CAPÍTULO 07 – PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS São considerados materiais naturais de construção aqueles que já se encontram na natureza aptos a serem empregados diretamente, sem qualquer estágio de fabricação, como, por exemplo, as rochas. O aproveitamento destes materiais baseia-se em critérios técnicos, econômicos e estéticos. Sob o ponto de vista técnico consideram-se as propriedades do material que podem ser pesquisadas em laboratório, de acordo com o uso previsto, tais como: resistência à compressão, durabilidade, resistência ao desgaste, etc. As quatro principais condições técnicas são a resistência, a trabalhabilidade, a durabilidade e a higiene (revestimentos, isolantes térmicos ou acústicos, impermeabilizadores, etc.). Desta forma, a utilização de rochas em engenharia deve levar em consideração uma série de propriedades destes materiais: químicas, físicas, geológicas e geomecânicas; de maneira a otimizar sua utilização e reduzir custos. As rochas são os materiais de construção mais antigos de que o homem pôde dispor (ABGE, 1998). As rochas podem ser usadas como revestimento, agregados (materiais granulares para uso em engenharia civil), blocos. Além disso, suas propriedades são importantes para o projeto de fundações de barragens, escavações subterrâneas, estabilidade de taludes, etc. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Rochas como Materiais de Construção: As rochas destinam-se a uso em: concreto, revestimento de rodovias, lastro de ferrovias, enrocamentos e filtros. Em cada uma destas aplicações, as rochas cumprem funções específicas, conforme mostrado a seguir. - Lastro de Ferrovias - Suportar dormentes, resistindo aos movimentos horizontais (ação do tráfego e mudanças de temperatura); - Distribuir cargas das rodas; - Constituir meio de drenagem da água sob os dormentes; - Permitir a movimentação vertical dos trilhos e dormentes sob cargas de passagem das composições; - Reduzir os efeitos destrutivos de impactos; - Retardar ou evitar o crescimento de vegetação na via férrea. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Rochas como Materiais de Construção: - Revestimento de Rodovias - Suportar e distribuir a carga do tráfego às camadas inferiores; Resistir à ação abrasiva do tráfego; Proteger o subleito da ação mecânica das águas. - Enrocamento - Proteção de aterros, encostas, taludes de barragens, pilares, etc., contra a erosão; Proteção contra o impacto de ondas (rip-rap); Constituir filtros de transição (entre o enrocamento e o aterro) para impedir o carreamento de partículas (ação do solapamento); Para construção de ensecadeiras de barragens; Constituir o corpo da barragem de enrocamento. - PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Rochas como Materiais de Construção: - Concreto - Resistir a esforços solicitantes, ao desgaste e ação de intempéries; Reduzir as variações de volume de qualquer natureza; Contribuir com a redução do custo do concreto. - Filtros - Purificar a água em barragens de abastecimento e aliviar pressões neutras nos maciços das barragens de terra. - Cantaria - Embelezamento de fachadas e o pisos; Proteção contra agentes intempéricos. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Químicas São importantes para definir se determinado tipo de rocha pode ou não ser utilizado como agregado em concreto ou pavimentos asfálticos. Adesividade É a capacidade que uma rocha tem de se “ligar” ao betume. Quanto maior o teor de sílica (SiO2), menor a adesividade no contato brita/betume (asfalto), e maior será a desagregação, diminuindo a resistência do produto. Depende da natureza petrográfica e do estado de alteração. Para a determinação da adesividade de uma rocha, verifica-se visualmente a resistência ao descolamento em amostra seca de agregado imersa em produto asfáltico padrão. Pode ser satisfatória ou insatisfatória. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Químicas Reatividade Potencial Existem componentes de uma rocha que são quimicamente ativos, ou seja, induzem mudanças químicas sob certas condições. Exemplos disto são os minerais silicosos amorfos, ou de quartzo cristalograficamente deformados por processos tectônicos. Estes componentes podem reagir com o cimento, quando utilizados como agregado para concreto. Estas reações, denominadas álcali (cimento) – agregado (rocha) são expansivas e, como consequência, podem provocar a degradação do concreto através do surgimento de rachaduras. Para que estas reações ocorram, o teor de álcalis no cimento deve ser superior a 6%, principalmente Na2O3. A determinação da reatividade potencial dos agregados pode ser efetuada, em laboratório, através de dois procedimentos (ABGE, 1998): • Método químico – o agregado, moído, é submetido à dissolução em solução de NaOH 1N. A quantidade de sílica dissolvida e a consequente redução de alcalinidade permitem classificar o agregado; • Método de barras – corpos de prova de argamassa, nos quais a areia proveniente da moagem do agregado é combinada com cimento de alcalinidade conhecida, são colocados em ambiente de umidade controlada e as eventuais expansões, devido às reações, são medidas periodicamente a partir de 14 dias até 12 meses. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Físicas Massa Específica Aparente e Real A massa específica da rocha que compõem o agregado é importante para o cálculo do traço do concreto, na avaliação do peso morto do agregado ou de uma placa de revestimento. Trata-se de uma relação entre a massa dos grãos minerais que constituem o agregado e seu respectivo volume. Assim, a massa específica real é obtida da seguinte maneira: Já a massa ou peso específico aparente é a relação entre o peso total e o volume total. Logo: É possível correlacionar a massa específica (real ou aparente), com o estado de alteração da rocha. Assim, quanto mais alterada a rocha estiver, menor será o valor da massa específica. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Físicas Porosidade Aparente Está relacionada à quantidade de vazios existentes em uma rocha, estejam eles conectados entre si ou não. A porosidade influi na resistência do agregado e da placa de revestimento, bem como na quantidade de água necessária à confecção do concreto. A determinação da porosidade é feita através da pesagem de corpos de prova secos, saturados na condição submersa e saturados. Também esta propriedade está relacionada à alteração, assim, quanto maior a alteração, maior é a porosidade. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Físicas Capacidade de Absorção É a quantidade máxima de água que uma determinada rocha pode armazenar quando se encontra saturada, isto é, quando todos os seus poros estão preenchidos por água. É facilmente correlacionável com a porosidade, pois quanto maior a porosidade, maior será a capacidade de absorção. Relaciona-se com a alteração da mesma forma que a porosidade, ou seja, quanto maior a alteração, maior o grau de absorção. onde: PSAT – Peso saturado; PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Físicas Forma dos Fragmentos A forma dos fragmentos é uma das propriedades mais importantes para a caraterização tecnológica de agregados. Ao ser britado, o material resultante tem formas e tamanhos variados, pois tanto a estrutura da rocha como as condições de britagem exercem influência marcante na sua forma. A determinação da forma deve ser especificada para a faixa granulométrica adotada, posto que menores dimensões tendem a apresentar formas mais alongadas e lamelares. Para a determinação da forma dos fragmentos, mede-se o comprimento (a), a largura (b), e a espessura (c) em um universo de 25 amostras. A partir dos dados coletados, calculam-se as relações b/a e c/b, faz-se a média aritmética e classifica-se a forma de acordo com a Tabela: PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Físicas Condutibilidade Térmica É uma propriedade que está relacionada com a capacidade da rocha em absorver calor. É importante na utilização em concreto, em fundações e em pavimentos. É responsável pela grande variação volumétrica em regiões com gradientes de temperatura elevados. Resistência ao Impacto (Tenacidade) É a resistência que a rocha oferece ao choque e depende da forma e das dimensões dos fragmentos. É avaliada através de um ensaio denominado Impacto Treton e sua caracterização é muito importante para a determinação de material para lastro ferroviário. Para o ensaio utilizam-se 20 fragmentos equidimensionais de rocha com dimensões entre 16 e 19 mm, colocados sobre uma base metálica. Um tubo cilíndrico de aço ajusta-se à base e serve de guia para um peso de massa igual a 15.58 Kg, deixado cair 10 vezes de uma altura de 38 cm sobre os fragmentos. O resultado do ensaio, média aritmética de três determinações, é obtido pela fórmula: PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Físicas Resistência ao Impacto (Tenacidade) No caso de material para revestimento de pisos, o ensaio é executado em uma placa de rocha de 20 x 20 x 3 cm, assentada em um colchão de areia, de granulação média, com 10 cm de espessura. Uma esfera de aço de 1 Kg é deixada cair de alturas progressivamente maiores, a partir de 20 cm e a intervalos de 5 cm, até que ocorra a ruptura da placa. A Figura abaixo, a seguir, mostra os ensaios de Impacto Treton e de Placa. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Físicas Resistência ao Desgaste (Abrasão) Também chamada de resistência à abrasão. Os materiais rochosos, na forma granular, destinados ao uso como agregado para concretos (hidráulico e betuminoso) e lastro de ferrovia poderão estar sujeitos ao desgaste e ao impacto, tanto na fase de preparação dos concretos como na de socagem do lastro, além das solicitações do tráfego (ABGE, 1998). A determinação desta propriedade é feita através de um ensaio denominado Abrasão Los Angeles, em que uma amostra, com granulometria e massa pré-fixada, é introduzida em um tambor de aço, juntamente com esferas de aço, conforme a Figura abaixo. O tambor é colocado para girar à uma velocidade de 33 ¼ rpm por 15 ou 30 minutos, dependendo da granulação da amostra. Após esta operação o material resultante é passado na peneira com abertura 1,68 mm, pesando-se o material que passa. Quanto maior for a porcentagem, menor será a resistência do agregado. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Físicas Resistência ao Desgaste (Abrasão) PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Físicas Resistência ao Desgaste (Abrasão) PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Físicas Resistência a Esmagamento Caracteriza o comportamento de materiais rochosos quanto ao esmagamento. Como exemplo, podemos citar o uso de agregados em pavimento betuminoso ou em lastro de ferrovia, onde estes estão submetidos à carregamentos do tipo compressional pela ação do peso e do tráfego de veículos, podendo se desagregar ou produzir pó pela quebra de cantos e arestas. O ensaio de caracterização, neste caso, é o ensaio de Esmagamento, em que um volume determinado de material britado, na dimensão entre 12,5 e 9,5 mm e peso conhecido, é submetido à uma compressão de até 40 t, através de um cilindro rígido de aço, conforme mostra a Figura. O resultado é obtido pela média de dois ensaios e expresso pela porcentagem de material desagregado com dimensões menores que a abertura da malha de 2,4 mm. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Físicas Resistência a Esmagamento PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Geológicas Composição Mineralógica, Alteração e Coerência A definição da mineralogia e do estado de alteração e de coerência de uma rocha é fundamental na definição da qualidade do maciço rochoso, visando a sua utilização para cada tipo específico de obra. Assim, dependendo do mineral que constitui uma rocha, esta pode se alterar mais ou menos e com maior ou menor velocidade. Neste curso, ao utilizarmos o termo alteração estaremos nos referindo principalmente à alteração meteórica ou intempérica, ou seja aquela que ocorre na superfície da Terra devido à ação de processos intempéricos e que diminuem a resistência mecânica, aumentam a deformabilidade e modificam as propriedades de permeabilidade das rochas. Há um segundo tipo de alteração, denominada hidrotermal, que ocorre no interior da Terra e está ligada a fenômenos magmáticos (rochas ígneas) que também influencia na suscetibilidade ao intemperismo, porém em menor grau que a alteração propriamente dita. A avaliação do estado de alteração é feita com base em uma classificação qualitativa, definida pela ISRM, conforme a tabela abaixo. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Geológicas Composição Mineralógica, Alteração e Coerência PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Geológicas Composição Mineralógica, Alteração e Coerência A coerência é definida também qualitativamente através da dureza, da friabilidade e da tenacidade da rocha. Para tanto, faz-se uma descrição da resistência que uma rocha oferece ao impacto de um martelo, ao risco de um canivete ou à pressão dos dedos. Os resultados são comparados com uma classificação definida pela ISRM, conforme a tabela a seguir. Este parâmetro, em conjunto com a alteração, permite determinar, de maneira prática a intensidade da ação intempérica sobre um maciço rochoso. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Geológicas Textura e Estrutura A textura de uma rocha é maneira (“fabric”) como os minerais que a constituem estão arranjados, ou seja: tamanho, tipo de contato, fraturamento, orientação, alteração, cimentação entre grãos, etc. Estas características influenciam a resistência mecânica do maciço rochoso e podem definir anisotropias, ou seja, a variação de uma determinada propriedade com a direção. A presença de estruturas geológicas – falhas, fraturas, juntas, dobras, foliações, lineações, também controlam o comportamento do maciço rochoso porque em geral apresentam propriedades distintas da matriz rochosa, além de poderem induzir mudanças nesta matriz por facilitarem a circulação de água em subsuperfície, aumentando a alteração; além do poderem introduzir anisotropias no maciço rochoso. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Geológicas Alterabilidade É a velocidade com que uma rocha se altera. Pode ser avaliada pela análise petrográfica, macro e microscópica ou avaliada de acordo com a presença de certos minerais: argilominerais expansivos, pirita, calcita, etc. Outra forma de se avaliar a alterabilidade é através da realização de ensaios específicos, em que as reações intempéricas (físicas e/ou químicas) são catalisadas, dentre os quais destacam-se: ciclagem natural, ciclagem água-estufa, ciclagem com etileno-glicol e extrator soxhlet. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Mecânicas Resistência à Compressão É a carga por unidade de área sob a qual um determinado tipo de rocha rompe, quando submetida à esforços compressivos. Depende do tipo de rocha, mineralogia, fraturamento, grau de alteração, estruturas, porosidade e teor de umidade. Pode ser determinada de duas maneiras: uniaxial (amostra não confinada) e triaxial (amostra confinada). É uma propriedade fundamental em obras de fundações, barragens e escavações subterrâneas. Resistência à Tração É a resistência máxima suportável por uma rocha quando submetida à esforços distensivos. Em geral, seu valor é cerca de 10% do valor da resistência à compressão uniaxial. É uma propriedade muito importante em estudos de estabilidade de talude, escavações subterrâneas e barragens. É determinada através de ensaios de tração direta ou indireta, dentre os quais destaca-se o ensaio brasileiro, ou ensaio Lobo Carneiro. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Mecânicas Resistência ao Cisalhamento É a resistência máxima da rocha quando submetida à forças cisalhantes (cortantes). É importante em estudos de estabilidade de talude, fundações, escavações subterrâneas e barragens. É determinada através de ensaios de cisalhamento direto. Módulo de Elasticidade (Módulo de Young) – E É uma característica intrínseca da rocha, relacionada com o comportamento elástico (deformação reversível), ou plástico (deformação irreversível). Depende da presença de estruturas, do teor de umidade, do grau de saturação, do tipo de rocha e da mineralogia. Fundamental em estudos de escavações subterrâneas, fundações e barragens. Através da Lei de Hooke, temos que: σ=E.ε em que: - σ é a tensão aplicada; - E é o módulo de elasticidade ou de deformabilidade; - ε é a deformação sofrida. PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DAS ROCHAS Propriedades Mecânicas Coeficiente de Poisson (υ) É a relação entre as deformações transversais e longitudinais sofridas por uma rocha, quando submetida à um carregamento (compressão). Assim como o módulo de elasticidade, é importante em projetos de escavações subterrâneas, fundações e barragens. Permeabilidade Está relacionado à maior ou menor facilidade com que um fluido, em geral a água, percola através de um meio. O coeficiente de permeabilidade ou condutividade hidráulica, k, é determinado através de ensaios “in situ” – perda d’água sobre pressão, ou em laboratório – ensaios com permeâmetros (ver capítulo sobre Investigações Geológico-Geotécnicas).