INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA Departamento Acadêmico de Saúde e Serviços - DASS Curso Técnico em Meteorologia Leonardo Edemir Cacilhas Paulo Ricardo Hames Jéssica Cristina Régis Vanessa Cristina Régis SISTEMAS FRONTAIS E UM CASO DE NEVE NO RIO GRANDE DO SUL Florianópolis 17 de junho de 2009 E 2 "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Antoine Lavoisier 3 RESUMO Como a atmosfera se encontra em constante movimento, por causa das forças fundamentais que atuam na mesma. Ela está sujeita aos diversos sistemas que causam variações significativas no tempo. Um dos deles são os Sistemas Frontais, que englobam diversos elementos meteorológicos essenciais para a existência desde sistema como o encontro de duas massas de ar de características termodinâmicas diferentes, formando entre ambas uma zona ou frente. Assim existe a formação das nuvens associadas a esta frente e finalmente o ciclone, que é um centro de baixa pressão. Com base dos conceitos básicos que determinam a compreensão de um sistema frontal, realizou-se um estudo de caso sobre a neve ocorrida em setembro do ano 2008 no sul do Rio Grande do Sul. Para tal, foram inseridas cartas sinóticas, imagens de satélite, bem como a descrição do tempo cronológico e os dados de temperatura colhida das estações meteorológicas automáticas de Caçapava do Sul, Bagé, Canguçu, Santana do Livramento, todas no Estado gaúcho. A fim de chegar até a mais pura realidade dos fatos, foi feita uma entrevista com pessoas que vivenciaram a neve. Os resultados obtidos foram o estudo detalhado do caso e seu impacto, visto que chamou a atenção pela época em que ocorreu. Palavras-chave: massas de ar, sistemas frontais, neve, ciclone extratropical, nuvens. 4 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1. Esquema de Circulação geral da atmosfera......................................................... 7 FIGURA 2 . Massas de ar atuantes no Brasil...........................................................................8 FIGURA 3. Modelo conceitual de uma frente fria.....................................................................10 FIGURA 4. Modelo conceitual de uma frente quente................................................................11 FIGURA 5. Representação de uma frente estacionária.............................................................11 FIGURA 6. Modelo Conceitual de uma frente oclusa................................................................11 FIGURA 7. Imagem de satélite no canal infravermelho realçado...............................................13 FIGURA 8 . Processo de ciclogênese....................................................................................15 FIGURA 9 . Modelo conceitual de um Ciclone Extratropical por Bjerknes..................................16 FIGURA 10 . 03h00min – GMT................................................................................................17 FIGURA 11 - 06h00min – GMT................................................................................................17 FIGURA 12 - 09h00min – GMT ..............................................................................................18 FIGURA 13 – Carta sinótica do dia 04/09/2008 as 12z .............................................................20 FIGURA 14 – Carta sinótica do dia 05/09/2008 as 12z..............................................................21 FIGURA 15 – Carta sinótica do dia 06/09/2008 as 00z . ...........................................................23 FIGURA 16 .Carta sinótica do dia 07/09/2008 as 00z................................................................24 5 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................................6 2. MASSAS DE AR....................................................................................................................7 3. SISTEMAS FRONTAIS E SEUS COMPONENTES..................................................................10 4. IDENTIFICAÇÃO E TIPOS DE NUVENS NUM SISTEMA FRONTAL........................................13 5. CICLOGÊNESE, CONCEITO E FORMAÇÃO DE UM CICLONE EXTRATROPICAL..................15 6. NEVE, A RELAÇÃO ENTRE AS MASSAS POLARES E CICLONES........................................19 6.1. O evento na metade sul gaúcha.........................................................................................19 6.2. Entrevista com um atingido pela neve....................................................................................24 7. CONCLUSÃO.............................................................................................................................26 REFERÊNCIAS...............................................................................................................................27 ANEXO A........................................................................................................................................28 6 INTRODUÇÃO No passado, a partir de pesquisas e mais desenvolvimentos científicos, descobriu-se que a atmosfera não é estática como se pensava. Foi aí que adentrou a teoria de Hadley, a qual diz que a diferença do ângulo de incidência de radiação solar é diferente entre os pólos e o equador. Fixando-se nesta idéia, Hadley concluiu que existem diferenças de temperaturas entre ambas as regiões citadas anteriormente. Com a variação da temperatura, obviamente logo se pensou na variação de pressão, pois o ar mais aquecido do equador ascende por ser menos denso, acumula-se em altitude e acaba se dirigindo para os pólos, onde se resfria por completo. Esse ar torna-se mais denso e acaba por ter um movimento descendente, gerando assim uma área com alta pressão atmosférica na região polar, a qual será levada até o equador em virtude da diferença de pressão atmosférica. Isso origina a célula de Hadley. Mediante esse raciocínio, descobriu-se que existem ainda outras células, as quais formam as altas pressões subtropicais e baixas pressões subpolares. Em virtude dessa variação de temperatura, pressão e consequentemente umidade, temse a formação das massas de ar, que nada mais são do que porções de ar estacionadas em um determinado lugar, adquirindo suas características, ou seja, uma massa formada nos pólos deverá ser fria e seca. Como a atmosfera é dinâmica, do encontro das massas de ar distintas, forma-se os sistemas frontais, que exercem grande papel na formação de instabilidades, causando mudanças bruscas nas condições do tempo por onde passam, além de causar danos em função dos fortes ventos muitas vezes associados a ciclones extra tropicais. A combinação frio intenso e umidade alta darão início ao processo da formação da neve. E é com base neste assunto que neste estudo serão abordados os sistemas frontais e um caso de neve ocorrido no sul do Rio Grande do Sul em setembro de 2008, destacando passo a passo a trajetória dos sistemas, bem como entrevistando pessoas que vivenciaram o fenômeno. 7 MASSAS DE AR O que é uma massa de ar? Fonte: http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/ FIGURA 1– Esquema de Circulação geral da atmosfera De acordo com Rubens Leite Vianello e Adil Rainier Alves (1991, p. 311), Não existe um constante gradiente de temperatura entre a linha equatorial e os pólos. Sendo assim, Vianello e Alves afirmam que grandes porções de ar quente podem permanecer largamente entre o equador e os trópicos, assim como o ar frio pode permanecer sobre as regiões polares. Com isso há a formação das diferentes massas de ar, que são grandes porções de ar com praticamente a mesma propriedade termodinâmica, ou seja, temperatura e umidade uniformes. Elas deslocam-se pelo globo de acordo com variação da pressão (Figura 1). Partindo 8 desse conceito, surge a classificação das massas de ar, que vai ser apresentada a seguir: Massas de ar equatoriais: dominam toda a parte equatorial do globo terrestre, sendo assim quente e bastante instável. Massas de ar tropicais: desenvolvidas através do cinturão de altas pressões subtropicais, tendem a ser geralmente quentes e quando sobre o mar transportam umidade. Originam-se pela subsidência do ar que subiu no equador. Massas de ar polares: anticiclones migratórios, secos e frios, que perdem suas características ao longo do deslocamento. Massas de ar Antártica: por se originar no continente antártico, elas obviamente são extremamente frias e secas. Na figura 2, observa-se as diversas variáveis de massas de ar atuantes na América do Sul. 9 Fonte: http://www.portaltosabendo.com.br/editor/assets/Figura38.jpg FIGURA 2 – Massas de ar atuantes no Brasil Massa equatorial continental: forma-se na floresta Amazônica. Em virtude do seu lugar de origem, tem-se o predomínio de baixas pressões atmosféricas, as quais irão constantemente gerar nuvens de desenvolvimento vertical e, consequentemente, elevados volumes de chuva ao longo do ano. Massa equatorial marítima: origina-se na Zona de Convergência intertropical e, consequentemente, é quente e úmida. Tem influência sobre o regime pluviométrico na região nordeste do Brasil e da América do Sul no verão. No inverno com o aquecimento maior no Hemisfério Norte e na linha equatorial, essa massa tende a migrar para essas áreas. Massa tropical continental: tem como região de origem a região do Chaco, onde predominam regiões com baixas pressões atmosféricas, tendo o ar sempre quente e seco, porém bastante instável em virtude da convergência de calor e umidade da massa equatorial continental, sobretudo no verão quando se desenvolvem os sistemas convectivos de mesoescala. Massa tropical marítima: localizada sobre o oceano Pacífico e Atlântico, é dominada por um sistema de alta pressão subtropical desenvolvido pela descendência do ar que ascendeu no equador. Segundo, Vianello e Alves (2002, p. 313), a parte inferior desses anticiclones é fria e úmida, já a parte superior é quente e seca. Essa massa exerce influência em todo o território litoral Brasileiro, criando o clima tropical mais úmido. Massa polar Marítima: essa é seca e fria, migratória e assim perde um pouco de suas características no deslocamento em direção ao equador. Quando se encontram com o ar quente próximo do Equador, acontece o processo de frontogênese, assunto do próximo capítulo. 10 SISTEMAS FRONTAIS E SEUS COMPONENTES. Frente é intersecção da superfície frontal com a superfície (PETTERSEN, 1956; VIANELLO, 1991; OLIVEIRA, 2001). Em outras palavras é a linha que separa massas de ar com discrepâncias termodinâmicas. Esse conceito de sistema frontal foi proposto por Bjerknes (1919), com intuito de comparar as grandes batalhas da primeira guerra mundial. As frentes são classificadas em: Frente fria: é o avanço do ar frio mais denso por baixo do ar quente, fazendo-o levantar e formar nuvens (figura 3). Fonte: www.rainhadapaz.g12.br/.../frente_fria.jpg FIGURA 3 – Modelo conceitual de uma frente fria Frente quente: dá-se quando o ar quente tem mais força e caminha por cima de uma espécie de “rampa” formada pelo ar mais frio (figura 4). 11 Fonte: www.rainhadapaz.g12.br/.../frente_quente.jpg FIGURA 4 – Modelo Conceitual de uma frente quente Frente Estacionária: ocorre quando nem o ar frio e o ar quente têm força o suficiente para se deslocarem, causando um equilíbrio (figura 5). FIGURA 5 – Representação de uma frente estacionária Frente oclusa: é o avanço do ar muito frio ao encontro do ar menos frio localizado na vanguarda da frente quente (figura 6). Fonte:upload.wikimedia.org/.../300px-Frente_oclusa.jpg FIGURA 6 – Modelo conceitual de uma frente oclusa 12 Frontogênese: Eis a seguinte situação. Há uma frente estacionária sobre o centro da Argentina, ou seja, um equilíbrio de pressão entre ambas as massas. Por vezes um cavado (área alongada de baixa pressão) em altos níveis cruza os Andes e chega próximo ao sistema frontal. Como na borda do cavado em altitude o ar ascende, acaba derrubando a pressão, formando uma baixa pressão em algum ponto da frente. No eixo (centro) do cavado o ar descende, aumentando a pressão em superfície e intensificando o anticiclone polar. Os ventos desse sistema começam a girar ciclonicamente ao redor da baixa pressão. Isso ocorre em função da força de Coriolis, ou seja, a influência do movimento rotacional da terra, fazendo os sistemas circularem. Desse processo se formará uma onda frontal, a qual avançará para nordeste no HS (ou sudeste no HN), carregando o ar frio em sua retaguarda. Em muitos casos, tem-se a formação de ondas frontais subtropicais, as quais só avançam e trazem apenas tempo bom em sua retaguarda e não necessariamente frio intenso. Assim, frontogênese é o processo de formação ou intensificação de uma frente e frontólise para o enfraquecimento e dissipação (Pettersen, 1956). 13 IDENTIFICAÇÃO E TIPOS DE NUVENS NUM SISTEMA FRONTAL. A partir das imagens de satélite e visão a olho nu, adquire-se a possibilidade de identificar os diversos tipos de nebulosidade associados aos sistemas frontais. Frente fria: caracteriza-se por uma extensa banda de nuvens com milhões de quilômetros de comprimento com centenas de quilômetros de largura. Na imagem de satélite infravermelho realçada há uma frente fria bem no canto direito da imagem (figura 7). .Fonte: EPAGRI-CIRAM FIGURA 7 – Imagem de satélite no canal infravermelho realçado As nuvens formadas na dianteira do observador, primeiramente, em virtude dos Jatos em altos níveis da troposfera, aparecem nuvens cirrus: “nuvens isoladas com forma de filamentos brancos e delicados, ou de bancos, ou de faixas estreitas, brancas ou em sua maioria brancas. Estas nuvens têm um aspecto fibroso ou brilho sedoso, ou ambas as coisas” (VIANELLO e ALVES, 1991, p.345). Logo aparecem as derivações dos cirrus, como os cirrocumulus e cirrostratus. Em seguida entram médias, com os altocumulus, que de acordo com Vianello e Alves são um lençol ou camada de nuvens brancas ou cinzentas, ou simultaneamente brancas e cinzentas, apresentando geralmente sombras próprias, compostos de pequenas lâminas, seixos, rolos, etc., de aspecto muitas vezes parcialmente fibroso ou difuso. 14 Posteriormente chegam os Cumulunimbus, os quais são nuvens com enorme desenvolvimento vertical e as únicas a produzir descargas elétricas e granizo. Por último vem os Nimbostratus, que é uma nuvens cinzenta e sombria, provocadora de tempo chuvoso constante, inclusive é a partir desses tipos de nebulosidade que vão ocorrer precipitações de neve. Frente quente: Aparecem menos nítidas nas imagens e também bem reduzidas em relação às frentes frias. 15 CICLOGÊNESE, CONCEITO E FORMAÇÃO DE UM CICLONE EXTRATROPICAL. O processo de formação de um ciclone frontal é chamado de Ciclogênese. Ciclones Extratropicais: Também chamados ciclones de latitudes médias, são sistemas de baixa pressão frios, sempre associados a sistemas frontais, sendo causadores de ventos fortes e mar agitado por onde passam. Formação: Segundo Mario Adelmo Varejão-Silva (2006, p. 380), na linha onde se posiciona a zona frontal, ou seja, o encontro de massas de ar distintas termodinamicamente, o ar frio por ter uma densidade maior em relação ao ar quente, naturalmente forma ondas atmosféricas. Tais ondulações são ciclônicas, favorecendo a convergência de massa e a conseqüente formação de um núcleo de baixa pressão à superfície. Na figura 8, podemos acompanhar as etapas do processo. Fonte: www.master.iag.usp.br/.../AULA04/AULA04.HTML (2004). FIGURA 8 – Processo de ciclogênese. Ainda no estágio inicial da onda, o ar frio avança de sul (HS) e o ar quente de norte. Rubens Leite Vianello (2002, p.321) em seu livro, complementa que à medida que o ar frio avança ao encontro da frente quente, a circulação ciclônica adquire ainda mais intensidade e, consequentemente, o ciclone também. Desta forma o rebaixamento de pressão acentuado causa os ventos característicos dos Ciclones 16 Extratropicais. Também afirma que em altos níveis da troposfera se desenvolve um cavado igualmente ao padrão de superfície. Na figura 9, tem-se o modelo conceitual de um Ciclone Extratropical (HN), elaborado por Bjerknes em 1919: . Fonte: REBOITA (2008). FIGURA 9 – Modelo conceitual de um Ciclone Extratropical por Bjerknes Outro ponto a citar é que, de acordo com A. S. Oliveira (1986 apud MONTEIRO, 2007, p. 71), em latitudes médias como o litoral norte da Argentina e Rio Grande do Sul, é preciso que se tenha uma frente estacionária por um determinado período de tempo em superfície, para dar início ao processo de formação de um Ciclone Extratropical. Nas seqüências de imagens de satélite GOES no canal infravermelho colorido, identifica-se nitidamente a afirmação dita anteriormente. O evento foi um Ciclone Extratropical a leste do Sul do Brasil no dia 20 de agosto de 2007 (figuras 10, 11 e 12). 17 FIGURA 10 – Ciclone desenvolvendo-se. 03h00min – GMT FIGURA 11 – Fase madura. 06h00min – GMT 18 FIGURA 12 – Deslocamento para o oceano Atlântico. 09h00min – GMT Fonte: CPTEC/INPE 19 NEVE, A RELAÇÃO ENTRE AS MASSAS POLARES E OS CICLONES A neve é um tipo de precipitação, porém na forma de cristais de gelo, que podem ser flocos, pelotas ou grãos de neve. Seu processo de formação se dá quando partículas de água super resfriadas dentro da nuvem encontram núcleos de congelamento, nos quais esta particular acaba congelando. Os núcleos podem ser poeiras ou qualquer outra particular carregada pelo vento. Após algum tempo, a neve não é mais sustentada pelo ar e acaba caindo. Se a temperatura na superfície for baixa, a neve consegue cair sob sua forma original. Caso contrário acontece a chuva congelada. Geralmente, sobretudo nas latitudes médias, a associação de uma massa de ar muito frio com um Ciclone Extratropical (que traz umidade e forma nuvens) pode acarretar a neve. O evento de neve na metade sul gaúcha: No dia 4 de setembro de 2008, havia um sistema frontal com ramo estacionário sobre o Sul do Brasil. No sul da Argentina deslocava-se uma ampla e intensa massa de ar polar, como podemos ver na carta sinótica de superfície, disponível no site do CPTEC (Centro de Previsão do tempo e estudos climáticos) (figura 13). 20 FIGURA 13 – Carta sinótica do dia 04/09/2008 às 12z Na noite do mesmo dia a Metsul Meteorologia já previa em seu blog chamado Direto da Metsul, chance de neve na Argentina, Uruguai e sul do RS. A sexta-feira será de frio intenso para setembro com valores de temperatura raramente observados durante a tarde em algumas cidades do Estado. Instala-se um complexo cenário atmosférico em que sistema de baixa pressão passa a atuar junto ao ar polar, trazendo chuva que pode ser forte e rajadas de vento. Não se descarta a possibilidade de neve ou queda de gelo em pontos de menor altitude do Sul, Centro e parte do Oeste, onde o frio será muito mais intenso. No dia 05 de setembro de 2008, o avanço de um Vórtice Ciclônico (baixa pressão) em níveis médios da troposfera diminui de forma significativa as temperaturas nessa altitude, o que junto ao ar muito frio e úmido em superfície acabou formando a neve. De acordo com a MetSul Meteorologia, houve neve granular em Santana do Livramento, Herval, Arroio Grande, Hulha Negra, Candiota, Bagé, Aceguá, Dom Pedrito, Morro Redondo e pontos isolados da área urbana de Pelotas. A neve em flocos ocorreu em Pedras Altas, Canguçu, Piratini e sobretudo 21 em Pinheiro Machado, cuja cidade teve duas horas seguidas de precipitação nival e acumulação no solo. No anexo A, são apresentadas as fotos da nevasca no RS. Na carta sinótica de superfície das 12 UTC do 05/09/2008, pode-se notar o avanço da grande Alta pressão polar pela Argentina. A frente estacionária continua sobre o Sul do Brasil, porém mais deslocada para norte (figura 14). FIGURA 14 – Carta sinótica do dia 05/09/2008 as 12z Esse dia teve temperaturas extremamente baixas para Setembro no Rio Grande do Sul (tabela 1). 22 TABELA 1 – Temperaturas mínimas no dia 5 de setembro de 2008 no RS. Cidade Temperatura mínima Caçapava do Sul Obs 2,5ºC 6,9ºC (3,4ºC as 14h) Bagé 2,5ºC 8,6ºC (3,5ºC as 14h) Canguçu 2,2ºC 5,5ºC (3,2ºC as 14h) Santana do 2,7ºC Livramento 7,8ºC (3,4ºC as 13h) Fonte: Inmet. Pela noite, o Vórtice Ciclônico em médios níveis, comentado anteriormente acabou intensificando o sistema frontal e dando início ao processo de ciclogênese, ou seja, formação de um ciclone extratropical. Conforme a carta da 00 UTC do dia 06, equivalente às 21h no Brasil (figura 15). 23 FIGURA 15 – Carta sinótica do dia 06/09/2008 às 00z No dia 06 de setembro de 2008 o ciclone extratropical está formado sobre o oceano próximo da costa Sul brasileira, de acordo com a figura 16. Sua pressão atmosférica central é de 1000 hPa. 24 FIGURA 16 – Carta sinótica do dia 07/09/2008 AS 00z 6.2 Entrevista com um atingido pela neve. Entrevistador: Paulo Ricardo Hames Entrevistado: Renato Farias Local: Piratini, RS Em que período do dia começou a precipitar a neve? Por volta das 10 horas da manhã Qual foi a intensidade? Começou fraca mas depois ficou forte Qual foi sua duração? Permaneceu o dia inteiro Então houve bastante acumulação? Sim, acumulou muito 25 Qual foi o último evento de neve que presenciou na região? Em julho de 1994, época da Copa do Mundo. Já havia visto neve em setembro? Nunca. Achei anormal. 26 CONCLUSÃO Mediante esta pesquisa envolvendo o assunto Sistemas Frontais, foi extremamente importante conhecer e conceituar passo a passo cada variável do tema, bem como as palavras de pesquisadores que no passado descobriram tesouros de conhecimento e hoje dão o prazer de entender que a atmosfera é dinâmica, ou seja, nada está parado. Observando-se uma nuvem neste exato momento, se pode afirmar com definitiva certeza que daqui a alguns minutos ela não será a mesma e não estará no mesmo lugar. No estudo de caso apresentado ao fim da pesquisa, foi analisado a evento de neve ocorrido em setembro de 2008, usando imagens, dados e entrevista. Assim foi breve, mas detalhadamente relatado a fenômeno, deixando claramente as características climáticas do Sul do Brasil, bem como mostrar as diversas anomalias e acontecimentos que nem todos os anos são observados sobre um mesmo lugar. 27 REFERÊNCIAS RODRIGUES, Maria Laura Guimarães; FRANCO, Davide; SUGAHARA, Shigetoshi. Climatologia de frentes frias no litoral de Santa Catarina. Revista Brasileira de Geofísica. Vol.22(2), maio/setembro 2004. Disponível em: < http://www.sbgf.org.br/publicacoes/revista.html>. Acesso em 25/05/09 CAMARGO, Ricardo; FREDIANI, Maria Eugenia B. Meteorologia sinótica. MASTER, julho 2004. Disponível em: < http://www.master.iag.usp.br/ind.php?inic=00&pos=1&prod=ensino>. Acesso em 22/05/09 AYODE, J.O. Introdução à climatologia para os trópicos. 9.ed.. Rio de Janeiro, RJ: Bertrand Brasil, 2003. SILVA, Varejão M.A. Meteorologia e climatologia. Recife, PE: VD2, 2006. VIANELLO, Rubens Leite; ALVES, Adil Rainier. Meteorologia básica e aplicações. Viçosa, MG: UFV, 2000. COSTA, Carlos Cezar Lobo. Meteorologia na aeronáutica. 2006 ANDRADE, Kelen Martins. Climatologia e comportamento dos sistemas frontais sobre a América do Sul. 2007 MONTEIRO, Maurici Amantino. Dinâmica atmosférica e a caracterização dos tipos de tempo na bacia hidrográfica do Rio Araranguá. 2007 28 ANEXO A- Fotos da neve ocorrida no Rio Grande do Sul. 29 30 Fonte: METSUL