Ciência Hoje - Agropecuária do bem ou do mal?

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Notícias / Agropecuária do bem ou do mal?
21 julho 2010
0 6012
Agropecuária do bem ou do mal?
De 2006 a 2050, práticas agropecuárias poderão lançar, só no estado do Mato Grosso, entre
3 e 15,9 bilhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera. A estimativa é de estudo que
defende modelos de conservação para mudar o quadro.
Área desmatada para agricultura no Mato Grosso: só no estado, as atividades agropecuárias
associadas ao desmatamento podem lançar até 15 bilhões de toneladas de gás carbônico na
atmosfera até 2050 (foto: Leonardo F. Freitas – CC BY-NC-SA 2.0).
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Brown e do Centro de
Ecossistemas, nos Estados Unidos, analisaram diferentes modelos de uso de solo na agricultura e
pecuária e garantem que as práticas atuais podem gerar profundos impactos ambientais.
O artigo, publicado nesta semana no periódico PNAS, mostra que, até 2050, o equivalente a 15,9
bilhões de toneladas de gás carbônico pode ser lançado na atmosfera por causa das queimadas e
pecuária extensiva praticadas em partes do Norte e do Centro-oeste do país.
A Amazônia é conhecida por sua importância nos ciclos do carbono e das águas. Mas vem sendo
cada vez mais ameaçada pelo avanço agrícola na região. “O estudo procurou mapear
principalmente os estados de Rondônia e Mato Grosso, que respondem por 50% do
desmatamento amazônico”, explica o agrônomo Carlos Eduardo Cerri, da Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP, um dos autores do estudo.
75% do gás carbônico que o país emite são derivados do desmatamento e de práticas agrícolas
Segundo a pesquisa, atividades agropecuárias baseadas no desmatamento são as principais fontes
de emissão dos gases de efeito estufa.
Aproximadamente 75% do gás carbônico que o país emite são derivados do desmatamento e de
práticas agrícolas: além das emissões causadas pela derrubada de florestas, a forma como a terra
vai ser usada depois contribui para parcela substancial de lançamento de gases. Apenas 25% são
derivados da queima de combustíveis fosseis.
A conta do carbono
Por ser o gás de efeito-estufa mais abundante na atmosfera, o CO2 se tornou referência no
cálculo de emissão de gases e do potencial de aquecimento global, que mede o quão potente um
gás é para aquecer a terra, expressas em unidades de CO2 equivalente. O metano tem potencial
de aquecimento global 25, ou seja, é 25 vezes mais potente para aquecer a terra que o CO2. E o
óxido nitroso, 298 vezes mais potente.
"Alternativas agropecuárias podem ajudar a reduzir a emissão dos gases"
Na pecuária, o metano é emitido pela fermentação intestinal de ruminantes. Já o óxido nitroso é
lançado quando se adiciona adubo nitrogenado ao solo.
“Embora os dados sejam alarmantes, é importante ter em mente que determinadas alternativas
agropecuárias podem ajudar a reduzir a emissão desses gases”, esclarece Cerri.
Desmatamento florestal para pastagem gado em área da Amazônia no Pará (foto:
Leonardo F. Freitas – CC BY-NC-SA 2.0).
Cenário atual versus ideal
Os pesquisadores analisaram as consequências de dois cenários possíveis: o de manejo da terra
convencional e o de manejo controlado e conservacionista. Para chegar aos resultados, foram
usados aparelhos de sensoriamento remoto (via satélite) e programas de simulação, e coletados
dados em trabalhos de campo – feitos em diferentes regiões do Mato Grosso, Pará, Tocantins e
Rondônia, no chamado ‘arco do desmatamento’.
O artigo propõe técnicas de plantiodireto, onde o solo é pouco perturbado e há rotação de
culturas
O modelo agrícola atual é baseado no manejo convencional da terra, cujas técnicas incluem o uso
intenso do arado e da grade em máquinas, que causam maior perturbação ao solo.
Para Cerri, o modelo é inadequado para o Brasil, tendo sido herdado da Europa e não pensado
para um clima tropical. “Há um excesso de preparo do solo”, afirma ele, explicando que isso leva
matéria orgânica fresca à superfície, e sua decomposição por microrganismos do solo causa mais
emissões. O método ideal visaria à menor perturbação possível.
Como solução para a agricultura, o artigo propõe técnicas de plantio direto, onde pequenos
sulcos são abertos para depositar as sementes. A palha e restos vegetais não aproveitados na
colheita são mantidos na superfície do solo, que permanece pouco perturbado.
No caso da plantação de milho, por exemplo, a palha que fica após o cultivo se transforma em
húmus. Outro passo do plantio direto é a rotação de culturas, já que o monocultivo restringe a
vida do solo.
Para a pecuária, a alternativa é reduzir a prática de pecuária extensiva, em que os gados pastam
por mais tempo e emitem mais metano. A saída seria melhorar a qualidade das pastagens,
permitindo que o gado engorde em um tempo menor, o que traz benefícios tanto para o produtor
quanto para o consumidor.
“A grande dificuldade é que faltam incentivos para a implantação de novos modelos para a
agricultura e pecuária no nosso país”
Com as pastagens recuperadas, a gramínea que cresce extrai mais CO2 da atmosfera. “Uma
pastagem bem manejada pode mudar de uma área emissora para uma sequestradora de gás
carbônico”, garante o agrônomo.
O estudo mostra como os impactos ambientais gerados pelas atuais práticas agrícolas podem
afetar o próprio setor agropecuário.
As mudanças nos padrões de chuva e nas temperaturas se refletirão no crescimento dos sistemas
biológicos, alterando o ciclo produtivo. “A grande dificuldade é que faltam incentivos para a
implantação de novos modelos para a agricultura e pecuária no nosso país”, lamenta Cerri.
Larissa Rangel
Ciência Hoje On-line
Tags:
#Agricultura #Sustentabilidade #Pecuária #Meio ambiente #Mudança climática
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