atacar e agrediram-me sem cessar. 16 Como ímpios zombando do meu refúgio rangem os dentes contra mim. 17 Ó SENHOR! Até quando tolerarás essa injustiça? Livra-me a alma das tramas dos impiedosos; minha vida, dos que me atacam como leões. 18 Render-te-ei graças perante a grande assembléia; louvar-te-ei diante das multidões.8 19 Que sobre mim não se rejubilem aqueles que traíram minha amizade, nem permitas que esses inimigos gratuitos troquem olhares de escárnio.9 20 Não é de paz que se ocupam; ao contrário, planejam falsas acusações contra os que vivem em paz na terra. 4 A expressão hebraica aqui traduzida por “sem motivo” e “sem causa”, e que também aparece no v.19 toca no próprio nervo da dor de Davi, o que fica ainda mais claro nos versos centrais (v.11-18). O termo שואהshoah aqui traduzido por “destruição”, não tem o sentido de “confusão”, como aparece em algumas versões. O salmista se revela extremamente sensível à mágoa da injustiça; é o Evangelho que faz da injustiça uma situação a ser redimida, uma oportunidade para se amar como Cristo, e seguir seus passos (1Pe 2.18-22). Quanto à “justiça poética” reivindicada no v.8, o Evangelho a aceita como tragédia que pode ser evitada dentro do alcance miraculoso das orações e súplicas, e não como um fim desejado (Mt 5.44; 23.37-39). 5 A expressão “Quem poderá se assemelhar a ti, ó Senhor?” evoca o cântico de Moisés (cf. Êx 15.11), como lembrança de uma crise ainda maior que a de Davi, e do seu resultado maravilhoso. O mesmo ocorre com o apóstolo Paulo em 2Co 1.8-10, que ao chegar à beira do desespero, lembrou-se da gloriosa ressurreição dos mortos, e isso lhe foi grande motivo de alento e esperança. Algumas versões trazem “meus ossos” ou “meu ser”, mas como já vimos, são formas de se referir ao indivíduo completo – material e imaterial (corpo e alma). 6 Estas “testemunhas” não eram amigos próximos, mas pessoas a quem Davi havia tratado com respeito e solidariedade (Rm 12.15). Sua surpresa e profunda decepção é reconhecer essas pessoas entre seus algozes (em hebraico: “ עריחמסtestemunhas injustas e violentas”). Outros salmos expressarão ainda mais dramaticamente os sentimentos de desolação (luto) da alma, ao se deparar com a traição de pessoas íntimas e queridas (41.9; 55.12-14). Segundo a cultura da época, a dor que Davi sente é como se o Bom Samaritano caísse em poder de assaltantes e, ao receber uma bofetada, identificasse o agressor como aquele a quem salvara a vida tempos atrás (Lc 10.25-37). 7 O sentido geral deste desabafo de Davi revela que ele sofreu e intercedeu a Deus por seus supostos “amigos” (agora falsos acusadores), não apenas nas ocasiões de doença, mas também em outras adversidades. No antigo Oriente, os judeus que amavam a Deus, quando oravam em profunda dor, recolhiam-se para derramar suas lágrimas a sós com Deus, e reclinavam o rosto sobre o peito em sinal de humilhação diante do Senhor. 8 Davi se refere aos louvores próprios da “festa votiva” (22.22-26) – uma cerimônia definida pela Lei e que regulava os atos de gratidão daqueles que se comprometiam a prestar algum serviço especial a Deus, no caso de serem atendidos em suas petições e suplicas. Deveriam cumprir seus votos com um sacrifício, a ser seguido por uma festa que poderia durar até dois dias (Lv 7.16). Além disso, sua felicidade não poderia ser reservada a eles e a seus filhos; pelo contrário, deveriam convidar seus servos e os pobres e necessitados, e especialmente os levitas, a comerem com eles diante do Senhor (Dt 12.17-19). Deveriam, ainda, relatar pormenorizadamente à congregação aquilo que Deus fizera por eles (40.9-10; 116.14), convocando-a, finalmente, a participar na proclamação de um salmo como este (cf. 34.3 e o testemunho que se segue). 9 O ódio gratuito, ou seja, sem motivo algum é a característica própria do diabo e do mal. Jesus via neste versículo (e em 69.4) não apenas um triste acontecimento na vida de Davi, mas uma profecia do que estava reservado para si (Jo 15.25). Era a Palavra sendo cumprida cabalmente na vida de Jesus Cristo – o Messias, e de forma fragmentada em Davi e em nossas vidas (Jo 15.18ss.) A expressão hebraica קרץkarats aqui significa “piscar os olhos em sinal de zombaria em relação a uma terceira pessoa” e, assim como em 22.8, denota também a atitude de menear a cabeça e espichar os lábios para frente, em sinal de desprezo. 43 Com a boca escancarada riem de mim e me acusam: “Agora o apanhamos! Vimos tudo com nossos próprios olhos!” 22 Tu, SENHOR, os vistes; não ignores seus atos! Não te afastes de mim, ó SENHOR.10 23 Desperta! Levanta! Faze-me justiça! Defende a minha causa, meu Deus e meu Senhor! 24 SENHOR, meu Deus, tu és justo; restitui o meu direito para que eles não se divirtam à minha custa. 25 Não permitas que pensem: “É isso! Exatamente como queríamos!” Nem que digam: “Acabamos com ele!” 26 Sejam humilhados e frustrados todos os que se alegram com a minha desgraça! Sejam cobertos de vexame e desonra os que se levantaram contra mim. 27 Cantem de júbilo e se alegrem os que desejam ver a prova da minha inocência, e repitam continuamente: “Glorificado seja o SENHOR, que tem prazer na felicidade do seu servo!” 28 E a minha língua proclamará a tua justiça e o teu louvor o dia inteiro!11 21 SALMOS 35, 36 Deus vence todo o mal Ao mestre de música. Um salmo de Davi, servo do SENHOR.1 36 Há em meu íntimo uma Palavra do SENHOR sobre a maldade do ímpio: Aos seus olhos não faz sentido temer a Deus.2 2 O ímpio é tão arrogante que não percebe e muito menos rejeita seu pecado. 3 Suas palavras são maldosas, ardilosas e traiçoeiras. Abandonou o bom senso, a justiça e a prática do bem. 4 Antes de dormir, sua mente trama ações cruéis; nada há de bom no caminho que escolheu, apega-se ao mal cada vez mais.3 5 Mas a tua benignidade, ó SENHOR, chega até os céus; a tua fidelidade, até as nuvens. 6 A tua justiça é firme como as altas montanhas; e teus juízos, insondáveis como o fundo dos oceanos.4 Tu, ó SENHOR, preservas a raça humana e todos os animais. 7 Quão precioso é teu amor, ó Deus! À 10 Davi usa um contraste perfeito para mostrar que o falso testemunho dos inimigos (“Vimos tudo...) será desmentido pela verdade, total e abrangente, que está em Deus (“Tu, Senhor, os viste...), que tudo e a todos vê e julga (Êx 3.7; cf. 2Rs 19.14ss; At 4.29). 11 Como no início deste salmo, o louvor está aguardando o momento certo para irromper. Davi demonstra ao Senhor que, ao contrário dos inimigos, usará sua voz (língua) para proclamar a justiça de Deus na terra e cantar louvores ao Senhor, pois a verdade e a justiça sempre vencerão. É o que afirma o texto original transliterado: Ulshoni teguê tsidkêcha, col haiom tehilatêcha. Capítulo 36 1 Este é um salmo de grandes contrastes. Num relance, descreve a maldade presente no coração de todos os seres humanos em sua forma mais cruel; por outro lado, revela todo o esplendor e alcance da multiforme bondade divina. O termo “servo do Senhor” utilizado para descrever Davi foi escolhido e atribuído pelo próprio Senhor, como rei e ungido de Deus (2Sm 3.18; 7.5,8). Esta forma se acha apenas aqui e no título do Salmo 18, no qual é comentada. 2 Embora haja outras versões, esta tradução mais se aproxima dos melhores e mais recentes originais disponíveis. A expressão “Palavra do Senhor” significa “oráculo”, ou seja, a comunicação expressa de Deus ao seu servo (Gn 22.16; 2Sm 23.1-2). Enquanto o fiel faz do Senhor seu alvo maior, o ímpio nem sequer leva em conta o respeito e o temor do Senhor, que todos os seres humanos devem nutrir em seus corações. Esse é o sintoma culminante do pecado, como revelado em Rm 3.9-20, passagem que descreve a triste condição de toda a raça humana (salvo aqueles agraciados com a salvação de Deus). 3 O salmo revela a espiral descendente do pecado, as atitudes do pecador para consigo mesmo, contra Deus, e agora em relação a seus relacionamentos interpessoais. Sua mente não se cansa de maquinar o mal (Mq 2.1). O pecador segue (para baixo) em sua trajetória, por ter espontaneamente abandonado o bem, e progressivamente se encantado com o mal (v.3b), e não como quem nunca teve oportunidade (Rm 1.28-32). 4 Davi volta-se rapidamente para o Senhor e nos revela “hesed”, expressão hebraica, transliterada, que significa, “o amor leal e a misericórdia pactual” do Senhor para com todos aqueles que nele crêem de todo o coração. As dimensões do amor e da justiça de Deus são incomensuráveis: inexauríveis (céus e nuvens), inexpugnáveis (montanhas) e insondáveis (fundo dos oceanos). Entretanto, apesar dessa imensidão, o Senhor nos acolhe com hospitalidade e carinho paternos. A inconstância do caráter corrupto do ser humano forma os tristes contrastes com as qualidades altaneiras do amor de Deus, conforme sua bondade e lealdade (v.5) que formam sua aliança perpétua. Os padrões pós-modernos de nossa sociedade, onde tudo é relativo, são um pântano, comparados com as indestrutíveis “Montanhas de Deus”; assim como descreveu Calvino em seu comentário ao texto hebraico “Montagnes de Dieu”, pois os hebreus costumavam descrever coisas eminentes, adicionando-lhes o nome de Deus; como “rio de Deus” (65.9), “monte de Deus” (68.15), “cedros de Deus” (80.10), “árvores de Deus” (104.16). As corretas decisões (juízos) de Deus são incompreendidas por nossa mente limitada, e nossa sabedoria obscurecida pelo pecado. SALMOS 36, 37 sombra das tuas asas os filhos de Adão encontram refúgio.5 8 Eles se banquetearão na plenitude da tua casa; tu lhes saciarás a sede com as águas puras do teu rio do Éden.6 9 Pois em ti está a fonte da vida; graças à tua luz somos iluminados. 10 Estende a tua benignidade aos que se consagram a ti, a tua justiça aos que são puros de coração. 11 Não permitas que o soberbo pise sobre mim, nem que a mão do ímpio me faça retroceder. 12 Eis que tombaram todos os que praticaram o mal; foram lançados ao chão e jamais se levantarão!7 44 A passageira alegria dos ímpios Ao mestre de música. Um salmo de Davi, servo do SENHOR. Alef Não te indignes por causa das más pessoas; nem tenhas inveja daqueles que praticam a injustiça.1 2 Pois eles em pouco tempo secarão como o capim, e como a relva verde logo murcharão.2 Bet 3 Confia no SENHOR e pratica o bem; assim habitarás em paz na terra e te nutrirás com a fé.3 4 Deleita-te no SENHOR, e Ele satisfará os desejos do teu coração. 37 5 Da imensidão do cosmo e das dimensões do amor e da justiça de Deus, Davi é levado a observar o cuidado detalhado do Criador com a humanidade e com todas as criaturas do planeta, assunto que se elabora em sua totalidade no Sl 104, e que será retomado por Jesus Cristo, em Mt 6.25-34, para mostrar o alto valor que cada ser humano tem para Deus. No v.7, a figura de linguagem “À sombra de tuas asas...” é uma evocação de Dt 32.11, igualmente usada por Boaz em relação a Rute (Rt 2.12), e por Jesus Cristo (Mt 23.37), para mostrar um aspecto da salvação que embora exija humildade, oferece total segurança. A expressão hebraica כן ארםBen Adam, filho de Adão ou filho do homem, já vista no Sl 8.3, refere-se aqui aos “filhos dos homens”, uma vez que אנושenosh significa “homem frágil”, e miserável em seu estado de pecado, que é formado do pó da terra, “Adamah”. Por isso é que se chamam “Adão ou filhos de Adão”, isto é, “terrenos”, todos criados a partir do pó da terra para onde voltarão (Gn 2.7; 3.19). Curiosamente, a expressão hebraica אדם, Ben Adam, filho do homem, pertence à linguagem dos príncipes e, às vezes, se refere ao “maior dos príncipes” como ao “maior dos homens”. 6 As experiências de Davi como refugiado iluminam este quadro sobre a participação nas riquezas de uma rica e grande casa: a festa tantalizante de Nabal (1Sm 25) e a fartura em presentes oferecidos por Barzilai e seus amigos (2 Sm 17.27-29). As palavras no original hebraico – נחל ערניךnachal adanecha, “o rio de teu Éden”, fazem alusão ao próprio jardim do ערן, Éden, que significa “jardim das delícias ou dos prazeres”. As referências ao grande banquete, e ao saciar da sede com águas puras são uma promessa de plena satisfação e refrigério às almas cansadas e necessitadas dos peregrinos do Senhor, após longa jornada em meio a escassez e provações. O homem tem uma sede dentro de si que só poderá ser saciada no jardim do Senhor (Jo 4.11-15). 7 A conclusão deste salmo comemora a vitória reivindicada pela fé; o texto no original está escrito no presente, como se a súplica vislumbrada já estivesse acontecendo, de forma clara e concreta. Isso nos ajuda a entender o que é fé (Hb 11.1). Ou seja, colocarmos plena confiança naquilo que esperamos e estarmos certos daquilo que ainda não pode ser visto. Davi estava disposto a lutar contra o mal que o tentava; a louvar o Senhor em meio às provações; a suplicar com fé, pelo pleno livramento, a ponto de já se sentir vitorioso, com os inimigos derrotados; usufruindo a graça completa e revigorante proporcionada por Deus no Éden. Capítulo 37 1 Este é um salmo sapiencial de Davi , cujo arcabouço é um acróstico formado por letras do alfabeto hebraico introduzindo cada par de versículos. Tertuliano o chamou de “O espelho da Providência”, sendo a melhor exposição da terceira Bem-aventurança (Mt 5.5), na qual Jesus o citou (v.11). É, portanto, um salmo de sabedoria sobre a retribuição temporal dos justos e dos ímpios (Ec 8.11-14). Grandes hinos e muitos livros já foram escritos sobre este trecho das Escrituras. 2 O verbo hebraico אל־תחרal-tithechar significa literalmente “não te esquentes”, e nos encoraja a não perdermos a paciência ou nos irritarmos com o aparente progresso das pessoas desonestas, que usam de todo tipo de engano e crueldade para conquistar o sucesso que almejam. Nutrir raiva pelo sucesso do ímpio é dar chance ao coração para – ouvindo o Diabo – começar a considerar que talvez Deus não esteja mais tão atento a certas injustiças neste mundo. O passo seguinte é desenvolver certa inveja pela maneira como os infiéis conquistam o que querem; em seguida vem o distanciamento da obediência à Palavra de Deus e a apostasia que pode transformar um servo de Deus num esquizofrênico espiritual, viciado no pecado, com saudade da santidade e aterrorizado com a iminência do juízo (Pv 23.17-18; 24.1-2,19; Is 40.8; 1Jo 2.17). 3 A confiança (fé) no Senhor é nossa garantia de posse da terra (vitória ou sucesso total). Entretanto, estamos a caminho dessa plenitude e, como peregrinos, seremos tentados e provados durante a viagem. Somos lembrados de que a estratégia de Deus para vencer o “mal” é atacar com o “bem”; até porque a ira humana é incapaz de produzir a justiça divina (Tg 1.20 cf. Rm 12.21). Jesus aprofunda esse princípio de sabedoria em Lc 6.27, cf. Pv 25.21. Para os contemporâneos de Davi e para o povo judeu de todos os tempos e lugares, o texto fala da Terra Santa e da maneira sábia como os judeus deveriam tomar posse da terra e nela viver em paz, alimentando-se da fé em Deus (25.13; Dt 16.20). O verbo hebraico רעהre-eh deve ser tomado no sentido passivo “sê nutrido ou alimentado”. A expressão אמונה, emunah, não apenas significa “veracidade” ou “fé”, mas também “prosseguimento seguro por longo tempo”. Este verso fica assim transliterado: Betach badonai vaasse tov, shechan érets ur’e emuna. 45 Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais Ele fará.4 Guimel 6 Ele exibirá a tua justiça como a luz, e o teu direito como o sol ao meio-dia. Dalet 7 Aquieta-te diante do SENHOR e aguarda por Ele com paciência; não te irrites por causa da pessoa que prospera, nem com aqueles que tramam perversidades.5 He 8 Deixa a ira e abandona o furor; não te impacientes. Não te inflames, pois assim causarás mal a ti mesmo.6 9 Pois os malfeitores serão exterminados, mas os que depositam sua esperança no SENHOR herdarão a terra. Vav 10 Mais algum tempo apenas, e já não existirá o ímpio; tu o procurarás em seu lugar, porém não mais o encontrarás. 11 Os humildes herdarão a terra e se deleitarão na plenitude da paz.7 Zayin 12 O ímpio conspira contra o justo e range contra ele os dentes. 13 O SENHOR, porém, dele se ri porque vê chegando seu dia. 5 SALMOS 37 Het Os ímpios empunham a espada e retesam o arco, para abater o humilde e o pobre, e trucidar os que seguem o caminho reto. 15 Mas a espada lhes atravessará o coração e seus arcos serão quebrados. 16 Mais vale o pouco do justo que a opulência de muitos ímpios, Tet 17 pois aos ímpios serão quebrados os braços, ao passo que o SENHOR sustenta os justos. Yud 18 O SENHOR zela pela vida das pessoas íntegras, e sua herança permanecerá para sempre.8 19 Não ficarão decepcionados no tempo da desgraça, nos dias de fome serão saciados. Kaf 20 Sim, os ímpios perecerão, os inimigos do SENHOR: desaparecerão como o esplendor dos prados, como fumaça desaparecerão. Lamed 21 O ímpio pede emprestado e não devolve; o justo se compadece e dá com generosidade. 14 4 Calvino, em seu comentário ao texto em hebraico, observa que o verbo גלל, galal, literalmente significa “passar, rolar ou transferir” (Js 5.9), e que, neste verso, a expressão “Entrega”, tem o sentido de “transferir para o Senhor” nossos anseios, preocupações, frustrações e todo tipo de carga emocional, física e psicológica, a fim de que ele nos supra todas as necessidades (55.22; Pv 16.3). A expressão foi tomada da observação do camelo em sua atitude auxiliadora, ao deitar sobre as patas para que a carga lhe seja transferida e acumulada sobre o dorso. 5 O termo hebraico aqui traduzido por “Aquieta-te” é רום, dom, que tem o sentido de um silêncio altamente esperançoso quanto à iminente intervenção de Deus (Is 30.15). Algumas versões trazem impropriamente a expressão “Descansa”, proveniente da palavra hebraica ħŭl, semelhante graficamente a yāħal, mas com um sentido diferente. Esta palavra é traduzida para o grego pela Septuaginta como ύποταγηθι que significa “estar sujeito”, o que não é uma tradução completa do termo, mas expressa bem o sentido de um silêncio submisso à vontade de Deus, não emburrado ou murmurante. Não devemos alimentar inveja pelo sucesso do próximo, muito menos por aquele que usa de desonestidade para alcançar seus intentos (Sl 125.3). Este verso fica assim transliterado: Dom ladonai vehitcholel lo, al titchar bematsliach darco, beish osse mezimot. 6 A inveja é como um “câncer espiritual” que pode consumir a paz e a felicidade de um servo de Deus. A cura consiste em extirpar as primeiras manchas de ciúme e inveja que surgirem em nossas almas; depois, evitar todo tipo de ira, furor e cólera, e jamais desejar sucesso a qualquer custo (Sl 73.3). A melhor e maior das vitórias é aquela que vem das mãos do Senhor, em função da nossa fé sincera e do trabalho perseverante e pacífico. A expressão hebraica que significa “não se deixe enfurecer” é traduzida – como alerta – em diversos sinônimos ao longo do salmo: “não te indignes” (v.1), “não te irrites” (v.7), “não te impacientes” (v.8). Esta é a transliteração hebraica deste versículo: Héref meaf vaazov chema, al titchar ach leharêa. 7 Algumas versões iniciam este versículo com a expressão “os mansos”; todavia essa palavra, especialmente na sociedade ocidental atual, não comunica a idéia do termo hebraico original de “fé paciente e perseverante”, característica daqueles que aprenderam a esperar pela ação de Deus, enquanto perseveram na fé e na prática do bem. Somente os “humildes” são “ensináveis”, ou seja, podem aprender a ouvir e obedecer às orientações de Deus, crendo que esse é o caminho da felicidade perpétua. O contexto indica que “a terra” se refere à Terra Prometida ou à área dada ao povo de Deus (Dt 34.1-4). Contudo, Nosso Senhor Jesus Cristo, em Mt 5.5, amplia as dimensões dessa bênção: a herança recebida pelos “humildes” não será apenas de um território ou região, mas o reino inteiro (Ap 21). 8 O verbo hebraico yãdha, traduzido aqui por “zelar”, tem o sentido de “conhecer profundamente”, “contribuir para o sucesso”. SALMOS 37, 38 22 Sim, possuirão a terra os que Ele aben- çoar, mas os que Ele amaldiçoar serão excluídos. 23 O SENHOR firma os passos de todo aquele cuja conduta lhe agrada! Mem 24 Se cair, não ficará por terra, porque o SENHOR o segura pela mão. Nun 25 Fui jovem e já estou velho, e nunca vi um justo abandonado nem seus descendentes mendigando o pão. 26 Em todo o tempo exerce grande compaixão e empresta com boa vontade, seus filhos serão abençoados! 27 Desvia-te do mal e faze o bem, e sempre terás onde morar. Samek 28 Pois o SENHOR ama quem pratica a justiça, e não abandona os seus fiéis. Estes serão resguardados para todo o sempre, mas a descendência dos ímpios será exterminada. Ayin 29 Os justos herdarão a terra e para sempre nela habitarão.9 30 A boca do justo proclama a sabedoria, e sua língua anuncia o direito. Pê 31 A Lei de Deus está no seu coração, e seus passos não vacilam. 32 O ímpio espreita o justo, e procura maneira de matá-lo; Tsade 33 mas o SENHOR não o abandona às suas mãos, nem permite que o condenem, se for julgado. 46 Qof Espera no SENHOR!10 E, confiante, segue sua soberana vontade. Ele te exaltará dando-te a terra, por herança, e verás os ímpios serem destruídos. Resh 35 Vi uma pessoa ímpia, prepotente e cruel a expandir-se como a árvore frondosa. 36 Tornei a passar, e já não estava; procurei-a, e não foi encontrada. Shin 37Medita no homem íntegro, considera a pessoa justa! Há uma prosperidade para todo aquele que busca a paz; 38 mas os impenitentes serão exterminados todos juntos; não haverá qualquer sucesso futuro para os ímpios. Tav 39 A salvação dos justos vem do SENHOR, Ele é a sua fortaleza na hora da adversidade! 40 O SENHOR os ajuda e os liberta. Ele os livra dos ímpios e os salva, porque nele se refugiam. 34 Oração do pecador arrependido Salmo de Davi para a oferenda memorial. 38 SENHOR, não me repreendas em tua ira, nem me corrijas com cólera! 2 Porquanto as tuas flechas cravaram-se em mim, e a tua mão se abateu sobre mim.1 3 Por causa da tua ira, não há parte ilesa em meu corpo; não há saúde nos meus ossos, em conseqüência do meu pecado. 4 As minhas culpas me afogam; como fardo pesado, tornaram-se insuportáveis para mim. 9 A expressão hebraica yãrash, tem sentido muito mais amplo do que simplesmente “herdar” um bem de um parente que morrera. Essa palavra revela a “partilha de bem prometido”, “um dom ou talento”. A herança eterna nos céus é um “dom oferecido gratuitamente”: a vida eterna em Jesus Cristo (Rm 6.23). 10 A expressão hebraica aqui traduzida por “Espera no Senhor!” refere-se à atitude de “prosseguir trabalhando na plena confiança da providência divina”. Possuir uma terra na qual pudessem viver em paz e liberdade era a concretização da promessa de Deus a Abraão. Os israelitas sonharam com essa terra durante séculos de cativeiro no Egito ou vagueando pelo deserto do Sinai. Assim como receberam Canaã de maneira extraordinária e maravilhosa, de igual forma foram incentivados a crer num milagre ainda maior: receber gratuitamente a vida eterna nos céus, a “herança celestial” a qual a expressão “possuir a terra” passou a significar (Hb 4.1). Capítulo 38 1 O pecado sempre produz uma reação negativa das leis naturais (conseqüências) e um profundo desagrado de Deus, que as Escrituras chamam de “ira” ou “indignação” (3,4). Na tradição da Igreja, este é um dos sete salmos davídicos penitenciais (os demais são: 6; 32; 51; 102; 130 e 143). Davi, ao reconhecer seus erros e pecados, usa de uma vívida metáfora (flechas cravadas) para suplicar ao Senhor que amenize sua repreensão, ou seja, a correção e a disciplina divina (2.5; 32.3-5; 39.3-11; Jó 6.4; 34.6; Lm 3.12; Ez 5.16). 47 5 Minhas feridas cheiram mal e supuram, devido à minha insensatez. 6 Ando encurvado e todo abatido; o dia inteiro perambulo e pranteio. 7 Estou sendo consumido pela febre; e sinto todo o meu corpo enfermo. 8 Estou esgotado e, ao extremo, alquebrado; minha alma geme de angústia. 9 SENHOR, diante de ti estão todos os meus anseios; nem mesmo o meu suspiro te é oculto. 10 Meu coração palpita e as forças se afastam do meu corpo; até a luz dos meus olhos me abandonou. 11 Meus companheiros e amigos me evitam por causa da doença que me aflige; e os meus vizinhos se mantêm à distância.2 12 Armam laços os que desejam atentar contra minha vida, os que me querem mal proclamam a minha ruína; dedicam o dia todo a planejar calúnias. 13 Eu, todavia, como um surdo, não ouço; como mudo, não abro a boca. 14 Fiz-me como um homem que não percebe o que ocorre à sua volta e sua língua não sabe replicar. 15 Em ti, SENHOR, espero: Tu me responderás, ó SENHOR meu Deus! 16 Pois eu declarei: “Ouve-me, ó SENHOR, para que tais pessoas não se divirtam SALMOS 38, 39 por causa do meu sofrimento, tampouco triunfem sobre mim, quando meu pé escorregar!” 17 Porquanto, estou a ponto de tropeçar, e a minha dor me acompanha sempre. 18 Sim, confesso a minha culpa, estou aflito em razão do meu pecado.3 19 Sem motivo algum acumulei numerosos inimigos, e muitos injustamente me odeiam.4 20 Os que me pagam o bem com o mal caluniam-me, porquanto sigo o que é bom! 21 SENHOR, não me abandones! Meu Deus, não fiques tão distante! 22 Vem depressa em meu socorro, ó SENHOR, meu Salvador! A frágil e fugaz vida humana Salmo davídico ao regente do coro, para ser cantado no estilo de Jedutum.1 39 Eu declarei: Vigiarei os meus atos e não pecarei em palavras; atarei uma mordaça em minha boca enquanto os ímpios estiverem próximos a mim.2 2 Emudeci, desisti de expressar o bem, e minha angústia se agravou. 3 Meu coração ardia-me dentro do peito e, enquanto eu meditava, minha alma se rompeu em chamas. Então, soltei a língua e bradei:3 2 Muitas vezes, quando mais precisamos de ajuda, compreensão e companheirismo, vemos não apenas nossos inimigos ansiosos por nossa total falência e ruína, mas também até mesmo nossos antigos e bons amigos se afastarem ou se oporem a nós. Nesses momentos de crise, o melhor é ficar calado e entregar toda a situação nas mãos de Deus. Não dar vazão à raiva, ódio e decepção, nem alimentar desejos de vingança, pois o Senhor é o justo Vingador. O comportamento de Davi nesta passagem tem muito a nos ensinar (11-15). 3 Davi não tenta justificar ou mitigar a gravidade dos seus pecados; ele faz uma profunda e honesta reflexão sobre seus atos e conclui que errou; portanto, precisa mudar de rumo (converter-se – 2Co 7.10). 4 Este versículo foi traduzido a partir do texto Qunram (4QPsa), por ser mais antigo e fiel aos originais, não se optando aqui pelos tradicionais textos “Receptus” ou “Majoritário”. Capítulo 39 1 Jedutum é o Etã de 1Cr 6.44; 15.19, e representava a família de Merai, da mesma forma que Asafe, a família de Gérson e Hemã, a família de Coate, sendo esses três filhos de Levi, os chefes das famílias. Jedutum era, portanto, um dos três mestres de corais de Davi (1Cr 16.41,42; 25.1,6; 2Cr 5.12), conhecido como “o vidente de Davi” (2Cr 35.15; 1Cr 6.16-44; Sl 62; 77 e 89). Este preâmbulo ao salmo, que em hebraico faz parte integrante do texto canônico, pode ser assim transliterado: Lamnastsêach lidutun mizmor ledavid. 2 No Sl 38, Davi nos fala do silêncio diante do inimigo; aqui, fala do silêncio perante o Senhor. Duas orações em tempos de enfermidade (compare os Salmos 40; 49 e 90). As duas reconhecem os erros e transgressões (pecados), ambas expressam profunda fé em Deus (em hebraico antigo: “confiança”). Os sofrimentos decorrentes dos erros cometidos ensinaram a Davi que a língua é uma das maiores ferramentas do pecado (Tg 3.1-12). A expressão hebraica original , machsom, tem o sentido de “mordaça”, e não de freio como aparece em algumas versões (Dt 25.4). 3 Davi havia decidido manter-se absolutamente calado, pois sentia-se indigno de falar e não queria parecer rebelde diante dos ímpios que o rodeavam (Sl 73). Entretanto, a angústia reprimida só causa mais frustração e revolta; o bem represado só contribui para o mal (Jr 20.8-9). SALMOS 39, 40 4 SENHOR, dá-me a conhecer o término da minha vida e a quantidade dos meus dias, a fim de que eu compreenda quão frágil sou! 5 Eis que fizeste meus dias da largura de palmos, e a duração da minha vida é quase nada diante de ti; todo ser humano, seja quem for, não passa de um breve sopro. (Pausa) 6 Como uma sombra fugaz passa o ser humano pela vida, e fútil é sua luta fatigante; acumula riquezas, todavia não sabe quem, de fato, delas usufruirá.4 7 E agora, SENHOR, que haverei de esperar? Toda a minha confiança está depositada em ti. 8 Livra-me de todos os meus pecados, não me exponhas às zombarias dos insensatos. 9 Emudeci, minha boca não abri para reclamar de nada, pois tu fizeste tudo. 10 Afasta de mim o teu flagelo; porquanto fui vencido pelo açoite poderoso da tua mão. 11 Como advertência, afliges a humanidade por causa da sua iniqüidade; corróis, como a traça, o que o ser humano mais valoriza; quão vazia é a vida da pessoa que não confia em ti! (Pausa) 12 Ouve, SENHOR, minha oração, e atende a minha súplica; não ignores minhas lágrimas, porquanto, perante ti, sou um estrangeiro, como foram todos os meus antepassados. 48 Desvia de mim o teu olhar de censura, para que eu possa encontrar alívio, antes que me vá deste mundo, e termine minha existência!5 13 Ação de graças e súplicas Ao mestre de música. Um salmo de Davi. 40 Depositei toda a minha esperança no SENHOR, e Ele se inclinou para mim e ouviu meu clamor: 2 tirou-me do fosso fatal, do charco lamacento, assentou meus pés sobre uma rocha e orientou meus passos.1 3 Em minha boca colocou uma nova canção, um cântico de louvor ao meu Deus. Que muitos possam compreender o que me aconteceu e venham a adquirir confiança e temor no SENHOR. 4 Extremamente feliz é aquele que no SENHOR deposita sua plena confiança e que não segue os arrogantes, nem aqueles que cultuam a mentira.2 5 Ó SENHOR, quantas maravilhas tens realizado, bem como teus desígnios! Quisera eu poder proclamá-los e pregá-los todos, mas são por demais numerosos.3 6 Fizeste-me compreender que nem oferendas e sacrifícios desejaste; não requereste de mim holocaustos para remir meus pecados.4 7 Então declarei: Eis aqui estou! No pergaminho está escrito a meu respeito. 8 Tenho imensa alegria em fazer a tua vontade, ó meu Deus; a tua Lei está no íntimo do meu ser. 4 Davi percebe quão frágil é (37.20; 78.39) e o quanto a vida é breve; o tempo é inexorável, e apenas viajamos nele. É preciso sabedoria divina para aproveitar o tempo e construir o que é perene. Por isso, devemos focalizar nossa atenção no Pai da eternidade e orar como o Sl 90.12. A nossa vida não passa de um sopro (v.11; 144.4; Jó 14.2; Ec 6.12). 5 Davi reconhece que o Senhor corrige e repreende seus filhos amados que a ele desobedecem. No entanto, a disciplina do Pai dura pouco tempo, e logo podemos recuperar nossas forças e nos alegrarmos com Deus (Hb 12.6-11; Jó 7.17-19; 9.27; 10.21-22; 14.6). Este versículo pode ser assim transliterado do original hebraico: Hasha mimeni veavlíga, betérem elech veenêni. Capítulo 40 1 Davi oferece ao Senhor ações de graças e louvores pelos livramentos que recebera em várias situações aflitivas no passado. Seu testemunho e louvor levaram muitas pessoas a temer (amar com fé e reverência) a Deus (7.17; 9.1; 18.49; 22.22-31; 30.1; 34.8-14). Um salmo em que as lembranças das misericórdias e intervenções do Senhor no passado motivam o crente a confiar totalmente no socorro de Deus em todas as horas (observe os Salmos 4 e 9). 2 Deus é benevolente para com todos aqueles que nele confiam. Bem-aventurado é aquele que aceita o convite da graça divina e recebe o Senhor como Pai. É incomparável a felicidade conquistada pelo crente que obedece à Palavra do Senhor, pois ela é eterna e não se desvanece ao longo dos embates diários desta vida (1.1; 31.23; 32.1-2; 146.5; Jr 17.7). 3 Os planos de Deus para seu povo são de acordo com seu propósito soberano e predeterminado (Is 25.1; 46.10-11). 4 Este versículo pode ser assim transliterado, a partir do manuscrito original hebraico: Zévach uminchá lo chafáts’ta, oznáyim caríta li, olá vachataá lo shaálita. Para o Senhor, o mais importante é a obediência à Lei geral e moral de Deus (1Sm 15.22; Is 49 Às multidões anunciei os teus atos de justiça, pois meus lábios não se puderam conter, como tu mesmo sabes, ó Eterno. 10 Não oculto em minhas entranhas a tua justiça; falo da tua fidelidade e da tua salvação. Não escondo da grande assembléia a tua lealdade e a tua verdade.5 11 SENHOR, não mantenhas longe de mim a tua misericórdia: sempre me guardem o teu amor e a tua verdade! 12 Pois incontáveis males me cercaram, minhas muitas culpas se apoderaram do meu ser e me turvaram completamente a visão; desgraças mais numerosas que os cabelos da minha cabeça e, por isso, meu coração perdeu o ânimo. 13 Agrada-te, SENHOR, em libertar-me; apressa-te, SENHOR, em socorrer-me! 14 Sejam humilhados e frustrados todos os que conspiram contra a minha vida; retrocedam humilhados os que desejam a minha ruína. 15 Fiquem aturdidos com sua própria vergonha os que zombam de mim. 16 Entretanto, regozijem-se e alegrem-se em ti todos os que te buscam. Proclamem sempre aqueles que amam a tua salvação: “Grande é o Senhor!” 17 Quanto a mim, sou um pobre e necessitado, o Senhor, contudo, pensa em mim. Tu és meu amparo e meu Libertador: não tardes mais, ó Eterno, Deus meu! 9 SALMOS 40, 41 Sofrimentos e bênçãos do crente Para o regente do coro. Um salmo de Davi. 41 Bem-aventurado aquele que dá atenção ao desvalido! No dia do seu infortúnio, o SENHOR o livrará.1 2 O SENHOR o protegerá e preservará sua vida; Ele o fará feliz na terra, e não o entregará à sanha dos seus inimigos. 3 Na enfermidade, o SENHOR lhe dará pleno amparo, e da doença o restaurará. 4 Eu roguei: Concede-me a tua graça, ó Eterno, e cura minha alma, mesmo tendo eu pecado contra ti. 5 Meus inimigos só me desejam o mal e murmuram: “Quando ele morrerá? E quando seu nome desaparecerá da face da terra?” 6 Sempre que alguém vem visitar-me com falsidade, enche o coração de mentiras, e depois as semeia por onde passa. 7 Todos os que me odeiam se juntam para resmungar contra mim, conjeturando sobre o mal que poderá me ocorrer: 8 “Ah, ele está com aquela doença maligna! Está acamado, e jamais se levantará”. 9 Até o meu melhor amigo, em quem eu confiava, e que partilhava do meu pão, também me traiu!2 10 Ainda assim, tu, ó SENHOR, tem misericórdia de mim; levanta-me, para que eu lhes dê a resposta merecida. 11 Sei que me queres bem, porquanto o 1.10-17; Am 5.21-24; Mq 6.6-8), que se traduzem nos dez mandamentos da sua aliança (Êx 20.3-17; Dt 5.7-21). Deus fez Davi entender seus propósitos a partir da graça de lhe “abrir a compreensão e o desejo de ouvir a Deus” (Pv 28.9; Is 48.8; 50.4,5). O exemplo supremo desse amor e obediência ao Pai reside na pessoa de Jesus Cristo, o Messias (Hb 10.5-9). Devemos ser justos e verdadeiros, antes de exigir que as outras pessoas o sejam. Os salmos de Davi sempre reconhecem a justiça, o amor, a lealdade, a graça e a verdade do Senhor. 5 Todas as pessoas que tiveram um encontro autêntico e profundo com o Senhor, e que experimentam a ação poderosa do Espírito de Deus reinando em suas almas e corpos, não conseguem deixar de testemunhar ao mundo o amor e a paz que agora sentem da parte de Deus, mesmo em meio às circunstâncias mais difíceis da vida. Por isso, a evangelização na Igreja não é apenas um programa, muito menos uma técnica, mas a expressão natural, real e viva da ação misericordiosa e transformadora do Senhor, na vida dos crentes (1.5; 9.1; 38.13-16; 39.1; 68.11; 96.2; 1Rs 1.42; Is 40.9; 41.27; 52.7; 61.1). Capítulo 41 1 Esta oração de louvor encerra o Livro I dos Salmos, que começa e termina com um salmo de bem-aventurança. Felizes são as pessoas que estão sempre dispostas a ser uma bênção na vida dos enfermos, dos pobres e daqueles que passam por crises de todo tipo. O exercício da compaixão, tão bem exemplificado na vida de Cristo, recebe a promessa do contínuo suprimento divino e de bênçãos específicas: libertação, proteção e terna assistência do Pai, nas horas mais difíceis. Há uma correspondência entre a maneira como tratamos as pessoas ao nosso redor e o modo como o Senhor age conosco (Mt 18.23-35). 2 Davi lamenta a atitude fria e desleal de uma pessoa muito especial, em quem havia depositado sua confiança; que partilhava a intimidade de sua mesa; portanto, amigo honrado e confidente do rei (31.11,12). Alguém com quem selara um pacto de fidelidade (23.5). Cristo aplica essa passagem à sua própria experiência humana, ao cumprir o papel majestoso do seu antepassado, como rei ungido por Deus sobre Israel. Assim, o Messias, o grande Filho de Davi, também sofreu a imensa dor da traição de um grande amigo (Jo 13.18). SALMOS 41, 42 meu inimigo não cantará vitória sobre mim. 12 São e salvo me sustentarás e em tua presença me manterás eternamente!3 13 Louvado seja o Eterno, Deus de Israel, para todo o sempre! Assim seja!4 SEGUNDO LIVRO Salmos de 42 a 72 Ao regente do coro. Um poema dos filhos de Corá.1 O crente tem sede de Deus Como a corça suspira pelas águas correntes, assim, por ti, ó Deus, anseia a minha alma.2 2 A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando poderei entrar para apresentar-me a Deus? 3 Minhas lágrimas têm sido o meu alimento de dia e de noite, porquanto me questionam o tempo todo: “Onde está o teu Deus?” 4 Recordo-me dessas ocasiões, e dentro de mim se me derrama a alma em profundo pranto, de como caminhava eu junto à multidão, conduzindo-os em procissão 42 50 rumo à Casa de Deus, com cantos de júbilo e louvor entre a multidão que festejava.3 5 Por que estás assim tão abatida, ó minha alma? Por que te angustias dentro de mim? Deposita toda a tua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei por seu livramento; Ele é o meu Salvador. 6 Ó meu Deus, esmorecida está a minha alma; por isso em ti fixo o meu pensamento desde a terra do Jordão, das alturas do Hermom, desde o monte Mizar. 7 Do abismo as águas chamam as torrentes no troar de suas cataratas, e todos os vagalhões se precipitaram sobre mim.4 8 Contudo, durante o dia o SENHOR me concede a sua misericórdia, e à noite comigo está sua canção de louvor. É a minha oração ao Deus da minha vida. 9 Declaro a Deus, minha Rocha: Por que te esqueceste de mim? Por que razão caminhar lamentando e sem direção, sob a opressão dos meus inimigos? 10 Como uma espada, que perfura meu corpo e atinge os ossos, é a aflição pro- 3 Este versículo pode ser assim transliterado dos originais hebraicos: Vaani betumi tamáchta bi, vatatsivêni lefanêcha leolam. Quanto às expressões idiomáticas “permanecer na minha presença para sempre”, “a quem sirvo”, veja: 101.7; 1Sm 16.21,22; 1Rs 10.8; 17.1; 2Sm 7.15,16). 4 Este versículo em hebraico, transliterado: Baruch Adonai Elohe Yisrael mehaolam vead haolam, amen veamen. Essa é a doxologia com que os crentes (a comunidade dos adoradores do Senhor) devem corresponder ao conteúdo das Sagradas Escrituras e, portanto, aos ensinos que foram transmitidos por este primeiro Livro dos Salmos (72.18-19; 89.52; 106.48; 150). Capítulo 42 1 Este salmo dá início ao Livro II do Saltério e forma uma unidade poética, e uma só grande oração com o Sl 43; ainda que desde a Septuaginta (a mais antiga tradução grega do AT) apareçam separados e em seqüência, especialmente devido às suas finalidades litúrgicas. Quem narra este salmo é um dos destacados descendentes de Corá, responsáveis pela liturgia no templo (v.4, de acordo com Sl 32), membros do coro levítico nomeados por Davi para servirem como adoradores no templo. Os coraítas (filhos de Levi) representavam a família levítica de Coate, cujo líder, nos dias de Davi, era Hemã (Sl 88); assim como Asafe dirigia o coral dos gersonitas, e Jedutum (Etã) regia o coral dos meraritas (1Cr 6.31-47; Sl 39). Este é o primeiro dos sete salmos dos “Filhos de Corá” (Sl 42-49; 84,85; 87,88 no Livro III). 2 Assim como a corça ou o cervo anseiam pelas águas frescas e tranqüilas, especialmente quando acossados pelos caçadores, também a alma daquele que crê almeja a intensa comunhão com o Pai. O autor deste salmo desempenhava liderança espiritual e litúrgica sobre o povo no templo, mas fora levado cativo pelos arameus numa de suas invasões de Judá, como a de Hazael (2Rs 12.17-18; Js 21.4-19). As circunstâncias impedem que o salmista se reúna com seu povo, no templo, para adorar ao Senhor (Êx 19.17; 29.42-43; 30.6,36; Dt 5.26; Sl 43.1,2). Assim como observou Jesus, todo o nosso ser clama pela presença do Espírito de Deus (Jo 4.13-14; 7.37-39). 3 Esta passagem lembra o rei Davi em seu momento de glória, quando caminhou com seu povo amado em direção ao templo de Jerusalém, conduzindo a arca do Senhor (2Sm 6.12-19). Em nossas orações é sempre bom recordarmos o que o Senhor já fez por nós. 4 Todas as calamidades e tempestades da vida foram despejadas sobre o salmista e seu povo, mas em meio às adversidades puderam observar, ainda melhor, o poder amoroso do Senhor para com seus filhos. Este texto hebraico pode ser transliterado desta forma: Tehom el tehom core lecol tsinorêcha, col mishbarêcha vegalêcha alai aváru. Uma alusão literária às cachoeiras por intermédio das quais os reservatórios de Deus derramam suas águas nos rios que deságuam nos mares (o abismo embaixo); retratando, ao lado da figura das ondas e vagalhões, a correção e a provação divina (36.8; 69.1,2; 88.7; Jn 2.3-5; Sl 43.2; 44.77). 51 duzida pela zombaria dos meus adversários, questionando-me sem parar: “Onde está o teu Deus?” 11 Por que estás assim tão triste, ó minha alma? Por que martirizas o meu ser? Põe a tua esperança em Deus! Porquanto ainda o louvarei por tua presença salvadora, ó meu Deus!5 Súplicas ao Senhor nas aflições Faze-me justiça, ó Deus! Defende a minha causa contra gente infiel! Livra-me do homem fraudulento e criminoso! 2 Pois tu, ó Deus, és minha fortaleza. Por que me rejeitaste? Por que devo sair vagueando e pranteando, oprimido pelo inimigo?1 3 Envia tua luz e tua verdade: que elas me guiem e me conduzam ao teu monte santo e à tua morada!2 4 Então chegarei ao altar de Deus, ao Deus da minha alegria jubilosa; vou louvar-te com a cítara, ó Deus, meu Deus. 5 Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te afliges sobremaneira dentro de mim? Deposita toda a tua confiança em Deus! Pois ainda o louvarei; Ele é a minha salvação e o meu Deus!3 43 SALMOS 42–44 O Deus do passado está presente Para o regente do coro. Um salmo didático dos filhos de Corá. 44 Ó Deus, ouvimos com nossos próprios ouvidos nossos antepassados nos contaram os grandes feitos que realizaste na época deles, nos dias do passado distante.1 2 Como, com tua própria mão, expulsaste nações inteiras para que nossos pais pudessem ser estabelecidos na terra, e abateste povos para que se pudessem expandir e prosperar. 3 Não foi por meio de espadas ou da sua força que herdaram a terra, mas tão somente por intermédio da tua destra, teu braço e a luz do teu semblante, com os quais os agraciaste. 4 Tu és o meu Rei, ó Eterno. És tu que ordenas as vitórias de Jacó! 5 Graças a ti destroçamos nossos adversários, pelo teu Nome pisoteamos os que nos atacam.2 6 Minha confiança não está depositada em meu arco, e sei perfeitamente que não serei salvo por meio da minha espada. 7 Mas tu nos concedes vitória sobre nossos inimigos e humilhas os que nos odeiam. 5 O salmista pede ao Senhor uma compreensão quanto a estas adversidades, mas descobre que não tinha motivo para se queixar, porquanto o Espírito do Senhor caminhava com ele, controlando todas as circunstâncias de modo que lhe produzissem um coração verdadeiramente sábio e grato e contribuíssem para seu bem eterno (Rm 8.28). É interessante notar que neste segundo Livro do Saltério, o nome hebraico original, usado para se referir a Deus, é Elohim (divindade única, criadora e suprema) enquanto no primeiro Livro foi priorizado o uso do nome Yahweh (Iavé ou Jeová), o Deus verdadeiro, o Senhor. Capítulo 43 1 Uma súplica que evoca a imagem forense do Sl 17 e ecoa 42.9. 2 A “Luz” e a “Verdade” são personificadas como mensageiras de Deus para conduzirem o coração humano à salvação (27.1), aos cuidados paternais do Senhor (26.3; 30.9; 40.10) e, portanto, de volta à Casa do Eterno (2.6; 7.17). 3 A expressão hebraica literal yëšû‘ôt “salvação para mim” está no plural devido à relação genitiva com pānāy “para mim”; pěnê como pronome oblíquo, em lugar do pronome possessivo, “minha salvação”, usa-se para evitar ambigüidade, pois quer dizer “minha própria”, isto é, “minha auto-salvação”. Capítulo 44 1 Este é um brado nacional por livramento. Israel fora praticamente destruído por um de seus muitos inimigos. Tudo indica que esta é a narrativa de uma difícil provação passada pelo reino de Judá, nação que não rompeu sua aliança com o Senhor, senão posteriormente na história. A oração segue a teologia veterotestamentária, na qual obediência e fidelidade a Deus correspondem a imediata e proporcional soma de bênçãos e prosperidade na terra. O salmista expressa seu louvor a Deus pelas muitas e grandes vitórias do passado (vv.1-8); a aflição da presente derrota e suas conseqüências (vv.9-16); a declaração de lealdade, inocência – mérito – (vv.17-22), e concluindo, a súplica pelo socorro divino (vv.23-26). O poder salvador de Deus, do passado, é invocado, no presente, por seu povo – com base na fé que tem em seu amor leal e permanente. 2 O Deus da história (Sl 30) é também o nosso Salvador pessoal em quem confiamos em todas as horas (Fp 4.13; 2Co 2.14; 10.4). Nossa força e inteligência nada podem contra todas as adversidades da vida, mas em Cristo, o Messias, somos mais que vencedores (vv. 6-8; Rm 8.31-39). SALMOS 44, 45 A ti louvamos o dia todo; a teu Nome agradecemos continuamente. (Pausa) 9 Agora, entretanto, nos rejeitaste e envergonhaste e já não marchas com os nossos exércitos. 10 Fizeste-nos retroceder ante o inimigo e permitiste que fôssemos saqueados por nossos adversários. 11 Nos entregaste como um rebanho a ser devorado, e entre muitos povos nos dispersaste. 12 Por quase nada vendeste o teu povo; nem mesmo valorizaste o preço. 13 Tu nos converteste em motivo de vergonha dos nossos vizinhos, objeto de zombaria e menosprezo dos que nos rodeiam.3 14 Fizeste de nós um provérbio entre todas as nações; os povos meneiam a cabeça quando nos avistam.4 15 Padeço humilhação dia após dia, e o meu rosto está coberto de vergonha 16 ante as injúrias e os insultos que me dirige o inimigo vingativo. 17 Tudo isso sobreveio a nós, sem que nos tivéssemos esquecido de ti, nem houvéssemos traído a tua aliança. 18 Nossos corações não retrocederam na fé em ti, tampouco nossos pés se desviaram da tua vereda. 19 Contudo, tu nos esmagaste e fizeste de 8 52 nós um covil de chacais, e com densas trevas nos cobriste.5 20 Se, porventura, houvéssemos esquecido o Nome do nosso Deus e tivéssemos estendido nossas mãos a qualquer outro deus, 21 não o teria Deus percebido tal afronta? Pois Ele é quem conhece todos os segredos do coração! 22 Entretanto, por amor de ti somos entregues à morte todos os dias; fomos considerados como ovelhas para o matadouro.6 23 Acorda, ó Senhor! Por que pareces dormir? Desperta-te! Não nos abandones para sempre. 24 Por que nos ocultas a tua face e ignoras a nossa desgraça e opressão? 25 Prostrada até o pó está a nossa alma; desfalecido sobre o chão jaz nosso corpo. 26 Levanta-te! Vem em nossa ajuda e nos resgata por tua imensa benignidade! O casamento profético do Ungido Ao regente do coro, de acordo com a melodia Os Lírios. Dos filhos de Corá. Poema didático. Uma canção matrimonial.1 45 Com o coração transbordando de boas palavras, recito os meus versos em honra ao rei; seja a minha língua como a pena de um sábio escritor. 2 És dos seres humanos o mais notável; 3 Israel reconhece que Deus é quem opera bênçãos e provações, de acordo com seu propósito soberano e sua misericórdia infinita (veja o uso acentuado do verbo na 2ª pessoa (Deus) e (vv.10-14) e de pronomes de 2ª pessoa (vv.2-13). Nem sempre os sofrimentos são derivados do pecado ou das falhas morais do sofredor (vv.17-18). O livro de Jó nos revela claramente que nem toda aflição tem como causa o pecado, mas o ser humano revela seu caráter ao passar por dor, frustração e humilhação. O reino israelita do norte foi literalmente espalhado pelo mundo conhecido da época (721 a.C.), e o reino do sul, no ano 587 a.C. Esse episódio, relatado por Davi (entre 1011 e 971 a.C.), serve de palavra profética para nós e para Israel, que já passou por vários momentos terríveis de dispersão de suas terras. 4 Foi esta a profecia que Moisés entregou a Israel como advertência, caso o povo de Deus viesse a desobedecer à Lei do Senhor (Dt 28.37). O povo alegava não ter abandonado a Deus (vv.17-22), mas somente o Senhor, que sonda os corações de cada indivíduo conhece a verdade e sabe como melhor nos corrigir (v.21). 5 O termo “chacal” referia-se aos nômades do deserto, que viviam de assaltar as caravanas de mercadores. Tudo indica que houve uma grande batalha no deserto de Edom (2Cr 20), no reinado de Josafá (870-840 a.C.). 6 Se o ser humano precisa passar por sofrimentos, então que seja a favor da causa do Senhor e da maneira como Deus nos ensina. Pois, nenhuma alegria vale a pena sem a aprovação do Espírito de Deus (1Pe 4.12-19). Jesus, o Messias, é nosso maior exemplo, porquanto preferiu sofrer com o Pai a obter toda a glória e alegria contrariando a vontade de Deus (Is 53.7; Hb 5.8). O sofrimento e a tristeza, quando encarados com sabedoria, levam o crente a orar mais e melhor. Capítulo 45 1 Este salmo segue o padrão dos cânticos de louvor entoados nas cerimônias de casamento dos reis de Israel. Como a noiva retratada aqui é uma princesa estrangeira (vv.10-12), este casamento reflete a imagem de um rei cujo poder é também reconhecido em outras terras (v.9), e caracterizado por vitórias internacionais (vv.3-5; Sl 2; 110). Como filho régio de Davi, é uma prefiguração de Cristo, o Messias, especialmente após o Exílio (vv.6,7; Hb 1.8,9). O cabeçalho indica que esta obra poética e musical 53 derramou-se graça em teus lábios, visto que o Altíssimo te abençoou para sempre.2 3 Mantém a espada à cintura, ó herói! Cobre-te de esplendor e majestade. 4 Em tua majestade, cavalga vitoriosamente pela verdade, pela misericórdia e pela justiça; que a tua mão direita realize feitos portentosos. 5 Tuas flechas afiadas e certeiras atingem o coração dos inimigos do Rei; e sob teus pés caem as nações. 6 O teu trono, ó Deus, permanece incólume por toda a eternidade; cetro de justiça é o cetro do teu reino. 7 Amas a justiça e abominas a impiedade e, por isso, o Eterno, teu Deus, escolheute dentre todos os teus companheiros e ungiu-te com o óleo de júbilo.3 8 Todas as tuas vestes exalam aroma de mirra, aloés e cássia; nos palácios adornados de marfim ressoam os instrumentos de corda que te alegram. 9 As filhas dos reis te visitam, prestando honras, e à tua direita se posta a noiva real ornamentada com jóias em ouro puro de Ofir. 10 Escuta, ó filha, considera e inclina os SALMOS 45, 46 teus ouvidos em atenção; esquece o teu povo e a casa paterna. 11 E assim encantará tua beleza o Rei, e sendo Ele teu senhor, inclina-te em reverência perante Ele. 12 A ti, filha de Tiro, os poderosos cortejarão com seus presentes.4 13 Mais que em suas vestimentas recobertas de ouro, está, em seu interior, a dimensão de sua honra. 14 Com trajes bordados com ouro é conduzida perante o Rei; as virgens de seu séqüito a acompanharão. 15 E, com regozijo e grande emoção, entrarão no palácio do Rei. 16 Os teus filhos sucederão no trono dos teus pais; por toda a terra os tornarás príncipes. 17 Por todas as gerações lembrarei o teu nome e eternamente hão de te louvar todas as nações!5 Deus é a nossa segurança e paz Para o mestre de música. Dos filhos de Corá. Um cântico para vozes de soprano.1 46 Deus é nosso refúgio e a nossa fortaleza, auxílio sempre presente na adversidade. foi composta e apresentada por um membro do coro levítico do templo (que abrigava a sala do trono terrestre do Rei celestial de Israel). O título da melodia é uma forma abreviada de “O Lírio da Aliança” citado nos cabeçalhos dos salmos 60 e 80. 2 O Noivo é apresentado com santo entusiasmo; e sua descrição, como o mais notável e varonil dos homens, aplica-se à pessoa de Cristo, o Messias e Rei (1Sm 9.2; 16.18; Pv 22.11; Ec 10.12; Is 50.4; Lc 4.22). O verso 16 revela que o Rei será perpetuado nos seus filhos para sempre (v.6). 3 Cristo, o Messias e Rei, reina como Deus, com autoridade e sabedoria sem igual entre os seres humanos, pois, mesmo considerando que Jesus Cristo viveu na terra como um homem, tendo homens por “companheiros”, mesmo os mais nobres da terra, está muito acima deles, como verdadeiro e eterno Rei. Regressará à terra brevemente, com poder e glória, e todos reconhecerão sua majestade e terão de adorá-lo (vv.3-5). Jesus ama a justiça e rejeita toda espécie de iniqüidade, e, portanto, julgará todos os ímpios e maldosos. Cristo, o Noivo, é a grande revelação deste salmo (Mt 25.1-13; Hb 1.8). 4 Este versículo, no original hebraico, pode assim ser transliterado: Uvat tsor beminchá panáyich iechalú ashirê am. A expressão literal “filha de Tiro” é uma personificação da “cidade de Tiro” e dos seus habitantes (2Rs 19.21). O rei de Tiro foi o primeiro governante estrangeiro a reconhecer a dinastia de Davi (2Sm 5.11). Salomão manteve grande amizade e bons negócios com esse rico e grande centro comercial à beira do Mediterrâneo que, como diz a profecia, buscou em Israel os favores da bela esposa do Rei (1Rs 5; 9.10-28; Ez 26.1 – 28.19). 5 A beleza do caráter dos crentes deve levar aqueles que ainda não crêem a adorar a Cristo, o Messias e Rei (vv. 12,13). Todos quantos pertencem ao Noivo Celestial gozam de privilégios especiais. Portanto, a noiva de Cristo (a Igreja) dá mais valor e atenção ao Noivo que aos laços tradicionais e culturais de parentesco, pois herda uma nova e eterna geração que implica na mais sincera, íntima e dedicada comunhão com Cristo e com os irmãos na fé. Capítulo 46 1 Este salmo celebra a segurança de Jerusalém (e do povo de Deus) como a cidade de Deus. Serviu de inspiração para a composição do grandioso hino de exaltação ao Senhor, chamado Castelo Forte, escrito por Martinho Lutero (1483-1546). Depois de excomungado e desterrado pelo Imperador da Alemanha, Carlos V, Lutero foi amparado por seu amigo Frederico da Saxônia, refugiando-se no castelo de Wartburg, onde compôs diversos escritos e dedicou-se à tradução da Bíblia. O cabeçalho em hebraico original pode ser transliterado dessa forma: Lamenatsêach livnê Côrah al alamot shir. Considerando que a palavra SALMOS 46, 47 Portanto, nada temeremos, ainda que a terra trema e os montes afundem no coração do mar,2 3 ainda que se encrespem as águas e se lancem com fúria contra os rochedos. (Pausa) 4 Há um rio cujos canais alegram a cidade de Deus, o Santo Lugar onde habita o Altíssimo. 5 Nela habita o Eterno e, por isso, não poderá ser atingida! Ao romper da aurora Ele virá em seu socorro.3 6 Nações se agitam, reinos se abalam; Ele ergue a voz, e a terra se derrete. 7 O SENHOR dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é a nossa torre segura! (Pausa) 8 Vinde e contemplai as obras do Eterno, seus feitos estarrecedores por toda a terra. 9 Ele dá fim às guerras até os confins da terra; quebra o arco e despedaça a lança; com chamas destrói os carros de combate. 10 “Cessai as batalhas! Sabei que Eu Sou 2 54 Deus! Serei exaltado entre todas as nações, serei louvado na terra!”4 11 O SENHOR dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é a nossa fortaleza segura. (Pausa) Deus, o Rei de toda a Terra Ao mestre do canto. Um salmo dos filhos de Corá.1 47 Povos todos, batei palmas, aclamai a Deus com vozes de alegria! 2 Pois o SENHOR, o Altíssimo, inspira reverência: é o grande Rei sobre a terra. 3 Ele submeteu os povos ao nosso poder e as nações colocou sob nossos pés.2 4 Ele escolhe para nós a nossa herança, para orgulho de Jacó, seu bem-amado.3 (Pausa) 5 Deus subiu entre os brados de adoração, ao som da trompa, Ele, o SENHOR. 6 Cantai louvores a Deus, cantai! Cantai louvores ao nosso Rei, cantai!4 7 Porque Deus é o Rei de toda a terra, cantai louvores com harmonia e arte! hebraica alamot significa também “donzelas”, o subtítulo pode indicar um cortejo de “donzelas tocando pandeiros cerimoniais” e acompanhando os cantores na entrada litúrgica do templo (68.25; Sl 6; 30 e 42). 2 Cada uma das três partes do salmo reforça nossa confiança na presença e no cuidado constante de Deus para com todos aqueles que nele crêem (vv. 1, 7 e 11; Rm 8.31-39). 3 Não há um rio em Jerusalém, mas haverá na Cidade Eterna (Ap 21.9 – 22.5). O rio mencionado no Sl 36.8 é uma metáfora em relação ao contínuo derramar de bênçãos divinas que sustentam e fortalecem os crentes e transformam a cidade de Deus num jardim tão lindo e aprazível quanto o Éden (Gn 2.10; Is 33.21; 51.3; Ez 31.4-9; Sl 48). A Salvação realizada por Deus (vv.1-3) é uma das grandes provas daquilo que o Senhor é para nós: um antegozo do santuário eterno de Deus. 4 A voz de Deus irrompe no meio dos conflitos mundiais. Este versículo, no original hebraico, pode ser transliterado do seguinte modo: Harpu ud’ú ki anochi Elohim, arum bagoyim arum baárets. Nesta frase, o Senhor ordena, literalmente, que toda a terra “fique em silêncio”, assim como em 1Sm 15.16. Os atos poderosos de Deus a favor do seu povo farão que toda a terra se renda, em louvores, a seus pés. Esse tema é enfatizado em todo o livro dos Salmos (22.27; 47.9; 57.5,11; 64.9; 65.8; 66.1-7; 67.2-5; 86.9; 98.2,3; 102.15), bem como em outras passagens do AT (Êx 7.5; 14.4,18; Lv 26.45; Nm 14.15-19; 1Sm 17.46; 1Rs 8.41-43; 2Rs 19.19; Ez 20.41; 28.25; 36.23; Hc 2.14). Assim como o poder de Deus se manifestou maravilhoso na encarnação, nascimento, vida, obra e ressurreição de Cristo, também se manifestará no iminente e glorioso retorno de Jesus Cristo, o Messias e Rei. Capítulo 47 1 Este salmo data da época da monarquia israelita e foi composto para uso na liturgia do templo, nos momentos das grandes celebrações como a Festa dos Tabernáculos (Lv 23.34), ocasião em que Salomão dedicou o templo (1Rs 8.2), em grande cortejo (v.5; Sl 24 e 68). Posteriormente, este mesmo salmo foi usado nas sinagogas, nas comemorações litúrgicas de Rosh Hashanah (o Ano Novo judaico, normalmente comemorado, no Ocidente, durante o mês de setembro). A Igreja primitiva, de forma muito apropriada, passou a louvar o Senhor com este salmo nas celebrações da ascensão de Cristo. 2 O Senhor de toda a terra determinou o destino do seu povo eleito (Sl 146.5-7). Este salmo está intimamente vinculado aos 46 e 48, e têm, os três, o objetivo de fixar didaticamente, na mente do leitor, a verdade máxima de que Deus é o Grande Rei que chamará para si súditos de todas as nações e formará seu povo, com o qual viverá por toda a eternidade em paz e felicidade. Portanto, somente Deus merece os louvores de todos os seres que vivem na terra (105.6; 135.4; Êx 9.29; 15.1-18; 19.5,6; Dt 7.6; 14.2; Is 41.8). O título “grande rei” foi empregado, impropriamente, por muitos governantes imperiais da Assíria (2Rs 18.19), pois “Temível”, “Justo”, “Magnífico” e “Altíssimo” são títulos e atributos que só encontram perfeito significado na pessoa do Senhor (2Sm 5.17-25; 8.1-14; 10; Gn 14.19; Sl 45.4; 68.35; 89.7; 99.3; 119.9). 3 A herança do povo de Deus é a Terra Prometida, tanto na figura terrena de Canaã, quanto em nossa morada eterna (Gn 12.7; 17.8; Êx 3.8; Dt 1.8; Jr 3.18; Sl 14.7). 4 O centro deste salmo retrata a ascensão litúrgica do Senhor ao templo, representada, na época, pela entrada da arca em 55 Deus reina sobre as nações, Deus está assentado em seu santo trono. 9 Os príncipes dos povos reuniram-se como povo do Deus de Abraão. Pois a Deus pertencem os soberanos da terra: Ele é soberanamente maravilhoso!5 8 A cidade de Deus o louva Um cântico; salmo dos coraítas. 48 Grande é o SENHOR e digno de todo louvor, na cidade de nosso Deus.1 2 Seu santo monte, belo e altaneiro, é a alegria de toda a terra. O monte Sião tem, do lado norte, a cidade do grande Rei.2 3 Em seus palácios, Deus se faz conhecer como alto refúgio. 4 Por esse motivo, eis que os reis somaram suas forças e juntos avançaram contra a cidade. 5 Contudo, quando a contemplaram, ficaram pasmos e fugiram aterrorizados. 6 Ali mesmo o pavor os dominou; con- SALMOS 47, 48 torceram-se como a mulher no momento do parto. 7 Foste como o vento oriental, quando destruiu os navios de Társis. 8 Como já temos ouvido, agora também temos visto na cidade de nosso Deus: Deus a preserva inabalável para sempre.3 (Pausa) 9 No meio do teu templo, ó Deus, meditamos em teu amor misericordioso. 10 Como o teu Nome, ó Deus, assim o teu louvor se estende até os confins da terra; a tua destra está repleta de justiça. 11 Rejubile-se o monte Sião, exultem as cidades de Judá, por causa de todos os teus santos julgamentos. 12 Desfilai em torno de Sião, contai-lhe as torres, 13 apreciai suas fortificações, contemplai seus palácios para anunciar à geração vindoura:4 14 “Este é Deus, o nosso Deus para todo o sempre; Ele é quem nos guiará mesmo além desta vida”.5 cortejo para o templo – com o toque solene do Shofar – trombetas ou trompas feitas com o chifre do carneiro (98.6; Êx 19.16-19; Js 6.4). A arca simbolizava o trono de Deus. O templo era a representação terrestre do perfeito e eterno palácio celestial (Sl 24 e 68). O verso 5 pode ser transliterado a partir do original hebraico desta forma: Alá Elohim bitruá, Adonai becol shofar. 5 Deus está assentado soberanamente no Santíssimo Lugar do templo celestial e controla o governo de todo o Universo (Jr 17.12). Essa verdade é enfatizada no último livro da Bíblia (Ap 4.9,10; 5.1,7-13; 6.16; 7.10-15; 19.4). No final dos tempos, todas as nações da terra reconhecerão que o Deus de Israel é o Único Grande Rei da Terra (Sl 3.3; Is 2.2; 56.7), e assim se cumprirão todas as promessas reveladas a Abraão e aos profetas (Gn 12.2,3; 17.4-6; 22.17,18). Capítulo 48 1 Sião representa a inexpugnável e eterna cidade de Deus (vv.12,13). Nenhum de seus lados é frágil e suscetível a ataques (vv.2,7,10,13). Os salmos 46 e 47 oferecem uma bela introdução à descrição da cidade do Grande Rei, e eram cantados pelo coral levítico em nome de todos os adoradores reunidos no templo. 2 Embora não seja o cume mais elevado da cordilheira a que pertence, sua relevância vem da presença de Deus, o que o torna o monte mais importante (alto) do mundo (68.15,16; Is 2.2). A rainha de Sabá expressou com propriedade a admiração que as nações de todo o mundo têm pela cidade de Deus (1Rs 10.1-13). 3 O salmo traz à memória do povo de Deus a destruição das tropas inimigas que se confederaram contra Israel nos dias de Josafá (2Cr 20), bem como a terrível debandada dos assírios que haviam cercado os muros de Jerusalém, nos dias de Ezequiel (v.4-7; 2Rs 19.35,36). Atos de Deus que confirmaram o que os israelitas já haviam aprendido, lendo os Livros Sagrados de Moisés (em hebraico, a Torá), relatando a misericórdia, a justiça e o poder de Deus que se revelam ao mundo, especialmente por meio da história do seu povo (8; 44.1; 78.3). 4 O salmista leva o povo a meditar sobre a maravilhosa obra salvífica do Senhor, ao longo da história (2Cr 32.21-23). Portanto, o templo é um lugar reservado para o povo ter calma, segurança, paz e instrução bíblica, a fim de ter inspiração para refletir sobre a amplitude e a profundidade da misericórdia e do poder de Deus. Durante os cercos militares, os habitantes de Jerusalém se viam limitados em suas liberdades de ir e vir (infelizmente, como ainda hoje acontece em alguns momentos). Contudo, agora o coro canta e louva a Deus com entusiasmo, pela liberdade de se andar em paz pela amada cidade que quase perderam (vv.12-13). A bondade de Deus para conosco não apenas deve ser celebrada (v.1), como também proclamada. Se desejamos que nossos filhos reverenciem a Deus e o conheçam como Pai, devemos alimentar um estilo de vida pessoal que demonstre o quanto o Senhor é precioso, de fato, para nós (v.13). É curioso notar que a expressão original e literal “a geração de trás”, aqui trazida por “a geração vindoura”, é uma expressão idiomática hebraica, e uma referência sutil ao ponto cardeal “oeste”. 5 O salmista encerra este poema com uma bela confissão de fé, cujo texto original em hebraico pode ser assim transliterado: Ki ze Elohim Elohênu olam vad, hu ienahaguênu al mut. (Sl 23). SALMOS 49 O engano das riquezas Para o mestre de música. Salmo dos coraítas. 49 Ouvi isto, povos todos! Prestai ouvidos, habitantes todos do mundo,1 2 gente simples, gente ilustre, ricos e pobres, todos juntos! 3 Minha boca proclamará sabedoria e a meditação do meu íntimo trará entendimento.2 4 Inclinarei os meus ouvidos a um provérbio; com harpa exporei o meu enigma:3 5 Por que temer, nos dias de infortúnio, quando me cerca a iniqüidade de meus agressores, 6 daqueles que confiam em sua fortuna e se vangloriam da abundância de suas riquezas?4 7 Ninguém é capaz de redimir seu próprio irmão, ou pagar a Deus o valor de sua vida, 8 porquanto o resgate de uma vida não tem preço. Não há pagamento que o livre, 9 para que viva para sempre e não sofra a natural decomposição dos corpos.5 10 Pois todos podem ver que os sábios morrem também, assim como perecem o 56 tolo e o insensato e, para outros, deixam todos os seus bens. 11 Pensam os ímpios que eternas seriam suas casas, e por gerações sucessivas persistiriam suas moradas; até deram seus próprios nomes às suas terras. 12 O ser humano, ainda que muito importante, não pode viver para sempre; é como os animais que perecem. 13 Este é o final dos que confiam em si mesmos, e dos seus seguidores, que aprovam o que eles pregam.6 (Pausa) 14 Como ovelhas estão destinados à sepultura, e os justos terão domínio sobre eles; sua beleza e sua força se consumirão e somente a profundeza do Sheol será sua morada!7 15 Mas Deus redimirá a minha vida da sepultura e me levará para si. 16 Não te indignes, quando uma pessoa se enriquece, quando aumenta a glória de sua casa; 17 pois, ao morrer, nada levará consigo, nem descerá com ela seu esplendor. 18 Ainda que, em vida, essa pessoa se parabenize, cogitando: “Todos te louvam, porque prosperas!”, 1 Os princípios de vida ensinados neste salmo seguem a mesma linha doutrinária que vem sendo exposta desde o salmo 46. Aqui se faz um alerta aos tolos ricos. Pessoas que depositam sua fé e confiança no poder econômico e intelectual que amealharam (Sl 52). O autor levítico sabe o que é viver sem os privilégios das riquezas e já observou a arrogância e a soberba que domina aqueles que se acham poderosos nesta terra. Sob o temor do Senhor, o salmista oferece, a todos nós, a sua sabedoria e previne o estulto quanto a seu inexorável fim: a morte (v.14). Os justos, entretanto, alcançaram misericórdia, e, por meio do favor divino, viverão eternamente. E essa segunda metade interminável da vida, lhes será indescritivelmente mais feliz (Mt 13.43). 2 A linguagem usada aqui pelo levita do Senhor é mais profética que sapiencial (de sabedoria, como nos provérbios). É um aviso claro e objetivo, de Deus, quanto ao comportamento humano sob o olhar criterioso do Senhor (1Rs 22.28; Is 34.1; Mq 1.2; Sl 34.11; Pv 1.8; 2.1; Mt 12.34). 3 A palavra de profecia e sabedoria que sai da boca do salmista deve ser ouvida e compreendida primeiro por ele mesmo, pois toda a verdadeira sabedoria vem de Deus (Jó 28). A harpa indica o senso de inspiração que o autor possuía (1Sm 10.5,6; 2Rs 3.15). 4 A questão aqui é: por que o justo haveria de temer o tolo rico e suas maldades? As duas respostas que se seguem asseguram que o justo deve temer apenas o Senhor, mais nada nem ninguém (vv.7-8; 13-20). 5 A primeira resposta afirma que as riquezas não podem comprar o livramento da mais terrível das desgraças: a morte; nem mesmo um “parente influente e redentor” conseguiria tal proeza (Êx 21.30; Lv 25.47-49). Somente a pessoa do Senhor tem poder para redimir uma vida da decomposição física e da destruição eterna (v.15; Ef 2.8,9; Gl 3.13-14; 4.3-5; 1Pe 1.18-21). 6 A segunda resposta revela que o justo não deve temer o rico e arrogante, pois, enquanto o futuro do rico sem Deus é de miséria eterna (seus próprios túmulos, ricos e decorados, serão ironicamente suas casas eternas, Ec 12.5. O futuro dos que amam a Deus e vivem em humildade de coração está reluzindo cada vez mais com a perspectiva da vida eterna no Reino. 7 O salmista emprega uma linguagem figurada da mitologia cananéia que define o deus Mot (morte), como um “devorador de ovelhas”. Como diz um velho adágio cananeu: “Não te achegues demasiado ao deus Mot, caso contrário ele te devorará como a um dos seus cordeiros”. O monstro da morte é o próprio guia e pastor dos arrogantes e presunçosos, aqueles para os quais o Senhor não merece toda a atenção, muito menos os demais seres humanos (69.15; 141.7; Pv 1.12; 27.20; 30.15,16; Is 5.14; Jn 2.2; Hb 2.5). Contudo, os tolos ricos, ao morrerem, não levarão absolutamente nada consigo (Lc 12.19). Este versículo pode ser transliterado do original Massorético desta maneira: Catson lisheol shátu, mavet yir’em, veyirdu vam iesharim labóker, vetsuram levalot Sheol mizevul sêla. 57 irá também para a geração de seus pais, que nunca mais verão a luz. 20 O homem que, na opulência, não reflete, assemelha-se ao gado que se abate.8 19 A essência da adoração a Deus Salmo da família de Asafe. 50 O Todo-Poderoso, nosso Deus, se pronunciou, convocando toda a terra, desde o nascer do sol até o poente. 2 Desde Sião, excelsa em beleza, Deus resplandece.1 3 É nosso Deus que se aproxima, rompendo o silêncio: precede-o um fogo devorador, e ao seu redor uma terrível tempestade. 4 Ele convoca os céus, lá do alto, e a terra, para o julgamento de seu povo:2 5 Congregai, junto a mim, meus fiéis que selaram aliança comigo através de sacrifício!3 6 Os céus proclamam a sua justiça, porque é o próprio Deus quem julga. (Pausa) 7 “Escuta, meu povo! Eu vou falar: vou testemunhar contra ti, Israel. Eu Sou Deus, teu Deus: 8 não te repreendo pela falta de sacrifícios nem pelos holocaustos, pois trazes as tuas oferendas dia após dia.4 SALMOS 49, 50 Contudo, não tenho necessidade de nenhum novilho dos teus estábulos, nem de bodes dos teus apriscos, 10 pois todos os animais da floresta são meus, como o são as cabeças de gado, aos milhares, nas colinas. 11 Conheço todas as aves das montanhas, e os répteis do campo me pertencem. 12 Se Eu tivesse fome, não o diria a ti, pois a mim pertence o mundo e tudo o que ele contém. 13 Por acaso comerei carne de touros e beberei sangue de bodes? 14 Como sacrifício, oferece a Deus a tua ação de graças e cumpre os teus votos para com o Altíssimo; 15 invoca-me no dia do perigo! Eu te livrarei, e tu me darás glória”. 16 Entretanto, ao ímpio Deus afirma: De que te serve repetires sem fim os meus preceitos e teres nos lábios a minha aliança?5 17 Tu, que detestas as minhas disciplinas e dás as costas às minhas palavras! 18 Ao encontrar um ladrão, a ele te associas como amigo, e com adúlteros te misturas alegremente. 19 Soltas facilmente a tua boca para o mal, e tua língua é hábil para tramar mentiras. 9 8 Independentemente da tradição cultural, classe social e econômica, ou da capacidade intelectual de uma pessoa, sem uma profunda conversão interior a Jesus Cristo, o Messias, em que se reverencie o Filho de Deus como Salvador pessoal, ninguém encontrará a verdadeira, plena e eterna salvação; só lhe restará a separação definitiva de Deus, ou seja, a morte (1Jo 5.11-12). Capítulo 50 1 Podemos observar que na transliteração do manuscrito original Massorético, aparecem, juntos, três nomes de Deus: “El Elohim Adonai diber vayicrá árets, mimizrach shémesh ad mevoô. Mitsión michlal iofi Elohim hofía”. Outros quatro nomes de Deus são registrados nos versículos 6,14,21 e 22. Neste salmo magnífico, a cena que contemplamos é uma teofania – o aparecimento de Deus no meio do fogo e da tempestade, para conclamar o mundo todo para o grande tribunal do Senhor. Os nomes hebraicos ΄ēl - ´ēlõhim e jehõvã (Javé) significam Deus como “poderoso gerador de tudo o que há”; Deus, como “plural de majestade”, a partir do que se compreende a Trindade revelada no NT; assim como o “Deus da Aliança”, que se apresenta pessoalmente ao seu povo. Foi exatamente esse aspecto da divindade que Jesus Cristo veio revelar à humanidade. 2 Todo o universo é convocado para testemunhar o julgamento que o próprio Deus realizará contra seu povo, cujas responsabilidades e faltas serão avaliadas em função dos muitos privilégios que o Senhor concedeu a seu povo durante a história da humanidade (Am 3.2). 3 Os sacrifícios de animais faziam parte do ritual de sangue, no templo, que selava a Aliança, e continuavam a fazer parte inseparável da expressão de fidelidade ao Senhor, dos crentes israelenses no AT (Êx 24.4-8). 4 Israel não deixara de cumprir seus rituais de sacrifício e celebrações formais (v.8), mas no seu íntimo não havia sincero e verdadeiro espírito de gratidão e adoração a Deus, e essas são as qualidades que o Senhor mais procura nos seres humanos. Cumprir rituais com o objetivo de apaziguar uma divindade irada era um conceito pagão que havia danosamente migrado para os arraiais de Israel (40.6). Os legalistas são os primeiros a serem julgados: recebem crédito pelo que fazem (v.8), mas são repreendidos pelo espírito com que o fazem (vv.9-13) e, em seguida, são orientados a agir corretamente (vv.14-15). Portanto, a fé sincera é o culto mais apreciável que se pode oferecer a Deus. 5 Um segundo grupo de faltosos a ser julgado refere-se aos ímpios (sem piedade ou fé), aqueles que desprezam a Lei de Deus, mas não temem citá-la de forma hipócrita sempre a seu próprio favor (vv.16-21). SALMOS 50, 51 20 Assentas-te à vontade para falar contra teu irmão, e és rápido para caluniar o filho de tua própria mãe! 21 Ficaria Deus calado diante de tudo quanto tens feito? Pensavas que Eu era semelhante a ti? Eis, no entanto, que agora Eu te acusarei veementemente, sem omitir falta alguma!6 22 Considerai, pois, nisso vós, que esqueceis a Deus, senão vos faço em pedaços e ninguém vos poderá libertar.7 23 Quem me oferece sua sincera gratidão como sacrifício, honra-me, e Eu revelarei a salvação de Deus ao que anda nos meus caminhos!8 Contrição e confissão de Davi Ao regente do coro. Salmo de Davi, quando o profeta Natã o confrontou, depois de haver ele cometido adultério com Bate-Seba. 51 Tem piedade de mim, ó Deus, segundo a tua misericórdia; conforme a tua grande clemência, apaga minhas transgressões!1 2 Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado. 3 Pois no meu íntimo reconheço as mi- 58 nhas transgressões, e trago sempre presente o horror do meu pecado. 4 Pequei contra ti, contra ti somente, e pratiquei o mal que tanto reprovas. Portanto, justa é a tua sentença, e incontestável, ao julgar-me condenado.2 5 Reconheço que sou pecador desde o meu nascimento. Sim, desde que me concebeu minha mãe.3 6 Sei que tu queres estabelecer a verdade no meu interior; e no meu coração ministras a tua sabedoria. 7 Portanto, purifica-me com hissopo e ficarei limpo; lava-me, e mais branco do que a neve serei.4 8 Faze-me voltar a ouvir júbilo e alegria, e os ossos que esmagaste exultarão. 9 Esconde o rosto do meu pecado e apaga todas as minhas iniqüidades. 10 Ó Deus meu! Cria em mim um coração puro, e renova dentro de mim um espírito inabalável. 11 Não me afastes da tua presença, nem tires de mim teu Santo Espírito! 12 Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito disposto a obedecer.5 6 O silêncio misericordioso e paciente de Deus é interpretado de forma errônea e perversa pelos ímpios, com o objetivo de construírem doutrinas que apóiem suas intenções e atos malévolos (Ec 8.11; Is 42.14; 57.11). O Senhor é o Criador e não pode ser confundido com qualquer das suas criaturas (Êx 3.14). 7 Todos os povos do mundo devem considerar atentamente o dia do juízo final e o julgamento pessoal de cada ser humano de todos os tempos. A palavra hebraica, aqui traduzida por “Deus” é relativamente rara nos originais dos Salmos, aparecendo mais vezes no livro de Jó. 8 As Escrituras Sagradas, de forma geral, chamam constantemente atenção para a importância que há no falar das pessoas, como uma indicação precisa do seu verdadeiro caráter e coração (Tg 3.1-12). Capítulo 51 1 Este salmo é a oração humilde e sincera de um pecador consciente dos seus pecados, profundamente arrependido e disposto a confiar plenamente na graça de Deus, para mudar de vida. Davi nos revela, por meio do seu próprio exemplo de vida, a maneira correta de reagirmos à correção e disciplina que vêm da parte do Senhor contra um indivíduo ou mesmo sobre toda uma nação (v.16 com Sl 50). Na tradição da Igreja, esta oração pertence aos chamados “sete salmos penitenciais” (veja Sl 3; 4; 6 e 25). Observe a profusão de semi-sinônimos de amor e salvação atribuídos à ação divina: piedade, misericórdia, clemência, apagar, lavar, purificar (Lc 18.13). Quanto à tríade: transgressões, iniqüidade e pecado veja Sl 32.5. 2 Davi não tenta camuflar seu pecado, tampouco reduzir a hediondez de seus erros. Também não atribui suas faltas a causas inevitáveis, ciladas da vida, outras pessoas, ou más influências. Estabelece o correto contraste entre o “tu” e o “eu” para revelar o Deus santo e justo que observa atento o ser humano pecador. Essas conclusões levam Davi a pedir por misericórdia e não por justiça, baseando sua oração no amor perdoador e purificador do Senhor (Sl 32.2). Fazer o mal é, acima de tudo, uma afronta à santidade e ao amor de Deus. Davi evidencia profunda tristeza por ter pecado contra Deus, um sentimento de sincera frustração e arrependimento por ter ferido o coração do Pai, não um simples desgosto e vergonha por causa das inevitáveis conseqüências do pecado. 3 Nós, humanos, somos naturalmente movidos por sentimentos pecaminosos (vontades contrárias à santidade de Deus) por causa da nossa “natureza caída”, uma tendência inata, conhecida teologicamente como “pecado original”, e que só pode ser controlada mediante a plenitude do Espírito Santo na vida daquele que experimenta o “novo nascimento” (Gn 3; Jo 1.12,13; 1Jo 1.9,10; Ef 2.3; Rm 3.23; 5.12). 4 O hissopo era um pequeno arbusto usado na tradicional cerimônia de purificação: com os seus ramos se espargia pelo altar de Deus, o sangue do sacrifício e a água abençoada, como símbolo dos elementos purificadores (Êx 12.22; Lv 14.1-7; 1Rs 4.33). 5 Davi conclui que seu maior desejo na vida é reconquistar a santidade por meio da purificação que vem do Senhor. Só assim 59 Então ensinarei os teus caminhos aos transgressores, para que os pecadores se voltem também para ti. 14 Salva-me do pecado de sangue derramado, ó Eterno, Deus da minha salvação, para que minha língua seja livre para cantar exaltando a tua justiça.6 15 Ó Senhor, dá palavras corretas aos meus lábios, para que a minha boca possa proclamar o teu louvor. 16 Não te deleitas em sacrifícios nem te comprazes em oferendas, pois se assim fosse, eu os ofereceria. 17 O verdadeiro e aceitável sacrifício ao Eterno é o coração contrito; um coração quebrantado e arrependido jamais será desprezado por Deus! 18 Que te regozijes em abençoar a Sião e edificar as muralhas de Jerusalém. 19 Então te agradarás dos sacrifícios sinceros, das ofertas queimadas e dos holocaustos; e novilhos serão oferecidos sobre o teu altar.7 13 O ímpio será aniquilado por Deus Ao regente do coro. Um poema didático de Davi, quando Doegue, edomita, fez saber a Saul que SALMOS 51, 52 Davi entrara na casa de Abimeleque. 52 Por que, ó prepotente, te vanglorias na maldade, para ultraje de Deus, todo dia?1 2 Engendras crimes; tua língua é lâmina afiada, é forjadora de intrigas. 3 Ao bem, preferes o mal; à palavra da justiça, a mentira. (Pausa) 4 Todas as palavras perniciosas te agradam, ó língua pérfida!2 5 O próprio Deus te destruirá para sempre; agarrando-te, te arrancará da tenda, para erradicar-te da terra dos vivos. (Pausa) 6 Ao vê-lo, os justos, tomados de temor, dele escarnecerão: 7 “Eis o homem que não tomava a Deus por seu refúgio! Porquanto, depositava sua fé em suas muitas riquezas e, assim, tornou-se poderoso por seus crimes”.3 8 Eu, porém, qual oliveira verdejante na casa de Deus, confio no amor divino para todo o sempre! 9 Eu sempre te louvarei pelo que fizeste; na presença dos teus fiéis proclamarei o teu Nome, porque Tu és bom!4 ele alcançará a verdadeira alegria, e isso não depende de melhor educação ou situação socioeconômica, mas sobretudo de um “novo coração” (1Pe 1.3,23). 6 Só depois de passar pelo processo de purificação interior, mediante o perdão e o concerto de Deus, é que estamos habilitados a voltar a testemunhar de forma efetiva e agradável ao Senhor. Os rituais externos não são capazes de produzir o perdão divino; Deus aguarda um verdadeiro e íntimo arrependimento, para com seu Espírito, vir socorrer e perdoar o penitente (2Sm 12.13). Este versículo pode ser transliterado do original hebraico desta forma: Hatsilêni midamim, Elohim Elohê teshuati, teranen leshoni tsidcatêcha. 7 Somente após o restabelecimento da íntima comunhão com Deus, mediante sincero arrependimento, perdão e propósito santo de vida, é que a Cidade Santa e o culto no Templo passam a ter pleno valor para Deus, podendo então ser espiritualmente restaurados e reedificados. No Sl 32, um cântico composto na época dessa restauração interior de Davi pode observar a expressão de alegria e louvor do coração do servo refeito, diante do seu Senhor amado. Capítulo 52 1 Os crentes sinceros não devem sentir-se intimidados por nada e por ninguém. Os incrédulos são, quase sempre, arrogantes, e agem sob influência do maligno. Davi nos ensina a ficar firmes na presença de Deus e, do alto dessa torre de refúgio, com uma visão privilegiada da história e do gênero humano, lançar para baixo a denúncia profética (Is 22.15-19; 1Sm 17.45-47). Este poema, ainda que não seja exatamente um salmo de sapiência, tem muito a ver com o Sl 49. O retrato do inimigo soberbo contrasta com a humildade do servo de Deus, no Sl 51. 2 As Escrituras Sagradas advertem para o fato de que o uso que fazemos das palavras é determinado por tudo quanto habita no mais íntimo da nossa alma. O coração, portanto, é a fonte; e a linguagem é o rio caudaloso que parte das nossas entranhas (Tg 3.11; Pv 4.23; Mc 7.21). 3 O inimigo arrogante terá o mesmo fim dos tolos ricos do Sl 49. Quando os justos observarem o juízo de Deus aniquilando para sempre o perverso, temerão cair em semelhante castigo; mas acabarão se alegrando ao contemplar a vitória da causa de Deus, da qual são participantes e herdeiros (Sl 2.4). Quem confia apenas em si mesmo está rejeitando a misericórdia e o amor solidário de Deus. 4 O poema termina com uma nota solene de louvor; as ações de graça se referem ao passado: todos os grandes feitos de Deus são rememorados. E a esperança projeta, para os crentes, um futuro com infinitas bênçãos que fluem da maravilhosa Fonte Eterna, que é Deus. SALMOS 53–55 A oração do pecador regenerado Ao mestre de música. De acordo com a melodia solene de mahalat. Um poema sacro de Davi.1 Imagina o tolo em seu íntimo: “Deus não existe!” Corrompemse e praticam iniqüidade; já não há quem faça o bem. 2 Do céu, observa Deus os filhos dos seres humanos, a fim de ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus. 3 Todos se extraviaram, semelhantemente se corromperam; não existe alguém que pratique o bem, não existe nem mesmo uma só pessoa.2 4 Será que esses malfeitores não aprendem nunca? Eles devoram o meu povo como quem come pão e não respeitam a Deus? 5 Contudo, serão atingidos por um pavor horrível, porém, não existirá, de fato, motivo algum para temer! Porquanto, o Eterno espalhará os ossos dos que te sitiaram, ó Jerusalém. Ele os humilhará e os tornará objeto de desprezo!3 6 Ah, se de Sião viesse a salvação para Israel. Quando Deus restaurar a sorte do seu povo, Jacó exultará e Israel se rejubilará! 53 Apelo por socorro divino Ao regente do coro: com instrumentos de corda. Um poema de Davi, quando os zifeus vieram 60 revelar a Saul: “Davi de fato está se escondendo entre nós!” 54 Ó Deus, salva-me por teu Nome, e faze-me justiça por teu poder! 2 Ouve esta minha oração, ó Deus meu; dá atenção às palavras da minha boca. 3 Porquanto, contra mim se levantam os arrogantes, e os violentos procuram matar-me; homens que desprezam a Deus.1 (Pausa) 4 Verdadeiramente, Deus é o meu socorro; é o Senhor que me sustém.2 5 Ele retribuirá o mal praticado pelos meus opressores; por tua lealdade os exterminarás! 6 Com grande júbilo te oferecerei sacrifícios; cantarei em louvor ao teu Nome, ó SENHOR, e proclamarei que Tu és bom! 7 Pois Ele me livrou de todas as minhas aflições; e os meus olhos contemplaram a derrota dos meus inimigos!3 Súplica do perseguido Ao regente do coro: com instrumentos de corda. Um poema sacro de Davi. 55 Ó Deus, presta ouvido à minha oração e não ignores a minha súplica! 2 Atende-me e responde-me! Sinto-me perplexo em minha queixa,1 3 conturbado com a gritaria dos meus inimigos e a opressão dos ímpios, 1 A expressão original hebraica mahalat, cujo significado está ligado ao “padecimento sob as zombarias dos ímpios” (Sl 88; 102), traz o sentido de solenidade litúrgica, à melodia. Este salmo é considerado como uma segunda edição do Sl 14. 2 O Espírito de Deus revela a Davi que, embora a sociedade humana faça distinção entre pessoas e pessoas, não existe um só ser humano absolutamente justo e bondoso: todos nós somos pecadores e carecemos da graça misericordiosa e salvadora do Senhor (Rm 1 a 3). 3 Se o amor e o perdão divinos, por meio da pessoa de Jesus Cristo, são rejeitados (Jo 14.6); então, infelizmente, nenhuma alternativa existe, senão as duras conseqüências naturais do pecado, da humilhação e do afastamento eterno de Deus. Davi ora para que Israel seja salva do destino dos ímpios (v.6). Este versículo pode ser transliterado a partir dos originais hebraicos desta forma: Sham pachadu fáchad lo haia fachad, ki Elohim pizar atsmot chonach, hevishôta ki Elohim meassam. 4 Este versículo pode ser assim transliterado: Mi yiten mitsión ieshuót Yisrael, beshuv Elohim shevut amo, iaguel Iaacov yismach Yisrael. Capítulo 54 1 Típica oração do Saltério, na qual Davi pede a expressa intervenção de Deus contra seus inimigos que planejam assassiná-lo (Sl 3; 4 e 13). O título no original hebraico se refere ao evento ocorrido em 1Sm 23.19. Davi suplica que o Senhor julgue sua causa (Sl 17). 2 A confissão de plena confiança no Senhor é o ponto central deste poema de Davi (Sl 42.8). 3 A oração de fé é aquela em que o servo de Deus reconhece a soberania de Deus e tem absoluta certeza de que o Senhor fará o melhor; nem sempre o que desejamos de imediato, mas sempre o que nos conduzirá a um bem maior e à felicidade eterna. Portanto, em vez da dúvida, devemos alimentar a fé, por meio da expressão de louvor e sincera gratidão pela resposta do Pai (Sl 3.8; 5.11; 7.17). Capítulo 55 1 Davi busca forças e socorro em Deus para vencer uma poderosa conspiração que foi armada contra ele, em Jerusalém, sob 61 porque descarregam sobre mim suas maldades e me atacam com fúria. 4 Em meu peito agita-se o coração, terrores mortais caíram sobre mim. 5 Temor e tremor me invadiram, e cobreme o pavor. 6 Então, eu declarei: “Quem me dera ter asas de pomba para voar e encontrar um abrigo!” 7 Sim, eu fugiria para longe, para ficar no deserto. 8 Procuraria, às pressas, um refúgio seguro contra a tormenta e as tempestades. 9 Ó Senhor, destrói os ímpios; confunde a língua deles, pois vejo violência e brigas na cidade.2 10 Dia e noite, fazem ronda sobre muralhas. Lá dentro, maldade e crimes. 11 A destruição impera dentro da cidade; a opressão e as fraudes jamais abandonam suas ruas. 12 Não é apenas um simples inimigo que me insulta – eu o suportaria – não é um adversário que se levanta contra minha pessoa – eu dele me defenderia – 13 mas és tu, meu companheiro, meu confidente e amigo mais chegado. 14 Justamente tu, com quem eu partilhava da mais agradável e íntima comunhão, enquanto caminhávamos com a multidão festiva em direção à Casa de Deus!3 15 Portanto, que a morte apanhe meus inimigos de surpresa! Que todos eles desçam vivos à sepultura, pois entre eles o mal achou morada. 16 Eu, porém, clamo a Deus e o SENHOR me salvará! SALMOS 55, 56 17 De tarde, de manhã e ao meio-dia, lamento angustiado, e Ele ouve a minha súplica. 18 Ele me resgata ileso da batalha, sendo muitos os que estão contra mim.4 19 Deus, que reina desde sempre, me ouvirá e os humilhará! (Pausa) Pois os ímpios jamais mudam seu modo de agir e não têm o temor de Deus. 20 Quem estendeu as mãos contra os seus aliados, profanou sua própria aliança. 21 Sua fala é mais macia que a manteiga, contudo a guerra habita em seu íntimo; suas palavras são mais suaves que o azeite puro, todavia são afiadas e perigosas como o punhal. 22 Entrega tuas preocupações ao SENHOR! Ele te sustentará; jamais permitirá que o justo venha a cair.5 23 No entanto, tu, ó Deus, farás descer ao abismo da destruição todos aqueles assassinos e traidores, os quais não conseguirão viver nem a metade dos dias que lhes estavam reservados. Eu, porém, deposito toda a minha confiança em ti! Confiança em Deus na angústia Ao regente do coro: segundo a melodia “Uma Pomba em Carvalhos Longínquos”. Hino de Davi, quando os filisteus estavam para prendêlo em Gate. 56 Tem piedade de mim, ó Deus! Porquanto há pessoas que me afligem. Eles me atacam e me oprimem sem trégua. 2 Esses caluniadores me agridem sem parar; muitos se insurgem arrogantemente contra mim. a liderança de um de seus amigos íntimos. Uma situação muito semelhante à traição de Absalão contra o rei (2Sm 15 a 17). Davi aprende que não há lugar mais protegido e afastado das garras do mal que os braços do Senhor (vv.6,8,22; Jr 9.2-6). 2 Davi pede a Deus que produza confusão entre seus inimigos, assim como ocorreu em Babel (Gn 11.5-9; 2Sm 17.1-14). 3 Ofensas, tramas e violências de um inimigo são atitudes esperadas; no entanto, como suportar a traição de um amigo em quem se confia (v.20; Sl 41.9)? 4 Davi clama, dia e noite, ao Senhor, por livramento e reparação (Dn 6.10). E que Deus abrevie os dias dos seus inimigos na terra para que diminuam suas chances de arrependimento e perdão (v.23; Nm 16.29-33; Pv 1.12; Is 5.14). Davi confia totalmente no resgate que vem do Senhor (Is 50.2; Jr 31.11). 5 É Deus quem julga e castiga os ímpios e malfeitores, aqueles que desprezam o verdadeiro ensino da Palavra, vivem pecando e jamais aprendem a praticar o bem (Sl 14; 53 e 36.1). A expressão original hebraica traduzida por “aliado” significa literalmente: “aqueles que estão em paz com o salmista”. Diante de todas as pessoas reunidas no Templo, Davi expressa sua total confiança no auxílio do Senhor, por isso pode descansar de suas angústias e frustrações mais perturbadoras (vv.16-23; 1Pe 5.7). Este último versículo, no original hebraico, pode ser assim transliterado: Veata Elohim toridem liveer sháchat, anshê damim umirmá lo iechetsú iemehém, vaani evtach bach. SALMOS 56, 57 Todavia, quando o medo me atacar, confiarei em ti!1 4 Em Deus, cuja Palavra eu louvo, em Deus, eu deposito toda a minha confiança, e nada temerei. O que poderá fazerme o simples mortal? 5 Todo dia, escarnecem de minhas palavras; seus pensamentos são todos contra mim, para o mal. 6 Eles iniciam as hostilidades, espiam-me, vigiando meus passos. Porque atentaram contra a minha vida, 7 deixa-os escapar para a desgraça, derruba essa gente, ó Deus, em tua ira! 8 Tu mesmo anotaste o meu lamento; recolhe em teu odre as minhas lágrimas! Ora, acaso não registras tudo em teu Livro?2 9 Meus inimigos baterão em retirada no dia em que eu clamar por socorro. E assim ficará claro que Deus está a meu favor! 10 Em Deus, cuja Palavra eu exalto – no SENHOR, cuja Palavra eu proclamo – 11 neste Deus, deposito toda a minha fé, e nada temerei: o que poderá fazer-me o ser humano? 12 Assumo, ó Deus, os votos que te fiz; a Ti apresentarei as minhas ofertas de gratidão. 13 Porquanto me livraste da morte e os 3 62 meus pés de tropeçarem, a fim de que eu caminhe diante de Deus, na luz que ilumina os vivos!3 O perfeito refúgio está em Deus Ao mestre de canto. De acordo com a melodia “Não Destruas”. Um hino de Davi, quando fugiu de Saul e abrigou-se numa caverna. 57 Tem misericórdia de mim, ó Deus, tem piedade de mim! Pois em ti a minha alma encontra refúgio. Eu me refugiarei à sombra das tuas asas, até que passe o perigo que me persegue.1 2 Clamo a Deus, o Altíssimo, ao Deus que sempre me dispensou sua proteção.2 3 Dos céus Ele me enviará o seu livramento e a salvação, me protegerá com seu amor misericordioso e fará fracassar todos os intentos daqueles que me perseguem impiedosamente. (Pausa) 4 A minha alma está cercada por leões ferozes, tenho de repousar entre homens perversos, que por dentes têm lanças e flechas e, por língua, uma espada afiada!3 5 Ó Deus, eleva-te sobre os céus e sobre toda a terra, com tua glória!4 6 Estenderam uma rede para os meus passos: isso abateu minha alma. Diante 1 O medo é sempre paralisante. Mas Davi confia no Senhor e em sua Palavra, e essa fé lhe dá forças e a liberdade de agir e ver as maravilhas de Deus (1Sm 21.10-15; Sl 3; 4; 9; 34). A principal arma dos inimigos é a calúnia (Sl 5.9), e a arrogância lhes dá a falsa impressão de poder, desconsiderando o Deus de Davi (Sl 10.11). Davi afasta o medo e a insegurança por meio da fé na Palavra de Deus (vv.3,4). 2 Esta é uma forma figurada de expressar a onisciência e a atenção de Deus para conosco: que sonda nossos corações e conhece todas as nossas intenções, conflitos e vontades. Deus é pelo crente, a cruz de Cristo é a maior prova, as Sagradas Escrituras a maior revelação, e o Espírito Santo, a grande e definitiva confirmação (Rm 8.31-39). 3 Davi demonstra sua fé ao escrever como se sua oração já tivesse sido plenamente atendida pelo Senhor. Reconhece que agora deve cumprir os votos que fez a Deus, quando estava passando por graves aflições (Sl 66.14; 7.17). O Espírito de Deus é a grande luz que ilumina o caminho daqueles que recebem a bem-aventurança da verdadeira vida (Sl 36.9). Capítulo 57 1 Davi suplica a proteção de Deus diante da perseguição implacável de seus inimigos (1Sm 24.1-3; Sl 142). Neste salmo Davi usa a linguagem figurada dos elementos assustadores de uma noite no deserto e a esperança que nasce com o amanhecer. Estabelece ainda muitas ligações com o Sl 56 e vários outros (Sl 30.5; 46.5; 59.6-16; 63.1-6; 90.14; 108.1-5). 2 Este versículo pode ser transliterado do original hebraico desta forma: Ecra lelohim elion, lael gomer alai. 3 Os salmistas freqüentemente usavam a metáfora de animais selvagens e predadores, para identificar seus inimigos humanos mas impiedosos. O caráter dessas pessoas é sempre o mesmo: procuram caluniar e defraudar violentamente seu próximo, engendrando ciladas e provocando todo o mal possível, a fim de alcançarem seus objetivos escusos; agem da mesma forma que Satanás, seu mestre (1Pe 5.8). 4 A glória de Deus se revela sempre que resgata os justos e castiga os ímpios. Um maravilhoso exemplo dessa manifestação da glória do Senhor ocorreu na formação da nação de Israel (Êx 12 e 20) cuja história percorre toda a Bíblia, passando pela glória da nossa Salvação em Cristo, e culminando no estabelecimento definitivo do Reino de Deus e da Nova Jerusalém (Ap 21.1,2). 63 de mim cavaram um fosso: porém, eles mesmos nele caíram.5 (Pausa) 7 Meu coração está disposto, ó Deus, meu coração está livre do medo: quero cantar e entoar louvores. 8 Desperta, ó minha alma! Harpa e saltério, despertai! Quero despertar a aurora.6 9 Graças te darei, Senhor, entre as nações te cantarei louvores, 10 pois teu amor se eleva até os céus e tua fidelidade, até as nuvens. 12 Ó Deus, eleva-te sobre os céus e sobre toda a terra, com tua glória! Deus destruirá todos os ímpios Para o mestre de música. Também conforme a melodia “Não Destruas”. Um michtam de Davi.1 58 Acaso fazeis verdadeiramente justiça, ó poderosos da terra? Acaso julgais com eqüidade todos os seres humanos?2 2 Não! Vossas mentes tramam continuamente iniqüidades e, com vossas próprias mãos distribuís injustiça pelo mundo. 3 Desde o nascimento se rebelaram os ímpios e se desviaram do Caminho certo SALMOS 57, 58 todos aqueles que vivem mentindo;3 4 seu veneno se assemelha ao de uma terrível serpente; tapam os ouvidos como uma víbora que se faz de surda 5 para não dar atenção à música dos encantadores, nem à voz daqueles que têm a habilidade de dominá-las.4 6 Ó Eterno, arrebenta os dentes desses leões selvagens e arranca, ó SENHOR, as presas dessas feras! 7 Que desapareçam como água que escorre! Quando empunharem o arco, que suas flechas embotem e caiam ao chão antes de serem disparadas. 8 Que andem como a lesma que se arrasta até derreter; que sejam como feto abortado, não vejam eles o sol! 9 Os ímpios serão varridos do mundo pela fúria de Deus, antes que seus espinhos peçonhentos se enrijeçam! 10 O justo se alegrará, ao contemplar o castigo com o qual o Eterno os punirá, ao ver sob seus pés escorrer o sangue dos perversos. 11 Compreenderão e proclamarão, então, os homens: “Verdadeiramente há recompensa para o justo; sim, Deus existe! Ele faz justiça sobre toda a terra!”5 5 Esta é uma das máximas bíblicas: todos quantos armarem ciladas e maldades contra seus semelhantes, mais cedo ou mais tarde, serão apanhados em suas próprias redes. 6 Davi, pela fé, celebra o livramento que vem do Senhor (Is 51.9,17; 52.1). A expressão original hebraica, kābôd, significa “alma”, quando usada em paralelo com os elementos vitais do ser humano. Todo crente que consegue sintonizar-se com a vontade de Deus terá motivos para cantar louvores a Deus, sejam quais forem as circunstâncias pelas quais estiver passando, pois o Senhor cuida com carinho de todos, especialmente de seus filhos amados (Jo 1.12). Capítulo 58 1 A expressão hebraica original michtam significa “um poema epigráfico”, ou hino elaborado a partir de “um poema de Davi” (Sl 4; 9; 16; 57; 59; 75). 2 O poder judiciário era o principal recurso oferecido pelas sociedades do antigo Oriente Médio para proteção dos inocentes e pobres contra o ataque dos inescrupulosos, geralmente ricos, influentes e poderosos; no original hebraico, esta expressão – poderosos da terra – tem o sentido de “deuses”, como que representantes (juízes) terrestres do tribunal celestial de Deus (Êx 21.6; 22.8,9; Dt 1.17; 2Cr 19.6). A sociedade israelita sofria com a corrupção dos altos representantes do poder judiciário desde os dias do profeta Samuel, passando pela época de Davi, até o final da era monárquica (1Sm 8.3; 2Sm 15.1-4; Is 1.23; 5.23; 10.1,2; Ez 22.6,12; Am 5.7-13; Mq 3.1-11; 7.2). 3 Davi não faz esta afirmação em relação a todas as pessoas, mas especificamente contra os ímpios, aqueles cujo comportamento maldoso e corrupto não é esporádico ou premido por necessidade extrema; ainda que, também, seja um grave erro passível de punição, mas por causa de uma natureza pecaminosa, caída e depravada (Sl 10; 51.5; Jo 8.44). 4 O que sai da boca dos ímpios é tão malicioso, cruel e mortal como o veneno das serpentes mais peçonhentas. Não há argumentos ou pessoa que os possa demover de seus intentos maléficos e destruidores (Sl 140.3; Mt 23.33; Tg 3.8). O texto original hebraico dos vv.5 e 6 pode ser assim transliterado: Chamat lamo kidmut chamat nachash, kemo féten chéresh iatem ozno. Asher lo yishmá lecol melachashim, chover chavarim mechucam. 5 O tempo passa muito depressa e, em breve, o Senhor julgará os “deuses” (os juízes e os poderosos da terra). Todo o mundo verá o triunfo majestoso do direito sob o governo justo de Deus. O sentimento de indignação e frustração diante do atual estado de injustiça mundial será plenamente saciado: o ímpio pecador receberá seu merecido pagamento (a morte eterna), e a grande recompensa da glória eterna será plenamente outorgada aos crentes fiéis (Rm 6.23). SALMOS 59 Oração do perseguido Ao regente do coro, de acordo com a melodia “Não Destruas”. Poema de Davi, quando Saul mandou que lhe sitiassem a casa para o matar.1 59 Ó Deus, livra-me dos meus inimigos, protege-me dos meus agressores! 2 Livra-me dos malfeitores, salva-me dos homens sanguinários! 3 Ei-los em emboscadas para tirar a minha vida! Poderosos me espreitam, sem transgressão alguma da minha parte, ó SENHOR. 4 Mesmo que não pesem sobre mim iniqüidades, eles se apressam em prepararse para agredir-me. Observa o que acontece e intervém em meu auxílio! 5 Ó Eterno, Senhor dos Exércitos, Deus de Israel, vem e julga o procedimento de todas as nações; não tenhas misericórdia desses traidores perversos! (Pausa) 6 Eles voltam ao cair da tarde; rosnando como cães, rodam a cidade. 7 Vê como de suas bocas provêm ameaças mortais; palavras cortantes como espadas estão em seus lábios, e bramem: “Há alguém que nos ouça?”2 8 Contudo, tu, ó Eterno, deles te ris, zombas da arrogância de todas as nações! 9 Ó minha Fortaleza, em ti espero! Tu, ó Deus, és o meu supremo refúgio.3 10 Meu Deus misericordioso, certamente, virá em meu resgate; Ele me proporcionará a alegria de triunfar sobre os 64 meus inimigos! 11 Todavia, não os mates, ó Senhor, nosso escudo, para que meu povo não esqueça como nos salvaste. Em teu poder faze-os vaguearem humilhados. 12 Por causa de suas palavras mentirosas e seus lábios pecadores, sejam vitimados por sua própria arrogância, e pelas maldições e calúnias que propagaram. 13 Destrói-os em tua ira santa, dá-lhes fim para que não mais possam existir, e para que até os confins da terra se possa saber que o Eterno é quem reina sobre o povo de Jacó! (Pausa) 14 Eles retornam ao pôr-do-sol, rosnando e rondando a cidade. 15 Em busca de comida perambulam e, se não ficam satisfeitos, uivam pela noite. 16 No entanto, eu cantarei louvores à tua fidelidade, porquanto tu és o meu alto refúgio, abrigo seguro, especialmente nas épocas de crise. 17 Ó minha Fortaleza, hinos cantarei em teu louvor, pois tu és, ó Deus, a minha suprema proteção, ó Deus cujo amor tem me abençoado!4 Uma oração em tempos de guerra Para o mestre de música. Conforme a melodia “Os Lírios da Aliança”. Poema de Davi, para instrução. A história de Davi, quando lutou contra os arameus da Mesopotâmia e, depois, da Síria. E quando Joabe, regressando, derrotou de Edom, doze mil guerreiros no vale do Sal.1 1 Esta oração, em forma de poema hebraico, foi escrita originalmente por Davi como está explícito no cabeçalho do Salmo. Com o passar do tempo, seus régios filhos revisaram o texto deste hino de súplicas e louvor a Deus, aplicando-o às crises e, especialmente, aos graves sítios militares pelos quais Jerusalém passou, enfrentando ataques de muitas nações, ao longo da história (v.1). Como, por exemplo, na época do rei Ezequias, quando foi sitiada pelos assírios (2Rs 18.19). O próprio Neemias teria adaptado e orado algumas vezes este salmo com o povo de Israel, quando da reconstrução dos muros de Jerusalém (Ne 4). 2 Davi usa a metáfora da “noite” como símbolo do perigo iminente e da “aurora” como prenúncio do livramento e da salvação (vv. 6,14,16; Sl 57). O inimigo cria muitos ardis, mas sua arma mais importante é a “língua”, o poder das calúnias, difamações e maldições. O salmista suplica a Deus que julgue os que fazem injustiça (Sl 58.11). O ataque contra Davi era, naquelas circunstâncias, uma poderosa investida contra a nação de Israel, tramada, inclusive, por gente que se dizia amiga de Israel; literalmente em hebraico: traidores (1Sm 1.3; 19.11; Sl 5.10; 7.6). 3 Este trecho, no original hebraico, pode ser assim transliterado: Uszo elêcha eshmora, ki Elohim misgabi. O salmista usa a expressão “esperar” como alguém que tendo padecido a noite toda, aguarda com ansiedade e esperança pelo amanhecer de um novo dia e a chegada do livramento e da salvação (Sl 130.6). 4 Somente o crente que aprendeu a depositar toda a sua confiança em Deus consegue descansar e cantar hinos de gratidão ao Senhor, em meio às mais difíceis crises e aflições. O apóstolo Paulo foi um desses crentes que aprendeu a atravessar noites e noites de provações, certo de que com a aurora viria a salvação do Pai amoroso (At 16.23-26; Cl 3.15-17). Capítulo 60 1 Este salmo foi originalmente composto e orado pelo próprio rei Davi (v.9), suplicando o perdão de Deus e a restauração de 65 60 Ó Eterno, ao nos abandonares, Tu nos alquebraste; Tu derramaste tua ira contra nós; agora, pois, restaura-nos!2 2 Reintegra nossas forças; fizeste estremecer a terra e a fendeste; restaura esta brecha antes que desmorone. 3 Severidade demonstraste a teu povo; um vinho que nos tornou cambaleantes nos deste a beber. 4 Concede aos que te reverenciam um estandarte a ser seguido, em nome da verdade.3 (Pausa) 5 Salva-nos com tua mão direita e responde às nossas súplicas, para que sejam libertos aqueles a quem amas.4 6 Do seu santuário Deus falou: “No meu triunfo dividirei Siquém e repartirei o vale de Sucote.5 7 Gileade a mim pertence, assim como Manassés; Efraim é meu capacete, Judá é o meu cetro.6 8 Moabe é a vasilha sobre a qual lavo SALMOS 60, 61 minhas mãos, em Edom lanço a minha sandália; sobre a Filístia proclamo o meu brado de vitória!”7 9 Quem me conduzirá à cidade fortificada? Pudesse eu chegar agora até Edom! 10 Contudo, Tu nos rejeitaste, ó Eterno, e não marchas com nosso exército. 11 Dá-nos a tua ajuda contra o inimigo, porquanto inútil é o auxílio dos homens! 12 Só com Deus conquistaremos a vitória, pois é Ele quem destrói todos os nossos adversários! Oração pela restauração do rei Ao regente do coro: com instrumentos de corda. Um poema de Davi. 61 Ouve, ó Eterno, a minha súplica e atenta à minha prece. 2 Quando fraqueja meu coração, mesmo dos confins da terra clamo a Ti, com o coração abatido; coloca-me a salvo sobre a rocha mais elevada e inexpugnável!1 sua santa comunhão com a nação de Israel, derrotada e afligida que fora pelos exércitos de uma nação gentia como Edom, que soube tirar proveito da concentração do exército israelita no Norte e destruiu as fracas guarnições que vigiavam as fronteiras do sul de Judá (2Sm 8; 10; 1Cr 18; 2Cr 20). O lamento de Davi liga este poema ao Sl 44 e reaparece no Sl 108.6-13, um dos muitos hinos que visavam transmitir confiança em Deus, em tempos de ameaças e guerras (Dt 31.19-21; 2Sm 1.18). 2 Uma característica marcante da teologia do AT é entender qualquer derrota ou insucesso como demonstração da ira de Deus contra algum pecado cometido. Davi está expressando a dor do seu povo e o sentimento geral de que Deus os havia punido com severa derrota e a morte de muitos soldados. Entretanto, não há indicação real alguma de que Deus – em algum momento – tenha quebrado seu vínculo de Aliança com Israel. As punições do Senhor são todas disciplinadoras e em benefício do seu povo, como um Pai que sofre ao ter de ser severo na educação de seu filho (Dt 8.5; Jó 5.17; Pv 13.24; 1Co 11.32; Hb 12.10). 3 Este “estandarte” era uma bandeira usada como sinal para demarcar os locais onde as tropas deviam concentrar-se para a batalha. Assim também, tais bandeiras eram usadas para guiar os exércitos durante as investidas contra os inimigos (Is 5.26; 11.10,12; 13.2; 18.3; 30.17; 49.22; 62.10; Jr 4.21; 50.2; 51.12,27). Este versículo pode ser transliterado do original hebraico desta forma: Natáta lireêcha nes lehitnosses, mipenê cóshet (Sêla). 4 A expressão “a quem amas” traduzida a partir dos melhores e mais antigos originais em hebraico, corresponde a uma palavra de “carinho particular e especial”. Este versículo pode ser assim transliterado: Lemáan iechaletsun iedidêcha, hoshía ieminechá vaanêni. Essa mesma expressão especial para identificar o amor indestrutível e sacrificial que Deus tem para com os seus aparece em Sl 127.2; 2Sm 12.25 e Jr 11.15. 5 Palavra de poder e consolo que vem do Senhor Deus para seus filhos, relembrando os tempos da conquista de Canaã, e preservada na história no “Livro das Guerras do Senhor” (Nm 21.14). O Senhor é o nosso Rei Triunfante (Êx 15.3-18). Ele dividiu, entre seu povo, o território conquistado nas batalhas. Sucote e Siquém são lugares que exemplificam as terras conquistadas a oeste e leste do Jordão (Gn 33.17,18; 1Rs 12.25). 6 De Judá havia chegado o regente que o Senhor pessoalmente escolhera para reinar sobre seu povo na terra (1Sm 16.1-13; 2Sm 7). Uma simbologia poderosa sobre a vinda de Jesus Cristo, o definitivo e perpétuo Rei e Leão da Tribo de Judá (Ap 5.5). 7 Aqui estão representados os inimigos de Deus, que espreitavam os israelitas nas fronteiras leste, sul e oeste (Êx 13.17 com 15.14,15 e Nm 20.14-21). A metáfora usada em relação a Moabe tem a ver com o fato de esse adversário viver ao longo da praia leste do mar Morto (Gn 18.4). O ato de se atirarem as sandálias num local era tradicionalmente reconhecido como um gesto público de reivindicação do direito de posse daquela terra (Rt 4.7). Este versículo pode ser transliterado do original hebraico desta forma: Moav sir rach’tsi, al Edom ashlich naali, alai peléshet hit’roái. Capítulo 61 1 Davi compôs esta súplica poética a Deus, na época em que fugia de Absalão (2Sm 17.21-29). O tema deste salmo, como de alguns que se interligam, é a expressão de plena confiança no amor e na ação poderosa do Senhor, em favor dos seus, mesmo em meio às mais terríveis perseguições e crises da vida. Na frase “mesmo dos confins da terra”, a idéia de exílio tem um duplo sentido: refere-se tanto ao afastamento forçado da terra natal, quanto à iminência da morte. O salmista encontrava-se à beira do SALMOS 61, 62 Pois Tu tens sido o meu refúgio, uma fortaleza diante do meu inimigo. 4 Possa eu morar sempre sob tua tenda e abrigar-me à sombra das tuas asas. (Pausa) 5 Ouviste, ó Eterno, os votos que te fiz; assegura a herança de todos aqueles que te reverenciam e temem o teu Nome.2 6 Acrescenta dias aos dias de existência do rei e que se estendam, por gerações, seus anos de vida.3 7 Que lhe seja outorgado o direito de se assentar em seu trono, na presença de Deus; envia o teu temor e a tua lealdade para protegê-lo! 8 Assim, com salmos, hinos e canções, para sempre exaltarei o teu Nome, cumprindo os meus votos cada dia. 3 Exortação à confiança em Deus Ao mestre de canto. Ao estilo da melodia de Jedutum. Um salmo de Davi. 62 Só em Deus está o descanso, ó minha alma: dele vem a minha salvação.1 2 Só Ele é minha rocha e salvação, meu baluarte. Ele jamais me deixará desesperar! 3 Até quando atacareis, todos juntos e traiçoeiramente, um só homem, para abatê-lo, como se fora uma parede desaprumada, uma cerca a desabar? 66 O maior objetivo deles é derrubá-lo de sua posição elevada; eles se deliciam com mentiras. Bendizem-no com suas bocas, enquanto o amaldiçoam em seus corações.2 (Pausa) 5 Contudo, somente no Eterno espera a minha alma, em silêncio, pois Ele é que me traz a esperança! 6 Ele é minha Rocha, minha Salvação, minha torre inexpugnável. Por isso não desesperarei jamais! 7 A minha salvação e a minha honra dependem somente de Deus; Ele é a rocha da minha fortaleza, a segurança do meu abrigo!3 8 Confia sempre em Deus, ó povo meu! Perante sua presença derrama todo o coração; Ele é o nosso refúgio seguro. (Pausa) 9 Vãs são as palavras dos homens, mentirosas são as afirmações dos poderosos; colocadas todas juntas numa balança nada pesam! 10 Não depositeis na opressão, vossa confiança; nem no estelionato, a esperança; ainda que prosperem, não lhes deis atenção. 11 Uma vez declarou Deus e duas lições ouvi: o poder pertence a Deus,4 12 e a bondade é tua, ó Eterno, pois Tu 4 mundo do além (Sl 63.9). O lugar seguro e confortável almejado pelo salmista que padece é o ambiente e a presença soberana do próprio Deus, nossa “rocha perpétua de refúgio” (Sl 18.2; 31.2; 62.2-7; 71.3; 94.22). 2 Davi recorre ao Senhor, pois Deus nunca lhe faltara: o salmista jamais ficou sem resposta, consolo e abrigo divino. Ainda que seja diante da morte, o Senhor é nosso maior refúgio e segurança (Sl 14.7; 49.14-15; 68.20; Jó 33.22-24; Is 25.8; 28.15-16; Jr 9.21; Os 13.14 com 1Co 15.26). 3 O salmista lança um olhar profético para além de sua própria pessoa, reinado e circunstâncias, vislumbrando seu descendente divino, que ainda estava para vir e estabelecer, no final dos tempos, seu grande, inabalável e eterno Reino (Lc 1.32-33). Capítulo 62 1 Ao ser perseguido e ameaçado pelos familiares de Saul, o rei Davi olha para a multidão dos conspiradores, mas fixa sua fé no amor e no poder do Senhor. A plena confiança em Deus é a total exclusão de todas as esperanças menores oferecidas pelo mundo em que vivemos. Nosso livramento e salvação, assim como todas as demais bênçãos, procedem de Deus, o Eterno (como a ele se referem os originais hebraicos), que a todos dá generosamente (Tg 1.5,17). Nenhum outro salmo de Davi é mais eloqüente em relação à expressão de uma fé inabalável e singela em Deus (Sl 31; 61). O texto deste versículo pode ser transliterado do original hebraico da seguinte maneira: Ach el Elohim dumitá nafshi, mimênu ieshuati. A expressão “silêncio” é interpretada como “descanso” ou “em repouso” (v.5). 2 A metáfora da parede ou muro instável e prestes a ruir é comum nos provérbios orientais. Os covardes, ardilosos e caluniadores encontram, na maldade, a perfeita expressão da sua natureza pecaminosa. 3 Temos grande necessidade de parar e meditar sobre tudo aquilo que Deus é e pode. Se o Senhor ainda não significa para nós o que Davi declara aqui, então precisamos urgentemente nos aproximar do Pai com um coração humilde e penitente (v.8; Lm 2.19; Jo 14.1-16). 4 Davi conclui seu hino de exortação à absoluta confiança em Deus, com a proclamação do poder, da graça e da justiça do Senhor; declaração que deu origem às mais belas e poderosas doxologias do NT (Rm 16.25; Ef 3.20; Jd 24). 67 recompensas o ser humano, conforme seus atos! Anseio da alma por Deus Salmo de Davi, quando estava no deserto de Judá. 63 Ó Eterno, Tu és o meu Deus e a Ti eu busco dia e noite; a minha alma tem sede de Ti! Todo o meu ser anela pelo refrigério da tua presença numa terra árida, exausta e sem água.1 2 Recordo-me dos dias em que te contemplei no santuário, para me embeber de teu poder e de tua glória.2 3 Porquanto melhor que a própria vida é o teu amor leal e misericordioso! Por isso, os meus lábios te exaltarão sobremaneira. 4 Sim, por toda a minha vida eu Te bendirei e erguerei meus braços invocando o teu Nome. 5 Como num rico banquete, assim minha alma ficará plenamente satisfeita e, com alegria nos lábios, te louvará minha boca. 6 Em meu leito, durante as noites de vigília, lembrar-me-ei de Ti e meditarei sobre a tua bondade.3 7 Porque tens sido meu socorro, e à sombra das tuas asas canto louvores de alegria. 8 Minha alma a Ti se une, e tua destra me sustenta. 9 Aqueles que procuram a minha des- SALMOS 62–64 truição serão lançados às profundezas da terra!4 10 A espada os ferirá e se tornarão pasto para os chacais. 11 O rei, porém, se alegrará em Deus; todos os que juram pelo Nome de Deus o louvarão todavia, as bocas dos mentirosos serão lacradas.5 Proteção contra as injustiças Para o mestre de música. Um salmo davídico. 64 Ouve, ó Eterno, minha voz, quando expresso meu lamento; protege a minha vida do inimigo ameaçador.1 2 Defende-me da conspiração dos ímpios e da ruidosa multidão dos perversos. 3 Eles afiam suas línguas como espadas, e como flechas disparam suas palavras cheias de veneno. 4 E de suas trincheiras ocultas atiram contra o homem íntegro; atacam, de emboscada, sem o menor receio da justiça.2 5 Estão absolutamente dominados pela maldade, conspiram para tramar ciladas e argumentam entre si: “Quem nos descobrirá?” 6 Tramam a injustiça e declaram: “Fizemos um plano perfeito!” A mente e o coração deles buscam legitimar os crimes cometidos. 7 Entretanto, é Deus quem dispara contra eles uma flecha e, de pronto, os fere de morte.3 1 Assim como o Sl 62, este poema do rei Davi (2Sm 15.23-28; 16.2-23) tem, implícita, uma oração e foi muito usado nas orações públicas da igreja primitiva. O progresso a partir do ouvir e a metáfora da noite que simboliza as crises e os perigos em contraste com a aurora de um novo dia, que traz a salvação do Senhor (vv. 2,6; 48.8; 57), são as marcas da sua estrutura, cuja expressão inicial de anseio dá lugar à alegria triunfal daqueles que confiam em Deus. 2 As reflexões consoladoras de Davi evocam os sentimentos que experimentou na presença de Deus, no santuário, e que despertam expectativas jubilosas de vitória (vv.2-5). Ainda que algumas de nossas atitudes sejam desabonadoras, a graça perdoadora do Senhor pode nos alcançar em nosso deserto pessoal e conduzir-nos para o oásis da perfeita paz e abundância (Sl 84.4-7). 3 Davi descobriu a melhor maneira de aproveitar as horas de insônia. Quem busca ao Senhor encontra satisfação para a alma (v.5), memórias agradáveis e de confiança em Deus (v.6) e segurança absoluta (v.7). 4 Os inimigos dos filhos de Deus que tentarem prejudicá-los ou atentarem contra suas vidas, receberão, do Senhor, justo castigo e poderão perder suas próprias vidas (Gn 9.5; Êx 21.23; Dt 19.21 com Sl 5). 5 Os que “juram pelo Nome de Deus” são todos aqueles que um dia fizeram o voto de entrega de suas vidas ao Senhor e que confiam nele de todo o coração (Dt 6.13). Os que vivem de mentiras e falsidades serão anulados e aniquilados por Deus e seus corpos insepultos se espalharão pela terra como símbolo da maior ignomínia (53.5; Ap 6.4). Capítulo 64 1 O rei Davi ora para que sua vida seja colocada fora do alcance de conspiradores que tramam sua morte. As circunstâncias gerais são semelhantes às do Sl 62. 2 A arma mais poderosa dos inimigos, covardes e atrevidos quando escondidos, é a língua que dispara maledicências. A intriga e a calúnia podem arruinar muitas vidas (5.9; 10.7-9; 22.7; 52.2-4). 3 Nada detém o ímpio em sua insolência diabólica. Ele é completamente indiferente a qualquer senso de justiça ou temor a Deus. Os inimigos de Davi haviam lançado mão de muitas “setas” com o objetivo de destruí-lo (vv. 3,5 e 6). Contudo, apenas uma SALMOS 64–66 Sua própria língua lhes provocará o fracasso repentino; todos que assistirem a esse triste fim menearão a cabeça e zombarão deles. 9 Então, todos os seres humanos temerão e proclamarão as obras de Deus, meditando sobre esses grandes feitos de Deus. 10 Que se alegre o justo, no Eterno; e nele busque refúgio; congratulem-se todos os retos de coração!4 8 Ações de graças pelas bênçãos Ao mestre de música. Salmo de Davi, um cântico. 65 A ti, ó Deus, é dedicado todo o louvor, em Sião, mesmo quando íntimos e silenciosos, cumprem-se os votos diante de Ti.1 2 A ti, que acolhes as orações, virão todos os seres humanos. 3 Quando nossos pecados pesavam sobre nossos ombros, tu mesmo fizeste propiciação por nossas transgressões. 4 Bem-aventurados são todos aqueles que escolhes e trazes a Ti para viverem da tua Casa, do teu santo Templo! 5 Tu nos respondes com tremendos feitos de justiça, ó Deus, nosso Salvador, que sustentas a terra até seus confins e os mares até o mais longínquo e profundo. 6 Tu que formaste as montanhas pela tua força criativa, por meio do teu infinito poder.2 68 7 Tu que acalmas o rugido dos oceanos, o bramido das ondas dos mares e o tumulto dos povos das nações. 8 Temor por teus portentosos feitos despertas nos habitantes das terras longínquas, e júbilo trazes aos habitantes dos países do Oriente e do Ocidente. 9 Cuidaste da terra e a irrigaste, enriquecendo-a com cursos de água por Ti abastecidos; provês os grãos para alimento do ser humano, pois para isso a terra preparaste. 10 Regas seus sulcos, fazes por seus canais correr água; com as gotas da chuva a fazes germinar e sua flora abençoas. 11 Com tua bondade a cobres por todo o ano e abundância extravasa de tuas veredas. 12 Pastagens brotam nos desertos e de júbilo se cingem as colinas. 13 As campinas se revestem de rebanhos, os vales se vestem de trigais viçosos e ecoam vozes uníssonas em jubilosos cânticos de louvor a Ti!3 Ofertas de gratidão Ao regente do coro. Um salmo para cantar.1 66 Aclamai a Deus, terra inteira. 2 Entoai hinos à magnificência do seu Nome; dai-lhe glória, mediante vosso louvor! 3 Declarai ao Eterno: “Quão assombrosas flecha do Senhor será o suficiente para exterminá-los (v.7). O que os inimigos planejavam fazer contra Davi, o próprio Deus lhes ofereceu de volta. É a lei da retribuição divina (Sl 44.14; 63.9,10). 4 No original hebraico; a primeira palavra do salmo, “Ouve”, forma um jogo de palavras com a primeira expressão deste versículo 10, “Que se alegre...”, a fim de reforçar a idéia de que ao confiarmos no Senhor, ele se inclina para ouvir nossas petições e, porque Ele nos ouve, nada poderá frustrar nossa mais profunda alegria: sermos seus filhos amados. Capítulo 65 1 Hino de louvor pela grande bondade e misericórdia do Senhor para com seu povo. A palavra hebraica dumiyã vem da raiz dãmam, que significa “ser silencioso”, cujo substantivo nos remete à idéia de “silêncio” e “permanência confiante”. Esses sentidos mais amplos e profundos do termo hebraico nos ajudam a compreender a idéia de que Deus é perfeitamente capaz de ouvir a súplica mais secreta, feita no mais íntimo do nosso ser (v.2). 2 Uma referência ao poder e sabedoria de Deus, nosso Criador, que ordenou o caos e criou o Universo e a vida (Gn 1; Hb 1.3). Ele estabelecerá, na redenção definitiva do seu povo, uma ordem pacífica entre as nações (Is 2.4; 11.6-9; Mq 4.3,4), com o objetivo de propiciar paz a Israel na Terra Prometida (Sl 33; 46). Os salmistas e profetas do AT costumavam comparar os atos de Deus na criação com seus atos poderosos da redenção, visto que seu poder, no passado histórico, como Criador, era a maior garantia da sua esperada ação final como Redentor absoluto e eterno de todos os que nele crêem (Sl 74.12-17; 89.9-18; 95.4,5; Is 27.1; 40.6-31; 51.9-11). 3 Na linguagem poética e exuberante de Davi, toda a criação – inclusive seus elementos inanimados – forma um grande coral para louvar a Deus por seu poder e misericórdia em seus atos criativos, nas bênçãos generosas e infinitas e, especialmente, no portentoso ato da redenção definitiva (Sl 89.12; 96.11-13; 98.8,9; 103.22; 145.10; 148.3-10 com Jó 38.7; Is 44.23; 49.13; 55.12). Capítulo 66 1 Um hino para a celebração do culto no templo, com uma parte destinada ao coro (vv. 1-12), e a parte final para o solista (vv. 13-20). 69 são tuas obras! Pela grandeza do teu poder, teus inimigos a Ti se rendem. 4 Prostra-se diante de Ti a terra inteira e entoa hinos em tua honra, canta louvores ao teu Nome”.2 (Pausa) 5 Vinde ver as ações de Deus, os feitos que aos homens inspiram temor! 6 O mar ele transformou em terra firme, a pé atravessaram o rio; ali nos alegramos nele. 7 Ele governa eternamente com seu poder, seus olhos vigiam as nações: não se vangloriem os rebeldes! (Pausa) 8 Povos, bendizei o nosso Deus, fazei ressoar seu louvor! 9 Ele conserva com vida nossa alma e não deixa vacilarem nossos pés. 10 Pois Tu, ó Deus, nos puseste à prova, purificaste-nos como se purifica a prata.3 11 Tu nos levaste para a armadilha, puseste um pesado fardo sobre nossas costas. 12 Permitiste que, sobre nossas cabeças, homens cavalgassem; passamos pelo fogo e pela água. Mas nos trouxeste ao refrigério! 13 Venho à tua Casa, com holocaustos, cumprir para contigo os meus votos. 14 Votos que meus lábios proferiram e minha boca pronunciou na minha angústia. 15 Animais cevados te ofereço em holocausto, com imolação de carneiros; preparo-te bois e bodes. (Pausa) SALMOS 66, 67 Vinde ouvir vós todos que temeis a Deus! E contarei o que Ele realizou por mim. 17 Invoquei-o com minha boca, e por minha língua foi enaltecido. 18 Se eu, no coração, tivesse visado a maldade, o Senhor não me teria escutado.4 19 Contudo, Deus me ouviu e prestou atenção à voz da minha súplica. 20 Bendito seja Deus, que não afastou de si minha súplica, nem de mim o seu amor!5 16 Súplica pela bênção divina Ao regente do coro: com instrumentos de corda. Um salmo para cantar. 67 Que o Eterno nos conceda sua graça e nos abençoe, e que faça sobre nós resplandecer a sua face,1 (Pausa) 2 para que sejam conhecidos na terra o teu Caminho, a tua Salvação entre todas as nações. 3 Ergam-te graças todos os povos. Que todas as nações louvem a Ti. 4 Alegrem-se e exultem as nações, pois governas os povos com retidão e reges na terra todos os povos. (Pausa) 5 Louvem-te os povos, ó Deus; que te exaltem todas as nações! 6 Possa, então, a terra produzir em abundância seus frutos, possa o Eterno, nosso Deus, nos abençoar.2 7 Sim, possa Ele nos abençoar e ser reve- 2 Segundo conceituados historiadores e biblistas, este poema canta e exalta a Deus pela maneira prodigiosa como livrou Judá dos assírios (2Rs 19). Este louvor foi oferecido no templo em cumprimento a um voto e conclama todos os crentes a reverenciarem o Nome do Senhor (vv.13,14; 7.17; 9.1). Deus rege a tudo e a todos com sua soberana justiça e misericórdia. Até o final dos tempos todos terão de se submeter ao Senhor (Fp 2.9-11). 3 As crises, sofrimentos e provações, pelas quais todos nós passamos, contribuem para a formação do verdadeiro e piedoso caráter do cristão sincero e humilde; assim como o fogo é usado, não para destruir, mas para purificar e valorizar a prata e o ouro (1Pe 1.7; Hb 12.11). 4 Apenas um coração puro, amoroso e livre de maldades pode obter a resposta do Senhor às suas súplicas (Jo 15.7). 5 Davi sabia que suas orações haviam sido respondidas pelo Senhor, que observa e avalia os corações dos seres humanos. Entretanto, esse gesto de Deus era fruto da sua graça, e não de qualquer obra ou sacrifício meritório do salmista. Oração e louvor são duas disciplinas que caminham juntas na doutrina devocional do AT, conceito que foi incorporado à teologia do NT (Fp 4.6; 1Tm 2.1). Capítulo 67 1 Oração comunitária, suplicando a bênção do Senhor. O texto no original hebraico reflete claramente a bênção sacerdotal descrita em Nm 6.22-27. Todos aqueles que conhecem a Deus, o Eterno, devem torná-lo também conhecido de todos os povos. Por isso, ao longo dos séculos este poema tem sido chamado de Salmo Missionário. Deus nos constituiu seus embaixadores (2Co 5.18-21). A bênção que Deus outorga a seu povo assim como seus atos salvíficos em favor dos seus escolhidos, atrairão a reverência de todas as nações e as conduzirão ao verdadeiro e sincero louvor (Sl 65.2; 98.4-6; 100.1). 2 O grande objetivo de Deus é que as nações da terra reconheçam sua soberania e misericórdia, assim como deveria fazê-lo o SALMOS 67, 68 renciado e temido até os confins da terra! O triunfo de Deus sobre o mal Ao mestre do coro, um salmo de Davi. Um cântico.1 68 Ao erguer-se o Eterno, dispersaram-se seus inimigos, e da sua presença fogem os que lhe são adversários.2 2 Dissipa-os como fumaça que se esvai; assim como no fogo se derrete a cera, que ante a presença divina pereçam os ímpios. 3 Os justos, porém, que se alegrem; que exultem diante de Deus e regozijem-se com grande alegria! 4 Cantai a Deus, salmodiai ao seu Nome, exaltai aquele que cavalga nas nuvens! Seu nome é SENHOR: exultai, pois, na presença dele! 5 Pai dos órfãos, Defensor das viúvas; eis o que é Deus na sua santa morada. 6 Aos rejeitados, Deus os recolhe em pátrio lar; faz os cativos serem libertos para a prosperidade; só os rebeldes permanecem na árida terra. 7 Ó Deus, quando saíste à frente do teu povo, quando avançaste pelo deserto,3 (Pausa) 8 tremeu a terra, os céus se derreteram em 70 gotas d’água. Ante a presença do Eterno, o Deus de Israel, tremeu o Sinai! 9 Derramaste, ó Deus, abundante chuva; tua herdade, que estava ressequida, tu a restauraste. 10 Nela se fixaram tuas criaturas; bondosamente a preparaste, ó Deus, para os pobres. 11 O Senhor anunciou a Palavra e muitos mensageiros a proclamaram:4 12 “Reis e exércitos fogem em debandada, e a dona-de-casa reparte os despojos. 13 Entre fronteiras seguras vos haveis de abrigar, enquanto sobre vós resplandecem, como prata, as asas esvoaçantes da minha pomba, e brilham como ouro suas penas.5 14 Quando o Todo-Poderoso ali desbaratava reis, era como se flocos de neve caíssem sobre o monte Zalmom. 15 Montanha altíssima é a montanha de Basã, majestosos e escarpados são os montes de Basã! 16 Por que, ó montes de altos píncaros, olhais, com inveja, a montanha que Deus escolheu para sua habitação, onde o próprio SENHOR habitará para sempre? 17 São os carros de Deus milhares de milhares; incontáveis; neles o Senhor veio do Sinai para o seu Lugar Santo.6 povo escolhido. Essa, portanto, é a missão da Igreja até o Dia Final (Ap 7.9,10). Veja a transliteração destes dois últimos versículos, a partir do original hebraico: Érets natena ievulá, ievarechênu Elohim Elohênu. Levarechênu Elohim, veyireú Oto col afsê árets. Capítulo 68 1 Este salmo faz parte, até hoje, da liturgia israelense. Nos tempos antigos, o povo entoava este hino de louvor a Deus, em cortejo, celebrando o governo glorioso e triunfante do Deus de Israel sobre toda a terra (Sl 4; 24; 30; 47; 118; 132). 2 Os versículos de 1 a 18 revelam detalhes poéticos da gloriosa marcha desde o monte Sinai (Nm 10.33-35), sob a liderança de Moisés, até o monte Sião, já nos dias do rei Davi. Os eventos no monte Sinai definiram o surgimento do reino de Deus entre seu povo na terra; momento histórico, especial, quando a Arca da Aliança, símbolo da presença e do trono de Deus, foi estabelecida em Jerusalém, o que passou a representar o próprio estabelecimento do reino divino para a redenção de toda a terra, tendo Jerusalém como cidade santa, de onde emana a majestade do Senhor. Desde os primórdios da Igreja, os primeiros cristãos assumiram este salmo como profecia e prenúncio da ressurreição, ascensão e governo eterno do Senhor Jesus Cristo, bem como do triunfo final da sua Igreja sobre todos os inimigos de Deus e o mundo hostil (Ef 4.8-13). 3 Aqui temos um breve resumo do livro de Números (vv. 7-10), exaltando o amor e o poder de Deus, porém não descrevendo os muitos momentos em que o povo de Israel foi rebelde e desobedeceu ao Senhor, pois este poema foi escrito com o principal propósito de exaltar a Deus. Somos relembrados da gloriosa marcha de Deus pelo deserto, a partir do Sinai até a Terra Prometida (Js 5.4,5; Hc 3.3-6). 4 Deus já havia declarado que venceria os reis cananeus. Entretanto, os filósofos e poetas de Canaã, que adoravam o deus Baal, debochavam dessas profecias e compunham canções e poemas afirmando que “Baal cavalga sobre as nuvens”. O salmista então, usa a própria literatura dos cananeus para demonstrar que somente Yahweh (Javé, Jeová) é Deus, e faz das grandes nuvens de tempestade seu carro de guerra (Sl 18.9; 33; 104.3; Is 19.1; Mt 26.64). 5 Israel é a “Pomba de Deus”. O salmista emprega um exagero poético (hipérbole) para realçar o fato de Deus ter derrotado todos os reis hostis a Israel, muito antes de os exércitos israelenses terem iniciado qualquer confronto militar (Js 2.8-11; 5.1; 6.16; 2Sm 5.24; 2Rs 7.5-7; 19.35; 2Cr 20.22-30). 6 O inumerável exército celestial de Deus é comparado, pelo salmista, a uma enorme força de carros de guerra (2Rs 6.17; Hc 3.8,15). Na época do Império Romano, o próprio Senhor Jesus referiu-se às hostes de Deus como “legiões” (Mt 26.53). 71 Subiste ao cume, levando os cativos; recebeste dádivas dentre os homens, até mesmo dos que se rebelaram contra a tua habitação.7 19 Bendito seja o Senhor, Deus, nosso Salvador, que cada dia nos dá forças para que possamos levar as nossas cargas. (Pausa) 20 Sim! Ele é para nós o Deus que nos liberta até mesmo dos grilhões da morte! 21 Com toda a certeza Deus arrebentará a cabeça de todos os seus inimigos, esmagará o crânio do que perambula envolto em iniqüidade. 22 Proclamou o Senhor: “Eu os trarei de Basã! Eu os farei voltar, mesmo das profundezas do mar, 23 para que pises teu pé sobre as poças do sangue deles, para que até a língua de teus cães tenha uma porção de teus inimigos para devorar. 24 Já se avista a tua marcha triunfal, ó Eterno, a marcha do meu Deus e Rei adentrando o santuário! 25 À frente marcham os cantores, depois, os músicos; com eles caminham os jovens tocando pandeiros. 26 Congregai-vos para bendizer a Deus! Abençoai ao SENHOR, todos vós que vindes da fonte de Israel. 27 Ali está a pequena tribo de Benjamim a conduzi-los, os príncipes de Judá acompanhados de seus exércitos, e os príncipes de Zebulom e Naftali.8 28 Teu Deus dispensou o poder em teu favor: mostra teu poder, ó Deus, que usaste para o nosso bem, 18 SALMOS 68, 69 29 desde teu templo, em Jerusalém, aonde reis vêm trazer-te presentes! Repreende a fera entre os juncos, a manada de touros entre os novilhos das nações, até que se curvem humildes, trazendo oferendas de prata; dispersa os povos que se deleitam em praticar as guerras. 31 Embaixadores virão do Egito, e toda a Etiópia estenderá suas mãos para louvar a Deus! 32 Reinos da terra, cantai para Deus, salmodiai ao Senhor 33 que cavalga pelos céus, desde a eternidade passada, fazendo ecoar sua voz poderosa e comandando o Universo! 34 Reconhecei e honrai a soberania do Eterno, cujo poder está na altura dos céus e cuja majestade se derrama sobre Israel, seu povo. 35 De seu santuário emana o temor do Eterno, o Deus de Israel, que concede força e grandeza a seu povo. Bendito seja, ó Deus!9 30 O lamento do Messias, o Cristo Ao regente do coro: segundo a melodia “Os Lírios”. Um salmo de Davi. 69 Ó Deus, salva-me! Porquanto as águas chegaram até o meu pescoço. 2 Nas profundezas lamacentas estou afundando; não tenho como firmar meus pés; cheguei às águas profundas, e a forte correnteza me arrasta! 3 De tanto clamar por socorro, ressecouse minha garganta, se embaçaram meus olhos e se fatigou sobremaneira o meu 7 O salmista faz uma analogia com os tributos e despojos recebidos pelo rei vitorioso na guerra. O apóstolo Paulo aplica este versículo, como traduzido pela Septuaginta (a versão grega do AT), à ascensão de Jesus Cristo, fazendo-nos compreender que a Ascensão do Senhor foi uma continuação histórica e cumprimento fiel do Reino que Deus estabelecera na sua cidade real de Jerusalém (Ef 4.8-13). 8 Aqui estão representadas todas as tribos que formam Israel. Desde a menor e mais pobre, Benjamim, até a poderosa Judá, incluindo as tribos do norte e do sul. A tribo de Benjamim foi encarregada de conduzir o grande cortejo, como alusão ao fato de ter provido o primeiro rei de Israel (Saul), que deu início às vitórias dos reis de Israel sobre os inimigos do povo de Deus (1Sm 11.11; 14.20-23). O cortejo litúrgico aproxima-se do templo (vv. 24-27) e roga ao Senhor que continue a vencer e conquistar as potências que ameaçam Israel (vv. 28-31), o que sugere que realmente não haverá plena e duradoura paz em Israel até o final dos tempos e a Nova Jerusalém (Ap 21.1-4). 9 O apogeu do grande cortejo litúrgico chega com um apelo: que todos os reinos da terra louvem ao Deus de Israel como o Senhor do Universo, reconhecendo que foi de sua soberana vontade estabelecer seu trono terrestre no Templo em Jerusalém (Sl 29.3-9; 47). O Senhor Deus fez de Israel o seu povo; e seu governo entre os seus os torna co-participantes do poder vitorioso , para todo o sempre (Êx 19.5,6; Sl 29.10,11). SALMOS 69 corpo, enquanto aguardo pelo auxílio do meu Deus!1 4 São mais numerosos que os cabelos de minha cabeça os que me odeiam sem causa; poderosos são os que me querem aniquilar, são injustos meus inimigos: o que roubei, como hei de restituir? 5 Conheces, ó Deus, meus desatinos e o quanto fui insensato; as minhas culpas não te são encobertas. 6 Contudo, não permitas que eu venha ser causa de humilhações para aqueles que têm fé em ti, ó Eterno, Deus das Legiões. Que não sejam por mim envergonhados os que te buscam, ó Deus de Israel!2 7 Porquanto por amor a ti suporto zombarias, e a vergonha cobre-me o rosto. 8 Sou um estrangeiro para meus próprios irmãos, um estranho até para os filhos da minha mãe; 9 pois me consumiu o zelo que dedico à tua Casa, e sobre mim recaíram os vitupérios dos que te insultam.3 10 Com jejum e muitas lágrimas afligi minha própria alma, e isso ainda mais os enfureceu. 11 Com mortalha me cobri e perante eles fui objeto de zombarias.4 12 Murmuram contra mim os que se ajuntam nas portas da cidade, e sou tema de chacotas nas canções dos bêbados. 72 Todavia eu, SENHOR, no tempo oportuno elevo a ti minha petição; respondeme, por teu grande amor, ó Deus, com tua graça infalível! 14 Resgata-me do lamaçal, para que eu nele não pereça; salva-me de meus detratores e das profundezas das águas. 15 Que eu não seja arrastado por seu turbilhão, nem tragado pelo abismo, e que tampouco se feche sobre mim a boca do poço onde caí. 16 Responde-me, ó Eterno, pois incomensurável é tua benevolência; volta-te para mim com a grandeza de tua magnanimidade. 17 Não ocultes do teu servo a tua face; responde-me de pronto, pois estou muito angustiado. 18 Faze que de ti se aproxime a minha alma, redime-a e salva-me de meus inimigos. 19 Pois sabes da vergonha e do infortúnio que me fazem passar. 20 Meu coração se partiu ante tanta humilhação, e me sinto gravemente enfermo. Procurei alguém que se compadecesse de mim e me confortasse, mas a ninguém encontrei. 21 Ao contrário, puseram veneno em meu alimento e vinagre me oferecem para mitigar minha sede.5 22 Que, em retribuição, a mesa deles se 13 1 Davi descreve sua situação de profundo sofrimento da alma, dor física e terrível angústia, enquanto espera confiante pela interveniência perdoadora e salvadora de Deus. É a sincera oração de um rei piedoso diante dos ataques maliciosos de uma conspiração generalizada que se aproveitara de uma ocasião em que o próprio Deus já o havia castigado por um pecado cometido (v.5; 26). A igreja primitiva considerava este clamor como o prenúncio dos sofrimentos do Messias, Jesus Cristo; juntamente com o Salmo 22 são os textos do Saltério mais citados no NT. 2 O salmista pede que sua disciplina não seja causa de escândalo para os que esperam em Deus. Este versículo pode ser transliterado do original hebraico desta forma: Al ievôshu vi covêcha Adonai Elohim Tsevaót, al yicalemu vi mevac’shêcha Elohê Yisrael. 3 O que se aplicava ao salmista era ainda mais realidade na vida de Jesus Cristo (Jo 2.17). Os que zombam de Deus, achincalham igualmente o servo do Senhor (74.18-23; 2Rs 18.31-35), situação que Cristo enfrentou sem que tivesse cometido um só pecado (Rm 15.3). 4 Davi, num momento de fraqueza e falta de juízo, pecou contra Deus. Entretanto, isso não o desqualificou como filho e servo, diante do Pai, pois seu coração fora entregue ao Senhor para o adorar e servir por toda a vida. Em seu profundo amor a Deus, e arrependimento pelas faltas cometidas, o rei salmista não se nega a passar pela mais profunda dor e humilhação pública, chegando a ser afrontado até pela escória da sociedade que, nesses momentos, sempre procura minimizar sua própria condição desprezível evidenciando o erro da pessoa em foco (Sl 35.13 com Gn 37.34; 2Sm 12.16,17; Jl 1.13,14; 2.15-17; Jn 3.5). 5 Quando mais precisamos de abrigo, consolo e ânimo, é que conhecemos nossos poucos e leais amigos e os muitos e grandes inimigos. O salmista usa uma forte metáfora para mostrar que o alimento por que mais ansiava sua alma era a compreensão e o perdão dos seus pecados. No texto hebraico original a palavra algumas vezes traduzida por “fel” é, literalmente, “veneno”: Vayitenú bevaruti rosh, velits’maí iashcuni chômets. Os autores dos Evangelhos, especialmente Mateus, entenderam que os sofrimentos comunicados nestes versos se constituíam numa profecia quanto ao martírio de Jesus Cristo, o Messias e Nosso Senhor (Mt 27.34,48; Mc 15.23,36; Lc 23.36; Jo 19.29). 73 lhes transforme em armadilha e sua paz, em emboscada. 23 Que se lhes escureçam os olhos para que, de fato, não possam ver; faze-lhes tremer o corpo sem que haja como cessar!6 24 Despeja sobre eles a tua ira justa; que o teu furor ardente os alcance. 25 Que sejam destruídos os seus palácios e que fiquem desertas as suas tendas. 26 Pois têm prazer em perseguir a quem tu puniste e acrescentam dor e sofrimento a quem feriste. 27 Agrega iniqüidade à iniqüidade deles para que não mereçam usufruir da tua justiça.7 28 Que tenham seus nomes apagados do Livro da Vida, e jamais sejam inscritos entre os justos novamente.8 29 Quanto a mim, grande é minha aflição e minha dor! Protege-me, ó Deus. A tua salvação há de me elevar acima de qualquer sofrimento! 30 Em cânticos, então, louvarei o Nome do Eterno, e em meus agradecimentos exaltarei a ti Senhor! 31 Serei mais agradável ao SENHOR do que a mais perfeita oferta de todo o passado! 32 Alegrar-se-ão os humildes e animarse-ão os corações dos que buscam a Deus. 33 Porquanto todos verão que Deus ouve os necessitados e não despreza os alquebrados. SALMOS 69–71 Louvem-no os céus e a terra, os mares e tudo o que neles se move! 35 Pois Deus salvará Sião e reconstruirá as cidades de Judá; e haverá habitantes que a herdarão. 36 A descendência de seus servos a receberá em herança, e os que amam o seu Nome farão nela sua morada!9 34 Súplica pelo socorro de Deus Para o mestre de música. Uma oração em forma de poema. De Davi. 70 Ó Deus, para minha libertação, apressa-te, SENHOR, em socorrer- me!1 2 Cubram-se de vergonha e confusão os que me demandam a própria vida! Recuem, cobertos de desonra, os que se divertem com a minha desgraça! 3 Recuem, cobertos de vergonha, os que maliciosamente murmuram: “Bem-feito! Bem-feito!” 4 Contudo, que se alegrem e regozijem, por tua causa, todos os que te buscam! “Deus é grande!” Proclamem sem cessar os que amam a tua salvação! 5 Sendo eu um pobre aflito, ó Deus, apressa-te em valer-me! Tu és meu auxílio e meu Libertador: SENHOR, não tardes mais! Oração de fé de um servo idoso Em ti, SENHOR, me refugio: que jamais eu seja envergonhado!1 71 6 O apóstolo Paulo fez menção deste salmo, quando admoestava os judeus a reconhecerem Jesus Cristo, como o Messias e Senhor de todo aquele que nele crer (Rm 11.9,10). 7 Uma das piores punições que o ímpio pode sofrer é que o Senhor o deixe seguir seu próprio caminho de iniqüidades e pecados. Seu coração duro e arrogante, muito diferente da alma do salmista, não lhe permite ser tocado pelo Espírito de Deus, refletir sobre seus erros e, arrependido, receber o perdão de Deus (Rm 1.18-32). 8 No AT, o “Livro da Vida” é compreendido como a lista divina régia dos justos, aos quais Deus abençoa na terra e na vida eterna (1.3; 7.9; 11.7; 34.12; 37.17,29; 55.22; 75.10; 92.12-14; 140.13). No NT, o “Livro da Vida” refere-se à lista de Deus que contém os nomes dos eleitos, destinados à vida eterna por meio da fé em Jesus Cristo, o Messias (Fp 4.3; Ap 3.5; 13.8; 17.8; 20.12,15; 21.27). 9 Alguns biblistas e comentaristas entendem que essas expressões têm a ver com a época do Exílio, ocorrida mais de quatro séculos depois de Davi. Contudo, ao analisarmos a amplitude da visão teológica de Davi, não é difícil concluirmos que ele está comunicando, em oração, o grande anseio de ver sua nação e o povo de Deus verdadeiramente edificado no amor, na fé, na prática contínua e intensa da piedade, sob as preciosas bênçãos do Senhor de Israel (Sl 127). Capítulo 70 1 Este salmo está presente nos trechos dos salmos 35.4,21,26 e 40.13-17. É uma pequena jóia de oração para se decorar e guardar no coração. Um pedido eloqüente de socorro urgente a Deus, contra as artimanhas e ataques dos inimigos (Sl 4; 38). Capítulo 71 1 Este salmo encerra uma coleção de salmos davídicos e revela a experiência de alguém que, na velhice, suplica a presença SALMOS 71 Por tua justiça, me livrarás e me libertarás. Inclina para mim teus ouvidos e salva-me! 3 Sê para mim a rocha de refúgio, sempre acessível, pois decidiste salvar-me. Sim, és o meu rochedo e minha fortaleza!2 4 Meu Deus, livra-me da mão do ímpio, das mãos dos criminosos e dos violentos! 5 Tu és minha esperança, ó Soberano SENHOR; deposito em ti toda a minha confiança, desde a minha juventude. 6 Ora, desde o ventre materno dependo de ti, das entranhas de minha mãe me separaste; dia após dia és motivo de todo o meu louvor. 7 Para muitos tornei-me um prodígio, enquanto eras tu meu refúgio fortificado. 8 Minha boca está repleta do teu louvor, e constantemente proclamo o teu esplendor! 9 Portanto, não me rejeites agora, na velhice; quando as forças declinam, não me abandones! 10 Pois meus inimigos tramam contra mim, confabulam entre si os que me espreitam com a intenção de tirar a minha vida. 11 Alegam: “Deus o abandonou: persegui-o, agarrai-o! Pois não há quem o possa salvar”.3 12 Ó Deus, não fiques longe de mim, meu SENHOR, vem depressa em meu auxílio! 13 Sejam confundidos e abatidos os que me hostilizam! Cubram-se de opróbrio e de vexame os que buscam meu dano! 14 Eu, todavia, sempre esperançoso, redobrarei mais e mais teus louvores. 2 74 Minha boca narrará tua justiça e, em todos os dias da minha existência, os teus incontáveis atos de salvação! 16 Proclamarei os teus feitos poderosos, ó Soberano SENHOR; divulgarei diante de todos a tua justiça. 17 Desde a minha juventude, ó Deus, tens me ensinado, e até hoje eu anuncio as tuas maravilhas! 18 Agora, porém, vejo que estou idoso, de cabelos brancos: não me desampares, ó Deus; para que eu possa pregar sobre as grandes obras de teu braço, às gerações presentes e futuras.4 19 Ora, tua justiça, ó Deus, chega até as mais elevadas alturas. Grandes proezas realizaste, ó Deus. Quem é semelhante a ti? 20 Tu, que me fizeste experimentar tantas aflições e desgraças, de novo me farás viver, e das profundezas da terra me farás ressuscitar.5 21 Aumentarás minha dignidade e, uma vez mais, me abençoarás com a tua presença confortante. 22 Então, acompanhado da harpa, te darei graças, meu Deus, por tua fidelidade; cantarei louvores para ti, ao som da cítara, ó Santo de Israel. 23 Ao cantarem teus louvores, exultarão de alegria meus lábios e minha alma, que resgataste. 24 Igualmente, todos os dias, minha língua recitará tua justiça, porque se cobriram de vergonha e vexame os que buscavam minha desgraça! 15 e ajuda de Deus, diante das ameaças de seus inimigos (5.9). A falta do costumeiro cabeçalho indica que o Sl 70 representa sua introdução e que, portanto, este é mais um salmo da autoria de Davi, já em idade avançada (vv.9,18), fato reforçado pela oração do rei Salomão no Sl 72. 2 Um homem pode chegar ao final desta vida com uma grande alegria na alma: se no passado e, especialmente, no presente tiver depositado no Senhor Deus toda a sua fé e confiança (vv.3,7). Não existe velhice sem provações, mas Deus é misericordioso em nos socorrer em todas as nossas aflições e rapidamente nos confortar com sua presença libertadora e salvadora (vv.10-11). Este trecho é uma boa recordação do Sl 31.1-3. 3 Os faltos de sabedoria olham para o justo sem prosperidade aparente, debilitado fisicamente e sem boa aparência, e o desprezam, procurando tirar alguma vantagem da sua humilde condição pessoal. Contudo, o justo jamais será pobre, ignorante ou desamparado, pois sua riqueza e poder vêm da graça do Senhor. É Jesus Cristo quem nos concede todas as forças e a paz que o mundo não pode oferecer (Jo 14.27). 4 Um servo de Deus, cuja vida espiritual foi provada por meio de vitórias e insucessos, pode na terceira idade dedicar-se ao maravilhoso ministério do aconselhamento de jovens, provendo para esses construtores das novas sociedades uma sabedoria bíblica que eles não poderiam ganhar tão rapidamente sozinhos, nas tentativas e erros da vida. 5 O mesmo Deus que nos abençoa com o privilégio da vida (v.6), nos renovará, por meio da Salvação, a fim de que estejamos para sempre em sua companhia. As profundezas da terra (em hebraico: sheol) é a região dos mortos, cuja porta de entrada é a sepultura (Sl 30). 75 Prefiguração do reino de Cristo Um salmo para Salomão e os reis davídicos. 72 Ó Deus, concede ao rei a tua justiça, e ao filho do rei os teus juízos. 2 Que ele governe teu povo com retidão, preservando o direito dos humildes! 3 Proporcionem as montanhas e colinas paz ao povo, mediante justiça! 4 Que ele faça resplandecer o direito dos oprimidos, salve os filhos dos pobres e esmague o opressor!1 5 A ti eles temam, à luz do sol e sob o luar, de geração em geração! 6 Seja ele como o cair da chuva sobre a relva, ou da garoa que rega suavemente a terra! 7 Em seus dias floresça a justiça e grande paz, até não mais haver lua! 8 Governe ele de mar a mar, desde o rio Eufrates até os confins da terra.2 9 Curvem-se diante dele todas as tribos do deserto, e os seus inimigos lambam o pó. 10 Que os reis de Társis e das regiões litorâneas lhe paguem tributos; e os reis de Sabá e de Sebá lhe tragam presentes.3 11 Inclinem-se diante dele todos os reis, e sirvam-no todas as nações da terra! 12 Porquanto, ele liberta os oprimidos que clamam por socorro, assim como os pobres que não têm quem lhes preste auxílio. 13 Ele tem compaixão dos enfraquecidos SALMOS 72, 73 e dos humildes, e os salva da morte! Ele os resgata da opressão e da violência, pois, aos seus olhos, a vida que lhes corre pelo sangue é por demais preciosa. 15 Que ele tenha longa vida, e lhe tragam ouro de Sabá; por ele intercedam sem cessar e o bendigam, todos os dias! 16 Que haja no país trigo em abundância, ondulando-se até o topo dos montes; vicejem os cidadãos como o fruto do Líbano e como a erva do campo! 17 Que seja eterno seu nome; diante do sol se propague seu nome, e sejam nele abençoadas todas as nações que o bendizem!4 18 Bendito seja o Eterno, Deus de Israel, absolutamente Único em suas maravilhas! 19 Abençoado e exaltado seja para sempre seu Nome glorioso: que toda a terra seja repleta da sua glória! Amém e Amém!5 20 Terminam aqui as orações de Davi, filho de Jessé.6 14 TERCEIRO LIVRO Salmos 73 a 89 A prosperidade e o fim dos ímpios Um salmo da família de Asafe. 73 Com toda a certeza Deus é bom para Israel, ou seja, para todos quantos cultivam um coração sincero!1 1 A tradição judaica sempre viu neste salmo uma alusão ao Messias (Cristo, em grego), assim como a Igreja primitiva via Jesus neste poema profético. Este salmo reflete o conceito ideal do governante supremo e os efeitos maravilhosos do seu reinado, assim como ocorreu no período em que o rei Salomão se manteve humilde e obediente à Palavra de Deus (1Rs 3.9-12; Pv 16.12). Entretanto, mesmo alguns dos últimos reis davídicos (seus filhos) mereceram a repreensão do Senhor por meio do seu profeta (Jr 22.2-15), que também anunciou ao povo a iminente chegada do verdadeiro Rei e o estabelecimento do governo messiânico (Is 9.7; 11.4-5; Jr 23.5,6; 33.15,16; Zc 9.9). Nenhuma nação respeitará as leis, nem se desenvolverá em solidariedade, paz e prosperidade, sob a liderança de governos corruptos e injustos. O pleno estado de justiça é como a boa chuva que torna fértil a terra de uma nação e alegra o coração do seu povo (vv. 6,7; Sl 5.12; 65.9-13; 133.3; Lv 25.19; Dt 28.8). 2 Profecia acerca do Rei que dominará toda a terra e sobre todos os povos, com o poder de Deus (vv. 9-11). Esperança bíblica que se aplica somente a Jesus Cristo e seu reino (Zc 9.10). 3 Uma referência aos beduínos e tribos que peregrinam e vivem a leste, no deserto da Arábia, e que virão a se submeter ao Messias, o Cristo (Mq 7.17). Os reis, cujas terras se estendem até as praias do mar Mediterrâneo, a oeste, haverão também de reverenciá-lo, assim como os que dominam a Arábia do sul, ao longo da costa oriental da África. A cidade de Társis era um importante porto, muito distante, a oeste no Mediterrâneo, onde hoje se localiza a Espanha. Sabá (Gn 10.28; 1Rs 10.1; Jl 3.8). Sebá, que é citada também como Cuxe no AT (Gn 10.7; Is 43.3), refere-se à atual região do Sudão, ao sul do Egito. 4 A expressão hebraica bíblica “todas as nações” tem a ver com a promessa de Deus a Abraão (Gn 12.3; 22.18) e, nesse contexto, revela que seu cumprimento acontecerá com a chegada triunfal do filho régio de Davi: Cristo, o Messias. 5 Uma bela doxologia conclui o segundo livro do Saltério (Sl 4; 41.13), e o povo responde em duplo uníssono: “Assim seja!” (Amém). O v.18 pode ser transliterado do original hebraico desta forma: Baruch Adonai Elohim Elohê Yisrael, osse niflaót levado. 6 Antiga anotação de copista, que se integrou aos originais, e que revela a oração de Davi por seu filho Salomão, nos dias da sua coroação (1Rs 1.32-40). Os termos usados por Davi, embora perfeitamente justificados somente na pessoa de Cristo, têm a ver com as bênçãos que o próprio Deus prometeu, e efetivamente concedeu, ao rei Salomão, como uma prefiguração humana do Messias (2Sm 7.12-16). Esta frase pode ser transliterada do hebraico assim: Calu tefilót David bem Yishai. Capítulo 73 1 Os primitivos copistas do Saltério escolheram este salmo, para abrir o Livro III, assim como colocaram o Sl 1 na abertura SALMOS 73 Quanto a mim, os meus pés quase tropeçaram; por pouco não escorreguei. 3 Porquanto eu acumulava inveja dos arrogantes, ao ver a prosperidade desses ímpios. 4 Eles não passam por crises e sofrimentos, e têm o corpo esbelto e saudável. 5 Estão livres dos fardos cotidianos impostos a todos os mortais, não são atingidos por doenças como a maioria das pessoas. 6 Por isso, a soberba lhes serve de colar e, em seu orgulho, se vestem de violência.2 7 Do seu íntimo brota a maldade, assim como da sua mente transbordam todos os ardis. 8 Eles zombam, e suas palavras são repletas de malícia; em sua arrogância exaltam a própria corrupção. 9 Contra os céus dirigem as palavras de suas bocas, e pela terra fazem espalhar a maldade de suas línguas. 10 Por isso, seu povo se volta para eles e se delicia sorvendo suas palavras até saciar-se. 11 Eles questionam: “Acaso poderá Deus saber disso? O Altíssimo se ocupará desses assuntos?” 12 Assim são os ímpios: sempre seguros, acumulando riquezas. 13 Pensando dessa forma, em vão conservei puro o coração e lavei as mãos em sinal de inocência? 14 Para que me atormento o dia todo, e 2 76 sou repreendido, toda manhã?3 15 Caso levasse a efeito me expressar assim, eu teria renegado a linhagem de teus filhos. 16 Todavia, quando busquei compreender tudo isso, reconheci que estava diante de uma tarefa muito acima das minhas forças; 17 até que entrei na Casa de Deus, e então compreendi o destino dos ímpios.4 18 Na verdade, tu os colocas em terreno escorregadio e os fazes cair na destruição. 19 Como são destruídos de repente, absolutamente tomados de terror! 20 São como um breve sonho que se vai assim que acordamos; quando te levantares, ó Senhor, tu os farás desaparecer. 21 Quando meu coração estava amargurado e no meu íntimo curtia a inveja, 22 era eu um insensato e ignorante; minha atitude para contigo era semelhante a de um animal irracional.5 23 Contudo, sempre estou diante de Ti; portanto, tomas a minha mão direita e me susténs. 24 Tu me diriges de acordo com os teus desígnios, e no fim me acolherás em glória.6 25 A quem tenho nos céus senão a ti? E na terra, nada mais desejo além de estar junto a ti! 26 Embora minha carne e meu coração definhem, Deus é a rocha do meu coração e minha herança para sempre.7 de toda a coletânea Sagrada. Este é um salmo atribuído historicamente a Asafe, dirigente de um dos coros levíticos de Davi (Sl 39; 42; 50), e trata de um dos mais angustiantes dilemas do AT: Por que os ímpios muitas vezes prosperam, ao passo que os fiéis sofrem tanto? (Sl 37; 49). O salmista fraquejou e por pouco não caiu de suas convicções quanto ao livramento do Senhor. A batalha é mencionada no v.2, mas a vitória está expressa logo no v.1. 2 Ao observar a saúde que os ímpios demonstram, sua aparente despreocupação e soberba, o salmista se deixa envolver por sentimentos invejosos (Jó 21). 3 O salmista se sente responsável como um filho que busca oferecer obediência e respeito ao pai, e que é punido, tantas vezes quanto necessário, por esse pai amoroso e justo, para que se mantenha por toda a vida no caminho da verdade (Pv 3.12; 23.13,14). 4 Quando temos certeza de um assunto, podemos verbalizar nosso pensamento. Contudo, quando a dúvida nos assalta, é melhor nos recolhermos à nossa insignificância e esperarmos pela ação de Deus, ao longo da história. O que o intelecto humano não pode compreender deve ser humildemente levado a Deus em oração. 5 O que importa na vida não é como começamos, mas como vamos terminar nossa jornada na terra. O salmista faz uma avaliação de suas considerações momentâneas, à luz da eternidade e da sabedoria de Deus, e se considera imprudente. A amargura estraga nossa capacidade de pensar com amplitude e inteligência (v.22). 6 O salmista conclui que os ímpios acabam caindo do seu estado de arrogância e desonesta prosperidade. Enquanto os incrédulos passam para a eterna separação de Deus (v.27), os crentes são promovidos à comunhão plena e eterna com o Senhor. O conselho divino venceu a tentação que consumia os pensamentos do salmista, e o guiará todos os dias até o momento de ser recebido no Reino eterno (16.7; 32.8; 48.14; 49.15). 7 Sendo levita, o salmista considerava o Senhor como sua porção na terra prometida, pois vivia dos dízimos que o povo oferecia a Deus. Mas o salmista aprendeu a ir além desse reconhecimento material e imediato, e passou a considerar o Senhor como sua 77 Eis que perecerão os que de ti se afastam, tu exterminas a todos os que te rejeitam. 28 Eu, porém, tenho por felicidade estar na presença de Deus. Em ti, Eterno Deus, deposito minha plena confiança, para proclamar todas as tuas obras! 27 Lamento sobre a ruína do templo Poema da família de Asafe. 74 Por que, ó Deus, esta rejeição sem fim, esta ardente cólera contra as ovelhas de teus pastos?1 2 Lembra-te da comunidade que adquiriste desde a origem, da tribo que reivindicaste como herança, do monte Sião, onde fizeste tua morada!2 3 Dirige teus passos para essas eternas ruínas! O inimigo tudo devastou no santuário. 4 Teus adversários rugiram no lugar de tua assembléia, erigiram seus estandartes como insígnias.3 5 Pareciam homens a brandir o machado em mata espessa, 6 ao despedaçarem todos os entalhos, a golpes de machado e malho. 7 Atearam fogo ao teu santuário, derrubaram e profanaram a morada do teu Nome.4 8 Disseram em seu coração: “Juntos vamos oprimi-los!” E incendiaram, no país, todos os lugares de encontro com Deus. SALMOS 73, 74 Não mais vemos nossas insígnias, já não há profeta e não temos alguém, entre nós, que saiba até quando: 10 até quando, ó Deus, tripudiará o adversário? Blasfemará o inimigo teu Nome, sem cessar?5 11 Por que retrais tua mão, e reténs tua destra contra o peito? 12 No entanto, Deus é rei desde sempre, é ele quem realiza vitórias na terra. 13 Com tua força fendeste o mar, e despedaçaste, sobre as águas, as cabeças dos monstros marinhos. 14 Esmagaste as cabeças do Leviatã e o serviste de alimento aos habitantes do deserto.6 15 Fizeste jorrar fontes e torrentes, e secar rios impetuosos. 16 O dia é teu, é tua a noite; criaste a luz e o sol. 17 Os limites da terra estabeleceste; verão e inverno foram por ti determinados. 18 Lembra-te, em teu poder, de que o inimigo te ultrajou, ó Eterno, e de que o povo infame contra teu Nome blasfemou. 19 Não permitas que seja entregue às feras a alma de tua pomba, Israel, nem esqueças para sempre a vida dos teus filhos!7 20 Considera a aliança, pois os esconderijos do país encheram-se de covis da violência.8 21 Não permitas que o oprimido se retire 9 razão maior para viver (Nm 18.21-24; Dt 10.9; 18.1,2). E termina seu salmo com um convite para louvarmos a Deus por todas as suas misericórdias, inclusive aquelas que ainda não percebemos (Sl 7.17). Capítulo 74: 1 Este salmo data da época do exílio, quando Israel tinha sido destruído como nação, a terra prometida havia sido completamente devastada, e o templo, reduzido a ruínas pelos caldeus (babilônios) por volta do ano 586 a.C. (Sl 79; Lm 2). Nesse momento da vida nacional israelense, o relacionamento entre Deus e seu povo é visto à semelhança do que existe entre um rei, bom e poderoso, e seus súditos. 2 A destruição súbita e implacável faz que o salmista e o povo indaguem se Deus havia abandonado o mesmo povo que resgatara do Egito, com poder e glória (Sl 9.11; Êx 15.13-18). 3 Os estandartes (bandeiras) simbolizavam o reagrupamento das tropas como um sinal de vitória (Nm 1.52; Is 31.9: Jr 4.21). 4 O “Nome de Deus” no santuário representava sua própria presença física no templo (Sl 5.7; Dt 12.5). 5 Não havia mais sinais miraculosos como ocorrera na época do êxodo (vv. 13-15; 78.43). E não havia mais profetas, pois Jeremias tinha sido levado para o Egito e não se sabia do paradeiro de Ezequiel. Os zombeteiros se multiplicavam (Jr 43.4-7; 2Rs 18.32-35; Is 37.6,23). 6 Monstros marinhos e o deus Crocodilo (Leviatã), adorado no Egito antigo, servem de símbolos proféticos contra o Faraó, e para celebrar o Deus de toda a criação e a libertação futura de Israel (Sl 89.10; Jó 9.13; 26.12-13; Is 51.9-13; 21.1; Ez 29.3-5; 32.2-6). 7 Israel é carinhosamente comparado a um pombo. Este versículo pode ser transliterado do original hebraico da seguinte forma: Al titen lechaiat néfesh torêcha, chaiat aniiêcha al tishcach lanétsach (Ct 2.14; 5.12; 6.9; Sl 68.13). 8 Em sua Aliança com Israel, Deus prometeu que seria o Guardião do seu povo, que lhes daria segurança e bem-estar na terra prometida (Êx 19.5,6; 23.27-31; 34.10,11; Lv 26.11-45; Dt 28.1-14; Sl 105.8-11; 106.45; 111.5,9; Is 54.10; Jr 14.21; Ez 16.60). SALMOS 74–76 humilhado! Faze que o pobre e o necessitado louvem o teu Nome. 22 Levanta-te, ó Eterno, e defende a tua causa; lembra-te de como os insensatos zombam de ti dia e noite. 23 Não ignores o rugido dos opressores, o alvoroço dos que se erguem contra ti, e destrói-os para sempre! Deus, o grande Juiz dos povos Ao mestre do coro, de acordo com a melodia Não Destruas. Um salmo e cântico da família de Asafe. 75 Nós te exaltamos, ó Eterno; graças a ti rendemos, e sentimos a proximidade de tua presença; todos proclamam os teus feitos maravilhosos.1 2 Pois disseste: “Quando Eu escolher o tempo apropriado, farei justiça com retidão.2 3 Trema, entretanto, toda a terra com seus habitantes. Eu lhe firmei as colunas. (Pausa) 4 Aos arrogantes ordenei: Não sejais insolentes! E aos ímpios repreendo: Não levanteis a vossa fronte.3 5 Não ergais com soberba a vossa voz contra os céus; não faleis com insolência contra a Rocha”.4 78 Não é do Oriente nem do Ocidente, tampouco é do deserto, ao sul, ou das montanhas ao norte que vem a vitória.5 7 É Deus quem julga: a um rebaixa, a outro eleva! 8 O SENHOR tem na mão uma taça, cujo vinho espuma, cheio de mistura; dele dá a beber: sorvem-no até a última gota, bebem-no todos os ímpios da terra. 9 Quanto a mim, para sempre proclamarei esses feitos; cantarei louvores ao Deus de Jacó. 10 O orgulho dos perversos abaterei, porém exaltada será a honra dos justos.6 6 Canto de vitória Ao mestre de música. Com instrumentos de cordas. Um salmo e cântico da família de Asafe. 76 Deus é conhecido em Judá, seu Nome é grande em Israel.1 2 Sua tenda está em Salém; em Sião, sua morada. 3 Ali quebrou as flechas do arco, o escudo, a espada e o aparato bélico.2 (Pausa) 4 Tu és deslumbrante, mais magnífico do que montanhas de despojos. 1 Salmo de conforto e confiança quando Israel se via na iminência de ser atacada pelas potências mundiais, como os assírios (2Rs 18.13 – 19.37). Há claros paralelos temáticos com o cântico de Ana (1Sm 2.1-10), bem como outros cânticos compostos sob a mesma melodia (Sl 4; 9; 30; 57; 58; 59). 2 A Palavra do Senhor é perene e o sentido profético pode ser aplicado àquela circunstância, assim como ao futuro iminente. Deus não deixará passar em branco as atitudes nefastas dos incrédulos e maldosos, e exigirá a devida prestação de contas (2Rs 19.21-34). A hora do julgamento será determinada exclusivamente pelo próprio Senhor, segundo sua graça e sabedoria absolutas. 3 Em geral, os salmistas consideram que os ímpios são tanto soberbos e arrogantes (Is 37.8-13), quanto insensatos (Sl 10; 14.1; 31.23; 73.4-12; 74.18,22; 92.6; 94.4,8). Este versículo pode ser transliterado do original hebraico dessa forma: Amárti laholelim al tahôlu, velareshaim al tarímu cáren. O sentido da expressão literal “não levanteis o chifre” aqui traduzida por “não levanteis a vossa fronte” tem a ver com uma metáfora muito usada no AT, para referir-se a “glória” e a “poder”, tendo como base o “vigor” e a “força” dos touros e bisões, quando atacam (v.5,10; 18.2). Algumas traduções dessa expressão, literais e impróprias, influenciaram vários artistas a pintar ou esculpir personagens bíblicos, como o Moisés, de Michelangelo, ostentando “chifres” e, portanto, sendo mal compreendidos pela maioria dos observadores. 4 A “Rocha” simboliza a natureza inabalável de Deus e a segurança que o crente tem na pessoa de Cristo, a Rocha (Pedra) fundamental (1Co 3.11). 5 Vindos do norte, os assírios ameaçavam Israel, e o povo buscava alianças políticas com as nações do Oriente e do Ocidente. Os profetas condenavam essas tentativas e proclamavam que o grande socorro vem somente de cima, do Senhor. 6 Quem fala aqui não é o salmista nem mesmo um rei (Sl 101), mas a mesma pessoa que ao falar no v.9 relembra, à congregação, outra Palavra de Deus. A redação mais correta seria: “O Deus de Jacó” (declarando ao mundo): “o orgulho dos perversos abaterei...” (vv.4,7; 1.5). Capítulo 76 1 Mais um salmo da galeria de poemas e cânticos sagrados que celebram a libertação de Jerusalém da destruição planejada pelo Império Assírio, comandada por Senaqueribe (2Rs 19; Is 37). O poder invencível do Senhor e seu amor perpétuo por seu povo e cidade real ficam evidentes neste salmo e na relação temática com Sl 46; 48; 64; 87. Deus esmaga os inimigos de Sião ou Salém, duas formas hebraicas de se referir à cidade de Jerusalém (v.2). 2 As armas e os inimigos a respeito dos quais o profeta Isaías profetizou que não conseguiriam atingir Jerusalém (Is 37.33). 79 Foram espoliados os de coração indomável, tomados pelo sono, e nenhum dos valentes pôde valer-se das próprias mãos. 6 Ante tua ameaça, ó Deus de Jacó, carros e cavalos ficaram imobilizados.3 7 Tu infundes temor: quem pode manterse diante de ti durante a tua ira? 8 Do céu enunciaste a sentença: a terra fica paralisada de medo, 9 quando tu, ó Deus, te levantas para julgar, para salvar todos os humildes da terra. 10 Até a ira dos homens redundará em teu louvor, e com os resquícios de furor tu te cinges.4 11 Fazei votos ao SENHOR, vosso Deus, e cumpri-os! Tragam-lhe presentes todas as nações, e depositai-os em torno dele, que inspira temor!5 12 Ele deixa sem alento os príncipes, aos reis da terra faz tremer de medo. 5 Deus rico em poder e misericórdia Ao regente do coro, ao estilo de Jedutum. Um salmo e cântico da família de Asafe. 77 Elevo a Deus minha voz, e clamo; elevo a Deus minha voz, para que me ouça.1 2 No dia da minha angústia, procuro o Senhor; de noite, não me canso de erguer a SALMOS 76, 77 mão. Minha alma recusa ser consolada. 3 Lembro-me de Deus e gemo; medito, e meu espírito desfalece. (Pausa) 4 Manténs abertas minhas pálpebras; tão perturbado estou, que nem posso falar. 5 Relembro os dias passados, os anos de outrora. 6 De noite, recordo minha cantiga; medito-a no meu coração. O espírito indaga: 7 “Acaso o Senhor nos rejeitará para sempre, e já não voltará a ser-nos favorável?2 8 Acaso de todo se esgotou sua fidelidade, terminou sua promessa para as gerações? 9 Acaso Deus se esqueceu de ter compaixão, ou a cólera lhe enrijeceu as entranhas?” (Pausa) 10 Então pensei: “Apelarei para o que há muito realizou a mão direita do Altíssimo”.3 11 Recordo-me dos feitos do SENHOR, lembrado estou dos teus milagres de outrora; 12 penso em todas as tuas obras, e medito em teus prodígios. 13 Teu Caminho, ó Deus, é Santo: grande como Deus, outro deus não existe! 14 Tu és o Deus que fazes milagres, mostraste teu poder entre os povos. 15 Com teu braço resgataste teu povo, os filhos de Jacó e de José.4 3 Louvor à majestade temível do Senhor (18.15; 104.7; 106.9; Jó 26.11; Is 50.2; Is 51.20; 54.9; 66.15; Ml 2.3 com Sl 75), cujo poderoso juízo aterroriza os inimigos de Israel e provoca reverente adoração (Na 3.18). Temos aqui uma evocação da vitória de Deus contra os antigos egípcios no mar Vermelho (Êx 14.28,30; 15.5-10). 4 O povo de Deus considera a destruição dos opressores como um ato de livramento (salvação) e proteção do Senhor. Uma expressão do seu amor justo (Na 1.4). A soberania e a graça de Deus ficam ainda mais evidentes quando a humanidade se levanta em rebelião ou rejeita a correção divina (Rm 5.20). 5 Quem pode observar nas crises e dramas, pessoais e mundiais, a mão justa e misericordiosa de Deus, volta ao culto e à adoração com redobrado vigor espiritual (Na 1.15; Sl 50.14). Capítulo 77 1 Uma comparação deste salmo com Hb 3.8-10 indica eventos passados num período avançado da monarquia israelense. O salmista vence uma árdua e assustadora escalada, partindo do desespero para a esperança certa (a certeza da fé), mediante uma reflexão honesta sobre os atos de Deus no passado. 2 Os primeiros versículos narram a crise de depressão profunda que acomete o salmista. Ele se vê como uma pessoa muito doente, apelando pelo socorro de alguém durante o silêncio frio e surdo da noite. Seu foco fica todo sobre seu próprio ser e o desassossego lhe rouba o sono. Nesse ponto, até as recordações das antigas manifestações de misericórdia de Deus servem de suplício para a alma angustiada (Sl 22.1-11). 3 A fé é a decisão pessoal e irrevogável de crer na intervenção do Senhor no centro das nossas crises, a fim de nos salvar de forma plena e eterna. O salmista medita nos poderosos e inquestionáveis atos salvíficos de Deus para com seu povo, na antiguidade, e se rende à graça da majestade de Deus (Sl 63.2; Êx 14.19; 15.11). 4 É comum os autores do AT se referirem a “José” (ou Efraim, filho de José), querendo significar o Reino do Norte em contraposição ao Reino do Sul, ou seja, “Judá” (2Sm 19.20; 1Rs 11.28; Sl 78.67; Ez 37.16,19; Am 5.6,15; 6.6; Zc 10.6). Contudo, aqui e em outros trechos, “José”, por ter sido elevado à condição de primogênito, representa todo o seu povo, bem como todos os descendentes de Jacó (Sl 80.1; 81.5; Ob 18; Gn 48.5; Js 16.1-4; 1Cr 5.2; Ez 47.13). SALMOS 77, 78 16 As águas te avistaram, ó Deus, as águas te tremeram e contemplaram; até as profundezas estremeceram. 17 As nuvens desfizeram-se em água, houve trovões nos céus; também tuas flechas coruscavam em todas as direções. 18 Ao reboar do teu trovão na tempestade, os raios iluminando o mundo; estremeceu a terra e abalou-se. 19 A tua vereda atravessou o mar, e o teu Caminho, pelas águas poderosas. 20 Guiaste o teu povo como a um rebanho pela mão de Moisés e de Arão. Ação divina na história de Israel Um poema da família de Asafe. 78 Escuta meu ensino, ó povo meu, presta atenção às palavras da minha boca!1 2 Em parábolas abrirei a minha boca, proferirei enigmas do passado.2 3 O que ouvimos e aprendemos, o que os pais nos contaram, 4 não o ocultaremos aos filhos; transmitiremos à geração vindoura as gloriosas realizações do SENHOR, seu poder e as maravilhas dos seus feitos. 5 Ele estabeleceu uma lei em Jacó, determinou um código de conduta em Israel. Ordenou a nossos pais que o ministrassem a nossos filhos, 6 para que a geração seguinte o apren- 80 desse; e os filhos que haviam de nascer, quando maduros, o transmitissem igualmente a seus filhos, 7 para que depositassem em Deus sua confiança e não se esquecessem dos feitos de Deus, mas guardassem seus mandamentos, 8 a fim de não se tornarem como seus pais, geração indócil e rebelde, geração de coração inconstante, de espírito infiel a Deus. 9 Se os filhos de Efraim, arqueiros armados, retrocederam no dia do combate,3 10 é porque, não guardando a aliança de Deus, recusaram seguir a sua Lei. 11 Esqueceram-se dos seus atos e dos prodígios que lhes mostrara. 12 Ele realizou maravilhas diante dos seus antepassados, na terra do Egito, na região de Zoã. 13 Dividiu o mar para que pudessem passar; fez a água erguer-se como um muro. 14 Durante o dia guiava-os por meio de uma nuvem e, a noite toda, por um clarão de fogo. 15 Fendeu as rochas no deserto e deu-lhes água em abundância, como a que flui das profundezas; 16 do rochedo fez jorrar torrentes, fez correr a água como rios.4 17 Eles, porém, continuaram a pecar contra Ele, rebelando-se contra o Altíssimo na estepe. 1 Este salmo expressa um conceito básico que permeia toda a Palavra de Deus: a confiança (fé) em Deus e a fidelidade ao Senhor por parte do seu povo são questões relativas à Aliança, e não provêm de princípios abstratos. Resultam da lembrança dos muitos milagres e atos salvíficos de Deus. Portanto, a incredulidade e infidelidade são atitudes ainda mais censuráveis, porquanto, quem assim procede desconsidera a realidade e a maravilha da intervenção divina em favor dos seus amados (Sl 105; 106). Este poema melódico e doutrinário faz parte do período da chamada monarquia dividida, na época do profeta Oséias que, muitas vezes, assim como Isaías, usa o nome de Efraim significando todo o Reino do Norte, por ser a tribo líder daquele reino. A deslealdade de Israel é sintetizada aqui no pecado de Efraim (v.9). O salmo é uma advertência aos judeus crentes, a Judá e ao Reino do Sul (v.68), que viviam e adoravam a Deus em Jerusalém, a fim de não se deixarem desviar da fé como fizeram seus irmãos do Norte (vv.59,60). 2 As parábolas (enigmas e metáforas sapienciais) deste salmo foram lembradas por Mateus como uma voz profética que prenunciava a voz do Cristo (o Messias), sendo proclamada, com ênfase, pelo apóstolo Estêvão (Mt 13.35; At 7). 3 Conforme ressaltam os profetas, especialmente Amós e Oséias, o Reino do Norte não guardou as ordenanças estipuladas na Aliança do Senhor, nem se recordou dos seus atos salvíficos, agindo sistematicamente com rebeldia à Palavra de Deus, violando os compromissos de lealdade que firmara desde os tempos da peregrinação no deserto (vv.9-16; 32-39; 40-55). Efraim, que liderava e representava o Reino do Norte, tinha uma tribo de exímios arqueiros e guerreiros; a metáfora aqui usada é melhor compreendida à luz do v.57, em que o “arco frouxo” ou “defeituoso” significa o “afrouxamento da fé e do padrão de fidelidade do povo em relação a Deus, de forma contínua e prolongada, ao longo da história” (v.10; Dt 33.17). 4 Uma coleção de citações bíblicas e históricas resume as conhecidas pragas do Egito e alguns milagres relacionados à água, no mar Vermelho e no próprio deserto do Sinai. Em seguida, nos ciclos narrados nos vv. 17-39 e 40-64 mais pecados são agregados ao processo de julgamento de Israel (Êx 15.24; vv.35,56; Gn 14.19). Zoã era uma cidade situada na região nordeste do delta do rio Nilo (v.43; Nm 13.22; Êx 14.1 – 15.21; Êx 17.6; Nm 20.8-11). 81 18 Em seu coração tentaram a Deus, exigindo alimento mais apetitoso ao seu paladar. 19 Exclamaram contra o Senhor, questionando: “Será Deus capaz de servir-nos à mesa no deserto? 20 É verdade, Ele bateu na rocha, e eis que brotou água e jorraram torrentes; mas poderá também fornecer pão e prover de carne seu povo?”5 21 Portanto, ao ouvir tais queixas do povo, enfureceu-se e com fogo atacou a Jacó, e sua ira se levantou contra Israel, 22 pois eles não creram em Deus nem confiaram no seu poder salvador. 23 Deu ordem às nuvens do alto e abriu as comportas do céu:6 24 fez chover maná sobre o povo para que se alimentassem, deu-lhes trigo do céu!7 25 Cada pessoa se alimentou do pão dos anjos; enviou-lhes comida à vontade. 26 Mandou do céu o vento oriental, e por meio do seu poder fez avançar o vento sul. 27 Então, fez chover carne sobre eles como grãos de areia, bandos de aves como a areia da praia. 28 Levou-as a cair dentro do acampamento, ao redor de suas tendas. 29 Comeram até se fartarem, e assim Ele satisfez o desejo do coração deles. 30 Contudo, antes de saciarem o apetite, quando ainda mastigavam a comida que lhes restava na boca, 31 desencadeou-se a ira de Deus contra aquele povo, semeando a morte entre os mais valentes, abatendo os jovens de Israel.8 32 Apesar disso, continuaram pecando; não creram nos seus milagres. SALMOS 78 Por isso, Ele encerrou os dias deles como um sopro, e os anos deles em repentino pavor. 34 Sempre que Deus os castigava com morte, eles o buscavam; com fervor se voltavam de novo para Ele. 35 Recordavam que Deus era a sua Rocha, que era o seu Redentor, o Deus Altíssimo. 36 Com a boca tentavam enganá-lo, mentiam-lhe com a língua; 37 de coração inconstante para com Ele, não eram fiéis à sua aliança. 38 Entretanto, porque era misericordioso, perdoava a culpa deles, a fim de que não fosse necessário que os destruísse; muitas vezes, reprimiu sua cólera santa e não acendeu todo o seu furor, 39 recordando-se de que eram seres frágeis e meros mortais, brisas passageiras que não retornam. 40 Quantas vezes se mostraram rebeldes contra Ele no deserto, e o entristeceram na terra solitária! 41 Quantas vezes puseram Deus à prova; irritaram profundamente o Santo de Israel. 42 Não se lembravam da sua mão poderosa, do dia em que os redimiu do opressor, 43 do dia em que revelou as suas maravilhas no Egito, os seus milagres na região de Zoã, 44 quando transformou os rios e os riachos dos egípcios em sangue, e eles não mais conseguiram beber das suas próprias águas; 45 e mandou enxames de moscas que os molestaram, e rãs que os devastaram;9 46 quando entregou suas plantações às larvas; a produção da terra, aos gafanhotos, 33 5 O ser humano, incrédulo e pecaminoso chega a aceitar os milagres de Deus, mas não com a gratidão e a reverência devidas e, sim, como apenas um ponto de partida para novas exigências e questionamentos. Aqui, o salmista faz uma junção de dois episódios conhecidos (Êx 16.2,3; Nm 11.4). 6 Em Nm 11.1, vemos como a ira divina literalmente se acendeu. Várias metáforas permeiam este salmo, como recurso didático para transmitir a história do amor de Deus para com seu povo, ao longo dos séculos (vv.31,49,50.58,59,62; Gn 7.11; 2Rs 7.2; Ml 3.10; Sl 2.5). Toda a obra de Deus, desde a Queda (Gn 3), tem como objetivo resgatar um povo formado por filhos amados que no Senhor e Salvador depositassem toda a sua fé, gratidão e reverência (Jo 6.29). 7 Um dos significados mais profundos do termo hebraico “maná” é “pão do céu”, como descrito em Êx 16. Contudo, seu sentido eterno fica evidente no sacrifício vicário e redentor de Jesus Cristo, o Messias (Jo 6.51). 8 A gula carnal do povo (egoísmo sórdido e desesperado) fez que as pessoas fixassem seus olhos na provisão, e não no Provedor. Deus, em sua tristeza e decepção, castigou aqueles irreverentes e incrédulos com uma superabundância de provisão. Sem os limites da sabedoria divina, muitos morreram de prazer (Nm 11.31-34). 9 A preocupação do salmista não é apresentar uma lista detalhada das pragas do Egito (Êx 7 – 12), mas, sim, deixar bem clara SALMOS 78, 79 47 e destruiu as suas vinhas com a saraiva, e as suas figueiras bravas, com a geada; 48 quando entregou o gado deles ao granizo, os seus rebanhos aos raios; 49 quando os atingiu com sua ira ardente, com furor, indignação e hostilidade, com muitos anjos destruidores. 50 Abriu caminho para sua ira, não poupou da morte suas almas, mas entregou suas vidas à peste. 51 Feriu todos os primogênitos do Egito, as primícias da virilidade, nas tendas de Cam. 52 Fez partir seu povo como um rebanho e os conduziu como ovelhas pelo deserto. 53 Guiou-os com segurança, sem temores, enquanto o mar cobria os inimigos. 54 Fê-los entrar em seu domínio sagrado, até a montanha que sua destra conquistara. 55 Diante deles expulsou nações e, por sorteio, repartindo o patrimônio, instalou em suas tendas as tribos de Israel. 56 Eles, no entanto, puseram Deus à prova e foram rebeldes contra o Altíssimo; não obedeceram às suas prescrições. 57 Desertaram e, como seus pais, o atraiçoaram, envergando-se como um arco frouxo. 58 Com seus altares idólatras, eles o irritaram tremendamente; com seus ídolos lhe provocaram ciúmes.10 59 Deus ouviu e se indignou e, com veemência, repudiou Israel. 60 Abandonou o tabernáculo de Siló, a tenda onde fazia morada entre os homens.11 61 Entregou o símbolo do seu poder ao 82 cativeiro, e seu esplendor, nas mãos do opressor. 62 Abandonou à espada seu povo, irritado contra a herança. 63 Um fogo devorou os jovens, e as donzelas não tiveram canto nupcial. 64 Os sacerdotes tombaram sob a espada, e não os prantearam as viúvas. 65 Então, como de sonolência, despertou o Senhor, como um guerreiro aturdido pelo vinho, 66 e golpeou os inimigos pelas costas, infligindo-lhes infâmia eterna. 67 Descartou a tenda de José, preteriu a tribo de Efraim. 68 Escolheu a tribo de Judá, o monte Sião, que Ele amava.12 69 Construiu seu santuário como no alto céu, como a terra, que consolidou para sempre. 70 Escolheu Davi, seu servo, tirando-o dos apriscos do rebanho; 71 do cuidado das ovelhas, seu povo, Israel, sua herança. 72 E ele os pastoreava com coração irrepreensível e, com a perícia de suas mãos os conduzia. O povo suplica o socorro de Deus Um salmo da família de Asafe. 79 Ó Deus, as nações invadiram tua herdade, profanaram teu santo templo, reduziram Jerusalém a ruínas.1 2 Lançaram os cadáveres de teus servos a história de incredulidade, rebeldia, falta de gratidão e reverência sincera para com o Senhor, o Santo de Israel (Sl 71.22; 89.18; Is 1.4). O v.55 oferece um resumo da história narrada em Josué. A rebeldia de Israel e a benignidade de Deus continuaram a ser temas recorrentes na terra prometida, conforme o livro dos Juízes (1Sm 2.12 – 7.2; Jr 7.15). 10 Deus não divide sua glória com nada e com ninguém. Zelo e ciúmes são as expressões hebraicas originais para traduzir o sentimento de indignação de Deus ao contemplar a deslealdade do seu povo amado, erguendo altares idólatras e cultuando coisas e deuses (Êx 20.5). 11 A cidade de Siló era reconhecida como um centro de adoração a Deus desde os tempos de Josué (Js 18.1,8; 21.1,2; Jz 18.31), situava-se em Efraim, entre Betel e Siquém (Jz 21.19). Na época dos juízes, Siló abrigou o tabernáculo de Deus que, mais tarde, tornou-se um templo (1Sm 1.3; Jr 7.12). Entretanto, por causa da incredulidade e rebeldia de Israel, esse templo foi parcialmente destruído pelos filisteus, e completamente arrasado pelos assírios, no ano 721 a.C., quando a Arca da Aliança foi seqüestrada e jamais voltaria para Siló (Jr 7.12). Os vv.62-64 descrevem o fim das tribos e do Reino do Norte. 12 O Santuário foi estabelecido em Jerusalém na pessoa do rei Davi, cuja majestade e messianato simbolizam – eternamente e ao mesmo tempo – o Rei, o Profeta e o Sumo Sacerdote (ou Pastor): Jesus Cristo, ministrando no Tabernáculo Celestial, assentado à direita da glória e majestade do Pai nos céus (Hb 8 e 9; Jo 10.1-17). Capítulo 79 1 “Nação” é uma palavra bíblica de origem hebraica que significa “uma coletividade de pagãos”. Israel reconhece que Deus usou “as nações” para castigar seu povo por sua incredulidade, rebeldia e demais pecados, de maneira que se rende e suplica o perdão do Senhor. Contudo, Israel também sabe que os reinos pagãos têm agido por malignidade e desprezo contra Deus e 83 como pasto às aves sarcófagas, a carne dos teus fiéis, aos animais selvagens. 3 Derramaram, como água, seu sangue em torno de Jerusalém, e ninguém os sepultava. 4 Tornamo-nos o escárnio dos vizinhos, objetos de riso e menosprezo para todos que vivem ao nosso redor. 5 Até quando, SENHOR? Estarás sempre irado, ardendo com fogo teu zelo? 6 Derrama teu furor sobre as nações pagãs, sobre todos os reinos que não te adoram, que não invocam teu Nome, 7 porquanto devoraram Jacó e assolaram sua morada! 8 Não evoques contra nós as culpas dos nossos pais! Venha logo ao nosso encontro tua compaixão, pois estamos profundamente deprimidos.2 9 Ajuda-nos, ó Deus, Salvador nosso, pela glória do teu Nome! Livra-nos e perdoa nossos pecados, por causa do teu Nome! 10 Por que hão de dizer as nações: “Onde está o seu Deus?” Diante de nossos olhos, mostra aos pagãos a tua vingança pelo sangue dos teus servos!3 11 Chegue à tua presença o lamento dos SALMOS 79, 80 prisioneiros; com teu braço poderoso preserva os sentenciados à morte. 12 Devolve a nossos vizinhos, sete vezes mais, a afronta com que te insultaram, Senhor! 13 Então nós, o teu povo, as ovelhas das tuas pastagens; de geração em geração, para sempre te adoraremos e cantaremos os teus louvores. Oração pela restauração de Israel Ao regente do coro: segundo a melodia “Os lírios da Aliança”. Um salmo da família de Asafe. 80 Escuta, ó Pastor de Israel, que guias José como um rebanho! Tu, que estás entronizado sobre os querubins, manifesta a tua glória,1 2 diante de Efraim, Benjamim e Manassés! Desperta teu poder e vem salvar-nos! 3 Restaura-nos, ó Deus: faze brilhar tua bondosa face, para que sejamos salvos. 4 Eterno, Deus dos Exércitos, até quando em tua ira santa ignorarás as preces do teu povo? 5 Deste-lhe a comer o pão das lágrimas, a beber um pranto triplicado.2 6 Fizeste-nos objeto de contenda dos vi- seu povo; esse fato justifica sua petição pelo juízo do Senhor contra tais nações (Is 10.5-11; 47.6,7). Em 586 a.C., os babilônios invadiram e destruíram Jerusalém, massacrando os pobres e incultos, e levando para o cativeiro todas as pessoas com boa formação cultural ou capacidade técnica. A oração de Daniel em muito se assemelha a este salmo em suas expressões de profundo arrependimento (Dn 9.4-19; Sl 73;74). Aqui há uma referência explícita à pátria de Israel como domínio (templo) do Senhor (Sl 2.8; 78.62-71). 2 O salmista lembra o profeta Jeremias e consegue ver o amor do Pai mesmo sob repreensão severa (Jr 10.25). Jacó é usado como sinônimo de Israel (Gn 32.28). A destruição de Jerusalém ocorreu após mais de um século em que o povo se desviou do Senhor e preferiu seguir orientações pagãs (2Rs 17.7-23; 23.26,27; 24.3,4; Dn 9.4-14), pecados se avolumaram e não foram reconhecidos, confessados e abandonados por amor a Deus. Aqui, os exilados suplicam que o Senhor leve em conta a Aliança celebrada com seu povo e o sincero arrependimento daquela geração de crentes sofredores (Sl 23.6; 43.3). 3 Mais terrível que o desterro, a escravidão e a desgraça é ouvir dos pagãos: “Onde está o seu Deus?”, pois o incrédulo é o primeiro a fazer uma relação direta entre “bênção divina” e “prosperidade”. A nova geração de fiéis israelitas pede que o Senhor tenha compaixão deles, e que também não permita que seu Nome (a pessoa excelsa de Deus) seja difamado pelos ímpios. O povo pede ressarcimento pelo sangue derramado, especialmente dos inocentes, e lembra a Deus que há uma maldição prescrita sobre todo aquele que persegue um filho de Deus (Dt 32.35-43; Sl 3.2; 23.3; 65.3). Capítulo 80 1 Esta é uma súplica pela restauração de Israel depois de ter sido arrasado por uma potência pagã. O salmo é dividido em três partes, cada qual tendo um coro que exclama literalmente Elohim hashivênu, vehaer panêcha venivashêa – transliteração do original hebraico que significa “Restaura-nos, ó Deus, e faze sobre nós resplandecer tua face, e então seremos salvos”. Segundo descobertas arqueológicas, Jerusalém e sua região rural passaram nessa época por um aumento repentino e substancial de população, certamente como resultado da chegada maciça de refugiados no Norte, que fugiam dos exércitos assírios. Esse fato justifica a presença de “Efraim, Benjamim e Manassés”, no templo em Jerusalém, e sua oração em favor de uma restauração nacional, já que essas tribos representavam o Reino do Norte - as dez tribos recebidas por Jeroboão, deixando apenas Judá para Roboão, ainda que essa abrigasse a tribo de Simeão (1Rs 11.29-36; Js 19.1-9). Mesmo considerando que a pequena Benjamim pertencesse ao Reino do Norte, parte dessa tribo viveu dentro das fronteiras de Jerusalém. Foi, portanto, a nação pagã dos assírios que varreu o Reino do Norte da história (1Rs 12.21; 2Rs 17.1-6). 2 Por causa do pecado cometido no Éden (Gn 3), o ser humano foi condenado a obter seu alimento por meio do suor do seu SALMOS 80, 81 zinhos, e de nós zombam os inimigos. 7 Restaura-nos, ó Deus dos Exércitos, faze resplandecer sobre nós o teu rosto, para que sejamos salvos. 8 A videira que retiraste do Egito, tu a replantaste, expulsando nações.3 9 Limpaste o terreno, e ela lançou suas raízes enchendo a terra toda. 10 Sua sombra cobriu as montanhas, e seus ramos, os cedros altíssimos. 11 Suas ramagens se estenderam até o Mar, e seus brotos, até o Rio.4 12 Por qual motivo derrubaste suas cercas, permitindo que todos os que passam tomem suas uvas? 13 O javali da selva a devasta, pastam nela os animais do campo. 14 Volta-te, ó Deus Todo-Poderoso, olha do céu e vê! Vem visitar esta videira 15 da raiz que a tua mão direita plantou, o filho que para ti fortaleceste! 16 Ei-la incendiada, cortada. Pereçam eles, sob a ameaça do teu rosto! 17 Pousa a tua mão sobre aquele homem que está à tua direita: o filho do homem que para ti mesmo fizeste crescer.5 18 Não nos afastaremos de Ti: Tu nos 84 conservarás a vida, e invocaremos o teu Nome. 19 Restaura-nos, ó Deus, SENHOR TodoPoderoso: faze brilhar tua face sobre nós, e então seremos salvos! Exortação ao culto e à obediência Ao regente do coro: segundo a melodia “Os lagares”. Um salmo da família de Asafe. 81 Cantai de júbilo a Deus, nossa força; celebrai o Deus de Jacó.1 2 Salmodiai e fazei soar os pandeiros, tocai a lira e a harpa melodiosa. 3 Fazei ressoar a trompa, na lua nova, na lua cheia, no dia de nossa festa! 4 Porque é uma lei para Israel, um preceito do Deus de Jacó, 5 uma regra que Ele impôs a José, quando saiu contra a terra do Egito. Ali ouvimos uma língua que não compreendíamos. 6 Ele declara: “Tirei o fardo dos teus ombros, e tuas mãos ficaram livres dos cestos de cargas. 7 Quando clamaste na aflição, Eu te libertei; Eu te respondi, oculto no trovão; provei-te junto às águas de Meribá.2 (Pausa) rosto. E, em virtude dos sucessivos pecados individuais, é com lamento e lágrimas que muitas vezes faz suas refeições. No momento, a que se refere este salmo, Deus vinha permitindo grande sofrimento a Israel, em vez do “pão dos anjos” e da “água da rocha” (Sl 78.20-25). 3 A expressão hebraica original “videira-vinha” era uma maneira simbólica de se referir a Israel, mas só na pessoa de Jesus Cristo nos é possível compreender a plenitude dessa metáfora: um ramo sem valor algum quando separado do tronco, que é Cristo, o Messias (Jo 15.1-27; Sl 78.52; 40.2). 4 Aqui, o salmista faz uma referência à extensão do território santo, no tempo da prosperidade política de Israel (cerca de 950 a.C.): desde o “Mar” Mediterrâneo até o grande “Rio” Eufrates. A palavra hebraica traduzida por “Deus” e “Senhor” é, às vezes, no original, usada no sentido de “Todo-Poderoso” ou “Deus dos Exércitos” (Sl 29.1). Os profetas também comparavam Israel à Vinha do Senhor, florescente e transplantada por Deus (Is 3.14; 5.1-7; 27.2; Jr 2.21; 12.10; Ez 17.6-8; 19.10-14; Os 10.1; 14.7; Mq 7.1; Gn 49.22; Mt 20.1-16; Mc 12.1-9; Lc 20.9-16; Jo 15.1-5). 5 Quando está desamparada, a videira se enfraquece e acaba como um simples e inútil cipó. Entretanto, devidamente cultivada, ela cresce à altura das grandes árvores, como o carvalho, que utiliza como esteio. O salmo inteiro relembra a Aliança e as bênçãos divinas do passado, ao rogar pela salvação imediata. A expressão hebraica original “o filho do homem” era um título que Jesus Cristo aplicava a si mesmo (Hb 1.13). Capítulo 81 1 Motivo de júbilo festivo é a celebração da renovação da Aliança (2Cr 15.10-15). Jacó é sinônimo de Israel (Gn 32.28). Essa solenidade tem ligação estreita com a festa da Páscoa (festa dos Pães sem Fermento – Êx 12.14-17), pois ambas constituem um memorial da libertação do povo de Deus. Na Páscoa se evoca a libertação da agressão externa, ao passo que em Pentecostes se celebra a libertação da divisão interna. O contexto histórico é o Êxodo dos israelitas em trajetória desde o Egito até o Sinai. Outras festas judaicas podem usar este salmo em suas cerimônias: o Ano Novo (v.3; Lv 23.34; Nm 29.1); a festa dos Tabernáculos ou Cabanas (Nm 29.12). 2 O autor levítico recebe a revelação do significado da “voz” (linguagem) do Senhor que se projetou dos “trovões”, na época do juízo divino contra o Egito, a qual passa a interpretar com sua aplicação presente à congregação reunida em celebração solene (vv.6-16; 114.1; Dt 28.49; Is 19.18; 33.19; Jr 5.15; Ez 3.5,6). A resposta de Deus à aflição que os inimigos impunham a Israel fora uma tempestade que destruíra todo o exército perseguidor. O nome “Meribá” pode significar “rebelião” e “contenda” (Êx 17.1-7). 85 8 Escuta, povo meu! Quero admoestar-te. Tomara que tu, Israel, me escutes! 9 Não haja no meio de ti deus estranho, não adorarás qualquer entidade diferente de mim! 10 Eu Sou o Eterno, teu Deus, que te fez subir da terra do Egito; abre bem a tua boca, e Eu te satisfarei!3 11 Contudo, meu povo preferiu não me dar ouvidos; Israel não quis obedecer-me. 12 Por isso os entreguei a seu próprio coração teimoso, a fim de que seguissem seus intentos e desejos!4 13 Ah! Se meu povo me escutasse! Se Israel andasse pelos meus caminhos, 14 prontamente, Eu mesmo venceria seus inimigos, voltaria a minha mão contra todos os seus adversários; 15 os que odeiam o SENHOR se renderiam diante dele, e receberiam uma punição perpétua. 16 Então, Eu sustentaria Israel com o melhor trigo e, com mel retirado da rocha, Eu, pessoalmente, o satisfaria”. Os juízes devem agir com justiça Para o mestre de música. Salmo e cântico da família de Asafe. SALMOS 81–83 82 Deus, o supremo Juiz, levantou-se na assembléia divina, no meio dos poderosos abre o julgamento:1 2 “Até quando dareis sentenças injustas, favorecendo os ímpios?2 (Pausa) 3 Sede juízes para o desvalido e órfão, fazei justiça ao mísero e ao indigente; 4 libertai o fraco e o pobre, livrai-os das garras dos ímpios! 5 Eles nada compreendem, nem percebem que vagueiam pelas trevas da ignorância e da insensibilidade; abalam assim as bases que sustentam a própria terra. 6 Eu declarei: vós, ó juízes, sois como os deuses; todos vós sois filhos do Altíssimo! 7 No entanto, como seres humanos, morrereis e, como qualquer outro governante, caireis”. 8 Levanta-te, ó Eterno, e julga tua terra, porquanto a ti pertencem todas as nações!3 Deus peleja contra seus inimigos Cântico. Salmo da família de Asafe 83 Ó Deus, não emudeças; não fiques como quem não pode falar nem te detenhas, ó SENHOR!1 3 O crente deve confiar totalmente (sem qualquer sombra de dúvida) na provisão amorosa, certeira e completa de Deus, assim como agira no deserto (Sl 78.23-29; 37.3,4; Dt 11.13-15; 28.1-4). Este versículo pode ser transliterado do original hebraico da seguinte forma: Anochi Adonai Elohêcha hamaalchá meérets Mitsráyim, harchev pícha vaamal’êhu. No NT, o discípulo amado encerra sua primeira carta à Igreja, admoestando-nos a jamais desviarmos o Messias do foco absoluto da nossa fé (1Jo 5.21). 4 Nenhuma correção é mais justa e severa do que esta: entregar a alma humana à sua própria renitência (Rm 1.24-28). Capítulo 82 1 O esplendor da justiça divina ofusca e envergonha todos os julgamentos iníquos e as procrastinações dos juízes e governantes da terra em relação ao direito dos povos, especialmente dos pobres e incapazes de se defender. O autor levítico deste salmo evoca uma visão de Deus presidindo seu tribunal, nos céus. Uma ilustração análoga às experiências dos profetas (1Rs 22.19-22; Is 6.1-7; Jr 23.18,22; Jó 15.8; Sl 47; 94.2; 96.13; 98.9: 99.4; Gn 18.25; 1Sm 2.10). Na antigüidade hebraica, alguns rabinos de grande prestígio costumavam ensinar que a expressão “os deuses” no texto sagrado se referia à presença de “governantes e juízes perversos” em Israel e que estavam contrariando a vontade de Deus. Atualmente, a maioria dos estudiosos de renome afirma que esse termo indica os “governantes pagãos e vizinhos a Israel” que procuravam convencer os povos acerca de sua procedência extraterrestre e divina. Embora teoricamente, e em seus discursos, sempre fizessem apologia à justiça, na prática suas atitudes eram freqüentemente desfavoráveis à solidariedade e ao direito dos povos, especialmente dos pobres. Seja como for, o fato é que chegou a hora apocalíptica da confrontação entre o Juiz dos juízes e Rei dos reis, em relação aos poderosos e governantes do mundo (Sl 58). 2 O salmista tem a nítida visão de uma grande assembléia no Superior Tribunal da Justiça Divina, onde os reis, juízes, governantes e os poderosos da terra foram convocados para depor e prestar contas de suas ações (1Rs 7.7; 22.19; Jó 1.6; 2.1; Sl 89.5; Is 6.1-4). Na linguagem poética do antigo Oriente Médio, os reis, príncipes e juízes eram considerados procuradores do Rei celestial e, portanto, dignos de receber o título de “deus” (Êx 9.16; 21.6; 22.8; Sl 2.7; 1Rs 3.9; Pv 8.14-16; Jr 27.6; Dn 2.21; 4.17,32; 5.18; Is 11.2; 44.19,28; Jo 19.11; Rm 13.1). 3 O salmista eleva sua oração em nome de todos os justos da terra, suplicando que Deus venha sem demora e realize seu julgamento sobre o mundo todo; literalmente: “tua herança” ou “teu domínio” (3.7; 79.1). Capítulo 83 1 Este salmo é fruto de uma mensagem recebida pelo levita Jaaziel, descendente de Asafe, quando Israel esteve sob a ameaça SALMOS 83, 84 Eis que teus inimigos se alvoroçam; vê como empinam a cabeça em sinal de desafio! 3 De maneira astuta armam ciladas contra o teu povo; tramam maldades contra os teus protegidos. 4 Conjeturam: “Vinde, exterminemo-los da face da terra; a fim de que não haja mais qualquer lembrança do nome de Israel!” 5 Eles deliberam de comum acordo, é contra ti que estabelecem conchavos: 6 as tendas de Edom e os ismaelitas, Moabe e os hagarenos,2 7 Gebal, Amom e Amaleque, a Filístia, com os habitantes de Tiro.3 8 Até a Assíria juntou-se a eles, e emprestou sua força aos descendentes de Ló.4 (Pausa) 9 Age sobre eles como agiste contra Midiã, como fizeste a Sísera, como trataste a Jabim, no rio Quisom;5 10 os quais pereceram em En-Dor e viraram esterco para serem consumidos pela terra.6 11 Faze com seus nobres o que fizeste com Orebe e Zeebe, e com todos os seus príncipes, o que fizeste com Zeba e Zalmuna, 2 86 que aventaram: “Apoderemo-nos das habitações de Deus!” 13 Meus Deus! Faze-os rodopiar como folhas secas no chão, como palha ao capricho do vento! 14 Como o fogo que devora a floresta, como a labareda que abrasa os montes, 15 persegue-os com o teu vendaval, apavora-os com a tua tempestade.7 16 Cobre-lhes de vergonha o rosto até que decidam buscar teu Nome, ó Senhor! 17 Assim, humilhados e aterrorizados para sempre, pereçam na mais absoluta desgraça. 18 Saberão, portanto, que só tu, cujo Nome é Eterno, é Único, e que somente tu, ó Altíssimo, és o SENHOR e soberano de toda a terra!8 12 Saudades da Casa de Deus Ao mestre de canto, de acordo com a melodia “Os Lagares”. Um salmo dos coraítas. 84 Como é amável o lugar da tua morada, ó SENHOR dos Exércitos! 2 Minha alma se consome de ansiedade pelos átrios do SENHOR, meu coração e minha carne vibram de alegria pelo Deus vivo. de uma grande confederação de inimigos, e os aliados de Moabe, Amom e Edom estavam invadindo Judá (2Cr 20.1-30). Embora essa Palavra de Deus tenha vindo para dar forças ao povo em momento específico da história de Israel, tudo indica que seja também um sinal quanto às grandes e ameaçadoras movimentações contra o povo de Deus, que ocorrerão no final dos tempos. Este salmo foi escrito depois do reinado de Salomão, mas antes dos terríveis ataques da Assíria nos dias do rei Manaém, o que reforça seu caráter profético (1Rs 15.19). 2 Os hagarenos ou ismaelitas descendiam de Hagar e estavam misturados a uma confederação de arameus (1Cr 5.10-22; 27.31). 3 Gebal era uma importante cidade fenícia também conhecida por Biblos (1Rs 5.18; Ez 27.9). 4 Nesta época, a Assíria ainda não se constituía numa grande ameaça como nação inimiga, mas ao aliar-se a Moabe e Amom (povos descendentes de Ló – Gn 19.36-38), passou a representar sério perigo. Os inimigos tendem a juntar-se (ainda que não haja real amizade entre eles) contra o povo de Deus. 5 Assim como na antigüidade, no tempo dos juízes e em todas as épocas, o Senhor protege seu povo. Deus deu a Gideão vitória sobre os midianitas (Jz 7), cujos principais líderes eram Orebe e Zeebe, Zeba e Zalmuna (v.11), bem como ajudou Baraque contra a aliança cananéia de Sísera e Jabim (Jz 4). 6 Neste episódio histórico, até parte do exército que estava em fuga, a nordeste da linha de frente da batalha, foi perseguida pelo povo do Senhor, e seus soldados, completamente dizimados (Js 17.11). 7 Descrição simbólica dos guerreiros celestiais do Senhor atacando os inimigos do povo de Deus do meio dos fenômenos atmosféricos (Sl 18.7-15; 68.33; 77.17,18; Êx 15.7-10; Js 10.11; Jz 5.4,20,21; 1Sm 2.10; 7.10; Is 29.5,6; 33.3). As nuvens das tempestades são figuras dos carros de guerra do Senhor (Sl 68.4). 8 Deus não tem prazer nas guerras nem na dor ou sofrimento dos seres humanos, mesmo que sejam seus inimigos. O motivo pelo qual o Senhor milita com seus exércitos contra seus adversários e as nações pagãs é proporcionar uma última forma de quebrar-lhes a arrogância, e criar, nesses povos, um coração capaz de reconhecer a Deus e buscá-lo como verdadeiros crentes (v.16; 40.9; 47.9; 58.11; 59.13). Este versículo pode ser assim transliterado, a partir dos originais hebraicos: Veiedeú ki ata shimchá Adonai levadêcha, elion al col haárets (Gn 14.19). Capítulo 84 1 Os levitas normalmente oficiavam o culto no templo. Nesse caso, porém, devido à invasão e assolação promovida por Sena- 87 3 Até o pardal encontrou morada, e a andorinha um ninho para si, para abrigar seus filhotes, um lugar próximo ao teu altar, ó Eterno dos Exércitos, meu Rei e meu Deus.2 4 Felizes os que habitam em tua Casa, louvando-te sem cessar!3 (Pausa) 5 Felizes os que em ti encontram sua força, e todos aqueles que são peregrinos de coração! 6 Ao atravessarem o vale de lágrimas de Baca, convertem-no num lugar de fontes, como a boa chuva de outono, que, ainda o cobre de bênçãos. 7 Caminhando com vigor sempre crescente, apresentam-se perante Deus em Sião.4 8 SENHOR, Eterno, Deus dos Exércitos, escuta minha oração, presta ouvido, ó Deus de Jacó! (Pausa) SALMOS 84, 85 Ó Deus, que és o nosso Soberano; trata com misericórdia o teu ungido! 10 Pois um dia em teus átrios vale mais que mil em qualquer outro lugar; estar recostado à porta da Casa do meu Deus é melhor que morar nas tendas mais ricas dos ímpios.5 11 Porquanto DEUs, o Eterno, é sol e escudo, o SENHOR concede graça e glória. Ele nenhum bem recusa aos que vivem com integridade.6 12 Ó SENHOR Todo-Poderoso, feliz é o ser humano que em ti confia plenamente! 9 Súplica pelo perdão do Senhor Ao regente do coro. Salmo da família de Corá. 85 Favoreceste, SENHOR, a tua terra; trouxeste Jacó de volta do cativeiro!1 2 Perdoaste a culpa do teu povo e cobriste todos os seus pecados.2 (Pausa) queribe contra Judá, o levita e autor deste salmo se vê separado da Casa do Pai, e expressa toda a sua saudade e anseio pelos doces momentos passados em louvor, adoração, oração e comunhão com Deus (Sl 42; 2Rs 18.13-16). 2 O salmista observa a liberdade e o privilégio dos pequenos pássaros que, contemplados pela graça divina, podem se estabelecer no templo e construir seus ninhos bem próximos do altar, honra que estava destinada a Israel e ao povo de Deus. 3 O mais importante na Casa de Deus é a presença do seu Espírito, que habita a alma e o corpo de todo crente sincero em Jesus Cristo, o Messias (Mt 28.20). 4 Os verdadeiros peregrinos são aqueles que estão caminhando com Deus ao longo da vida, rumo à Terra Prometida (o eterno Shabbath Shalom do Senhor). Uma tradução literal para a expressão “peregrinos de coração” pode ser “em cujo coração estão os caminhos planos”, que lembram as estradas nas quais os israelitas andavam rumo a Jerusalém, na época das festas religiosas (Sl 4.7). “Baca” significa ao mesmo tempo “choro” e “bálsamo”, e é o nome de um vale árido de localização incerta (Sl 23.4). Essa expressão representa os trechos áridos e sofridos por onde os peregrinos tinham de passar até chegar em Jerusalém. As expectativas felizes dos peregrinos ajudavam a transformar as travessias mais difíceis em momentos de consolo e aprendizado. Assim, o vale do “choro” transformava-se, também, no vale do “bálsamo e do louvor a Deus” (2Cr 20.26), e os peregrinos, rumo a Sião, experimentaram a mesma mão divina, poderosa e abençoadora, que conduziu Israel pelo monte Sinai à terra prometida. Assim seus descendentes fizeram, ao sair do exílio na Babilônia, para suas casas em Sião (Sl 78.15,16; 105.41; 114.8; Is 41.1720; 43.19,20; 49.10). 5 Os filhos de Corá (levitas) tinham a obrigação de serem os porteiros solenes do templo. Nenhuma posição de honra no mundo (a casa dos ímpios) se compara à glória do mais humilde serviço prestado por amor ao Senhor. 6 O sol representa a fonte gloriosa de iluminação, revelando nossos erros e pecados e produzindo vida. O escudo nos protege dos dardos mortíferos do Diabo (Ef 6.16). A luz e a força majestosa do Senhor são compartilhadas com seus filhos (Ap 19.6-8; Gn 17.1; Sl 3.3; 15.2; 27.1). Capítulo 85 1 Este versículo pode ser assim transliterado, a partir dos originais hebraicos: Ratsíta Adonai artsêcha, shávta shevit Iaacov. A expressão shávta shevit Iaacov (literalmente: tu te voltaste para Jacó” significa “a volta de Deus para o povo” (Jacó é sinônimo de Israel – Gn 32.28) e, nas profecias sobre o exílio “a volta dos cativos” (Jr 29.14). Este salmo, portanto, é uma oração comunitária, suplicando a renovação das misericórdias de Deus para com seu povo durante um período de crise no qual novamente Israel se vê sob grandes aflições. Os versos 1 a 3 se referem à volta do exílio, e as provações são aquelas narradas por Neemias e Malaquias. O verso 12 revela que uma terrível seca desolou Israel nessa época (Ag 1.5-11). 2 Deus responde à oração do salmista (e da congregação), com palavras que motivam e renovam a confiança de que seu povo voltará a ser muito abençoado (v. 9; Nm 6.22-26), transmitidas por meio de um dos sacerdotes ou adoradores coraítas (2Cr 20.14; Sl 12.5,6). Onde quer que o poder salvífico de Deus seja expresso, sua Glória é revelada (Sl 57.5,11; 72.18,19; Êx 14.4,17,18; Nm 14.22; Is 40.5; 44.23; 66.19; Ez 39.21). SALMOS 85, 86 Puseste fim à tua indignação, retiraste tua ardente cólera. 4 Restaura-nos, ó Deus, nosso Salvador! Suprime teu rancor contra nós! 5 Estarás para sempre irritado contra nós, prolongando tua ira, de geração em geração? 6 Acaso não nos renovarás a vida, a fim de que o teu povo se rejubile em ti? 7 Revela-nos o teu amor, ó Eterno, e concede-nos a tua salvação! 8 Ouvirei atentamente o que Deus, o SENHOR, tem a nos declarar; Ele promete paz ao seu povo, aos seus devotos, desde que não retornem à insensatez!2 9 Em verdade, próxima está a salvação que Ele trará aos que o temem, e sua glória habitará em nossa terra. 10 Então, o amor e a fidelidade se encontrarão; a justiça e a paz se beijarão. 11 A lealdade germinará da terra, e a perfeita justiça descerá dos céus! 12 O SENHOR nos concederá a felicidade, e nossa terra produzirá farta colheita. 13 A justiça seguirá à sua frente com a finalidade de preparar o caminho para seus passos!3 3 Oração em tempos de aflição Uma prece de Davi.1 86 Ó Eterno, inclina para mim os teus ouvidos e dá-me tua resposta, pois 88 sou um desvalido e estou muito aflito. Conserva-me em vida, pois sou fiel. Tu, meu Deus, salva teu servo, que em ti confia!2 3 Tem piedade de mim, SENHOR, pois a ti clamo, todo o dia. 4 Alegra o coração do teu servo, porquanto a ti, SENHOR, elevo a minha alma. 5 Pois tu és bondoso e perdoador, SENHOR, rico em graça e misericórdia para com todos os que te invocam. 6 Escuta a minha oração, SENHOR; atenta para a minha súplica! 7 No dia do perigo clamo a ti, porque tu me respondes.3 8 Ninguém, entre os deuses, é como tu, ó SENHOR, e nada existe que se compare às tuas obras. 9 Todas as nações que fizeste virão prostrar-se diante de ti, SENHOR, e glorificarão teu Nome, 10 pois tu és magnífico e realizas milagres maravilhosos; em verdade só tu és Deus! 11 Revela-me, SENHOR, teu Caminho, para que eu o siga em fidelidade para contigo. Orienta meu coração, para que tema teu Nome!4 12 De todo o coração te exaltarei, SENHOR, meu Deus, e glorificarei para sempre o teu Nome, 13 porquanto teu amor é tão generoso 2 3 O salmista personifica as expressões do caráter e do favor de Deus em relação a seu povo, como fruto da sua aliança leal e indestrutível (vv.10-13). Portanto, a lealdade brotará da terra, assim como uma nova vida vegetal que surge para abençoar a humanidade com seus frutos (Nm 6.26). A justiça atingirá a terra como os bons raios solares e, como uma guia experiente e arauto fiel irá adiante, pelo caminho, demarcando como Deus deseja operar a favor dos seus, segundo sua aliança eterna (Sl 31.19; 4.1). Capítulo 86 1 Inimigos pagãos e que desdenham de Deus estavam procurando, de todas as maneiras, destruir a vida de Davi (2Sm 7.5,8; Sl 18). O salmista recorre às misericórdias e ao poder libertador do Senhor. Este é o único salmo pós-exílico do livro III (Sl 73 – 89), atribuído ao rei Davi ou a sua dinastia. Sua colocação entre os salmos coraítas tem a ver com a ligação temática que há entre o verso 9 e Sl 87.4. 2 A expressão hebraica aqui traduzida por “fiel” é chassid, cujo sentido é de “sincera devoção, apesar das falhas humanas”. Este versículo pode ser assim transliterado, a partir do original hebraico: Shamra nafshi ki chassid áni, hosha avdechá ata Elohai, habotêach elêcha (Sl 4.3). A expressão “Tu, meu Deus...” não significa que Davi tivesse escolhido Deus, mas o reconhecimento jubiloso de Davi de que fora escolhido pelo Senhor, para ser seu servo, ainda que seu ungido e rei de Israel (1Sm 13.14; 15.28; 16.12; 2Sm 7.8). 3 O Deus a quem Davi recorre é o Deus único e verdadeiro Yahweh (o Eu Sou do AT), criador do Universo e da Terra. Nenhum outro “deus” age com tamanho amor, justiça e poder soberano. Um dia todas as nações da terra vão adorar a Deus por isso (vv.8-10; Sl 46.10 115.3-7; 135.13-17). 4 Davi nos revela a maior aspiração do verdadeiro crente: não apenas ficar livre dos seus problemas imediatos e temporais, mas ter seu coração em contínua e santa dependência do Espírito de Deus (Sl 4.7; 25.5; 51.7-10; Ez 11.19; 1Cr 12.33; 1Co 7.35). A expressão “Nome” quando se refere a Deus, tem a ver com sua pessoalidade, e indica a presença divina (vv.9,12; 5.11). A profecia do versículo 9 se cumpre em Jesus Cristo (Fp 2.9-11). 89 para comigo, que livraste minha alma de todos os poderes da morte.5 14 Ó Deus, os arrogantes se levantam contra minha pessoa; um bando de prepotentes atenta contra minha vida, gente que não faz caso de ti. 15 Entretanto tu, SENHOR, és Deus compassivo e misericordioso, rico em paciência, amor leal e justiça; 16 volta-te para mim, tem compaixão de mim! Concede tua força a teu servo necessitado e salva o teu filho fiel!6 17 Dá-me um sinal do teu favor, para que todos os que me tratam com ódio o vejam e se sintam humilhados, ao confirmar que tu me acompanhas com teu conforto e auxílio! Cântico profético sobre Jerusalém Um salmo dos descendentes de Corá. 87 O SENHOR firmou as bases da sua cidade sobre o monte santo;1 SALMOS 86, 87 Ele ama os portais de Sião mais do que todas as habitações de Jacó. 3 Ah! Maravilhas são contadas a teu respeito, ó Cidade de Deus!2 (Pausa) 4 “Entre os que me reconhecem incluirei o Egito e a Babilônia, além da Filístia, de Tiro, e também da Etiópia, como se tivessem nascido em Sião.”3 5 Na verdade em Sião nasceram multidões que conhecem o Eterno e Ele, pessoalmente, a estabeleceu como a mais nobre cidade.4 6 Assim o SENHOR escreverá no registro dos povos: “Este nasceu ali”. (Pausa) 7 Músicos e compositores sobre ela afirmarão: “Todos os meus pensamentos e toda a minha inspiração provêm de ti, ó Sião!”5 2 Oração em dias de grande aflição Um hino dos coraítas para o mestre de música. Em 5 A palavra hebraica aqui traduzida por “poderes da morte” é Sheol. Pode significar – dependendo do contexto – “profundezas da morte”, “região dos mortos”, “sepultura”, ou ainda “pó da terra”. Davi demonstra seu júbilo pela graça da salvação (livramento) que vem do Senhor (Sl 3.8; 30.1). 6 Embora os textos massoréticos tragam a expressão “salva o filho da tua serva”, melhores manuscritos podem ser claramente traduzidos por “salva o teu filho fiel”, compreendendo a palavra “fiel” como no v.2 (Sl 119.16). Os arrogantes desconsideram o poder e a interferência do Guerreiro celestial que milita a favor dos filhos de Deus (Sl 10.11; Jr 20.11). Os vv.15 e 5 parecem extraídos do coração da Lei (Êx 34.6,7). Capítulo 87 1 Este é um salmo profético – cintilando no meio do Saltério (2Cr 32.21-23; Sl 86.9) – que antevê a colheita das nações em Jerusalém (Sião – 2Sm 5.6,7) como concidadãs com Israel do pleno Reino de Deus (Is 2.2-4; 19.19-25; 25.6; 45.14-24; 56.6-8; 60.3; 66.23; Dn 7.14; Mq 4.1-3; Zc 8.23; 14.16). A análise desta peça literária sagrada precisa levar em conta a praxe da chamada “sintaxe interrompida”, na antiga poesia hebraica, segundo a qual as referências às nações devam ser compreendidas como vocativos (v.4). Dessa maneira, este salmo pode ser tematicamente harmonizado com os demais hinos que celebram o amor especial de Deus por Sião, mesmo entre as demais cidades de Jacó ou Israel – Gn 32.28 - (Sl 46; 48; 76; 125; 129; 137). O próprio Deus criou e estabeleceu os alicerces da fortaleza de Sião (Is 14.32) e do Templo como seu palácio real. A expressão “monte” em hebraico está no plural, com a finalidade de ressaltar a majestade e imponência do lugar onde o Senhor instalou a representação visível do seu trono na terra (Sl 48.2). 2 Celebração de Sião como a “Cidade de Deus” (Sl 46; 48; 76). Esse versículo pode ser assim transliterado, a partir do original hebraico: Nichbadot medubar bach, ir haelohim (sêla). 3 Este salmo prevê o dia em que todas as nações da terra, inclusive os antigos e tradicionais inimigos de Israel, serão convertidos ao Senhor (Is 19.21; 26.18). Deus mantém um registro sistemático e atualizado de cada indivíduo que o aceita como Senhor e Salvador pessoal mediante fé sincera (fiel), de maneira que essas pessoas passam a ser – independente da sua origem étnica – cidadãos do Reino, com todos os direitos, privilégios e deveres reservados aos filhos de Deus (Jo 1.12; Os 6.3). Portanto, os incrédulos são advertidos sobre o cuidado especial com o qual o Senhor zela pelos seus e as punições reservadas para todos aqueles que se atreverem a lhes fazer qualquer mal (Is 14.28-32; Sl 105.15). O Egito (Raabe é o seu o nome poético, como “Núbia”, em hebraico Kuš – Is 51.9) e a Babilônia representam todos os gentios e o poder civil da época. 4 Jerusalém restaurada – o povo de Deus – herdará todas as nações da terra (Is 54.1-3). Este versículo pode ser assim transliterado, a partir do original hebraico: Ultsión iemar ish veish iulad ba, vehu iechonenêha elion. 5 A verdadeira felicidade se encontra na presença de Deus. Hoje, podemos experimentá-la pela fé, na Cidade Celestial de Sião, contudo, a teremos plenamente, como um “divino rio de delícias” (Sl 30; 36.8), cujos “canais alegram a Cidade de Deus” (46.4). Os vv.6 e 7 podem ser assim transliterados a partir do original hebraico: Adonai yispor bichtov Amim, ze iulad sham (sêla). Vesharim kecholelim, col maianai bach. SALMOS 88, 89 melodia para o coração aflito: para responsório. Salmo didático de Hemã, o ezraíta.1 88 Ó Eterno, Deus de minha salvação, dia e noite clamo a ti!2 2 Chegue à tua presença minha oração, presta ouvido ao meu clamor! 3 Minha alma está saturada de desgraças, minha vida está à beira das profundezas da morte. 4 Já sou contado entre os que baixam à sepultura, sou como uma pessoa absolutamente alquebrada; 5 Sinto-me abandonado à minha própria sina, entre os mortos. Sou como os trucidados, que jazem na região dos mortos, dos quais já não te lembras, pois estão apartados de tua mão.3 6 Tu me depositaste nas profundezas do fosso, nos lugares tenebrosos e abismais. 7 Sobre mim pesa a tua cólera; com todas as tuas grandes ondas do mar me afligiste. (Pausa) 8 Afastaste de mim os meus conhecidos, fizeste de mim um horror para eles. Enclausurado, não vejo qualquer saída; 9 meus olhos anuviam-se de preocupação. Todo dia te invoquei, SENHOR, estendendo para Ti minhas mãos. 10 Farás, entretanto, um milagre para aqueles que já se despediram da vida? Porventura os mortos virão a se levantar e te louvar? (Pausa) 90 Será que teu amor é também proclamado no túmulo, e a tua fidelidade no Abismo da Morte? 12 Será teu sinal milagroso conhecido na região das trevas, e tua justiça, na dimensão do esquecimento? 13 Contudo, eu, ó SENHOR, clamo a ti por socorro; já ao romper da alvorada a minha oração chega à tua presença. 14 Por que, SENHOR, me rejeitas e escondes de mim a tua face? 15 Desde muito jovem tenho sofrido e ando próximo da morte; os teus terrores levaram-me ao desespero. 16 Sobre minha existência se abateu a tua ira; os pavores que me causas me consumiram. 17 Cercam-me o dia todo como uma inundação; fazem-me submergir em agonia. 18 Afastaste de mim os meus amigos e todos os meus conhecidos de jornada; as trevas são a minha única companhia. 11 Promessa messiânica a Davi Obra poética do ezraíta Etã. 89 Para sempre cantarei sobre o inesgotável amor leal do Eterno; minha boca proclamará a tua fidelidade a todas as gerações!1 2 Sim, anuncio a todos que teu amor está edificado para sempre; nos céus estabeleceste tua fidelidade: 1 Hemã ou Hêman (nome hebraico que significa “fiel”), filho de Zera, da descendência de Judá (1Cr 2.6; Sl 89), foi um dos principais sábios da corte de Salomão (1Rs 4.31). Apesar de o salmista ter vivido desde a infância sob as agruras da vida e o iminente perigo da morte, sua oração (em melodia mesta: triste, melancólica), começa com uma declaração de fé e confiança na salvação eterna que vem do Senhor, e esse é seu maior consolo (v.1). O subtítulo deste salmo (literalmente, o título no original hebraico) pode ser assim transliterado: Shir mizmor livnê Côrah, lamenatsêach al machalat leanot, maskil leheman haezrachi. 2 Por mais difícil que seja compreendermos a razão do sofrimento humano, as Sagradas Escrituras nos ensinam que as aflições e angústias fazem parte do plano de Deus para o aperfeiçoamento de toda a humanidade (Cl 1.24; 1Pe 3.14). A história hebraica está salpicada de exemplos: José sendo injustamente atirado na cova e mais tarde na prisão, para depois vir a ser salvador da sua família e primeiro-ministro do faraó do Egito; Abraão lançado em densas trevas antes de receber a maravilhosa revelação da aliança (Gn 15.12-18); Jonas lançado nas profundezas do mar antes de aprender a ser um fiel profeta de Deus; Jesus Cristo padecendo e sendo aperfeiçoado por meio dos muitos sofrimentos pelos quais passou desde o nascimento, a fim de se confirmar como pleno Autor da nossa salvação (Hb 2.10). Este versículo pode ser assim transliterado, a partir do original hebraico: Adonai Elohê ieshuati, iom tsaácti valaila negdêcha. 3 O salmista narra seu sofrimento a partir de uma perspectiva totalmente humana e cartesiana da morte: uma condição e local em que não há mais qualquer possibilidade de intervenção divina em favor da restauração do necessitado (Sl 25.7; 74.2; 106.4). Capítulo 89 1 O autor deste salmo é um levita, ezraíta mencionado em 1Rs 4.31, descendente de Jedutum, que se colocou como porta-voz de Israel e completa a oração de Hemã, no salmo anterior (Sl 88). O salmo que começa cantando o amor e a lealdade de Deus para com seu povo e por sua terra, transforma-se numa oração profundamente triste e aflita (v.38-45), contemplando a repentina 91 “Fiz aliança com meu eleito, jurando a Davi, meu servo: 4 Estabelecerei tua descendência para sempre, e firmarei o teu trono, de geração em geração”. (Pausa) 5 Os céus exaltam tuas maravilhas, SENHOR, e tua fidelidade, na assembléia dos santos. 6 Quem, nos céus se compara ao SENHOR? Quem é igual ao SENHOR entre os seres celestiais? 7 No conselho dos santos, Deus é grandemente temido e inspira mais temor do que todos os que o cercam. 8 Ó DEUs, ETERNO, SENHOR dOs EXÉRCITOs, quem é igual a ti? Poderoso és tu, SENHOR, e tua fidelidade está ao teu redor.2 9 Dominas a insolência do mar bravio; quando suas ondas se sublevam, tu as amansas.3 10 Mataste e aniquilaste o Monstro dos Mares, desbarataste os inimigos com o poder do teu braço forte.4 11 O céu é teu, tua é a terra; fundaste o mundo e tudo o que nele existe. 12 Tu criaste o Norte e o Sul. Os montes Tabor e Hermom entoam hinos de louvor ao teu Nome.5 3 SALMOS 89 Tens o braço cheio de poder, a mão forte, a destra sempre erguida. 14 A justiça e o direito são as bases de teu trono; amor e fidelidade precedem a tua passagem.6 15 Como é feliz o povo que aprendeu a honrar-te, SENHOR, e que se deixa conduzir pela maravilhosa luz de tua presença! 16 Dia e noite sabem exaltar o teu Nome e se alegram em tua retidão, 17 pois tu és a nossa glória e o nosso poder, e por tuas misericórdias reergues nossa fronte!7 18 Sim, ó Eterno, Tu és o nosso escudo, o Santo de Israel, Tu és o nosso Rei! 19 Outrora, em visão, falaste assim aos teus fiéis: “Dei meu apoio a um herói, do meio do povo exaltei um escolhido.8 20 Encontrei Davi, meu servo, ungi-o com meu óleo santo. 21 A minha mão o susterá, e o meu braço será a sua força. 22 Nenhum inimigo o humilhará sob pesados tributos; tampouco alguém poderá oprimi-lo. 23 Esmagarei diante dele os seus adversários e exterminarei todos os seus inimigos. 13 e violenta queda da dinastia davídica, provocada pela invasão dos exércitos de Nabucodonosor contra Jerusalém e o exílio do rei Joaquim, em 597 a.C. (2Rs 24.8-17). A oração termina com um apelo urgente pelo livramento do Senhor, por amor leal a sua aliança. O verso 52, portanto, não é apenas a conclusão desta poema sacro, mas de todo o “Terceiro Livro” do Saltério (73 – 89). Este é um salmo messiânico e, portanto, seu pleno sentido só pode ser compreendido na pessoa e obra de Jesus Cristo (Ef 1.3-7). 2 Este versículo pode ser assim transliterado, a partir do original hebraico: Adonai Elohê Tsevaót mi chamôcha chassin lá, veemunatechá sevivitêcha. A fidelidade do Senhor o envolve, bem como à sua Palavra (1Sm 1.3; 17.45; Dt 33.2; Js 5.14; Sl 68.17; Hc 3.8). 3 Para os judeus, o mar e seus mistérios sempre foram símbolos das forças rebeldes do Maligno. Entretanto, o Senhor abriu o mar Vermelho para que Israel pudesse atravessá-lo sobre terra firme. Da mesma forma, a tempestade e o mar revolto acalmaramse mediante a ordem de Jesus (Lc 8.23-25). 4 O autor faz uso poético da antiga mitologia hebraica, como a lenda sobre o maior e mais terrível dos monstros marinhos, também conhecido como Leviatã ou Raabe (32.6; 74.14; 87.4; 104.26). A última parte deste versículo pode ser também percebida no NT (Lc 1.51). 5 Norte e Sul não se referem aos pontos cardeais, mas a dois montes conhecidos na época e que nesse hino formam um paralelo poético com o Tabor e o Hermom (vv 16,24; 5.11; 48.2; Ct 4.8; Jz 4.6; Dt 3.8; Sl 65.13). 6 Da pessoa e do governo do Senhor, emanam amor leal e justiça, especialmente a favor do seu povo (todos os que nele crêem sinceramente – seus filhos – Jo 1.12). Enquanto a retidão e o direito simbolizam a matéria-prima do trono de Deus, o amor e a fidelidade são personificados como arautos angelicais que vão à frente do Senhor proclamando sua passagem real (v.16; 23.6; 4.1). Jesus, Deus-Filho, foi o principal e definitivo arauto do Senhor (Jo 1.14). 7 A palavra aqui traduzida como “poder” e “fronte” é, literalmente, “chifre”, em hebraico antigo; fato que levou muitos artistas renascentistas a esculpir e pintar personagens bíblicos, com chifres, como é o caso das famosas obras de Michelangelo sobre Moisés. Este versículo pode ser assim transliterado: Ki tiféret uzámo áta, uvirtsonechá tarum carnênu. 8 A visão se refere à revelação concedida aos profetas Samuel e Natã (1Sm 16.12; 2Sm 7.4-16). O Senhor escolhe Davi para ser regente sobre seu povo, e estabelece com ele sua aliança eterna. Tanto Davi como seu descendente Jesus foram exaltados entre o povo humilde e pobre (Hb 7.25). SALMOS 89 Minha lealdade e meu amor estarão sempre com ele; e em meu Nome se erguerá sua fronte! 25 Porei sua mão para dominar os mares e comandar os rios.9 26 Ele me invocará, declarando: ‘Tu és meu Pai, meu Deus, a Rocha que me salva’.10 27 Eu também o constituirei meu primogênito, supremo sobre todos os reis da terra!11 28 Manterei meu amor leal por ele para sempre, e minha aliança com ele jamais se quebrará. 29 Para sempre estabelecerei sua descendência; e seu trono, como os dias do céu.12 30 Se seus filhos abandonarem minha Lei e não mais desejarem seguir meus mandamentos, 31 se violarem minhas ordenanças e desdenharem dos meus santos decretos, 32 virei sobre eles com a vara das aflições e castigarei seu pecado e sua iniqüidade, com açoites; 33 contudo, não afastarei dele meu amor benevolente e jamais lhe negarei minha atenção pessoal e fiel. 34 Eu não violarei minha aliança, tampouco modificarei qualquer das promessas dos meus lábios. 35 De uma vez para toda a eternidade jurei por minha santidade, e não faltarei com a minha palavra a Davi: 36 sua descendência viverá para sempre, e seu trono estará diante da minha face e durará como o sol, 37 como a lua, que não cessa de refletir sua 24 92 iluminação, fiel testemunha nos céus!” (Pausa) 38 Entretanto, Tu o rejeitaste, recusaste-o e te enfureceste com o teu ungido.13 39 Renegaste a aliança com teu servo, profanaste sua coroa, atirando-a ao pó da terra. 40 Derrubaste todas as suas muralhas, desmantelaste suas fortalezas. 41 Saquearam-no todos os transeuntes, e ele tornou-se o ludíbrio dos vizinhos. 42 Exaltaste a destra dos seus adversários e alegraste todos os seus inimigos. 43 Tiraste o fio de sua espada e não o apoiaste na guerra. 44 Puseste fim a seu esplendor e derrubaste por terra seu trono. 45 Abreviaste os dias de sua juventude e o cobriste de vergonha. (Pausa) 46 Até quando, SENHOR? Para sempre te ocultarás, ardendo como fogo a tua ira? 47 Lembra-te da duração da minha vida! Criaste em vão todos os seres humanos? 48 Viverá, sem ver a morte, algum valente, que possa esquivar-se das garras da sepultura? (Pausa) 49 Onde estão teus dons de amor que tão maravilhosamente demonstraste outrora, ó Eterno, os quais prometeste a Davi manter por causa da tua fidedignidade? 50 Lembra-te, ó SENHOR, das ofensas que o teu servo tem sofrido, das zombarias que na alma tenho de suportar, desferidas por todos os povos, 51 dos ultrajes dos teus inimigos, ó Eterno, com que afrontam a cada passo o teu ungido.14 9 As fronteiras originais de Israel vão desde o Mediterrâneo, de um lado (“mão”), até o outro lado dos rios Eufrates e Tigre. Esses limites foram alcançados durante o reinado de Salomão, filho do rei Davi (72.8; 80.11; Êx 23.31). 10 Este é um fato extremamente marcante na vida de Jesus, e bênção legada exclusivamente a nós, cristãos. Ninguém no AT se referia a Deus como “Pai”. Entretanto, essas foram as primeiras e as últimas expressões de Jesus, em sua língua natal, o aramaico (Abba – Lc 2.49; Lc 23.46; Mc 14.36; Rm 8.15; Gl 4.6). 11 Na tradição israelita, o primogênito recebia uma parte dupla na divisão dos bens do patriarca da família (Dt 21.17), e exercia autoridade sobre todos os irmãos e sobrinhos (2Cr 21.3). Nos primórdios de Israel, o primogênito era também separado (santo) para ser dedicado ao sacerdócio (Nm 8.14-17). Mais tarde, entretanto, a tribo de Levi foi santificada para esse ministério. 12 Segue uma explicação sobre a aliança firmada por Deus com seu servo, o rei Davi (vv.29-37; 2Sm 7.12-17). 13 A presente rejeição do filho de Davi por Deus e todas as suas terríveis conseqüências desfazem tudo o que havia sido prometido e garantido pela aliança divina (vv.19-29). A esperança de Etã, o ezraíta, está na lealdade eterna do Senhor à sua aliança e, especialmente, à sua essência: a santidade. A expressão “ungido” se refere, em primeiro plano, aos reis da linhagem de Davi e, depois, a Jesus, o Messias – a maior e derradeira demonstração do cumprimento cabal da Aliança de Deus com a humanidade. 93 Bendito seja para toda a eternidade o SENHOR! Amém e amém! 52 QUARTO LIVRO Salmos 90 a 106 A brevidade da vida Oração de Moisés, homem de Deus.1 90 Senhor, tu tens sido o nosso abrigo, sempre, de geração em geração.2 2 Antes que se originassem os montes e formasses o universo e a terra, de eternidade a eternidade, tu és Deus. 3 Tu reduzes o ser humano ao pó, afirmando: “Retornai ao pó, filhos dos homens!”3 4 Verdadeiramente, mil anos aos teus olhos, são como o dia de ontem, que já passou, e como as poucas horas das primeiras vigílias da noite.4 5 Tu arrastas os homens na correnteza da vida; são breves como o sono; são todos como a relva que brota com a alvorada, 6 germina e floresce pela manhã, mas, ao pôr-do-sol, murcha e seca. 7 Porquanto somos consumidos por tua ira e perante tua indignação ficamos pasmos! 8 Tu conheces bem nossas iniqüidades; nossos pecados mais secretos não esca- SALMOS 89, 90 pam à luz da tua face. 9 Sim, todos os nossos dias dissipam-se diante do teu furor, findamos os anos como um suspiro. 10 De fato, os dias de nossa vida chegam a setenta anos, ou a oitenta para os que têm mais saúde; entretanto, a maior parte dos anos é de labuta e sofrimentos, porquanto a vida passa muito depressa, e nós voamos! 11 Quem é capaz de conhecer a força da tua ira e de tua cólera, segundo o temor que te é devido? 12 Sendo assim, ensina-nos, pois, a contar nossos dias, a fim de que possamos alcançar um coração verdadeiramente sábio!5 13 Volta-te para nós, ó Eterno! Até quando haveremos de esperar? Tem compaixão dos teus servos! 14 Sacia-nos, desde o romper da aurora, com teu amor infinito, e exultaremos de alegria, todos os nossos dias.6 15 Alegra-nos na proporção dos dias em que nos puniste, pelos anos em que passamos sob grande sofrimento. 16 Que as tuas realizações se manifestem aos teus servos, e a teus filhos, a tua maravilhosa glória! 17 Que a graça do Senhor, nosso Deus, pouse sobre nós; faze prosperar as obras 14 Apesar do ínfimo espaço de tempo da vida humana de Jesus na terra, da maligna e constante perseguição dos seus inimigos desde seu nascimento, o Senhor gerou inúmeros filhos e filhas para a eternidade, por meio do seu sacrifício voluntário e vicário, cumprindo, assim, toda a Lei e autenticando a Aliança (Ap 7.9). Capítulo 90 1 A expressão original hebraica “homem de Deus” era normalmente aplicada aos profetas do Senhor no AT (1Sm 2.27; Js 14.6). Nenhum outro salmo comunica de maneira tão clara e contundente o lamentável estado da humanidade diante do Criador, nosso santo e eterno Deus. Moisés assume a dor dos homens e honestamente reconhece nossa culpa. A ira e o afastar-se de Deus são perfeitamente justificáveis. Mas o Senhor incute fé no coração dos homens que descobrem o verdadeiro “amor reverente” a Deus (v.14). Os 40 anos de sofrida peregrinação no “imenso e pavoroso” deserto, rumo à terra prometida, produziu uma oração desta magnitude e profundidade (Dt 8.15; Nm 14.26-35). 2 Melhor é sofrer nos caminhos áridos da vida, mas na presença do Senhor, que no pseudoconforto e segurança do palácio de Faraó (Hb 11.24-25; Sl 71.3; 91.9). 3 O ser humano vive, desde a Queda (Gn 3.19), sob a sentença divina da morte: “Tu és pó e ao pó retornarás”. 4 Deus não está sujeito ao tempo, pois ele é eterno. A vida humana, entretanto, é comparada a uma espécie de relva palestina que surge promissora com o raiar do dia, porém murcha, sob o sol escaldante de Canaã e morre ao final da tarde, antes que se encerre a segunda vigília da noite (Jz 7.19; Mt 14.25). 5 Qualquer pessoa que não se preocupe em avaliar seus planos e atitudes ao longo da vida, nem com a fatal prestação de contas diante de Deus, quanto à forma como usou sem tempo na terra, é completamente insensata e carece urgentemente de Salvação (Gn 20.11; Sl 73.4-12; Mc 8.35-38). 6 A oração de Moisés intercede pelo povo na terra prometida (Êx 33.14; Dt 12.9). Contudo, a resposta plena e eterna vem com a ressurreição de Cristo, o Messias (Rm 5.2-5; 8.18; 2Co 4.16-18). SALMOS 90, 91 das nossas mãos; sim, confirma a obra das nossas mãos!7 Sob a eterna proteção de Deus Aquele que vive na habitação do Altíssimo e descansa à sombra do Todo-Poderoso desfrutará sempre da sua proteção.1 2 Sobre o Eterno declara: “Ele é meu refúgio e minha fortaleza, o meu Deus, em quem deposito toda a minha confiança”. 3 Ele te livrará do laço do inimigo ardiloso e da praga mortal.2 4 Ele te cobre com suas plumas, e debaixo de suas poderosas asas te refugias; sua fidelidade é escudo e armadura.3 5 Não temas o terror que campeia na calada da noite, tampouco a seta que procura seu alvo durante o dia. 6 Não temas a peste que se move sorrateira nas trevas, nem o demônio que devasta ao meio-dia.4 7 Ainda que caiam mil ao teu lado e dez mil à tua direita; tu não serás atingido. 8 Somente teus olhos perceberão e con- 91 94 templarão a retribuição destinada aos ímpios. 9 Porquanto afirmaste: “O SENHOR é o meu refúgio” e fizeste do Altíssimo a tua morada, 10 nenhum mal te alcançará, desgraça alguma chegará à tua tenda.5 11 Porque a seus anjos Ele dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos; 12 com as mãos eles te susterão, para que jamais tropeces em alguma pedra.6 13 Poderás pisar sobre o leão e a víbora; pisotearás o leão forte e a serpente mais vil.7 14 “Porquanto ele me ama, Eu o resgatarei; Eu o protegerei, pois este conhece o meu Nome.8 15 Sempre que chamar pelo meu Nome hei de responder-lhe; estarei sempre com ele; nos momentos mais difíceis, quando enfrentar tribulações, Eu o resgatarei e farei que seja devidamente honrado. 16 Eu o contemplarei com vida longa e lhe revelarei a minha Salvação”, assim 7 Por mais breves que sejamos, nossos esforços e obras podem ser abençoados com valor divino, quando depositamos nossa vida nas mãos de Deus (Sl 3.7; 27.4; 111.2-5). Capítulo 91 1 Testemunho entusiasmado sobre a segurança e a paz que todos aqueles que têm verdadeira fé no Senhor podem experimentar, ao longo de suas vidas. Salmo escrito por um sacerdote hebreu no período pós-exílico, com o objetivo de encorajar a comunidade dos fiéis. Esta tradução levou em conta os manuscritos da LXX (Septuaginta – a primeira e mais importante tradução do AT para o grego) e as mais recentes análises sobre os Rolos do Mar Morto – os conhecidos originais de Qunram, em cotejo com o Texto Massorético (TM). A habitação (tabernáculo) preferida de Deus é o coração dos seres humanos, a quem o Senhor promove à condição de filhos (Jo 1.12; 14.17; At 7.48; Rm 8.9; 1Co 3.16; 2Co 6.16; Ef 3.17; Cl 3.16; Ap 21.3). O templo foi um símbolo da proteção divina, onde os justos encontravam abrigo e segurança (Sl 23.6; 27.4,5; 31.20; 61.4; Gn 14.19; 17.1). Este versículo pode ser transliterado, a partir dos manuscritos em hebraico, da seguinte forma: Ioshev besséter elion, betsel Shadai yit’lonan. 2 Metáfora que representa o perigo iminente, armado pelo Diabo e por algum outro adversário desleal e oportunista (vv. 5,6; 124.7). Segundo os manuscritos descobertos em Qunram, o autor sugere que seus leitores expressem sua fé no Senhor assim como ele próprio tem feito. A expressão literal usada é “diz” (registrada no documento arqueológico 11 Q Os Apa ), em vez de “digo”, como aparece no Texto Massorético. 3 É impressionante comparar esta afirmação com a declaração de Jesus Cristo em Mt 23.37. 4 Deus protege seus filhos dia e noite, ininterruptamente, ainda que não o percebamos ou reconheçamos esse fato. Deus é Pai amoroso e onipotente (Mt 6.6,9; 7.11; 10.32; 11.27; 24.36; 28.19). A antiga expressão hebraica yāšûd que significa “assolador” ou “destruidor” foi melhor traduzida na LXX (Septuaginta) por wệšēd “e o demônio”. 5 Encontramos neste salmo várias referências aos acontecimentos da primeira Páscoa (Êx 12). A expressão “tenda” significa qualquer moradia simples e temporária, como o próprio corpo humano. 6 A promessa feita aos crentes piedosos de todos os tempos é perfeitamente aplicável a Jesus, o Filho de Deus. No NT (Mt 4.6-7), vemos a pessoa de Satanás, usando sua velha e insuperável técnica de torcer a verdade para atingir seus objetivos nefastos, separar parte deste versículo do contexto geral da fé bíblica, expressa claramente nos versos de 1 a 9. 7 Os perigos da peregrinação pelo deserto são uma metáfora da nossa própria caminhada ao longo da vida (Dt 8.15). 8 O grande alvo da vida é a compreensão de que Deus é Pai e, portanto, digno de todo amor e respeito. No Senhor está toda a nossa glória e vida eterna (Jo 17.3). O salmista usa uma forma de oráculo profético que apóia seu vigoroso testemunho e assegura que todas as promessas do Senhor serão plenamente cumpridas nas vidas de seus filhos (vv.14-16). 95 disse o Eterno!9 Hino sabático de gratidão a Deus Salmo melódico para ser entoado no dia do Shabbath.1 92 É muito bom exaltar ao SENHOR, ó Eterno, e entoar salmos em honra ao teu Nome, ó Altíssimo! 2 Proclamar desde o amanhecer o teu amor leal e durante a noite a tua fidelidade, 3 ao som da lira de dez cordas e da cítara, bem como da melodia com harpa. 4 Porquanto tu me alegras a alma, com os teus feitos; as obras das tuas mãos motivam-me a cantar jubiloso.2 5 Quão maravilhosas são as tuas obras, ó Eterno, e insondáveis os teus desígnios!3 6 O insensato fica sem entender nada, e o néscio não percebe o menor sentido. 7 Se os ímpios brotam como mato bravo, SALMOS 91, 92 e florescem todos os malfeitores, é para serem exterminados para sempre!4 8 Mas tu, ó SENHOR, eternamente és excelso. 9 Eis que teus inimigos, ó Eterno; sim, os teus adversários serão aniquilados; todos que praticam a malignidade serão dispersos! 10 Tu reergueste, como chifre de búfalo, a minha fronte; derramaste, sobre mim, óleo balsâmico e revigorante. 11 Os meus olhos contemplam a derrota dos meus inimigos; os meus ouvidos escutaram a debandada dos malfeitores que tramavam contra a minha vida. 12 Os justos florescerão como a palmeira, crescerão altaneiros como o cedro do Líbano; 13 plantados na Casa do SENHOR, florescerão nos átrios do nosso Deus.5 9 Teremos paz e satisfação completas quando chegarmos à compreensão de que as respostas de Deus nem sempre são concessões às nossas petições, mas sempre bênçãos ainda maiores. Paulo pediu cura, mas ganhou infinitamente mais: a presença do Espírito de Deus em sua vida diária; a poderosa graça de Deus que o levou a vencer todos os obstáculos do seu tempo e a completar com galhardia a missão que o Senhor lhe havia proposto (2Co 12.7-10). Portanto, é impossível que o mal vença o servo de Deus; as mais terríveis calamidades nada mais produzem do que encurtar a peregrinação do filho de Deus e aproximá-lo do seu galardão. Todas as dificuldades, na verdade, são bênçãos ocultas supervisionadas atentamente pelo próprio Senhor. Enxergando dessa forma, as perdas nos fazem ricos, as enfermidades nos tornam saudáveis de verdade, o desprezo das pessoas nos fazem experimentar ainda mais da graça e da glória do Pai, a morte nada mais é que a porta de entrada para o céu e a vida eterna. Capítulo 92 1 No relato da criação não existe a palavra “sábado” (em hebraico shabbãth), mas ocorre a raiz de onde deriva esse vocábulo: shãbhath (Gn 2.2). A obra da criação desenvolveu-se em seis dias (quer sejam períodos de vinte e quatro horas ou grandes eras) e, no sétimo dia, Deus “descansou” (literalmente em hebraico wayyinnãphash “cessou obra específica e tomou alento”), ou seja, separou (santificou) esse tempo como “período sabático”. A expressão “descansar” é antropomórfica, pois, evidentemente, Deus não precisa repousar como um ser humano extenuado depois de sua jornada de trabalho. Entretanto, o Senhor deixou um exemplo prático e uma orientação clara para que a humanidade dedicasse um dos dias da semana ao culto do seu Criador e Senhor. O sábado pertence primariamente a Deus e, em segundo lugar, destina-se descanso humano (Êx 20.8-11; 31.17). Na liturgia pós-exílica do templo, este salmo passou a ser entoado na hora do sacrifício matutino no sábado, sendo que em cada dia da semana se cantava um salmo diferente: Sl 24, no primeiro dia da semana; Sl 48, no segundo; Sl 82, no terceiro; Sl 94, no quarto; Sl 81, no quinto; Sl 93, no sexto dia. A idéia de cinco dias de trabalho nasceu na Babilônia com o nome de shabbatum, cujo sentido em nada se parecia com o “descanso” bíblico, mas apenas como um tempo destinado a outras atividades. Em seu conflito com os fariseus, nosso Senhor Jesus, o Messias (christos, em grego), enfatizou, perante os judeus, o fato de que eles entendiam muito mal os mandamentos do AT e procuravam tornar a observância do sábado mais rigorosa do que o próprio Deus havia estabelecido, posto que não era errado debulhar os grãos da espiga com as mãos, tampouco, obrigatório deixar de fazê-lo no dia de sábado. Afinal, o Senhor do sábado é misericordioso. No primeiro dia da semana foi que o Senhor Jesus ressuscitou dentre os mortos, e nele os cristãos (o Corpo de Cristo – a Igreja) começaram a se reunir, a fim de prestarem culto ao Cristo ressurreto. Esse é o Dia do Senhor e, como tal, é o sábado que Deus instituiu desde a Criação. Os mandamentos referentes ao sábado nunca foram anulados e as bênçãos decorrentes da sua correta observação (culto sincero e dedicado ao Senhor) têm implicações atuais e futuras (escatológicas). 2 Louvar e adorar a Deus com cânticos e poemas (salmos) não é somente uma questão de gosto ou talento musical: tem a ver com os mais profundos sentimentos de gratidão e comunhão com o Espírito do Senhor (vv.1-4; 10-11). 3 É impossível ao ser humano compreender os pensamentos de Deus e a lógica divina, por isso é necessário ter fé para obedecer (Is 40.28; Sl 49.10; 94.8-11; Rm 11.33-36). 4 As Escrituras se referem ao mato e às ervas daninhas como símbolo do mal que hoje aparece, mas que amanhã não existirá mais (Is 40.6-8), são passageiros tal como o próprio mundo (1Jo 2.17). Este versículo apresenta um resumo do que é exposto com mais detalhe nos Sl 73 e 90.4-6. SALMOS 92–94 Mesmo na velhice, cheios de seiva e viço produzirão muitos frutos, 15 para proclamar que o SENHOR é justo. Ele é a minha Rocha; nele não há injustiça! 14 Louvor à majestade do Senhor Reina o Eterno, vestido de soberana majestade; sim, toda a força e poder o revestem! O Universo está seguro e não se abalará.1 2 Desde a antigüidade, o teu trono está firme: tu existes desde a eternidade! 3 Levantam os rios, ó SENHOR, levantam a voz de suas águas fragorosas; levantam os rios o seu bramido. 4 Entretanto, o SENHOR nas alturas é mais poderoso do que a força das grandes águas, do que os poderosos vagalhões do mar.2 5 Os teus mandamentos permanecem inalterados, e a tua fidelidade dura para sempre; a santidade é o ornamento eterno da tua Casa.3 93 Apelo à justiça divina Ó Eterno, SENHOR da vindicação, Deus vingador, manifesta-te! 2 Levanta-te, Juiz da terra, paga aos so- 94 96 berbos o que merecem!1 3 Até quando, Ó Eterno? Até quando os ímpios triunfarão? 4 Proferem palavras de afronta, todos esses malfeitores cheios de arrogância e empáfia 5 esmagam teu povo, SENHOR, e oprimem tua herança; 6 matam a viúva e o migrante, e trucidam os órfãos.2 7 E comentam: “Deus nada vê, não se atém aos detalhes da terra, o Deus de Jacó”. 8 Atendei vós, os mais néscios do povo! Insensatos, quando compreendereis? 9 É possível que quem criou o ouvido não possa ouvir? Será que quem formou os olhos nada veja? 10 Aquele que disciplina as nações os deixará sem a devida retribuição punitiva? Não tem conhecimento Aquele que concede ao ser humano o saber?3 11 O SENHOR conhece muito bem todos os pensamentos humanos, e sabe o quanto são fúteis! 12 Bem-aventurada a pessoa a quem disciplinas, ó Eterno, aquele a quem ensinas a tua Lei; 13 calmamente atravessará os dias maus, 5 Apesar de os ímpios brotarem como erva ruim ou mato bravo, sua destruição é certeira e iminente. Entretanto, os justos (justificados pelo Senhor) estão plantados em terreno fértil e seguro (v.7; Sl 91). Por essa razão, o vigor da sua juventude ainda continua durante a velhice, e se regozija nas bênçãos espirituais da casa do Altíssimo (v.15; 2Rs 21.5; 23.11,12; Sl 84.2,10). Capítulo 93 1 Este é um dos muitos salmos compostos na era pré-exílica (Sl 93 – 100) com o objetivo de exaltar o poder e a majestade de Deus sobre toda a ordem cósmica e, particularmente, em relação a Israel, seu povo escolhido na terra. Anualmente este hino era entoado por toda a congregação no período das grandes festas e celebrações ao Senhor (Sl 47; 94; 95.3). A expressão “Reina o Eterno” é a verdade suprema e a primeira declaração do credo judaico. Este versículo pode ser assim transliterado, a partir do original hebraico: Adonai malách, gueút lavesh, lavesh Adonai, oz hit´azar, af ticon tevel bal timot (Sl 96.10; 97.1; 99.1; Zc 14.9). 2 Os terríveis trovões e relâmpagos das eras caóticas e primevas são como sussurros da natureza, quando comparados à força e ao poder da Palavra de Deus (v.2,3; 104.7-9). As trevas e o caos foram perfeitamente dominados e organizados ao som da voz criadora do Senhor (Gn 1.6-10; Jó 38.8-11; Sl 33.7). Nada poderá se opor à vontade de Deus e ao cumprimento da sua Palavra (65.6,7; 74.13,14). A metáfora das “águas” e “rios” pode ser aplicada também aos três grandes impérios situados às margens de importantes e caudalosos rios da época: Egito, Assíria e Babilônia, os quais se levantaram contra a nação escolhida de Deus e quase a inundaram com seus exércitos e dominação. Contudo, o Senhor os venceu, e assim será, definitivamente, no futuro escatológico. 3 Deus tem o controle absoluto da História e, soberanamente, mantém a ordem do Universo segundo sua vontade, assim como oferece, a seu povo, diretrizes seguras, estáveis e fiéis (19.7; 95.8-11), que devem ser obedecidas pelos de sua Casa (o templo terrestre e também a família dos fiéis que o freqüentam). Capítulo 94 1 Este salmo é a voz dos oprimidos clamando ao Senhor e Juiz da terra para que exerça seu justo poder e correção sobre todas as injustiças cometidas contra os indefesos, por homens arrogantes e impiedosos que ocupam cargos de grande prestígio e poder. Essa característica reivindicatória popular faz deste hino uma peça literária única na coletânea dos salmos 92 a 100. 2 A viúva, o estrangeiro e os órfãos, representam as três classes que no Oriente sempre passaram por grandes necessidades de amparo material e emocional, pois não podiam contar com a presença de parentes que lhes oferecessem proteção ou que os “vingassem” (pleiteassem por justiça). A Lei de Deus exige justiça com compaixão e lealdade (Tg 1.27). 3 O Senhor faz séria advertência aos ímpios, arrogantes, presunçosos e, portanto, insensatos (92.6-9), porquanto castiga todos 97 enquanto que, para os ímpios, uma fossa se abrirá! 14 O SENHOR jamais desamparará seu povo; nunca abandonará sua herança. 15 Voltará a haver justiça nos veredictos, e todos os retos de coração a seguirão. 16 Quem se levantará a meu favor contra os ímpios? Quem permanecerá ao meu lado combatendo os malfeitores?4 17 Não fosse o socorro do SENHOR, eu já estaria habitando na região do silêncio. 18 Quando declarei: “Os meus pés vacilaram”, teu amor leal, SENHOR, me amparou! 19 Quando a angústia já controlava todo o meu ser, teu consolo trouxe tranqüilidade à minha alma.5 20 Será, um governo corrupto, capaz de fazer aliança contigo? Um trono que pratica injustiças em nome da lei?6 21 Eles, contudo, tramam contra a vida do justo e condenam os inocentes à morte! 22 Entretanto, o SENHOR é meu baluarte e meu Deus, a torre inexpugnável em que me refugio. 23 O Eterno fará recair sobre os ímpios a própria iniqüidade deles e serão con- SALMOS 94, 95 sumidos por seus pecados; o Senhor, o nosso Deus, os destruirá! Convite a cantar louvores a Deus Vinde, cantemos com júbilo ao SENHOR, aclamemos a Rocha da nossa Salvação! 2 Apresentemo-nos diante dele com ações de graças, vamos adorá-lo com cânticos de louvor.1 3 Pois o SENHOR é o grande Deus, o magnífico Rei acima de todos os deuses!2 4 Em suas mãos estão as profundezas da terra; são seus, os cumes dos montes. 5 Dele é o mar – foi Ele quem o criou – e a terra firme, que suas mãos formaram. 6 Vinde! Adoremos prostrados e nos ajoelhemos perante o SENHOR, o nosso Criador. 7 Porque Ele é o nosso Deus, nós somos o povo do seu pastoreio e ovelhas conduzidas por sua mão. Tomara que escuteis hoje a sua voz:3 8 “Não endureçais o vosso coração, como em Meribá, e ainda como aquele dia em Massá, no deserto,4 9 quando vossos pais me desafiaram e me puseram à prova, embora tivessem visto 95 quantos se afastam de seus princípios eternos (Lv 26.18; Jr 31.18; Is 28.26). O Senhor (o Cristo) conhece perfeitamente nossos mais íntimos desejos e motivações (v.11; Jo 2.25). 4 Deus é o nosso único tribunal de recursos perfeitamente sensível, leal e justo. O salmista demonstra sua confiança na justiça divina que se revelará absoluta, no fim. Sob essa perspectiva, agora pode aspirar à vindicação imediata do Senhor, para suas causas presentes, pode suplicar por um sinal da presença e aquiescência de Deus. A resposta surge no v.17 (o livramento da morte física naquele momento), e no v.18 (sustento da plena confiança do crente em meio às tribulações). 5 A expressão “meu ser” ou “íntimo” está registrada neste versículo, literalmente, como “alma” (Sl 6.3). 6 Aqui, além de o salmista se referir aos governos corruptos e iníquos do seu tempo, há uma conotação escatológica, quando o centro de autoridade mundial será totalmente dominado pelo Maligno e se voltará contra os crentes (Ef 2.1,2). Um dos grandes instrumentos da maldade tem sido o suborno. O pecado também faz da Lei de Deus um pretexto para condenar o ser humano culpado (Rm 7.8-13). Capítulo 95 1 O sacrifício que Deus realmente deseja e aceita é a expressão de verdadeiro agradecimento do coração humano, diante do amor e da salvação que vem do Senhor. 2 Desde a antigüidade, todos os povos pagãos têm o hábito de acreditar em vários deuses e entidades divinas, um para cada parte, das regiões cósmicas da terra, e dos aspectos da vida humana. Israel foi o único povo que sempre foi ensinado a depositar toda a sua fé em Yahweh (o nome hebraico e impronunciável, do Senhor). O fato de o Deus de Israel cuidar de cada detalhe do Universo, da vida de cada ser humano e de realizar grandes maravilhas, deixava todos os demais povos perplexos. 3 Os reis israelenses eram chamados de “pastores” do seu povo, e seus domínios, de “seu pastoreio” (23.1; 100.3; Jr 23.1; 25.36; 49.20; 50.45; Ez 34.20-23). Os sacerdotes e os levitas ensinavam o povo a “ouvir a voz de Deus” durante a liturgia das festas e cerimônias religiosas no templo. O ápice do culto a Deus é ouvir e compreender sua Palavra, com humildade, fé e obediência (Sl 50 e 78). 4 O ministro do louvor conduz a congregação a uma profunda reflexão sobre a época de sua rebelião no deserto do Sinai, apesar dos grandes sinais e feitos do Senhor (Êx 17.7; Nm 20.13). Este versículo pode ser transliterado, a partir do original hebraico, desta forma: Al tac’shú levavchem kimrivá, keiom massa bamidbar. A expressão “Massá” quer dizer “lugar de provação” ou “tempo de teste”. SALMOS 95–97 meus grandes feitos!5 10 Durante quarenta anos permaneci irado contra aquela geração e declarei: ‘Este é um povo de coração ingrato, que não reconhece meus caminhos’. 11 Por esse motivo jurei em minha revolta: ‘Essas pessoas jamais entrarão no lugar do meu repouso!’”6 Tributo à majestade do Senhor 1 Cr 16.23-33 96 Erguei ao Eterno um cântico novo! Cantai ao SENHOR a terra inteira!1 2 Cantai ao SENHOR, bendizei seu Nome; dia após dia, anunciai a sua salvação! 3 Proclamai sua glória entre as nações, entre todos os povos as suas realizações maravilhosas! 4 Pois o SENHOR é magnífico, digno de todo o louvor; Ele inspira mais temor que todos os deuses juntos! 5 Todos os deuses dos pagãos não passam de objetos feitos ídolos, mas o SENHOR criou os céus.2 6 Majestade e magnificência estão diante dele, poder e dignidade no seu santuário. 98 Famílias de povos, tributai ao SENHOR, rendei ao SENHOR glória e poder, 8 Dedicai ao SENHOR a glória do seu Nome! Trazei sua devida oferta, entrai em seus átrios, 9 prostrai-vos diante do SENHOR no esplendor da sua santidade! Tremei diante dele, terra inteira!3 10 Anunciai entre as nações: “O SENHOR é rei. Sim, o mundo está firme e não será abalado; Ele julgará os povos com retidão!”4 11 Alegrem-se os céus e exulte a terra, estronde o mar e tudo o que ele contém! 12 Esteja em festa a campina, e tudo quanto nela existe! Regozijem-se todas as árvores da floresta, 13 cantem diante do SENHOR, porque Ele vem. Sim, Ele vem julgar a terra; Ele governará o mundo com justiça e os povos com a sua fidelidade!5 7 Louvor à soberania do Senhor O SENHOR reina! Exulte a terra toda, e alegrem-se até as pequenas ilhas mais distantes!1 2 Nuvens inescrutáveis e espessas o cir- 97 5 Os profetas, sacerdotes e representantes oficiais do Senhor tinham permissão para proferir certas ordens espirituais, usando a primeira pessoa do singular (Gn 16.7; Sl 50.5-15). Deus realizou maravilhas no Egito e no mar Vermelho, e supriu todas as necessidades do seu povo no deserto (Êx 16; Nm 14.11-24). A principal afronta contra o Senhor ocorreu quando Israel se negou a conquistar a terra prometida em o Nome de Deus e, pior, desejou retornar à vida de escravidão no Egito. Então o povo foi condenado a vaguear pelo deserto por 40 anos, até que toda aquela geração de adultos, que foram libertos do Egito, perecesse (Nm 14.1-34; 32.13). 6 O “descanso do Senhor” é um conceito dinâmico e está ligado ao “Shabbath Shalom perpétuo de Deus”. A terra (Nm 14.30) se refere à Canaã, a terra da Aliança, a herança prometida aos descendentes físicos de Abraão (que haverá de se cumprir plenamente na história). Mas também é uma profecia para todos os crentes, em relação à vida eterna nos céus (Hb 11.8; Rm 4.13-25). Capítulo 96 1 Este salmo foi entoado pelo povo de Israel, quando Davi trouxe a Arca de Deus para o templo. É um hino de proclamação da glória universal do Senhor. Uma convocação para todas as nações se humilharem diante da majestade do Eterno (em hebraico Adonai) e o adorarem como único Deus. Temos aqui uma palavra profética sobre a missão da Igreja no NT (Mt 28.16-20), como povo santo: o Israel de Deus (Sl 93; 95 a 100). 2 O motivo central pelo qual todo ser humano deve louvar a Deus é porque somente ele é Deus (Sl 115; Gn 20.11). O Senhor é o próprio criador de todo o âmbito celestial, que do ponto de vista humano (de todos os tempos e raças) sempre foi a morada dos deuses (Sl 97.7). Os ídolos não têm, de fato, poder algum, nem há realidade nas divindades que representam; quanto a Deus, porém, os próprios céus proclamam a sua glória (v.6). 3 A radiante beleza de Deus é também sua qualidade mais sublime: a santidade. O profeta Isaías contemplou esse esplendor tremendo do Senhor, e proclamou ao mundo: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos” (Is 6.3). Todos devemos a Deus um contínuo e reverente respeito (temor). 4 As nações perdem muito em não aceitar a direção de Deus para suas políticas sociais e econômicas; por isso há um estado permanente e crescente de injustiça, miséria e conflitos minando as virtudes concedidas à raça humana. 5 Uma palavra profética quanto à vinda do Messias (o Cristo, em grego), com seu reino de justiça e retidão, conforme a profecia de Isaías 11.1-9. Tudo de que o homem precisa é confessar seus erros e injustiças (pecados), e o Senhor está pronto (pelo amor leal de Deus) a perdoá-lo e oferecer-lhe nova e eterna vida (1Jo 1.9). Capítulo 97 1 A soberania e a justiça de Deus – o Criador e Rei do Universo – são proclamadas por toda a terra, até as mais longínquas regiões costeiras (Sl 96.1; 99.1; 117.1; 1Rs 9.26-28; 10.22; Is 60.9; Jn 1.3). 99 cundam, retidão e justiça são o alicerce do seu trono. 3 Diante dele alastra-se o fogo, devorando ao redor seus adversários. 4 Os relâmpagos clarearam o mundo, a terra viu-o e estremeceu. 5 Como cera derreteram-se os montes, diante do Eterno, perante o SENHOR de toda a terra! 6 Os céus proclamam a sua justiça e todos os povos vêem a sua glória.2 7 Sejam decepcionados todos os adoradores de objetos, que se vangloriam de seus ídolos! Prostrai-vos diante do SENHOR, todos os poderosos!3 8 Sião ouve e se rejubila, exultam as filhas de Judá por causa dos teus julgamentos, SENHOR. 9 Pois tu, ó Eterno, o Altíssimo sobre todo o universo, de todos os deuses és o mais excelso. 10 Vós, que amais o SENHOR, odiai o mal! Ele protege as almas de seus fiéis, livrando-os da mão dos ímpios.4 11 A luz amanhece para o justo e, para os corações retos, o júbilo.5 12 Alegrai-vos, justos, no SENHOR, e exaltai, lembrando sua santidade! SALMOS 97, 98 Jeová, o Rei Salvador Salmo. 98 Cantai ao SENHOR um cântico novo, pois Ele tem realizado maravilhas; sua mão direita e seu santo braço forte lhe deram a vitória!1 2 O SENHOR manifestou a sua Salvação; aos olhos das nações revelou sua justiça. 3 Recordou-se do seu amor e da sua fidelidade pela casa de Israel. Todos os confins da terra contemplaram a Salvação do nosso Deus.2 4 Aclamai o SENHOR, terra inteira! Louvem-no com cânticos de júbilo e ao som de música! 5 Oferecei música ao SENHOR por meio da harpa, com a cítara e a voz do canto! 6 Com trombetas e ao som da trompa exultai na presença do SENHOR, que é o Rei! 7 Ruja o mar e tudo o que ele contém, o mundo e todos os seus habitantes! 8 Com palmas se manifestam os rios, e o cantar dos montes ressoa em uníssono, 9 para aclamar o Eterno que vem julgar toda a terra. Sim, Ele julgará o Universo com justiça e os povos com eqüidade!3 Louvor à santidade do Senhor 2 A ordem estável da imensidão cósmica declara e confirma que a sabedoria e a soberania de Deus sustentam, de modo semelhante, a ordem moral do Universo (Sl 19.1-6; 96.10). Os versos 2 a 6 testemunham a revelação geral da glória do Senhor. 3 Versículo central, e o contraponto deste salmo, revelam os efeitos que a soberania de Deus (v.9) tem sobre a raça humana: todo tipo de idolatria, superstição e paganismo se demonstram práticas vãs, ilusórias e ofensivas a Deus (v.7). Entretanto, o povo de Deus é jubilosa e justamente vingado (v.8). O salmo conclama todos os poderosos dos céus e da terra a se dobrarem em humilde adoração ao Senhor (Sl 29.1). 4 Quanto maior e mais dedicado nosso amor ao Senhor, tanto maior e mais radical será nossa aversão a tudo quanto estiver relacionado ao Maligno e suas obras. Somente aqueles que odeiam o mal e a injustiça têm prazer no justo governo e se alegram com a verdade. A ameaça dos pagãos entre o povo de Deus sempre acarretou perigo mortal aos fiéis (Sl 139.21-22). 5 A expressão usada no texto hebraico massorético transliterada em Or zarúa latsadic, uleyishrê lev simchá, é aqui traduzida como “amanhece”. Literalmente, significa “semear”. O sentido, porém, é que Deus está “semeando” seus poderosos raios de luz, com o objetivo de iluminar os passos de seus filhos. A sabedoria e a iluminação rompem todas as manhãs para os crentes fiéis no Senhor. Esse é o significado que aparece igualmente na Septuaginta e em alguns manuscritos antigos (Jo 1.12; 1Jo 1.7). Capítulo 98 1 O salmista convida o povo de Deus para celebrar com música e louvores o governo justo e universal do Senhor (Sl 9.1; 33.3). A congregação dos crentes é estimulada a expressar, com alegria, sua gratidão pelas muitas bênçãos recebidas das mãos do Altíssimo. O louvor tem início no templo, influencia todos os povos da terra e atinge toda a natureza e o planeta (Sl 93; 95; 96). 2 O próprio Senhor é nosso maior exemplo de missionário, evangelista e pastor (Sl 46.10; Is 52.10). Os atos salvíficos de Yahweh (Jeová é o nome hebraico e impronunciável de Deus) revelam, com toda clareza seu amor e sua justiça (Sl 4.1; 71.24). A expressão hebraica original para “amor” significa “amor-e-fidelidade”, e isso nos ajuda a entender o conceito de “Aliança” firmado por Deus com seu povo (Sl 3.7; 6.4; 36.5). 3 Este salmo é uma grande sinfonia que, iniciada por Deus numa pequena reunião de crentes, espalha-se pela vizinhança, conquista outros povos e culturas, atinge todo o planeta e a natureza, e prossegue vigorosa, num ministério crescente de evangelização até o gran finale: O Dia do Julgamento. SALMOS 99–101 99 100 O SENHOR reina! As nações tremem! O seu trono está sobre os querubins! Estremeça toda a terra!1 2 O Eterno é magnífico em Sião, excelso sobre todos os povos.2 3 Celebrem eles o teu Nome, que é grande e inspira reverente adoração, pois é Santo! 4 É Rei poderoso, que ama a justiça: Tu estabeleceste a retidão; o direito e a eqüidade em Jacó, tu pessoalmente os instruíste! 5 Exaltai o SENHOR, o nosso Deus, prostrai-vos diante do estrado dos seus pés. Ele é Santo!3 6 Moisés e Arão estavam entre os seus sacerdotes; Samuel, entre os que invocavam seu Nome; eles clamavam pelo SENHOR, e Ele lhes respondia. 7 Da coluna de nuvem, lhes falava, e o povo obedecia a seus decretos e à Lei que lhes dera.4 8 SENHOR, nosso Deus, tu lhes respondias, demonstrando ser Deus perdoador, ainda que os tenhas disciplinado, por causa de suas rebeliões.5 9 Exaltai o SENHOR, o nosso Deus; prostrai-vos voltados em direção ao seu san- to monte, porquanto o Eterno, o nosso Deus, é Santo! Vinde todos e louvai ao Senhor Um salmo para ações de graças. 100 Aclamai com júbilo ao SENHOR, todos os habitantes da terra!1 2 Rendei culto ao SENHOR com alegria, vinde à sua presença com cânticos de louvor. 3 Reconhecei que o SENHOR é Deus! Ele nos fez, e somos seus: seu povo e rebanho de seu pastoreio. 4 Entrai por suas portas com ações de graças e em seus átrios com hinos de adoração; exaltai-o e bendizei o seu Nome! 5 Porquanto o SENHOR é bom e seu amor leal dura para sempre; sua fidelidade acompanha todas as gerações.2 Modelo do governante ideal Um salmo de Davi.1 101 Quero cantar a misericórdia e a justiça, entoar um hino de louvor a ti, ó SENHOR! 2 Quero instruir-me no caminho da per- 1 Hino de aclamação a Deus como o grande Santo e Rei de Sião (o povo de Deus). O Senhor é entronizado em Sião e soberano sobre todas as nações da terra. Bem-aventurados todos aqueles que já reconhecem esse fato; um dia todos os povos proclamarão que o Senhor é Deus e Rei absoluto do Universo (Sl 93.1). Uma representação de querubins folheados a ouro ficava sobre a tampa da Arca, no santo dos santos, o santuário mais interior do templo, onde resplandecia a glória da presença de Deus (Sl 80.1; Êx 25.18). 2 Deus é louvado e engrandecido em todos os lugares onde crentes sinceros se reúnem para adorá-lo, assim como fora em Sião nos dias deste salmo. 3 O “estrado dos seus pés” é o escabelo régio de Deus (2Cr 9.18), e simboliza a ligação entre o trono celestial e o terrestre. Quando o Senhor está assentado em seu trono nos céus, seu trono na terra se transforma, metaforicamente, em simples estrado para apoio dos seus pés; neste salmo, “seu santo monte” (v.9; 132.7; 1Cr 28.2; Lm 2.1). 4 Durante a jornada do êxodo do Egito e na terra prometida, o Senhor providenciou intermediários sacerdotais a fim de receber e ministrar a Israel as instruções que todos deveriam seguir, a fim de, guardando a Palavra, não fraquejarem na fé (v.6; Êx 17.11; 32.11-32; Nm 14.13-19; 21.7; 1Sm 7.5-9; 12.19,23; Jr 15.1). Moisés, Arão e Samuel representam a Lei, o Sacerdócio e a Profecia, que somente na pessoa e obra de Jesus Cristo formam uma unidade perfeita. 5 Deus corrige e castiga seus filhos sempre que necessário, mas jamais quebra suas promessas eternas (Sl 89.30-33). Capítulo 100 1 Convocação geral para que todos os povos da terra reúnam-se em torno do Espírito do Senhor para adorá-lo e servi-lo com gratidão e muita alegria em seus corações (Sl 93, 95 e 117). Os crentes devem vir para o culto público não apenas para receber, mas dispostos a fazer suas ofertas com alegria e generosidade (Sl 75.1; Lv 7.12). Tradicionalmente, este hino acompanhava os atos de ação de graça e ofertas no templo. 2 O salmista dá um exemplo claro de como devemos oferecer nosso culto ao Senhor: com júbilo, alegria e cânticos espirituais (vv.1-3); com um coração agradecido a Deus, mesmo sob provações, pois Deus é Amor (Sl 6.4). A expressão “O Nome” nas Escrituras é uma indicação da presença divina (v.4,5; Sl 24.7; 84.2,10; 95.6,7; 2Rs 21.5; 23,11,12). Capítulo 101 1 Vários biblistas e renomados historiadores acreditam que Davi tenha escrito este salmo, especialmente para a celebração de posse do rei Salomão, seu filho que assumia o compromisso de governar seu povo com sabedoria celestial: retidão, amor sincero e eqüidade (1Rs 2.2-4; 3.3-9; Sl 72). Contudo, somente Jesus Cristo, o Filho de Deus e descendente exemplar de Davi, tem cumprido perfeitamente esse compromisso majestoso, ao longo da história (Sl 6.4; 99.4). 101 feição: Quando virás ao meu encontro? Quero proceder com coração íntegro dentro de minha casa.2 3 Não colocarei diante dos meus olhos nada que seja pernicioso. Detesto a conduta dos infiéis; tais atitudes jamais me conquistarão!3 4 Longe de mim os perversos de coração; não me deixarei envolver pelo mal.4 5 A quem difama os outros às ocultas, eu o farei calar! Assim como outros altivos de coração e arrogantes não suportarei. 6 Os meus olhos se agradam dos fiéis da terra, e essas pessoas habitarão comigo. Somente quem se dedica a viver com integridade me servirá! 7 Quem pratica obras fraudulentas não viverá no meu santuário; o mentiroso não habitará na minha presença! 8 Manhã após manhã destruirei os ímpios da terra, para livrar de todos os malévolos, a cidade do Eterno!5 Arrependimento e esperança Súplicas de um aflito à beira do desespero, derramando seu lamento diante do SENHOR. SALMOS 101, 102 102 Ó SENHOR, ouve a minha oração! Chegue a ti o meu pedido de socorro!1 2 Não escondas de mim a tua face, no dia de minha angústia! Inclina para mim os teus ouvidos! Responde ao meu clamor com urgência! 3 Pois meus dias esvaíram-se como fumaça; os ossos ardem como braseiro; 4 meu coração está ressequido como erva cortada; até me esqueço de comer meu pão.2 5 Meus gemidos são tão veementes, que meus músculos aderem aos ossos. 6 Sou como a gralha da estepe, como a coruja das ruínas.3 7 Fico insone: tornei-me qual pássaro solitário no telhado. 8 Todo dia meus inimigos me ultrajam; furiosos, contra mim praguejam. 9 Pois alimento-me de cinza, como se fosse pão; e lágrimas misturo à minha bebida.4 10 Por causa da tua indignação e da tua ira, tu me ergueste e me arrojaste ao chão. 11 Meus dias são como a sombra que se alonga, estou secando como a erva. 12 Mas, tu, ó Eterno, estás entronizado 2 O rei implora que Deus venha ajudá-lo a cumprir seu mandato, com integridade. Quanta diferença benéfica haveria no mundo, se os governantes e líderes em geral meditassem profundamente sobre essa atitude de sabedoria (Gn 17.1; 1Rs 3.7-9; Sl 4.7; 72). 3 Este versículo pode ser transliterado, a partir do original hebraico, desta maneira: Lo ashit lenégued enai devar beliial, asso setim sanêti, lo yidbac bi. Literalmente: “Não pousarei meus olhos sobre qualquer ação perversa; atos desonestos abomino e deles não participarei” (Sl 119.37; Jz 14.1,2; 2Sm 11.2; 2Rs 16.10; Jó 31.1; Pv 4.25; 17.24; Nm 15.39; Jó 31.7; Pv 21.4; Ec 2.10; Jr 22.17). A palavra hebraica aqui traduzida por “pernicioso” (qualquer ato que tenha parte com o “mal”) é, curiosamente, igual ao nome Belial (v.4; Dt 13.13; 2Co 6.15). 4 O rei Davi, apesar de suas fraquezas humanas, buscou – de todo o coração – santificar-se ao Senhor. Um coração perverso e uma língua mentirosa são, conforme a tradição sapiencial bíblico-hebraica, a raiz e o fruto (18.26; Pv 17.20; 11.20; 18.19; 19.1; 28.6). A soberba é o âmago do pecado, fazendo o ser humano adorar a si mesmo (v.5). 5 Era costume os reis julgarem as causas do povo, ao romper da aurora. A prática enérgica dos princípios divinos – manhã após manhã, dia a dia – ensina os discípulos de Deus, até que a Cidade Santa se torne uma antecâmara dos Céus (Is 50.4). Capítulo 102 1 Considerando a estreita relação que sempre houve entre o que acontecia com o rei e o destino da nação de Israel, e por causa do tema comum aos salmos régios, conclui-se que esta é uma oração de um rei davídico, ou membro da linhagem e casa real de Davi, durante o exílio na Babilônia (vv.1,17; 61.2; 77.3; 142.3; 143.4 conforme 107.5; Jn 2.7). A expressão “lamento”, que aparece na epígrafe (que nos originais hebraicos se constitui no primeiro versículo), é traduzida também por “queixa” ou “aflição” (64.1; 142.2; Jó 7.13; 9.27; 10.1; 21.4). 2 A erva carpida logo se abate e seca por não receber mais a seiva da vida. Aqui, as expressões “coração” e “ossos” (v.3) são usadas poeticamente para refletir o ser humano como um todo; na visão hebraica, corpo e espírito (22.14; Pv 14.30; 15.30; Is 66.14; Jr 20.9; 23.9; Sl 121.6-8; 90.4-6). 3 Duas palavras diferentes são usadas no original hebraico para se referir a “aves de mau agouro que vivem no deserto” (Lv 11.16-18; Jr 50.39; Sf 2.14). A coruja era associada às áreas desérticas e às ruínas (Is 34.11,15). O salmista sente-se como um pardal solitário, sem amigos e alvo dos ardis e ataques de inimigos cruéis. 4 Na profunda angústia e depressão, o prato mais saboroso não tem melhor paladar que a cinza. SALMOS 102, 103 102 para sempre e serás lembrado, de geração em geração.5 13 Tu te erguerás e terás misericórdia de Sião, porque já é tempo de teres piedade; sim, o momento chegou. 14 Pois teus servos amam até as pedras de suas cidades destruídas e a poeira de seus caminhos arruinados.6 15 As nações temerão o Nome do Eterno, e todos os reis da terra, tua glória, 16 quando o SENHOR reconstruir Sião e aparecer em sua glória,7 17 quando se voltar para a oração dos espoliados e deixar de rejeitar sua prece. 18 Que isso seja escrito para a geração futura, para que um povo, que ainda será criado, louve o SENHOR, declarando: 19 “O SENHOR se debruçou do alto do seu santuário, lá nos céus, e olhou para a terra, 20 para ouvir o gemido dos cativos e libertar os condenados à morte, 21 para que em Sião se proclame o Nome do SENHOR e seu louvor, em Jerusalém, 22 quando se reunirem povos e reinos para servir ao SENHOR”! 23 Ele reduziu minhas forças em pleno caminho, abreviou meus dias. 24 “Meu Deus – disse eu - não me arrebates na metade dos meus dias, Tu, cujos anos duram por gerações!” 25 Outrora fundaste a terra, e os céus são obra de tuas mãos. 26 Eles perecerão, mas tu permaneces; to- dos eles se desgastarão como um manto; Tu, como a roupa, os trocarás, e serão abandonados.8 27 Tu, porém, és o que és, e teus anos não têm fim. 28 Os filhos de teus servos se estabelecerão, e seus descendentes se manterão diante de ti! Hino à suprema graça de Deus Um salmo davídico. 103 Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e todas as minhas entranhas, seu santo Nome!1 2 Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum dos seus benefícios! 3 É Ele quem perdoa todos os teus pecados e cura todas as tuas enfermidades. 4 Ele resgata da sepultura a tua vida e te coroa de amor e misericórdia. 5 Ele sacia de bens a tua existência, de maneira que a tua juventude se renova como o vigor de uma águia.2 6 O Eterno realiza atos de justiça e de direito, em favor de todos os oprimidos. 7 Ele revelou seus caminhos a Moisés e, aos israelitas, seus feitos maravilhosos. 8 O SENHOR é misericordioso e clemente, lento para a cólera, mas paciente e generoso em seu amor.3 5 Porque Deus é uma pessoa indestrutível, que reina para sempre com absoluto poder (tema da coletânea Sl 92 – 100), suas misericórdias não falharão jamais, especialmente para os que nele depositam fé sincera para a salvação (v.27; 30.4 de acordo com os salmos 111; 135; 145). 6 Sião (Jerusalém), a Cidade Santa, é muito amada pelos servos de Deus e, mais ainda, pelo próprio Senhor. O salmista sofre por causa do exílio na Babilônia (586 a.C.), mas sabe que já é hora de a profecia do juízo e da libertação se cumprir (3.7; 46.4; 48.1-8; 75.2; 87.3; 101.8;132.13; Êx 9.5; 2Sm 24.15; Dn 11.27,35; ). Exercer fé no amor e na soberania de Deus é o melhor remédio para todos os momentos de crise e tristeza. 7 Esta esperança profética encontra sua expressão mais plena na vinda da “Nova Jerusalém” (Ap 21; Sl 46.10; Is 40.1-5). Só o Senhor pode atender, perfeitamente, a oração do coração humilde e desamparado (Sl 51.17). 8 Deus é indestrutível, incansável, absoluto e eterno. A terra e a primeira criação cederão lugar para uma nova criação, enquanto o Senhor permanecerá o mesmo: imutável, fonte segura da verdade e da vida (Is 65.17; 66.22). Todo o Universo, obra do Criador, é uma simples expressão da vontade divina, um símbolo físico da majestade de Deus; pode ser totalmente trocado como a roupa que usamos (Ap 21.1; Sl 8.1-4; 19.1; 29.3-9; 104.1,31; Is 6.3; Jó 40.10). Capítulo 103 1 Louvor intenso e profundo, fruto de vívida experiência pessoal do salmista com o amor leal de Deus. Convocações à adoração do Senhor integram o prelúdio e poslúdio deste hino, bem como determinam seu tom (vv. 1,2,20-22; Sl 101). A expressão hebraica original “minha alma” era a maneira típica de os hebreus se referirem ao próprio íntimo, às entranhas psicológicas e emocionais (Sl 104.1,35; 116.7). 2 As forças, os sonhos e o dinamismo da juventude são restaurados a ponto de poderem ser comparados ao proverbial vigor inesgotável das poderosas águias de Is 40.31. 3 Os grandes feitos de Deus ficaram marcados na história da humanidade e, muito especialmente, na história do povo judeu (v.3; Dt 8.2-4; Êx 33.13; 34.6-8). 103 Não nos castiga o tempo todo, nem guarda rancor para sempre. 10 Não nos trata segundo os nossos pecados nem nos retribui de acordo com as nossas culpas. 11 Pois, como os céus se elevam acima da terra, assim é imenso o seu amor para com os que o temem. 12 Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim também Ele afasta para longe de nós as nossas próprias transgressões. 13 Como um pai se enternece pelos filhos, assim, semelhantemente, o SENHOR tem compaixão de todos aqueles que o temem.4 14 Porquanto Ele conhece a nossa estrutura, lembra-se de que somos pó. 15 A existência do ser humano é semelhante à relva; ele floresce como a flor do campo, 16 que se esboroa quando o vento sopra e ninguém mais se lembra do lugar onde a planta estivera firmada. 17 Mas o amor leal do SENHOR é, desde sempre e para sempre, para aqueles que o temem; e sua justiça, para os filhos de seus filhos, 18 com todos os que guardam a sua aliança e se lembram de obedecer aos seus mandamentos. 19 O SENHOR estabeleceu o seu trono nos céus e, como Rei, domina sobre tudo o que existe. 9 SALMOS 103, 104 20 Bendizei ao SENHOR vós, seus anjos, forças poderosas de elite que amais a sua Palavra e obedeceis a todas as suas ordens. 21 Bendizei ao SENHOR vós todos, seus exércitos; vós seus ministros, que cumpris sua vontade!5 22 Bendizei ao SENHOR todas as suas obras, em todos os lugares do seu domínio eterno! Bendize ao SENHOR, ó minha alma! Hino a Deus, o Criador Bendize, ó minha alma, o Eterno: “SENHOR, meu Deus, Tu és deveras grandioso! Estás vestido de majestade e magnificência!”1 2 Vestido de esplendorosa luz, como num manto, Ele estende os céus como uma tenda, 3 e deposita sobre as águas dos céus as vigas dos seus aposentos. Faz das nuvens a sua carruagem, e cavalga nas asas do vento.2 4 Dos ventos faz seus mensageiros, e de seus ministros, labaredas de fogo.3 5 Criaste a terra, assentando-a sobre base firme, para que seja para sempre indestrutível! 6 Como se estendesses sobre ela um manto, assim a cobriste com os oceanos; as águas cobriam as montanhas. 104 4 O povo de Deus não pode se esquecer de que o Senhor nos trata especialmente como seus filhos, não apenas como nosso Rei e Senhor. A ternura do pai brota do seu amor paterno e do seu cuidado para com a fragilidade de seus filhos (Hb 4.14-16; 12.5-11; Sl 78.39; 109.12; Lc 1.50). 5 Apenas neste versículo e no Sl 148.2, a expressão original hebraica, aqui traduzida por “exércitos”, é masculina. Nesses dois textos, os “exércitos” são compostos por “seres angelicais” (servos ou ministros). “Servo” é o particípio do verbo hebraico traduzido por “servir” em 101.6 (Sl 91.11; 104.4; Hb 1.14). Capítulo 104 1 O mesmo apelo do salmo anterior; porém, aqui, o poema sagrado reflete a contemplação das forças e das maravilhas da natureza. O salmista canta a glória do seu Criador e Sustentador, oferece um vislumbre do mundo angelical (v.4) e, de passagem, menciona o ser humano, pois seu foco é a criação dos elementos e de todos os seres vivos ao seu redor, que ele considera o manto esplendoroso e original, com que o Criador se vestiu no princípio das eras, com o objetivo de revelar sua glória ao Universo (v.6; 102.25,26; Gn 1.3-5; Jo 1.5). 2 O poeta do Senhor usa belas e significativas metáforas para demonstrar o poder, a criatividade e o amor de Deus. A palavra hebraica original traduzida por “aposentos”, no singular, refere-se a um quarto especial, no andar superior da casa (cenáculo) como em 1Rs 17.19; 2Rs 1.2; Mc 14.15; At 1.13). Segundo a linguagem figurada do AT, das águas acima da tenda, o Senhor derrama a chuva para rejuvenescer a terra (v.2,13; Gn 1.7; Sl 36.8). As nuvens são como suas carruagens adornadas de majestade (Sl 18.7-15; 68.4; 77.16-19). 3 O poder justo, amoroso e criador de Deus é ilimitado: tanto pode transformar seus mensageiros em grandes forças cósmicas, como pode usar essas forças a seu serviço e missão. A expressão original hebraica traduzida aqui por “mensageiros” pode igualmente significar “anjos” ou “ministros”. Os ventos, raios e relâmpagos são aqui personificados como agentes dos propósitos divinos (Sl 148.8; 103.21). SALMOS 104 104 Diante da tua repreensão, as muitas águas começaram a refluir, puseram-se em fuga ao ribombar dos teus trovões;4 8 subiram pelos montes e escorreram pelos vales, para os lugares que tu mesmo lhes designaste. 9 Estabeleceste um limite que não podem ultrapassar; nunca mais voltarão a cobrir a terra.5 10 É Ele quem faz jorrar as fontes nos vales; elas correm por entre os montes;6 11 delas bebem todos os animais selvagens, e os jumentos selvagens saciam sua sede. 12 As aves do céu fazem ninho junto às águas e, entre os galhos, põem-se a cantar. 13 É Ele quem, dos seus altos patamares, rega as montanhas, e a terra se sacia do fruto de suas obras; 14 faz brotar a erva para o gado, as plantas que o homem cultiva, tirando da terra o alimento, 15 o vinho que alegra o coração, o óleo que dá brilho às faces e o pão que sustenta o vigor dos seres humanos. 16 As árvores do SENHOR saciam-se e os cedros do Líbano que Ele plantou, 17 nos quais os pássaros fazem seu ninho, em cujos cimos a cegonha tem pousada. 18 As altas montanhas pertencem às cabras montesas, os penhascos dão abrigo aos roedores de várias espécies. 19 Foi Ele quem fez a lua para marcar as estações, e o sol conhece seu ocaso.7 20 Quando desdobras as trevas, faz-se 7 noite, na qual rondam as feras da selva. 21 Os leões rugem por alguma presa, bus- cando de Deus seu alimento; 22 mas ao nascer do sol recolhem-se e vão se deitar nos covis. 23 O homem sai para seu trabalho, para o seu labor até o pôr-do-sol. Quão numerosas são as tuas obras, ó SENHOR! Fizeste-as todas com perfeita sabedoria. A terra está repleta de tuas criaturas. 25 Eis o mar, vasto e profundo. Nele vivem inúmeras criaturas, seres vivos, minúsculos e enormes! 26 Por ele singram os navios e também o Leviatã que criaste, para com ele se divertir.8 27 Todos esperam em ti que lhes dês alimento no devido tempo. 28 Tu lhes dás, e eles o recolhem; abres a mão, e eles se fartam de bens. 29 Escondes a tua face, e eles se perturbam; se retiras o seu alento, perecem e voltam a seu pó. 30 Quando envias o teu fôlego, eles são criados, e renovas a face da terra. 31 Perdure para sempre a glória do SENHOR! Alegre-se o SENHOR em suas realizações maravilhosas! 32 Ele olha para a terra, e ela treme; Ele toca as montanhas, e elas fumegam.9 33 Enquanto eu viver, cantarei ao SENHOR; entoarei louvores ao meu Deus, enquanto eu existir. 34 Que as minhas meditações lhes sejam agradáveis, pois no SENHOR depositarei toda a minha satisfação! 24 4 Uma alusão ao terceiro dia da Criação e ao poder criador da Palavra de Deus (Gn 1.3; Jo 1.1-3; Sl 76.6). 5 Com segurança, Deus estabeleceu a porção seca em contraposição aos céus e aos oceanos (Gn 1.10; Sl 24.2; 93.1; 96.10). O Senhor firmou um limite, a fim de que a terra habitável jamais seja dominada pelo mar (v.5; Sl 33.7; Gn 9.15). 6 A terra é o jardim florescente da vida criado por Deus, e o ser humano, o ápice da sua criação. O que fizemos do planeta que Deus nos deu para cultivarmos e sermos felizes? Em seguida temos uma descrição do amor leal e cuidadoso de Deus em sustentar todos os seres vivos no mundo que criou (vv.10-18). A dádiva das águas de baixo, irrigando as ravinas do Neguebe. E a dádiva das águas de cima, irrigando as regiões altas de Israel, onde se estabeleceram os principais campos cultivados. O Líbano com suas árvores gigantes, muitas aves e animais alpinos, formam uma sinopse do jardim de Deus na terra (Sl 72.16; 2Rs 14.9; 19.23; Is 10.34; 35.2; 40.16; 60.13; Jr 22.6; Os 14.7). Nenhuma criatura, por mais simples que seja, escapa ao cuidado meticuloso de Deus (v.18; Mt 6.26). 7 Os principais astros cósmicos, o sol e a lua, foram criados para ordenar o ciclo da vida; o tempo, as épocas e as estações (Ec 3.1-8; Gn 1.14). 8 O salmista reduz metaforicamente o enorme e terrível monstro dos mares, na mitologia hebraica, à condição de animalzinho de estimação de Deus, que brinca inofensivo pelos oceanos do planeta (Jó 3.8). 9 Deus é maior que todo o Universo, sua criação (Gn 1.1,2). O Senhor pode desfazer absolutamente tudo o que criou com um mero olhar ou simples toque de suas mãos. Deus é o Doador da Vida e o Renovador do nosso ser (Jo 3.5,16; 10.10; 11.25; 14.6). 105 Que os pecadores desapareçam da terra, e os ímpios sejam extinguidos! Bendize, ó minha alma, ao SENHOR. Louvado seja o Eterno! Aleluia!10 35 As obras de Deus por Israel Louvai ao SENHOR, invocai o seu Nome, proclamai seus feitos entre os povos!1 2 Cantai para Ele, entoai-lhe hinos, considerai todas as suas maravilhas! 3 Gloriai-vos em seu santo Nome! Exulte o coração dos que buscam o SENHOR! 4 Procurai o SENHOR e seu poder, buscai sempre a sua face! 5 Recordai as maravilhas e os julgamentos provenientes de sua boca, 6 vós, descendência de Abraão, seu servo, vós filhos de Jacó, seus eleitos! 7 Ele é o SENHOR, nosso Deus; seus julgamentos estão em toda a terra. 8 Ele sempre se lembra de sua aliança, a Palavra que ordenou para mil gerações,2 9 aquela que Ele firmou com Abraão e confirmou por juramento a Isaque. 10 Ele confirmou sua promessa como decreto a Jacó, aliança eterna para Israel, ao declarar: 11 “Dar-te-ei a terra de Canaã como quinhão de tua herança”. 12 Quando eram ainda poucos em nú- 105 SALMOS 104, 105 mero, apenas um punhado de peregrinos na terra,3 13 migrando de nação para nação, de um reino para outro povo, 14 não deixou ninguém oprimi-los; castigou reis por sua causa, proclamando: 15 “Não toqueis em meus ungidos, não maltrateis meus profetas!” 16 Chamou a fome sobre aquelas terras, cortando todo o suprimento de pão. 17 Enviou à frente deles um homem, José, vendido como escravo. 18 Prenderam-lhe os pés em grilhões, e seu pescoço rendeu-se aos ferros, 19 até que se cumprisse sua predição e a Palavra do Senhor confirmasse o que profetizara. 20 O rei mandou soltá-lo, o governante maior dos povos o pôs em liberdade. 21 Constituiu-o senhor de sua casa, e administrador de todas as suas posses, 22 para orientar os oficiais como desejasse, e ministrar sabedoria aos anciãos do rei.4 23 Entrou então Israel no Egito, e Jacó foi viver como estrangeiro na terra de Cam.5 24 E Deus fez multiplicar seu povo, tornando-o muito mais poderoso que seus inimigos. 25 A estes, mudou-lhes o coração, para 10 Uma vida de sincero e humilde louvor ao Senhor pode transformar em alegria todas as relações humanas (Cl 3.16). Que a terra seja purificada do único elemento que a macula: o pecado em todas as suas formas e sutilezas (Ap 21.27). Capítulo 105 1 Hino composto para ser ministrado a Israel, por um levita (1Cr 16.7-22), durante uma das principais festas solenes anuais, especialmente a Festa das Semanas (Êx 23.16; Lv 23.15-21; Nm 28.26; Dt 16.9-12; 26.1-11). O povo de Deus é admoestado e encorajado a confiar no Senhor Jeová (Yahweh em hebraico), por causa de todos os seus maravilhosos atos salvíficos realizados em cumprimento à sua Aliança com Abraão: a promessa de dar a seus descendentes a terra de Canaã. Os versos de 1 a 15 formam a primeira parte do salmo cantado por Davi, quando trouxe a arca de Deus para Jerusalém; a outra metade se encontra no Sl 96. 2 As promessas de Deus são irrevogáveis (Gn 15.9-21; Rm 11.29). A Aliança do Senhor refere-se às promessas que são repetidas na vida de cada Patriarca (Gn 22.17-18). Este versículo e o seguinte ecoam no NT, em Lc 1.72-73 (Êx 20.6; Dt 7.9; 1Cr 16.15). 3 Os versos 12 a 41 formam um recital dos atos salvíficos de Deus a favor do seu povo, desde o momento em que a Aliança foi outorgada (v.11; Gn 15.9-20), até seu cumprimento (v.44; Js 21.43), de acordo com o recital ordenado por Moisés, juntamente com a cerimônia de oferta das primícias (Dt 26.1-11). 4 Este versículo pode ser transliterado, a partir dos manuscritos hebraicos, da seguinte forma: Leessor sarav benafsho, uzkenav iechakem. A palavra “orientar, ou, instruir” é, literalmente, “amarrar”. Aquele povo, cujo pescoço (nafsho) havia sido preso com ferros, agora recebeu autoridade para “amarrar” (benafsho) os príncipes do faraó, conforme a sua vontade. Os conselheiros do faraó eram, normalmente, homens mais velhos, com ampla experiência de vida e notável cultura (Êx 3.16). Embora “ferros” (v.18) não sejam mencionados em Gn 39.20-23, pois o ferro somente passou a ser de uso comum entre eles numa época histórica posterior, o autor deste salmo toma a liberdade poética de usar os termos de seu tempo (Jó 13.27; 33.11). As correntes e grilhões da antiguidade eram forjados em bronze (Jz 16.21). 5 Israel é o nome que o Senhor Deus concedeu a Jacó, e que foi herdado por seus descendentes. Em Gn 10.6, o povo do Egito (Mizraim) consta como descendência de Cam, filho de Noé. SALMOS 105, 106 106 que odiassem seu povo e tratassem seus servos com perfídia.6 26 O Senhor enviou Moisés, seu servo, e Arão, a quem tinha escolhido, 27 por meio dos quais realizou os seus sinais miraculosos e seus maravilhosos feitos na terra de Cam. 28 Mandou trevas, e fez-se escuridão; e não puderam contestar sua Palavra. 29 Converteu a água em sangue e fez morrer os peixes. 30 Seu país fervilhou de rãs, até nos aposentos de seus reis. 31 Ele ordenou e vieram insetos, mosquitos em todo o seu território. 32 Em vez de chuva deu-lhes granizo e raios flamejantes sobre sua nação. 33 Arrasou-lhes os vinhedos e as figueiras, e destruiu as árvores de toda a sua terra. 34 Outra vez Ele ordenou, e vieram nuvens de gafanhotos e incontáveis enxames de larvas, 35 que devoraram toda a vegetação e os frutos daquela terra. 36 Depois matou todos os primogênitos da terra deles, todas as primícias de sua virilidade. 37 O Senhor libertou Israel daquele povo, que saiu cheio de prata e ouro. E não se encontrava em suas tribos quem fosse trôpego. 38 Todo o Egito muito se alegrou com a saída de Israel, porquanto grande era o pavor do povo de Deus. 39 Então, Ele estendeu uma nuvem para lhes dar sombra como um toldo, e um clarão de fogo para iluminar a noite. 40 Pediram, e Ele mandou codornizes, e os saciou com pão do céu. 41 Fendeu a rocha e dela brotaram águas puras, que correram qual torrente pelo deserto. 42 Porquanto estava lembrado da sua Palavra sagrada e de Abraão, seu servo. 43 E conduziu com alegria o seu povo e, com jubiloso canto, os seus escolhidos. 44 Concedeu-lhes as terras dos pagãos, e eles tomaram posse do fruto do trabalho de outros povos, 45 para que obedecessem aos seus decretos e guardassem as suas leis. Aleluia!7 A ingratidão do povo de Deus Aleluia! Dai graças ao SENHOR, porquanto Ele é bom; o seu amor dura para sempre!1 2 Quem poderá proclamar as proezas do SENHOR e apregoar todo o louvor que merece? 3 Felizes os que observam o direito e praticam a justiça em todo o tempo! 4 Lembra-te de mim, ó Eterno, de acordo com a tua benevolência para com teu povo; vem em meu socorro quando o salvares, 5 para que eu possa ver a felicidade dos eleitos, alegrar-me com a felicidade de teu povo e gloriar-me com a tua herança! 6 Pecamos, como nossos antepassados, cometemos iniqüidades, praticamos o mal.2 106 6 Os autores das Escrituras, especialmente no AT, demonstram compreensão teológica em relação à soberania de Deus sobre o Universo e, particularmente, sobre o povo de Israel; tão completa e perene soberania, que governa até mesmo o mal que os homens tentam e praticam contra Israel. Não que Deus mande o mal a alguém, mas que ele usa o mal a fim de ensinar à humanidade, e especialmente aos seus, o que significa o temor do Senhor (Êx 4.21; 7.3; Js 11.20; 2Sm 24.1; Is 10.5-7; 37.26,27; Jr 34.22). Mais uma vez Deus permite a desgraça aparente, com o propósito de prosseguir com os seus atos salvíficos e graciosos (Rm 8.28). 7 O motivo dos feitos portentosos e salvíficos de Deus é a preparação de um povo (judeus e gentios de todas as partes) que adore e obedeça ao Senhor de todo o coração e para sempre (1Pe 2.9-10; Tt 2.11-14). Capítulo 106 1 Poema davídico para ser cantado pela congregação, de autoria de um dos levitas que retornaram para Jerusalém, logo após o exílio. O primeiro versículo e os dois últimos foram adotados de uma peça literária mais antiga (1Cr 16.34-36). A expressão hebraica original (transliterado em Alelu – yah ou Haleluiá) significa “Louvai ao Senhor!” (Sl 100; 107.1; 118.1,29; 136.1-3). “Aleluia!” é o início e o final deste salmo convocatório à adoração, e nos revela o longo histórico de desobediência do povo de Israel, que simboliza a rebeldia da própria raça humana, posto que o ser humano já nasça demonstrando todo o seu potencial rebelde e egoísta, e tenda a viver assim até a morte. A não ser que aceite a graça reconciliadora de Deus e nasça de novo (Jo 3; Rm 5.20). 2 O salmista, como líder espiritual, não se exclui da responsabilidade dos pecados de seu povo (Ed 9.6,7). Ao mesmo tempo faz-nos lembrar que a “alegria” é um dom divino concedido a todo crente. Ainda que sob provações e sofrimentos, jamais perdemos a convicção do amor leal e generoso do Senhor (Jo 14.27; Gl 5.22). 107 Nossos pais, no Egito, não deram a devida atenção a teus sinais milagrosos; esquecidos de teus inúmeros favores, rebelaram-se junto ao mar, o mar Vermelho. 8 Entretanto, Ele os salvou por causa do seu Nome, para deixar manifesto o seu poder. 9 Repreendeu o mar Vermelho, e este secou; permitiu-lhes andar pelas profundezas, como por um deserto! 10 Salvou-os da mão daquele que os odiava; resgatou-os das garras do inimigo;3 11 as águas cobriram seus adversários, sem que um só deles restasse. 12 Então creram em suas promessas, e a Ele entoaram cânticos de louvor. 13 Muito depressa, porém, esqueceram seus feitos e não quiseram esperar para conhecer mais de seus desígnios. 14 Dominados pela fome no deserto, puseram Deus à prova, nas regiões áridas. 15 Concedeu-lhes tudo o que reclamavam, mas, por sua gula, mandou-lhes uma doença horrível. 16 No acampamento eles invejaram Moisés e Arão, o consagrado do SENHOR.4 17 Então, abriu-se a terra e engoliu Datã, e sepultou o grupo de Abirão. 18 Um fogo consumiu aquele bando, uma chama tornou os ímpios em brasa. 19 Em Horebe construíram um bezerro, adoraram uma estátua feita de metal; 7 SALMOS 106 trocaram Aquele que é a Glória deles pela imagem de um boi que se alimenta de capim!5 21 Esqueceram-se de Deus, seu Salvador, que fizera portentos no Egito, 22 maravilhas na terra de Cam e realizações magníficas junto ao mar Vermelho. 23 Por isso, Ele ameaçou destruí-los; porém Moisés, seu escolhido, intercedeu em sua presença, a fim de evitar que sua ira os consumisse a todos.6 24 Da mesma forma rejeitaram a terra aprazível do Senhor; não creram em sua Palavra, 25 mas murmuraram em suas tendas e não obedeceram à voz do Eterno. 26 Então lhes jurou, de mão erguida, que os havia de abater no deserto, 27 e prostraria todos os seus descendentes entre as nações e os dispersaria por outras terras longínquas. 28 Aderiram ao culto de Baal-Peor e comeram dos sacrifícios pelos mortos. 29 Assim, com seus atos, o provocaram à ira, e irrompeu entre eles uma peste mortal. 30 Mas Finéias se interpôs para executar o juízo, e a praga foi interrompida. 31 Isso lhe foi creditado como um ato de justiça, de geração em geração, para sempre.7 32 Contudo, eles ainda provocaram a in20 3 A mesma voz poderosa que afugentou o caos e as trevas primevas, agora retira o obstáculo que fazia separação entre o povo de Deus e a liberdade. Esse mesmo fenômeno divino pode ocorrer em nossas vidas, hoje, diante de todos os nossos obstáculos (Sl 104.7; Gn 1.3). O povo estava na escravidão, e Deus “comprou” para si os que sempre foram seus. Esta expressão descreve bem a obra de Cristo como nosso Redentor, pois que pagou cabalmente todo o custo do pecado da humanidade, a fim de nos libertar para sempre das garras de Satanás, da nossa própria índole carnal, e da morte eterna (v.9; Ef 1.7; Êx 14.28). 4 A expressão hebraica original “consagrado”, aqui usada, também pode ser traduzida como “santo”. Ou seja, aquela pessoa que o próprio Deus vocacionou e separou para a ministração da sua obra entre o povo. O sacerdócio fez parte do plano de Deus; não foi uma invenção de Israel (Êx 28 com Zc 3). 5 O salmista, ironicamente, coloca diante dos idólatras o ridículo e aviltante culto a qualquer ser ou coisa criada por Deus. O mais grave prejuízo causado pela idolatria é afastar as pessoas da esplendorosa e magnificente “Glória” de Yahweh (Jeová ou Javé), o nome impronunciável de Deus, em hebraico (Rm 1.18-23). O Senhor se revelou como Salvador, através de toda a história da humanidade e, particularmente pela peregrinação de seu povo. Portanto, Cristo, o Filho e a Glória de Yahweh, é o absoluto Senhor e Salvador de todo o “verdadeiro Israel” (v.21; Gl 6.16). 6 Faz parte do plano de Deus, para o desenvolvimento espiritual da humanidade, que seus escolhidos (todos os crentes), participem de coração compassivo e perdoador, fazendo súplicas e intercedendo, com fé, uns pelos outros (Êx 32.11-14). 7 O salmista parte de uma analogia para concluir que assim como a fé que Abraão demonstrou lhe foi atribuída como justiça (Gn 15.6), também ocorreu com Finéias, devido ao seu zelo sacerdotal pela pessoa e obra do Senhor (Nm 25.7,8). A aliança do sacerdócio perpétuo foi outorgada a Finéias como recompensa misericordiosa de Deus por sua dedicação sincera. A aliança de Deus com Abrão foi outorgada após o Senhor lhe creditar fé como justiça (Gn 15.9-21); o mesmo aconteceu na celebração das alianças entre Deus e Noé (Gn 9.9-17) e entre Deus e Davi (2Sm 7.5-16). SALMOS 106, 107 108 dignação do Senhor junto às águas de Meribá e, por causa deles, aconteceu um infortúnio a Moisés, 33 porquanto, sendo rebeldes contra o Espírito de Deus, induziram Moisés a falar sem refletir.8 34 Eles também não destruíram os pagãos, como o SENHOR havia ordenado,9 35 em vez disso, misturaram-se com esses povos e imitaram suas práticas. 36 Prestaram culto aos ídolos, que se tornaram uma armadilha para eles. 37 Chegaram ao ponto de sacrificar seus filhos e filhas aos demônios. 38 Derramaram sangue inocente, o sangue de seus próprios filhos e filhas, sacrificados aos ídolos de Canaã; e a terra foi profanada pelo sangue deles. 39 Tornaram-se impuros por meio dos seus atos infames; prostituíram-se por suas más ações.10 40 Por tudo isso se inflamou a ira do SENHOR contra seu povo, e Ele sentiu repugnância por sua herança. 41 Entregou-os nas mãos dos pagãos, e os seus adversários dominaram sobre eles. 42 Seus inimigos os oprimiram e os humilharam com seu poder. 43 Ainda assim, Ele os tem libertado mui- tas vezes, embora prosseguissem em seus planos de rebelião e afundassem cada vez mais em sua malignidade. 44 Contudo, Deus atentou para o sofrimento deles, quando ouviu o seu clamor.11 45 Lembrou sua aliança com eles, e arrependeu-se, por causa do seu imenso amor leal.12 46 Fez que obtivessem clemência de todos os que os haviam deportado.13 47 Salva-nos, SENHOR, nosso Deus, e recolhenos dentre as nações pagãs, a fim de que possamos dar graças ao teu santo Nome e fazer do teu louvor a nossa glória perene. 48 Bendito seja o SENHOR, Deus de Israel, desde sempre e para sempre! Que todo o povo declare: “Amém!” Aleluia! QUINTO LIVRO Salmos de 107 a 150 Deus salva de todas as aflições Rendei graças ao SENHOR, porque Ele é bom, e a sua misericórdia dura para sempre.1 2 Que o digam os redimidos do SENHOR, os 107 8 O povo havia se tornado rebelde e caído no pecado de relativizar ou desprezar a perpétua e milagrosa salvação que Deus concede. O mesmo erro foi cometido pelos sacerdotes e teólogos (fariseus) contra a pessoa e a obra do Filho de Deus, não reconhecendo o amor e o poder de Deus expresso na vida e nos milagres de Cristo (Mt 12.22-32). Ao contrário de Jesus Cristo, Moisés não conseguiu suportar com paciência a provocação de Israel no deserto, e em vez de proclamar a compaixão de Deus em prover de água, o seu povo, desafiou-o (Nm 20.5-11). Embora a leitura de alguns manuscritos possa ser transliterada assim: Ki himru et rucho, vaivate bisfatav, que significa literalmente “pois exasperaram seu espírito, levando-o a pronunciar palavras ásperas”, no entanto, à luz de uma melhor exegese e do contexto bíblico geral, o Comitê de Tradução da KJA optou por esta forma de tradução (Is 63.10-14; Sl 78.40; Êx 31.3; Nm 11.17; 24.2; Ne 9.20). 9 A expressão hebraica, muitas vezes traduzida simplesmente pela palavra “nações”, tem o significado amplo de “pagãos” (povos sem fé no Único Deus – Yahweh). Portanto, devemos expulsar das nossas vidas qualquer motivo de tentação ou “laço” ou “armadilha” (v.36; Sl 101.5; 2Co 6.17). Paulo nos ensina que sacrificar (cultuar) a ídolos e imagens (marcas) é reverenciar os próprios demônios (1Co 10.19-20). Os rituais pagãos incluíam o flagelo e o sacrifício físico de crianças (v.37). 10 A prostituição não nasceu simplesmente como forma de comércio sexual: sua origem tem a ver com a infidelidade religiosa, que levou os crentes em Deus a se envolverem com os rituais idólatras, que incluíam sacerdotisas oferecendo seus corpos aos homens, como uma forma de culto aos deuses pagãos (Os 1 a 3; Ap 19.1-10). 11 O olhar de Deus é algo poderoso e sublime. Somente o Senhor é capaz de contemplar e compreender o mais íntimo e secreto da nossa alma e ministrar sua compaixão, cura e salvação (Lc 22.61-62; 1Jo 2.1,2). 12 Ficou provado que a humanidade não tem a menor esperança de viver em retidão para com Deus e em fraternidade nesta terra. Portanto, a única chance real de salvação e nova vida repousam nas promessas (na Palavra) do próprio Deus, cuja plenitude é a pessoa de Jesus Cristo (Jo 1.1-14). 13 O amor leal de Deus fez que até os próprios pagãos fossem mobilizados para cuidar do seu povo no cativeiro, fossem esses povos babilônicos (2Rs 25.27-30), ou persas (Ed 6.1-12). Capítulo 107 1 Israel havia experimentado uma vez mais as poderosas e generosas misericórdias do Senhor em seu retorno do humilhante exílio da Babilônia (v.3; Jr 33.11). Aqui, um levita responsável por reunir o povo para celebrar o amor leal e inesgotável de Deus, 109 que Ele resgatou da mão do inimigo 3 e reuniu dos países do Oriente e do Ocidente, do Norte e das bandas do Sul!2 4 Alguns andavam errantes pelo deserto, por terras inóspitas, sem encontrar caminho para alguma cidade habitada.3 5 Passavam fome e sede, que a vida se lhes esvaía. 6 Então, na angústia, clamaram ao SENHOR, e Ele os livrou de suas tribulações: 7 fê-los tomar um caminho reto, para chegarem a uma cidade habitada. 8 Louvai, pois, ao Eterno por seu amor leal, por seus milagres em favor dos filhos dos homens! 9 Pois Ele dessedentou a alma sequiosa e cumulou de bens a alma faminta. 10 Alguns habitavam na escuridão mortal, prisioneiros da miséria e dos grilhões de ferro,4 11 porquanto se revoltaram contra as ordens de Deus, desprezando o desígnio do Altíssimo. 12 Por isso, Ele os humilhou por meio de trabalhos pesados; sucumbiram, e não houve alguém que os socorresse. 13 Então, na sua grande aflição clamaram ao SENHOR, e Ele os livrou de todas as suas tribulações: SALMOS 107 tirou-os da escuridão e das espessas trevas, e rompeu seus grilhões! 15 Dêem graças ao SENHOR por seu amor leal, por seus milagres em favor dos seres humanos. 16 Porquanto arrebentou as portas de bronze e rompeu as trancas de ferro! 17 Alguns, embrutecidos por sua conduta insana, sofriam por causa de suas iniqüidades. 18 Todo alimento lhes provocava náuseas, e já tocavam os portais da morte.5 19 Então, na sua angústia, clamaram ao SENHOR, e Ele os livrou de suas aflições: 20 enviou sua Palavra para curá-los, para salvá-los de sua extinção.6 21 Rendam graças ao SENHOR por sua bondade e pelas maravilhas que realiza em favor de todo ser humano! 22 Ofereçam-lhe sacrifícios de ação de graças e, com cânticos jubilosos, proclamem suas obras!7 23 Os que se lançaram ao mar em navios, exercendo sua profissão nas grandes águas, 24 esses viram as obras do SENHOR, seus milagres em alto-mar. 25 A sua Palavra, levantou-se um vento tempestuoso, que sublevava as ondas:8 26 subiam até o céu, desciam aos abismos; 14 especialmente para com todos aqueles que reconhecem seu poder e clamam por sua intervenção, ministra à congregação um salmo de adoração, como parte do grande recital sobre “as divinas maravilhas em favor da humanidade” (Sl 104 a 107). 2 O salmista refere-se também aos dispersos e cativos em outras terras: Assíria (2Rs 17.6) e Babilônia (2Rs 24.14,16; 25.11,26; Jr 52.28-30; Ne 1.8; Et 8.5-13; Is 11.12; 43.5,6; Ez 11.17; 20.34). Este versículo pode ser assim transliterado, a partir dos originais hebraicos: Umearatsot kibetsam, mimizrach umimaarav, mitsafon umiyam. 3 O original hebraico apresenta aqui um verbo impessoal (“andavam” ou “andaram”) que se refere a todos os viajantes perdidos no deserto, que apelam ao Senhor e encontram socorro e alívio para suas angústias. Israel já havia experimentado as agruras do deserto em sua peregrinação a Canaã; além disso, fazia fronteira, a leste, com o grande deserto da Arábia, pelo qual caravanas de mercadores viajavam, e, a oeste, com o mar Mediterrâneo (vv.23-32). A história de Israel é uma grande metáfora da própria história da rebelião de toda a humanidade contra seu Criador, mas, ao mesmo tempo, a saga do livramento divino em atenção ao apelo humano por salvação, paz e felicidade (Sl 105 e 106). 4 Criminosos condenados à prisão perpétua e à morte não são apenas os malfeitores que atentam contra as leis civis, senão igualmente todos aqueles que ofendem a Palavra de Deus (Rm 13.1-7). 5 Aqui se trata de um doente, enfermidade tem a ver com certa aflição provocada por uma vida estulta e descontrolada, sem o temor do Senhor (v.17). 6 A ordem de Deus (Sua Palavra) aqui é personificada como agente do seu propósito (147.15,18; 23.6). É o Logos divino quem traz perdão, consolo e restauração ao coração humilde e arrependido (Jo 1.1-12). O Supremo Juiz do Universo “ab-roga” (expressão jurídica, em latim, relativa à determinação expressa de cessar a exigência do cumprimento cabal de uma determinada lei), a condenação do pecador à morte eterna. 7 A atitude de cultivar um coração grato a Deus e render-lhe louvores por sua paciência e inúmeros atos de bondade é, de fato, um sacrifício do eu, normalmente altivo e egoísta (Sl 51.17). Segue-se ao louvor sincero, um testemunho autêntico e poderoso (At 3.8). 8 O povo de Israel sempre viu no mar uma metáfora das profundezas tenebrosas; a mitologia hebraica é recheada de histórias de monstros marinhos e episódios horríveis passados ou provocados pelos oceanos. As Escrituras também registram muitas provações enfrentadas em meio às águas bravias dos mares (Jn 1 e 2; At 27.9-44). Contudo, o Senhor, cuja voz domina os oceanos e as tempestades (Sl 29), concede a mesma autoridade à pessoa do seu Filho Jesus Cristo (Mc 5.35-41). SALMOS 107, 108 110 no meio dessas angústias, desfalecia-lhes a alma. 27 Andaram e cambalearam como bêbados, e perderam todo o juízo. 28 Então, em meio ao seu desespero, clamaram ao SENHOR, e Ele os livrou de suas tribulações: 29 reduziu a tormenta a silêncio, e emudeceram as temíveis ondas. 30 Alegraram-se, porque elas amainaram, e Ele os conduziu ao porto ansiado. 31 Dêem graças ao SENHOR por seu amor leal, por seus milagres em favor da raça humana! 32 Exaltem-no na assembléia do povo e o louvem no conselho dos anciãos. 33 Ele converteu rios, em desertos, e mananciais, em terra seca;9 34 terra frutífera, em deserto salgado, por causa da malignidade dos seus habitantes. 35 Transformou o deserto, em lençóis de água, e a terra árida, em mananciais. 36 Fez ali habitar os esfomeados, que fundaram uma cidade habitável. 37 Semearam campos, plantaram vinhas e colheram os frutos de grande safra. 38 Ele os abençoa, e eles se multiplicam; e não permite que seus rebanhos diminuam. 39 Quando, porém, reduzidos, são humilhados com opressão, desgraça e tristeza. 40 Deus derrama desprezo sobre nobres e ricos incrédulos e os faz vagar num de- serto sem caminhos.10 41 Entretanto, levanta da miséria os pobres e necessitados, aumenta as suas famílias como rebanhos. 42 Os justos observam tudo isso e se alegram, mas todos os ímpios são emudecidos. 43 Reflitam sobre isso os sábios e considerem o amor leal do SENHOR!11 Deus dá vitória a seus filhos Um cântico de louvor. Salmo davídico. 108 Ó Deus, meu coração está firmado em ti! Por isso cantarei e louvarei ao SENHOR, ó Glória minha!1 2 Harpa e cítara, despertai! Quero acordar a aurora! 3 Ó Eterno, eu te darei graças entre todos os povos, e entre as nações entoarei teus louvores. 4 Pois teu amor leal é maior que os céus e a tua fidelidade vai até as nuvens. 5 Sê exaltado, ó Eterno, acima dos céus; estenda-se a tua glória sobre toda a terra!2 6 Salva-nos com teu braço forte e responde às nossas orações, para que sejam libertos aqueles a quem amas!3 7 Em sua santidade, Deus declarou: “No meu triunfo dividirei Siquém e repartirei o vale de Sucote. 8 Gileade me pertence e Manassés também; Efraim é o meu capacete, Judá é o meu cetro. 9 O salmista nos oferece uma descrição geral da soberania de Deus em guiar a raça humana (vv.33-41), e faz um alerta sobre o castigo reservado aos idólatras (Is 42.15-17; Gn 19.23-29). No entanto, os remidos serão presenteados com a honra do galardão do Senhor (Is 35.6,7; 41.18; 42.15; 43.19,20; 50.2). 10 Temos aqui um eco de Jó 12.21,24. A prosperidade, quando não administrada sob o temor do Senhor, exacerba a arrogância e o egoísmo humano, fazendo que o homem relativize seu amor e fé em Deus, dando mais importância aos bens e ao dinheiro ao que ao amadurecimento da sua relação com o divino e desprezando a fé sincera e simples em Deus (Dt 31.20; 32.15). Por isso, o Senhor se vê forçado a devolver tais pessoas ao “deserto”, a fim de poderem continuar sua caminhada de tribulações e aprendizado (Dt 32.10; Os 2.3,14). 11 A grande conclusão do salmista revela que os insensatos e arrogantes (perversos), não conseguem ver, ouvir e muito menos sentir a Palavra do Senhor, e tão somente seguem sua lógica primária e seus instintos egoístas (vv.33-41; Jó 5.16; Pv 2.21,22; 11.6,7; 12.6; 14.11; 15.8; 21.18,19; 29.27). Os sábios e justos consideram e obedecem à instrução de Deus, louvando ao Senhor por seu amor leal, poder e longaminidade (vv. 4-32; Dt 32.29; Os 14.9). Capítulo 108 1 Um hino de Davi ou de seus descendentes, exaltando o amor leal de Deus e suplicando o auxílio divino contra os inimigos (57.7-11; 60.5-12; 103.11; 1Cr 16.8-36). O coração do fiel está firmado no Senhor, e essa é a razão indestrutível de sua confiança e esperança. Haja o que houver, o futuro será sempre melhor para o crente. 2 O amor leal e a misericórdia divina são maneiras de descrever a própria natureza do Senhor (1Jo 4.16). 3 A Palavra de Deus produz libertação completa e inabalável para o povo do Senhor, bem como salvação eterna pelo divino poder de sua destra (mão direita ou braço forte). 111 Moabe é a bacia em que me lavo, sobre Edom atiro a minha sandália, contra a Filistéia lanço meu brado de vitória!” 10 Quem me levará à cidade fortificada? Quem me conduzirá até Edom,4 11 se não fores tu, ó Deus, que nos rejeitaste; tu, ó Eterno, que já não sais com nossas tropas? 12 Vem em nosso socorro contra os adversários! Vã é a salvação que vem do ser humano. 13 Com Deus faremos proezas, e Ele esmagará os nossos inimigos!5 9 Prece contra os caluniadores Ao regente do coro. Um salmo davídico. 109 Ó Deus a quem adoro, não fiques indiferente, 2 porquanto homens ímpios e falsos propagam mentiras contra mim, e espalham calúnias a meu respeito.1 3 Cercam-me com discursos de ódio e combatem-me sem motivo. 4 Acusam-me, em paga de minha amizade. Eu, contudo, dedico-me a orar por eles.2 5 O bem retribuem-me com o mal, e minha amizade, com ódio. 6 Sentenciam eles: “Suscita, a seu lado, o maligno acusador, Satanás; que se ponha à sua direita!3 7 Citado em juízo, seja declarado culpado, e fique sem efeito sua apelação! 8 Sejam abreviados seus dias, e um outro assuma seu cargo! 9 Fiquem órfãos seus filhos, e viúva, sua esposa! SALMOS 108, 109 10 Andem errantes seus filhos, a mendigar, a esmolar longe de suas casas em ruína! 11 De tudo que é seu apodere-se o credor, e estranhos roubem seus ganhos! 12 Não mais lhe mostrem benevolência, e ninguém se compadeça de seus órfãos! 13 Sua prosperidade seja completamente aniquilada, e na geração seguinte extinga-se seu nome! 14 Seja lembrada ao SENHOR a culpa de seus pais, e o pecado de sua mãe não se apague: 15 estejam continuamente presentes ante o Eterno, a fim de que risque da terra sua memória! 16 Visto que nunca pensou em agir com misericórdia, mas perseguiu o fragilizado e o pobre, o aflito de coração, para lhe desferir um golpe mortal. 17 A maldição, que ele tanto amou, veio sobre ele; a bênção, a que ele não deu preferência, dele se afastou.4 18 Revestido de maldição, como de seu manto, ela penetrou como água em suas entranhas, e como óleo, em seus ossos: 19 envolva-o, como uma veste mortuária e aperte-o, sempre, como um cinto que continuamente se cinge!” 20 Será essa a retribuição do SENHOR aos meus acusadores, e aos que falam contra mim todo o mal. 21 Mas tu, ó Eterno, meu Deus, atua em meu favor, pela honra do teu Nome! Pois teu amor leal é sublime, livra-me! 22 Sou pobre e necessitado e, no íntimo, meu coração está abatido. 23 Extingo-me como a sombra que de- 4 Oração costumeira de Davi, antes de suas vitórias contra Edom (2Sm 8.13-14). 5 Este versículo pode ser assim transliterado, a partir dos melhores manuscritos hebraicos: Belohim naasse cháyil, vehu iavus tsarênu. Capítulo 129 1 O salmista suplica a Deus que o livre de seus falsos acusadores: que o Senhor julgue com severidade todos que rejeitam o caminho santo (vv.6-19), e que a misericórdia divina seja generosa para com os que se entregam nas mãos de Deus (vv.20-31). O autor fala dos adversários, no singular, na primeira parte, que revela algumas das maldições lançadas por seus inimigos; a segunda parte, discorrida no plural, mostra a aliança dos inimigos contra o servo do Senhor (Sl 35; 101). 2 Este é o sentido mais adequado à frase transliterada do original hebraico: Vaiassímu alai raá táchat tová, vessin’á táchat ahavati (35.13,14). 3 Estes são alguns dos desejos, expressos, dos inimigos do salmista (vv.6-20). Pedro compreendia que essas palavras condenatórias se aplicavam ao traidor, Judas Iscariotes (v.8; At 1.20). Em hebraico, a expressão “satã ou satanás” significa “acusador”. Veja como fica a transliteração deste versículo: Hafked alav rashá, vessatan iaamod al iemino (Jó 1.6). 4 O pecador ímpio e renitente procura cercar-se de trevas, cada vez mais fugindo da luz e da verdade (Jo 3.18-21). SALMOS 109–111 112 clina, sou afugentado como um simples gafanhoto. 24 Os joelhos tremem de tanto que jejuo, e o corpo definha de fraqueza. 25 Tornei-me, para meus difamadores, objeto de zombaria: assim que me vêem, meneiam a cabeça.5 26 Ajuda-me, SENHOR, meu Deus! Salvame, segundo teu amor misericordioso! 27 Que eles reconheçam que foi a tua boa mão, que foste tu, SENHOR, que o fizeste. 28 Que eles sigam amaldiçoando, contanto que tu me abençoes! Os que se insurgem sejam confundidos, enquanto teu servo seja contemplado com alegrias. 29 Cubram-se de ignomínia os que me acusam, emaranhem-se no próprio vexame, como num manto! 30 Proclamarei com minha boca muitas graças ao SENHOR e o louvarei no meio da multidão, 31 pois Ele se põe à direita do pobre para salvá-lo daqueles que o caluniam! O reino sacerdotal do Messias Salmo de Davi. 110 Assim declarou o SENHOR ao meu Senhor: “Assenta-te à minha direita e aguarda, enquanto de teus inimigos faço um objeto de descanso para teus pés!”1 2 O SENHOR estenderá de Sião o poder do teu cetro: domina no meio dos teus inimigos! 3 Teu povo se apresentará generoso, no dia da convocação. Nos montes santos, mais numerosos do que gotas de orvalho no seio da aurora, tu terás teus exércitos de jovens santos!2 4 O SENHOR jurou e não se arrependerá: “Tu és Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”.3 5 O Eterno está à tua direita; Ele esmagará reis no dia da sua ira. 6 Julgará as nações, amontoando cadáveres e esmagando governantes em toda a extensão da terra.4 7 Meu Rei encontrará refrigério no ribeiro em seu árduo caminho, e sua cabeça estará sempre erguida! Louvor a Deus por suas obras Aleluia! De todo o coração, louvarei ao SENHOR,1 Alef na congregação dos justos e na assembléia dos que se reúnem para adorá-lo. Bet 2 Portentosas são as obras do SENHOR, Guimel dignas de profunda meditação para quem as aprecia. Dalet 3 Os feitos do Eterno são magníficos e majestosos, He e sua justiça permanece para sempre.2 Vav 4 Ele fez memoráveis as suas maravilhas; Zayin 111 5 A expressão “meneiam a cabeça” revela um gesto físico de profundo desprezo, humilhação e zombaria. Foi assim que muitas pessoas agiram, ao verem Jesus Cristo, o Messias, em seu sofrimento vicário na Cruz do Calvário (Mc 15.29). Capítulo 110 1 Davi compôs este salmo para a coroação de seu filho Salomão, com profunda conotação profética em relação aos reis davídicos e a seu grandioso Filho futuro (Sl 101). Os profetas do AT perceberam a mensagem profética deste hino somente muito tempo depois de Davi, mas a Igreja do NT sempre o considerou a mais clara e direta obra messiânica do Saltério (Sl 2). Especialmente pela maneira como fora interpretado pelo próprio Messias, Jesus (Mt 22.43-45; Mc 12.36,37; Lc 20.42-44), pelo apóstolo Pedro (At 2.34-36) e pelo autor de Hebreus (Hb 1.13; 5.6-10; 7.11-28). Sentar-se à direita do rei significava ocupar um lugar de honra sem igual e “estar com ele entronizado” (45.9; 1Rs 2.19). O NT está repleto de referências a Jesus Cristo exaltando essa posição de primazia absoluta e definitiva (Mt 26.64; Mc 14.62; 16.19; Lc 22.69; At 2.33; 5.31; 7.55-56; Rm 8.34; Ef 1.20; Cl 3.1; Hb 1.3; 8.1; 10.12; 12.2). Os tronos eram acompanhados de um móvel para descanso dos pés do rei. Entretanto, nas pinturas e esculturas, os reis mandavam que esse objeto fosse substituído pela imagem de seus inimigos vencidos (2Cr 9.18; 1Rs 5.3; Js 5.3; 1Co 15.25; Ef 1.22). Este versículo, incluindo sua epígrafe, pode ser assim transliterado a partir dos melhores originais hebraicos: Ledavid mizmor, neum Adonai, ladoni, shev limini, ad ashit oievêcha hadom leraglêcha. 2 O “Rei” e Ungido de Deus, o Senhor Jesus Cristo, terá um exército de voluntários, revestidos de santidade. O reino de Cristo não é deste mundo e seus guerreiros não usam armas carnais (Jo 18.36; Ef 6.10-18). 113 o SENHOR é misericordioso e compassivo.3 Het 5 Provê o sustento dos que o temem; Tet porquanto, tem sempre presente a lembrança da sua aliança.4 Yud 6 Revelou a seu povo suas obras grandiosas, Kaf confiando-lhes as terras das nações. Lamed 7 As realizações de suas mãos são verdadeiras e justas, Mem e todos os seus ensinamentos merecem absoluta confiança: Nun 8 são firmes para todo o sempre, Samek a fim de serem cumpridos fiel e retamente.5 Ayin 9 Ele trouxe redenção a seu povo, Pê promulgou para sempre sua aliança. Tsade Seu Nome é Santo e inspira temor!6 Qof 10 O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria; SALMOS 111, 112 Resh todos os que cumprem seus preceitos demonstram bom senso. Shin Ele será louvado por toda a eternidade!7 Tav Os justos herdarão a vida eterna Aleluia! Quão feliz é a pessoa que teme ao SENHOR Alef e tem grande prazer em seus mandamentos! 1 Bet 2 Sua linhagem será poderosa no país, Guimel abençoada geração de homens íntegros. Dalet 3 Em sua casa haverá bens e riquezas, He e sua justiça permanece para sempre.2 Vav 4 Desponta nas trevas como luz para os homens retos: Zayin é benigno, piedoso e justo.3 Het 5 Bem-aventurado quem se compadece e empresta com generosidade, Tet e com honestidade administra todos os seus negócios!4 112 3 Jesus, o Messias prometido, é a única pessoa que acumula o poder e a responsabilidade de Sacerdote e Rei. Esse sacerdócio firma-se nas promessas irrevogáveis e eternas de Deus, a fim de manter, perpetuamente, a linhagem de Davi (89.35-37; Hb 7.16-18). Segundo a ordem de Melquisedeque (Hb 7.11-22), os reis davídicos, como representantes principais do governo de Deus sobre Israel e o mundo, realizaram muitas atividades que se baseavam no culto ao Senhor, como a supervisão da Arca da Aliança e do templo, bem como a organização dos serviços sagrados dos sacerdotes e levitas (2Sm 6.1-15, 1Rs 5 – 7; 2Rs 12.4-7; 22.3-7; 23.4-7; 1Cr 6.31; 15.11-16; 16.4-42; 23.3-32; 25.1; 2Cr 15.8; 17.7-9; 19.8-11; 24.4-12; 29.3-31; 34.8; 35.15,16; Ed 3.10; 8.20; Ne 12.24,36,45). 4 A vitória absoluta, universal e eterna de Cristo e da sua Igreja (Ap 19.11-21). 5 Mesmo durante os séculos de implantação do seu reino, as terríveis batalhas no final dos tempos, o Ungido de Deus jamais esmorecerá. As forças da natureza curvam-se para cooperar com o nosso vitorioso Salvador, Jesus Cristo (Mt 22.41-46). Este versículo pode ser assim transliterado, a partir dos originais hebraicos: Mináchal badérech yishte, al ken iarim rosh. Capítulo 111 1 Este salmo e o próximo (112) formam um arranjo perfeito entre poesia, música sacra e instrução sapiencial. Essas obras pós-exílicas introduzem uma série de salmos de Aleluia (Sl 111 – 118). A estrutura dos salmos 111 e 112 é chamada de acróstico alfabético, por serem eles organizados em ordem alfabética, no original hebraico. Cada meio verso recebe uma das letras do alfabeto hebraico. A reunião dos justos (íntegros, retos e piedosos) refere-se a um grupo mais íntimo de adoradores comprometidos com a Palavra do Senhor (112.2,4; 9.1; 11.7; 33.1; 49.14; 97.11; 107.42; 140.13). 2 As obras do Senhor revelam claramente o caráter e o poder do Criador. Felizes aqueles que sabem contemplar as obras do Criador (v.2; Sl 19.1-4). 3 Misericórdia e compaixão (amor leal) são as qualidades de Deus que garantem a existência e a peregrinação da raça humana para a eternidade (130.3-4; 2Pe 3.9). 4 A provisão de alimento para o crente é apenas uma exemplificação da generosidade do Senhor para com os seus (Mt 6.11; Sl SALMOS 112, 113 114 Yud O justo jamais será grandemente abalado; Kaf para sempre suscitará boas recordações. Lamed 7 Não viverá temeroso, esperando más notícias: Mem confiando plenamente no SENHOR, seu coração estará sempre firme. Nun 8 Seu coração está seguro e nada temerá. Samek Certamente, no final, testemunhará o fracasso dos seus inimigos. Ayin 9 Generosamente reparte o que possui com os pobres; Pê perene será sua benevolência; Tsade 6 de cabeça erguida será honrado e exaltado por muitos.5 Qof 10 Por isso, o ímpio o observa e fica irado, Resh range os dentes e se consome de ódio. Shin A ambição dos ímpios os levará à destruição! 6 Tav Só Deus é digno de todo louvor Aleluia! Louvai, servos do SENHOR, louvai o Nome do Eterno!1 2 Bendito seja o Nome do SENHOR, desde agora e para sempre! 3 Desde o romper da aurora até o pôrdo-sol, louvado seja o Nome do Eterno! 4 Excelso é o SENHOR, acima de todas as nações, e sua glória, acima dos céus. 5 Quem é como o Eterno, nosso Deus, 113 105.8-11). Este versículo pode ser transliterado, do original hebraico, da seguinte forma: Téref natan lireav, yizcor leolam berito. 5 As mais concretas e indestrutíveis realizações do Senhor são as virtudes e seus mandamentos eternos (119.89-90). 6 As alianças são as promessas da eterna redenção para todos aqueles que sinceramente amam e respeitam (temem) ao Senhor (vv.5,6). 7 O grande ensino do AT resume-se no “temor do Senhor”; uma combinação perfeita de amor e obediência aos mandamentos de Deus é a chave para o sucesso perene na Terra e no céu. O sábio, portanto, é aquele que aprende a dedicar seu amor obediente (fiel) ao Senhor (Jó 28.28; Pv 1.7; 9.10, conforme Gn 20.11; Sl 19.7-9; 112.1). Capítulo 112 1 Este poema, um acróstico, descreve os caminhos de uma pessoa sábia, cujo coração verdadeiramente adora ao Senhor e alegremente se submete a seus princípios, enquanto complementa o salmo 111, que discorre sobre os caminhos de Deus. 2 Aquele que deposita sua confiança e felicidade na vontade do Senhor também é contemplado com alegrias humanas inesperadas (1Rs 3.10-14; Mt 6.31-33). O justo e piedoso produz bênçãos para seus filhos, e ele mesmo poderá ser contemplado com o reflexo dessas bênçãos em sua descendência (v.6; 37.26; 127.3-5; 128.3; 109.12). Fartura e riqueza são promessas que acompanham aqueles que temem ao Senhor (v.9; 1.3,5; 128.2). 3 Nesta metáfora sobre as horas difíceis e os tempos de crise, a que todos os seres humanos estão sujeitos, o salmista ressalta a fé daqueles que pertencem ao Senhor, para os quais as próprias circunstâncias adversas são oportunidades de serem iluminados e consolados e de experimentar o poder amoroso de Deus (Êx 34.6,7; Sl 107.10-14). 4 O grande segredo da felicidade é dar, com sabedoria e generosidade, em o Nome (em hebraico, indicação da presença divina) do Senhor (v.9; 34.8-14; 111.5,9). Quem serve a Deus com sinceridade e obediência não precisa temer qualquer inquérito humano. 5 Este é um versículo difícil de ser traduzido na atualidade, pois há um jogo de palavras envolvendo a expressão hebraica “chifre” como sinônimo de “poder”, cujo sentido era baseado na atitude altaneira e dominadora dos touros selvagens. Seus grandes e poderosos chifres eram um símbolo de poder e autoridade diante de todo o rebanho. Dessa imagem surgiu o termo “erguer a fronte” ou “levantar a cabeça”. Veja a transliteração deste versículo, a partir do original hebraico: Pizar natan laevionim, tsidcato omédet laad, carno tarum bechavod. Assim como as belas e frondosas árvores são podadas a fim de darem mais flores e frutos, da mesma maneira se desenvolve e produz aquele que dá com generosidade (2Co 9.7). 6 As ambições naturais da humanidade estão na contra mão da vontade declarada de Deus, por isso, a inveja e a avareza movem os corações na direção da perdição. Os salvos devem buscar o caminho da piedade e da generosidade rumo à plena felicidade (107.42; 111.10; 1.4-6; 10.2-11 conforme o Sl 37). Capítulo 113 1 No antigo Oriente Médio o nome de alguém revelava sua própria natureza e caráter. Os “servos do Senhor” são todos os crentes, aqueles que aceitam com prazer e voluntariedade a chamada de Deus, como na oração de Neemias em favor do seu povo (Ne 1.10). Várias fontes indicam que este hino foi composto originalmente para a liturgia no templo, em ato de adoração à sublime majestade e 115 que reina nas mais elevadas alturas, 6 mas se inclina bondosamente para contemplar o que se passa nos céus e na terra?2 7 Ele levanta do pó o necessitado e ergue do lixo o pobre, 8 a fim de estabelecê-los como príncipes do seu povo.3 9 Oferece uma família à estéril, e dela faz uma feliz mãe de filhos. Aleluia! Os milagres no Êxodo Quando Israel deixou o Egito, e a casa de Jacó se retirou do meio de um povo de língua estranha,1 2 Judá tornou-se o santuário de Deus, e Israel, o seu domínio.2 3 À vista disso, o mar fugiu, o Jordão voltou para trás; 4 os montes saltaram como cabritos, e como carneiros do rebanho, as colinas.3 5 Que tens, ó mar, que assim foges? E tu, Jordão, por que retrocedes? 6 Montes, por que saltais como cabritos? E 114 SALMOS 113–115 vós, colinas, como carneiros do rebanho? 7 Estremece, ó terra, diante do Eterno, na presença do Deus de Jacó!4 8 Que converte as pedras em lago, e o rochedo em manancial de água.5 O único Deus verdadeiro Não a nós, SENHOR, nenhuma glória a nós, mas, sim, ao teu Nome, por teu amor e por tua fidelidade!1 2 Por que questionam as nações: “Onde está o seu Deus?”2 3 Nosso Deus está nos céus; tudo o que deseja, Ele tem o poder de realizar. 4 Os ídolos deles são prata e ouro, obras de mãos humanas. 5 Têm boca, mas não são capazes de falar, olhos mas não podem ver;3 6 têm ouvidos, mas não conseguem ouvir; nariz, mas não possuem olfato. 7 Suas mãos não apalpam; seus pés não caminham; som nenhum emite sua garganta. 115 misericórdia do Senhor (138.6). Este salmo inicia o chamado “Halel Egípcio” (Sl 113 a 118), que veio a ser usado na liturgia judaica durante as grandes festas religiosas (Páscoa, Semanas, Tabernáculos, Lua Nova, Dedicação – Lv 23; Nm 10.10; Jo 10.22). Na Páscoa, por exemplo, os Sl 113 e 114 eram cantados antes das refeições, e os Sl 115 a 118 logo depois das ceias (Sl 111). 2 Jesus Cristo é o Deus transcendental e imanente: separado de nós por causa da sua justiça santa e imaculada, mas próximo e sensível aos nossos sofrimentos e fraquezas, por meio do amor e da compaixão encarnada na pessoa do Filho (Hb 6.7-10). Jesus experimentou as angústias humanas e venceu-as como Filho do Eterno Deus, Autor da nossa eterna Salvação e reconciliação com Deus (2Co 5.18). 3 Todos os renascidos em Cristo são parte de um novo povo, formado de príncipes (1Pe 2.9). Capítulo 114 1 Magnífica obra poética e um dos mais belos hinos de louvor e adoração a Deus no Saltério. Sua datação encontra-se no período da monarquia, algum tempo depois da divisão do reino. Foi composto tendo em vista a celebração do Êxodo (o grande acontecimento remidor do AT) e sua execução litúrgica no templo, durante as grandes festas religiosas que ocorriam de ano em ano, em Israel ou Casa de Jacó (Êx 19.3; Sl 113). 2 Judá e Israel, os reinos do sul e do norte, são considerados aqui como uma única nação, povo de Deus. A comemoração principal foi a aliança firmada no Sinai, onde Israel passou a ter comunhão íntima com o Senhor como “um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Êx 19.3-6). Deus manifestava sua presença ao mundo, simbolicamente por meio do Tabernáculo, durante a peregrinação no deserto, e mais tarde no Templo. A própria “Terra Prometida” é chamada figuradamente de “santuário de Deus” (Êx 15.17). 3 Assim como outros profetas, o salmista evoca uma cena de grandes transformações geológicas, abalos sísmicos e fenômenos naturais, (18.7-15; 68.7,8; 77.16-19; Jz 5.4,5; Hc 3.3-10). 4 Jacó como sinônimo de Israel (Gn 32.28). 5 Assim, o Senhor zela pela preservação dos seus filhos, em meio às provações (Êx 17.6; Nm 20.11). Capítulo 115 1 As bênçãos divinas e o zelo de Deus para com seu povo são decorrência da sua fidelidade (aliança eterna – 6.4; 26.3). O Senhor é invisível, mas Todo-Poderoso, sensível e imutável. Os ídolos pagãos são bem visíveis, feitos em pedra, madeira ou metais, mas absolutamente desprovidos de poder real e comunicação; cabendo aos demônios e ao próprio ser humano emprestar-lhes qualquer sentido ou manifestação. O “Nome” do Senhor é sempre a indicação da presença divina, de sua pessoa gloriosa (5.11). 2 Sempre que os filhos de Deus são provados, ou a nação de Israel é submetida a castigos, por meio dos fenômenos naturais (Jl 2.17), guerras e destruição de toda espécie, surgem os zombadores pagãos (79.10; Mq 7.10; Mt 24). 3 Quando o povo de Israel é abençoado com vitórias e prosperidade é Deus quem age; quando é castigado ou chora, o templo do Senhor é nivelado ao chão, é Deus quem executa o juízo (113.5). Nenhum outro deus ou ídolo tem qualquer poder que se compare à vontade soberana do Senhor Yahweh (o Nome de Deus em hebraico). SALMOS 115, 116 116 Sejam como eles quem os fabrica e todos os que neles depositam confiança!4 9 Confia no SENHOR, ó Israel! Ele é o seu auxílio e o seu escudo. 10 Confiai no SENHOR, ó casa de Arão! Ele é o seu socorro e sua proteção.5 11 Vós, que temeis o SENHOR, confiai no SENHOR! Ele é seu amparo e segurança.6 12 O SENHOR lembra-se de nós; Ele nos abençoará! Derramará suas bênçãos sobre os israelitas, abençoará seus sacerdotes. 13 Ele abençoa os que temem o SENHOR, tanto pequenos quanto grandes. 14 O SENHOR vos multiplique bênçãos e mais bênçãos, sobre vós e vossos filhos! 15 Sede abençoados pelo SENHOR que fez os céus e a terra. 16 Os céus são os céus do SENHOR, mas a terra, deu-a aos filhos de Adão!7 17 Não estão os mortos a louvar o SENHOR, nem os que descem à região do silêncio. 18 Mas nós bendiremos o SENHOR, desde agora e para sempre. Aleluia! 8 Ações de graças pela salvação Eu amo o SENHOR, porque Ele ouve minha voz e as minhas orações. 116 2 Porque inclinou para mim seu ouvido e, portanto, enquanto eu viver, o invocarei.1 3 Os laços da morte me envolveram e, surpreendido pelas tribulações do inferno, encontrava-me em profunda angústia e tristeza. 4 Invoquei o Nome do SENHOR: “Ó, SENHOR, liberta-me!” 5 O SENHOR é benevolente e justo, nosso Deus é misericordioso. 6 O SENHOR cuida das pessoas simples; quando já não tinha mais forças, Ele me salvou.2 7 Volta, minha alma, ao teu repouso, porquanto o SENHOR tem sido generoso para contigo! 8 Visto que me livraste da morte; das lágrimas, meus olhos, e meus pés, da queda, 9 andarei na presença do SENHOR, na terra dos vivos.3 10 Conservei a confiança, mesmo quando dizia: “Estou sobremodo aflito”.4 11 Eu dizia em minha consternação: “Ninguém é digno de confiança!”5 12 Como poderei retribuir ao SENHOR todos os seus benefícios para comigo? 13 Elevarei o cálice da salvação e invocarei o Nome do SENHOR.6 4 São fúteis, vazios e iludidos, todos os que depositam sua fé em qualquer ser ou matéria criada, em vez de confiar absolutamente em Deus, o Criador (135.15-18; Is 44.9-20; 46.1-7; Rm 1.23). 5 Algumas versões usam a expressão “sacerdotes” em vez de “casa de Arão”, pois os manuscritos em hebraico se referem aos descendentes do primeiro sumo sacerdote, responsáveis por todas as obrigações sacerdotais. 6 As repetições poéticas seguem uma convenção litúrgica e enfatizam o convite para confiarmos plenamente no Senhor, e jamais temermos ou alimentarmos superstições ou qualquer tipo de adoração aos ídolos (96.1-3; 118.2-4; 135.19,20). Nenhuma descendência genética (v.9) ou ordenação sacerdotal (v.10) é suficiente para que uma pessoa venha a pertencer ao grupo dos que “verdadeiramente temem ao Senhor” (Jo 4.24; 1Rs 8.41-43; Ed 6.21; Ne 10.28). 7 Doxologia final por parte da congregação reunida em louvor ao Senhor (vv.16-18). Capítulo 116 1 O salmista repete sua declaração de amor e fé no Senhor nos vv. 13 e 17. Esse testemunho individual nos revela que a adoração, antes de ser uma expressão coletiva, é o testemunho pessoal de cada crente que aprendeu a amar o Senhor, reconhecendo a grandeza do seu amor leal e perdoador por todos nós (Rm 5.8). Invocamos o Nome do Senhor, na certeza de que ele nos ouve sempre (1Rs 18.24). 2 A expressão “simples” aqui, tem o sentido de “semelhante a uma criança”, em sua fé e senso de dependência e confiança no Pai (19.7). 3 Andar com Deus é viver em comunhão (amizade leal e confiante) com o Senhor (Gn 5.22; 17.1). 4 Mesmo sob as mais terríveis e persistentes provações, o crente expressa sua confiança no amor leal e salvador do Senhor (5.9; 10.7; 109). 5 Somente o Senhor pode nos oferecer seu amor leal e livramento incondicional. Todos os seres humanos, ainda que os vínculos afetivos sejam os mais íntimos, são limitados e oferecem uma esperança de real ajuda bastante frágil e relativa (60.11; 118.8,9). 6 O copo de vinho, que faz parte da refeição festiva de ações de graças, chamado de “cálice da salvação” (Lv 7.11-21; Sl 22.26-29); da Páscoa (e também da Ceia de Cristo), e que relembra o dia da libertação dos israelitas da escravidão no Egito, é, também, para o cristão, o memorial e a celebração do dia em que o Filho de Deus salvou todo aquele que nele crê, por meio do seu sacrifício vicário na cruz (Mt 26.27). 117 Cumprirei meus votos para com o SENHOR na presença de todo o seu povo. 15 Custa muito ao SENHOR ver morrer 14 seus fiéis.7 16 Ah! SENHOR, bem que sou teu servo. Sim, sou teu servo, filho de tua serva; livraste-me dos meus grilhões. 17 Eu te oferecerei um sacrifício de ação de graças, invocando o Nome do SENHOR. 18 Cumprirei meus votos para com o SENHOR, na presença de todo o seu povo, 19 nos átrios da Casa do SENHOR, no seu interior, ó Jerusalém. Aleluia! O mundo deve adorar a Deus Nações todas, louvai o SENHOR; povos todos, glorificai-o!1 2 Porquanto seu amor nos ultrapassa, e a fidelidade do SENHOR é para toda a eternidade. Aleluia!2 117 O júbilo dos que amam a Deus Louvai ao SENHOR, porque Ele é bom, porque seu amor permanece para sempre.1 2 Diga Israel: “Seu amor é para sempre!” 3 Declare a casa de Arão: “Seu amor é para sempre!” 4 Proclamem todos os que temem o SENHOR: “Seu amor é para sempre!”2 118 SALMOS 116–118 Em meio à tribulação invoquei o SEe o SENHOR me respondeu, pondome a salvo! 6 O SENHOR está comigo, nada temerei! O que podem me fazer os homens? 7 O SENHOR está comigo; Ele é meu ajudador. Verei a derrota dos meus adversários! 8 Melhor é refugiar-se junto ao SENHOR do que depositar qualquer confiança na humanidade. 9 Melhor é buscar refúgio no SENHOR do que confiar em príncipes! 10 Todas as nações se uniram contra mim; mas em Nome do Eterno as rechacei. 11 Cercaram-me por todos os lados, mas em o Nome do SENHOR eu as derrotei. 12 Cercaram-me como um enxame de abelhas, mas logo se extinguiram como espinheiros secos, em chamas. Em Nome do SENHOR eu as venci! 13 Com violência me empurraram para me fazer cair, contudo o Eterno me amparou. 14 O SENHOR é minha força e o meu cântico; Ele é a minha Salvação!3 15 Jubilosos brados de vitória ressoam nas tendas dos justos: “A destra do SENHOR realiza maravilhas! 16 A mão direita do SENHOR é exaltada! A destra do Eterno age com poder!” 17 Portanto, não morrerei, mas vivo per5 NHOR, 7 A expressão hebraica literal “Para o Senhor preciosa é a morte dos seus fiéis” tem o objetivo de comunicar o extremo valor que Deus atribui à alma de qualquer dos seus filhos (72.14; Fl 1.21). Capítulo 117 1 Este é o salmo mais breve do Saltério (e o capítulo mais curto de toda a Bíblia também). É considerado uma espécie de “Aleluia” expandido e conclusão vitoriosa da coletânea dos salmos 111 a 116. Todos os povos, raças, nações e culturas são conclamadas a louvar o Nome (a presença) do Senhor (47.1; 67.3-5; 96.7; 98.4; 100.1). 2 Esta canção retoma o “Aleluia” final do Sl 116, para salientar que o maior motivo de louvor dos seres humanos está no amor leal (no original hebraico: amor-e-fidelidade), com o qual Deus tem abençoado seu povo por toda a terra (3.7; 6.4; 36.5). Paulo faz questão de citar este salmo para lembrar aos gentios (todos os não judeus) que a salvação deles e de todas as pessoas da terra, assim como a conseqüente glorificação universal do Senhor, fora planejada por Deus desde a fundação dos tempos (Rm 15.11; Is 11.10). Capítulo 118 1 Um rei davídico dirige a nação numa liturgia de ações de graças por um grande livramento e vitória contra os ataques de uma confederação de nações inimigas. Um hino de louvor e adoração é entoado alegre e responsivamente pelo povo, durante suas procissões solenes para a Casa de Deus (2Cr 20.27,28; Ed 6.16; Ne 12.37-43; Sl 113). Este, inclusive, pode ter sido o hino cantado por Jesus e seus discípulos, após a Última Ceia (Mt 26.30). 2 A expressão hebraica original “a casa de Arão” refere-se aos “sacerdotes” (v.3). Aqui temos uma convocação litúrgica geral, a todos os grupos de crentes, para proclamarem seu louvor ao Senhor (vv.2-4; 115.9-11). A tríplice repetição é característica poética de alguns salmos (96.1-3). 3 Testemunho vivo, não apenas de Moisés e do rei Davi, mas de todo o povo de Israel que, ao longo da História tem sido cercado e ameaçado por vários inimigos. Jamais foi totalmente destruído, e sempre assistiu aos poderosos e maravilhosos livramentos providos pelo amor leal e redentor de Deus (Êx 15; Is 12.2). SALMOS 118, 119 118 manecerei para proclamar as obras do SENHOR. 18 O SENHOR severamente me castigou, mas não me entregou à morte.4 19 Abri-me as portas da justiça, pois desejo entrar para dar graças ao SENHOR.5 20 Esta é a porta do Eterno, pela qual entrarão os justos. 21 Eu te exalto, porque me respondeste e foste minha salvação. 22 A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular,6 23 pois assim determinou o Eterno. Maravilhoso é isso para nós! 24 Este é o dia com que nos presenteou o SENHOR: festejemos e regozijemo-nos nele! 25 Rogamos a ti, ó SENHOR, salva-nos e faze-nos prosperar. Bendito seja o que vem em Nome do SENHOR. Da Casa do Eterno nós vos abençoamos! 27 O SENHOR é Deus, e Ele fez resplandecer sobre nós a sua luz. Trançai as guirlandas da festa até as pontas do altar! 28 Tu és o meu Deus, eu te louvarei; ó meu Deus, eu te exaltarei! 29 Louvai ao SENHOR, porque Ele é bom, porque seu amor leal dura eternamente! 26 A excelência da Palavra de Deus Alef Bem-aventurados aqueles cujos caminhos são íntegros e que vivem de acordo com a Lei do Eterno!1 2 Felizes os que guardam suas prescrições e o buscam de todo o coração; 3 e, não se entregando à prática de ini- 119 4 A expressão “os justos” refere-se idealmente ao povo de Israel em geral (judeus e gentios que amam e servem ao único e verdadeiro Deus – Yahweh ). Este é o testemunho dos que vivem na Casa de Deus (v.15), pois receberam a salvação (livramento) do Senhor em suas próprias vidas (v.16) e, portanto, têm a certeza de estar caminhando para a vida eterna (v.17). Sabem, contudo, reconhecer quando são disciplinados e corrigidos pelo Senhor (sempre para a vida), a fim de que seus corações se mantenham humildes e obedientes ao Pai (v.18; 6.1; 38.1; 94.12; Dt 4.36; 8.5). 5 O grande cortejo dos adoradores começava fora da Cidade Santa, e o salmista refere-se às portas de Jerusalém, pelas quais deveriam passar “os justos” (perdoados e salvos pelo Senhor). A procissão litúrgica aproximava-se do pátio interior do templo, entoando hinos de louvor a Deus (24.7; Is 26.2). O v.20 pode ser assim transliterado, a partir dos originais hebraicos: Zé hasháar ladonai, tsadikim iavôu vo. 6 Uma referência ao rei de Israel, que havia sido rejeitado e ridicularizado por reis mundanos que invadiram seus domínios. A expressão hebraica original “pedra angular” significa, literalmente, “cabeça de esquina” ou “pedra principal”, usada para ancorar e alinhar a esquina de uma grande parede. Os vv.22 e 23 podem ser assim transliterados: Éven maassu habonim, haieta lerosh pina. Meet Adonai háita zot, hi niflat beenênu. O salmista faz um jogo de palavras, criando uma metáfora para a expressão “cabeça”, ou seja, “governante ou principal líder” (Is 19.13; Jz 20.2; 1Sm 14.38). O povo de Israel, desprezado por diversos impérios, por ser uma nação pequena, e pelos filósofos pagãos, por ser um povo considerado de mente fechada (por crer em apenas um Deus), é a parte mais gloriosa do magnífico edifício das realidades espirituais. Jesus Cristo aplicou esta passagem (vv.22 e 23) como profecia sobre sua própria pessoa e obra, bem como sobre sua Igreja (Mt 21.42; Mc 12.10,11; Lc 20.17; At 4.11; Ef 2.20; 1Pe 2.7). Capítulo 119 1 Este é um dos poucos salmos compostos como obra literária, para leitura e meditação, mais do que peça musical. O salmista escreveu com o objetivo de ministrar instrução sacerdotal na prática da piedade e devoção religiosa (vv.23,57). O autor foi um sacerdote israelita, pós-exílico, absolutamente convencido quanto à verdade e magnificência da Palavra de Deus como Palavra da Vida. Diante do esplendor da Palavra, o salmista reconhece seu coração errante e agradece pelos castigos e repreensões do Senhor, sem os quais, a natural arrogância humana não lhe teria permitido receber a graça de Deus para compreender a Verdade. O salmo é acróstico, isto é, cada grupo de oito versículos segue uma letra do alfabeto hebraico (Alef, Bet, Guimel, até Tav). Enquanto outros salmos destacam os atos poderosos de Deus na criação e na redenção, bem como seu pleno poder (soberania), aqui o tema dominante é a total fé e devoção ao Deus da Palavra. O autor ressalta dois aspectos dessa Palavra: os mandamentos de Deus para a vida e as promessas do Senhor – que pedem dos seus adoradores (crentes), fé e obediência (os dois princípios da verdadeira piedade – 34.8-14). O salmista faz uso de vários termos hebraicos, todos relativos às diretrizes e à Lei de Deus: torah ou torá (Lei); ‘edot (estatutos, prescrições, testemunhos); piqqudim (preceitos); mitswot (mandamentos); mishpatim (ordenanças, decisões); huqqim (decretos) davar (palavra);´imarah (promessa). Este versículo pode ser assim transliterado, a partir dos originais hebraicos: Álef – Ashrê temimê dárech, haholechim berotat Adonai. Alef é a primeira letra do alfabeto hebraico (alefbets, com 22 letras), cujo som corresponde à nossa letra “A”, e é usada também para representar o valor numérico 1. Entretanto, as civilizações ocidentais modernas adotaram alfabetos compostos por letras romanas e algarismos arábicos. Os acentos massoréticos (pontinhos e outros sinais gráficos e vocálicos ao redor das consoantes hebraicas) foram criados somente por volta do séc.VII d.C. Até então, a língua hebraica era estritamente consonantal (sem qualquer vogal ou acento gráfico). 119 qüidades, seguem seus caminhos no SENHOR.2 4 Promulgaste teus preceitos, para que sejam observados com diligência. 5 Tomara se firme minha conduta, para que eu observe teus decretos!3 6 Então, não terei de me envergonhar, se ficar atento a todos os teus mandamentos. 7 Vou louvar-te com coração reto, ao aprender tuas justas decisões. 8 Observarei os teus decretos: não me abandones de todo! Bet 9 Como pode um jovem conservar puro o seu caminho? Vivendo-o de acordo com a tua Palavra.4 10 De todo o coração eu te procurei: não deixes que me afaste de teus mandamentos! 11 Em meu coração conservei tua promessa para não pecar contra ti. 12 Bendito sejas, SENHOR! Ensina-me teus decretos! 13 Com meus lábios tenho enumerado todas as decisões de tua boca. 14 No caminho de tuas prescrições encontrei alegria, como em grandíssima fortuna. 15 Em teus preceitos quero meditar, e ficar atento às tuas veredas. 16 Encontro minhas delícias em teus decretos; não me esqueço de tua Palavra. Guimel 17 Em tua misericórdia acolhe teu servo, para que eu viva e obedeça à tua Palavra!5 18 Abre meus olhos para que veja as maravilhas que resultam de tua Lei. SALMOS 119 Sou um peregrino sobre a terra: não ocultes de mim teus mandamentos! 20 Minha alma se consome, desejando as tuas ordenanças para cada instante. 21 Ameaçaste os soberbos, os malditos, que de teus mandamentos se desviam. 22 Livra-me da afronta e do desprezo, pois obedeço às tuas orientações. 23 Mesmo que os príncipes se assentem para conspirar contra mim, ainda assim o teu servo refletirá sobre os teus decretos. 24 Tuas ordenanças fazem as minhas delícias, são minhas conselheiras. Dalet 25 Minha alma está abatida até o pó: reanima-me, segundo tua Palavra!6 26 A ti relatei todas as minhas atitudes, e Tu me respondeste. Ensina-me teus decretos! 27 Faze-me discernir o caminho de teus mandamentos, e meditarei em tuas maravilhas. 28 Minha alma se consome na tristeza: reergue-me, segundo a tua Palavra! 29 Afasta-me do caminho enganoso, e favorece-me com tua Lei. 30 Escolhi o caminho da felicidade, coloquei diante de mim as tuas decisões! 31 Mantenho-me apegado às tuas ordenanças: SENHOR, não me deixes passar vergonha! 32 Corro pelo caminho de teus mandamentos, pois me alargas o coração. He 33 SENHOR, indica-me o caminho de teus decretos, e a eles obedecerei até o fim.7 34 Dá-me entendimento, para que eu 19 2 Bem-aventurados ou muito felizes são expressões que têm seu pleno significado na pessoa e obra de Jesus Cristo (Mt 5.1-12). Os estatutos ou prescrições do Senhor, referem-se ao termo hebraico‘edot, expressão ligada à aliança de Deus, cujo sentido está associado às estipulações determinadas pelo Senhor (Dt 4.45; Sl 4.7; 25.10). 3 Devemos almejar uma vida pura para compreender bem a Palavra de Deus; e obedecer a essa Palavra, para desfrutar de uma vida plena. Os conselhos de Deus são imutáveis (Dt 6.2; 28.15,45; 30.10,16; 1Rs 11.11). 4 Uma pergunta vital e uma resposta infalível aos jovens de todas as épocas, segundo o estilo sapiencial dos mestres e sacerdotes judaicos. Bet é a segunda letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 2 e corresponde à nossa letra “B” (vv.9-16). 5 Os melhores conselhos devem ser buscados em oração e na leitura atenta da Bíblia. Guimel é a terceira letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 3 e corresponde à nossa letra “G” (vv.17-24). 6 A verdadeira oração ao Senhor não é apenas uma reza repetitiva ou um mantra sem fim, mas o abrir sincero do mais íntimo do coração em diálogo com o Pai ( Abba, em aramaico, a forma como Jesus se referia a seu Pai – Mc 14.36), ou seja, expor perante o Senhor “nossos caminhos” e aceitar dele as orientações de que necessitamos. A vida espiritual tem por princípio uma escolha pessoal, livre, decidida e irrevogável (Ez 18.27,28; Jr 9.23-24). Dalet é a quarta letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 4 e corresponde à nossa letra “D” (vv. 25-32). 7 Somente uma pessoa verdadeiramente convertida ao Senhor pode compreender a alegria inefável de obedecer à Palavra de Deus e assim glorificar seu Nome (1Co 9.19-23). Esse foi o principal pedido do maior de todos os reis da terra, Salomão (1Rs SALMOS 119 120 observe a tua Lei e a guarde de todo o coração! 35 Encaminha-me na senda de teus mandamentos, pois nela encontro meu pleno prazer. 36 Inclina meu coração para os teus estatutos e não para a ganância! 37 Desvia meus olhos do fascínio da ilusão, faze-me viver em teu caminho. 38 Mantém com teu servo a tua promessa feita aos que te temem! 39 Desvia o insulto que me amedronta, pois são boas as tuas ordenanças. 40 Como anseio pelos teus preceitos! Preserva a minha vida, por tua justiça. Vav 41 Venham sobre mim, SENHOR, os dons do teu amor; tua salvação, segundo a tua promessa!8 42 Então terei como responder àqueles que me afrontam, pois confio em tua Palavra. 43 Jamais me tires da boca a palavra da verdade, pois espero em tuas ordenanças! 44 Cumprirei, sem cessar, a tua Lei para todo o sempre. 45 Andarei em verdadeira liberdade, porquanto tenho buscado os teus preceitos. 46 Diante de reis falarei dos teus testemunhos sem ficar envergonhado! Encontro todo o prazer em teus mandamentos; eu os amo sinceramente. 48 Levanto as mãos para teus mandamentos, que muito amo, e meditarei em teus decretos. Zayin 49 Lembra-te da tua Palavra ao teu servo, pela qual me encheste de esperança!9 50 Isto me consola na minha aflição: que tua promessa me vivifica. 51 Os arrogantes zombam de mim o tempo todo, mas eu não me desvio da tua Lei. 52 Lembrei-me, SENHOR, de tuas decisões de outrora, e fiquei consolado. 53 Arrebatou-me a indignação contra os ímpios que abandonaram tua Lei. 54 Teus decretos tornaram-se meus cânticos, na casa onde vivo como migrante. 55 Durante a noite lembro-me do teu Nome, SENHOR, e faço guarda à tua Lei. 56 Este tem sido meu estilo de vida: obedecer aos teus preceitos! Het 57 Tu és minha herança, SENHOR; prometi obedecer à tua Palavra!10 58 De todo o coração suplico o teu favor: sê-me propício, de acordo com a tua promessa! 59 Refleti sobre os meus caminhos, e vol47 3.6-15). Entretanto, a “cobiça” foi o pecado que motivou Eva e seu marido Adão a quebrarem sua parte na aliança com Deus e prejudicarem toda a raça humana, pela desobediência explícita à vontade declarada do Senhor (Gn 3.1-7; Js 7.1-12; Tg 1.13-15). Junto à “cobiça” (v.36) e à vida libertina dos soberbos (v.21), nasce a “arrogância”, que é a luta frenética do “Eu” contra “Deus”. A promessa de Deus é cumprida plenamente em Jesus Cristo (89.26-37; 130.4; 2Sm 7.25,26; 1Rs 8.39,40; Jr 33.8,9; Hb 1.1-5). He é a quinta letra do alfabeto hebraico, pode ser utilizada como artigo definido (o,a,os,as), tem valor numérico 5 e corresponde à nossa letra “H” (vv.33-40). 8 O salmista demonstra como devemos buscar ao Senhor de todo o coração: suplicando, antes de tudo, para que a misericórdia e o poder da sua Palavra sejam sempre bênçãos presentes em nossas vidas. A presença de Deus (seu Nome) na vida do crente lhe concede coragem e santa ousadia, até mesmo diante dos insultos dos maiores adversários (At 4.19-20; Jo 7.17; 1Pe 2.6; 3.14,15). A expressão “liberdade” pode ser aqui traduzida literalmente por “um espaço amplo”. É um grave erro imaginar que ao obedecer verdadeiramente à Palavra corre-se o risco de estreitar a capacidade analítica e criativa. Em Cristo gozamos a plenitude da liberdade (Gl 5.1). O crente jamais será escravizado ou derrotado pela aflição ou opressão (v.45; 18.19). Vav é a sexta letra do alfabeto hebraico, pode ser usada como vogal (o,u) ou como conjunção (e), tem valor numérico 6 e corresponde à nossa letra “V” (vv.41-48). Alguns hebraístas transliteram essa letra como “Vav”, o que permitiu a certos pesquisadores afirmar que o último e mais terrível anticristo (Ap 13.18) seria a rede mundial de computadores, conhecida como “internet” ou World Wide Web. Dedução obtida a partir da simples tradução do valor numérico de cada letra “Waw” ou “Vav” (www ou 666). Entretanto, o número misterioso relatado em Apocalipse é seiscentos e sessenta e seis, formado por diferentes letras hebraicas ou gregas. 9 Na Palavra de Deus encontramos todo o consolo e direção de que necessitamos, sejam quais forem as circunstâncias à nossa volta (Hb 6.12). Nem mesmo a morte tem poder sobre a vida do crente (v.50; Ef 2.1; 1Pe 1.23). Satanás e seus adeptos sempre se utilizam do sarcasmo e das zombarias para tentar desviar o crente de sua devoção ao Senhor (v.51; At 17.18). A vida na terra é considerada como breve peregrinação e morada em tenda frágil, mas, para quem deposita sua fé no Senhor, a vida é um perpétuo hino de louvor e vitória (2Co 2.14; 5.1-4) Zayin é a sétima letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 7 e corresponde à nossa letra “Z” (vv.49-56). 10 Deus (Yahweh – Jeová) se dá, ao crente, na pessoa de Jesus Cristo, a fim de ser o cumprimento perpétuo da nossa herança 121 to meus passos para a observância das tuas prescrições! 60 Apressei-me, sem perder um instante, em observar os teus mandamentos. 61 Os laços dos ímpios me envolveram, mas não me esqueci de tua Lei. 62 Levanto-me em plena noite para te louvar, por causa de tuas justas decisões. 63 Associo-me a todos os que te temem e observam tuas ordenanças. 64 SENHOR, do teu amor a terra está repleta: ensina-me teus decretos! Tet 65 Trataste teu servo com extrema bondade, segundo a tua Palavra, SENHOR.11 66 Ensina-me bom senso e entendimento, pois deposito toda a minha confiança em teus mandamentos. 67 Antes de ser humilhado, eu andava extraviado, mas agora aprendi a obedecer à tua Palavra! 68 Tu és bom, e tudo o que fazes é muito bom; ensina-me os teus decretos! 69 Os insolentes mancharam o meu nome com calúnias contra mim; mas eu, de todo o coração, obedeço aos teus preceitos. 70 O coração deles é absolutamente insensível; eu, contudo, tenho prazer na tua Lei. 71 Foi bom para mim ter sido castigado, para que aprendesse os teus decretos. 72 A Lei de tua boca vale, para mim, muito mais do que milhões em ouro e prata. Yud SALMOS 119 As tuas mãos me criaram e me formaram; dá-me entendimento para aprender os teus mandamentos!12 74 Ao me verem, alegram-se os que te temem, pois espero em tua Palavra. 75 Reconheço, SENHOR, que tuas decisões são justas; foi com lealdade que me castigaste! 76 Seja meu consolo o teu amor, segundo a promessa a teu servo. 77 Alcance-me a tua misericórdia para que eu tenha vida, porque a tua Lei é o meu grande prazer! 78 Sejam humilhados os arrogantes, pois muito me prejudicaram sem motivo; mas eu refletirei nos teus preceitos. 79 Venham apoiar-me aqueles que te temem, aqueles que compreendem os teus estatutos! 80 Que meu coração seja íntegro em teus decretos, para eu não ter de me envergonhar! Kaf 81 Minha alma quase desfaleceu, aguardando tua salvação; espero em tua Palavra.13 82 Meus olhos se consumiam, aguardando tua promessa, e eu me perguntava: “Quando me consolarás?” 83 Apesar de ser como uma vasilha inútil, não me esqueço dos teus decretos. 84 Até quando o teu servo deverá aguardar para que castigues os meus perseguidores? 85 Os insolentes cavaram fossos e cons73 (1Pe 3.4). A Palavra de Deus é o verdadeiro espelho no qual podemos ver refletidos nossos mais íntimos pensamentos e desejos (v.62; Tg 1.23-25) x Het é a oitava letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 8, e seu som gutural (produzido na garganta) corresponde ao nosso dígrafo aquele “RR” (vv.57-64). 11 Enquanto a absoluta confiança na Palavra de Deus nos leva à verdadeira e perene sabedoria, as aflições (provações) fazem nosso coração maleável aos desígnios do Senhor (v.58; 4.7). A ambição do justo é conquistar os valores eternos (73.26; Mt 6.1921). Tet é a nona letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 9 e corresponde à nossa letra “T” (vv.65-72). 12 O salmista nos exorta a reconhecer humildemente que aquele que nos criou tem todo o direito e poder de nos moldar à sua vontade. Portanto, o Senhor repreende e castiga todos aqueles que adota como filhos amados (51.4; 2Co 7.10; Hb 12.4-11). Deve haver uma fraterna comunhão entre todos aqueles que amam a Palavra de Deus em todo o mundo (At 2.42). Yud é a décima letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 10 e corresponde à nossa letra “Y” (ou “i”). É a menor das 22 letras que compõem o alfabeto hebraico, e por se tratar de um pequeno traço gráfico; servindo às vezes, como vogal, Jesus usou-a para enfatizar o total cumprimento de toda a Palavra de Deus na História (vv.73-80; Mt 5.18). 13 Mesmo enfrentando as mais adversas situações e enfermidades cruéis, o crente confia que a Palavra de Deus que lhe garante a graça e a misericórdia do Senhor jamais se extinguirão e que a felicidade eterna é seu destino final (Sl 83; Hb 2.11-12; Jo 10.10). A profecia contida neste salmo revela que Jesus Cristo, o Messias, foi vítima da falsidade e das armadilhas dos próprios mestres da Lei de seu tempo (v.85; Mc 12.13; Êx 20.16). Quando a causa é justa, é legítimo e oportuno pedir a intervenção e o livramento divino. Kaf é a décima primeira letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 20, e corresponde à nossa letra “K” (vv.81-88). SALMOS 119 122 truíram armadilhas para mim: eles não respeitam a tua Lei. 86 Todos os teus mandamentos são fidedignos: ajuda-me contra os que, injustamente, me perseguem! 87 Por pouco não me eliminaram da terra, eu, porém, não abandonei teus preceitos. 88 Segundo o teu amor, reanima-me para que eu observe a instrução que procede de tua boca! Lamed 89 Para sempre, SENHOR, está firmada a tua Palavra nos céus.14 90 Tua fidelidade dura de geração em geração: estabeleceste a terra, e ela permanece; 91 por tuas decisões permanecem até hoje, pois o Universo está a teu serviço. 92 Se tua Lei não fosse o meu maior prazer, o sofrimento já me teria consumido! 93 Jamais esquecerei os teus preceitos, pois por eles me fizeste reviver. 94 Salva-me, pois a ti pertenço e tenho procurado os teus preceitos! 95 Os ímpios estão à espreita para destruir-me, mas eu estou atento aos teus testemunhos! 96 Compreendi que toda perfeição tem limite; entretanto, não há limite para a tua Lei, cuja grandeza é infinita! Mem 97 Quanto amo a tua Lei! Sobre ela reflito o dia inteiro!15 98 Os teus mandamentos me fizeram mais sábio que meus adversários, por- quanto estão sempre comigo. Tornei-me mais perspicaz que todos os meus mestres, pois meditei em tuas prescrições. 100 Tenho mais discernimento que os anciãos, pois obedeço aos teus preceitos. 101 Desviei meus pés de todas as trilhas do mal para guardar a tua Palavra! 102 Não me afasto de tuas ordenanças, pois tu mesmo me ensinas. 103 Quão doces são os teus decretos ao meu paladar! Mais que o mel à minha boca. 104 Graças aos teus preceitos tenho entendimento; por isso, detesto todos os caminhos da mentira! Nun 105 Tua Palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho!16 106 Fiz um juramento, e o confirmo: obedecerei às tuas justas ordenanças. 107 Estou extremamente aflito: vivificame, SENHOR, segundo a tua Palavra! 108 Aceita, SENHOR, as ofertas de louvor de minha boca e ensina-me os teus juízos. 109 A minha vida está sempre correndo perigo, mas não me esqueço da tua Lei. 110 Os ímpios armaram-me uma cilada, mas não me desviei de teus preceitos. 111 Tuas prescrições serão sempre minha herança; elas são a grande alegria do meu ser! 112 Inclinei todo o meu coração a cumprir teus decretos para sempre, até o fim. Samek 99 14 A Palavra de Deus, soberana e imutável, governa e mantém todo o Universo e a criação sob seu atento cuidado. Essa Palavra (o Logos divino), mediante a qual Deus sustenta e dirige o mundo e tudo o que existe é eterna e fidedigna (v.90). Essa é a verdade maior que garante ao crente sua confiança nas leis e promessas do Senhor (19.1-4; 33.4,6; 93.5; 96.10; 107.20; 147.15,18) Lamed é a décima segunda letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 30 e corresponde à nossa letra “L” (vv.89-96). 15 A busca desesperada e frenética da Filosofia, na busca da razão da existência humana e do absurdo da vida, só encontra verdadeira e plena solução na Palavra de Deus. Todos aqueles que podem reagir afirmativamente a esta seção (vv.97-104) demonstram que já resolveram essa questão em suas existências e passaram da morte para a vida eterna. Os “anciãos” eram homens de idade avançada, experientes na vida e, especialmente, na aplicação prática e cotidiana da Palavra de Deus em suas atitudes e relacionamentos (v.102; Is 50.4-5). A verdadeira vida devocional é amar a Deus de todo o coração e meditar em sua Palavra (no original hebraico “leis ou decretos” – v.103) Mem é a décima terceira letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 40, e corresponde à nossa letra “M”. 16 Quando as maiores glórias humanas voltam ao pó, permanece gloriosa a Palavra de Deus (Is 40.6-8). O sacrifício da obediência lúcida, sincera e voluntária que produz o verdadeiro louvor e ações de graças é mais valioso do que todas as oferendas, cultos e ritos. É o sacrifício do próprio “Eu” em devoção ao Senhor (Hb 13.15). O mundo é articulado por Satanás, seus demônios e correligionários, no sentido de levar o maior número de pessoas ao pecado e à morte (v.110; 1Pe 5.8-9). Viver em comunhão eterna com o Senhor é o destino (legado, herança) dos escolhidos, daqueles que acolhem o dom da graça divina (v.111) Nun é a décima quarta letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 50, e corresponde à nossa letra “N” (vv. 105-112). 123 Detesto os inconstantes, mas amo a tua Lei.17 114 Tu és o meu abrigo e o meu escudo; e na tua Palavra deposito toda a minha esperança! 115 Afastai-vos de mim, malfeitores! Quero obedecer aos mandamentos do meu Deus! 116 Sustenta-me de acordo com a tua promessa, e eu viverei; não permitas que as minhas esperanças sejam frustradas! 117 Ampara-me, e estarei seguro! Sempre estarei atento aos teus decretos. 118 Repudias todos os que se desviam de teus ensinamentos, porquanto vivem em mentira e falsidade. 119 Reduziste a escória todos os ímpios da terra; por isso amo os teus decretos! 120 Por temor de ti, minha carne estremece, e eu temo as tuas ordenanças. Ayin 121 Tenho vivido com justiça e retidão; não me abandones nas mãos dos meus adversários!18 122 Garante o bem-estar do teu servo; não permitas que os arrogantes me oprimam. 123 Os meus olhos fraquejaram, aguardando a tua redenção e o cumprimento da tua promessa de justiça. 124 Trata, pois, o teu servo, conforme o teu amor leal, e ensina-me os teus decretos. 113 SALMOS 119 Sou teu servo: dá-me discernimento, para que eu conheça as tuas prescrições! 126 Já é tempo de agires, SENHOR, pois a tua Lei está sendo desrespeitada. 127 Por isso amo teus mandamentos muito mais que o ouro purificado. 128 Por isso considero totalmente retos todos os teus preceitos e detesto todas as trilhas da falsidade! Pê 129 Os teus testemunhos são admiráveis; por isso minha alma a eles obedece com alegria.19 130 A exposição das tuas palavras ilumina e dá entendimento aos inexperientes! 131 Abro a boca e suspiro, ansiando por teus ensinamentos. 132 Volta-te para mim e tem misericórdia de mim, como sempre fazes aos que amam sinceramente o teu Nome! 133 Firma meus passos em tua promessa e não permitas que mal algum me domine! 134 Livra-me da opressão dos homens, para que eu guarde teus preceitos! 135 Que tua face se ilumine sobre o teu servo, e ensina-me os teus decretos! 136 Meus olhos vertem torrentes de lágrimas, por não se guardar a tua Lei. Tsade 137 Justo és, ó SENHOR, e corretas são todas as tuas decisões!20 125 17 O ser humano perdeu a capacidade de, naturalmente, caminhar com Deus, fazer o bem e cumprir a verdade (Gn 3). Esse dom é restituído e ministrado apenas àqueles que aceitam, sinceramente, em seus corações, a graça salvadora do Senhor (Rm 7). A rejeição dos malignos é como a depuração do ouro, pelo fogo: o ouro fica mais puro e valioso, e a escória é abandonada (Mt 13.24-43). Samek é a décima quinta letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 60 e corresponde à nossa letra “S” (vv.113-120). 18 Como é difícil encontrarmos um fiador idôneo hoje em dia. Nosso maior fiador é Jesus Cristo que pagou nosso resgate com o valor do seu sangue na cruz (1Jo 2.1,2). A única medida de justiça que o crente pode pedir é a graça divina: o favor de Deus, não merecido. Os profetas do Senhor são unânimes em afirmar que se aproxima o Dia do Senhor, no qual a justiça de Deus será plenamente vindicada (Ap 6.16,17). Ayin é a décima sexta letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 70, e não tem um som característico, pois de fato não é lida, apenas serve de apoio para a vogal que normalmente a acompanha (vv.121-128). 19 A expressão “os inexperientes”, traduzida em algumas versões como “simples”, refere-se às pessoas cujos corações, dotados de humildade por Deus, são ensináveis (têm desejo de aprender). Jesus falava, por parábolas, com as crianças de seu tempo e elas o compreendiam bem (Lc 18.17). Se contemplarmos, pela fé, a face do Senhor, seremos transformados para viver de acordo com sua vontade (2Co 3.18). Pê é a décima sétima letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 80, e corresponde à nossa letra “P” (vv.129-136). 20 Deus é leal, em seu amor, e absolutamente infalível, em sua justiça. Portanto, todas as suas promessas se cumprirão cabalmente ao longo da História, conforme sua boa vontade e soberania (Hb 6.17-19). Foi o zelo pela Casa de Deus (que habita o corpo dos crentes e, conseqüentemente, a Igreja de Cristo), que levou Jesus a enfrentar os teólogos e religiosos de seu tempo (mestres fariseus) e, mais tarde, entregar-se a eles em sacrifício por toda a humanidade (v.139; Jo 2.13-22). O cuidado com a pureza e a santidade da Igreja era o fardo mais pesado e extenuante que o apóstolo Paulo carregava todos os dias (2Co 11.28-29). Mesmo que sejamos ou possamos nos sentir pequenos como Davi, é possível – pela fé e em o Nome do Senhor – vencer as maiores batalhas (v.141; 1Sm 17.41-51). Feliz é a pessoa que ama e confia na Palavra de Deus na hora das mais terríveis angústias e SALMOS 119 124 Promulgaste com justiça as tuas prescrições; e com plena fidelidade. 139 Meu zelo me consome, pois os meus adversários desdenham das tuas palavras. 140 A tua promessa foi absolutamente comprovada, e, por esse motivo, o teu servo a ama. 141 Sou insignificante e desprezado, contudo não esqueci teus preceitos. 142 Tua justiça é justiça eterna, e a tua Lei é a verdade! 143 Sobrevieram-me angústia e tribulação; todavia teus mandamentos são minha delícia. 144 As tuas prescrições são justiça eterna: dá-me discernimento para que eu tenha vida! Qof 145 Clamo de todo coração: respondeme, SENHOR! Quero obedecer a teus decretos.21 146 Clamo a ti: salva-me, para que eu possa observar as tuas prescrições! 147 Antes da aurora me levanto para suplicar o teu auxílio; em tua Palavra deposito toda a minha esperança! 148 Fico acordado nas vigílias da noite, a fim de refletir sobre as tuas promessas. 149 Ouve as minhas orações por teu amor leal; ajuda-me a viver, SENHOR, de acordo com as tuas ordenanças. 150 Aproximam-se esses infames, meus perseguidores, que se afastaram da tua Lei. 138 Entretanto, tu estás perto de mim, SEe todos os teus mandamentos são verdadeiros! 152 De tuas determinações sei, desde muito, que as estabeleceste para sempre! Resh 153 Vê minha aflição e liberta-me, pois não me esqueci de tua Lei.22 154 Advoga minha causa e defende-me; vivifica-me, segundo a tua promessa! 155 A salvação está longe dos ímpios, porque eles não buscam os teus decretos. 156 SENHOR, copiosa é a tua compaixão: vivifica-me, segundo as tuas decisões! 157 Numerosos são meus perseguidores e adversários, mas não me afastei de tuas prescrições. 158 Vi traidores da fé e senti desgosto, porque não guardavam a tua promessa. 159 Vê quanto amo os teus preceitos: vivifica-me, SENHOR, segundo o teu amor! 160 O princípio de tua Palavra é a verdade, e todas as tuas justas decisões são para sempre. Shin 161 Príncipes perseguiram-me sem motivo; mas é da tua Palavra que o meu coração sente reverente temor.23 162 Encontrei alegria em tua promessa, como quem encontra grande tesouro. 163 Detesto e abomino a falsidade, mas amo profundamente a tua Lei. 164 Louvo-te, sete vezes ao dia, por tuas justas ordenanças. 151 NHOR, sofrimentos; o céu e a vida eterna serão sua herança e glória (vv. 24,77,143). Tsade é a décima oitava letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 90, e seu som corresponde ao nosso “TZ”, pronunciado com a língua junto aos dentes frontais (vv.137-144). 21 À medida que o salmo se aproxima de sua conclusão, as súplicas por livramento (salvação) tornam-se mais evidentes e dominantes. A única fonte da verdadeira ética e moralidade é a Palavra de Deus (v.150; Jo 10.35). Qof é a décima nona letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 100, e corresponde à nossa letra “Q” (vv.145-152) 22 Quem se dedica a meditar na Palavra de Deus sabe como falar com o Senhor (v.153). Tudo o que pedirmos em o Nome de Jesus nos será feito; isso significa: pedir o que Jesus pediria ao seu Pai nesse momento e em seu lugar (Jo 14.13). A expressão original “em o Nome” tem o sentido da “própria presença excelsa do Espírito de Deus”. Os ímpios, todos que rejeitam a mensagem de salvação expressa na Bíblia, estão alienados de qualquer possibilidade de perdão e resgate divino (2Co 6.2). Deus criou o Universo e a humanidade por meio da sua Palavra (o Logos eterno, Jesus Cristo). A verdade da Bíblia tem seu paralelo na estrutura do Universo (Gn 1.3-9; Jo 1.1-3; Hb 1.3). Resh é a vigésima letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 200, e corresponde à nossa letra “R”, pronunciada por meio do tremer da língua entre os dentes (vv.153-160). 23 Se aprendermos a pontuar nosso dia-a-dia com pequenos momentos de louvor e ações de graças (um cântico, uma pequena oração, um breve meditar com sentimento de sincera adoração ao Senhor), compreenderemos muito melhor o que significa andar com Deus e manter comunhão com o Espírito Santo (v.23; 4.7). Paz e segurança pertencem àqueles que depositam toda a sua fé nas mãos do Senhor (Mt 28.20). Shin é a vigésima primeira letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 300, e corresponde às nossas letras “SH”, soando com o efeito sonoro de “X”, como em nossa palavra “Xícara”. Essa letra tem uma variação chamada Sin, de mesmo valor numérico, cujo som corresponde ao nosso “S”, como na palavra “Sopa” (vv.161-168). 125 Grande paz têm os que amam a tua Lei: para eles não há tropeço! 166 Espero de ti, SENHOR, a salvação, e pratico os teus mandamentos. 167 A minha alma tem observado as tuas orientações; e amo-as ardentemente. 168 Obedeço a todos os teus preceitos e testemunhos, pois conheces todos os meus pensamentos! Tav 169 Que meu clamor chegue à tua presença, SENHOR: concede-me entendimento, de acordo com a tua Palavra!24 170 Que minha súplica chegue à tua presença: livra-me, segundo a tua promessa! 171 Que meus lábios proclamem teu louvor, pois me ensinas teus decretos. 172 Cante minha língua tua promessa, pois todos os teus mandamentos são justos. 173 Venha tua mão em meu socorro, pois escolhi teus preceitos. 174 Anseio por tua salvação, SENHOR, e tua Lei é meu maior prazer! 175 Viva minha alma para te louvar, e tuas ordenanças me sustentem. 165 SALMOS 119, 120 Eu, como ovelha desgarrada, me desviei e me perdi: vem em busca de teu servo, pois jamais me esqueci dos teus mandamentos! 176 Oração contra os maldizentes Cântico de peregrinação.1 120 Em minha aflição invoquei o SENHOR, e Ele me respondeu.2 2 SENHOR, livra-me dos lábios caluniadores, da língua mentirosa e traiçoeira!3 3 O que te dar em paga, o que te retribuir em dobro, ó língua pérfida? 4 Contudo, Ele a castigará com as flechas afiadas de um guerreiro, com brasas incandescentes de sândalo.4 5 Infeliz de mim que vivo como forasteiro em Meseque, que habito entre as tendas de Quedar!5 6 Tenho passado tempo demais entre os que odeiam a paz. 7 Sou um homem de paz; no entanto, ainda que insista em falar de paz, eles preferem engendrar violências e brutalidades. 24 Deus havia prometido, na Antigüidade, que Ele mesmo falaria e ensinaria a seus filhos sobre o Caminho que deveriam seguir. Essa profecia se cumpre com a vinda de Cristo e, mais tarde, com o envio do Espírito de Deus para habitar no coração de todo crente sincero (Is 54.13; Jo 10.1-18, conforme Lc 15.4-7). O salmista reconhece que, apesar de toda a sua dedicação à Palavra de Deus, repetidas vezes desgarrou-se para outros caminhos (todos enganosos e de perdição – Is 53.6) e, como ovelha fraca, cega e perdida, somente poderia ser trazido de volta ao aprisco pelas mãos fortes e generosas do Pastor celestial. Não há lugar mais seguro e aconchegante que a Casa do Pai eterno, e sua Palavra está sempre apontando para o bom e verdadeiro Caminho (Lc 15.11-32). Tav é a vigésima segunda e última letra do alfabeto hebraico, tem valor numérico 400, e sua pronúncia corresponde à da nossa letra “T” (vv.169-176). Capítulo 120 1 Os salmos 120 a 134 formavam uma espécie de “hinário de bolso”, muito apreciado e intitulado “Cânticos de Romagem ou Peregrinação”. São breves peças poéticas e musicais, sobre variados assuntos teológicos, formando uma coletânea de ensinos e princípios bíblicos para serem decorados e cantados durante os afazeres cotidianos e as longas peregrinações anuais até a Cidade Santa de Jerusalém (Sl 84.5-7; Êx 23.14-17; Dt 16.16; Mq 4.2; Zc 14.16), nas quais os adoradores chegavam, cantando ao monte Sião, à Rocha de Israel (Is 30.29). A coletânea começa (Sl 120) narrando a experiência de um servo de Deus distante do seu lar e acossado por bárbaros (brutos, ignorantes), e termina com um testemunho de louvor e um convite à adoração pública no santuário (Sl 122 e 134). Evidentemente, esses salmos foram entoados nas liturgias do templo, conforme a disposição pós-exílica final dos textos sagrados no Saltério, que juntamente com os salmos 135 e 136 ficaram conhecidos como o “Grande Halel” (Sl 42, 43 e 84). 2 Expressão de absoluta confiança formulada em frases, cujos verbos estão originalmente, em hebraico, no tempo “perfeito de confiança”, com o sentido do presente: “invoco o Eterno e Ele me responde” (Sl 6.8-10). 3 O filho de Deus é advertido várias vezes nas Escrituras contra a maledicência que sempre o espreita (Ef 4.31; 5.4; 1Pe 2.1). 4 A madeira produzida pela pequena árvore do sândalo, zimbro ou giesta produz um fogo ardente, brasas muito vivas e duradouras, além de forte perfume característico. O óleo de sândalo era usado para curar feridas, assim como, suas brasas, para cauterizar ferimentos de guerra, normalmente provocados por material cortante (Pv 16.27; Tg 3.6). A língua é arma perigosa e destruidora (Pv 25.18; Jr 9.8; Sl 57.4; 64.3). Mas o castigo divino é resposta certa e à altura (Sl 7.11-13; 11.6; 63.9; 64.7,8). 5 Meseque ficava na região da Ásia Menor central (Gn 10.2) e Quedar, na Arábia (Is 21.16). Duas regiões de povos nômades e pagãos (incivilizados e sem fé em Deus), que procuravam impedir que os israelitas restaurassem a Cidade Santa. O salmista, acossado por caluniadores, sente-se inseguro, longe do afeto dos seus, e cercado por inimigos impiedosos e inflexíveis. Contudo, no coração onde habita a paz do Senhor há sempre a certeza da libertação e do juízo de Deus (v.3; 1Sm 3.17; Jo 14.27; At 9.31; 10.36; Rm 12.18; Cl 3.15). SALMOS 121, 122 126 Oração pela proteção do Senhor Súplica pela paz em Jerusalém 121 122 Cântico de peregrinação. Levanto meus olhos para os montes e questiono: de onde me virá o socorro?1 2 O socorro virá do meu SENHOR, o Criador dos céus e da terra! 3 Ele não deixará que teus pés vacilem; não pestaneja Aquele que te guarda.2 4 Certamente não! De maneira alguma cochila nem dormita o guarda de Israel. 5 O Eterno é o teu protetor diuturno; como sombra que te guarda, Ele está à tua direita. 6 Não te molestará o sol, durante o dia, nem de noite, a lua.3 7 O SENHOR te guardará de todo o mal, Ele protegerá a tua vida! 8 Estarás sob a proteção do SENHOR, ao saíres e ao voltares, desde agora e para todo o sempre!4 Cântico davídico, de peregrinação. Alegrei-me quando me convidaram: “Vamos à Casa do Senhor”.1 2 Eis que nossos pés chegaram às tuas portas, ó Jerusalém! 3 Cidade construída em bases sólidas, edificada para unir 4 todas as tribos do Eterno, em grande celebração de ação de graças ao Nome do SENHOR, conforme o mandamento dado a Israel.2 5 Lá estão os tribunais de justiça, a sede da casa real de Davi.3 6 Rogai ao Eterno pela paz de Jerusalém: “Prosperem os que te amam, ó Jerusalém!4 7 Haja paz dentro das tuas muralhas e segurança em teus palácios.” 8 Em favor dos meus irmãos e companheiros, suplicarei: “A paz esteja contigo!” 1 Diálogo litúrgico, de confissão e testemunho de fé absoluta no controle divino do Universo em geral e na vida pessoal do crente. Este desabafo e a expressão de louvor para com Deus podem ocorrer na intimidade do coração (como o refrão dos salmos 42 e 43); nas caravanas de peregrinos que vinham de lugares distantes para celebrar ao Senhor no templo em Jerusalém; ou na vida diária de todos nós, peregrinos rumo à glória eterna, na qual os crentes fiéis serão recebidos (Sl 33; 49.15; 73.24). Os povos pagãos, vizinhos a Jerusalém (como os baalins), costumavam cultuar entidades que dominavam os montes (literalmente no original hebraico: lugares altos) ao redor da região. Curiosamente, a cidade de Sião foi erguida sobre um desses montes (Sl 125.1,2; 87.1; 133.3). A vigilância amorosa e poderosa de Yahweh (Jeová) sobre seus filhos é um grande apelo para confiarmos em Deus em todas as circunstâncias. 2 Nosso Deus, Yahweh, é o único e verdadeiro Rei de toda a criação e nosso Senhor (Sl 124.8; 134.3; 33.6; 89.11-13; 96.4,5; 104.2-9; 136.4-9). Ele jamais se cansa ou se distrai em seu cuidado zeloso para conosco, ao contrário de todos os demais seres espirituais existentes (1Rs 18.27). 3 O salmista usa a metáfora dos luzeiros cósmicos para revelar a proteção ininterrupta de Deus – dia e noite – para com seus filhos (Is 4.6; 25.4,5; 49.10; Jn 4.8). 4 Esta é uma expressão hebraica usada em contextos militares, cuja transliteração, a partir dos originais, é Adonai yishmor tsetechá uvoêcha, meata vead olam (1Sm 29.6; 2Sm 3.25). Entretanto, o sentido mais amplo, nesse contexto, é a promessa da bênção perpétua do Senhor a seus filhos, mesmo atravessando as situações mais difíceis e tristes desta vida terrena e passageira (Dt 28.6). Capítulo 122 1 Hino de regozijo e louvor a Deus por causa da Cidade Santa (Sl 42; 43; 46; 48; 84; 87; 137, especialmente em suas introduções), cantado por um peregrino da casa de Davi, ao chegar em Jerusalém por ocasião de uma das principais festas religiosas do ano (Dt 16.16). Alegria por ter se unido ao grupo de peregrinos (Sl 120) a caminho da Casa de Deus, lugar onde a presença de Yahweh / Jeová era percebida com grande esplendor: o templo, uma representação da residência de Deus na terra, o Tabernáculo, a Igreja, o nosso próprio Corpo (Jo 2.21; Rm 8.11; 12.5; 1Co 6.15-20). 2 O verdadeiro culto a Deus é uma celebração na qual, além das nossas súplicas e petições, apresentamos ao Senhor nossa gratidão por tudo que Ele nos concede (Sl 116.12). A expressão “ao Nome do Senhor” indica, originalmente, a presença clara e real do Espírito de Deus naquele local ou circunstância. Este versículo pode ser transliterado, a partir dos originais hebraicos, desta forma: Hine lo ianum velo yishan, shomer Yisrael (Sl 5.11; 81.3-5; Dt 16.1-17). 3 Jerusalém é considerada tanto a Cidade Santa quanto a cidade majestosa da sua dinastia escolhida, por meio da qual Deus abençoa e protege todas as regiões de Israel e, idealmente, as demais nações da terra. Mesmo no período pós-exílico, continuou sendo celebrada como a cidade de Davi, mas isso mediante a fé messiânica (Sl 2.2; 6.7; 89.3-37; 110; 2Sm 7.8-16). 4 No original hebraico (aqui transliterado), há um jogo de palavras, significando que a palavra “Paz” é um conjunto de bênçãos: “perfeição, plenitude, contemplação, saúde e prosperidade”, ou seja, um estado de paz de espírito dinâmico e frutífero: Shaalu shelom Ierushaláyim, shalva bearmenotáyich (Sl 133). 127 9 Por amor à Casa do Eterno, nosso Deus, buscarei sempre o teu bem. Prece por rápido auxílio divino Cântico de peregrinação. 123 Ergo meus olhos em tua direção, a ti que habitas nos céus.1 2 Como os olhos dos servos estão atentos à mão de seus senhores, e os olhos da criada, à mão de sua senhora, assim nossos olhos estão voltados para o SENHOR, nosso Deus, até que Ele expresse sua misericórdia para conosco. 3 Piedade, SENHOR! Tem compaixão de nós! Porquanto estamos cansados de tanto desprezo. 4 Estamos fartos de tanta zombaria dos soberbos e da humilhação dos arrogantes!2 Ação de graças pela liberdade Um cântico davídico de peregrinação. 124 Se o SENHOR não estivesse do nosso lado, que Israel o repita:1 2 Se o SENHOR não estivesse do nosso lado, quando os inimigos nos atacaram, SALMOS 122–125 3 eles já nos teriam devorado vivos, quan- do se enfureceram contra nós. Então, as águas nos teriam arrastado e furiosas torrentes teriam feito submergir nossas almas.2 5 Sim, águas profundas e violentas nos teriam afogado! 6 Bendito seja o SENHOR, que não nos entregou para sermos dilacerados pelas presas e garras ferinas do inimigo.3 7 Como um pássaro, escapamos da cilada do caçador; a armadilha foi destruída e ficamos livres! 8 O nosso socorro está em o Nome do Eterno criador do céu e da terra.4 4 A verdadeira fé é indestrutível Cântico de peregrinação. 125 Todos aqueles que depositam absoluta fé no Eterno são inabaláveis como o monte Sião.1 2 Assim como um colar de montanhas que cerca Jerusalém, a proteção do SENHOR envolve seu povo eternamente.2 3 O cetro dos ímpios não prevalecerá so- 1 O mesmo Deus que reside no templo terrestre, em Sião, e nos corações dos crentes, habita os céus e todo o Universo. Sua misericórdia e compaixão são ricas para com todos que o buscam com humildade e fé (Sl 2.4; 9.11; 11.4; 80.1; 99.1; 113.5; 122.5; 132.14). 2 Desprezo será uma das mais terríveis punições com que, no Juízo Final, Deus castigará as pessoas incrédulas (Mt 5.29; Lc 12.5; 2Pe 2.4; Ap 20.14). É um dos sofrimentos mais cruéis que um ser humano pode padecer. Especialmente quando é desprezado injustamente por seus parentes e amigos. O povo de Israel viveu historicamente vários momentos de desprezo e humilhação; contudo, de todos o Senhor livrou Israel, como na reconstrução dos muros de Jerusalém na época de Esdras e Neemias (Ne 2.19; 4.1-9 e capítulo 6). Capítulo 124 1 Um cântico de louvor e agradecimento ao Senhor pelo grande livramento de Israel. Um levita proclama os vv. 1-5 e, em seguida, a congregação ou um grupo de adoradores responde por meio dos vv. 5-8. Uma seqüência apropriada para o Sl 123. Um salmo considerado davídico por causa dos ecos observados em outras composições de Davi (Sl 18; 69). Israel deve reconhecer que somente o Senhor Yahweh o salvou (e salva) da total destruição (Sl 20.7; 94.17). 2 É interessante lembrar que as grandes civilizações e potências pagãs do passado, como os impérios do Egito, Assíria e Babilônia, sempre prometeram inundar as terras do povo de Deus e afogá-lo no próprio sangue (Sl 32.6; 49.14; 69.1,2). 3 A preservação nacional de Israel sempre foi considerada uma prova evidente do amor leal e da aliança imutável de Deus para com seu povo. Um antegozo da salvação eterna. A metáfora do pequeno pássaro que é liberto das armadilhas do caçador refere-se à libertação de Israel das garras do cativeiro babilônico. 4 Como grand finale, temos a maravilhosa confissão da congregação, em uníssono. Este verso pode ser assim transliterado, a partir dos manuscritos em hebraico: Ezrênu beshem Adonai, osse shamáyim vaárets. (Sl 121.2). Capítulo 125 1 A grandeza e a segurança da Cidade Santa inspiram o peregrino levita a cantar, nas liturgias do tempo pós-exílico, sobre a eterna e indestrutível confiança do crente (Gl 4.24-26). Este versículo, incorporando o subtítulo, pode ser transliterado, a partir dos originais hebraicos, da seguinte forma: Shir hamaalot, habotechim badonai, kehar Tsión lo yimot, leolam ieshev. 2 A Igreja Cristã de hoje faz bem em refletir sobre o significado da antiga expressão hebraica “povo de Deus”. As características dos crentes não se limitam às bênçãos que recebem do Senhor, mas igualmente a um caráter ilibado, fervoroso, piedoso e absolutamente honesto. Por isso, as Escrituras os comparam aos “que fazem o bem”, “justos”, “que têm coração íntegro” (Sl 34.8-14; 46 e 48). Ainda que Jerusalém não esteja cercada por grandes picos, os escritores bíblicos sempre se referiram poeticamente à região montanhosa que circunda a cidade, como o próprio monte Sião (2Rs 6.17; Zc 2.5). SALMOS 125–127 128 bre a terra concedida aos justos; se assim fosse, até mesmo os justos se entregariam à prática da impiedade.3 4 Sê misericordioso, SENHOR, com os bons, com todas as pessoas de coração íntegro!4 5 Mas aos que se desviam por caminhos inescrupulosos, que o SENHOR os expulse da sua presença juntamente com todos os ímpios. E que haja paz sobre Israel!5 assim como enches o leito dos ribeiros no deserto do Neguebe. 5 Os que em lágrimas semeiam, em júbilo ceifarão! 6 Aquele que parte chorando, enquanto lança a semente, retornará entoando cânticos de louvor, trazendo seus feixes.4 Consolo para os que sofrem Cântico de peregrinação. De Salomão. Um cântico de peregrinação.1 126 Quando o SENHOR trouxe novamente restauração a Sião, nos sentimos como num sonho! 2 Então, se nos encheu de riso a boca, e a nossa língua de alegres expressões de louvor. Até nas outras nações se comentava: “O Eterno fez maravilhas por esse povo!”2 3 Sim, realizações grandiosas fez o SENHOR por nós, por esse motivo estamos felizes! 4 SENHOR, traze os nossos cativos de volta, Quando todo trabalho é inútil 127 A não ser que o Eterno edifique a Casa, trabalham em vão os que desejam construí-la. Se o SENHOR não proteger a cidade, inútil será a sentinela montar guarda.1 2 Os obstinados que retardam seu sono até alta noite, acordam antes do amanhecer e idolatram o trabalho, não alcançarão os bens que o Eterno concede aos que o amam, mesmo quando estes estão repousando.2 3 Na história da humanidade, o “povo de Deus” sempre foi minoria. Governantes pagãos e ímpios vivem ao redor dos crentes tentando influenciá-los e oprimi-los. Até mesmo os mais justos se vêem em perigo. Contudo, o Senhor preservará os seus dessas ameaças corruptíveis. O texto aqui é uma evocação à época de Esdras e Neemias, quando os persas dominaram Israel (Ne 2.19; 4.1-8; 6.1-19; 9.36,37; 13.7-28). 4 Deus trata cada ser humano de acordo com seu coração e suas atitudes ao longo do tempo (Sl 18.25-27). Essa é a razão teológica da confiança na oração (v.4) e numa afirmação igualmente confiante (v.5). 5 O salmista suplica pelo sustento do Senhor nos momentos de aflição e para que os ímpios sejam banidos para sempre (Jd 18,19). A expressão transliterada do original Shalom al Yisrael (que haja paz sobre Israel) é uma forma concisa da tradicional e grandiosa bênção sacerdotal (Nm 6.24-26). Capítulo 126 1 Um salmo de júbilo pelo triunfo alcançado mediante a boa e poderosa mão do Senhor. O povo de Deus fora contemplado, mais uma vez, com a graça da restauração divina. O texto Massorético traz a expressão transliterada šûb΄et š bût significando, literalmente, nos Salmos, “a volta de Javé para seu povo”, ao passo que, nas profecias referentes ao Exílio, a expressão deve ser interpretada como “a volta dos cativos”. 2 A alegria dos que voltam à pátria e honram a Deus entre as nações (literalmente, no original hebraico: “entre os pagãos”). Este versículo pode ser assim transliterado: Az yimalê sechoc pínu ulshonênu rina, az iomeru vagoyim higdil Adonai laassot im êle. (Sl 46.10). 3 A região do Neguebe está localizada na parte sul de Israel, chegando até quase a fronteira com o deserto do Sinai. Numa região inóspita e seca, especialmente no verão, encontrar um ribeiro (torrente) ou fonte de água potável é como reencontrar a própria vida. 4 Assim como muitos israelitas que não permitiram que seus corações fossem contaminados no cativeiro, o crente que procura viver com fé e em obediência à Palavra de Deus, ainda que atravesse momentos terríveis e incompreensíveis, há de contemplar as maravilhosas realizações do Senhor em sua vida (20.5). Capítulo 127 1 Embora nem todos os manuscritos hebraicos tragam claramente o nome de Salomão como autor deste hino, o fato é que seu nome consta nos mais antigos e fiéis originais aos quais o Comitê Internacional de Tradução da KJ teve acesso. A transliteração deste versículo, incluindo o subtítulo, é: Shir hamaalot Iishlomô, im Adonai lo yivne váyit, shav amelu vonav bo, im Adonai lo yishmor ir, shav shacad shomer. O tema deste salmo é o valor eterno do que somos e fazemos, não um estímulo à ociosidade inconseqüente. O princípio bíblico ensinado é que nenhum talento, carisma ou esforço valem a pena se não estiverem sob a bênção do Senhor (Sl 121.3-8; 2Sm 13.34; 18.24-27; Ct 3.3; 5.7). O arrogante confia apenas ou principalmente em si, enquanto o sábio luta e trabalha sob a graça e as orientações do Espírito do Senhor (Dt 28.1-14). O humilde sabe que existe um Deus, e que esse Deus não é ele. 2 Um bom trabalho, uma grande conquista ou lucrativa colheita não são fruto de labuta insana e infinda, mas resultado direto da graça e misericórdia de Deus (Dt 33.12; Jr 11.15; Pv 10.22; Mt 6.25-34; 1Pe 5.7). 129 Quanto a seus filhos, eles são herança do SENHOR: o fruto do ventre é um presente de Deus.3 4 Como flechas na mão do guerreiro são os filhos nascidos na sua juventude. 5 Bem-aventurado o homem cuja aljava deles está repleta! Será respeitado até mesmo por seus inimigos quando pleitear com eles junto às portas da cidade.4 3 Feliz o lar que ama a Deus Um cântico de peregrinação. 128 Bem-aventurado aquele que teme ao SENHOR e busca andar em seus caminhos!1 2 Comerás do fruto do teu trabalho, serás feliz e próspero.2 3 Tua esposa será como videira frutífera em tua casa; teus filhos serão como brotos de oliveira ao redor de tua mesa. 4 Eis como será abençoada a pessoa que teme o SENHOR! SALMOS 127–129 5 Que o SENHOR te abençoe desde Sião, para que contemples a prosperidade de Jerusalém todos os dias de tua vida. 6 Que alcances a felicidade dos filhos de teus filhos, e vejas a paz sobre Israel!4 Recordação dos dias de livramento Um cântico de peregrinação. 129 Desde a minha juventude, muitas vezes fui oprimido; Israel que o diga!1 2 Muito me angustiaram desde a minha mocidade, contudo não prevaleceram contra mim. 3 Sobre as minhas costas passaram o arado, e em minha alma calcaram longos sulcos.2 4 O SENHOR é justo! Ele me libertou das algemas dos ímpios. 5 Sejam envergonhados e recuem todos os que detestam Sião! 6 Sejam como o capim que brota nas la- 3 Segundo as leis do AT, o Senhor concedia porções de terreno em Canaã aos filhos dos israelitas, para que nelas habitassem, cultivassem e desenvolvessem suas famílias (Nm 26.53; Js 1.13; 11.23; Jz 2.6). Entretanto, sem filhos, a “herança” (a expressão hebraica original significa “doação”) das terras seria perdida (Nm 27.8-11). Assim, “herança” passou a ser uma expressão com duplo sentido, especialmente para as famílias judaicas. 4 Uma família numerosa é sempre uma chance de colaboração e bons testemunhos nas disputas da vida, principalmente numa época e cultura como as que vemos no contexto original deste hino. Algumas versões trazem a expressão “não será humilhado quando enfrentar seus inimigos no tribunal”, e isso tem a ver com o fato de as grandes disputas públicas se darem literalmente “às portas da cidade”. A KJ optou pela forma mais literal neste versículo, que pode ser transliterado, dos originais hebraicos desta forma: Ashrê haguéver asher mile er ashpato mehem, lo ievôshu ki iedabru et oievim basháar (Sl 128.3,4; Dt 17.5; 21.19; 22.15,24; 25.7; Rt 4.1; Is 29.21; Am 5.12). Capítulo 128 1 Muito feliz a pessoa e a família que observam com amor e dedicação a Palavra de Deus (Sl 120; 127). A bênção final é um sinal de que este salmo serviu originalmente de instrução levítica (ou sacerdotal) ao povo que vinha adorar em Jerusalém, em tempos pré-exílicos. 2 Não devemos deixar de realizar o trabalho que Deus espera que façamos, nem tentar fazer o que somente a Deus compete. Sempre haverá prosperidade para os que vivem uma vida piedosa (consagrada ao Senhor), quer seja no lar, no trabalho ou nos relacionamentos sociais (1Tm 4.8). 3 A videira, no contexto da tradição judaica, sempre foi um símbolo de fertilidade (Gn 49.22), encantos sexuais (Ct 7.8-12), festividade e alegria (Jz 9.13). A oliveira é o símbolo da longevidade e da vitalidade. Os frutos da videira e da oliveira sempre estiveram presentes à mesa das famílias judaicas, especialmente em tempo de liberdade e prosperidade nacional, e representam, juntas, a beleza de um lar aconchegante e feliz (Êx 23.11). 4 A expressão “desde Sião” pode ser interpretada como: desde o lugar onde se erguia o Templo central em Jerusalém; desde o lugar onde Jesus foi crucificado em nosso lugar, como sacrifício vicário único, suficiente e eterno; desde a morada celestial do Senhor (Hb 12.22-24). Este versículo pode ser transliterado, a partir dos manuscritos hebraicos, desta maneira: Ur’e vanim levanêcha, shãlôm al Yisrael. (Sl 125.5). Capítulo 129 1 Este salmo é uma das orações de Israel para que seus inimigos mais poderosos e ameaçadores sejam destruídos pelo Senhor. A fé é reforçada pelas muitas e grandiosas recordações que o povo tem dos livramentos promovidos por Deus, ao longo da História, como a libertação do exílio na Babilônia (Os 11.1). A expressão literal “desde o tempo da minha juventude” refere-se aos longos períodos em que o povo de Israel sofreu, escravizado pelo Egito e outras potências hostis (Sl 120; 124-128). 2 Os inimigos de Israel conseguiram ferir o povo (e a alma da nação), como se um arado abrisse profundos e longos cortes em suas costas. Apesar de tantas e cruéis tentativas, Deus jamais permitirá que Israel (e seu povo) seja escravizado para sempre ou completamente destruído. SALMOS 129–132 130 jes das casas e seca antes de crescer,3 7 que não completa um punhado na mão do ceifeiro, nem uma braça para aquele que amarra os feixes. 8 E ninguém declare ao passar: “A bênção do SENHOR esteja convosco. Nós vos abençoamos em Nome do SENHOR!”.4 Confiança no perdão do Senhor Cântico de peregrinação. 130 Das profundezas clamo a ti, ó Eterno;1 2 Senhor, ouve a minha voz; teus ouvidos estejam atentos ao clamor das minhas súplicas! 3 Se mantivesses diante de ti a imagem viva de todas as nossas iniqüidades, quem se livraria da condenação eterna? 4 Contudo, em ti está o perdão, pelo que és reverenciado!2 5 Aguardo no SENHOR, espero com toda a minha alma e tenho certeza quanto à sua Palavra. 6 Todo o meu ser espera no SENHOR, mais que as sentinelas pelo romper da alvorada. 7 Israel, deposita toda a tua esperança no SENHOR! Pois no Eterno há misericórdia sem fim, e com Ele vem plena redenção.3 8 Ele pessoalmente redimirá Israel de todos os seus pecados! Os filhos confiam no Pai celeste Cântico de peregrinação. De Davi. 131 SENHOR, o meu coração não é arrogante, e os meus olhos não vêem com soberba. Não há em meu ser a pretensão de explicar todos os mistérios.1 2 De fato, acalmei e aquietei os meus sentimentos. Como uma criança satisfeita está para sua mãe, assim a minha alma está para todo o meu ser.2 3 Israel, deposita toda a tua fé no SENHOR. Espera tranqüilo e confiante, desde agora e para sempre!3 A promessa de Deus a Davi Um cântico de peregrinação. 132 ções.1 SENHOR, lembra-te a favor de Davi, de todas as suas prova- 3 Os inimigos de Israel murcharão como o capim ou a erva frágil que costumava surgir nas lajes de barro seco, dos planos terraços superiores das casas israelenses. 4 Os transeuntes não poderão saudar estes ceifeiros com a tradicional bênção sobre a colheita, pois as mãos dos ceifeiros estarão vazias (Rt 2.4). Capítulo 130 1 Este é o sexto de sete salmos considerados penitenciais (Sl 6; 69.2; 30.1; 32.6). O sábio autor deste poema viveu numa data pós-exílica e soube perceber que não há um ser humano que esteja livre do pecado desde o seu nascimento (Gn 3). Entretanto, descobriu que no amor leal de Deus há misericórdia para perdoar todos os nossos pecados e nos livrar da condenação eterna (1Jo 1.9; Rm 3.23; 6.23; 8.1; 1Pe 1.18-21). Este versículo, incluindo o subtítulo, pode ser transliterado a partir dos melhores originais hebraicos, desta forma: Shir hamaalót, mimaamakim keratícha Adonai. 2 Diante de um mundo que caminha célere para a destruição, em todos os sentidos, nosso grande consolo é saber que o Senhor nos prometeu seu perdão e o resgate eterno das almas dos crentes (Êx 34.6,7; Sl 57; 59.9; 127.1; 2Sm 13.34; 18.24-27; Ct 3.3; 5.7). 3 No sacrifício vicário de Jesus Cristo, o Messias, foi cumprida toda a expressão do amor leal de Deus para com a humanidade, e seu perdão eterno. Essa foi a maior promessa do AT cumprida no NT (Jó 19.25; Jo 3.16; 5.24; 6.47; 10.10; 11.25; 14.6,23-27). Este versículo pode ser assim transliterado dos originais hebraicos: Iachel Yisrael el Adonai, ki im Adonai hachéssed veharbê imó fedút. Capítulo 131 1 Este não é um apelo à ignorância e passividade, mas ao bom senso e à humildade. Ninguém pode se comparar a Deus ou ter seu entendimento, mas podemos confiar em receber a capacitação que Ele nos concede para vivermos e sermos felizes (Jo 10.10). O orgulho é que afasta o ser humano de Deus e o conduz às piores decisões (Sl 31.23; 2Sm 6.21,22). Segue uma transliteração, incluindo o sub-título, a partir dos originais hebraicos: Shir hamaalot, zechor Adonai ledavid et col unoto. 2 O adulto insensato deixa seus sentimentos dirigirem todo o seu ser. A criança em fase de amamentação estabelece uma profunda dependência de sua mãe, que, além de lhe fornecer o alimento vital é fonte de todo o carinho e proteção. Assim, Israel e o povo de Deus devem confiar e descansar no Senhor – Adonai – o Eterno (v.3). 3 Transliteração deste versículo: Iachel Yisrael el Adonai meata vead olam. Capítulo 132 1 Este salmo difere dos demais “hinos de peregrinação” pela extensão do texto poético e profético, e por cuidar de temas relacionados à Aliança (Promessa) feita entre Deus e seu servo Davi. Nesta oração, o salmista pede as misericórdias do Senhor para o filho de Davi que reina sobre o trono de Davi (v.10). Na liturgia pós-exílica, tinha implicações messiânicas. Era também 131 2 Como fez votos solenes e juramentos ao Eterno, o Poderoso de Jacó, declarando:2 3 “Não entrarei na minha tenda e não me deitarei no meu leito; 4 não permitirei que meus olhos conciliem o sono nem que minhas pálpebras repousem, 5 enquanto não encontrar um lugar para o SENHOR, uma habitação para o Poderoso de Jacó”. 6 Ouvimos falar que a arca poderia ser encontrada em Efrata, mas a encontramos nos campos de Jaar:3 7 “Entremos na sua habitação! Vinde e adoremos ao Senhor diante do estrado de seus pés! 8 Levanta-te, ó SENHOR, e vem para o teu lugar de repouso, tu e a arca onde resplandece a tua Glória!4 9 Vistam-se de justiça os teus sacerdotes, e rejubilem-se com cânticos de louvor os teus fiéis!”5 SALMOS 132 Por amor ao teu servo Davi, não rejeites o teu ungido.6 11 O SENHOR determinou uma promessa a Davi, um juramento firme que Ele não revogará jamais: “Estabelecerei um dos teus descendentes no teu trono. 12 Se os teus filhos guardarem a minha aliança e as prescrições que Eu lhes ensino, também os filhos deles se assentarão no teu trono por toda a eternidade!”7 13 Pois o SENHOR escolheu Sião com a vontade de constituí-la sua morada: 14 “Este será sempre o lugar do meu repouso, ali residirei, porque assim Eu o desejei. 15 Abençoarei copiosamente suas provisões e de pão saciarei seus pobres.8 16 Vestirei de salvação os seus sacerdotes, e seus fiéis a celebrarão com grande júbilo! 17 Lá eu promoverei o renascimento do vigor de Davi e farei resplandecer a Luz do meu Ungido.9 10 usado nos rituais de coroação dos reis davídicos (Sl 2; 20.3; 72; 110; 1Rs 11.12,13; 15.4,5; 2Cr 6.41,42). Muitas dificuldades foram vencidas na conquista de Jerusalém como cidade do Templo (2Sm 5.6-8). A expressão “voto” é usada no sentido de “abnegação” (vv.2-5; Nm 30.13). 2 Jacó é um dos sinônimos de Israel (Gn 32.28; 2Sm 6 e 7). Este versículo pode ser transliterado, a partir dos manuscritos hebraicos, desta maneira: Asher nishba ladonai, nadar laavir Iaacov. 3 Este trecho do salmo refere-se à parte do salmo que o povo cantava depois da oração do líder do coro ou sacerdote. Efrata é uma região localizada ao redor de Belém, cidade onde nasceu o rei Davi e morou Abinadabe sob a guarda de quem a arca ficou durante vinte anos (1Sm 7.1; Rt 4.11; Mq 5.2). Campina do Bosque, Campos de Jaar ou Quireate-Jearim designa um distrito do território de Judá (2Sm 6.2-5). 4 Considerando que a poesia hebraica costuma omitir palavras introdutórias, como “dizendo”, por exemplo, os vv.8,9 podem ser compreendidos como declarações que emanam dos fiéis adoradores (Sl 24). Depois de acompanhar seu povo pelo deserto, habitando num tabernáculo (uma tenda) que se movia rotineiramente, agora o Templo oferece a imagem da centralidade do trono e do descanso (2Sm 7.6; 1Cr 28.2). Assim como a terra prometida foi o lugar do repouso ao final de longo período de peregrinações e lutas (Nm 10.33; Js 1.13; Mq 2.10). 5 Os sacerdotes (no NT, todos os crentes sinceros em Cristo – 1Pe 2.9) devem ser exemplos de uma vida reta (Jó 29.14; Pv 31.25). Considerando que no v.16 a palavra hebraica original, correspondente, é “salvação”, mesma expressão usada pelo autor de Crônicas ao citar este texto (2Cr 6.41), e que “salvação” e “retidão” são palavras, em alguns casos, decorrentes e sinônimas, conclui-se que há uma evidente referência à “justiça” de Deus que produz a “salvação” (livramento) do seu povo (Sl 4.1-3). 6 Os vv.8-10 foram incorporados à oração dedicatória do rei Salomão, filho de Davi e Bate-Seba (2Sm 12.24; 2Cr 6.41,42). A oração pessoal do rei “teu ungido”, que apela a Deus por amor de seu antepassado Davi, que era um homem temente ao Senhor. Da mesma forma, o cristão ora em o Nome de Cristo, “o Ungido”, o modelo e predecessor de cada filho de Deus. 7 Em várias passagens bíblicas, as “promessas” que Deus fez a Davi, recebem o nome de “alianças”, todas firmadas e celebradas com “juramentos” (Sl 89.3,28,34,39; 2Sm 23.5; Is 55.3; Sl 110.4). A “Aliança no Sinai” era um conjunto de “estatutos ou prescrições” a que todos os israelenses e seus filhos deviam obedecer em todas as épocas (1Sm 10.25; 1Rs 2.3,4). 8 A verdadeira prosperidade de uma nação é avaliada pela quantidade de seus pobres que passam a viver confortavelmente, e não por um pequeno grupo de ricos que se tornam ainda mais ricos, arrogantes e dominadores. Deus elegeu Sião (Jerusalém) como sua cidade santa e habitação na terra (v.13). Os desejos de Davi se harmonizaram à vontade do Senhor (Sl 78.68; Dt 12.514). O povo de Deus encontrará pleno descanso, quando o Senhor estiver definitivamente entronizado e reverenciado em seu trono em Israel (Dt 12.9; Js 1.13; 1Rs 5.4). 9 A expressão literal hebraica “chifre”, neste versículo significa “glória” ou “vigor”. A descendência de Davi florescerá como um ramo forte que, no tempo certo, brota da velha videira (1Rs 11.36). Este versículo pode ser transliterado, a partir dos manuscritos hebraicos desta maneira: Sham atsmíach keren ledavid, aráchti ner limshichi. SALMOS 132–135 132 Cobrirei de ignomínia os seus inimigos, mas sobre Ele florescerá a sua coroa!”10 18 Feliz é a fraternidade dos crentes Cântico davídico de peregrinação. 133 Como é feliz e agradável observar quando os irmãos vivem em fraternidade!1 2 É como um bálsamo precioso derramado sobre a cabeça, que desce pela barba como se fosse a barba de Arão, até a gola de suas vestes sacerdotais.2 3 É como o orvalho do Hermom quando desce sobre os montes de Sião. Porquanto ali o SENHOR oferece a sua bênção: vida para hoje e por toda a eternidade!3 Convite para o culto de vigília Um cântico de peregrinação. 134 Vinde, bendizei o SENHOR vós todos, servos do SENHOR que permaneceis servindo durante a noite, na casa do SENHOR!1 2 Erguei vossas mãos para o santuário e bendizei o SENHOR!2 3 De Sião te abençoe o SENHOR, que fez o céu e a terra! Cantai louvores ao Senhor Aleluia! Louvai o Nome do Eterno, louvai-o, servos do SENHOR,1 2 que permaneceis na Casa do SENHOR, nos átrios da casa de nosso Deus! 3 Aleluia! O SENHOR é bom: cantai louvores ao seu Nome, que é amável! 4 Pois o SENHOR escolheu Jacó para si, Israel, por sua propriedade. 5 Pois eu sei: O SENHOR é grande, o Senhor supera todos os deuses.2 6 Tudo quanto aprouve ao SENHOR, nos céus e na terra, nos mares e em todas as profundezas, Ele o fez! 135 10 Este versículo pode ser assim transliterado do original hebraico: Oivav albish bóshet, vealav iatsits nizro. Ao longo da história do povo de Deus, o Senhor permanece fiel à aliança que firmou com Davi (vv.13-18). A expressão literal hebraica “florescerá” evoca de, modo sutil, a imagem de brotos crescendo, transformando-se em ramos fortes que sustentam muitos frutos. Capítulo 133 1 A fraternidade (união vital entre irmãos de sangue e/ou credo), depende exclusivamente da união de cada irmão, pessoalmente, com o Senhor Deus. Somente assim, essa unidade de propósitos pode florescer e testemunhar eficazmente ao mundo (Jo 15.1-9; 17.20-25; Sl 135.3; 147.1). 2 O salmista da casa de Davi faz uma comparação entre o ministério sublime do sacerdote Arão, cuja unção e ministério visavam manter o povo em perfeita comunhão com Deus e entre si, e a sensação de conforto e segurança proporcionada pelo derramar do óleo ungido sobre o corpo dos crentes israelitas (Êx 29.7; Lv 21.10). O óleo balsâmico saturava os cabelos, a barba, e descia pelas vestes dos sacerdotes, em sinal de consagração absoluta de suas vidas ao serviço santo do Senhor. 3 O orvalho abundante que se projetava do monte Hermom fazia que os montes de Sião fossem ricamente frutíferos (Gn 27.28; Ag 1.10; Zc 8.12). Da mesma maneira, a união fraternal do povo de Deus faria de Israel uma nação rica e frutífera. Essas metáforas revelam claramente que as bênçãos de Deus fluíam até os israelenses crentes, por meio das ministrações sacerdotais no tabernáculo ou no templo (Êx 29.44-46; Lv 9.22-24; Nm 6.24-26), as quais são figuras das misericórdias de Deus na própria redenção. O orvalho é uma evocação das bênçãos perenes do Senhor na ordem da criação. A vida é a principal das bênçãos, segundo a Aliança (Dt 30.15-20; 32.47). Capítulo 134 1 Cântico litúrgico de despedida da congregação, pouco antes de deixarem o culto vespertino no templo. Uma espécie de troca de saudações entre os adoradores e os levitas que mantinham a guarda do templo. No saltério este é o último dos “cânticos de peregrinação” ou “hinos de romagem” (Sl 120 a 134). 2 Os responsáveis pela liturgia, ao se despedirem, encomendam aos levitas que continuem, durante toda a noite, a realizar os serviços no templo, com espírito de absoluta adoração ao Senhor (1Cr 9.33; Êx 17.12; Sl 63.4). 3 Um solo levita responde com uma bênção final, impetrada sobre o grupo de adoradores (Sl 121.2; 124.8; 128.5). Este versículo pode ser assim transliterado, a partir dos manuscritos hebraicos: levarechechá Adonai mitsión, ossê shamáyim vaárets. Capítulo 135 1 Este versículo pode ser assim transliterado, a partir dos manuscritos hebraicos: Haleluiá, helelu et shem Adonai, halelu avdê Adonai. Temos neste salmo pós-exílico um grandioso convite para louvarmos ao Senhor, o Deus único e verdadeiro, Criador do Universo, Senhor de todas as nações, o Redentor de Israel e de todos os seus filhos sobre a face da terra. Aqueles que recebem o privilégio de assistir na Casa de Deus devem saber louvá-lo dignamente, não apenas com músicas e poesias, mas por meio de um viver santo (Sl 120). 2 Nada e ninguém há que possa se comparar ao poder, amor e justiça do Senhor (vv.3,15-18; Jr 10.11-16; Sl 96.5; 97.7; 115.3). O Senhor faz tudo que lhe agrada fazer, ao passo que todos os ídolos e deuses nada realizam; eles próprios são feitos por mãos humanas (vv.16,17). 133 7 Ele, que dos confins da terra faz subir as nuvens, fez os raios para a chuva, e tira de seus antros a ventania. 8 Feriu os primogênitos do Egito, desde o homem até o gado.3 9 O Senhor realizou, em pleno Egito, sinais e prodígios contra o faraó e todos os seus sábios! 10 Feriu numerosas nações, e a reis poderosos tirou a vida: 11 Seam, rei dos amorreus, Ogue, rei de Basã e todos os reinos de Canaã; 12 e deu a terra deles como despojos, em herança a Israel, seu povo. 13 SENHOR, teu Nome dura para sempre, e tua lembrança, SENHOR, de geração em geração! 14 O SENHOR defenderá seu povo, e terá compaixão dos seus servos. 15 Os ídolos pagãos são prata e ouro, obra de mãos humanas: 16 Têm boca, mas não podem falar, olhos, mas não conseguem ver; 17 têm ouvidos, mas são incapazes de ouvir, nem mesmo qualquer alento de vida há em seus corpos. 18 Tornem-se, portanto, como eles, aqueles que os fazem e todos os que neles confiam! 19 Casa de Israel, bendizei ao SENHOR; Casa de Arão, bendizei ao SENHOR!4 SALMOS 135, 136 20 Casa de Levi, bendizei ao SENHOR! Vós, que temeis ao SENHOR, bendizei ao SENHOR. 21 Desde Sião, bendito seja o SENHOR que habita em Jerusalém! Aleluia!5 As misericórdias do Senhor Rendei graças ao SENHOR porque Ele é bom, porquanto seu amor leal dura para sempre.1 2 Louvai ao Deus dos deuses, porque a sua misericórdia dura para sempre.2 3 Dai graças ao SENHOR dos senhores, pois o seu amor dura eternamente! 4 Ao único que realiza grandes maravilhas. A sua misericórdia é perpétua: 5 fez os céus com sabedoria, porque seu amor é para sempre, 6 firmou a terra sobre as águas, porque seu amor é para sempre.3 7 Fez grandes luminares: porque seu amor leal é para sempre, 8 o sol, para presidir o dia, porque seu amor é para sempre, 9 a lua e as estrelas, para comandarem a noite, porque o seu amor é para sempre. 10 Feriu o Egito nos seus primogênitos, porque seu amor justo é para sempre,4 11 libertou Israel do meio deles, porque seu amor é para sempre, 136 3 Deus revelou seu poder sobre a terra do Egito e seu amor leal para com Israel. As terras dos reis pagãos foram arrancadas de suas mãos e entregues, como herança, ao povo de Deus (Êx 7 a 14; Nm 21.21-35 e todo o livro de Josué). 4 A expressão hebraica original “Casa de Israel” refere-se ao grupo dos israelitas. Os membros da “Casa de Arão” são todos os sacerdotes (Sl 115.9-11; 118.2-4); e os da “Casa de Levi” formam uma classe especial de “adoradores” – os levitas, que tinham o ministério de oferecer seus serviços não sacerdotais ao templo (Sl 134.1,2). 5 Este versículo pode ser assim transliterado: Baruch Adonai mitsión, shochen Ierushaláyim, halelu lá. Convocação final ao louvor, dirigida a todos os crentes que se reúnem no templo. Jerusalém (Ierushaláyim) foi o grande centro da adoração a Deus (Yahweh) no AT. Foi nessa cidade também que Jesus Cristo, o Messias, morreu e ressuscitou, motivo do louvor eterno de todos os que verdadeiramente amam ao Senhor (Mq 4.2; Rm 10.4). Capítulo 136 1 O líder levítico dirigia a recitação litúrgica deste salmo, enquanto um coro de adoradores respondia no refrão (1Cr 16.41; 2Cr 5.13; Ed 3.11; 2Cr 7.3,6; 20.21; Sl 106.1; 107.1; 118.1-4). Seu tema e vários versículos formam um paralelo significativo com boa parte do Sl 135 (O paralelismo poético judaico é sempre em relação ao sentido e conteúdo das expressões e não melódico e métrico, como na maioria dos poemas ocidentais). 2 A expressão literal hebraica aqui traduzida por “misericórdia” é muito ampla e ajuda a descrever a própria essência da natureza de Deus: benignidade, paciência, amor, lealdade, fidelidade, graça, favor, longanimidade. Ao longo da História podemos notar esse amor persistente de Deus, culminando na pessoa de seu próprio Filho, Jesus Cristo, o Messias. Somente o Espírito de Deus é capaz de desenvolver esse caráter divino em nossas vidas (Gl 5.22-23). 3 A criação do Universo, da terra e de tudo o que nela há, especialmente os seres humanos, é ato da vontade e sabedoria de Deus (Pv 3.19-20; Rm 11.36). 4 Os atos salvíficos de Deus, bem como sua sabedoria, bondade e justiça, se expressam na preservação do seu povo e na destruição dos seus inimigos (muitos exemplos de livramentos divinos estão registrados no livro dos Juízes e no reinado de Davi). SALMOS 136, 137 134 com mão forte e braço estendido, porque seu amor é para sempre. 13 Dividiu ao meio o mar Vermelho, porque seu amor é para sempre, 14 fez passar Israel no meio dele, porque seu amor é para sempre, 15 lançou Faraó e seu exército no mar Vermelho, porque seu amor é para sempre. 16 Conduziu seu povo pelo deserto, porque seu amor é para sempre, 17 feriu grandes reis, porque seu amor é para sempre, 18 tirou a vida de governantes poderosos, porque seu amor é para sempre: 19 Seom, rei dos amorreus, porque seu amor é para sempre, 20 e a Ogue, rei de Basã, porque seu amor é para sempre. 21 Depois deu a terra deles como despojos, porque seu amor é para sempre,5 22 em herança a Israel, seu povo, porque seu amor é para sempre. 23 Em nossa humilhação, lembrou-se de nós, porque seu amor é para sempre. 24 Ele nos libertou dos nossos adversários, porque seu amor é para sempre. 25 Dá alimento a toda criatura, porque seu amor é para sempre. 12 26 Louvai o Deus dos céus! Porquanto, seu amor leal permanece pela eternidade.7 Lamentação dos exilados Junto aos rios da Babilônia sentamo-nos a chorar, com saudade de Sião.1 2 Nos salgueiros que lá existiam, pendurávamos as nossas harpas,2 3 pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam para entoar belas canções, e os nossos opressores, que fôssemos alegres, exclamando: “Entoai-nos algum dos cânticos de Sião!” 4 Como, porém, haveríamos de cantar as canções do Eterno numa terra estranha?3 5 Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se paralise minha mão direita! 6 Pegue-se minha língua ao céu da boca, se não me recordar de ti; se não elevar Jerusalém acima das minhas maiores alegrias. 7 Contra os filhos de Edom, lembra-te, SENHOR, daquele dia em que Jerusalém foi destruída, como gritavam: “Desnudai-a, arrasai-a até os fundamentos!”4 8 Filha da Babilônia, devastadora, bemaventurado aquele que te der a paga de tudo quanto nos fizeste!5 137 5 As terras aqui mencionadas ficaram de posse das tribos de Rúben, Gade e Manassés. 6 O povo salvo (resgatado) pelo Senhor pode confiar em seu amor e justiça. Deus suprirá todas as nossas necessidades, con- forme suas promessas, das quais Jesus Cristo é o apogeu e absoluto cumprimento (Is 61.1-3; Lc 4.16-21; Rm 8.32). 7 O título “Deus dos céus” era, costumeiramente, uma forma de expressão dos povos persas, que se encontra nos livros de Esdras, Neemias e Daniel (Ed 1.2). Seu significado é semelhante à referência hebraica ao Nome do Senhor (vv.2,3). Este versículo pode ser transliterado, a partir dos manuscritos hebraicos, da seguinte maneira: Hodú leel hashamáyim, ki leolam chasdo. Capítulo 137 1 Os rios aqui mencionados são o Tigre, o Eufrates e seus muitos canais, que atualmente banham a região do Iraque. Israel fora traído pelas nações pagãs vizinhas e seu povo levado como escravo para servir na Babilônia. A “saudade” (expressão tipicamente portuguesa que comunica com propriedade o tipo de sentimento que assaltava o coração dos exilados à época) lhes tirava toda a alegria de viver e os lançava em profunda depressão e lamento (Jó 2.8,13; Lm 2.10). 2 As árvores (salgueiros) que cresciam nas planícies úmidas e quentes da Babilônia eram muito diferentes da vegetação que florescia nas montanhas rochosas de Sião (Jerusalém). Os babilônicos, como dominadores insensíveis, desprezavam as tradições e a cultura judaicas e forçavam os exilados a entoar músicas festivas e exóticas, sem compreender que até mesmo os instrumentos musicais dos israelitas escravizados recebiam uma afinação própria ao “som do pranto” (Jó 30.31). 3 O inimigo pode forçar os filhos de Deus a tocar seus instrumentos, mas não poderá obrigá-los a ser felizes longe da sua amada terra e da presença (o culto no templo) do seu Deus. 4 Os edomitas eram os descendentes de Esaú, irmão de Jacó: revelaram-se covardes e traidores no momento mais angustiante e dramático de Jerusalém. O salmista conheceu os juízos de Deus contra aquela nação, conforme foram determinados pelos profetas do Senhor (Is 63.1-4; Jr 49.7-22; Ez 25.8-14; 35, conforme o livro de Obadias). A expressão hebraica literal, aqui traduzida por “desnudai-a”, refere-se à cidade de Sião, que – de acordo com o costume literário hebraico – é retratada como figura feminina. Jeremias prevê que Edom será castigado com o mesmo tipo de humilhação (Lm 4.21). 5 A expressão original hebraica, aqui traduzida por “Filha”, é a personificação da “cidade” da Babilônia com seus habitantes. O salmista conheceu também os juízos de Deus profetizados contra esse inimigo voraz e cruel (Is 13; 21.1-10; 47; Jr 50 e 51; Hc 2.4-20). 135 Feliz aquele que agarrar os teus descendentes e os despedaçar contra a rocha!6 9 Graças a Deus por seu socorro Um salmo de Davi. 138 Eu te louvo, ó SENHOR, de todo o meu coração; canto teus louvores na presença dos poderosos.1 2 Prostro-me perante o teu santo templo e louvo o teu Nome, por teu amor e fidelidade; pois exaltaste acima de todas as alturas o teu Nome e a tua Palavra!2 3 No dia em que te invoquei, tu me respondeste, concedendo-me força e coragem. 4 Louvem-te, SENHOR, todos os reis da terra, quando ouvirem as promessas de tua boca! 5 Celebrem eles os caminhos do SENHOR: “Grande é a glória do SENHOR!” 6 Pois o SENHOR é excelso, mas vê os humildes, e de longe reconhece o altivo.3 7 Se eu andar em meio à angústia, tu me fazes reviver; estendes tua mão contra a ira SALMOS 137–139 dos meus inimigos, e tua destra me salva.4 8 O SENHOR me assistirá até o fim. Ó Eterno, teu amor dura para sempre: não abandones as obras das tuas mãos!5 Louvor à onisciência de Deus Para o mestre de música. Um salmo de Davi. 139 SENHOR, tu me sondas e me conheces!1 2 Sabes quando me sento e quando me levanto, e acompanhas o meu pensamento onde quer que eu esteja. 3 Discernes minha caminhada e a minha pousada, e estás a par de todos os meus intentos. 4 Porquanto a palavra ainda não chegou à minha língua e tu, ó Eterno, já a conheces completamente. 5 Tu me envolves por trás e pela frente, e pões sobre mim tua mão. 6 Tal conhecimento é para mim demasiado maravilhoso, tão elevado que não posso compreender totalmente.2 6 Sem uma cuidadosa comparação com os atuais crimes de guerra ou o uso moderno dos arsenais bélicos precipita-se quem julga que o povo de Deus ou as guerras da antigüidade eram bárbaros e antiéticos. Os filhos da Babilônia continuam sua perseguição maligna contra a Cidade de Deus (Sião) e todos os filhos de Deus. Entretanto, sua completa e definitiva destruição está reservada para o Dia final (Ap 18.1 – 19.4). Capítulo 138 1 Este salmo dá início a uma coletânea de oito hinos davídicos (Sl 138 –145). Por meio deste cântico, o salmista e a congregação dos crentes louvam a Deus, pelo auxílio salvador e libertador – providência do Senhor, em resposta às preces dos seus filhos contra as ameaças e ataques dos adversários (Sl 18; 82). Este versículo pode ser transliterado, a partir dos manuscritos hebraicos, da seguinte forma: Ledavid, odechá vechol libi, négued Elohim azamerêca. 2 Davi edificou um tabernáculo (tenda) para abrigar a arca (2Sm 6.17). Embora muitos salmos atribuídos a Davi refiram-se ao “templo” (5.7; 11.4; 18.6; 27.4; Sl 30), o amor e a fidelidade do Senhor ao responder às orações dos crentes fazem seu Nome (sua presença gloriosa) e sua Palavra (suas promessas e ensinos) mais preciosos que tudo quanto um rei possa desejar. A resposta de Deus às nossas orações é imediata, sendo que as primeiras bênçãos concedidas são “poder e vontade” para continuar lutando; as demais bênçãos, que fazem parte da resposta, vêm no devido tempo (v.3). 3 Os soberbos se acham tão resolvidos e auto-suficientes que rejeitam a própria Graça do Senhor, motivo pelo qual o Senhor também os aguarda à distância, enquanto eles estão muito ocupados adorando a si mesmos. Os humildes, entretanto, reconhecem suas limitações e a extrema necessidade que têm de Deus; e abrem seus corações ao Espírito Santo (Lc 1.51,52; Tg 4.6,7). 4 A companhia e o socorro que vêm de Deus são uma realidade tão concreta que o crente não perde a fé (confiança, em hebraico), mesmo nos momentos mais angustiantes e nas crises mais agudas e inexplicáveis (Sl 116.10-13; Rm 8.35-39). 5 O Senhor tem um projeto para seu povo amado – projeto imutável e glorioso. Nada pode deter a vontade de Deus. O hebraico muitas vezes usa de plurais para se referir de forma ainda mais honrosa a Deus, assim como ao rei de Israel. Este versículo pode ser assim transliterado: Adonai yigmor baadi, Adonai chasdechá leolam, maassê iadêcha al téref. Capítulo 139 1 Transliteração deste versículo, incluindo o subtítulo a partir do original hebraico: Lamenastsêach ledavid mizmor, Adonai chacartáni vateda. A expressão “um salmo de Davi” pode se referir aos descendentes de Davi, fiéis a Deus (Sl 4; 138). Não há em outra parte das Escrituras, além do livro de Jó, expressão mais viva e profunda de sinceridade na adoração ao Senhor e à sua Palavra. Por isso o pedido poético para que o Espírito de Deus verifique a alma do salmista e reveja todo esse sentimento de absoluta lealdade de alma que até mesmo supera nossa maneira de agir em algumas situações da vida. Não podemos esconder, do Senhor, a intimidade da nossa alma, pois Ele nos contemplou, ainda informes, no recôndito mais secreto do ventre materno. As figuras de linguagens são diferentes em Jó, mas o significado é muito semelhante (v.5; Jó 13.27). 2 Nos originais hebraicos, a expressão “demasiado maravilhoso” tem o mesmo sentido dos termos aplicados aos sinais, maravilhas e milagres de Deus (Sl 77.11,14; Êx 15.11). SALMOS 139, 140 136 Para onde poderia eu fugir do teu Espírito? Para onde poderia correr e escapar da tua presença? 8 Se eu escalar o céu, aí estás; se me lançar sobre o leito da mais profunda sepultura, igualmente aí estás.3 9 Se eu me apossar das asas da alvorada e for morar nos confins do mar, 10 também aí tua mão me conduz, tua destra me ampara. 11 Se eu cogitar: “As trevas, ao menos, haverão de me envolver, e a luz ao meu redor se tornará em noite”, 12 constatarei que nem as mais densas trevas são obscuras para teu olhar, pois a noite brilhará como o meio-dia, porquanto para ti as trevas são luz. 13 Tu formaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe. 14 Graças te dou pela maneira extraordinária como fui criado! Pois tu és tremendo e maravilhoso! Sim, minha alma o sabe muito bem.4 15 Meus ossos não te eram encobertos, quando fui formado ocultamente e tecido nas profundezas da terra.5 16 Teus olhos viam meu embrião, e em teu livro foram registrados todos os meus dias; prefixados, antes mesmo que um só deles existisse! 17 Ó Deus, como são complexos e preciosos para mim os teus pensamentos, quão vastos e profundos os teus conhecimentos. 7 Se eu os pudesse somar, seriam mais que os grãos de areia. Se os contasse, levaria toda a eternidade e ainda haveria o que contar. 19 Quem me dera exterminasses os ímpios, ó Deus! Então, as pessoas inescrupulosas e sanguinárias se afastariam de mim; 20 pessoas que, com má intenção, pronunciam teu Nome, tomando-o em vão, como inimigos teus. 21 SENHOR, como não odiar aqueles que te odeiam? Como não abominar os que se levantam contra ti? 22 Eu os odeio com ódio implacável: tornaram-se, dessa forma, meus próprios inimigos. 23 Sonda-me, ó Deus, e analisa o meu coração. Examina-me e avalia as minhas inquietações! 24 Vê se há em mim algum sentimento funesto, e guia-me pelo Caminho da vida eterna! 18 Oração contra os caluniadores Para o mestre de música, um salmo de Davi. 140 Livra-me, SENHOR, do homem mau, preserva-me do homem violento, 2 daqueles que planejam maldades no coração e, todo dia, provocam contendas! 3 Eles aguçam sua língua como a da serpente; têm veneno de víbora sob os lábios.2 (Pausa) 3 Os “céus” e o “Sheol” (expressão original hebraica que neste contexto significa “sepultura, morte ou pó”) representam os dois grandes extremos verticais do Universo. No versículo 9, o salmista menciona os dois extremos horizontais: o leste e o oeste (o mar é o Mediterrâneo), a fim de dar concretude à idéia da totalização da realidade espacial (vv.9 e 10; Sl 73.23,24). 4 Os chamados Rolos do Mar Morto, descobertos no monte Qunram, na região do mar Mediterrâneo, aos quais o Comitê de Tradução da KJ teve acesso, confirmam a tradução deste texto feito pela Septuaginta (a primeira e mais importante tradução das Escrituras do hebraico para o grego) e a respeitada tradução Siríaca. Segue a transliteração dos originais, Odechá al ki noraót niflêti, niflaim maassêcha venafshi iodáat meod, que pode ser assim literalmente traduzida: “Louvar-te-ei por me teres tão maravilhosamente plasmado, pois admiráveis são todas as Tuas obras como bem o sabe minha alma” (Ec 11.5). 5 O salmista recorre a uma metáfora hebraica bem conhecida, ao comparar o ventre materno à profundeza da terra, pois os dois lugares são escuros, úmidos e separados do âmbito visível da vida, assim como o Sheol (a sepultura e lugar dos mortos – 63.9; Jó 14.13; Is 44.23; 45.19). O ser humano provém do pó (da terra) e retorna ao pó (desce à terra e seu corpo se torna literalmente em poeira). O ventre é uma forma de “profundeza” (lugar oculto) onde somos formados (Gn 3.3-19; Sl 90.3; Ec 3.20; 12.7; Is 44.2,24; 49.5; Jr 1.5). Capítulo 140 1 O salmista suplica que o Senhor o livre da ação injusta e maligna dos caluniadores e inescrupulosos (Sl 58; 64). Uma descrição poética das tramas que freqüentemente ocorrem nos meios políticos e empresariais, especialmente em nossos dias. 2 A maledicência e as maldições (expressões de desgraça lançadas sobre desafetos) são descritas como a própria peçonha (veneno) da serpente. (Pausa) ou Selah é um sinal de reverência especial e uma notação musical que indica interlúdio (Sl 3 nota 2). 137 SENHOR, guarda-me das mãos do ímpio, preserva-me do homem violento, daqueles que tramam minha queda! 5 Os arrogantes prepararam armadilhas contra mim; perversos, estenderam redes; no meu caminho armaram emboscadas para me atacar. (Pausa) 6 Eu declaro ao SENHOR: “Tu és meu Deus!” Ouve, ó SENHOR, o meu clamor!3 7 Ó soberano SENHOR, meu Deus e meu Salvador, tu me proteges a cabeça no dia do combate. 8 SENHOR, não atendas aos desejos dos ímpios. Não permitas que tenham êxito com suas intrigas! (Pausa) 9 Recaia sobre a cabeça dos que me ameaçam toda a malignidade que suas bocas proferiram. 10 Caiam sobre eles carvões em brasa e sejam arrastados para covas em chamas, das quais jamais possam escapar! 11 Nenhum caluniador se estabeleça sobre a terra, e a desgraça persiga os agressores com golpes sobre golpes até sua completa destruição. 12 Sei que o SENHOR defende a causa do oprimido e faz justiça aos pobres. 4 SALMOS 140, 141 Com certeza os justos darão graças ao teu Nome, e os homens íntegros habitarão em tua presença!4 13 Oração da tarde por proteção divina Um salmo de Davi. 141 SENHOR, elevo meu clamor a ti: vem depressa! Presta ouvido à minha voz, quando te invoco!1 2 Que minha oração seja como incenso diante de ti; minhas mãos erguidas, oferenda vespertina!2 3 SENHOR, põe uma guarda à minha boca, fica de vigia à porta dos meus lábios! 4 Não deixes meu coração inclinar-se para a maldade, para a prática de ações iníquas na companhia de malfeitores. Que eu jamais participe dos seus banquetes!3 5 Que me castigue o justo; é um favor que me repreenda! É óleo perfumado que minha cabeça não vai recusar. Pois minha oração persiste contra a prática dos malfeitores.4 6 Contra a Rocha foram destruídos todos os juízes que diante das minhas palavras de sabedoria se mostraram insensíveis!5 7 “Como a terra é arada e sulcada, assim são espalhados os nossos ossos à beira da sepultura!”6 3 O princípio fundamental para uma oração eficaz é o reconhecimento sincero de que o Senhor é Pai e Soberano (Jo 1.12); porquanto, somente ele sabe o que é melhor e quando nos dar suas bênçãos. A partir dessa consciência e fé, desenvolveremos corações sábios e agradecidos. Essa atitude de plena confiança em Deus nos coloca bem no centro da sua proteção diária e perene (v.7). 4 A maledicência e a calúnia (fofoca) são como uma droga que produz falsa sensação de euforia, alívio e prazer mórbido, mas, na verdade, embota a capacidade de raciocinar com bom senso, arruína a saúde, cauteriza a consciência ética e arrasa a vida espiritual. É fonte de acessos de raiva e injustiças, piores do que as crises de violência e brutalidade produzidas pelo efeito do álcool e outras drogas alucinógenas. É a própria “destruição” em ação (em grego Apoliom, um dos nomes de Satanás – Ap 9.11). Contudo, o fogo do juízo final de Deus alcançará até mesmo o âmbito dos mortos (Jó 15.30; 20.26; 31.12; Sl 21.9; 36.12; 97.3; Is 1.31; 26.11-14; 33.14). Capítulo 141 1 Apelo do salmista para que Deus venha depressa em seu socorro e o livre das ciladas e ameaças de seus adversários pagãos (Sl 138). 2 Um simples erguer das mãos, com humildade e sinceridade de fé no Senhor, vale muito mais que as antigas oferendas hebraicas envolvendo o sangue de animais sacrificados. O salmista – ao louvar ao Senhor – suplica a Deus que controle seus pensamentos e atitudes (vv.3,4). 3 O salmista suplica a Deus que o impeça de ceder diante do mau exemplo à sua volta e das insistências dos ímpios para que “goze a vida” (literalmente: “coma dos manjares da vida”). As mesas dos ímpios são freqüentemente fartas de iguarias custeadas com ganhos desonestos (Pv 1.10-16). 4 O verdadeiro “amor leal” (em hebraico edesh “atos de amizade autêntica”) algumas vezes produz repreensões e feridas (Pv 27.6; Sl 23.5). 5 Os “guias cegos”, que o povo parece sempre preferir como líderes dos destinos nacionais, acabarão por conduzir os ímpios às mais terríveis provações, quando muitos reconhecerão as palavras do profeta, mesmo havendo passado muito tempo de sua morte. Este versículo pode ser transliterado, a partir dos manuscritos hebraicos, da seguinte maneira: Nishmetú vidê sêla shoftehem, veshameú amarai ki naêmu. 6 Por meio de uma fé inteligente, sincera e indestrutível, o crente mantém estreita comunhão (amizade filial e respeitosa) com SALMOS 141–143 138 Entretanto, os meus olhos te contemplam, ó Soberano, SENHOR: em ti deposito toda a minha confiança; não me entregues à morte. 9 Guarda-me da cilada que me armaram e das armadilhas dos malfeitores! 10 Caiam todos os ímpios em sua própria rede, enquanto eu prossigo ileso meu caminho! 8 Oração por libertação Poema sacro de Davi, quando estava na caverna. 142 Em alta voz clamo ao SENHOR, em alta voz suplico ao SENHOR as suas misericórdias!1 2 Derramo diante dele a minha queixa; a Ele apresento a minha angústia. 3 Quando esmorece em mim meu espírito, tu conheces o caminho que devo seguir. Na vereda que percorro, ocultaram uma armadilha para mim.2 4 Olha para a direita, e vê que ninguém se importa comigo! Perdido está para mim o refúgio: ninguém se preocupa com minha alma. 5 A ti, SENHOR, clamei, declarando: “Tu és o meu refúgio, minha partilha na terra dos viventes!” 6 Atende aos meus apelos, pois estou muito exausto. Livra-me dos meus perseguidores, porque são mais fortes do que eu.3 Tira minha alma desta prisão, para que eu dê graças ao teu Nome! Então, os justos me rodearão, por causa da tua bondade para comigo!4 7 Oração por livramento e salvação Um salmo davídico. 143 SENHOR, escuta minha oração, presta ouvido às minhas súplicas; responde-me por tua fidelidade e justiça! 2 Entretanto, não leves teu servo a julgamento, pois nenhum ser vivo é justo diante da tua presença. 3 Pois o inimigo perseguiu-me e prostroume por terra; ele me fez morar nas trevas, como os que há muito morreram. 4 Esmorece em mim meu espírito; meu coração, dentro de mim, está em pânico. 5 Lembro-me dos dias de outrora, medito em todas as tuas ações, reflito sobre as obras de tuas mãos. 6 Estendo para ti as minhas mãos; eis-me diante de ti, qual uma terra sedenta! (Pausa) 7 Depressa responde-me, ó Eterno! Porquanto meu espírito desfalece. Não ocultes de mim a tua face, senão serei igual aos que já baixam à sepultura.2 8 Faze-me ouvir pela manhã, do teu amor leal e perene, pois em ti depositei toda a minha confiança! Dá-me a conhecer o caminho que devo seguir, pois a ti elevo a minha alma. Deus e pode enxergar sua vindicação e a justiça divina em ação, derrotando os maus e ímpios (vv.6,7). Este versículo pode ser assim transliterado: Kemo folêach uvokêa baárets, nifzerú atsamênu lefi sheol. A palavra sheol pode ser traduzida por profundezas, pó, morte ou sepultura, em função do contexto literário em que se encontre. Capítulo 142 1 Davi se vê no fundo do poço, quando vê a luz do Senhor e suplica por sua libertação. A tribulação e o perigo freqüentemente nos levam aos momentos mais intensos e sinceros de oração a Deus: nosso único suficiente refúgio, hoje e eternamente (Sl 17; 22.14,15; 32; 138). 2 Deus deseja que todos os seus filhos sigam pelas vias frutíferas da verdadeira vida (23.3). 3 É durante as crises e nas horas de fraqueza que o crente encontra em Deus sua força e abrigo seguro (2Co 12.9-10). 4 Davi usa uma metáfora para explicar sua sensação de estar acorrentado à aflição (18.19; Jó 36.8). Contudo, o servo do Senhor se apropria da força ministrada pelo Espírito de Deus e antevê, pela fé, sua libertação do fundo da caverna da angústia e da depressão (3.8; 5.11;7.17). Capítulo 143 1 Este é o sétimo e último salmo penitencial (Sl 6). O salmista estriba-se na graça do Senhor mediante o correto uso da sua fé (em hebraico, plena confiança). Nesta oração, Davi pede para ser salvo da angústia, humilhação e ameaça dos inimigos (Sl 130.3-4). 2 A expressão hebraica original, aqui traduzida por “meu espírito desfalece”, significa literalmente: “meu espírito desmaia por causa da ansiedade”, em que a palavra “fôlego” pode ser traduzida por “espírito” (104.29 de acordo com 119.81). A transliteração deste versículo, a partir dos manuscritos hebraicos, pode ser apresentada desta forma: Maher anêni Adonai caletá ruchi, al taster panêcha mimêni venimshalti im ioredê vor. 139 9 SENHOR, livra-me dos meus inimigos, pois me refugiei junto a ti! 10 Ensina-me a fazer tua vontade, pois tu és o meu Deus. Teu bondoso Espírito me guie por terra plana! 11 Pela honra do teu Nome, SENHOR, tu me farás viver; por tua justiça me farás sair da angústia; 12 por teu amor leal e justo acabarás com meus inimigos e farás perecer todos os meus adversários, pois sou teu servo! Graças pela proteção de Deus Salmo davídico. 144 Bendito seja o SENHOR, minha Rocha, que adestra minhas mãos para a guerra, meus dedos para as batalhas! 2 Ele é meu aliado e minha fortaleza, meu protetor; e eu junto dele me abrigo. Ele a mim submete os povos. 3 SENHOR, o que é o homem, para dele tomares conhecimento, ou o filho do homem para que por ele te interesses?2 4 O homem é semelhante a um sopro; seus dias, como a sombra que passa. 5 SENHOR, inclina os céus e desce; toca os montes, para que fumeguem! 6 Fulmina os raios e dispersa os inimigos; arremessa tuas flechas e faze-os debandar. 7 Estende daí, do alto, tua mão: salva-me e livra-me das grandes águas, da mão desses estrangeiros, SALMOS 143–145 8 cuja boca fala mentiras, e que com a mão direita estendida juram falsamente!3 9 Ó Deus, eu te cantarei um cântico novo, tocarei teus louvores na harpa de dez cordas. 10 És tu que dás a vitória aos reis, que da cruel espada salvas Davi, teu servo. 11 Salva-me e livra-me da mão dos estrangeiros, cuja boca fala mentiras e que, com a mão direita estendida, juram falsamente! 12 Quanto aos nossos filhos, serão como plantas, já desenvolvidos na adolescência; nossas filhas, como colunas bem esculpidas, como obras de arte que ornam um palácio. 13 Nossos celeiros estarão repletos, fornecendo provisões e mais provisões. Nossos rebanhos se multiplicarão aos milhares, às dezenas de milhares, pelos nossos campos. 14 Nossas reses andarão prenhes; não haverá brecha nem ataque, nem alarme em nossas praças. 15 Feliz o povo, ao qual assim sucede! Feliz o povo, cujo Deus é o SENHOR! Louvor à divina providência Um hino davídico de louvor.1 145 Exaltar-te-ei, ó meu Deus e Rei, e bendirei o teu Nome por toda a eternidade! Alef 1 Um rei davídico, possivelmente o próprio Davi (Sl 18), eleva uma oração a Deus, suplicando vitória na guerra contra os inimigos de Israel (Sl 138; 143.1,2). O ponto marcante da oração é a confiança (fé) com que o salmista ora, na certeza da resposta amorosa e poderosa do Senhor (v.2; Sl 27.1; 35.3; 62.2). 2 Há pessoas que não oram porque não se sentem dignas; todavia, é exatamente o reconhecimento da insignificância humana que deve levar toda pessoa a uma vida de profundo e permanente diálogo (oração) com Deus. É o incomensurável amor do Senhor que o faz inclinar seus santos ouvidos às nossas preces. E esse amor foi demonstrado cabalmente, por meio da vida e do sacrifício vicário do seu Filho Jesus Cristo, nosso Salvador (Jo 3.16; Hb 12.2). 3 Erguer a mão direita em juramento era um sinal tradicional da expressão absoluta da verdade, gesto usado na celebração de importantes contratos e pactos de lealdade (106.26; Êx 6.8; Dt 32.40). Por outro lado, as mais terríveis armas do Diabo estão ligadas à mentira, falsidade e calúnia (Jo 8.44). Capítulo 145 1 Hino de louvor a Yahweh (o nome hebraico impronunciável de Deus, que pode ser traduzido como Javé ou Jeová), por todos os seus feitos portentosos e seu amor leal infindo. É uma peça musical e poética de extremo esmero, de acordo com as normas estéticas tradicionais da poesia hebraica, bem como a linguagem reverente e clássica dos hinos de louvor. O acróstico alfabético (em destaque no texto bíblico – vide Sl 119) demonstra o especial cuidado na elaboração pormenorizada da obra (Sl 9 e 10). Segue a transliteração desta parte inicial do salmo: Tehillah ledavid, aromimchá Elohai hamélech, vaavarechá shimchá leolam vaed. A expressão tehillah que, nos originais hebraicos, ocorre somente aqui nos títulos (subtítulos no caso da KJ), mas advém da forma plural tehillim, significando “louvores”, é o próprio nome do Saltério. O fato de ser um “salmo davídico” está relacionado à tradição de sua autoria ser creditada a Davi, ou a um de seus descendentes (Sl 138). SALMOS 145, 146 140 Todos os dias te bendirei e louvarei o teu Nome para todo o sempre: Bet 3 “O SENHOR é grande e mui digno de louvor; sua grandeza é insondável”.2 Guimel 4 Uma geração à outra fará o louvor de tuas obras, proclamando teus maravilhosos feitos. Dalet 5 Pregarão sobre a esplêndida glória de tua majestade, e eu meditarei sobre tuas portentosas realizações. He 6 Anunciarão o poder dos teus magníficos e temíveis prodígios, e eu falarei das tuas grandes obras. Vav 7 Divulgarão a memória de tua imensa bondade e cantarão com júbilo tua justiça: Zayin 8 “O SENHOR é clemente e misericordioso, paciente e transbordante de amor leal;3 Het 9 o SENHOR é bom para com todos; e sua compaixão alcança todas as suas criaturas”. Tet 10 Todas as tuas obras, ó SENHOR, te rendem graças, e teus fiéis te bendirão. Yud 11 Eles proclamarão a glória do teu Reino e pregarão sobre o teu poder, Kaf 12 a fim de que todos saibam dos teus feitos maravilhosos e do glorioso esplendor do teu Reino. Lamed 13 Porquanto teu Reino é Reino Eterno, 2 e o teu domínio perdura de geração em geração. Mem O SENHOR é fidedigno em todas as suas palavras, amoroso em todas as suas realizações. Nun 14 O SENHOR ampara todos os que caem e ergue todos os que estão deprimidos. Samek 15 Os olhos de todos em ti esperam, e tu lhes dás o alimento no devido tempo. Ayin 16 Abres tua mão e sacias, de bom grado, todo ser vivo. Pê 17 O SENHOR é justo em todos os seus caminhos e fiel em todas as suas obras. Tsade 18 O SENHOR está junto de todos aqueles que invocam seu Nome, de todos que clamam por sua presença, com sinceridade. Qof 19 Assim, Ele realiza os desejos daqueles que o reverenciam; ouve-os clamar por socorro e os salva. Resh 20 O SENHOR cuida de todos os que o amam, mas destrói todos os ímpios! Shin 21 Minha boca proclamará o louvor do SENHOR, e que todo ser vivo bendiga seu santo Nome para todo o sempre!4 Tav Louvor a Deus por sua misericórdia Aleluia! Louva, ó minha alma, ao SENHOR! 1 146 2 O ser humano não consegue, por mais que ambicione, compreender completamente a grandeza, a justiça e o amor de Deus (Rm 11.33-36). 3 Estas expressões evocam a revelação especial que Deus concedeu a Moisés no deserto do Sinai (Êx 34.6-7). 4 Se até as rochas e os seres inanimados do Universo têm obrigação de louvar a Deus, o Criador Supremo, quanto mais os seres humanos (Cl 1.17), em especial, seus santos (os convertidos e crentes em Deus). Estes devem ser os arautos do Senhor e seus missionários na proclamação da Palavra, mediante uma vida de testemunho e graça. Se cairmos, devemos buscar a luz e a restauração plena em Deus (1Jo 1.7). O temor do Senhor é o princípio indispensável de toda a sabedoria e comunhão eterna com Deus. A rejeição a Deus é o prelúdio da destruição (Sl 111.10). Capítulo 146 1 Este é o primeiro dos cinco salmos pós-exílicos, de “Aleluia”, que encerram o Saltério. O verdadeiro crente jamais perde a 141 Louvarei ao SENHOR, por toda a minha vida; cantarei louvores a meu Deus, enquanto eu existir. 3 Não conteis com os príncipes, com meros seres humanos: são incapazes de salvar! 4 Ao se esvair seu espírito, eles voltam ao pó; no mesmo dia seus planos se apagam. 5 Feliz o que tem por ajudador o Deus de Jacó e, por esperança, o SENHOR, seu Deus, 6 que fez o céu e a terra, o mar e tudo quanto neles há, e que guarda fidelidade para sempre,2 7 que faz justiça aos oprimidos, que dá pão aos que têm fome! O SENHOR é quem liberta os prisioneiros. 8 O SENHOR dá vista aos cegos, o SENHOR ergue os combalidos, o SENHOR ama os justos. 9 O SENHOR protege os migrantes, ampara os órfãos e as viúvas, mas frustra os planos e atitudes dos ímpios. 10 O Eterno reina para sempre; Ele é teu Deus, ó Sião, teu rei de geração em geração. Aleluia!3 2 Louvor ao Deus Todo-Poderoso Aleluia! Como é bom cantar louvores ao nosso Deus; como é agradável prestar-lhe uma adoração condigna!1 2 O Eterno reconstrói Jerusalém; Ele congrega os exilados de Israel.2 147 SALMOS 146, 147 Somente Ele cura os corações quebrantados e lhes pensa as feridas.3 4 Ele fixa o número das estrelas, a cada uma dá um nome.4 5 Nosso Senhor é Soberano e tremendo o seu poder; é infinita sua sabedoria. 6 O SENHOR ergue os humildes, mas rebaixa os ímpios até o chão. 7 Entoai ao SENHOR com ações de graças, cantai ao nosso Deus ao som das cítaras! 8 Ele cobre de nuvens os céus, prepara a chuva para a terra; faz brotar a relva sobre as colinas, 9 dá alimento ao gado e aos filhotes do corvo, quando crocitam de fome. 10 Ele não se compraz no vigor do cavalo, nem dá valor à agilidade dos seres humanos; 11 o SENHOR se agrada dos que o temem, daqueles que depositam sua esperança em seu amor leal e perene.5 12 Glorifica ao SENHOR, Jerusalém! Sião, louva teu Deus! 13 Porque Ele reforçou as trancas de tuas portas e, em teu meio, abençoou teus filhos. 14 Ele, que dá a paz em tuas fronteiras, te sacia com a flor do trigo. 15 Ele envia suas ordens à terra, e veloz corre a sua Palavra.6 16 Ele faz cair a neve como lã, como cinza espalha a geada; 3 confiança e a esperança em Deus; portanto, louva o Senhor – sob as mais difíceis circunstâncias – durante toda a sua vida. Sua fé absoluta está depositada em Deus, e jamais em qualquer pessoa humana (vv.5,6; Jr 17.7). 2 Deus é completamente leal às suas próprias promessas. Falhar com sua Palavra seria negar a Si mesmo (Hb 6.13-18). 3 Este versículo pode ser transliterado, a partir dos manuscritos hebraicos, da seguinte forma: Yimloch Adonai leolam, Eloháyich Tsíon, ledor vador, halelu lá. Capítulo 147 1 O salmista louva ao Senhor pela restauração pós-exílica de Jerusalém. É uma grande alegria adorar a Deus com hinos e cânticos espirituais quando nosso propósito íntimo é somente louvá-lo (135.3). 2 O mesmo poder de Deus (Yahweh) que criou e administra o Universo é aplicado na restauração do seu povo amado (v.2), no conforto dos que sofrem (v.3) e na proteção daqueles que não têm como se proteger sozinhos (v.6). Este versículo pode ser transliterado, a partir dos manuscritos hebraicos, desta maneira: Bone Ierushaláyim Adonai, nidchê Yisrael iechanes. 3 Os dispersos de Israel e os que muito se esforçaram, diante de grande oposição, para reconstruir os muros de Jerusalém, receberam também a bênção da restauração emocional (Sl 137; 126; Ne 2.17-20; 4.1-23). 4 Aquele, cujo poder e inteligência são tão grandiosos, que determina o número das estrelas e lhes atribui os nomes, tem capacidade suficiente para proteger e sustentar todas as pessoas que, humildemente, nele confiam e para abater a altivez e arrogância dos ímpios (20.8; 146.9; Is 40.26-29). 5 Não se agrada a Deus com rituais, sacrifícios e oferendas, mas – e tão-somente – depositando absoluta fé (obediência) na sua Graça e por humilde obediência à sua Palavra (Rm 4.5; 8.4; 2Tm 2.15). 6 Aqui há um bom tema para estudo dos teólogos, astrônomos e astrofísicos: observa-se no primeiro capítulo da Bíblia (Gn SALMOS 147–149 142 lança o granizo aos punhados: diante de tal frio, quem pode resistir? 18 Ele envia sua Palavra e derrete o gelo; faz soprar o vento, e as águas voltam a correr. 19 Ele proclama a Jacó a sua Palavra; a Israel, seus decretos e suas decisões. 20 Isto, não o fez a nenhuma outra nação; todas as outras não conhecem as suas ordenanças. Aleluia! 17 Louvor ao Deus do Universo Aleluia! Louvai ao SENHOR, os do céu, louvai-o nas alturas!1 2 Louvai-o vós todos, seus anjos, louvai-o vós todos, seus exércitos celestiais! 3 Louvai-o, sol e lua, louvai-o vós todas, estrelas brilhantes! 4 Louvai-o vós, os mais altos céus, e vós, águas que estais acima do firmamento! 5 Que eles louvem o Nome do SENHOR, porquanto Ele ordenou, e foram criados. 6 Ele os estabeleceu para todo o sempre, ao promulgar uma Lei, que não passará!2 7 Louvai ao SENHOR, os da terra; cetáceos e profundezas todas;3 8 relâmpagos, granizo, neve e neblina; 148 vendavais e tempestades, todos dóceis à sua Palavra,4 9 montanhas e todas as colinas, árvores frutíferas e todos os cedros; 10 feras e todos os rebanhos domésticos, répteis, aves que voam e todos os demais seres vivos, 11 reis da terra e todos os povos, governantes e todos os magistrados da terra; 12 moços e moças, velhos e crianças! 13 Que todos louvem o Nome do SENHOR, pois o seu Nome é o único sublime, sua majestade está acima da terra e dos céus. 14 Outorgou glória e poder a seu povo, e tem recebido louvor de todos os seus fiéis, dos israelitas, povo a quem Ele tanto ama. Aleluia!5 Hino de vitória e louvor a Deus Aleluia! Cantai ao SENHOR um cântico novo, e o seu louvor, na assembléia dos fiéis!1 2 Alegre-se Israel no seu Criador, os filhos de Sião exultem em seu Rei! 3 Louvem seu Nome com danças, cantem seus louvores com pandeiro e cítara! 149 1) que, quando a voz de Deus soa no Universo, cumpre-se precisa e imediatamente sua vontade. Em paralelo, todos os sinais e maravilhas realizados pelo Senhor, diante de Israel e dos povos pagãos, assim como todos os milagres realizados por Jesus, o Messias, ocorreram infalivelmente logo em seguida a suas ordens (Êx 14.21; Jo 11.43,44). Capítulo 148 1 Todo o Universo e a criação são conclamados a humildemente louvar a Deus (Yahweh). Todos os seres e corpos celestiais (e legiões celestes) se submetem ao Senhor. Somente a Palavra de Deus (o Logos divino – Jo 1.1-3) tem o poder de criar e restaurar todas as coisas. 2 Ao contrário dos que pregam certas teorias filosóficas sobre uma suposta inércia atual de Deus que, havendo criado o Universo, o entregou à sua própria sorte, as Escrituras revelam que Deus não cessa de trabalhar e que cuida, com zelo, de cada detalhe do Universo, em especial dos seres humanos, seu povo e seus filhos sobre a terra (Jo 5.17). 3 O salmista usa pares de figuras de linguagem, empregando uma técnica poética para divisão de assuntos chamada “merisma”, a fim de revelar a extensão e profundidade total do convite universal à adoração e louvor ao Senhor. A expressão “cetáceos” se refere às grandes serpentes marinhas ou mamíferos pisciformes que habitaram o mar e a terra (Gn 1.7,10,21). Ao mencionar “céus e terra”, o salmista apenas está indicando a soma de toda a criação (v.13; 89.11; 113.6; 136.5,6; Gn 2.1,4). 4 É mais fácil o Universo assim como a terra com todos os seus fenômenos físicos e meteorológicos curvarem-se reverente e humildemente, à vontade de Deus, do que o ser humano prestar sincera obediência à Palavra do Senhor (147.15). 5 A expressão hebraica “chifre” que aparece nos originais hebraicos deste versículo significa “vigor, glória, poder”, e representa todo o poder e carisma que acompanham os verdadeiros crentes; seus “santos”, que podem refletir ao mundo a imago Dei, a imagem de Deus (2Co 3.18). Este versículo pode ser assim transliterado: Vaiárem kéren leamo, tehila lechol chassidav, livnê Yisrael am kerovo, halelu lá. Capítulo 149 1 Este salmo pós-exílico presta louvores ao Senhor pelas grandes honrarias concedidas a seu povo. A Israel Deus outorgou uma honra com dois lados: a Salvação (na realidade e na promessa), e o privilégio de servir ao Senhor na execução final do Juízo de Deus contra as potências pagãs mundiais, que atacaram impiedosamente a Cidade Santa e o Reino de Deus. Israel será o contingente terrestre do poderoso exército universal do Rei dos céus (68.17; Js 5.14; 2Sm 5.23,24; 2Cr 20.15-22; Hc 3.3-15). Este 143 4 Pois o SENHOR se compraz em seu povo; Ele coroa de vitória os humildes.2 5 Regozijem-se nessa glória os fiéis e cantem, jubilosos o dia todo e ao deitar!3 6 Altos louvores a Deus estejam sempre em seus lábios; em suas mãos, a espada de dois gumes: 7 para exercer vindicação entre as nações, e castigo sobre os pagãos;4 8 para prender seus reis com grilhões, e com algemas de ferro, seus nobres; 9 para executar contra eles a sentença escrita. E assim, em esplendor e felicidade louvá-lo-ão todos os seus devotos: Louvado seja o Eterno! Aleluia! SALMOS 149, 150 O grande louvor do Universo Aleluia!1 Louvai a Deus em seu Santuário, louvai-o no seu majestoso firmamento!2 2 Louvai-o por seus grandes feitos, louvai-o por sua infinita grandeza! 3 Louvai-o ao som de trombetas, louvai-o com harpas e cítaras! 4 Louvai-o com tamborins e danças, louvai-o com instrumentos de cordas e com flautas! 5 Louvai-o com o clangor dos címbalos, louvai-o, altissonantes trombetas! 6 Que todos os seres vivos louvem ao Eterno! Louvado seja o SENHOR!3 Aleluia! 150 penúltimo salmo marca o Saltério como o livro de orações do AT e, portanto, do povo judeu. Tanto que é tradição, ainda hoje, muitos fiéis recitarem a seguinte oração (transliterada), após a leitura e meditação em algum dos salmos: Mi yiten mitsión ieshuat Yisrael beshuv Adonai shevut amo, iaguel laacov yismach Yisrael. Utshuat tsadikim meadonai mauzam beet tsara. Vaiazerem Adonai vaifaltem, iefaltem mershaim veioshiem ki chássu vo. “Que possa, em breve, vir de Tsión, a salvação de Israel! Quando fizer o Eterno retornar Seu povo do exílio, exultará Jacob e alegrar-se-á Israel. A salvação dos justos provém do Eterno, Seu baluarte para os momentos de aflição. O Eterno os ampara e liberta; das mãos dos ímpios os salva, pela fé que nEle depositam!” 2 A Graça salvadora do Senhor só pode habitar o coração humilde, que não confia em seus recursos pessoais para conquistar a benevolência e o favor do Altíssimo. Somente os salvos podem louvar a Deus pelo presente do maravilhoso resgate e coroa da vida eterna (147.6; Is 55.5; 60.9; 61.3; Hb 12.22-24; Ap 14.3; 15.3). Este versículo pode ser assim transliterado: Ki rotsê Adonai amo, iefaer anavim bishuá. 3 A Salvação é o dom de Deus capaz de conceder nova vida ao crente. Vida repleta de atitudes santas e que glorificam o Nome do Senhor, expressas durante todas as horas do dia por meio de atitudes práticas. Essa salvação evoca também orações e cânticos de louvor à noite (42.8; 63.6; 77.6). 4 O amor justo e leal de Deus tem duas facetas: misericórdia e perdão aos que humildemente recebem sua Graça salvadora, e vindicação (retribuição punitiva – em hebraico neqāmâ) contra os ímpios e arrogantes que procuram destruir seu povo e ridicularizar sua Palavra. O AT está repleto de considerações sobre o castigo divino (58.10; 79.10; 94.1; Nm 31.2; Dt 32-33; 2Rs 9.7; Is 34.8; 35.4; 47.3; 59.17; 61.2; 63.4; Jr 46.10; 50.15,28; 51.6-36; Ez 25.14,17; Mq 5.15; Na 1.2). Entretanto, no NT as nossas armas são outras: devemos nos revestir do poder do Espírito Santo e vencer a fraqueza da nossa própria carne e as investidas dos exércitos de um inimigo ainda mais cruel e voraz: o Diabo (2Co 6.7; 10.4; Ef 6.12,17; Hb 4.12). A participação da Igreja de Cristo e, portanto, dos cristãos, no castigo divino final contra as nações pagãs do mundo está reservada para o momento derradeiro do Dia do Senhor (1Co 6.2,3). Capítulo 150 1 Poema musical especialmente composto para encerrar o grande livro dos louvores a Deus – o Saltério – com uma convocação solene e final ao louvor (Sl 41.13; 72.18,19; 89.52; 106.48; 146). 2 O santuário em Jerusalém é comparado ao magnífico firmamento; a expansão simboliza a presença do poder divino (Gn 1.6; Sl 11.4; 19.1); o templo de Deus na abóbada celeste do universo visível (os céus), que aos olhos humanos parece ser um templo cósmico. 3 O Senhor Yahweh (Deus em hebraico) deve ser reverenciado como o Único e Todo-Poderoso Criador do Universo e dos seres humanos (v.2). Devemos oferecer todos os dons e talentos com os quais fomos contemplados, por propósito divino, para a glória do Criador, nosso Deus (vv.3-5). Todo ser vivente, especialmente o ser humano, é convidado a tomar parte nessa grandiosa e eterna celebração de louvor (v.6). Este salmo antecipa a retumbante e esplendorosa ocupação do Universo por parte dos crentes e todas as criaturas em seu estado perfeito e final, quando tudo o que foi criado estiver plenamente sujeito à absoluta vontade de Deus (1Co 15.24-28).