Dissertação - Universidade Federal do Piauí

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
(UFPI)
Núcleo de Referências em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste
(TROPEN)
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA)
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(MDMA)
ETNOBOTÂNICA E CARACTERIZAÇÃO DA PESCA NACOMUNIDADE
CANÁRIAS, RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DO DELTA DO
PARNAÍBA, NORDESTE DO BRASIL
VICTOR DE JESUS SILVA MEIRELES
TERESINA PI
JANEIRO 2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
(UFPI)
Núcleo de Referências em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste
(TROPEN)
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA)
Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(MDMA)
VICTOR DE JESUS SILVA MEIRELES
ETNOBOTÂNICA E CARACTERIZAÇÃO DA PESCA NACOMUNIDADE
CANÁRIAS, RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DO DELTA DO
PARNAÍBA, NORDESTE DO BRASIL
Trabalho apresentado ao Programa Regional de PósGraduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da
Universidade
Federal
do
Piauí
(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito parcial
à obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e
Meio
Ambiente.
Área
de
Concentração:
Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste.
Linha de Pesquisa: Biodiversidade e Utilização
Sustentável dos Recursos Naturais.
Orientadora: Profa. Dra. Roseli Farias Melo de Barros
Co-orientador: Prof. Dr. Ulysses Paulino de
Albuquerque.
TERESINA
2012
VICTOR DE JESUS SILVA MEIRELES
ETNOBOTÂNICA E CARACTERIZAÇÃO DA PESCA NACOMUNIDADE
CANÁRIAS, RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DO DELTA DO
PARNAÍBA, NORDESTE DO BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa Regional de
Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente da Universidade Federal do Piauí
(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito parcial
à obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e
Meio
Ambiente.
Área
de
Concentração:
Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste.
Linha de Pesquisa: Biodiversidade e Utilização
Sustentável dos Recursos Naturais.
Aprovado em _____ de janeiro de 2012.
_________________________________________________
Profa. Dra. Roseli Farias Melo de Barros
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)
Orientadora
__________________________________________________
Prof. Dr. José Luis Lopes de Araújo
Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)
Membro-Interno
__________________________________________________
Prof. Dr. Francisco Soares Filho
Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
Membro-Externo
OFEREÇO
Primeiramente a Deus, à minha esposa Melise, meus pais, Heitor e Amparo, irmãos, Dhwliany e Heitor
Filho; À minha guia nessa jornada Dra. Roseli Barros, e aos amigos que me estenderam a mão e
compartilharam conhecimento: Rosimary, Benedito, Simone, Reurison, Alexandre e Cruzinha; E a todos
que me ajudaram nessa conquista e que não foram citados.
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me conceder o dom da vida, abrir meus caminhos e me permitir mais um
passo nesta caminhada.
Ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA/UFPI), na pessoa do coordenador Prof. Dr. José Luis Lopes Araújo, pela
oportunidade. Aos professores e pessoal de apoio do mesmo pela amizade e colaboração,
em especial aos amigos Sra. Maridete Alcobaça, Sr. Batista Araújo e Sr. Raimundo Lemos,
pelas boas conversas e a disposição à ajudar.
À Ilma Srª diretora da UESPI, MSc. Rosineide Candeia de Araújo, pela amizade e apoio na
liberação para que pudesse cursar o mestrado, bem como ao professor Luiz Gonzaga
Medeiros Figueredo pela ajuda na seleção e apoio após a aprovação.
Ao Sistema de Biodiversidade e Conservação (SISBIO) do Instituto Chico Mendes
(ICMBio) e ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFPI, pela aprovação do projeto.
À minha orientadora, Profa. Dra. Roseli Farias Melo de Barros, pela paciência, carinho e
compreensão nas orientações não apenas científicas.
A meu co-orientador, Prof. Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque, pela atenção e valiosas
contribuições concedidas.
Aos pescadores da Comunidade Canárias, em especial a família da Sra. Maria Nilza
Aureliano Oliveira, pela hospitalidade. Ao Sr. Juvenal de Carvalho Gaspar pelas boas
conversas e ensinamentos sobre o conhecimento local. Ao Sr. Luiz Zeferino Lima e
família, pelas contribuições e recepção calorosa. A Alexandre Aureliano de Oliveira
(Lilio), pelas horas de ajuda em campo. Ao Sr. Pedro da Costa Silva (Pedro holandês) e
Geilson Faustino da Rocha (Cara-errada), pelas ajudas no transporte, campo, pela amizade
e momentos de descontração. À Sra. Lina Márcia, enfermeira do Programa de Saúde da
Família, pelas contribuições, que não foram poucas e por todas as informações concedidas.
Ao Sr. Francisco de Assis de Sousa, presidente da Colônia de pescadores Z-07 pela
autorização e demais contribuições de grande valia para o desenvolvimento da pesquisa.
Aos especialistas das diversas instituições, pelo auxílio nas identificações da flora e fauna.
À MSc. Maura Rejane Mendes, pela amizade, incentivo, por me conceder a oportunidade
de trabalhar, conhecer melhor e aprender a gostar de botânica.
Aos amigos do TROPEN, turma 2008-2010, Rosimary da Silva Souza (Rose), Maria
Pessoa da Silva (Cruzinha) e Alexandre Nojoza Amorim, bem como, aos amigos da turma
6
2010-2011, Ethyênne Moraes Bastos e Maurício Eduardo Chaves e Silva pela amizade,
ajuda, apoio e incentivo e em especial, a Benedito Gledson de Oliveira (Bené) pela
amizade, incentivo, apoio e ajuda científica.
Aos colegas do Mestrado, turma 2009-2011, Reurison, Charlene, Elaine, Roberth,
Joaquim, Leonardo e Daniel Gomes pelos momentos juntos e de muita descontração. Em
especial à amiga Simoni Tupinambá, por sua amizade e ajuda grandiosa no trabalho de
campo.
Ao amigo Fábio José Vieira (Fabão) pela amizade, conversas e contribuições científicas.
Aos estagiários do Herbário Graziela Barroso (TEPB), pela amizade, e pelo auxílio na
herborização do material botânico.
À minha esposa, Melise Pessoa Araújo, pelo amor, compreensão, dedicação,
companheirismo, pela parceria na vida e na pesquisa, pelas horas de campo, pela
indispensável e imensurável ajuda no desenvolvimento deste trabalho.
À minha família, em especial aos meus pais Heitor Viana Meireles e Maria do Amparo
Silva Meireles, pela dedicação, amor, incentivo e orações, indispensáveis para realização
desta conquista. Aos irmãos Heitor Viana Meireles Filho e Dhwliany Silva Meireles, meu
avô José Rosa Pereira da Silva, meus sobrinhos Heitor Viana Meireles Neto e Maria
Cecília de Abreu Ibiapina Meireles. Aos cunhados Júlio Cesar Mendes Bezerra Filho e
Francisca Civana de Abreu Ibiapina Meireles, minhas madrinhas Maria de Fátima Silva
Ribeiro e Maria Gorethe Pereira Silva, minhas tias Rosa, Luíza, Teresa, Iraneide, aos tios
João Raimundo, João Fontinele, Jaime, e aos demais membros da família que não foram
aqui citados, pelo amor e compreensão dispensados a mim a todo e qualquer momento.
À minha nova família, minha sogra Sra. Marluce Pessoa Araújo, minhas cunhadas Marilda,
Antônia, Renata, Marluse (mana) e esposo Sergio Madeira. Em especial, a minha cunhada
Marlinda Pessoa Araújo, pelas contribuições científicas que me ajudaram a entrar no
presente programa de mestrado. Aos compadres Arlindo Candeira Araújo e Lidiane
Ramos, pelo apoio, incentivo e a sempre disposição a ajudar nas viagens, que não foram
poucas. Aos sobrinhos Sergio Madeira Ribeiro Júnior e Antônio Felipe, pelas
contribuições nas coletas de campo.
Aos primos Robson Wagner e Evaneide, por me receberem de braços abertos em sua casa
durante o programa, bem como, pela amizade e momentos de descontração.
A todos que direta ou indiretamente ajudaram no cumprimento deste trabalho.
Obrigado!!!
RESUMO
A RESEX Delta do Parnaíba, localizada no único delta em mar aberto nas Américas, é
uma região rica em diversidade biológica, espécies endêmicas e cultura. As comunidades
de pescadores artesanais da região possuem uma relação histórica com os recursos do
ambiente insular. Diante deste fato, bem como ciente da íntima ligação existente entre
conhecimento local e biodiversidade, investigou-se o conhecimento etnobotânico, os
instrumentos e técnicas de pesca e a construção artesanal de embarcações na comunidade
Canárias, com o intuito de colaborar com a preservação e conservação da biodiversidade
ali existente, bem como, contribuir com o resgate, a valorização e a manutenção da cultura
tradicional local. Foram aplicadas 100 entrevistas para coleta de dados etnobotânicos e a
técnica “turnê-guiada” para as coletas botânicas. Os indivíduos coletados foram
identificados e as informações sobre eles foram, juntamente com os dados das entrevistas,
submetidas às análises qualitativa e quantitativa. Registrou-se 108 espécies, distribuídas
em 49 famílias botânicas. As famílias com maior número de espécies foram:
Euphorbiaceae, Anacardiaceae e Poaceae. As categorias de uso medicinal, construção e
alimentícia, apresentaram um maior percentual de citações. A categoria forrageira se
mostrou pouco expressiva e a categoria “outros” abrigou alguns usos que foram
mencionados em menores proporções (artesanato, artefato de pesca e místico-religiosa). Os
sistemas corporais com o maior número de espécies de uso medicinal e com os maiores
valores de Fator de Consenso dos Informantes (FCI) foram: sintomas gerais, transtornos
gastrointestinais e transtornos respiratórios. De acordo com o índice de importância
relativa (IR) as espécies mais versáteis da comunidade foram: mangue vermelho
(Rhizophora mangle L.), munguba (Pachyra aquática Aubl.), boldo-miúdo (Vernonia
condensata Bamer), hortelã (Mentha x villosa Huds.), Capim-limão (Cymbopogon citratus
(Dc.) Stapf) e Mastruz (Chenopodium ambrosioides L.). A comunidade faz uso da
vegetação nativa e exótica. Foi citado pelos pescadores a utilização de dez artefatos:
caçoeira, tarrafa, linha/anzol, landoá, puçá, curral , rabadela, manzuá, grosseira, jiquí e
curralzinho. Os pescadores entrevistados produzem os instrumentos de pesca: caçoeira,
tarrafa, alguns citaram “rede” não especificando o tipo que fabricavam, groseira, landoá,
puçá, curral, curralzinho e jiquí. Apenas 4% se autodenominam carpinteiros navais, sendo
a madeira utilizada: o pequi (Caryocar coriaceum Wittm.), pau-d’arco (Handroanthus
impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos, cedro (Cedrella odorata L.), jatobá (Hymenaea
courbaril L.) e massaramduba (Manilkara dardanoi Ducme). Não houve diferença
significativa entre o conhecimento por gênero; no conhecimento por faixa-etária, houve
diferença significativa entre jovens, idosos e adultos, apresentando os jovens maior
conhecimento que adultos e idosos. Na relação entre adultos e idosos não houve diferença
significativa. O conhecimento local acerca da biodiversidade pode contribuir grandemente
no processo de conservação de uma área, deste modo, destaca-se a importância da inserção
do mesmo em todas as ações que se destinem a este fim ou que envolvam de algum modo a
área em que este está inserido, sendo uma forma de conciliar a manutenção da
biodiversidade e da cultura local, principalmente quando se tratar de áreas protegidas,
como a RESEX, criadas para atender este propósito.
Palavras-chave: RESEX Delta do Parnaíba. Pescadores Artesanais. Etnobotânica.
Etnozoologia. Conservação.
8
ABSTRACT
The Extractive Reserve Parnaiba Delta, located in the only open sea delta in the Americas,
is a region with a wide biological diversity, endemic species and culture. The fishing
communities in the area keep a historical relationship with the resources of the island
environment. That being stated, as well as the fact that there is a close relation between
biodiversity and local knowledge, there was an investigation of the ethnobotanical
knowledge, the tools and the fishing strategies and the handmade manufacture of vessels in
Canárias Community, in order to collaborate with the preservation and conservation of
biodiversity in that place, as well as to contribute to the rescue, recovery and conservation
of local culture. For ethnobotanical data collection, 100 interviews were applied and the
technique ‘guided-tour’ for botanical collections. All the information was identified and
analyzed under a quantitative and qualitative perspective. 108 species were registered and
distributed in 49 botanical families. The families with the largest number of species were
Euphorbiaceae, Anacardiaceae and Poaceae. The categories for medical use, construction
and food showed a higher percentage of citations. The forrageira category was a little
relevant and the "others" category showed some uses that were mentioned in smaller
proportions (crafts, fishing artifact and mystic-religious). The body systems with the
largest number of species for medical use and with the highest values of the Informant
Consensus Factor (ICF) were: general symptoms, gastrointestinal and breathing disorders.
According to the relative importance rate (RI), the most versatile species from the
community were: red mangrove (Rhizophora mangle L.), Guiana chestnut (Pachyra
aquática Aubl.), boldo (Vernonia condensata Bamer), peppermint (Mentha x villosa
Huds.), lemongrass (Cymbopogon citratus (Dc.) Stapf) and Mexican tea (Chenopodium
ambrosioides L.). The community uses the local and exotic vegetation. The fishermen
mentioned the use of ten artifacts: caçoeira, flue, line/hook, landoá, puca, curral, rabadela,
manzuá, grosseira, jiqui, and curralzinho. The interviewed fishermen produce some fishing
tools: caçoeira, flue, some of them mentioned "net" but did not specified the kind they
manufactured. Only 4% name themselves as naval carpenters, and the wood they use is
pequi, (Caryocar coriaceum Wittm.), purple ipe (Handroanthus impetiginosus (Mart. ex
DC. Mattos), cedar, (Cedrella odorata L.), jatobá, (Hymenaea courbaril L.) and
massaramduba (Manilkara dardanoi Ducme). There was no significant difference between
knowledge by gender. In the knowledge by age rate, there were significant differences
among young people and elderly and adults, but the young people showed greater
knowledge. Between the elderly and adults there was no significant difference. The local
knowledge about biodiversity may greatly contribute in the conservation process of an
area, thus, it is necessary to state the importance of inserting such knowledge in all the
measures that are intended for this purpose, with this being a way to reconcile biodiversity
continuation and the local culture, especially when it deals with protected areas such as
extractive reserves, created to serve that purpose.
KEYWORDS: Extractive
Ethnozoology, Conservation.
Reserve
Parnaiba
Delta,
Fishermen,
Ethnobotany,
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Página
Figura 1- Mapa de localização da comunidade Canárias, Reserva Extrativista
Marinha do Delta do Parnaíba......................................................................................
37
Figura 2- Gráfico de distribuição por gênero e faixas etárias da população de
pescadores artesanais da comunidade Canárias, Araioses/MA, Brasil.........................
40
Figura 3- Gráfico da distribuição da população de pescadores artesanais da
comunidade Canárias, Araioses /MA, Brasil, com relação ao gênero e escolaridade..
41
Figura 4- Fotografias de criação de animais na comunidade Canárias/MA..............
42
Figura 5 - Fotografias de embarcações que fazem o transporte de pessoas entre a
comunidade Canárias/MA e o porto dos Tatus/PI ........................................................
44
Figura 6 – Fotografias de locais de coleta de água para consumo na comunidade
Canárias/MA....................................................................................................
44
Figura 7 – Fotografias de buracos utilizados pelos moradores da comunidade
Canárias para depositar e posteriormente enterrar o lixo ....................................
45
Figura 8 – Fotografias de embarcações utilizadas na atividade pesqueira na
comunidade Canárias/MA................................................................................
50
Figura 9 – Ilustração das estruturas de canoas fabricadas artesanalmente na
comunidade Canárias.......................................................................................
52
Figura 10- Gráfico com a distribuição percentual das citações dos pescadores
artesanais sobre os instrumentos de pesca mais utilizados na comunidade Canárias,
Araioses/MA, Brasil.............................................................................................
53
10
Página
Figura 11- Gráfico com a distribuição em percentuais dos instrumentos de pesca
produzidos pelos pescadores artesanais na comunidade Canárias, Araioses /MA,
Brasil.............................................................................................................................
54
Figura 12- Fotografia de instrumento de pesca de anzol ou linha utilizado por
pescadora da comunidade Canárias/MA...............................................................
55
Figura 13- Ilustração do instrumento de pesca puçá utilizado na comunidade
Canárias/MA....................................................................................................
55
Figura 14- Fotografia do instrumento de pesca jiquí utilizado na comunidade
Canárias/MA.....................................................................................................
56
Figura 15- Fotografia do instrumento de pesca landuá utilizado na comunidade
Canárias/MA.....................................................................................................
56
Figura 16- Fotografia do instrumento de pesca rabadela utilizado na comunidade
Canárias/MA....................................................................................................
57
Figura 17- Ilustração do instrumento de pesca groseira utilizado na comunidade
Canárias/MA...................................................................................................
57
Figura 18- Fotografias do instrumento de pesca tarrafa utilizado na comunidade
Canárias/MA...................................................................................................
58
Figura 19: Fotografias do instrumento de pesca caçoeira utilizado na comunidade
Canárias/MA...................................................................................................
59
Figura 20- Fotografia do instrumento de pesca curral utilizado na comunidade
Canárias/MA...................................................................................................
59
11
Figura 21- Fotografia do instrumento de pesca curralzinho utilizado na
comunidade Canárias/MA.................................................................................
60
Figura 22- Ilustração do instrumento de pesca manzuá utilizado na comunidade
Canárias/MA......................................................................................................
60
Figura 23- Fotografia do uso da técnica de pesca batedeira na comunidade
Canárias/MA....................................................................................................
61
Figura 24- Fotografias dos peixes mais capturados pelos pescadores na
comunidade Canárias/MA.................................................................................
61
Figura 25- Gráfico da frequência dos peixes citados pelos pescadores artesanais na
comunidade Canárias, Araioses/MA, Brasil em 2010.........................................
62
Figura 26- Fotografia com os procedimentos de despesca e tratamento dado aos
instrumentos
após
a
pescaria,
comunidade
Canárias,
Araioses/MA,
Brasil..............................................................................................................
63
Figura 27- Fotografias da Pousada Casa de Cabloco na comunidade
Canárias/MA...................................................................................................
64
Figura 28- Fotografia do lixo as margens do rio Parnaíba na comunidade
Canárias/MA.....................................................................................................
65
Figura 29- Fotografias do modo de produção e armazenamento de carvão na
comunidade Canárias/MA.................................................................................
66
Figura 30- Fotografias da utilização da madeira do mangue vermelho na
construção de residências na comunidade Canárias/MA......................................
67
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 19
2.1 Os Povos Tradicionais do Brasil ............................................................................. 19
2.2 O Conhecimento Tradicional .................................................................................. 20
2.3 Etnobiologia: Investigando o Conhecimento Biológico Tradicional ...................... 23
2.3.1 Etnobotânica ......................................................................................................... 24
2.3.2 Etnozoologia .......................................................................................................... 25
2.4 A Pesca e o Pescador Artesanal como Fontes de Conhecimentos .......................... 25
2.5 Pesquisas Etnobiológicas com Pescadores Artesanais ........................................... 27
2.5.1 Pesquisas Etnobotânicas ....................................................................................... 27
2.5.2 Pesquisas Etnozoológicas ...................................................................................... 31
3.HISTÓRICO, PERFIL SOCIOECONÔMICO E CULTURAL DA COMUNIDADE
CANÁRIAS ................................................................................................................... 36
3.1 Localização .............................................................................................................. 36
3.2 Aspectos Físicos ....................................................................................................... 36
3.3 Histórico de Colonização da Ilha ............................................................................ 38
3.4 Perfil Socioeconômico .............................................................................................. 39
3.5 Aspectos Religiosos, Culturais e Superstições ........................................................ 47
3.6 Aspectos Tecnológicos, Produtivos e Organizacionais ........................................... 49
3.7 O Turismo na Comunidade ..................................................................................... 64
3.8 Problemas que atingem a Comunidade .................................................................. 65
3.9 Pesca e Meio Ambiente: Visão dos Pescadores ....................................................... 67
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 69
5 ARTIGOS ................................................................................................................... 76
13
5.1 Etnobotânica de Pescadores Tradicionais na Reserva Extrativista Marinha do
Delta do Parnaíba, Nordeste do Brasil ......................................................................... 77
5.2 Plantas medicinais em comunidade pesqueira na reserva extrativista marinha do
delta do Parnaíba, Nordeste do Brasil ........................................................................ 113
6 CONCLUSÕES GERAIS......................................................................................... 141
APÊNDICES ............................................................................................................... 144
Apêndice A – Formulário de entrevista semiestruturada .......................................... 145
Apêndice B - Aspectos socioeconômicos e culturais da Comunidade Canárias ........ 151
Apêndice C - Aspectos socioeconômicos e culturais da Comunidade Canárias ........ 152
Apêndice D - Técnicas e instrumentos de pesca utilizados e/ou fabricados na
comunidade Canárias ................................................................................................. 153
Apêndice E - Espécies mais citadas, com maior valor de uso e de importância na
Comunidade Canárias ................................................................................................. 154
Apêndice F - Utilização de produtos da floresta pelos pescadores da Comunidade
Canárias ....................................................................................................................... 155
Apêndice G – Construção naval artesanal por pescadores da Comunidade Canárias
...................................................................................................................................... 156
ANEXOS ..................................................................................................................... 157
Anexo A – Normas para Publicação REVISTA INTERCIÊNCIA .......................... 158
Anexo B – Normas para Publicação REVISTA BRASILEIRA DE PLANTAS
MEDICINAIS ............................................................................................................. 160
14
1 INTRODUÇÃO
A biodiversidade, ou diversidade biológica é a junção de todas as espécies de seres
vivos existentes no planeta (ARBIERI, 1998). O Brasil, em termos mundiais, é um dos
maiores representantes em diversidade de espécies em seu território, abrigando de 15% a
20% do número total existente no planeta, distribuídas em seis grandes biomas: Amazônia,
Caatinga, Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal e Pampa (FAPESP, 2008), podendo ser
denominado então de megadiverso (HERINGER, 2007).
Garay e Becker (2006) comentam que segundo estimativas, o número de espécies
de plantas, animais e microorganismos presentes no território brasileiro supera a marca de
dois milhões, representando assim cerca de 10 a 30% das espécies de seres vivos existentes
em todo mundo. Segundo Brasil (2010, p. 35), “[...] considerando as possíveis
necessidades de revisão taxonômica, pelo menos 103.870 espécies animais e 43.020
espécies vegetais, ocorrem no Brasil [...] Em média, 700 novas espécies animais são
reconhecidas por ano no Brasil”.
Diante dessa variedade de espécies surgiram discussões e ações em torno da
proteção da biodiversidade, onde se destaca o importante papel da Convenção sobre a
Diversidade Biológica (CDB), “instrumento de direito internacional, acordado e aberto a
adesões durante a reunião das Nações Unidas realizada no Rio de Janeiro em junho de
1992” (CUNHA, 1999, p.147) sendo “o primeiro acordo multilateral a regular a
conservação e o acesso aos recursos genéticos e a reconhecer o papel das comunidades
tradicionais nas áreas protegidas” (ZANIRATO; RIBEIRO, 2007, p. 41). Deste modo, a
CBD “previu que os conhecimentos oriundos das populações indígenas, ribeirinhas,
seringueiros, quilombolas, dentre outros, e que possam ser úteis para o desenvolvimento de
biotecnologias, sejam protegidos” (HERINGER, 2007, p. 134) e em seu artigo 8 (j),
convoca os Estados-membros para o compromisso de:
Em conformidade com sua legislação nacional, respeitar, preservar e manter
o conhecimento, inovações e práticas das comunidades locais e populações
indígenas com estilo de vida tradicionais relevantes à conservação e à
utilização sustentável da diversidade biológica e incentivar sua mais ampla
aplicação com a aprovação e a participação dos detentores desse
conhecimento, inovações e práticas; e encorajar a repartição equitativa dos
benefícios oriundos da utilização desse conhecimento, inovações e práticas
(BRASIL, 2000, p. 12).
15
As áreas protegidas por sua vez têm grande importância dentro do processo de
proteção da biodiversidade. As Unidades de Conservação (UC’s), modelo de área
protegida vigente no Brasil, começaram a ser implantadas a partir da década de 1930,
quando especificamente em 1937 foi implantado o primeiro parque nacional brasileiro, o
de Itatiaia, no estado do Rio de Janeiro (FREITAS et al. 2007). Hoje, no Brasil, o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) compartimenta as áreas protegidas em dois
grupos: de Proteção Integral, que tem como principal objetivo a conservação da
biodiversidade, não permitindo a permanência de grupos humanos, e as Áreas de Uso
Sustentável, que permitem algumas formas de utilização dos recursos naturais e presença
de populações humanas. Estas áreas são definidas e regulamentadas nas instâncias federal,
estadual e municipal (RYLANDS; BRANDON, 2005).
O Código Florestal (Decreto n° 23.739, de 1934) foi de suma importância nesse
processo, uma vez que introduziu na legislação brasileira, a figura da unidade de
conservação, porém tinha a restrita ideia de conservar a natureza em si, sem se preocupar
com a interação sociedade x natureza, gerando discussões sobre o impacto positivo ou não
da presença de populações humanas nestas áreas (BENSUSAN, 2006).
No SNUC o grupo formado pelas Unidades de Proteção Integral está composto
pelas seguintes categorias: Estação Ecológica (EE), Reserva Biológica (RB), Parque
Nacional (PARNA), Monumento Natural (MN) e Refúgio da Vida Silvestre (RVS).
Compõem o grupo das Unidades de Uso Sustentável, as seguintes categorias: Área de
Proteção Ambiental (APA), Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), Floresta
Nacional (FLONA), Reserva Extrativista (RESEX), Reserva de Fauna (RF), Reserva de
Desenvolvimento Sustentável (RDS) e Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN)
(BRASIL, 2011).
Sobre a presença legal de populações humanas no interior de UCs, Dourojeanni e
Padua (2001) destacam que é necessário considerar a dificuldade de manejá-las e o que
isso irá implicar. Segundo esses autores, é muito maior o grau de dificuldade em se
manejar uma RESEX repleta de usuários, que uma FLONA, onde existem apenas poucos
usuários. Porém, esclarece que é importante que as atitudes em relação a isso não sejam
extremadas, uma vez que “as populações tradicionais têm muito que aportar à humanidade
em termos de conhecimento, mas seus conhecimentos não substituem nem competem com
os gerados pela ciência moderna, sendo complementares” (DOUROJEANNI; PADUA,
2001, p. 154).
16
Portanto, a valorização do conhecimento das populações tradicionais nas discussões
sobre o processo de conservação da natureza permite a existência de uma diversidade
cultural e esta é essencial para a manutenção da diversidade biológica (MOURÃO;
MONTENEGRO, 2006).
Ciente do grande desconhecimento sobre a biodiversidade brasileira (GARAY;
BECKER, 2006, p. 124) e sabendo-se da estreita relação existente entre o conhecimento
das populações tradicionais com a biodiversidade local é que se reconhece a necessidade
da realização de estudos etnobiológicos no país, envolvendo estas comunidades e que
objetivem não só mensurar a diversidade biológica, mas também entender a relação
histórica entre pessoas e natureza que levaram a conservação das áreas onde residem.
A importância dessas populações tem sido demonstrada nos numerosos trabalhos
desenvolvidos na área e que é objeto de estudo da ciência denominada Etnobiologia, que
em sua composição e estruturação multidisciplinar busca, de um modo geral, conhecer e
compreender as relações entre pessoas e natureza desenvolvida dentro de um processo
histórico que envolve respeito ao uso da natureza e que foi responsável pela manutenção
do ambiente ao seu entorno, levando-nos a crer que tais formas de interação tenham muito
a nos ensinar no quesito sustentabilidade.
Os trabalhos etnobiológicos já se fazem expressivos no Brasil, mas se levado em
consideração a grande diversidade biológica do mesmo, somado aos grupos culturais que
este possui, isto gera possibilidades diversas para realização de novos trabalhos que
contribuirão para o aumento do banco de dados sobre o tema. No Maranhão, os trabalhos
nessa área são ainda insipientes, podendo ser destacados trabalhos com quilombolas
(MONTELES; PINHEIRO, 2007), com comunidades indígenas (BALEÉ, 1986;
COUTINHO; TRAVASSOS; AMARAL, 2002) com populações rurais (OLIVEIRA
JÚNIOR; CONCEIÇÃO, 2010) e com pescadores artesanais (MONTELES; CASTRO;
VIANA; CONCEIÇÃO; FRANÇA, 2009), dentre outros.
Cabe ressaltar a importância de se realizar esses estudos em áreas de grande
diversidade biológica e que possuem uma fragilidade acentuada como os ambientes
costeiros. Para Cavalcanti (1997), devido às atividades humanas no continente e na costa,
os ecossistemas e os recursos costeiros e marinhos estão se exaurindo rapidamente,
proveniente principalmente do desenvolvimento urbano, industrial, agrícola e do turístico,
fato gerado principalmente a partir das deficiências no planejamento e controle.
17
Na busca desse conhecimento, o presente estudo é focalizado numa população de
pescadores artesanais, localizada na região do Delta do rio Parnaíba no município de
Araioses/MA.
O Delta do Parnaíba “posiciona-se na foz do rio Parnaíba entre as cidades de Luis
Correia (PI) e a extremidade ocidental da IIha das Canárias (MA) [...] caracteriza-se por
apresentar extensas planícies fluviomarinhas cortadas por uma rede de canais
distributários, formadores das ilhas do Delta” (IBGE, 1996, p. 76). Estas formam um
complexo de cerca de 80 ilhas (SILVA, 2004, p. 74), “que se estende por uma extensa área
de aproximadamente 2.700km² localizada no extremo norte de seis municípios situados na
divisa do Maranhão e Piauí” (SARAIVA, 2009, p. 7), formando um labirinto de rios,
igarapés e dunas, que compõem o único Delta em mar aberto presente nas Américas e um
dos três únicos no mundo, juntamente com o Delta do rio Mekong, o maior do planeta e
que desemboca no mar da China e o Delta do rio Nilo, o segundo maior (SILVA, 2004)
que desemboca no mar Mediterrâneo. A região pertence à APA Delta do Parnaíba,
Unidade de Conservação de Uso Direto, criada pelo Decreto s/n° de 28.08.1996 (BRASIL,
2011). Segundo Silva (2004, p. 68) “a produção pesqueira é uma das principais atividades
e potencialidade econômica da APA”. A comunidade Canárias situa-se na RESEX
Marinha do Delta do Parnaíba, criada em 16.11.2000 (COSTA, 2007), que “tem por
objetivo garantir a exploração auto-sustentável e a conservação dos recursos naturais
renováveis tradicionalmente utilizados pela população extrativista da área” (BRASIL,
2011). A comunidade situa-se em localização privilegiada para a atividade pesqueira, e de
acordo com Silva (2004, p. 66) “é também de suma importância para aquela região do
Delta, pois, de lá, partem embarcações que [...] abastecem grande parte do comércio de
pescado, embora seja uma Comunidade de pequeno porte”.
Definiu-se como objetivo geral para este trabalho: investigar o conhecimento
botânico tradicional e a atividade pesqueira artesanal na comunidade Canárias, situada na
RESEX Marinha do Delta do Parnaíba, com o intuito de contribuir com a conservação e
valorização da biodiversidade, bem como, do conhecimento acerca desta, presente na
cultura tradicional local. Como objetivos específicos: (I) caracterizar a atividade pesqueira,
demonstrando os diferentes tipos de instrumentos e estratégias de pesca encontradas na
comunidade; (II) identificar a flora útil à comunidade, classificando-as em categorias
separadas por utilidade; (III) determinar o valor de usos das espécies úteis citadas pelos
18
pescadores da comunidade; (IV) compreender o modo como está distribuído o saber
tradicional por gênero e faixa etária dentro da comunidade.
No sentido de discutir a relação sociedade x natureza existente na comunidade, no
que tange ao conhecimento e uso dos recursos biológicos, organizou-se este trabalho do
seguinte modo: numa introdução geral, seguida pelos tópicos de revisão de literatura,
histórico da comunidade e referências, segundo as normas da ABNT vigentes em 2011.
Logo após, apresentou-se os artigos científicos intitulados “Etnobotânica de comunidade
pesqueira na Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba, Nordeste do Brasil” e
“Plantas medicinais em comunidade pesqueira na reserva extrativista marinha do delta do
Parnaíba, Nordeste do Brasil”.
19
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Os Povos Tradicionais do Brasil
Em se tratando de diversidade, o Brasil não possui apenas uma das maiores taxas
em números de espécies do planeta, 15% a 20% segundo a FAPESP (2008), mas
representa também um dos países de maior diversidade cultural. Dentro desse contexto,
estão as populações tradicionais que são formadas por várias etnias e divididas, segundo
Diegues et al. (1999, p. 2), em duas categorias: indígenas e não-indígenas. Esses autores
consideram como integrantes das populações não-indígenas os grupos: caiçara, açoriano,
caipira, babaçueiro, jangadeiro, pantaneiro, pastoreio, quilombola, ribeirinho/caboclo
amazônico, ribeirinho/caboclo não-amazônico (varjeiro), sertanejo/vaqueiro e pescador
artesanal, lembrando ainda, que os grupos não-indígenas receberam forte influência dos
índios, tais como, no preparo de alimentos, na produção de cerâmica e nas técnicas de
construção de instrumentos para caça e pesca, dentre outros.
Para Almeida, Proença, Sano e Ribeiro (1998) estas comunidades sejam indígenas,
rurais ou urbanas, trazem consigo uma grande diversidade cultural representando o
etnoconhecimento sobre o manejo das espécies nativas de sua região.
No Brasil não há legislação que trate especificamente das populações tradicionais,
no entanto, a Lei Nº 11.428, de 22 de dezembro de 2006, faz referência a estas em seu Art.
3º, inciso II, e as define como “população vivendo em estreita relação com o ambiente
natural, dependendo de seus recursos naturais para a sua reprodução sociocultural, por
meio de atividades de baixo impacto ambiental”. Esta definição, porém é questionável uma
vez que, nem todas as populações que levam o status de tradicional possuem relações
sustentáveis com o meio.
Segundo Santilli (2002, p. 54) observando-se juridicamente, “a primeira lei
nacional a empregar a expressão ‘populações tradicionais’ foi a Lei 9.985/2000, que
instituiu [...] o (SNUC)”. Sobre a referida lei, essa autora comenta:
Embora não conceitue, de forma direta, o que são “populações tradicionais”,
a referida lei cria a chamada “reserva de desenvolvimento sustentável”,
definida como uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja
existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos
naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições
20
ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da
natureza e na manutenção da diversidade biológica (SANTILLI, 2002, p. 54).
Deste modo, percebe-se que a dependência do meio ambiente ao seu entorno fez
com que estas populações criassem uma forte relação com o mesmo, conhecendo-o,
utilizando-o e transmitindo um modo de vida que manteve seus recursos por gerações e
que os fazem ainda disponíveis às presentes gerações, e uma vez mantida esta cultura, estes
também servirão a seus descendentes. O conhecimento que envolve esta relação, embora
não científico, pode, em muitos casos, fornecer sua contribuição na busca do homem por
relações mais sustentáveis.
2.2 O Conhecimento Tradicional
Segundo Diegues e Arruda (2001, p. 31) “conhecimento tradicional é definido
como o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural, sobrenatural,
transmitido oralmente de geração em geração”. O conhecimento local, como também é
chamado, é gerado a partir da relação histórica existente entre as comunidades locais e o
meio ambiente em que vivem, e estando intimamente relacionado ao meio onde foi
produzido e que, em prática, permitiu, em muitos casos, a utilização de seus recursos sem
levá-los à exaustão. Sobre o referido conhecimento Albuquerque, Alves e Araújo (2007, p.
107) afirmam que:
[...] ao longo do tempo temos percebido que a discussão sobre
etnoconhecimento fundamenta-se essencialmente naquilo que provavelmente
o ser humano tem de mais valoroso: um saber que é experimentado na prática
cotidiana dos afazeres e na pluralidade cultural das populações humanas que
habitam e se adaptam à ambientes mais diversificados.
Observando a legislação nacional vigente, encontra-se a definição de conhecimento
tradicional no Art. 3º do Decreto 118 de 2002, como sendo:
[...] todos os elementos intangíveis associados à utilização comercial ou
industrial das variedades locais e restante material autóctone desenvolvido
pelas populações locais, em coletividade ou individualmente, de maneira não
sistemática e que se insiram nas tradições culturais e espirituais dessas
populações, compreendendo, mas não se limitando a conhecimentos relativos
a métodos, processos, produtos e denominações com aplicação na agricultura,
alimentação e atividades industriais em geral, incluindo o artesanato, o
comércio e os serviços, informalmente associados à utilização e preservação
das variedades locais e restante material autóctone espontâneo abrangidos
pelo disposto no presente diploma (BRASIL, 2011).
21
Uma questão intrigante é o fato que por muito tempo acreditou-se na existência de
uma mentalidade dita “pré-lógica” acerca dos conhecimentos não científicos. Dentro desse
contexto, estavam os grupos humanos tradicionais e o conhecimento originado por eles.
Sobre o tema Arruda (1999, p. 88) descreve que:
Há quase um século de reflexão antropológica sobre um crescente volume de
dados etnográficos e culturais comprovando a falácia da existência de uma
mentalidade “pré-lógica” dos povos culturalmente diferenciados [...] percebese hoje a existência de racionalidades diferenciadas, relativas a formas
socioculturais específicas [...] com semelhante grau de pensamento abstrato,
raciocínio científico e também mítico, equivalentes, com todas as suas
diferenças, ao da racionalidade de nossa sociedade.
Deste modo, percebe-se que o conhecimento não científico apresentado pelos povos
tradicionais, trata-se de um conhecimento com racionalidade diferenciada, mas não menos
importante e até mais funcional se considerado a utilidade do mesmo para as comunidades
onde o mesmo foi gerado, sendo muitas vezes indispensáveis para garantia de alimentos ou
renda.
O senso comum, no qual se fundamenta o conhecimento tradicional, e o científico
não podem em momento algum sequer ser comparados, por se tratarem de formas distintas
de conhecimento. Para Alves e Souto (2010, p. 40) eles “nos apresentam visões de ordens
muito diferentes uma da outra”, porém o autor defende a existência de uma continuidade
entre pensamento científico e senso comum, considerando-os como expressões de uma
mesma necessidade básica de se compreender o mundo na busca pela sobrevivência e
melhoria na qualidade de vida. Desse modo, percebe-se que, ambos possuem seu espaço e
importância devendo o senso comum e a ciência, serem somados na busca por uma
racionalidade ambiental.
Diegues e Arruda (2001, p. 32) por sua vez colocam que “o conhecimento
tradicional somente pode ser interpretado dentro do contexto da cultura em que ele é
gerado”.
Para Albuquerque (2005a, p. 21), em se tratando de conhecimento tradicional, este
é compreendido pelas “experiências e saberes acumulados por um grupo humano sobre
seus recursos naturais”, e como estas comunidades dependem desses recursos no seu dia a
dia, demonstra que este surge das práticas cotidianas.
Sobre a capacidade de organização e reprodução do conhecimento local, as diversas
sociedades de culturas diferenciadas possuem a habilidade de reconhecer o ambiente ao
seu redor, tendo a sensibilidade de perceber as diferenças e semelhanças entre as suas
estruturas, nomeando em categorias e unidades os frutos dessa observação. Segundo
22
Albuquerque (2005b) estas classificações chamadas de pré-científicas ou taxonomias de
folk, compõem os denominados sistemas vernaculares. Para esse autor “em todas as
culturas os homens desenvolvem estratégias que lhes asseguram a organização e
classificação do mundo vegetal, nomeando de forma inclusiva dentro de uma hierarquia”
(ALBUQUERQUE, 2005b, p. 41). Essa organização e classificação biológica não estão
restritas ao conhecimento sobre a flora, mas desenvolve-se também no que tange a fauna,
onde tais populações também são detentoras de um vasto conhecimento.
A oralidade e a observação têm também um papel fundamental nesse processo,
sendo os mecanismos pelo qual essa gama de conhecimento é repassado. É na observação
diária das atividades que o aprendiz familiariza-se com a atividade assimilando-a. A
oralidade por sua vez preenche todas as lacunas deixadas pela observação, onde é
repassado de forma direta o conhecimento dos mais experientes aos mais jovens. Para
Toledo e Barrera-Bassols (2010, p. 19) “o saber tradicional é compartilhado e produzido
mediante o diálogo direto entre o indivíduo, seus pais e avós (em direção ao passado) e/o
entre o indivíduo, seus filhos e netos (em direção ao futuro) com a natureza”. Sobre o tema
Amorozo (1996, p. 11) comenta que:
Em sociedades tradicionais, a transmissão oral é o principal modo pelo qual o
conhecimento é perpetuado. O conhecimento é transmitido em situações, o
que faz que a transmissão entre gerações requeira contato prolongado dos
membros mais velhos com os mais novos.
O produto final desse processo é a materialização, expressa em práticas, de um
conhecimento que, embora sem um registro escrito, está guardado na memória destes
povos por gerações e que compõe a sua própria identidade étnica. Ao referir-se a
identidade étnica de povos tradicionais indígenas, Muños (2003, p. 283) afirma que esta é
“expressa em diversas recreações de mundo e ethos1 comunitário através de símbolos e
rituais reconhecidos em sistemas referenciais da memória oral”. Este autor comenta, ainda,
que nesse espaço de memória e reconstrução de saberes destaca-se a importante
participação dos saberes tradicionais na acumulação de conhecimentos sobre o meio.
1
“O ethos de um povo é o tom, o caráter e a qualidade de sua vida. seu estilo moral e estético; a disposição do seu ânimo;
trata-se da atitude subjacente que um povo tem ante si mesmo e ante o mundo que a vida reflete. A sua cosmovisão é o
seu retrato [...] é a sua concepção da natureza, da pessoa, da sociedade” (GEERTZ apud MUÑOS, 2003, p. 286).
23
2.3 Etnobiologia: Investigando o Conhecimento Biológico Tradicional
Durante muito tempo, era praticamente impensável o estabelecimento de relações
possíveis entre as Etnociências e a ciência moderna, bem como, a própria existência dessas
ciências, inexistindo também a possibilidade de juntar o prefixo «éthnos-» a «scientiae»
(DIAS; JANEIRA, 2005). Contrariando tais afirmações as Etnociências firmaram-se como
ciências e contribuem para o acúmulo de conhecimento sobre as relações entre pessoas e as
diversas áreas de conhecimento. De acordo com Diegues et al. (1999, p. 37):
[...] entre os enfoques que mais têm contribuído para se estudar o
conhecimento das populações ‘tradicionais’ está a etnociência que parte da
linguística para estudar o conhecimento das populações humanas sobre os
processos naturais, tentando descobrir a lógica subjacente ao conhecimento
humano do mundo natural, as taxonomias e classificações totalizadoras.
Dentro da Etnociência temos a Etnobiologia que “classicamente tem sido definida
como o estudo das interações das pessoas com o seu ambiente” (ALBUQUERQUE, 2005a,
p. 19). Para Posey (1986, p. 15) ela representa “o estudo do conhecimento e das
conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito do mundo vegetal e
animal”.
De acordo com Santos-Fita e Costa-Neto (2007, p. 100) “valendo-se dos
paradigmas e da epistemologia da ciência moderna, da qual faz parte, a Etnobiologia
fornece um arcabouço teórico para interligar diferentes áreas das ciências sociais e naturais
com outros sistemas de conhecimentos não-acadêmicos”.
É importante destacar que existe uma íntima relação entre o conhecimento
tradicional sobre a diversidade biológica local, seus usos e a própria diversidade em si. As
populações tradicionais são conhecedoras dessa biodiversidade, uma vez que convivem
com a mesma e utilizam benefícios que esta os proporciona. A diversidade de espécies
conhecidas passa então a ser uma fonte para se determinar a diversidade de espécies locais.
Para Hanazaki, Mazzeo e Souza (2006, p. 203) a relação entre a biodiversidade e a
diversidade de conhecimento e uso de espécies pode ser investigada também “mensurando
a diversidade cultural através do conhecimento sobre espécies biológicas”.
As populações tradicionais além de conviver com a biodiversidade, nomeiam e
classificam as espécies vivas segundo suas próprias categorias e nomes. Então, para as
comunidades tradicionais a diversidade de espécies não é completamente selvagem e dessa
24
forma pode ser domesticado e manipulado. Outra diferença seria que essa diversidade da
vida encontrada não é tida como um ‘recurso natural’, mas como um conjunto de seres
vivos que possuem um valor de uso e um valor simbólico (DIEGUES et al., 1999).
Posey (1987) destaca que o conhecimento das comunidades tradicionais, sejam
estas indígenas ou não-indígenas, não se encaixam nas categorias e subdivisões
organizadas artificialmente pela Biologia. Contudo, o desenvolvimento dos estudos na área
demonstra cada vez mais que este conhecimento não deixa de apresentar lógica em sua
classificação hierárquica.
No que se referem à estruturação multidisciplinar da Etnobiologia, Diegues e
Arruda (2001, p. 37) afirmam que:
[...] a partir da década de 1970, tornaram-se mais frequentes os trabalhos de
etnociência em suas diversas subdivisões, como a etnobiologia, a
etnobotânica, a etnofarmacologia e a etnomedicina. Esses últimos apresentam
também etnoclassificações da flora e da fauna pelas populações tradicionais.
Dentro desse contexto, destacam-se as ciências Etnobotânica e Etnozoologia, como
sendo as vertentes mais desenvolvidas e estudadas no Brasil.
2.3.1 Etnobotânica
Um dos campos mais desenvolvidos dentro da Etnobiologia é a Etnobotânica que
“[...] tem como interesse central captar as diferentes dimensões e aspectos da inter-relação
de grupos humanos e o ambiente vegetal, bem como os processos que levam a mudanças
nesta relação ao longo do tempo” (ALBUQUERQUE; LUCENA; ARAÚJO, 2008, p. 81).
Por intermédio das investigações etnobotânicas chega-se ao acúmulo de
conhecimentos que segundo Albuquerque (2005 b, p. 63) permitem:
1) A descoberta de substâncias de origem vegetal com aplicações médicas e
industriais; 2) Conhecimento de novas aplicações para substâncias já
conhecidas; 3) O estudo das drogas vegetais e seu efeito no comportamento
individual e coletivo dos usuários frente a determinados estímulos culturais e
ambientais; 4) O reconhecimento e preservação de plantas potencialmente
importantes em seus respectivos ecossistemas; 5) Documentação do
conhecimento tradicional e dos complexos sistemas de manejo e conservação
dos recursos naturais dos povos tradicionais; 6) O descobrimento de
importantes cultivares manipulados tradicionalmente e por nossa ciência
desconhecidos.
25
Diante do exposto, observa-se que o conhecimento botânico tradicional embora
não-científico contribui com a ciência ao abrir um leque de opções no que tange a novos
objetos de estudos que podem ser desenvolvidos em diversas vertentes sejam na medicina,
indústria ou na busca de modelos conservacionista de relacionamento com a natureza.
Muitas espécies com valor medicinal ou industrial foram descobertas após a observação de
seus usos por estas comunidades e seus benefícios passaram então ser indispensável à
sociedade como um todo.
2.3.2 Etnozoologia
Com relação à Etnozoologia, esta emerge do campo das Etnociências e “busca
compreender como os mais variados povos percebem e interagem com os recursos
faunísticos ao longo da história humana” (ALVES; SOUTO 2010, p. 25), investigando
seus significados, conhecimento e uso, bem como visa perceber a influência que estes
exercem sobre aquela cultura.
Santos-Fita e Costa-Neto (2007, p. 100) descrevem que o termo Etnozoologia teve
sua origem nos Estados Unidos ao final do século XIX, mas apenas aparecendo em um
artigo no ano de 1914, cujo título era: Ethnozoology of the Tewa Indians, publicados por
Henderson e Harrington.
A relação entre pessoas e animais é antiga e remonta aos primórdios da existência
humana. De acordo com Alves e Souto (2010, p. 23), as “culturas de todo mundo tem
desenvolvido diferentes formas de interação com a fauna através da história cuja [...]
variedade de interações (passadas e atuais) [...] é abordada pela perspectiva da
Etnozoologia”. Dentro desse contexto, a importância de compreendê-las mostra-se na
necessidade que o homem moderno tem na busca de relações mais sustentáveis com a
natureza como forma de garantir sua existência futura.
2.4 A Pesca e o Pescador Artesanal como Fontes de Conhecimentos
Houve um aumento significativo do interesse pela Etnobiologia das comunidades
de pescadores tradicionais. O fato deve-se a atual percepção por parte dos pesquisadores da
26
grande quantidade de conhecimento que estas populações possuem sobre a biologia e
ecologia dos espécimes com quem se relacionam em suas atividades diárias. Para Pezzuti
et al. (2010, p. 450) “[...] o detalhado conhecimento que pescadores e caçadores
adquiriram, por sua própria experiência e pelo aprendizado oralmente transmitido ao longo
das gerações, tem vasta aplicabilidade”.
No Brasil a pesca artesanal “representa mais da metade da produção pesqueira
nacional” (BEGOSSI et al., 2009, p. 39), o que demonstra sua importância para economia
nacional. Não menos importante é o conhecimento gerado a partir desta atividade,
percebido nos costumes daqueles que sobrevivem dela. Sobre a categoria de pescadores,
Diegues, Arruda, Silva e Figols (1999, p. 59) afirmam que os pescadores artesanais “[...]
praticam a pequena pesca, cuja produção em parte é consumida pela família e em parte é
comercializada. A unidade de produção é, em geral, a familiar, incluindo na tripulação
conhecidos e parentes mais longínquos”.
Deste modo, além de fonte de renda a atividade compõe a base alimentar local,
promovendo um ambiente de convívio familiar onde se desenvolvem práticas e
aprendizagem.
Dentre as comunidades de pescadores reconhecidos, Diegues e Arruda (2001, p. 49)
citam sobre os grupos denominados praieiros (habitantes da faixa litorânea entre Piauí e
Amapá) como possuidores de características socioculturais diferenciadas das demais
comunidades litorâneas e destacam a grande influência que estes sofrem diante da
diversidade de ecossistemas e habitats da região. Segundo estes autores, o Maranhão
encontra-se dentro desse contexto e detém uma grande variedade de embarcações “a vela”,
sendo mais recentemente, introduzidas as embarcações motorizadas, ambas utilizadas na
pesca e no transporte entre as comunidades. Por fim, destacam a pesca como principal
atividade destas comunidades, sendo a renda, muitas vezes, complementada com a
agricultura em pequena escala, extrativismo e o turismo.
O conhecimento destas comunidades não se restringe apenas à atividade pesqueira.
Muitas destas populações têm certo grau de isolamento e aprenderam a sobreviver apenas
dispondo dos recursos que ali se encontram. Deste modo, utilizam, por exemplo, de sua
flora: para extrair madeira para suas moradias, construções de embarcações e produção de
carvão para preparar seus alimentos; palha para coberturas das casas; folhas raízes e súber
para composição de medicamentos naturais e frutos para alimentação diária. Fazem uso
também da fauna local, como: a cata do caranguejo (Ucides cordatus Linnaeus, 1763),
27
pesca do siri (Callinectes bocourti A. Milne-Edwards, 1879), diversas caças para
alimentação, dentre outros.
2.5 Pesquisas Etnobiológicas com Pescadores Artesanais
Segundo Diegues (1999, p. 15) “os estudos de sociedades de pescadores se
iniciaram já nos inícios (sic) da Etnologia2, quando os pesquisadores ingleses começaram a
fazer ciência com base em trabalhos de campo”. Na atualidade são inúmeros os trabalhos
realizados com populações tradicionais no Brasil e no exterior que visam descrever o modo
de vida dessas populações, bem como, a maneira com que percebem e se relacionam com a
natureza.
Dentre estes estudos tem-se destacado o crescimento do número dos trabalhos
realizados com comunidades pesqueiras, tais como Rossato et al. (1999), Hanazaki et al.
(2000), Moreira et al. (2002), Roman e Santos (2006), Oliveira et al. (2006), Souto (2008),
Melo et al. (2008), Sousa (2010), dentre outros. Estas comundades, por sua vez, vêm
chamando atenção dos etnobiólogos por apresentarem grande conhecimento sobre a
atividade pesqueira artesanal, fauna/flora e relações ecológicas.
Dentro da estrutura multidisciplinar da Etnobiologia observa-se o desenvolvimento
de estudos nos seus diversos enfoques dos quais a presente pesquisa abrangerá
especificamente as subáreas Etnobotânica e Etnozoologia, fazendo deste modo uma análise
em torno dos principais estudos desenvolvidos nessas áreas.
2.5.1 Pesquisas Etnobotânicas
Rasolofo (1997) desenvolveu trabalho com pescadores na África, especificamente
em vilas da região noroeste e oeste da costa de Madagascar, visando
analisar
quantitativamente o uso dos recursos naturais advindos do manguezal, bem como, realizar
comparação deste com a sua disponibilidade e capacidade de renovação. Dentre os
diversos usos encontrados, esse autor descreve a madeira do mangue como sendo usada na
2
“Parte da antropologia, que procura generalizar e sistematizar os conhecimentos a respeito dos diferentes povos e suas
culturas”. (FERREIRA, 2001, p. 301)
28
construção de casas, combustível para cozimento de alimentos, para fabricação de
embarcações pesqueiras, armadilhas para pesca, e para tratar o pescado. Observou na
degradação do ecossistema a já presente escassez de espécies no mangue local o que
representa um uso superior a capacidade de renovação natural.
Rossato, Leitão-Filho e Begossi (1999) desenvolveram estudo em cinco
comunidades caiçaras da costa sudeste do Brasil, sobre o uso de plantas. Compararam as
citações de plantas medicinais entre informantes de comunidades da costa e de ilhas.
Encontraram uma alta diversidade de plantas (276) usadas na costa da mata atlântica,
usadas para alimento, medicina e construção. A similaridade entre as espécies de plantas
mencionadas foi relativamente baixa e o valor de uso das plantas indicadas tem
importância específica para cada comunidade. Concluíram que os caiçaras são dependentes
da medicina tradicional, e as plantas utilizadas para esta finalidade foram especialmente
citadas nas entrevistas.
Hanazaki et al. (2000) realizaram trabalho com pescadores, habitantes nativos da
costa do Atlântico no estado de São Paulo, nas comunidades Ponta do Almada e Praia de
Camburí sobre o conhecimento tradicional destes, sobre o ambiente e sua relação com
conservação da Mata Atlântica. Levantaram 227 etnoespécies, correspondendo a 214
espécies científicas e 74 famílias botânicas. Observaram que não houve diferença entre a
diversidade de plantas citadas nas duas comunidades para o conhecimento geral das plantas
e seu uso. Concluíram que os pescadores estudados conhecem e utilizam mais da metade
das espécies nativas.
Rondon (2003) desenvolveu trabalho com indígenas no Peru, sobre a construção de
balsas, utilizando para isso, a técnica de observação participante3. Estes autores
observaram o uso do Schoenoplectus californicus (C.A. Mey.) Soják: Cyperaceae na
construção do corpo da embarcação; da Furcraea andina Trel. (Agavaceae) cujas folhas
serviam para confeccionar uma espécie de corda que amarravam os feixes, e o caule de
Guadua angustiolia Kunth (Poaceae), para fabricação do remo. Concluíram que houve
uma diminuição no uso das plantas devido à proporcional diminuição destas no local.
Quanto a confecção das embarcações, observaram que o processo se mantem quase que
3
Técnica que busca a interação entre o pesquisador e os membros da comunidade estudada na busca da
compreensão do modo como opera a cultura em questão e a visão de mundo dos atores sociais estudados
(Amorozo, 1996).
29
inalterado ao longo do tempo, demonstrando o importante papel que os pescadores da
região possuem na conservação do conhecimento tradicional acerca da confecção dessas
embarcações.
Melo, Lacerda e Hanazaki (2008) objetivaram efetuar um estudo etnobotânico com
espécies de restinga, na localidade da Praia do Pântano do Sul da Ilha de Santa Catarina.
Foram aplicadas entrevistas através de “check list” e entrevistas com informantes-chave
em turnês-guiadas, com 43 moradores selecionados ao acaso (20,00%), onde pesquisaram
o conhecimento sobre 10 espécies previamente selecionadas e com listagem livre de
espécies. Foram listados 69 nomes populares, 47 gêneros e 39 espécies, distribuídas em 31
famílias. As três categorias de uso mais citadas nas duas metodologias foram: medicinal,
seguida por alimentar e artesanal. Verificaram que a comunidade tem conhecimento sobre
a utilização das plantas de restinga e que este conhecimento está concentrado
principalmente entre as pessoas mais idosas.
Roman e Santos (2006) realizaram trabalho com pescadores na ilha de Algodoal,
Praia da Princesa em Maracanã/PA. Objetivaram determinar a importância das espécies
medicinais da restinga na cultura local,
aplicando entrevistas estruturadas e
semiestruturadas com 30 casais residentes nas três principais ruas da vila. As espécies
medicinais foram determinadas por um inventário etnobotânico auxiliado por dois
colaboradores locais de maior experiência no uso da flora nativa. Identificaram na restinga
da Princesa 24 espécies medicinais, distribuídas em 19 famílias. A população de Algodoal
utiliza, contudo, plantas vindas de outros ambientes, totalizando 80 espécies para fins
terapêuticos.
Oliveira, Potiguara e Lobato (2006) conduziram estudo com pescadores na
microrregião do Salgado/PA para identificar as fibras vegetais utilizadas na pesca
artesanal. Aplicaram 150 entrevistas semiestruturadas a artesãos e pescadores artesanais,
registrando 17 espécies, distribuídas em 8 famílias e 17 gêneros. Observaram o uso das
talas da haste caulinar de uma Marantaceae e o estipe de Arecaceae; os cipós são raízes de
Araceae e Cyclanthaceae e os caules de Bignoniaceae e Dilleniaceae, enquanto que as
palhas são folhas e pinas de Arecaceae. A família mais representativa em número de
espécies e no fornecimento de matéria prima foi Arecaceae (8), seguida de Dilleniaceae e
Araceae (2), Bignoniaceae, Bombacaceae, Cyclanthaceae, Marantaceae e Poaceae (1). As
fibras vegetais são usadas em cestaria, trançados, fixadoras em substituição ao prego,
adornos e vestuário.
30
Souto (2008), levantou dados etnobotânicos no Distrito de Acupe, Santo
Amaro/BA, sobre os bosques de mangues e a pesca artesanal realizada por pescadores e
marisqueiras. Para tal fim, foram aplicadas entrevistas semiestruturadas. Os dados obtidos
revelaram um conhecimento possuído pelos entrevistados sobre a vegetação do manguezal,
incluindo classificação, ecologia trófica, fenologia e ecozoneamento e percepção
ecossistêmica, por vezes compatíveis com os conhecimentos acadêmicos. Interações da
comunidade pesqueira com o componente vegetal revelaram formas de percepção e de
utilização de recursos fortemente associadas à cultura local e com implicações
etnoconservacionistas.
Morais, Morais e Silva (2009) abordaram o conhecimento ecológico tradicional
sobre plantas cultivadas na comunidade de Estirão Comprido, Barão de Melgaço/MT. Na
coleta dos dados foram entrevistados 22 pescadores para a elaboração de uma lista livre de
plantas. Foram identificadas rupturas no domínio cultural sobre plantas cultivadas,
concentrando-se em 116 etnoespécies. A análise de consenso cultural demonstrou um
consenso, concentrando-se em 18 etnoespécies. A análise de empilhamento evidenciou que
o conhecimento sobre plantas está relacionado aos diferentes tipos de uso. Para os autores,
as possibilidades de uso e manejo podem contribuir para a elaboração de políticas públicas
destinadas à conservação da biodiversidade ecológica e cultural.
Moreira et al. (2002) conduziram pesquisa na comunidade de Vila Cachoeira,
Ilhéus/BA com o objetivo de resgatar o conhecimento da comunidade sobre o uso de
plantas medicinais. Foram entrevistados cinco informantes-chave, através de entrevista
informal e formulários semiestruturados. A análise final mostrou a ocorrência de 85
espécies de plantas medicinais, sendo usadas na forma de chá (48,00%), xarope (19,00%),
banho (16,00%), outras administrações (9,00%). A parte mais utilizada das plantas foi
folha (64,00%), planta inteira (13,00%), fruto (8,00%), casca (7,00%) e outras partes
(8,00%) como látex.
Sousa (2010) investigou a etnobotânica das comunidades pesqueiras, Barra Grande
e Morro da Mariana na APA do Delta do Parnaíba/PI, como modo de contribuir na
valorização e preservação da biodiversidade e da cultural local. Aplicou 161 entrevistas a
pescadores artesanais através de “bola-de-neve”, e adotou “turnê-guiada” para coleta
botânica. Foram referidas 263 espécies vegetais, distribuídas em 93 famílias. As categorias
de uso medicinal e alimentícia foram as mais referidas. A Copernicia prunifera (Mill.)
H.E. Moore apresentou maior potencial de uso. Não houve diferença significativa no
31
conhecimento por gênero e quanto à faixa etária, idosos têm maior conhecimento acerca
das espécies úteis. Segundo a autora o conhecimento etnobotânico deve ser considerado na
conservação e preservação biológica, e como parte na cultura local, no sentido de
incentivar atividades sustentáveis.
Amorim (2010) realizou estudo etnobotânico em quintais urbanos na comunidade
de pescadores artesanais do bairro Poti Velho em Teresina/PI, buscando conhecer o
potencial da flora dos quintais e suas formas alternativas de uso e manejo. Aplicou
entrevistas semiestruturadas a 30 mulheres e 30 homens, com idades entre 18 e 76 anos. O
autor constatou que as aquisições das plantas existente nos quintais se deram pelo
recebimento de mudas ou trocas com os vizinhos. As espécies exóticas cultivadas
predominam, fato que se deve a maior vivência em meio urbano. A categoria com maior
número de citações de espécies foi a medicinal (69,3%). Segundo esse autor, o
conhecimento etnobotânico é maior entre mulheres adultas. Os quintais apresentaram
grande similaridade entre si, e são espaços de convívio e de cultivo de várias espécies, em
sua maioria, plantas medicinais.
Carneiro, Barbosa e Menezes (2010) estudaram as plantas nativas úteis na vila de
pescadores da RESEX Marinha Caeté-Taperaçú/PA. Foram aplicadas 30 entrevistas semiestruturadas. Os pescadores citaram 23 espécies úteis em sua maioria pertencentes aos
ecossistemas manguezal ou restinga. A categoria alimentos foi destaque entre as espécies
da restinga, já as categorias “construção” e “tecnologia” se destacaram sobre as espécies do
manguezal. O índice de diversidade de Shannon encontrado foi alto (H’=2,3), que segundo
os autores, se deu ao fato da grande citação de uso das espécies do mangue. Esses autores
destacam que devido a grande utilidade apresentada pelas espécies nativas, as políticas de
uso e preservação das RESEX marinhas devem voltar mais atenção no que tange a
exploração dos recursos vegetais.
2.5.2 Pesquisas Etnozoológicas
A Etnozoologia, como ciência, vem tentando descrever essa relação expressa
muitas vezes pelo valor de utilidade que os animais possuem para uma dada comunidade,
seja econômico ou de subsistência, e em sua diversidade de usos como alimento, medicina
alternativa, e outros mais. Dentre estes trabalhos destacamos os realizados em
comunidades pesqueiras e que envolvem principalmente o conhecimento sobre a
32
ictiofauna, sendo esse conhecimento desenvolvido ao longo de uma relação de
dependência e tradição.
Mourão e Nordi (1999) desenvolveram trabalho com as comunidades de pescadores
artesanais Barra de Mamanguape e Tramataia, estuário do rio Mamanguape/PB, com o
objetivo de resgatar conhecimentos acerca do comportamento reprodutivo, migratório, de
defesa e alimentar de peixes estuarinos. Aplicaram entrevistas livres e questionários a
pescadores experientes. Os resultados mostraram a existência de categorias tróficas e
categorias baseadas em comportamento dos peixes. Para esses autores, os dados obtidos no
trabalho geram informações sobre o estado atual da cultura pesqueira das comunidades
estudadas e sugerem a importância da preservação das mesmas.
Costa-Neto, Dias e Melo (2002) realizaram trabalho com pescadores artesanais na
cidade de Barra/BA. Aplicaram entrevistas livres e semiestruturadas a 15 informantes (10
homens e 5 mulheres) com o objetivo de registrar os aspectos cognitivos e culturais
relacionados com as espécies de peixes locais. Dezoito espécies foram coletadas e
identificadas. Os resultados revelam que os pescadores ainda possuem conhecimentos
teóricos e práticos importantes que devem ser considerados em estudos de manejo,
conservação e uso sustentável dos recursos pesqueiros.
Souza e Barrela (2001) estudaram o conhecimento popular sobre peixes na
comunidade Vila Barra do Uma, na Estação Ecológica de Juréia-Itatins (EEJI), Peruíde/SP.
Entrevistaram 13 pescadores com idades entre 37 e 77 anos. Caracterizaram a pesca
artesanal desenvolvida como familiar e elaboraram uma listagem com 38 etnoespécies
citadas; 10 foram coletadas, fixadas e identificadas de bibliografia especializada. O
Centropomus undecimalis Bloch, 1792 e a (Mugil sp) foram apontados por 100% dos
pescadores como os peixes mais comuns. Os pescadores demonstraram um extenso
conhecimento acerca da ictiofauna local e das características morfológicas e
comportamentais dos peixes.
Costa-Neto e Marques (2001) tratam das atividades de pesca desenvolvidas por
pescadores artesanais de Siribinha, Conde/BA. Por meio de entrevistas abertas e
observações de campo, registraram informações culturais sobre apetrechos de pesca, ciclo
lua-maré, pesqueiros, sistemas de posse, segredos de pesca, conflitos entre grupos sociais,
mudanças sócio-ambientais oriundas do processo de urbanização e do turismo. A pesca
artesanal é familiar e todos estão envolvidos na atividade e no beneficiamento. O
entendimento das atividades de pesca e o conhecimento dos pescadores sobre o
33
comportamento, ecologia e distribuição espacial e temporal das espécies de peixes
implicam o uso correto dos apetrechos de pesca e a devida apropriação dos recursos
pesqueiros. Sugerem a inclusão da cultura pesqueira local nos planos de desenvolvimento,
a fim de levar a um desenvolvimento ecologicamente sustentável.
Alarcon e Schiavetti (2002) realizaram estudo com pescadores do município de
Itacaré/BA, objetivando resgatar o conhecimento tradicional da comunidade sobre a fauna
de vertebrados (não peixes) associada à pesca. Entrevistaram 35 pescadores, selecionados
ao acaso e seus conteúdos foram analisados de acordo com o modelo de união de
competências individuais. Identificaram uma espécie de ofídeo, cinco espécies de
tartarugas marinhas, 13 gêneros e cinco espécies de aves litorâneas e cinco espécies de
cetáceos. Os autores concluíram que os pescadores artesanais de Itacaré possuem um
amplo e detalhado conhecimento sobre as espécies de vertebrados (não peixes), associados
às atividades pesqueiras, sendo este coerente com o encontrado por pesquisadores e que
deve ser considerado na elaboração do plano de manejo da RESEX.
Alves, Nishida e Hernandez (2005) estudaram sobre a percepção ambiental dos
catadores de caranguejo-uçá (Ucides cordatus Linnaeus, 1763) nas florestas de mangue do
rio Mamanguape/PB. Observaram que os coletores de caranguejo-uçá desenvolveram um
conhecimento íntimo da história natural desta espécie e habilidades que tornaram a colheita
mais eficiente. Os autores comentam que a natureza ímpar deste conhecimento
local demonstra a necessidade de considerar esses fatores na implementação de planos de
manejo de ecossistemas de mangue do litoral e defendem que o conhecimento dos
coletores pode fornecer uma base útil para compreensão dos estoques de caranguejo locais
e sua população. Esses autores ressaltam ainda que este tipo de informação pode ser
utilizada para criação de reservas extrativistas, bem como para delimitar a época de
colheita e para a criação de áreas protegidas.
Nishida, Nordi e Alves (2006) pesquisaram os moluscos capturados e os coletores
de moluscos no estuário do rio Paraíba do Norte/PB, objetivando encontrar uma possível
relação entre as informações científicas e a condição de moluscos a partir das declarações
empírica desses coletores. Observaram que os coletores associam as variações de marés
com o ciclo de vida dos diferentes moluscos e com a distribuição dessas espécies animais
em habitats de manguezais e estuários. Segundo os autores o conhecimento dos coletores
de moluscos pode fornecer uma base útil para entendimento local das populações de
34
moluscos e sua dinâmica populacional e ressaltam a importância dos estudos
Etnoecológicos na promoção do diálogo e cooperação entre pescadores e cientistas.
Moura, Marques e Nogueira (2008) realizaram trabalho sobre o conhecimento
ictiológico tradicional de uma população de pescadores na APA de MarimbusIraquara/BA. Os dados foram obtidos por intermédio de entrevistas livres e
semiestruturadas, observações diretas, turnês-guiadas e coletas de material zoológico. O
conhecimento sobre
o comportamento de 21 espécies de peixes foi apresentado. Os
fenômenos etológicos percebidos e descritos pelos pescadores foram agrupados em 17
etnocategorias, as quais se relacionam com: reprodução, comportamento de fuga, predação,
comportamento social, ou ainda a respostas a estímulos artificiais. Os resultados revelaram
a existência de um amplo conhecimento ecológico tradicional sobre as espécies e os
ecossistemas locais, particularmente no que se refere à ictiofauna.
Lopes, Francisco e Begossi (2009), desenvolveram estudo com caiçaras no litoral
de São Paulo, acerca dos métodos de pesca utilizados. Observaram a substituição da pesca
tradicional por arrastões de camarão. Descreveram os dois sistemas de pesca e suas
características sócio-econômicas. Concluíram que a pesca não se mostra tão diferente do
sistema realizado no passado, são capturadas apenas 17 espécies, sendo duas, espécies de
camarão. As famílias são as principais unidades de produção para os arrastões e em geral
trabalham por conta própria. As atividades de processamento de camarão dominam a
economia local. A migração dos arrastões da região Sul para o Norte do Brasil é
consequência de uma mudança do camarão do seu local de origem. Os autores ressaltam
que medidas de gestão são necessárias a fim de evitar consequências negativas sociais e
ambientais provocadas pela atividade.
Caló, Shiavetti e Cetra (2009) analisaram o conhecimento ecológico local e
taxonômico de pescadores especialistas do município de Ilhéus/BA sobre os peixes
conhecidos como vermelhos. Utilizaram entrevistas semiestruturadas e testes projetivos.
Foram citadas 19 espécies, sendo 16 identificadas cientificamente. Analisando o
conhecimento ecológico referente à alimentação, constataram que a maioria é carnívora e
detectaram duas categorizações de distribuição espacial: ambientes de ocorrência (rio/mar,
costeiro e alto mar) e profundidade (raso, meia-água, meia-água/fundo, fundo). Os
principais critérios utilizados para identificar, nomear e classificar as espécies estão
relacionados com a coloração e morfologia. Os autores constataram que muitas
informações citadas neste estudo estão de acordo com a literatura especializada,
35
fortalecendo a importância e inclusão do conhecimento ecológico local nos planos de
manejo e na tomada de decisões.
Sousa (2010) realizou estudo etnozoológico nas comunidades pesqueiras, Barra
Grande e Morro da Mariana, situadas na APA do Delta do Parnaíba/PI, como forma de
preservar e valorizar a biodiversidade e a cultura tradicional. Foram aplicadas 161
entrevistas, seguidas de coleta e identificação das espécies. Registrou-se 141 espécies,
distribuídas em 10 Taxa. Em Barra Grande, Crassostrea rhizophorae Guilding, 1828 e em
Morro da Mariana, Caiman crocodilus Linnaeus, 1758 foram as espécies mais versáteis.
Segundo essa autora o conhecimento etnozoológico deve ser considerado na conservação e
preservação da biodiversidade e da cultura local, valorizando a participação das populações
nos planos de manejo.
Amorim (2010) registrou o conhecimento tradicional relativo às artes de pesca e à
construção de embarcações de pesca (canoas) na comunidade Poti Velho, Teresina/PI. O
autor relata a participação de apenas duas famílias na construção e reparo de canoas.
Foram descritas quatro espécies vegetais como utilizadas para a carpintaria naval local:
pequi (Caryocar coriaceum Wittm.), o pau-d‘arco (Tabebuia spp.), o cedro (Cedrella
odorata L.) e a embiratanha (Pseudobombax marginatum (A. St-Hil.) A. Robin), tendo
cada madeira uma função na construção da canoa. Segundo o autor, o conhecimento deve
ser registrado para que não seja perdido diante da falta de interesse dos mais novos e da
comunidade e da vida urbana e do avanço tecnológico.
Diante do exposto, pode-se perceber o crescimento de estudos etnobiológicos
realizados com comunidades de pescadores artesanais. O aumento no número destes
trabalhos está relacionado com um maior reconhecimento da gama de conhecimento
presente na cultura destes povos. Percebe-se, também, que nesse tipo de pesquisa, o que
prevalecia até pouco tempo era apenas o estudo qualitativo, hoje adota-se com maior
frequência a proposta quantitativa de pesquisa, criando-se um elo entre os dois métodos de
trabalho, qualitativo e quantitativo, o que enriquece consideravelmente a pesquisa. Em
suma, os esforços aumentam a cada dia na tentativa de se compreender da melhor forma
possível as relações entre as populações tradicionais e o meio ambiente, expresso em seus
conhecimentos sobre flora, fauna e relações ecológicas, o que contribui na busca do
resgate, reconhecimento e valorização desse patrimônio inestimável que é o conhecimento
tradicional.
36
3 HISTÓRICO, PERFIL SOCIOECONÔMICO E CULTURAL DA COMUNIDADE
CANÁRIAS
3.1 Localização
A comunidade Canárias (Figura 1) situa-se na Ilha de mesmo nome, nas
coordenadas 02°45’55” S; 041°50’41” W, no Norte do estado do Maranhão e pertence ao
município de Araioses. A região faz parte do Delta do rio Parnaíba, um complexo com
cerca de 80 ilhas, distribuídas em uma área de 2.700 Km² (SILVA, 2004).
3.2 Aspectos Físicos
A Ilha das Canárias é a segunda maior ilha em extensão do Delta do rio Parnaíba e
está situada junto à barra das Canárias, que serve de limite entre os estados do Maranhão e
Piauí. Na ilha encontram-se as comunidades de Canárias, Passarinho, Torto e Morro do
Meio, sendo que Canárias representa a maior entre elas e de mais fácil acesso.
O ambiente geomorfológico da área é flúvio deltaico, os solos são formados e
sofrem a ação de intensos processos erosivos. Então, a superfície deltaica é composta por
sedimentos arenosos e argilosos, recortada por canais distributários, que, em seu interior,
contêm acumulação de sedimentos migrantes e inundáveis que se deve ao fluxo e refluxo
das marés e do maior ou menor poder de transporte do canal fluvial principal do rio
Parnaíba. A posição geográfica bem como a distribuição das chuvas ao longo do ano
determinam as características climáticas mais marcantes da área. Então, a área apresenta
clima tropical chuvoso, de acordo com a classificação de Köppen, sendo este quente e
úmido e com chuvas no verão e outono. A média anual da umidade relativa do ar alcança
uma marca de 75,5%. A vegetação predominantemente é a perenifólia de mangue, sendo
uma cobertura vegetal bastante significativa e apresentando espécies halomórficas
características deste tipo de ambiente e que em geral são frenquentes nas faixas externas
das formações sedimentares, estando em contato ou não com a água (CAVALCANTI,
2011).
Segundo Deus et al (2003, p. 56), as áreas de mangue mais preservadas, apresentam
bosques com “vegetação tipicamente arbórea, com alturas máximas [...] variando de 12 a
37
Figura 1 – Mapa de localização da comunidade Canárias, Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba..
CANÁRIAS *
Fonte: Software TrackMaker/Google Maps (2011), modificado por Victor de Jesus Silva Meireles (2011).
38
28 m e com altura média de 11,2 m, o que segundo esse autor apresenta-se superior
aos mangues nordestinos já medidos em outros trabalhos (APÊNDICE E).
3.3 Histórico de Colonização da Ilha
De acordo com Chagas (1987), a comunidade Canárias surgiu em 14 de novembro
de 1806, com a chegada do marinheiro e pescador cearense Francisco Bezerra, mais
conhecido como Chico Bezerra. O pescador, natural de Acaraú, desembarca com mais três
companheiros na Barra das Canárias, conhecida na época por Barra dos Mergulhões
(denominação dada inicialmente ao local pela presença de grande quantidade de pássaros
mergulhões, um hábil pescador, que habitavam as margens do rio Parnaíba). Chico Bezerra
e seus companheiros armaram barracas onde hoje é o porto de Canárias, e juntos
construíram à beira do rio dois grandes currais-de-pesca, dando início a atividade
tradicional de pesca da comunidade. Alguns anos mais tarde, por volta de 1815, chega à
Barra das Canárias um pescador conterrâneo de Francisco Bezerra de nome João Branco
de Souza. As contribuições de João Branco e Francisco Bezerra foram além da atividade
pesqueira, sendo eles responsáveis pelo desbravamento das terras que compunham a
grande Ilha de mais de 40 quilômetros de extensão. Exerceram as atividades de criação
gado (bovino e ovino) em fazendas que se situavam nas comunidades Canárias e
Passarinho, respectivamente. Este autor relata ainda duas versões à origem do nome da
Comunidade: uma defende que seria uma homenagem de Chico Bezerra aos avós,
espanhóis das Ilhas Canárias. Outra versão é que na época das grandes enchentes do rio
Parnaíba descia pelo mesmo uma grande quantidade de um capim denominado canaranas,
chamada pelos pescadores de “canaras”.
Segundo relato da moradora “Srª 101” 4, ocorreram mudanças significativas ao
longo dos anos. Onde outrora prevalecia lavouras e criações de animais como fortes
atividades, casas de taipa em sua grande maioria e ausência de energia elétrica, aos poucos
foram ocorrendo avanços e melhorias como a chegada de energia permanente a motor, que
posteriormente, foi substituída pelo fornecimento por uma companhia elétrica. As casas
também passaram a ser em grande parte de alvenaria, a lavoura perdeu força e hoje se
resume em sua maioria a agricultura de subsistência. A atividade pesqueira, presente desde
4
Entrevista concedida ao autor em 30 de março de 2010.
39
os tempos da colonização local e que representa a atividade econômica principal, também
se modificou, para “Sr. 18”5 onde outrora se utilizava embarcações à vela ou remo, hoje
em sua maioria foram substituídas por embarcações motorizadas; O número de
embarcações na atividade também aumentou bem como modificou-se o modo de
armazenamento do pescado, que anteriormente eram vendidos de imediato ou salgados, a
única forma encontrada para dar maior durabilidade, uma vez que não havia eletricidade no
local. Hoje, são armazenados em conservadoras (freezers) garantindo a durabilidade do
pescado e sua qualidade até chegar aos atravessadores e consumidores. Também, foram
relatados fatos desagradáveis como a redução do número de peixes na região.
3.4 Perfil Socioeconômico
A partir da abordagem sócio-econômica, buscou-se estudar a dinâmica em que a
comunidade Canárias esta inserida, a fim de oferecer subsídios para a compreensão da
relação desta com o meio ambiente.
De acordo com informações fornecidas pelo presidente da Colônia de Pesca Z-07,
estão cadastrados aproximadamente 150 pescadores artesanais que residem na comunidade
Canárias. O presidente descreveu a impossibilidade de precisão ao ceder o número de
pescadores cadastrados, uma vez que a maioria se cadastrou com endereços de Ilha Grande
e o processo de recadastramento ainda não havia sido realizado no ano de 2010. Deste
modo, foram entrevistados 100 pescadores conforme a metodologia proposta por Begossi e
Silva (2004), em que define como amostra representativa o percentual de 25,00% a 75,00%
para o caso de comunidades com mais de 100 residências.
Na atividade pesqueira prevalece a participação de homens (83,00% dos
entrevistados) e apenas 17,00% de mulheres, ficando, portanto a maioria delas restritas aos
serviços domésticos. Cerca de 45,00% dos entrevistados são casados, seguidos pelos
solteiros com 29,00%, a união estável ou juntos com 22,00%, viúvos 4,00% e não há
divorciados no grupo.
As faixas etárias estudadas foram: jovens 14,00% (entre 18 e 24), adultos 72,00%
(entre 25 e 59) e idosos 14,00% (a partir dos 60), de acordo com a divisão adotada pelo
5
Entrevista concedida ao autor em 27 de setembro de 2009.
40
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009). Havendo deste modo, dentro
da atividade pesqueira local, o predomínio de adultos sobre jovens e idosos (Figura 2).
Figura 2- Gráfico de distribuição por gênero e faixas etárias da população de pescadores artesanais da
comunidade Canárias, Araioses/MA, Brasil.
100
Valores em %
80
60
40
HOMENS
MULHERES
20
0
JOVENS ( 18 a 24
anos)
ADULTOS(25 a 59
anos)
IDOSOS (> 60 anos)
Faixas Etárias
Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).
A grande participação dos adultos deve-se a falta de oportunidade na região que
apenas ofereceu esta atividade como forma de sobrevivência. A pequena participação de
jovens na atividade deve-se segundo os próprios moradores, as novas oportunidades que
tem surgido para esta geração, tanto pelo apoio do próprio Estado em oferecer transporte
para o acesso as escolas em níveis que a comunidade não oferece, facilitando a
continuidade aos estudos, como o crescimento de novas oportunidades em ascensão na
região, como o turismo, que oferece novas formas de emprego. Já em relação aos idosos,
quando já não possuem energia suficiente exigida pela atividade, continuam a dar sua
contribuição nesta por meio muitas vezes da confecção de instrumentos de pesca como a
tarrafa e a caçoeira, sendo comum encontrar idosos tecendo suas redes na porta de suas
casas naquela comunidade.
Nota-se que o conhecimento sobre a confecção de
instrumentos de pesca está sendo transmitido, pois observou-se que a maior parte dos
pescadores entrevistados, sejam eles idosos, adultos ou jovens, confeccionam seus próprios
instrumentos ou possuem alguém na família que o faz.
A maioria dos pescadores entrevistados são habitantes nativos (81,00%), sendo os
demais (19,00%) oriundos de outras localidades, como da comunidade vizinha Torto, das
comunidades Cal e Marco (5,26% cada) e dos municípios de Araioses, Tutóia, João Peres,
Barro Duro (5,26% cada) no Maranhão e municípios de Parnaíba (57,92%) e Piripirí
41
(5,26%) no Piauí. O tempo de moradia na comunidade variou de 5 a 77 anos, sendo a
média de 37,87 anos.
Em se tratando do ensino, a comunidade possui duas escolas, sendo a Unidade
Escolar Silvio Freitas Diniz, com turmas de Ensino Infantil e a Unidade Escolar Francisco
Cardoso Leite com turmas de Ensino Fundamental e Ensino Médio. Dos pescadores
entrevistados, 61,00% possuem o Ensino Fundamental, muitos cursados nas duas escolas
locais, 12,00% iniciaram o Ensino Médio e 27,00% não frequentaram a escola, não
dominando deste modo a leitura ou escrita, mas em alguns casos aprendem apenas a
escrever o próprio nome. Os dados citados anteriormente podem ser melhor observados na
Figura 3.
Figura 3- Gráfico da distribuição da população de pescadores artesanais da comunidade Canárias, Araioses
/MA, Brasil, com relação ao gênero e escolaridade.
100
Valores em %
80
60
HOMENS
40
MULHERES
20
0
NÃO
ENSINO
ESCOLARIZADOS FUNDAMENTAL
ENSINO MÉDIO
Nível de Escolaridade
Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).
Segundo relatos (“Sr 37” e “Srª 101”)6 uma grande parte dos jovens prefere realizar
a travessia do rio e estudar nas escolas dos municípios de Ilha Grande ou Parnaíba, devido
a falta de estrutura das escolas locais. A prefeitura oferece então transporte diário e gratuito
para que os alunos possam prosseguir os estudos nas escolas do Piauí. A maioria dos
moradores mais velhos não teve acesso ao estudo ou tiveram pouco contato com a escola.
Muitos adultos e jovens abandonaram à escola para exercer a atividade pesqueira.
6
Entrevistas concedidas ao autor respectivamente em 23 de janeiro e 30 de março de 2010.
42
A principal atividade econômica da comunidade Canárias é a pesca artesanal,
existindo outras atividades, mas não sendo tão significativas quanto à pesca, dentre elas a
lavoura do arroz (Oryza sativa L.), comércio e a criação de animais como Coelho
(Sylvilagus sp), gado bovino (Bos taurus Linnaeus, 1758) e gado ovino (Ovis aries
Linnaeus, 1758) (Figura 4). A cata do caranguejo, muito conhecida na região do Delta e
forte em outras comunidades da ilha como o Torto e Passarinho, não se apresenta
expressiva nesta comunidade.
Figura 4- Fotografias de criação de animais na comunidade Canárias/MA.
A
B
C
D
Autoria: Própria (2009).
A e B: criação coelhos (Sylvilagus SP); C: gado bovino (Bos taurus); D: gado ovino (Ovis aries).
A renda da família é variável, conforme a produção pesqueira e em alguns casos do
auxílio das atividades secundárias. Em média, a renda das famílias gira entre 0.19 a 2
salários mínimos, baseado no salário referente ao ano de 2010 (R$ 510,00), sendo que
cerca de 29,00% dos entrevistados exercem uma atividade extra para complementar a
renda familiar, destes 51,72% possuem como segunda atividade a agricultura e 10,34%, a
marcenaria. Sobre o plantio, 82,00% possuem culturas permanentes, sendo todas elas
localizadas em quintais e servindo para consumo próprio; 46,00% realizam o plantio de
43
culturas temporárias, dentre elas arroz (Oryza sativa L.), milho (Zea mays L.) e feijão
(Phaseolus vulgaris L.). Dentre estes moradores, 80,43% a utilizam apenas para consumo
próprio e 19,56% utilizam para consumo e venda, sendo que 97,82% são realizadas em
quintais e apenas 2,17% em outro terreno.
Embora a Ilha das Canárias pertença ao município de Araioses/MA, grande parte da
economia e dos serviços utilizados pela comunidade são ofertados no estado do Piauí,
principalmente no município de Parnaíba, por sua maior proximidade.
O acesso à Ilha se faz por um barco coletivo a motor (Figura 5A), que parte do
porto dos Tatus, em Ilha Grande, no estado do Piauí. A embarcação realiza o percurso nos
dias úteis, ao meio-dia, saindo do Porto dos Tatus para Canárias e às cinco horas da manhã
faz a viagem no sentido oposto, sendo o custo da passagem de R$ 2,50 por pessoa. Uma
forma alternativa de transporte é o barco que conduz os estudantes das Canárias que
frequentam as escolas em Ilha Grande (Figura 5B). A embarcação parte das Canárias as
cinco horas e cinquenta minutos da manhã e retorna a tardinha, por volta das dezoito horas,
em dias letivos, sendo gratuito para os estudantes, pago neste caso com os recursos da
prefeitura de Araioses/MA (APÊNDICE B). A mesma embarcação pode ser utilizada por
outros passageiros ao custo de R$ 2,50 por pessoa, no ano de 2010.
O acesso pode se feito também pela contratação de embarcações particulares com
barqueiro. O preço cobrado varia dependendo da embarcação: por volta de R$ 150,00 (ida
e volta) em lanchas denominadas voadeiras (Figura 5C); cerca de R$ 75,00 em canoas com
motor de popa (Figura 5D), sendo R$ 15,00 pelo aluguel da canoa; R$ 25,00 pelo aluguel
do motor de popa, conhecido localmente como rabeta; R$ 25,00 pela diária do condutor e o
combustível fica por conta do contratante, por volta de R$ 10,00, ida e volta, no período de
2010 e 2011. Para presente pesquisa foi contratado um guia turístico residente no porto
dos Tatus que também trabalha como barqueiro, em um barco de madeira com motor de
popa. O tempo gasto partindo do Porto dos Tatus varia entre 30 a 50 minutos, dependendo
da maré (de cheia ou vazante).
44
Figura 5 – Fotografias de embarcações que fazem o transporte de pessoas entre a comunidade Canárias/MA
e o porto dos Tatus/PI.
A
B
C
D
Autoria: Própria (2009).
A: barco coletivo; B: barco dos estudantes; C: voadeiras; D: canoa e motor de popa.
Do ponto de vista do desenvolvimento local pode-se observar alguns dados
preocupantes. A comunidade não dispõe de água tratada e o consumo é feito com água não
tratada oriunda em maior parte (85,00%) de poços e do rio (15,00%) (Figura 6).
Figuras 6 – Fotografias de locais de coleta de água para consumo na comunidade Canárias/MA.
Autoria: Própria (2009).
45
Com relação ao destino do lixo, 54,00% dos entrevistados informaram que
enterram (Figura 7), 35,00% disseram que queimam, 5,00% enterram e queimam, 2,00%
afirmam que deixam a céu aberto e 4,00% afirmam fazer uso da coleta pública, pois em
2010 a prefeitura de Araioses/MA disponibilizou dois funcionários para trabalharem nesta
atividade na Ilha, embora o fato seja do agrado dos moradores, os mesmos consideram o
número de funcionários insuficiente para atender a demanda de lixo local.
Figura 7– Fotografias de buracos utilizados pelos moradores da comunidade Canárias para depositar e
posteriormente enterrar o lixo.
Autoria: Própria (2009).
Quanto ao destino de dejetos humanos, 58,00% dos moradores entrevistados
informaram dispor de fossa séptica e 42,00% afirmaram fazer uso de fossa negra (banheiro
de palha), onde os dejetos são depositados em um buraco no chão.
Observou-se que 66,00% das casas da comunidade são construídas de alvenaria,
31,00% de taipa e 3,00% de madeira; 73,00% possuem piso em cimento, 26,00% em
cerâmica e 1% em barro. Quanto à cobertura das casas, cerca de 99,00% são cobertas por
telhas e 1,00% coberta por palha de carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore).
Observou-se também que algumas casas possuem em sua estrutura madeira do manguevermelho (Rhizophora mangle L.), sendo usada como taipa, ripa e/ou linha (estrutura de
sustentação do teto).
Existe apenas um posto de saúde na comunidade pertencente ao Programa de Saúde
da Família (PSF) que conta com uma equipe de cinco agentes de saúde, uma técnica de
enfermagem, um enfermeiro e um médico. Os agentes e a enfermeira residem na
comunidade, e o médico, segundo moradores, reside na cidade de Araioses/MA e presta
46
atendimento uma vez por semana. O posto oferece atendimento local e domiciliar e está
em funcionamento desde 2001, porém a assistência a saúde na comunidade ainda é
deficiente e segundo a “Sr ª 101”7 “a unidade de saúde não atende às exigências mínimas
preconizadas pelo Ministério da Saúde, quanto ao cumprimento dos Programas, espaço
físico e carga horária dos profissionais que deveria ser de no mínimo 30 h/semanais”.
Os moradores da comunidade entrevistados comentam sobre os benefícios oriundos
da chegada da energia elétrica no local. O fato se deve as várias dificuldades enfrentadas
pelos moradores antes da chegada da mesma. Os moradores descrevem a evolução que vai
das lamparinas, passando pelo gerador a diesel que era ligado das 18h às 22h, até a
chegada da rede elétrica do estado do Piauí, que permitiu que se pudessem abrir comércios
com refrigeradores para venda de bebidas geladas, leite e seus derivados, dentre outros
produtos, que necessitem de refrigeração para sua conservação. A contribuição da chegada
da energia elétrica foi acima de tudo fato fundamental na melhoria da própria atividade
pesqueira local, pois a partir desse momento o pescado passou a ser armazenado, não
havendo a necessidade de ter que despachá-lo rapidamente para não estragar, permitindo
deste modo que os pescadores tivessem mais tempo para negociar preços melhores.
A chegada da eletricidade não trouxe consigo apenas benefícios. De acordo com a
Srª 101 “a partir do momento em que a comunidade passou a ter acesso aos meios de
comunicação, aumentou o acesso às informações, as necessidades pelos bens de consumo
[...] muita coisa mudou mas não para melhor: antes a base da alimentação era o pescado,
agora se come salsichas, presuntadas, e danoninho”. Além disso, acrescenta que “as risadas
e piadas despretensiosas foram substituídas pelos fones de ouvido que todos carregam com
seus celulares” (“Srª 101”)8, cujas principais operadores que dão cobertura para região são
Claro, TIM e Amazônia celular.
7
Entrevista concedida ao autor em 30 de março de 2010.
8
Entrevista concedida ao autor em 30 de março de 2010.
47
3.5 Aspectos Religiosos, Culturais e Superstições
No quesito religião, a população local é em grande maioria Católica Apostólica
Romana (88,00% dos entrevistados), seguido de evangélicos (6,00%), indefinidos (4,00%)
e 2,00% sem religião.
O Templo (prédio) católico recebeu o nome de São João Batista devido à forte
presença de religiosos, devotos do santo, no período de colonização da Ilha, que fizeram
esforços para sua construção e o homenagearam com seu nome (CHAGAS, 1987). Sobre
ela, observou-se que os eventos religiosos, grupos de orações e canto são organizados e
realizados pelos próprios moradores na maior parte do tempo. A visita de um religioso,
representante da paróquia, é feita apenas no último domingo de cada mês, não havendo
deste modo um dirigente religioso da referida igreja domiciliado na comunidade.
Uma curiosidade sobre a forte participação da religião católica na colonização do
local é demonstrada em um termo localmente muito utilizado ao se referir a quem é o dono
das terras na Ilha. Os moradores descrevem as terras como “Terra do Santo” e isso se deve
ao fato de que depois de instalada a Igreja Católica no local, esta recebeu inúmeras doações
de terras dos moradores locais, e passou a possuir grande quantidade de terras sobre seus
domínios. Estas terras ficaram então conhecidas como a Terra de São José ou Terra do
Santo. Segundo relatos, ali não se comprava terrenos para se construir uma casa, apenas se
comunicava à igreja, que faria o reconhecimento e registro do local escolhido e autorizava
a construção. Fato que, segundo os moradores, vem mudando ao longo dos anos com a
chegada da especulação imobiliária. Sobre o assunto o “Sr. 16”9 enfatiza que “[...] antes a
terra era do santo e todo mundo respeitava. Era só pedir a igreja e construía sua casa [...]”.
Dentre os grupos religiosos evangélicos encontrados na comunidade, temos a Igreja
Batista MEAP (Missão Evangélica de Assistência aos Pescadores) e as Testemunhas de
Jeová. A Igreja Batista possui um maior número de frequentadores, pois segundo a “Srª
101”10 “uma grande estrutura física, com salas de aula, quadra de esportes, desenvolve
curso de artesanato, música, estudos religiosos, assistência a saúde, festas comemorativas,
e com isso conquistou uma boa parte da população principalmente os jovens”, além de
possuir representante religioso permanente na comunidade.
9
Entrevista concedida ao autor em 27 de julho de 2009.
10
Entrevista concedida ao autor em 30 de março de 2010.
48
De um modo geral, 74,00% dos moradores dizem participar frequentemente dos
cultos religiosos, 24,00% não frequentam e 2,00% responderam frequentar as vezes. Sobre
o uso de plantas nos rituais e festividades, 57,00% dos moradores afirmam existir esse uso
principalmente para ornamentação e 43,00% não lembram ou desconhecem esse uso. Das
plantas utilizadas ou partes delas foram citadas flores para ornamentação do altar, porém os
entrevistados afirmam não haver plantas específicas para este fim, sendo utilizadas aquelas
que estiverem floridas na ocasião. Também foi observado o uso das folhas, dando destaque
para a do coqueiro (Cocos nucifera L.) muito utilizada nos festejos religiosos.
Sobre as festividades na comunidade (APÊNDICE B), destacam-se as religiosas,
sendo que as principais, segundo os moradores, ocorrem duas vezes por ano, em
comemoração ao padroeiro São João Batista, no dia 24 de junho e em comemoração a
Nossa Senhora das Dores, no dia 18 de dezembro. Estes dias são marcados por celebrações
de missas, procissões, orações, cânticos e peças teatrais com temas religiosos que são
apresentados por membros da comunidade e contam com a participação de padres
advindos da cidade de Araioses para a condução das celebrações. Para a “Srª 101”11:
[...] depois que outras práticas religiosas foram se introduzindo, o catolicismo
foi perdendo adeptos e os festejos religiosos se enfraqueceram; os leilões e
novenas perderam espaço para as novelas. E a grande festa no ‘clube’ que
antes era concorridíssima, hoje está desprezada já que os que se converteram
às religiões evangélicas não podem dançar [...].
Outra festividade importante na comunidade é a comemoração do seu aniversário
(APÊNDICE B), sendo realizado no dia 14 do mês de novembro. A organização é feita
pela Associação de Moradores e Associação de Pescadores locais, e envolve atividades
como celebração religiosa, campeonatos esportivos, festa no clube, gincanas, terminando
com a regata de canoas à vela, muito conhecida na região por sua beleza e que atrai grande
público, oriundo de comunidades vizinhas e turistas de muitos lugares. A escolha da
comemoração baseia-se na data de chegada do Chico Bezerra na Comunidade, relatada na
publicação de Chagas no ano de 1987.
11
Entrevista concedida ao autor em 30 de março de 2010.
49
Detectou-se na comunidade a crença nas lendas do cabeça-de-cuia, lobisomem,
mulher chorona e gritador:
Cabeça-de-cuia: a lenda descreve a história de um garoto que após uma má
pescaria chega a sua casa com fome e se irrita ao encontrar uma comida que não lhe
agradava. Agride sua mãe que logo o amaldiçoa. O menino vira então uma criatura feia,
deformada, cuja cabeça grande parece uma cuia. A partir desse momento ele passa a vagar
sem descanso, virando canoas, assustando lavadeiras tentando encontrar sete Marias
virgens, o único modo de quebrar a maldição.
Lobisomem: segundo os pescadores, não era raro o aparecimento de pessoas que
em noite de lua cheia se transformam em lobo na comunidade. Uma particularidade com
relação à história descrita em outras regiões é o fato de que na comunidade a denominação
“lobisomem” é usada para se referir também a transformações de pessoas em outras
espécies como o porco, por exemplo.
Mulher chorona: os moradores comentam que após a meia-noite, surge nas ruas
da comunidade uma mulher em prantos e que leva consigo uma criança de colo.
Gritador: a comunidade descreve o aparecimento de um homem no meio do rio,
guiando uma canoa e gritando muito. Quando observado por alguém o referido homem
cresce até atingir a altura aproximada de um poste e cai por cima de quem o observa.
3.6 Aspectos Tecnológicos, Produtivos e Organizacionais
Dentre os meios de transporte utilizados pela comunidade Canárias em suas
pescarias pode-se destacar: a canoa movida a motor de popa, também chamada de “rabeta”
(Figura 8A) (APÊNDICE C); embarcações movidas à vela (Figura 8B) (APÊNDICE C) e
barco de um porte um pouco maior, movido a motor (Figura 8C) (APÊNDICE B). Estas
embarcações são produzidas localmente, desprovidas de equipamentos de auxílio à pesca e
à navegação, e voltadas a pescarias próximas a costa e não em alto mar.
50
Figura 8– Fotografias de embarcações utilizadas na atividade pesqueira na comunidade Canárias/MA.
A
B
C
Autoria: Própria (2009).
A: rabeta; B: embarcação a vela; C: embarcação a motor.
A confecção das embarcações ocorre de modo artesanal (APÊNDICE G) e é
realizado por pescadores locais que possuem como segunda atividade a carpintaria. Dos
pescadores entrevistados, apenas 4,00% se autodenominam carpinteiros navais. As
embarcações são construídas em barracões de palha, três no total. A média de preço para
construção de uma embarcação de tamanho médio é de R$500,00 pela mão-de-obra e mais
R$700,00 de materiais e projeto (valores em 2010). O tempo gasto em média para
construção é de 10 a 20 dias. Segundo “Sr. 37”12 quando o barco é construído pelo Projeto
“Ajuda Inicial”13 do INCRA, demora em média seis meses para sua conclusão, uma vez
que, segundo seu relato, envolve toda uma burocracia para preparação da documentação
necessária, como registro na prefeitura, elaboração de projeto e por fim a aprovação junto a
12
13
Entrevista concedida ao autor em 23 de janeiro de 2010.
Projeto do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária que está contribuindo com o
desenvolvimento da atividade pesqueira na região. Fornece aos pescadores matérias para confecção de
instrumentos de pesca bem como financia a construção de embarcações.
51
este órgão. Uma vez aprova toda documentação, o dinheiro é liberado pelo INCRA, sendo
padronizada a construção de cinco canoas por vez. Os pescadores entrevistados afirmam
que a madeira utilizada para a construção das embarcações vem do Pará, sendo elas pequi
(Caryocar coriaceum Wittm.), pau-d’arco (Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.)
Mattos, cedro (Cedrella odorata L.), jatobá (Hymenaea courbaril L.) e massaramduba
(Manilkara dardanoi Ducme). Porém, citaram plantas locais anteriormente utilizadas:
jatobá (Hymenaea courbaril L.) para o pé ou quilha, andiroba (Carapa guianensis Aubl.)
para o assento de taboa e o mangue-vermelho (Rhizophora mangle L.) para caverna e
quilha (Figura 9). Lembram, também, que atualmente a produção aumentou devido ao
projeto Ajuda Inicial do INCRA desenvolvido junto à comunidade. Observou-se que dois
dos quatro carpinteiros navais locais são irmãos e trabalham no mesmo local o que resume
a prática da atividade a apenas três famílias. Um dos artesãos entrevistados afirma estar
sempre aberto a ensinar o ofício aos mais jovens que se interessarem pela atividade.
52
Figura 9 – Ilustração das estruturas de canoas fabricadas artesanalmente na comunidade Canárias.
PILOTO
ACENTO DE TÁBUA
CAVERNA
PÉ OU QUILHA
TÁBOA DO CASCO
POPA
Elaboração: Própria (2011).
53
No que tange as técnicas de pesca, os pescadores da comunidade Canárias fazem
uso, em sua maioria, de onze artefatos manufaturados (APÊNDICE D): caçoeira (32,18%),
tarrafa (27,34%), linha/anzol (26,30%), landoá (5,88%), puçá (2,77%), curral e rabadela
(1,73%), manzuá e grosseira (0,69%), jiquí e curralzinho (0,35%); (Figura 10). Embora
denominada de artesanal, a pesca local está sempre assimilando novos conhecimentos e
técnicas, não estando alheia a evolução dos instrumentos industriais como anzóis variados,
linhas de nylon e motor de popa (rabeta), que substituiu ao longo dos anos o remo e as
velas, embora estas ainda sejam utilizadas na região.
Instrumentos
Figura 10- Gráfico com a distribuição percentual das citações dos pescadores artesanais sobre os
instrumentos de pesca mais utilizados na comunidade Canárias, Araioses/MA, Brasil.
curralzinho
jiquí
groseira
manzuá
rabadela
curral
puçá
landoá
linha/anzol
tarrafa
caçoeira
0
5
10
15
20
25
30
35
Citações em percentual
Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).
Sobre a confecção de instrumentos de pesca (APÊNDICE D) cerca de 43,00% dos
pescadores afirmam produzirem seu próprio instrumento de pesca. Os principais
instrumentos citados como produzidos por eles foram: caçoeira (38,46%), tarrafa
(36,26%), alguns citaram “rede” não especificando o tipo que fabricavam (14,28%),
groseira (3,30%), landoá e puçá (2,20% cada), curral, curralzinho e jiquí (1,10% cada)
(Figura 11).
54
Figura 11- Gráfico com a distribuição em percentuais dos instrumentos de pesca produzidos pelos
pescadores artesanais na comunidade Canárias, Araioses /MA, Brasil.
jiquí
Instrumentos
curralzinho
curral
puça
lamdoá
grosseira
rede
tarrafa
caçoeira
0
10
20
30
40
50
% citações de fabricação
Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).
Foram observadas na comunidade: anzol e rede caçoeira na pescaria em alto mar e
anzol, puçá, jiquí, landuá, grosseira, rabadela, tarrafa e curral, na pesca no rio. A técnica de
pesca denominada de batedeira14 não foi citada pelos pescadores durante as entrevistas,
mas pôde ser presenciada durante o desenvolvimento da pesquisa.
Segue a descrição dos principais instrumentos e técnicas encontradas na
comunidade:
Anzol ou linha: o anzol é amarrado a uma linha nylon, própria para pescaria, e é
utilizada em grande maioria nas margens do rio ou em embarcações no mar ou no rio
(Figura 12).
14
Técnica utilizada geralmente em pequenas lagoas onde uma rede de malha é posta de uma margem a
outra da mesma e o(s) pescador(s) batem com madeira na água assustando os peixes que caem atordoados
na armadilha.
55
Figura 12- Fotografia de instrumento de pesca de anzol ou linha utilizado por pescadora da comunidade
Canárias/MA.
Autoria: Própria (2009).
Puçá: um talo de planta ou arame é curvado até unir suas pontas e formar uma
espécie de elipse. A este talo prende-se uma malha, que passa a formar uma espécie de
sacola. Prendem-se as pontas do talo a um cabo de madeira que será o local de apoio para o
pescador segurar o instrumento (Figura 13).
Figura 13- Ilustração do instrumento de pesca puçá utilizado na comunidade Canárias/MA.
Autoria: Própria (2009).
Jiquí: instrumento feito a partir de talos de coqueiro, formando uma espécie de
cesto comprido, mais largo na parte central e estreito em suas extremidades de onde partem
suas duas aberturas (Figura 14). O pescador utiliza para captura do camarão;
56
Figura 14- Fotografia do instrumento de pesca jiquí utilizado na comunidade Canárias/MA.
Autoria: Própria (2009).
Landuá: o instrumento assemelha-se a uma peneira de modo que de três pontos da
circunferência partem cordões de aproximadamente 20 cm que se unem a um cordão
principal, cuja extremidade prense-se um pedaço de isopor (Figura 15). Utilizado para
captura de crustáceos como o camarão (Litopenaeus schmitti Burkenroad, 1936) e o siri
(Callinectes bocourti A. Milne-Edwards, 1879).
Figura 15- Fotografia do instrumento de pesca landuá utilizado na comunidade Canárias/MA.
Autoria: Própria (2009).
57
Rabadela: composto por uma linha central, de onde partem linhas secundárias que
em menor tamanho possuem anzóis na ponta para a captura dos peixes (Figura 16).
Figura 16- Fotografia do instrumento de pesca rabadela utilizado na comunidade Canárias/MA.
Autoria: Própria (2009).
Groseira: O instrumento é igualmente composto por uma linha central, que neste
caso é longa, de onde partem diversas linhas secundárias com anzóis na ponta e que podem
chegar ao número de 200 (Figura 17). Nesta técnica os pescadores também ficam
embarcados e após a colocação das iscas lançam todos os anzóis ao mar.
Figura 17- Ilustração do instrumento de pesca groseira utilizado na comunidade Canárias/MA.
Autoria: Própria (2009).
58
Tarrafa: o instrumento é composto por uma rede tecida de nylon ligada a uma
corda central, sendo que nas bordas da rede encontram-se pedaços de chumbo para facilitar
sua submersão na água (Figura 18). Possui tamanho variável e malha de diversas
espessuras e é utilizado para pescaria em águas rasas, nas margens do rio neste caso.
Utilizado na pesca de diversos tipos de peixes, bem como, na pesca do camarão. A técnica
consiste no lançamento da rede que tem formato circular de modo que esta caia aberta
sobre a água, podendo neste caso jogar ou não iscas anteriormente na água.
Figura 18- Fotografias do instrumento de pesca tarrafa utilizado na comunidade Canárias/MA.
Autoria: Própria (2009).
Caçoeira: rede tecida de nylon, geralmente extensa, possuindo malha de tamanho
variável, sendo utilizada em pescarias no mar e no rio para captura de diversos tipos de
peixes. A técnica é utilizada em geral por pescadores embarcados, algumas vezes com
mais de uma embarcação. Em alguns casos a rede fica estendida de uma margem a outra
do rio, outras vezes em apenas um trecho, sendo que em ambos os casos bloqueiam
integralmente ou parcialmente a passagem dos peixes no local, capturando-os deste modo
(Figura 19).
59
Figura 19- Fotografias do instrumento de pesca caçoeira utilizado na comunidade Canárias/MA.
Autoria: Própria (2009).
Curral: o instrumento é composto por uma espécie de cercado feito com madeira,
muitas vezes do mangue próximo ao local onde é inserido (Rhizophora mangle L.). A
técnica utiliza a maré como auxiliar no ato de pescar. O curral fica totalmente recoberto
por água durante a maré cheia permitindo a entrada de peixes. Com a maré baixa os peixes
não conseguem mais sair, ficando presos (Figura 20).
Figura 20- Fotografia do instrumento de pesca curral utilizado na comunidade Canárias/MA.
Autoria: Própria (2009).
Curralzinho: Instrumento feito com talos de mangue-manso (Laguncularia racemosa (L.)
C.F. Gaertn. Fedde), presos por cordões de plástico, utilizados para captura de peixes de
pequeno e médio porte (Figura 21).
60
Figura 21- Fotografia do instrumento de pesca curralzinho utilizado na comunidade Canárias/MA.
Autoria: Própria (2009).
Manzuá: espécie de caixa de madeira recoberto por malha de nylon, que fica
submersa na água em contato com o substrato e que serve para captura de peixes (Figura
22). Podem ser utilizados vários ao mesmo tempo ligados por uma corda central, no caso
de pescadores embarcados.
Figura 22- Ilustração do instrumento de pesca manzuá utilizado na comunidade Canárias/MA.
Autoria: Própria (2009).
Batedeira: esta técnica é realizada dispondo de uma rede de nylon e pedaços de
madeira; é usada geralmente em lagoas e os pescadores bloqueiam um trecho do lago com
a rede de modo que impeça a fuga dos peixes. Do lado oposto ao da localização da rede os
pescadores começam a bater com a madeira na água, que logo assusta os peixes que fogem
em direção à rede (Figura 23).
61
Figura 23- Fotografia do uso da técnica de pesca batedeira na comunidade Canárias/MA.
Autoria: Própria (2009).
Os principais produtos pescados na comunidade são peixes (91,14%), crustáceos
(8,38%) e moluscos (0,48%). Os percentuais dos peixes considerados por eles mais
frequentes foram: bagre-uritinga (11,61%), pescada branca (9,24%), saúna (8,17%),
pescada amarela (7,96%), camurim/robalo (7,96%), sardião (6,88%) e o bagre-surubim
(6,45%). Os considerados menos frequentes de serem capturados foram: cação (0,21%),
ariacó e piranha ambos com 0,42%, traíra (0,64%), cará e pacamão com 0,86%.
Figura 24- Fotografias dos peixes mais capturados pelos pescadores na comunidade Canárias/MA.
A
B
C
A
B
C
Autoria: Própria (2009).
A: Centropomus undecimalis; B: Cynoscion leiarchus; C: Bagre bagre.
62
Foram ao todo 465 citações sobre 26 espécies 15 de peixes, na Figura 25 são
apresentadas as citações em porcentagem.
Figura 25- Gráfico da frequência dos peixes citados pelos pescadores artesanais na comunidade Canárias,
Araioses/MA, Brasil em 2010.
Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).
Quanto à disponibilidade de embarcações para prática da pesca, observou-se que
nem todos os pescadores possuem barco próprio, e passam a trabalhar para algum
15
A identificação das espécies de peixes teve como base o estudo de Sousa (2010) no qual a
classificação das espécies da comunidade Morro da Mariana, município de Ilha Grande/PI foi realizada pela
metodologia de Auricchio e Salomão (2002) onde as espécies foram coletadas, acondicionadas e
identificadas com a colaboração de especialistas. A escolha dessa pesquisa como baseamento para a
identificação das espécies através do nome vernacular se deu pela proximidade (Figura 1) e interação
econômica e social das duas comunidades.
63
pescador, ou ex-pescador dono de embarcações e redes de pesca. Geralmente saem para
pescar cedo da manhã retornando à tardinha. O local de desembarque dos peixes é na
própria comunidade, as margens do rio que eles costumam chamar de praia (Figura 26A).
O pescado é então levado a residência do dono dos barcos. As redes são postas para secar
(Figura 26B) e posteriormente são observados possíveis danos sofridos pelas mesmas para
que possam ser reparados (Figura 26C). Os peixes são pesados muitas vezes em balanças
improvisadas de madeira (Figura 26D) e (APÊNDICE C), onde são utilizadas pedras com
pesos já conhecidos substituindo os pesos feitos industrialmente. Após pesados estes são
beneficiados e acondicionados em conservadoras. Alguns peixes são tratados e vendidos na
própria comunidade, sendo a maior parte transportado em caixas de isopor até o Porto dos
Tatus no município de Ilha Grande ou seguem diretamente até a cidade de Parnaíba. Foi
observado caso em que o pescador, dono de barcos, vende diretamente aos feirantes de
Parnaíba, não passando por atravessadores.
Figura 26- Fotografia com os procedimentos de despesca e tratamento dado aos instrumentos após a
pescaria, comunidade Canárias, Araioses/MA, Brasil.
A
B
C
D
Autoria: Própria (2009).
A: despesca as margens do rio; B: secagem da rede; C: reparos de danos; D: balança de madeira.
64
Os instrumentos de pesca são armazenados em barracas nos quintais das
residências, geralmente construídas de madeira e cobertas por palha de carnaúba.
Sobre a organização formal na comunidade, existem duas associações em
funcionamento: a de moradores e a de pescadores locais. Estas estão atuando de forma
efetiva, com a realização de reuniões regulares, onde são mensalmente discutidos os
problemas e as possíveis soluções com relação às questões locais.
Devido à distância com relação ao município do qual a comunidade pertence, os
moradores que exercem a atividade pesqueira realizam cadastro na colônia de pescadores
mais próxima da comunidade, na cidade de Ilha Grande no estado do Piauí.
3.7 O Turismo na Comunidade
O turismo vem se desenvolvendo na região e os moradores se mostram receptivos à
atividade; alguns jovens já se beneficiam trabalhando como guia turístico de grupos de
visitantes. Mas existe a necessidade do auxílio por parte das autoridades para oferecer a
estes jovens cursos na área, como de guia e línguas, tendo em vista essa atividade em
crescimento na região, podendo gerar tanto uma nova oportunidade de renda em um local
de opções reduzidas, bem como a oferta de um serviço de qualidade aos turistas.
Na comunidade já são oferecidos serviços de pousadas, como o da Casa de Cabloco
(Figura 27), onde também funciona um restaurante que oferece produtos típicos do local.
Figura 27- Fotografias da Pousada Casa de Cabloco na comunidade Canárias/MA.
Autoria: Própria (2009).
65
3.8 Problemas que atingem a Comunidade
Sobre os problemas que afligem os moradores, pode-se destacar a questão do lixo
(Figura 28), que embora tenha recebido o serviço de coleta oferecido pela prefeitura de
Araioses/MA, ainda se mostra insuficiente. Outro fato que vem agravar esta situação é o
fato de que muitos dos moradores continuam jogando lixo em lugares inapropriados como
nas margens do rio. Mas para outros moradores, a situação já esteve pior e consideram que
a coleta já é o primeiro passo, um sinal de melhoria. Quanto a coleta de lixo implantada
pela prefeitura de Araioses/MA o “Sr.18”16 afirma que: “[...] tão tratando, tão limpando
[...] a prefeita manda limpar tudo”.
Figura 28- Fotografia do lixo as margens do rio Parnaíba na comunidade Canárias/MA.
Autoria: Própria (2009).
Outra queixa frequente refere-se à falta de água encanada na comunidade. Nesse
caso as instalações dos encanamentos já estão adiantadas, mas a obra encontra-se
16
Entrevista concedida ao autor em 23 de janeiro de 2010.
66
paralisada. Os moradores desconhecem o porquê da situação e continuam sem acesso a
água tratada.
Outra séria reclamação, diz respeito, segundo relatos, a ocupação irregular e venda
de terras no local por parte de pessoas de outras regiões. Segundo o relato de um morador,
com relação ao referido tema: “[...] todo mundo chega e faz o que quer” (“Sr.53”)17.
Durante o desenvolvimento da presente pesquisa foi detectada a presença de
Caieiras18 próximas ao manguezal (Figura 29 A e B), que demonstra a utilização da
madeira deste para a produção de carvão vegetal (Figura 29 C e D).
Figura 29- Fotografias do modo de produção e armazenamento de carvão na comunidade Canárias/MA.
A
B
C
D
Autoria: Própria (2009).
A e B: Caieiras próximas ao manguezal utilizadas para produção de carvão vegetal; C e D: armazenagem do
carvãol.
17
18
Entrevista concedida ao autor em 23 de janeiro de 2010.
Caieiras são buracos feitos no chão onde são colocadas madeiras para queimar, cobertas por uma camada de folhas e
outra de areia e que são destinadas a produção de carvão vegetal.
67
Outra utilização constante da madeira do manguezal refere-se às construções locais
(Figura 30). A madeira é utilizada na confecção de ripas, linhas, portões, dentre outras.
Segundo relato o aumento do desmatamento está crescendo junto com o número de
habitantes da comunidade, uma vez que a cada família formada utiliza a madeira para a
construção de mais uma residência.
Figura 30- Fotografias da utilização da madeira do mangue vermelho na construção de residências na
comunidade Canárias/MA.
Autoria: Própria (2009).
Apesar dos problemas apresentados a maior parte dos moradores entrevistados está
satisfeitos em residir na comunidade e exercer a atividade da pesca. Afirmam sentir-se bem
como o contato direto com a natureza, o ar puro e tranquilidade local. Alguns moradores
chegaram a afirmar que “adoecem quando vão à cidade” (“Sr.1”)19, isto referindo-se a
problemas respiratórios gerados pelo ar das cidades.
3.9 Pesca e Meio Ambiente: visão dos pescadores
Todos os entrevistados mostraram reconhecer a importância de se conservar o
meio ambiente, citando para isto vários motivos, que vão desde a beleza da natureza
conservada (a), à necessidade da manutenção dos recursos dos quais dependem sua
19
Entrevista concedida ao autor em 27 de julho de 2009.
68
sobrevivência e de seus descendentes (b) e até mesmo ao reconhecimento de ser
pertencente ao conjunto formado pela natureza (c). As idéias mencionadas anteriormente
podem ser reconhecidas nas falas que se seguem, respostas dadas ao serem questionados
sobre a importância de se conservar o meio ambiente:
a) “[...] eles são importantes para manter o ambiente
bonito” (“Sr. 30”)20.
b) “[...] pra que fiquem também para os filhos” (“Sr. 16”)21.
c) “[...] porque a natureza também fez a gente” (“Sr. 80”)22.
Os moradores reconhecem as ações danosas que são realizadas na comunidade
por uma parcela dos moradores, como quando se referem ao problema do lixo, não sendo
rara a resposta “[...] botam lixo na beira da praia” (“Sr.7”)23 deixando explícita a
preocupação com determinadas atitudes presentes na comunidade, que colaboram com a
destruição da própria natureza onde vivem.
Quando perguntados sobre que ações realizam para colaborar na conservação do
meio ambiente as respostas são animadoras. Condenam o desmatamento, pesca e caça
predatória e defendem o uso sustentado dos recursos que lhes garantem o sustento. Ao
questionado sobre que ações devem ser tomadas para a conservação da Ilha, o senhor 10
respondeu: “[...] só pegar o que lhe serve” (Sr. 9)24.
Respostas como esta, tão simplória em número de palavras, porém consegue
expressar de forma grandiosa sentimentos nobres que nenhum estudo muitas vezes pode
trazer, além de demonstrar que uma semente de conscientização já plantada nos
moradores está florescendo e se deve em parte ao trabalho de implantação da RESEX
pelo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade bem como, de
moradores dedicados e bem informados como o ex-presidente da associação de
pescadores local.
20
21
Entrevista concedida ao autor em 28 de setembro de 2009.
Entrevista concedida ao autor em 27 de julho de 2009.
22
Entrevista concedida ao autor em 26 de setembro de 2009.
23
Entrevista concedida ao autor em 27 de julho de 2009.
24
Entrevista concedida ao autor em 27 de julho de 2009.
69
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76
5. ARTIGOS
5.1 Etnobotânica de comunidade pesqueira na reserva extrativista marinha do delta
do Parnaíba, Nordeste do Brasil.
Artigo a ser enviado a Revista Interciência
5.2 Plantas medicinais em comunidade pesqueira na reserva extrativista marinha do
delta do Parnaíba, Nordeste do Brasil.
Artigo a ser enviado a Revista Brasileira de Plantas Medicinais
77
Etnobotânica de Comunidade Pesqueira na Reserva Extrativista Marinha do Delta
do Parnaíba, Nordeste do Brasil.
VICTOR DE JESUS SILVA MEIRELES25*,
ULYSSES PAULINO DE ALBUQUERQUE 26,
ROSELI FARIAS MELO DE BARROS 27
25
Universidade Federal do Piauí, Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Av. Universitária,1310, Campus
Ininga, CEP: 64.049-550, Teresina-Brasil *[email protected];
26
Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Biologia, Laboratório de Etnobotânica Aplicada, CEP
52171-900, Recife, PE, Brasil.
27
Universidade Federal do Piauí, Centro de Ciências da Natureza, Departamento de Biologia, Mestrado e Doutorado em
Desenvolvimento e Meio Ambiente, Campus Ministro Petrônio Portela, Ininga, CEP: 64049-550, Teresina-Brasil;
78
RESUMO
Este estudo investiga a Etnobotânica da comunidade pesqueira Canárias, por gênero e
faixa-etária, gerando informações para a valorização e a manutenção da cultura local
associada
à
conservação
da
biodiversidade.
Foram aplicadas
100
entrevistas
semiestruturadas; as plantas foram coletadas pela técnica “turnê-guiada” e incorporadas ao
herbário Graziela Barroso da UFPI; as informações foram submetidas às análises
qualitativa e quantitativa. Na análise do conhecimento por gênero não houve diferença
significativa na riqueza e diversidade citada pelos grupos; quanto ao conhecimento por
faixa-etária, baseado na riqueza e diversidade, houve diferença significativa entre
conhecimento de jovens em relação a idosos e adultos, sendo que os jovens possuem maior
conhecimento que os adultos e idosos. O conhecimento botânico tradicional é de suma
importância, uma vez que as informações geradas podem ser consideradas no processo de
conservação local, seja no que tange a biodiversidade como da própria cultura de onde foi
gerado, sendo fator indispensável nas etapas do processo de elaboração, criação e gestão de
uma área protegida, como uma RESEX.
Palavras-chave: Espécies botânicas úteis, categorias de uso, comunidade pesqueira,
conhecimento tradicional e biodiversidade.
Introdução
A Etnobotânica é ciência que se ocupa de estudar o relacionamento entre planta e
homem, que integrados passam a formar um todo com significado e passível de análise
histórica, espacial e temporal, dentro de um contexto cultural (Albuquerque, 2005).
Os pescadores artesanais integram o grupo de populações tradicionais não
indígenas (Diegues et al., 1999) e demonstram um conhecimento sobre os recursos
vegetais úteis, ou com potencial para uso, que são de grande importância, e que não se
restringe apenas ao uso de plantas relacionadas diretamente com a atividade pesqueira,
como para confecção de instrumentos de pesca, canoas, iscas, cestos, dentre outros, mas
também incluem amplo conhecimento sobre uso medicinal e recurso alimentar (Begossi,
2004). Pessoas jovens e idosas, sejam homens ou mulheres, participam da atividade
79
pesqueira e conhecem bem o ambiente que circunda tal atividade. De um modo geral os
homens tendem a conhecer mais o ambiente que as mulheres (Borges, Peixoto, 2009;
Miranda et al., 2011), uma vez que, como chefe da família, os homens saem de casa para
trabalhar na atividade pesqueira, roça ou coleta de recursos de modo a garantir a
subsistência da mesma. Já para as mulheres, cabem os afazeres domésticos e os cuidados
com a família, conhecendo no geral mais sobre as plantas encontradas em seus quintais
e/ou próximas as suas residências (Borges; Peixoto, 2009; Miranda et al., 2011). Os idosos
têm maior tempo na atividade, o que lhes garantem uma maior experiência e conhecimento
que os mais jovens (Figueiredo, et al.,1993; Rossato, et al., 1999; Begossi, et al., 2002;
Fonseca-Kruel; Peixoto, 2004; Merétika et al., 2010).
Uma vez que no Brasil o principal instrumento de proteção da biodiversidade são as
Unidades de Conservação (UCs) que envolvem 10,52% da superfície do país (Bensusan,
2006), muitas populações de pescadores encontram-se residindo no interior destas
unidades. Dentre as unidades de uso sustentável temos a Reserva Extrativista (RESEX),
cuja criação foi “[...] motivada por demanda de populações tradicionais, envolvendo o
reconhecimento das comunidades tradicionais, de seus territórios e da importância do
conhecimento das práticas locais para sua conservação [...]” (Saraiva, 2009: p.67).
Dentro desse contexto encontra-se a comunidade de pescadores artesanais Canárias,
pertencente a Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba, que vive basicamente da
exploração da pesca, cata do caranguejo e coleta de mariscos.
Portanto, é de suma importância que o conhecimento botânico tradicional seja
distribuído de forma equitativa dentro da comunidade no qual está inserido, uma vez que
traz consigo práticas que podem colaborar com a conservação da flora local. Portanto este
trabalho objetiva investigar se o conhecimento botânico tradicional dos pescadores
artesanais da comunidade Canárias está distribuído por gênero e faixa-etária de modo
uniforme, buscando também associa-lo a conservação da biodiversidade local.
80
Métodos
Este estudo foi realizado na comunidade Canárias (02°45'33.1"S; 41°51'01.7"O)
(Figura 1) que juntamente com as comunidades Passarinho, Torto e Morro do Meio fazem
parte da Ilha das Canárias, localizada no município de Araioses (Maranhão). A mesma faz
parte de um complexo de 80 ilhas, distribuídas em uma área de 2.700 km² (Silva, 2004),
dando origem ao único Delta em mar aberto das Américas. A Ilha faz parte da Reserva
Extrativista (RESEX) Marinha Delta do Parnaíba, que por sua vez encontra-se no interior
Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do Parnaíba.
Para as coletas Etnobotânicas foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas sobre
conhecimento e uso das espécies botânicas. A amostra seguiu a metodologia sugerida por
Begossi e Silva (2004), que define como amostra representativa o percentual entre 25,00%
a 75,00% para o caso de comunidades com mais de 100 residências.
Os critérios de seleção para a participação nas entrevistas foram: morador com
registro de (a) pescador (a) na Colônia de Pescadores Z-7, atuante na atividade pesqueira
(exceto para as pessoas idosas) e que possuísse notório conhecimento sobre pesca, flora e
fauna locais.
Para a divisão dos grupos por faixa etária, seguiu-se a delimitação utilizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009): jovens (entre 18 e 24 anos),
adultos (entre 25 e 59) e idosos (a partir dos 60).
Aplicou-se a técnica da “Turnê-Guiada” (Bernard, 1988), também referida por
alguns autores como método informante de campo e “walk-in-the-woods” (Albuquerque et
al, 2010), onde as caminhadas em campo foram guiadas por moradores (mateiros) que
possuíam maior conhecimento sobre a área em estudo e as plantas locais, tornando-se
informantes-chave da pesquisa (Bayley, 1982). Assim, pode-se identificar os nomes
vernaculares das plantas citando seus respectivos atributos e posteriormente relacioná-las a
categorias de uso, com o objetivo de validar e fundamentar os nomes das plantas citados
nas entrevistas (Albuquerque et al, 2010).
81
A. do Sul - Brasil
Figura 2- Localização da comunidade Canárias, Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba, Brasil.
Figura 1- Localização da comunidade Canárias, Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba, Brasil.
82
Quanto à coleta de material botânico foram coletados exemplares preferencialmente
férteis (IBGE, 1992). Os procedimentos utilizados nas coletas foram os usuais para os estudos
da taxonomia vegetal (Mori et al, 1989). Em laboratório, foram seguidas técnicas rotineiras de
herborização: prensagem, secagem, montagem, para a composição de exsicatas e duplicatas,
conforme procedimento usual (Fidalgo e Bononi, 1989) e posteriormente o material foi
incorporado ao Herbário Graziela Barroso (TEPB) da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Adotaram-se os seguintes sistemas de classificação: Dahlgren e Clifford (1982) para
as monocotiledôneas, Cronquist (1981) para as dicotiledôneas, com exceção para a família
Leguminosae, que seguiu Judd et al. (1999). Com o auxílio da base de dados do Missouri
Botanical Garden (MOBOT, 2011) foram feitas as correções dos nomes dos taxa, bem como,
foram adquiridas as abreviaturas dos nomes dos autores.
Calculou-se o Valor de Uso (VU = ∑U/n, onde, VU = Valor de Uso, U = número de
citações da etnoespécie por informante, n = número de informantes que citaram a etnoespécie)
das espécies, empregando a técnica sugerida por Phillips e Gentry (1993 a,b) e Phillips et.al.
(1994), modificada por Rossato (1996), onde a importância de uma espécie vegetal é dada
pelo número de usos representado por ela o que indica então a importância local da espécie
diante da concordância das informações sobre ela citadas nas entrevistas.
Com o auxílio do software Biodiversity-Pro foi calculado o índice de diversidade de
Shannon-Wiener (Magurran, 1989) para a determinação da riqueza de espécies botânicas
citadas na comunidade, considerando para isso o total de espécies citadas.
O conhecimento acerca das plantas indicadas nas entrevistas foi analisado comparando
o número de citações, riqueza e diversidade e das espécies citadas por gênero e faixa-etária,
utilizando para o cálculo da diversidade o índice de Shannon-Wiener (Magurran, 1989).
Foram calculadas riqueza e diversidade para cada subgrupo integrante dos grupos gênero e
faixa. Para correção das diferenças encontradas nos tamanhos das amostras, foi utilizado o
método da rarefação (Gotelli e Colwell, 2001) para o calculo da diversidade (Shannon-Wiener
índex na base e) e riqueza de espécies (S) utilizando para isto o software EcoSim (Gotelli e
Entsminger, 2001).
Para saber se as amostras eram significativamente diferentes foi adotado o teste
proposto por Gotelli e Colwell (2001), que compara o valor da amostra menor aos intervalos
de segurança amostra maior rarefeita, quando fora desse intervalo as amostras demonstram
83
diferenças significativas. Foram construídos gráficos de curva de rarefação para diversidade e
riqueza de espécies, com base no número de citações.
Resultados e Discussões
Levantamento Florístico
Em relação ao levantamento florístico foram citadas 108 espécies (Tabela 1),
pertencentes a 49 famílias botânicas (Figura 2). Apresentaram maior citação de espécies:
Euphorbiaceae, Poaceae, Anacardiaceae, Lamiaceae, Solanaceae. Podendo-se observar certa
semelhança aos resultados obtidos por Silva e Andrade (2005), ao realizar o levantamento das
espécies úteis em duas comunidades localizadas na Zona do Litoral-Mata/PE onde, das cinco
famílias destacadas pelo autor, três também obtiveram destaque na comunidade Canárias
(Lamiaceae, Euphorbiaceae e Poaceae).
MYRTACEAE
LILIACEAE
LEGUMINOSAE-MIMOSOIDEAE
ARECACEAE
SOLANACEAE
LEGUMINOSAE-CAESALPINIOIDEAE
LAMIACEAE
ANACARDIACEAE
POACEAE
EUPHORBIACEAE
OUTROS
3.7
3.7
3.7
3.7
4.6
4.6
4.6
4.6
5.5
7.4
53.7
0
10
20
30
40
50
60
Valores em %
Figura 2- Gráfico com o percentual das famílias mais representativas em número de espécies na
comunidade de pescadores artesanais. Canárias, Araioses, Maranhão, Brasil.
Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).
Foram encontradas dentre as plantas citadas diferentes hábitos de crescimento, arbóreo
(n=38; 35,19%), arbustivo (n=32; 29,63%), herbáceo (n=21; 19,44%), subarbustivo (n=16;
14,82%) e liana (n=1; 0,92%).
84
Conhecimento e Uso da Vegetação
Foram entrevistados 100 (66,66%) pescadores artesanais, sendo 83 homens (83,00%)
e 17 (17,00%) mulheres, resultando em um total de 832citações de uso.
As espécies com maior número de citações foram Rhizophora mangle - 19,47% (162),
Copernicia prunifera - 7,93% (66), Anacardium occidentale - 5,52% (46), Vernonia
condensata - 3,36% (28) e Cymbopogon citratus - 3,24% (27).
A planta mais citada pelos pescadores da comunidade Canárias, mangue-vermelho (R.
mangle), é nativa e faz parte do ecossistema manguezal e que compõe grande faixa da ilha
onde está localizada à comunidade. Sua utilização principal está relacionada com extração de
madeira para construção civil, seguido do uso medicinal, obtendo também indicação de uso
para confecção de artefato de pesca (curral) e segundo relatos, em tempos atrás, já foi também
utilizado para construção artesanal de barcos. O uso desta espécie para confecção de curral e
na construção de casas também foi observado por Furtado et al. (2006) ao estudarem a
utilização do manguezal nas comunidades pesqueiras de Marapanim e São Caetano de
Odivelas no litoral do estado do Pará. Rasolofo (1997) ao estudar pescadores tradicionais na
costa de Madagascar/África também descreve a madeira do mangue com sendo amplamente
utilizada para fazer armadilha de pesca e canoas.
A utilização do manguezal também é referida por Carneiro et al (2010), ao estudarem
as plantas nativas na vila dos pescadores da Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu/PA,
onde encontram de forma semelhante a espécie Rhizophora mangle como a espécie mais
citada e destacam que os usos principais das espécies do manguezal se concentraram nas
categorias “construção” e “tecnologia”. Deus et al. (2003) ao estudar a estrutura da vegetação
lenhosa de três áreas de manguezal do Piauí também afirmam o uso dos bosques de mangue
para extração da madeira; por Ravindran et al. (2005) ao realizarem estudo etnobotânico em
Tamil Nadu na costa leste da Índia, também encontraram uso da madeira do manguezal para
lenha, derivados de madeira e matérias-primas para uso na medicina; Souto (2008) ao realizar
estudo no Distrito de Acupe, Santo Amaro/BA sobre o bosque de mangues e a pesca artesanal
sobre a abordagem etnoecológica também registra uso da madeira ou galhos para confecção
de artefatos de pesca, uso direto da lenha ou após a conversão em carvão; Carneiro et al
(2008) ao estudarem os pescadores artesanais do Canal de Santa Cruz/PE encontram o uso de
85
mangue para produção carvão vegetal e para fins medicinais; Dessa forma, pode-se observar
que o uso de espécies do manguezal apresenta-se disseminado em diferentes localidades no
país e no exterior. Para Diegues (2000) o uso da madeira do mangue para fins de construção
de casas foi e ainda é de suma importância para pequenas comunidades pesqueiras da costa
brasileira.
Com relação à Ilha das Canárias, Saraiva (2009) comenta que a extração do mangue
não é citada em nenhum dos documentos analisados por ele como atividade extrativista
vegetal e isso se deve ao fato de se tratar de atividade ilegal prevista no Código Florestal
Brasileiro, Lei Nº 4.771 de 1965, bem como em outros documentos legais com Resoluções do
CONAMA. Esse autor comenta ainda que “[...] entretanto, a atividade é muito presente dentro
da RESEX, da APA e em todo Delta, utilizando, sobretudo, para aproveitamento da madeira
para construção civil ou carvoaria de subsistência pela população de menor poder aquisitivo.
Ressalta, também, que toda região é possível perceber casas e cercas onde o madeiramento
principal é proveniente do mangue. Porém apesar da disseminação desta prática, os
manguezais ainda se encontram em relativo bom estado de conservação e a impressão que se
tem é que não é este seu principal foco de pressão”
Categorias de Uso
Das cinco categorias de uso encontradas (alimentícia, medicinal, forrageira,
construção e outros usos), as que tiveram maior percentual de citações foram: medicinal
(44,83%), alimentícia (25,12%) e construção (25,36%). Resultado similar foi encontrado por
Melo et al (2008) ao estudarem a comunidade da praia do Pântano Sul/SC, onde as categorias
mais cotadas foram medicinal, seguida de alimentar, artesanal/manufatura, outros e
ornamental. Semelhante também aos resultados de Miranda e Hanazaki (2008) ao estudarem
as comunidades insulares de Pereirinha, Náufrago e Foles/SP, onde na primeira a categoria
mais cotada foi medicinal, seguida de manufatura; na segunda as categorias com mais
citações foram alimentar e medicinal e na terceira a mais cotada foi alimentar, seguida de
medicinal e manufatura. Outros resultados semelhantes foram os encontrados por Rossato et
al (1999) ao estudarem os caiçaras habitantes da costa do sudoeste do Brasil onde de 276
plantas citadas as categorias com mais cotações foram medicinais, construção ou artesanato e
86
alimentação. Chazdon e Coe (1999) estudando a etnobotânica de espécies lenhosas no
nordeste da Costa Rica, também referiram as categorias medicinal, construção, lenha,
artesanato e comida como as mais citadas, e aos resultados de Torres et al. (2009) ao
estudarem o uso da biodiversidade na APA de Genipabu/RN, onde de 50 espécies vegetais
encontradas com valor utilitário, as modalidades mais frequentes foram medicinal
e
alimentar.
Os resultados encontrados neste trabalho bem como os observados nos estudos
mencionados acima demonstram uma tendência das populações de pescadores de
apresentarem um maior conhecimento da flora que está diretamente ligada as suas
necessidades básicas. As plantas medicinais, por exemplo, apesar de haver atualmente um
maior acesso aos medicamentos industrializados, elas se mostram bastante utilizadas por
serem gratuitas e de fácil acesso. As plantas alimentícias são parte integrante da dieta local e
representam fonte de fibras e vitaminas também de acesso gratuito. Já as plantas utilizadas
para fins de construção representam a alternativa para o desgastante transporte desses
materiais quando adquiridos em regiões vizinhas.
A categoria forrageira se mostrou pouco expressiva com apenas 1,68% das citações,
embora na ilha seja encontrada a criação de animais (gado bovino e ovino, coelhos, etc.),
apesar de não ser muito desenvolvida. Os demais usos citados, que ficaram inferiores a este
percentual passaram a formar o grupo “outros usos” com 3,00% das citações e englobou
artesanato, mágico-religiosa, artefato de pesca, dentre outros. Destacam-se neste grupo,
espécies que possuíram usos exclusivos, Momordica charantia utilizado para matar carrapato,
e Copernicia prunifera, neste caso, utilizada como fonte de matéria-prima para construção do
instrumento de pesca chamado jiquí.
No que tange as plantas medicinais foram registrados variados usos como, por
exemplo, para tratamento de doenças digestivas (Ximenia americana), renais (Phyllanthus
niruri), do fígado (Vernonia condensata), inflamações (Anacardium occidentale), infecções
virais e/ou bacterianas (Eucalyptus globulus e Vachellia farnesiana), lesões (Rhizophora
mangle), doenças de pele (Pachyra aquatica), doenças do aparelho geniturinário (Terminalia
catappa), do aparelho respiratório (Commiphora leptophoeos), do sistema endócrino
(Syzygium jambolanum), neoplasias (Himatanthus drasticus), dentre outras enfermidades. As
formas de utilização das plantas foram pasta (tópico), chá (oral), xarope (oral) e infusão
87
(tópico, inalação, oral). Resultados se assemelham aos encontrados por Fonseca-Kruel e
Peixoto (2004) na RESEX Marinha Arraial do Cabo/ RJ, onde foram detectadas plantas para
tratar problemas pulmonares, digestivos, problemas de fígado, diabetes, de cicatrização e
inflamações.
Na comunidade Canárias, a categoria medicinal foi onde se concentrou o maior
número de citações, assim como o encontrado por Rossato et al (1999) ao estudarem caiçaras
da costa Sudoeste do Brasil, Torres et al. (2009) ao estudarem o uso da biodiversidade na
APA de Genipabu/RN e por Chazdon e Coe (1999) ao estudarem a etnobotânica de espécies
lenhosas no nordeste da Costa Rica e Coe e Anderson (1997) ao realizarem estudo
etnobotânico junto à comunidade Miskitu na costa leste de Nicarágua.
Com relação às plantas alimentícias, foram citadas plantas encontradas na vegetação
nativa, como Byrsonima crassifolia e cultivadas em quintais, como Solanum tuberosum ou em
roças, como Oryza sativa, que são utilizadas em maior parte para subsistência. Há descrições
(Feydit e Costa, 2006) da prática do extrativismo de B. crassifolia e da castanha da
Anacardium occidentale na comunidade, mas ficando restrito ao consumo local.
Com relação às plantas utilizadas para construção, foram citadas com diversos usos,
como para confecção de caibro, linha, ripa, portão, construção de pontes, cercas e cobertura
de casas. Begossi et al (1993) também encontram o uso da madeira para construção em
cobertura de casas na comunidade pesqueira da Ilha de Búzios, sudoeste do Brasil. Coe e
Anderson (1997) relatam o uso da madeira para suporte para casas, paredes laterais, palha
para telhado, dentre outros ao estudarem a etnobotânica da comunidade Miskitu na costa leste
de Nicarágua. Fato observado também por Rossato et al (1999), ao estudarem e Etnobotânica
de caiçaras da Mata Atlântica, onde a categoria “construção” englobou o uso de plantas para
erguer habitações, construção de canoas, fabricação de colheres e vassouras, artesanato
(cestas); Fonseca-Kruel e Peixoto (2004) na RESEX Marinha Arraial do Cabo, onde
descrevem o uso de plantas para construção de casas em fundações, tábuas para o chão e teto,
além de peças para escorar paredes; Silva e Andrade (2005) ao estudar duas comunidades
localizadas no Litoral de Pernambuco também relataram o uso de plantas em construções
como linhas, caibros, ripas, tábuas, materiais como palha de coqueiro e capim seco usados
para cobertura de telhados.
88
No que se refere à construção de canoas na comunidade Canárias, observa-se que no
passado já foram utilizadas madeiras como Hymenaea courbaril para o pé ou quilha, Carapa
guianensis para o assento de taboa e Rhizophora mangle para caverna e quilha. Hoje estas
foram substituídas por madeiras comercializadas vindas de outras regiões como do estado do
Pará, sendo elas: Caryocar coriaceum, Handroanthus impetiginosus, Cedrella odorata,
Hymenaea courbaril e Manilkara dardanoi. Begossi et al (1993) também descrevem a
construção artesanal de canoas, só que na própria floresta, a partir de um único tronco de
árvore de grande porte e relatam ser difícil encontrar árvores próximas da comunidade que
sirvam para esse fim; Coe e Anderson (1996) relataram a construção de embarcações a partir
de toras de àrvores, descrevendo o uso de cedro macho (Cedrela odorata L.), samaúma
(Ceiba pentandra (L.) Gaertn.), mogno (Swietenia macrophylla King), dentre outras espécies;
Rasolofo (1997) registrou em comunidade na costa de Madagascar a construção de canoas
com o uso do manguezal em diferentes partes da mesma. A construção artesanal de
embarcações por comunidades litorâneas já foi descrita por Hanazaki et al. (2000) nas
comunidades caiçaras de Ponta Almada e Praia do Camburí, onde destacam o uso das
espécies nativas para este fim e ainda Fonseca-Kruel e Peixoto (2004) registraram o uso de
plantas para confecção e consertos de canoas;
Na categoria outros, encontram-se espécies como Astrocaryum vulgare utilizado na
fabricação de rede da fibra e cestos e Byrsonima crassifolia que foi citado para produção de
carvão vegetal. O número reduzido de citações referentes à atividade de carvoaria está
relacionado ao fato dos moradores entenderem que há restrições no uso dos recursos naturais
por se tratar de uma área protegida. Durante as incursões de campo, as Caieiras foram
encontradas já um pouco afastadas das residências, ou seja, está ocorrendo uma inversão,
pois, geralmente a maior pressão sobre os recursos naturais é próxima as residências. Isso
também poderia ser explicado através da restrição de uso, o que promoveu o deslocamento
para áreas de difícil fiscalização. De um modo geral os manguezais mais próximos a
Comunidade encontram-se consideravelmente conservados, pelo menos nas áreas visitadas.
Sobre o tema, Rasolofo (1997) descreve a produção de carvão vegetal na costa de Madagascar
como uma das atividades que exerceram pressão sobre as florestas de mangues e que
ultrapassaram a capacidade de regeneração da floresta.
89
Tabela 1: Espécies úteis citadas pelos pescadores artesanais da comunidade Canárias, Ilha
das Canárias/MA, Brasil. NV = Nome Vulgar; H=Hábito: her=herbáceo, sub=subarbusto;
arb=arbusto, arv=árvore, lia=liana; S=Status: n=nativa, e=exótica; VU = Valor de Uso;
Cat.U=Categorias de Uso: a=alimentícia, b=medicinal, c=construção, d=madeira com outros
uso, e=forrageira e f=outros usos (artesanato, artefato de pesca e místico-religiosa);
NC=Número de Coletor; il=identificada no local.
H
S VU
a,b
sub
n 1,25
cibalena
b
arb
n 1,00
Anacardium occidentale L.
cajueiro
a,b
arv
n 1,48
Mangifera indica L.
mangueira
a,b
arv
e 1,07
Myracrodruon urundeuva Allemão
aroeira
b
arb
n 1,00
Spondias purpurea L.
siriguela
a
arv
e 1,00
Spondias mombin L.
Cajá
a
arv
n 1,00
Annona muricata L.
graviola
a
arv
e 1,00
Annona squamosa L.
Ata
a
arv
e 1,00
Coriandrum sativum L.
coentro
a
her
e 1,00
Pimpinella anisum L.
erva-doce
b
her
e 1,00
cipó-de-leite/unha-de-leite/
e,f
arb
e 2,00
FAMILIA/ESPÉCIE
NV
Cat.U
Acanthaceae
Justicia pectoralis Jacq.
anador
Amaranthaceae
Alternantera dentata (Moench) Stuchlik ex R.
E. Fries.
Anacardiaceae
Annonaceae
Apiaceae
Apocynaceae
Cryptostegia grandiflora R. Br.
unha-de-gato
Hancornia speciosa Gomes
mangaba
b
arv
n 1,00
Himatanthus drasticus (Mart.) Plumel
janaguba
b
arv
n 1,17
aninga
b
arb
n 1,00
Araceae
Montrichardia linifera (Arruda) Schott
Continua
90
Tabela 1. Continuação
FAMILIA/ESPÉCIE
NV
Cat.U
H
S VU
f
arv
n 1,00
a,b
arv
e 1,13
b,c,d,f
arv
n 1,35
Arecaceae
Astrocaryum vulgare Mart.
tucum
Cocos nucifera L.
coqueiro/coco
Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore
carnaúba
Attalea speciosa (Mart. ex Spreng.) Barb.
babaçu
b
arv
n 1,00
ciúme
b
arb
e 1,00
Artemisia vulgaris L.
dipirona
b
her
e 1,00
Emilia sonchifolia (L.) DC.
serralhinha
e
her
e 1,00
Vernonia condensata Bamer
Boldo-miúdo
b
her
e 1,00
b,c,d
arv
n 1,33
b
arv
e 1,00
a,d
arb
n 2,00
urucu
b
arb
n 1,00
munguba/manguba
b
arv
n 1,06
b,c,d
arb
n 4,00
b
her
e 1,00
Rodr.
Asclepiadaceae
Calothropis procera (Aiton) W.T. Aiton
Asteraceae
Aviceniaceae
Avicennia germinans (L.) L.
mangue-siriba/manguecanoé
Bignoniaceae
Crescentia cujete L.
cujubeira
Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.)
pau-d’arco/angelca
Mattos
Bixaceae
Bixa orellana L.
Bombacaceae
Pachyra aquatica Aubl.
Burseraceae
Commiphora leptophoeos (Mart.) J.B. Gillett
imburana-de-espinho
Cannabaceae
Cannabis sativa L.
maconha
Continua
91
Tabela 1. Continuação
FAMILIA/ESPÉCIE
NV
Cat.U
H
S VU
Capparaceae
Cleome spinosa Jacq.
muçambê/muçambé
b,e
arb
n 1,00
mamão
a,b
arv
e 1,00
pequi
c
arv
n 1,00
mastruz
b
sub
e 1,00
guajiru
a,b,d
arb
n 1,33
Conocarpus erectus L.
mangue-de-botão
b,c,d
arv
n 1,33
Laguncularia racemosa (L.) C.F. Gaertn.
mangue-manso/mangue-
arv
n 1,62
a,b
arv
e 1,14
Caricaceae
Carica papaia L.
Caryocaracea
Caryocar coriaceum Wittm.
Chenopodiaceae
Chenopodium ambrosioides L.
Chrysobalanaceae
Chrysobalanus icaco L.
Combretaceae
a,b,c,d,e
branco
Terminalia catappa L.
amendoa/almenda
Convolvulaceae
Convolvulus macrocarpus (L.) Urb.
jalapa/jalapa-do-Brasil
b
arb
n 1,00
Ipomoea batatas (L.) Lam.
batata-doce
a
sub
e 1,00
melão-são-caetano
a,b
sbe
e 2,00
junco
e,f
her
n 3,00
cansansão/cansansão-
b
arb
n 2,00
b
arb
e 1,25
c,f
arb
e 1,33
Cucurbitaceae
Momordica charantia L.
Cyperaceae
Cyperus esculentus L.
Euphorbiaceae
Cnidoscolus urens (L.) Arthur
branco
Euphorbia tirucalli L.
cahorro-pelado/cachorropelado-de-cerca
Jatropha gossypiifolia L.
pião-roxo
Continua
92
Tabela 1. Continuação
FAMILIA/ESPÉCIE
NV
Cat.U
H
S VU
Euphorbiaceae
Jatropha ribifolia (Pohl) Baill.
pião-branco/pião-manso
b
arb
n 4,00
Manihot esculenta Crantz
macaxeira
a
arb
n 1,00
Manihot sp¹
mandioca
a
arb
n 1,00
Phyllanthus niruri L.
quebra-pedra
b
her
n 1,00
Ricinus communis L.
mamona
b
arb
e 1,00
a,b
her
e 1,04
b,e
her
e 2,00
Lamiaceae
Lippia alba (Mill.) N.E. Br.
capim-cidreira/ervacidreira/cidreira
Mentha arvensis L.
Vick
Mentha x villosa Huds.
hortelã
b
her
e 1,00
Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.
malva/malva-do-reino
b
her
e 1,00
Rosmarinus officinalis L.
alecrim
b
sub
e 1,00
Caesalpinia ferrea Mart.
jucá/pau-ferro
b
arv
n 1,14
Copaifera langsdorffii Desf.
podoi
b,c
arv
n 1,50
Hymenaea courbaril L.
jatobá
a,b
arv
n 1,67
Pterogyne nitens Tul.
amendoin-do-mato
e
arv
n 1,00
Senna alata (L.) Roxb.
mata-pastão
b
arb
n 1,25
Leguminosae-Caesalpinioideae
Leguminosae-Mimosoideae
Mimosa caesalpiniifolia Benth.
sabiá
b,d
arv
n 1,00
Mimosa verrucosa Benth.
jurema
a,c
arv
n 2,00
Pithecellobium dulce (Roxb.) Benth.
mata-fome
a
arv
n 1,00
Vachellia farnesiana (L.) Wight & Arn.
coronha
b
arv
n 1,00
Dioclea grandiflora Mart. ex Benth.
mucunã
e,a,b
lia
n 2,00
Phaseolus vulgaris L.
feijão
a
sub
e 1,00
Leguminosae-Papilionoideae
Continua
93
Tabela 1. Continuação
FAMILIA/ESPÉCIE
NV
Cat.U
H
S VU
Liliaceae
Allium cepa L.
cebola
a
her
e 1,00
Allium schoenoprasum L.
cheiro-verde/cebolinha
a
her
e 1,00
Aloe vera (L.) Burm. f.
babosa
a,b
her
e 1,33
Trimezia sp.
orquídea-palmeira
b
her
n 2,00
carrascão/carrasco
e
sub
n 1,00
Loranthaceae
Psitacanthus SP
Malpighiaceae
Byrsonima crassifolia (L.) Munth
murici-da-praia
a,b,c,d
arb
n 1,50
Byrsonima ligustrifolia Saint-Hilaire
muricí-pitanga
a,d
arb
n 2,00
Malpighia glabra L
acerola
a
arb
e 1,00
a,b,d
arv
n 1,33
c
arv
n 1,00
e
her
n 1,00
gameleira
a,e
arv
n 2,00
bananeira
a
arb
e 1,00
Eucalyptus globulus Labill.
eucalipto
b
arv
e 1,00
Eugenia uniflora L.
pitanga
a
arb
n 1,00
Psidium guajava L.
goiaba
a,b
arv
n 1,22
Syzygium jambolanum (Lam.) DC.
azeitona
a,b
arv
e 1,00
Melastomataceae
Mouriri elliptica Mart.
puçá
Meliaceae
Cedrella odorata L.
Menyanthaceae
Nymphoides indica (L.) Muntze
aguapé
Moraceae
Ficus adhatodifolia Schott ex Spreng.
Musaceae
Musa paradisiaca L.
Myrtaceae
Continua
94
Tabela 1. Continuação
FAMILIA/ESPÉCIE
NV
Cat.U
H
S VU
a
arb
n 1,00
a,b
arv
n 1,17
Ochnaceae
Ouratea hexasperma (A. St.-Hil.) Baill.
batiputá
Olacaceae
Ximenia americana L.
ameixa-do-mato
Passifloraceae
Passiflora subrotunda Mast.
maracujá-do-mato
a
sbe
n 1,00
Passiflora SP
maracujá-vermelho
a
sbe
n 1,00
a,b
her
e 1,17
Poaceae
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf
capim-limão/capim- santo
Digitaria insularis (L.) Fedde
capim-açu
e
sub
n 1,00
Oryza sativa L.
arroz
a
her
e 1,00
Paspalum SP
bredo
e
her
n 1,00
Saccharum officinarum L.
cana-de-açúcar
a,b
arb
e 2,00
Zea mays L.
milho
a
arb
e 1,00
romã
a,b
arb
e 2,00
b,e,c,d,e
arv
n 2,05
Poaceae
Punicaceae
Punica granatum L.
Rhizophoraceae
Rhizophora mangle L.
mangue vermelho
Rubiaceae
Spermacoce verticillata L.
vassourinha
b
sub
n 1,00
Tocoyena formosa (Cham. & Schltdl.) M.
jenipapim/jenipapinho
e
arv
n 1,00
Schum.
Rutaceae
Citrus aurantium L.
laranjeira
a,b
arb
e 1,50
Citrus limonum Risso
limão
a,b
arb
e 1,23
d
arv
n 1,00
Sapotaceae
Manilkara dardanoi Ducme
massaranduba
Continua
95
Tabela 1. Continuação
FAMILIA/ESPÉCIE
NV
Cat.U
H
S VU
Sapotaceae
Manilkara zapota (L.) P. Royen
sapoti
a
arv
e 1,00
Capsicum frutescens L.
pimenta-malagueta
a
sub
e 1,00
Solanum lycopersicum L.
tomate
a
sub
e 1,00
Solanum paniculatum L.
jurubeba
a,c
arb
n 2,00
Solanum tuberosum L.
batata- inglesa
a
her
e 1,00
Solanum viarum Dunal
melancia-de-praia
a
sub
n 1,00
Amasonia campestris (Aubl.) Moldenke
flor-de-alma
e
sub
n 1,00
Lantana camara L.
chumbinho
a,e
arb
n 2,00
gengibre
b,e
sub
e 1,00
b,c,d
arv
n 1,29
Solanaceae
Verbenaceae
Zingiberaceae
Zingiber officinale Roscoe
Não identificadas
Pustameira
pustameira
96
Valor de Uso das Espécies Botânicas
Os maiores Valores de Uso foram encontrados para as espécies Commiphora
leptophoeos e Jatropha ribifolia (VU=4,00), seguidas de Cyperus esculentus (VU=3) e
Rhizophora mangle (VU=2,05). O resultado demonstra as espécies com maior potencial de
utilização citadas pelos pescadores. Os valores de uso de todas as espécies citadas foram
distribuídos em quatro classes (Figura 6), destas, duas tiveram maior número de espécies: a
primeira, onde estavam contidos Valores de Uso igual a 1,00 (58,33%) e a segunda com
valores compreendidos no intervalo 1,01 e 2,00 (37,6%). A partir das informações de uso
obtidas pode-se dizer que as espécies mais citadas foram aquelas cujo conhecimento ao seu
respeito é mais equitativamente distribuído dentro do grupo de pescadores artesanais
pesquisado.
70
Porcentagem de VU
60
58.33
50
37.96
40
30
20
10
1.85
1.85
2,01 a 3,00
3,01 a 4,00
0
1
1,01 a 2,00
Figura 6- Gráfico de distribuição do Valor de Uso das etnoespécies dispostos em classes de VU na
comunidade de pescadores artesanais da comunidade Canárias, Araioses/ MA, Brasil. Fonte: Pesquisa direta
(2009-2010).
Diversidade de citações de Espécies Botânicas
A diversidade de espécies botânicas encontradas na comunidade Canárias,
considerando o número geral de espécies citadas (nativas e exóticas) através do índice de
Shannon-Wienner na base 10, foi de H’(10)=1,58. Resultado inferior ao encontrado em
estudo realizado por Borges e Peixoto (2009) em uma comunidade caiçara/RJ, onde
H’(10)=1,81, bem como o estudo de Hanazaki, et al. (2000) nas comunidades caiçaras de
97
Almada e Camburí, que obtiveram H’(10)=1,99 e H’(10)=1,98, respectivamente. Inferior
também ao encontrado por Miranda e Hanazaki (2008) para as comunidades insulares de
Pereirinha, H’(10)=2,04, Cambriú-Foles, H’(10)=1,83 e Naufragos, H’(10)=1,90, e bem
abaixo ao encontrado por Carneiro, Barboza e Menezes (2010) em estudo realizado na vila
de pescadores que também pertencente a uma RESEX, neste caso, à Reserva Extrativista
Marinha Caeté-Taperaçu/PA, em que o índice de Shannon foi de H’=2,3. O resultado
mostra-se superior apenas ao resultado encontrado por Figueredo et al (1997) na
comunidade de Calhaus, ilha de Jaguanum (H’=1,53). Embora índices elevados de
diversidade sugiram áreas bem conservadas em comunhão com considerável conhecimento
etnobotânico (Lima et al, 2000) e a diversidade encontrada para Canárias tenha sido
inferior a maioria dos trabalhos realizados no litoral que foram analisados, a comunidade
ainda apresenta uma rica diversidade e um apreciável conhecimento etnobotânico.
Distribuição Conhecimento Botânico tradicional por Gênero
Os homens (n=83; 83%) citaram 102 espécies botânicas, das quais 63 (61,76%)
foram espécies exclusivas do grupo, destas 44 (69,85%) são de espécies nativas e 19
(30,15%) de espécies exóticas. Já as mulheres (n=17; 17%) citaram 45 espécies botânicas,
sendo 6 (13,33%) de espécies exclusivas deste grupo, destas 4 (66,67%) são espécies
exóticas e apenas 2 (33,33%) são espécies nativas.
Sobre as citações de uso, homens referiram 70628 usos sendo 446 (63,17%) para
espécies nativas e 260 (36,83%) para espécies exóticas. O grupo das mulheres atribuiu 126
citações de uso, sendo 69 (54,76%) para plantas nativas e 57 (45,24%) para exóticas.
No que se refere às categorias de Valor de Uso (VU) e sua relação com os gêneros
e origem das plantas (Figuras 7ª e 7B), observou-se que, os maiores valores de uso das
espécies nativas se concentraram na categoria que vai de 3,01 a 4,00, sendo esta formada
exclusivamente por plantas citadas por homens. Nas demais categorias de VU de plantas
nativas, houve o predomínio de espécies citadas pelo gênero masculino.
28
Baseado no somatório dos usos, considerando deste modo, usos repetidos.
98
As plantas exóticas se concentraram integralmente nas categorias VU=1 e VU
encontrado no intervalo de 1,01 e 2,00. Os maiores valores de uso pertencem à segunda
categoria descrita, com 60% das citações feitas por homens e 40% por mulheres.
B
A
Figura 7- Categorias de Valor de Uso (VU) das espécies nativas (A) e exóticas (B) e o percentual de citações
separados por gênero na Canárias, Araioses/ MA, Brasil. Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).
A participação, em número de citações, do grupo feminino foi menor que do
masculino, tanto com espécies nativas quanto exóticas, percebe-se que as contribuições
destas estão mais representadas no grupo das plantas exóticas. O fato pode ser explicado
uma vez que elas geralmente ficam em casa responsáveis pelas atividades domésticas e
cuidados com a família, o que leva a ter um maior contato com as espécies medicinais,
cultivadas geralmente em quintas (muitas de origem exótica) e pouco contato com as
plantas nativas da mata local.
Deste modo, cabe ressaltar que na comunidade Canárias, a maior parte das citações
feitas pelas mulheres foi de plantas presentes em seus quintais ou próximas as suas
moradias, sendo 55,55% formada por espécies exóticas. Já em relação aos homens, o maior
conhecimento foi sobre as plantas nativas (60,78% das citações), e que não se restringe
apenas as espécies encontradas na ilha em que moram, mas da vegetação que os cercam no
caminho formado por rios e igarapés percorridos até os locais de pesca e em alguns casos,
cata do caranguejo. Deste modo embora não havendo diferenças significativas no
conhecimento de homens e mulheres sobre a biodiversidade, há um domínio acerca de
diferentes tipos de usos destas espécies por cada gênero.
Com relação às citações de espécies exclusivas, os homens demonstraram conhecer
mais sobre espécies nativas que as mulheres. No que tange as citações de uso, homens e
99
mulheres demonstraram ter um maior conhecimento com relação às plantas nativas,
embora se considerado o número de citações as contribuições masculinas foram mais
expressivas. De um modo geral, o uso dos recursos se mostrou heterogêneo entre os
gêneros, assim como no estudo realizado por Borges e Peixoto (2009) numa comunidade
caiçara da APA de Cairuçu/RJ, onde as espécies cujo uso estavam ligadas a
construção/tecnologia foram de domínio masculino e ligadas a alimentação, medicina e
lenha foram de domínio feminino; Miranda et al. (2011) também observaram que os
homens demonstraram conhecer mais espécies manufatureiras, enquanto as mulheres mais
plantas medicinais no estudo desenvolvido sobre o uso dos recursos vegetais junto a
comunidades caiçaras da Ilha do Cardoso/SP.
Diversidade e Riqueza de Espécies Citadas por Gênero
Por possuírem tamanhos amostrais diferenciados, foi necessária a padronização das
amostras, como forma de controlar as diferenças apresentadas nos valores absolutos da
mesma, para poder relacioná-las corretamente. Para tal fim, foi utilizado como ferramenta
o mecanismo da rarefação (Figura 8).
A
B
Figura 8- A: Curva de rarefação para diversidade média (Shannon-Wienner Index); B: riqueza de espécies
citadas por gênero na comunidade de pescadores artesanais Canárias, Araioses/MA, Brasil, destacando os
intervalos de segurança da amostra maior rarefeita. Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).
A diversidade média esperada (Shannon-Wiener) e a riqueza de espécies com a
amostra das citações de homens de 706 rarefeita para 126 citações, foi de H’(e)=3,38 e
S=49,59, respectivamente. Para saber se a amostra apresentava diferença significativa em
100
relação à feminina, foram observados seus intervalos de confiança superior e inferior que
foram de 3,15 e 3,60 para diversidade (Shannon) e 43 e 57 para riqueza de espécies,
respectivamente. O Shannon calculado para o grupo de mulheres, ou diversidade
observada, com 126 citações, foi de 3,21, em média, e a riqueza observada para o grupo foi
de 45, em média. Nota-se que os mesmos estão contidos nos intervalos de confiança da
amostra maior rarefeita para 126 citações, tanto para a diversidade, quanto para riqueza de
espécies (figuras 8A e 8B). Deste modo, percebe-se que a diversidade citada pelo gênero
masculino é pouco maior, porém não apresenta diferenças significativas, demonstrando
que o conhecimento está distribuído de forma equilibrada entre eles.
Outro trabalho similar, em que esta diferença foi pequena, porém, neste caso, a
diversidade tenha sido pouco maior para mulheres, foi o realizado por Figueredo et al
(1997) ao estudarem a etnobotânica de plantas medicinais na comunidade da praia de
Calhaus (Ilha de Jaguanum), Costa da Mata Atlântica, onde o índice de Shannon
encontrado para mulheres e homens foi de H’=1,34 e H’=1,33, respectivamente, e a
riqueza foi de S=29 para homens e S=35 para mulheres. Resultado semelhante foi
encontrado por Begossi et al (2002), onde a diversidade (Shannon-Wiener) encontrada
para homens H’(e)=4.38 foi pouco maior que para mulheres H’(e)=4.19, ocorrendo
também pouca diferença em relação a riqueza de espécies entre mulheres (S=191) e
homens (S=176).
Observam-se também semelhanças aos resultados encontrados por Sousa (2010), ao
estudar as comunidades pesqueiras de Barra Grande e Morro da Mariana na APA no Delta
do Parnaíba, litoral do Piauí, onde as diferenças entre gêneros também não foram
significativas, sendo encontrado em Barra Grande H’=4,42 para homens e H’=4,22 para
mulheres e em Morro da Mariana, H’=4,48 para homens e H’=4,42 para mulheres.
De um modo geral, os resultados demonstraram uma distribuição equitativa por
gênero do conhecimento sobre as plantas, assim como o encontrado por Merétika et al
(2010), no estudo feito com pescadores artesanais em Itapoá/SC cujos resultados não
demonstraram diferenças entre a riqueza citada por homens e mulheres bem como se
assemelham ao estudo feito por Figueredo et al. (1997) na comunidade Calhaus na ilha de
Jaguanum, em que homens e mulheres não apresentaram diferenças no grau de
familiaridade com o uso de plantas medicinais. Divergindo dessa direção foram os
101
resultados do estudo de Hanazaki et al. (2000) em Ponta Almada e Praia do Camburí em
que de três categorias estudadas (artesanato, medicinal e alimentícia) em ambas as
comunidades, apenas uma (alimentícia) e apenas em Camburí, não apresentou diferença
significativa entre os gêneros. A diferença no conhecimento por gênero também foi
descrita por Begossi et al. (2002) ao estudar caiçaras na costa da Mata Atlântica em que,
considerando a abundância relativa de citações por espécie (Shannon), observaram que os
homens apresentaram uma maior diversidade em relação às mulheres. Coe e Anderson
(1996) também observaram esta diferença em Miskitu, costa leste de Nicarágua, onde
relatam que no geral os homens são mais conhecedores do que as mulheres no que diz
respeito ao uso de espécies silvestres.
Distribuição do Conhecimento Botânico Tradicional por Faixa-Etária
O grupo dos adultos (n=72; 72,00%) teve maior número de citações de uso (547),
seguido de jovens (n=14; 14%), com 150 citações e idosos (n=14; 14%), com 135 citações,
sendo 65,74%, 18,04% e 16,22% respectivamente, em valores percentuais. Os adultos
citaram 78 espécies botânicas sendo 39 (50,00%) nativas e 39 (50,00%) exóticas. O
número de espécies citadas exclusivamente por este grupo foi 28 (35,89%) sendo 9
(32,15%) nativas e 19 (67,85%) exóticas; os jovens citaram 64 espécies, sendo 49
(76,56%) espécies nativas e 15 (23,44%) exóticas. O grupo dos jovens apresentou 26
(40,62%) espécies exclusivas, destas 23 (88,47%) foram nativas e 3 (11,53%) exóticas; os
idosos citaram 46 espécies, sendo 25 (54,35%) nativas e 21 (45,65%) exóticas,
apresentando duas espécies exclusivas, uma nativa e uma exótica.
Sobre as categorias de Valor de Uso (VU) e sua relação com a faixa-etária e origem
das plantas, observou-se que, os maiores valores de uso das plantas nativas se
concentraram na categoria que vai de 3,01 a 4,00, sendo esta categoria formada
exclusivamente por plantas citadas pelos jovens (Figura 9).
102
A
B
Figura 9- Categorias de Valor de Uso (VU) das espécies nativas (A) e exóticas (B) e o percentual de citações
separados por faixa-etária na comunidade Canárias, Araioses,/MA, Brasil. Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).
Diversidade e Riqueza de Espécies Citadas por Faixa-Etária
Comparando-se o conhecimento de jovens e idosos observa-se que a diversidade
(Shannon-Wiener) e a riqueza de espécies observadas para a amostra de idosos com 135
citações, foram de H’(e)=3,38 e S= 46, em média. Já a diversidade e riqueza esperada para
amostra de jovens, considerando 135, como número de citações, foram de H’=3,64 e
S=60,96 em média, com intervalos de confiança, inferior e superior, de: 3,57 e 3,71 para
diversidade e 58 e 64 para riqueza. Observa-se que tanto a diversidade (H’), quanto à
riqueza (S) encontrada para o grupo dos idosos não estão contidas nos intervalos da
amostra de jovens rarefeita para 135 citações, em ambos os índices (Figuras 10B e 11B), o
que demonstra diferença significativa entre a diversidade/riqueza citadas por jovens e por
idosos. Apresentando, neste caso, os jovens, um maior conhecimento sobre a riqueza e
diversidade de espécies local.
Ao comparar o conhecimento de jovens e adultos observou-se que, a diversidade
esperada para adultos, considerando 150 citações, foi de H’(e)=3,26, com intervalos de
confiança inferior e superior de 3,07 e 3,44, respectivamente. O índice de Shannon
encontrado para jovens foi de H’(e)=3,68, por isso, fora do intervalo de confiança da
amostra maior rarefeita (Figura 10C). O mesmo ocorre com a riqueza de espécies (S), onde
a riqueza esperada para os adultos, considerando 150 citações, foi de S=46,58, e seus
intervalos de confiança, inferior e superior, foram respectivamente de 40 e 53. A riqueza
103
observada para amostra jovens com 150 citações foi de S=64, estando da mesma forma que
a diversidade, fora do intervalo de confiança da amostra maior rarefeita (Figura 11C), o
que vem demonstrar a existência de diferenças significativas entre ambos. Neste caso, o
conhecimento dos jovens mostrou-se maior que o de adultos.
Comparando o conhecimento de adultos e idosos percebe-se que a diversidade
esperada (índice de Shannon-Wiener) e a riqueza esperada para adultos considerando o
tamanho amostral de 135 citações, foram respectivamente de H’(e)=3,23 e S=44,08, em
média, com intervalos de confiança inferior e superior de 3,03 e 3,41, para diversidade e
38 e 50 para riqueza de espécies. Ao relacionar estes números com a diversidade e riqueza
observadas para o grupo formado pelos idosos (H’=3,38 e S=46), nota-se que os mesmos
estão contidos nos intervalos de segurança da maior amostra rarefeita, tanto para
diversidade, como para riqueza de espécies (Figuras 10D e 11D), demonstrando que não há
diferenças significativas entre ambos, embora o conhecimento apresentado pelos idosos se
mostre pouco maior do que o apresentado pelos adultos.
104
A
B
)
)
C
D
)
)
Figura 10- Curva de rarefação para diversidade de espécies (Shannon-Wienner Index) citadas por faixa
etária na comunidade de pescadores artesanais Canárias, Araioses,/MA, Brasil. A) Diversidade por Faixa; B)
Relação entre jovens e idosos, com os intervalos de segurança da amostra maior rarefeita; C) Relação entre
adultos e jovens, com os intervalos de segurança da amostra maior; D) Relação entre adultos e idosos, com os
intervalos de segurança da amostra maior. Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).
A
B
)
)
C
D
)
)
Figura 11– Curva de rarefação para riqueza de espécies citadas por faixa etária na comunidade de
pescadores Canárias/MA, Brasil. A) Riqueza de gênero; B) Relação entre jovens e idosos, com
intervalos de segurança da amostra maior rarefeita; C) Relação entre adultos e idosos, com os intervalos
de segurança da amostra maior. Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).
105
Uma vez colocados em mesmo nível amostral, foi observado que, com relação ao
conhecimento acerca da flora local, a faixa-etária representada pelos jovens apresenta-se
superior aos grupos formados por adultos e idosos, e os idosos em relação aos adultos
(Figuras 10A e 11A), de modo que, as diferenças são significativas entre jovens e idosos,
bem como entre jovens e adultos, e não significativas entre adultos e idosos.
Os resultados apresentados neste trabalho mostraram-se divergentes aos
encontrados por outros trabalhos, onde a idade mais elevada está geralmente relacionada a
um maior conhecimento oriundo de uma maior experiência de vida, assim como o
apresentado no trabalho de Merétika et al. (2010), ao estudarem pescadores artesanais em
Itapoá/ SC; No estudo etnobotânico de Figueiredo et al. (1997) em Calhaus, ilha de
Jaguanum/RJ, em que os entrevistados mais velhos conhecem mais sobre plantas
medicinais do que os mais jovens, e ao estudo de Rossato et al. (1999) com caiçaras na
costa no sudoeste do Brasil, onde os idosos também apresentaram um maior conhecimento
sobre as espécies. Divergem também dos encontrados por Begossi et al. (2002) com os
caiçaras da costa da Mata Atlântica, em que os mais velhos apresentaram uma maior
diversidade de citações de plantas em comparação aos jovens; ao trabalho de Sousa (2010)
nas comunidades de pescadores de Barra Grande e Morro da Mariana, onde o
conhecimento dos idosos foi superior ao dos jovens e similar (Riqueza e Shannon) ou
maior (números de citações) em relação aos adultos; dos resultados de Fonseca-Kruel e
Peixoto (2004) ao realizar estudo Etnobotânico na RESEX Arraial do Cabo/ RJ, onde
observaram que o saber tradicional encontra-se mantido especialmente entre os pescadores
mais idosos. Coe e Anderson (1996) observaram também os indivíduos mais velhos como
sendo mais conhecedores que os jovens a respeito do uso de plantas medicinais, porém
neste caso, os indivíduos mais jovens estavam mais bem informados sobre plantas usadas
como alimentos.
O fato dos idosos terem apresentado durante as entrevistas menor número de
citações do que os jovens pode ser compreendido uma vez que os representantes deste
grupo geralmente não se dispuseram a participar de turnês-guiadas, técnica que facilita a
lembrança das espécies conhecidas. Esta recusa aparece muitas vezes, por apresentarem
estado de saúde delicado, ou não suportarem o esforço físico exigido nas caminhadas. Uma
106
característica deste grupo também seria certa timidez ao serem entrevistados, bem como
geralmente não se recordam de muitas plantas que conhecem e usam.
Os jovens e adultos se mostraram mais abertos as entrevistas e dispostos a se
deslocaram de suas casas para mostrar alguma planta que citaram durante as mesmas.
Hanazaki et al. (2000) também relataram o fato dos jovens estarem mais abertos e por
conseqüência citarem uma diversidade maior de citações, bem como descrevem a
possibilidade dos mais velhos estarem interagindo menos com a vegetação.
Observa-se, porém, que a eficiência do método “turnê guiada” pode ser o motivo da
superioridade em número de citações de espécies no grupo dos jovens. O método que
expõe o indivíduo ao contato direto com a mata faz com que o mesmo lembre de inúmeras
espécies que não citaria se recorresse apenas à memória.
O maior conhecimento apontado para o grupo composto pelos jovens sugere que
estes estão tendo acesso a um número maior de informações oriundas tanto do ensino
formal, mas também da facilidade informativa que a tecnologia pode proporcionar como,
por exemplo, com a televisão e internet. Todo esse conhecimento é então agregado aos
conhecimentos transmitidos pelos mais velhos, uma vez que todo processo de aprendizado
é dinâmico e está aberto a renovações. Essa transmissão ocorre de modo natural,
utilizando-se dos mecanismos da oralidade e observação dentro do convívio diário com
atividade pesqueira, que se inicia já quando criança, mas cuja inserção efetiva na atividade
só ocorre por volta dos 16 anos, em média, para moradores da ilha.
Conclusão
De modo geral, os pescadores artesanais da comunidade Canárias possuem um bom
conhecimento em relação das plantas nativas e exóticas presentes na ilha, bem como
muitos de seus usos, demonstrando assim a existência do conhecimento botânico
tradicional na comunidade.
As categorias que tiveram maior número de citações foram medicinal, alimentícia e
construção. O valor de uso das espécies citadas pouco variou, não apresentando valores
elevados, o que traduz a utilidade de diversas plantas apenas para um número reduzido de
107
pessoas. A espécie com maior valor de uso foi Rhizophora mangle, com citações para os
usos construção e medicinal.
O conhecimento sobre o uso das plantas na comunidade encontra-se distribuído
regularmente entre os gêneros e irregularmente entre faixa-etária, havendo neste caso
diferença significativa no conhecimento apresentado na relação jovens x idosos e jovens x
adultos, e diferenças não significativas na relação idosos x adultos. Os jovens apresentaram
maior conhecimento que pode estar relacionado com o fato de que estes, além do
conhecimento passado pelos mais velhos, possuem acesso a outros conhecimentos, como
por exemplo, o formal, uma vez que este grupo apresentou o maior percentual de
indivíduos que frequentaram a escola; outras características desse grupo é a de possuírem
maior facilidade de acesso a novas tecnologias, e por serem também mais desinibidos
estando assim, mais abertos aos diálogos. Já os idosos demonstram maior receio ao serem
entrevistados, além de não lembrarem os nomes das plantas e não estarem dispostos a
realizarem turnês-guiadas, fato que aumenta consideravelmente os números de citações de
um entrevistado.
O fato é que, apesar de apresentar problemas ambientais, a comunidade possui uma
considerável porção de área verde conservada, que juntamente com os dados adquiridos na
pesquisa demonstram ainda uma presente e dinâmica transmissão do conhecimento dos
mais velhos aos mais jovens. Essa transmissão ocorre de modo natural no convívio e na
execução das práticas diárias. Já a dinâmica no processo de aprendizagem explica a
incorporação de novos conhecimentos aos já existentes sobre das plantas locais, onde
houve incorporação de espécies exóticas e aprendizado a seus respeitos. O aumento de
informações com a chegada da energia elétrica, que trouxe consigo rádio, TV e internet,
pode ser uma explicação para o maior conhecimento por parte dos jovens.
O conhecimento em relação aos recursos vegetais da ilha demonstra que ainda
ocorre a manutenção e transmissão desse conhecimento dentro desta cultura. A própria
condição insular da comunidade, com acesso apenas por barco, pode ser um fator que
colaborou grandemente com a manutenção de suas características culturais.
Diante da forte influência da cultura sobre a biodiversidade local e estando ciente
da manutenção do ainda presente conhecimento tradicional na comunidade, é que se
destaca a importância de se considerá-los nas ações que envolvam a conservação desta
108
área, principalmente por se tratar de uma reserva extrativista, que se destina não apenas
conservação da área, mas também da cultura e modo de vida dos povos que dependem do
extrativismo local para sobreviver.
Agradecimentos
Aos pescadores da comunidade Canárias, sem os quais não seria possível a realização desta
pesquisa e a todos que contribuíram para conclusão deste trabalho. Ao ICMBio e Colônia
de Pesca Z-7, pelas autorizações necessárias para o desenvolvimento da pesquisa.
Literatura Citada
Albuquerque UP, Lucena, RFP (2010) Métodos e técnicas na pesquisa etnobotânica. Livro
Rápido. Recife, Brasil. pp. 37-62.
Albuquerque UP (2005) Etnobiologia e biodiversidade. Livro Rápido. Recife, Brasil. pp.
78.
Amorozo MCM (1996) A abordagem etnobotânica na Pesquisa de Plantas medicinais. Em
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Plantas medicinais em comunidade pesqueira na reserva extrativista marinha do
delta do Parnaíba, Nordeste do Brasil.
MEIRELES, V. J. S.1*; ALBUQUERQUE, U. P.2; BARROS, R. F. M.3
¹ Universidade Federal do Piauí, Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Av.
Universitária,1310,
Campus
Ininga,
CEP:
64.049-550,
Teresina-Brasil
*[email protected]; ² Universidade Federal do Piauí, Centro de Ciências da
Natureza, Departamento de Biologia, Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente, Campus Ministro Petrônio Portela, Ininga, CEP: 64049-550, Teresina-Brasil;
³Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Biologia, Laboratório de
Etnobotânica Aplicada, CEP 52171-900, Recife, PE, Brasil.
RESUMO: Este estudo investiga os pescadores artesanais da comunidade Canárias/MA,
Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba, sobre o conhecimento e uso da flora
utilizada como medicinal, para compreender a relação destes com estes recursos ao mesmo
tempo que promove o registro desses saberes como forma de valorizar tal conhecimento e
própria cultura que o gerou. Foram aplicadas 100 entrevistas semiestruturadas e as plantas
citadas foram coletadas por metodologia usual, seguindo-se a técnica “turnê-guiada”; todo
o material encontra-se incorporado no herbário Graziela Barroso (TEPB) da UFPI. Foram
determinados o Valor de Uso, Fator do Consenso do Informante (FCI) e Importância
Relativa (IR) das espécies. A comunidade estudada conhece uma variedade de plantas com
propriedades medicinais, utilizando-as sobre diversas formas de manipulação e para o
tratamento de diferentes enfermidades. A maior parte das plantas medicinais conhecidas e
utilizadas é de origem nativa. Commiphora leptophoeos (Mart.) J.B. Gillett, Jatropha
ribifolia (Pohl) Baill., Cyperus esculentus L. e Rhizophora mangle L. apresentaram os
maiores valores de uso. Os sistemas corporais com a maior concentração de espécies estão
relacionados a enfermidades mais corriqueiras como sintomas gerais (febre, inflamação,
cicatrização, etc.), transtornos gastrointestinais e respiratórios. As espécies Rhizophora
mangle L., Pachyra aquatica Aubl., Vernonia condensata Baker, Mentha x villosa Huds.,
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf e Chenopodium ambrosioides L. se apresentaram como
as mais versáteis na comunidade. O conhecimento botânico tradicional pode ser utilizado
como forma de mensurar a diversidade da flora local útil, seu potencial de uso, bem como
a pressão que algumas espécies sofrem com possível uso excessivo. Deste modo, as
informações geradas na comunidade são indispensáveis no processo de conservação local,
e devem ser respeitadas assim como também deve ser a cultura geradora deste
conhecimento.
Palavras-chave: Etnobotânica, plantas medicinais, Canárias/MA.
ABSTRACT: Medicinal plants in a fishing community in the marine extractive
reserve of the Parnaiba Delta, in the Brazilian Northeast. This study investigates the
fishermen from Canárias community, in Maranhão, Marine Extractive Reserve of the
Parnaíba Delta, about the knowledge and use of plants for medical purposes, to understand
the relation between those ones and such resources and at the same time, stimulate the
114
registration of that understanding as a way to strengthen such knowledge and the very
culture that created it. 100 semi-structured interviews were applied, and the indicated
plants were collected through the usual methodology, according to the ‘guided-tour’
technique, all material is incorporated into Graziela Barroso herbarium in the Federal
University of Piauí - UFPI. It was determined the Value of Use (VU), the Informant
Consensus Factor (ICF) and the Relative Importance (RI) of the species. The community in
the focus of this study knows a variety of plants with medical attributes, using them under
different forms of manipulation and to treat distinct diseases. Most of the medicinal plants
which are known and used are originally from the community. Commiphora leptophoeos
(Mart.) J.B. Gillett, Jatropha ribifolia (Pohl) Baill., Cyperus esculentus L. and Rhizophora
mangle L. They had the highest values of use. The body systems with a larger
concentration of species are related to current diseases with general symptoms
(temperature, inflammation, healing, etc.), gastrointestinal and breathing disorders. The
species Rhizophora mangle L., Pachyra aquatica Aubl., Vernonia condensata Bamer,
Mentha x villosa Huds., Cymbopogon citratus (DC.) Stapf e Chenopodium ambrosioides
L., were seen as the most versatile in the community. The traditional botanical
understanding can be used as a way to measure the diversity of the local useful plants, its
usage potential, as well as the pressure some species may suffer due to excessive use.
Therefore, the information produced in the community is essential to the local conservation
process and must be respected, as well as the culture which afforded such knowledge.
KEYWORDS: Ethnobotany, Medicinal plants, Canárias.
INTRODUÇÃO
Toda sociedade humana possui informações acumuladas acerca do ambiente ao seu
entorno, que são ferramentas fundamentais para interação com o mesmo e que lhes permite
garantir o provimento de suas necessidades de sobrevivência. Compondo este acervo
informativo está o conhecimento sobre as plantas com quem estas sociedades estão em
contato (Amorozo, 1996).
Dentro desse contexto, insere-se a Etnobotânica que “compreende o estudo das
sociedades humanas, passadas e presentes, e suas interações ecológicas, genéticas,
evolutivas, simbólicas e culturais com as plantas” (Fonseca-Kruel & Peixoto, 2004: p.177).
Deste modo, na investigação etnobotânica, “o pesquisador procura conhecer a cultura e o
dia-a-dia da comunidade pesquisada, os conceitos locais de doença/saúde, o modo como a
comunidade se vale dos recursos naturais para a ‘cura’ de seus males, atrair ou afastar
115
animais, construir habitações mais adequadas ao local e outros” (Patzlaff & Peixoto, 2009:
p.238).
As investigações etnobotânicas têm reservado cada vez mais sua atenção ao
conhecimento dos pescadores artesanais sobre a biodiversidade vegetal. Segundo Begossi
(2004) os laços existentes entre pescadores e plantas demonstram um conhecimento acerca
dos recursos vegetais úteis ou com potencial para uso de grande importância. Para esta
autora, este saber vai além do conhecimento de uso de plantas relacionadas diretamente
com a atividade pesqueira (instrumentos de pesca, canoas, iscas, cestos, etc.), mas abrange
outros usos, como a alimentação e a medicina popular.
Deste modo, a Etnobotânica busca desvendar toda complexidade que envolve o
conhecimento, vivências, formação, transmissão e relação das comunidades tradicionais
com os recursos da flora, abrangendo deste modo questões ecológicas, histórico-culturais e
éticas, dentre outras.
Um dos focos da Etnobotânica é levantar o conhecimento acerca das plantas
medicinais utilizadas corriqueiramente por comunidades tradicionais. Para Alvim et al.
(2006) o uso terapêutico de plantas na saúde humana trata-se de uma prática milenar,
formada historicamente com base no senso comum, que articula cultura e saúde, pois tais
aspectos não se apresentam isoladamente, mas de forma concomitante dentro de um dado
contexto histórico. No Brasil, estes trabalhos têm se desenvolvido consideravelmente e se
concentram principalmente nas regiões Sudeste e Nordeste, onde se destacam importantes
estudos como os de Rossato et al. (1999), Amorozo (2002), Begossi et al. (2002), Moreira
et al. (2002), Fonseca-Kruel & Peixoto (2004), Roman & Santos (2006), Hanazaki et al.
(2007), Coelho-Ferreira (2009), Merétika et al. (2010), dentre outros.
Nos estados do Maranhão e Piauí, destacam-se os trabalhos envolvendo plantas
medicinais realizados por Coutinho et al. (2002), na terra indígena Araribóia/MA; Franco
& Barros (2006), na comunidade Quilombola Olho D’água dos Pires, em Esperantina/PI;
Monteles & Pinheiro (2007) no Quilombo Sangrador/MA; Santos et al. (2007), em
Monsenhor Gil/PI; Vieira et al. (2008) na comunidade quilombola dos Macacos, São
Miguel do Tapuio/Piauí; Chaves & Barros (2008) no município de Cocal/PI; Santos et al.
em Monsenhor Gil/PI; Pessoa & Cartágenes (2010) em São Luís/MA; Oliveira et al.
(2010), em comunidades rurais do município de Oeiras/PI e por Amorim (2010), na
116
comunidade de pescadores do Poti Velho, em Teresina/PI. Especificamente na RESEX do
Delta do Parnaíba/PI, destaca-se o trabalho realizado por Sousa (2010) em comunidades
pesqueiras de Barra Grande e Morro da Mariana, onde dentre outros aspectos, evidenciou
os usos medicinais das espécies da região.
Tendo conhecimento da riqueza da região, em seus aspectos biológico, ecológico e
cultural, assim como a importante contribuição dos pescadores artesanais locais no
desenvolvimento dessa cultura que permitiu a conservação de sua própria história, o
presente trabalho objetivou investigar os pescadores artesanais da comunidade Canárias,
Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba, sobre o conhecimento e uso da flora
local, tidas como medicinais, determinando as espécies de maior valor de uso, as categorias
de doenças com maior importância relativa local e as espécies com maior versatilidade
para tratamento de doenças.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi desenvolvido em uma comunidade insular do Delta do Parnaíba,
denominada Canárias (02°45'33.1"S; 41°51'01.7"O) (Figura 1) que junto com mais três
comunidades (Passarinho, Torto e Morro do Meio) encontram-se na Ilha de mesmo nome
(Canárias) pertencente ao município de Araioses/MA. A Ilha encontra-se em meio a um
complexo de 80 ilhas, formando o único Delta em mar aberto das Américas e ocupa uma
área de 2.700 km² (Silva, 2004). Toda sua área pertence a Reserva Extrativista (RESEX)
Marinha Delta do Parnaíba, criada em sobreposição a já anteriormente estabelecida Área
de Proteção Ambiental (APA) Delta do Parnaíba.
A pesca artesanal é a base da economia local. Grande parte dos pescadores adotou a
Colônia Z29-7 (PI) para realização do cadastro de categoria por ter uma maior proximidade
da comunidade, embora a colônia do município de Araioses/MA, da qual a comunidade
pertence seja a Z-20. De 150 pescadores cadastrados na colônia, entrevistaram-se 100
(66,66% do total), conforme a metodologia proposta por Begossi & Silva (2004), em que
define como amostra representativa o percentual de 25,00% a 75,00% para o caso de
29
O “Z” das colônias de pescadores deriva do termo “Zonas de Pesca”.
117
comunidades com mais de 100 residências. Foram entrevistados 83 homens (83,00%) e 17
(17,00%) mulheres, e os critérios de seleção para a participação nas entrevistas foram:
morador (a) com registro de pescador (a) na Colônia de Pescadores Z-7, atuante na
atividade pesqueira (exceto para as pessoas idosas) e que possuísse notório conhecimento
sobre pesca e flora locais.
Para a divisão dos grupos por faixa etária, seguiu-se a delimitação utilizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009), em que divide: jovens (entre
18 e 24 anos), adultos (entre 25 e 59 anos) e idosos (a partir dos 60 anos).
118
FIGURA 1 - Localização da comunidade Canárias, Delta do Parnaíba.
Fonte: Software TrackerMaker.
Elaboração: Própria (2011).
119
Utilizou-se da observação participante que consiste na interação entre o pesquisador e
os membros da comunidade estudada na busca da compreensão do modo como opera a
cultura em questão e a visão de mundo dos atores sociais estudados (Amorozo, 1996).
Para as coletas aplicou-se a técnica sugerida por Bernard (1988), denominada “TurnêGuiada”, onde foram realizadas caminhadas em campo guiadas por moradores que possuíam
notório conhecimento sobre a área em questão e as plantas locais (mateiros), que passaram a
ser os informantes-chave desta pesquisa (Bayley, 1982). Assim, foram identificados os nomes
vernaculares das plantas e seus respectivos atributos, de modo a validar e fundamentar os
nomes mencionados durante as entrevistas (Albuquerque et al., 2010).
Para coleta botânica foram selecionados preferencialmente exemplares férteis (IBGE,
1992). Os procedimentos adotados seguiram as técnicas usuais para estudos de taxonomia
vegetal (Mori et al, 1989). Posteriormente, foram seguidas técnicas rotineiras de herborização
em laboratório conforme procedimento usual (Fidalgo & Bononi, 1989). Depois de
herborizado o material foi incorporado ao TEPB (Herbário Graziela Barroso) da Universidade
Federal do Piauí (UFPI).
Adotaram-se os sistemas de classificação de Dahlgren & Clifford (1982) para as
monocotiledôneas, Cronquist (1981) para as dicotiledôneas, com exceção para as
Leguminosae, que seguiu Judd et al. (1999). Utilizou-se a base de dados do Missouri
Botanical Garden (MOBOT, 2011) para as correções dos nomes dos taxa, bem como, para
adquirir as abreviaturas dos nomes dos autores.
Calculou-se o Valor de Uso (VU), através da fórmula VU = ∑U/n, onde, U = número
de citações da etnoespécie por informante e n = número de informantes que citaram a
etnoespécie (Phillips & Gentry, 1993 a,b e Phillips et.al., 1994, modificada por Rossato,
1996), onde a importância de uma espécie vegetal é dada pelo número de usos representado
por ela o que indica então a importância local da espécie diante da concordância das
informações sobre ela citadas nas entrevistas.
Para determinação dos sistemas corporais ou categorias de doenças com maior
importância relativa local, utilizou-se o Fator de Consenso dos Informantes (FCI). Na análise
foi adotado o método proposto por Trotter & Logan (1986) pela fórmula:
FCI = nur – nt / nur – 1
120
onde:
nur = número de citações de uso em cada categoria;
nt = número de espécies usadas
Determinou-se o índice de Importância Relativa (IR) utilizando-se do método proposto
por Bennett & Prance (2000), onde o pesquisador assume que um espécime é mais
importante, quanto mais versátil se apresentar (maior número de indicações) e o valor
máximo obtido é “2”. O cálculo foi efetuado pela fórmula IR = NSC + NP, onde o NSC =
número de sistemas corporais é dado pelo número de sistemas corporais tratados por
determinada espécie (NSCE) sobre o número total de sistemas corporais tratados pela espécie
versátil (NSCEV).
NSC = NSCE
NSCEV
NP = número de propriedades atribuídas para uma determinada espécie (NPE) sobre o
número total de propriedades atribuídas à espécie mais versátil (NPEV). Assim,
NP =
NPE
NPEV
RESULTADO E DISCUSSÃO
O universo amostral foi composto por pescadores artesanais de ambos os sexos
(homens 83,00% e mulheres 17,00%), a maioria nativo da comunidade (81,00%). As faixas
etárias estudadas foram: jovens 14,00%, adultos 72,00% e idosos 14,00%. O tempo médio de
moradia foi de 37,87 anos. Do total, 61,00% possuem o Ensino Fundamental, 12,00%
iniciaram o Ensino Médio e 27,00% não frequentaram a escola.
A pesca artesanal apresenta-se como principal atividade econômica da comunidade,
embora haja o exercício de outras atividades, não muito significativas, como a agricultura de
subsistência (lavoura do arroz - Oryza sativa L.), comércio e a criação de animais (coelho Sylvilagus sp e gado bovino - Bos taurus Linnaeus, 1758 e ovino - Ovis aries Linnaeus,
1758).
Com base nas citações feitas durante as entrevistas, foram encontradas 63 espécies
medicinais, pertencentes a 39 famílias botânicas (Tabela 1). As famílias que apresentaram
maior número de espécies foram: Lamiaceae (n=5; 8,06%), Leguminosae-Caesalpinioideae
121
(n=4; 6,45%), Anacardiaceae (n=3; 4,84), Arecaceae (n=3; 4,84%), Combretaceae (n=3;
4,84%) e Myrtaceae (n=3; 4,84%). Os resultados corroboram com o trabalho de Sousa et al.
(2007) desenvolvido na comunidade Machadinho no litoral norte da Bahia onde as famílias
mais representadas foram Lamiaceae, Leguminosae, Asteraceae, Anacardiaceae e Myrtaceae.
Albertasse et al. (2010) também descrevem a família Lamiaceae como a mais cotada em
estudo com pescadores na Barra do Jucu/ES. Cinco das famílias referidas na comunidade
Canárias também estão entre as mais citadas no estudo feito por Coelho-Ferreira (2009) sobre
conhecimento e uso de plantas medicinais na costa da Amazônia. Begossi et al. (2002)
também encontraram Lamiaceae e Myrtaceae como sendo as mais citadas pelos pescadores da
Mata Atlântica. Segundo Gazzaneo et al. (2005) o fato das Lamiaceae se destacarem em
estudos deve-se ao fato de que a maioria de suas espécies possui hábito herbáceo, sendo
facilmente cultivadas ou presentes como ervas daninhas.
Foram encontradas dentre as plantas citadas diferentes hábitos de crescimento, arbóreo
(n=26; 41,26%), arbustivo (n=18; 28,57%), herbáceo (n=12; 19,04%), subarbustivo (n=5;
07,93%) e liana (n=1; 1,58%). Em semelhante estudo, realizado com pescadores da Barra do
Jucu, Vila Velha/ES, Albertasse et al. (2010) encontraram resultados diferentes deste, onde a
maior parte das citações se referiu as plantas de hábito herbáceo. Amorim (2010) ao estudar a
comunidade de pescadores artesanais do Poti Velho, em Teresina/PI, observou equilíbrio
entre os hábitos herbáceo, arbustivo e arbóreo e referiu os quintais como a principal fonte de
plantas medicinais, principalmente pelo fato da comunidade encontrar-se em zona urbana.
Sousa (2010) observou o uso de plantas cultivadas nos quintais e de matas próximas pela
comunidades de pescadores artesanais de Barra Grande e Ilha Grande de Santa Isabel/PI.
Parte das plantas medicinais utilizadas pela comunidade Canárias é cultivada nos
quintais ou coletadas por eles em suas proximidades, porém os pescadores da comunidade
possuem em seu entorno uma área verde ainda bastante conservada, como por exemplo, a
floresta de mangue e a restinga, o que explica a grande quantidade de árvores e arbustos
nativos utilizados.
No que tange a origem das espécies citadas, 57,14% (n=36) são nativas e 42,85%
(n=27) são exóticas. O resultado diverge de outros trabalhos com pescadores como o
realizado por Roman & Santos (2006) na Zona do Salgado na Ilha de Algodoal/PA, onde
85,00% das espécies utilizadas eram exóticas e do encontrado por Begossi et al. (2002) onde
122
das 227 espécies identificadas, 44,00% eram introduzidas, 18,00% invasoras com categorias
não definidas e apenas 38,00% eram nativas. O resultado também difere do encontrado em
outros trabalhos envolvendo plantas medicinais realizados com pescadores como o
apresentado por Figueiredo et al. (1993), Hanazaki et al. (2000), Begossi et al. (2002a),
Begossi et al. (2002b), Fonseca-Kruel & Peixoto (2004), Sousa (2010) e Amorim (2010),
onde as plantas citadas foram em sua maioria exóticas. O maior número de citações de
espécies nativas na comunidade Canárias pode ser explicado uma vez que esta se encontra em
uma região ímpar, compondo o único delta em mar aberto das Américas, rico em diversidade
biológica e que está protegido duplamente pela sobreposição de duas Unidades de
Conservação (UC’s), o que lhe garante a manutenção de suas inúmeras espécies nativas.
No que se refere ao número de citações, as espécies mais cotadas foram Rhizophora
mangle – 10,98% (46), Vernonia condensata – 6,68% (28), Lippia alba- 6,44% (27) e
Cymbopogon citratus - 6,44% (27). R. mangle possivelmente foi mais referida devido ao fato
de ser nativa e encontrar-se em abundância na região, fazendo parte da paisagem que os
cercam no caminho até os locais de pesca.
Os valores de uso (VU) foram distribuídos em categorias (Figura 2), sendo que a
maioria das plantas obteve VU compreendido entre 1,01 e 2,00. Os maiores Valores foram
encontrados para as espécies Commiphora leptophoeos e Jatropha ribifolia (VU=4,00),
seguidas de Cyperus esculentus (VU=3,00) e R. mangle (VU=2,05) (Tabela 1). O resultado
demonstrou a importância cultural destas espécies para a comunidade uma vez que representa
o quão difundido está o conhecimento de uso das mesmas uma vez que foram baseados nos
potenciais de utilização citados pelos pescadores.
FIGURA 2- Classes de Valor de Uso das espécies utilizadas como medicinais na comunidade
Canárias, Ilha das Canárias, Araioses/ MA, Brasil. Fonte: Pesquisa direta (2009-2010).
123
TABELA 1: Espécies usadas como medicinais pelos pescadores artesanais da comunidade
Canárias, Ilha das Canárias/ Araioses/ MA, Brasil. NV = Nome Vulgar; Hb=Hábito: her=herbáceo,
sub=subarbusto; arb=arbusto, arv=árvore, lia=liana; S=Status: n=nativa, e=exótica; VU = Valor de
Uso; IR=Importância Relativa.
FAMILIA/ESPÉCIE
NV
IR
Hb
S VU
anador
1,07
erv
n 1,25
cibalena
0,23
arb
n 1,00
Anacardium occidentale L.
cajueiro
0,76
arv
n 1,05
Mangifera indica L.
mangueira
0,23
arv
e 1,00
Myracrodruon urundeuva Allemão
aroeira
0,23
arb
n 1,00
erva-doce
0,23
her
e 1,00
Hancornia speciosa Gomes
mangaba
0,31
arv
n 1,00
Himatanthus drasticus (Mart.) Plumel
janaguba
0,62
arv
n 1,17
aninga
0,23
arb
n 1,00
Cocos nucifera L.
coqueiro/coco
0,62
arv
e 1,00
Copernicia prunifera (Mill.) H.E. Moore
carnaúba
0,76
arv
n 1,50
Attalea speciosa (Mart. ex Spreng.) Barb.
babaçu
0,23
arv
n 1,00
ciúme
0,23
arb
e 1,00
Artemisia vulgaris L.
dipirona
0,23
her
e 1,00
Vernonia condensata Baker
boldo-miúdo
1,24
arb
e 1,29
mangue-siriba/mangue-
0,23
arv
n 1,00
Acanthaceae
Justicia pectoralis Jacq.
Amaranthaceae
Alternantera dentata (Moench) Stuchlik ex R.
E. Fries.
Anacardiaceae
Apiaceae
Pimpinella anisum L.
Apocynaceae
Araceae
Montrichardia linifera (Arruda) Schott
Arecaceae
Rodr.
Asclepiadaceae
Calothropis procera (Aiton) W.T. Aiton
Asteraceae
Aviceniaceae
Avicennia germinans (L.) L.
canoé
124
Tabela 1. Continuação
FAMILIA/ESPÉCIE
NV
IR
H
S VU
Bignoniaceae
Crescentia cujete L.
cujubeira
0,23
arb
e 1,00
urucum
0,45
arb
n 2,00
munguba/manguba
1,24
arv
n 1,75
imburana-de-espinho
0,45
arb
n 2,00
maconha
0,54
arb
e 3,00
muçambê/muçambé
0,54
arb
n 1,20
mamão
0,23
arv
e 1,00
mastruz
1,86
sub
e 1,14
guajiru
0,23
arb
n 1,00
Conocarpus erectus L.
mangue-de-botão
0,23
arv
n 1,00
Laguncularia racemosa (L.) C.F. Gaertn.
mangue-manso/mangue-
0,45
arv
n 1,00
amendoa/almenda
0,90
arv
e 2,00
jalapa/jalapa-do-Brasil
0,45
arb
n 2,00
cansansão/cansansão-
0,45
arb
n 2,00
0,54
arb
e 1,33
0,76
arb
n 4,00
Bixaceae
Bixa orellana L.
Bombacaceae
Pachyra aquatica Aubl.
Burseraceae
Commiphora leptophoeos (Mart.) J.B. Gillett
Cannabaceae
Cannabis sativa L.
Capparaceae
Cleome spinosa Jacq.
Caricaceae
Carica papaia L.
Chenopodiaceae
Chenopodium ambrosioides L.
Chrysobalanaceae
Chrysobalanus icaco L.
Combretaceae
branco
Terminalia catappa L.
Convolvulaceae
Convolvulus macrocarpus (L.) Urb.
Euphorbiaceae
Cnidoscolus urens (L.) Arthur
branco
Euphorbia tirucalli L.
cahorro-pelado/cachorropelado-de-cerca
Jatropha ribifolia (Pohl) Baill.
Pião branco
125
Tabela 1. Continuação
FAMILIA/ESPÉCIE
NV
IR
H
S VU
Euphorbiaceae
Phyllanthus niruri L.
quebra-pedra
0,54
her
n 1,20
Ricinus communis L.
mamona
0,23
arb
e 1,00
capim-cidreira/erva-
1,07
her
e 1,08
Lamiaceae
Lippia alba (Mill.) N.E. Br.
cidreira/cidreira
Mentha arvensis L.
vick
0,45
her
e 2,00
Mentha x villosa Huds.
hortelã
1,46
her
e 1,22
Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.
malva/malva-do-reino
0,68
her
e 1,00
Rosmarinus officinalis L.
alecrim
0,45
sub
e 1,00
Caesalpinia ferrea Mart.
jucá/pau-ferro
0,85
arv
n 1,14
Copaifera langsdorffii Desf.
podoi
0,23
arv
n 1,00
Hymenaea courbaril L.
jatobá
0,76
arv
n 1,33
Senna alata (L.) Roxb.
mata-pastão
0,23
arb
n 1,00
Mimosa caesalpiniifolia Benth.
sabiá
0,31
arv
n 1,00
Vachellia farnesiana (L.) Wight & Arn.
coronha
0,85
arv
n 1,00
mucunã
0,45
lia
n 1,00
Aloe vera (L.) Burm. f.
babosa
0,76
her
e 1,00
Trimezia sp
orquídea-palmeira
0,31
her
n 2,00
murici-da-praia
0,23
arb
n 1,00
puçá
0,23
arv
n 1,00
Eucalyptus globulus Labill.
eucalipto
0,54
arv
e 1,25
Psidium guajava L.
goiaba
0,45
arv
n 1,00
Syzygium jambolanum (Lam.) DC.
azeitona
0,99
arv
e 1,11
Leguminosae-Caesalpinioideae
Leguminosae-Mimosoideae
Leguminosae-Papilionoideae
Dioclea grandiflora Mart. ex Benth.
Liliaceae
Malpighiaceae
Byrsonima crassifolia (L.) Kunth
Melastomataceae
Mouriri elliptica Mart.
Myrtaceae
126
Tabela 1. Continuação
FAMILIA/ESPÉCIE
NV
IR
H
S VU
Olacaceae
Ximenia americana L.
ameixa-do-mato
1,07
arb
n 1,08
capim-limão/capim- santo
1,24
her
e 1,17
cana-de-açúcar
0,45
arb
e 2,00
romã
0,23
arb
e 1,00
mangue-vermelho
2,00
arv
n 1,24
vassourinha
0,99
sub
n 1,25
Citrus aurantium L.
laranjeira
0,45
arb
e 1,00
Citrus limonum Risso
limão
0,45
arb
e 1,14
gengibre
0,23
sub
e 1,00
pustameira
0,62
arv
n 1,00
Poaceae
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf
Poaceae
Saccharum officinarum L.
Punicaceae
Punica granatum L.
Rhizophoraceae
Rhizophora mangle L.
Rubiaceae
Spermacoce verticillata L.
Rutaceae
Zingiberaceae
Zingiber officinale Roscoe
Não identificadas
Pustameira
127
Os pescadores mencionaram variados usos medicinais (Tabela 2) como para
tratamento de doenças digestivas, renais, do fígado, inflamações, infecções virais e/ou
bacterianas, lesões, doenças de pele, doenças do aparelho geniturinário, do aparelho
respiratório, do sistema endócrino, neoplasias, dentre outras enfermidades. Fonseca-Kruel
& Peixoto (2004) obtiveram resultados semelhantes na RESEX Marinha Arraial do Cabo/
RJ, onde foram detectadas plantas para tratar problemas pulmonares, digestivos, problemas
de fígado, diabetes, de cicatrização e inflamações. Scudeller et al. (2009) também
observaram o uso de plantas para tratamento de inflamações, dores, doenças
gastrintestinais, de fígado e rins nas comunidades de São João do Tupé e Central/AM. Os
resultados também corroboram com os obtidos por Amorim (2010), em Teresina/PI, onde
foram encontradas plantas utilizadas para tratar sintomas gerais, doenças respiratórias,
infecções, doenças do aparelho geniturinário, doenças de pele, do sistema endócrino,
dentre outras. O trabalho de Sousa (2010), realizado no interior da APA Delta do Parnaíba,
nas comunidades de Barra Grande e Ilha Grande/PI, também demonstra o uso de plantas
medicinais para o tratamento de má digestão, asma, gripe, inflamações internas, calmantes,
dentre outras.
Os locais de coleta mencionados foram os quintais, proximidade das residências e
nas áreas verdes da Ilha como na restinga e floresta de mangue. As partes das plantas mais
utilizadas foram: folhas (49,17%), seguida de cascas (27,35%), raízes (10,77%), frutos
(9,12%) e látex/seiva (3,59%). Os resultados de Coelho-Ferreira (2009) corroboram estes
resultados, onde as partes mais utilizadas em ordem de citações foram: folhas, raízes,
cascas, frutos, plantas inteiras, ramos, látex, flores, sementes, etc. Os resultados de
Scudeller et al. (2009) e Albertasse et al. (2010) também apontam a folha como a parte
mais utilizada no preparo de remédios com 61,9% e 39,00% das citações respectivamente.
Gazzaneo et al. (2005) afirmam serem as partes mais utilizadas um reflexo dos
recursos mais facilmente disponíveis para uma comunidade. Deste modo, o maior uso de
folhas na comunidade Canárias pode estar ligado ao fato da abundante disponibilidade
desse órgão durante todo ano, ao contrário do que ocorrem, segundo os autores citados
anteriormente, em áreas que são expostas a longos períodos de seca e perdem suas folhas,
onde prevalece a utilização de cascas. Deste modo, o uso de partes da planta não sofre
grande influência da hipótese de disponibilidade sazonal de plantas, diferentemente de
algumas áreas como a estudada por Albuquerque (2006) em Alagoinha/PE.
128
Algumas espécies apresentaram mais de uma parte da planta citada na produção de
remédios, como Rhizophora mangle e Anacardium occidentale, o que vem colaborar com a
afirmativa de Rigat et al. (2007) que destaca a existência de muitos casos onde há a
utilização de mais de um órgão da mesma espécie na elaboração de remédios diferentes.
As formas de preparo para utilização das plantas medicinais informadas pelos
pescadores da comunidade foram, em sua maioria, chá decocção (37,65%) e chá infusão
(21,76%), seguidas por descanso em água (18,82%), lambedor/garrafada (7,94%),
maceração (6,47%), pasta (5,59%), suco/vitamina (1,77%). Resultados semelhantes foram
referidos por Dorigoni et al. (2001), Sousa et al. (2007), Scudeller et al. (2009), Albertasse
et al. (2010) e Merética et al. (2010) ao levantarem dados sobre plantas medicinais em São
João do Polêsine/RS, Machadinho/BA, São João do Tupé e Central/AM, Barra do Jucu/ES
e Itapoá/SC, respectivamente. Já os modos de aplicação encontrados na comunidade
Canárias foram: oral (79,32%), tópico (20,40%), e inalação (0,28%).
129
TABELA 2: Espécies medicinais utilizadas por pescadores artesanais da Comunidade
Canárias, Araioses/MA/Brasil, seguindo a classificação da Organização Mundial da Saúde, que se
baseia em sistemas corporais.
Código / Sistema/FCI
Espécies Medicinais
Indicação
(B95-B97) FCI=0,29
Euphorbia tirucalli
Agentes de infecções
bacterianas, virais e outros
agentes infecciosos
Psidium guajava
Caesalpinia ferrea
Chenopodium
ambrosioides
Jatropha ribifolia
Mouriri elliptica
Euphorbia tirucalli
Himatanthus drasticus
verruga, impingem (micose de
pele)
disenteria
infecção
infecção
(C00-C97)
FCI=0,00
Neoplasias, leucemia
linfoma
(E00-E90)
FCI=0,00
Doenças endócrinas,
nutricionais e metabólicas
(F40-F48)
FCI=0,11
Transtornos neuróticos,
transtornos relacionados
com o “stress” e
transtornos somatoformes
(H00-H95) FCI=0,00
Transtornos dos olhos e
ouvidos
(I00-I99)
FCI=0,11
Doenças do aparelho
circulatório
(J00-J99)
FCI=0,28
Doenças do aparelho
respiratório, gripe
(J00-J99)
FCI=0,28
Doenças do aparelho
pira
tratar sapinho em criança
câncer
câncer
Terminalia catappa
Syzygium jambolanum
Rhizophora mangle
Byrsonima crassifolia
Chrysobalanus icaco
Lippia alba
Cymbopogon citratus
Mentha x villosa
Ricinus communis
Rhizophora mangle
Rosmarinus officinalis
Vernonia condensata
Pimpinella anisum
Jatropha ribifolia
Pachyra aquatica
colesterol
colesterol
diabetes
diabetes
diabetes
calmante
dor de cabeça, calmante
dor de cabeça
dor de cabeça
dor de cabeça
calmante
dor de cabeça
calmante
dor de cabeça
dor de ouvido
Aloe vera
Terminalia catappa
Justicia pectoralis
Lippia alba
Cymbopogon citratus
Mentha x villosa
Rhizophora mangle
Spermacoce verticillata
Saccharum officinarum
Mentha x villosa
Zingiber officinale
Vachellia farnesiana
Eucalyptus globulus
Citrus aurantium
Citrus limonum
Plectranthus amboinicus
Chenopodium
ambrosioides
Cleome spinosa
Punica granatum
Spermacoce verticillata
Cnidoscolus urens
pressão alta
pressão alta
pressão alta
pressão alta
pressão alta
pressão baixa
criar sangue
limpa e afina o sangue
pressão alta
gripe, dor de garganta
gripe
gripe, puxada (catarro)
gripe
gripe
gripe
gripe
gripe, catarro
gripe
dor de garganta
gripe
sinusite
130
respiratório, gripe
(K00-K93)
FCI=0,39
Doenças do aparelho
digestivo
Commiphora leptophoeos
Chenopodium
ambrosioides
Syzygium jambolanum
Vernonia condensata
Laguncularia racemosa
Mangifera indica
Chenopodium
ambrosioides
Senna alata
Dioclea grandiflora
Trimezia sp.
Jatropha ribifolia
Bixa orellana
Mentha arvensis
Spermacoce verticillata
Convolvulus macrocarpus
Hancornia speciosa
Não identificada
Ximenia americana
dor de barriga, diarréia
dor de estômago, diarréia,
Indigestão
dor de estômago
dor de estômago, dor de barriga
(diarréia)
dor de estômago, dor de barriga
(diarréia), indigestão
dor de barriga, diarréia
dor de estômago
dor de estômago
dor de barriga (diarréia)
dor de barriga (diarréia),
intestino, cólica infantil
dor de barriga
dor de estômago
indigestão
gastrite
verminose, gastrite, mau hálito,
dor de estômago, dor de barriga
(diarréia)
gastrite
dor de barriga (diarréia)
dor de estômago, problemas
intestinais
dor de barriga (diarréia)
gastrite
gastrite, úlcera
laxante
prisão de ventre
dor de barriga (diarréia
diarréia
dor de estômago
gastrite, dor de estômago
gastrite, hérnia
dor de estômago, gastrite
Anacardium occidentale
Cnidoscolus urens
dor de dente
dor de dente
Ximenia americana
Vernonia condensata
Copernicia prunifera
Hymenaea courbaril
Phyllanthus niruri
problemas do fígado
problemas do fígado
problemas do fígado
problemas do fígado
problemas do fígado
Aloe vera
Pachyra aquatica
Bixa orellana
Jatropha ribifolia
vermelha (vermelhidão)
vermelha (vermelhidão)
manchas
frieira
Rhizophora mangle
fraturas
Anacardium occidentale
Lippia alba
Cymbopogon citratus
Cocos nucifera
Vachellia farnesiana
Crescentia cujete
Psidium guajava
Mentha x villosa
Cannabis sativa
Plectranthus amboinicus
Carica papaia
Avicennia germinans
Rhizophora mangle
(K00-K14)
FCI=0,00
Doenças da cavidade oral,
das glândulas salivares e
dos maxilares
(K70-K77) FCI=0,00
Doenças do fígado
(K70-K77) FCI=0,00
Doenças do fígado
(L00-L99) FCI=0,00
Doenças de pele e do tecido
subcutâneo: dermatite,
unhas, etc.
(M00-M99)FCI=0,00
sinusite
pneumonia, gripe, catarro,
131
Doenças do
sistema
osteomuscular e
do tecido
conjuntivo
(N00-N99) FCI=0,18
Doenças do aparelho
geniturinário
(N20-N23)
FCI=0,00
Calculose renal
(R50-R69) FCI=0,35
Sintomas e sinais gerais
Chenopodium
ambrosioides
fraturas
Rhizophora mangle
Phyllanthus niruri
Mimosa caesalpiniifolia
Terminalia catappa
Ximenia americana
Rosmarinus officinalis
Syzygium jambolanum
Copernicia prunifera
Hymenaea courbaril
Caesalpinia ferrea
Phyllanthus niruri
Mimosa caesalpiniifolia
problemas renais
dor nos rins
dor nos rins
problemas renais
problemas renais
dor nos rins
problemas renais
problemas renais
problemas renais
dor nos rins
pedra nos rins
pedra nos rins
Terminalia catappa
Ximenia americana
Justicia pectoralis
Montrichardia linifera
Myracrodruon urundeuva
Syzygium jambolanum
Saccharum officinarum
Aloe vera
inflamação
inflamação
dor
cicatrizante
inflamação
inflamação
fortificante
inflamação, tratamento de
cabelo
inflamação, dor no peito, vômito
inflamação, cicatrizante
desmaio, dor
vômito, febre
febre, inflamação
dor
febre, inflamação
hidratação, fraqueza
dor
dor no corpo, febre
lambedor (fortificante), febre
cicatrizante
fortificante para grávidas, dores
nas costas, inflamação
febre
fortificante, inflamação
inflamação, febre, dor no corpo
febre
febre
dor, inflamação
cicatrizante, inflamação,
inflamação
dor, cicatrizante, inflamação,
indisposição
inflamação, fraqueza
inflamação
inflamação
Inflamação, cicatrizante
Vernonia condensata
Anacardium occidentale
Lippia alba
Cymbopogon citratus
Copernicia prunifera
Alternantera dentata
Vachellia farnesiana
Cocos nucifera
Artemisia vulgaris
Eucalyptus globulus
Mentha x villosa
Commiphora leptophoeos
Himatanthus drasticus
(R50-R69)
FCI=0,35
Sintomas e sinais gerais
Convolvulus macrocarpus
Hymenaea courbaril
Caesalpinia ferrea
Citrus aurantium
Citrus limonum
Cannabis sativa
Rhizophora mangle
Laguncularia racemosa
Chenopodium
ambrosioides
Cleome spinosa
Copaifera langsdorffii
Dioclea grandiflora
Não identificada
132
(S00-T98)
FCI=0,75
Lesões, envenenamento e
algumas outras
consequências de causas
externas
Spermacoce verticillata
Mentha arvensis
Ximenia americana
Calothropis procera
Plectranthus amboinicus
Conocarpus erectus
Chenopodium
ambrosioides
Pachyra aquatica
Ximenia americana
Orbignia speciosa
Chenopodium
ambrosioides
Pachyra aquatica
febre
mal de criança
inflamação
inchaço
pancadas
inflamação
pancadas
cicatrizante, analgésico (dor)
cicatrizante ferida
desinflamação de feridas
pancadas
pancada (inchaço), arranhão,
corte, queimadura
133
Nota-se que apesar
de os pescadores
fazerem uso
de
medicamentos
industrializados, obtidos gratuitamente no posto do Programa de Saúde da Família (PSF)
da comunidade ou comprados em cidades próximas, os recursos da flora também se
mostram bastante utilizados por já fazerem parte da cultura local, bem como por serem de
fácil acesso.
Assim como o apresentado por Merétika et al. (2010), a maior parte das plantas
utilizadas está associada ao tratamento de doenças que afligem mais frequentemente as
pessoas da comunidade. Observa-se também que a utilização das plantas medicinais está
mais voltada ao tratamento de doenças consideradas mais corriqueiras assim como o
observado nos trabalhos de Freitas & Fernandes (2006) realizado na comunidade de
Enfarrusca/PA e Roman (2001) na Restinga da Princesa na Ilha de Algodoal/PA. Deste
modo, os sistemas corporais ou categorias de doenças que receberam maior número de
espécies foram: (R50-R69) com 29,53%, (K00-K93) com 19,46% e (J00-J99) com 9,39%.
O uso de plantas para tratamento de problemas respiratórios e digestivos também foram
evidenciados nos trabalhos de Santos et al. (2008), Amorozo & Gély (1988), Amorozo
(2002), Viu et al. (2007), Amorim (2010) e Sousa (2010) ao estudarem respectivamente
Monsenhor Gil/PI, Barcarena/PA, Santo António do Leverger/MT, Jataí/GO, Teresina/PI e
Ilha Grande e Barra Grande/PI. Plantas medicinais utilizadas para tratamento de distúrbios
digestivos e sintomas gerais com propriedades analgésicas e antiflamatórias também foram
as mais cotadas em estudo realizado por Rigat et al. (2007) em comunidades do vale do
rio Ter, na Catalunha/Península Ibérica.
Considerando o índice Fator de Consenso dos Informantes (FCI), as categorias que
apresentaram maior importância relativa local foram: (S00-T98), FCI=0,75, seguida de
(K00-K93), FCI=0,39; (R50-R69), FCI=0,35; (B95-B97), FCI=0,29; (J00-J99), FCI=0,28;
(N00-N99), FCI=0,18; (F40-F48) e (I00-I99) com FCI=0,11 (Figura 2). As demais
categorias obtiveram FCI=0,00. Os resultados se assemelham aos apresentados por Begossi
et al. (2002) onde as espécies mais referidas estavam associadas ao tratamento de sintomas
gerais como febre e dores, doenças respiratórias e distúrbios gastrointestinais. No caso da
comunidade Canárias, na categoria “sintomas gerais” prevaleceram os usos das
propriedades antinflamatória (40,74%), cicatrizante (14,81%), analgésica (14,81%) e
antitérmica (14,81%) das plantas.
Com base no Índice de Importância Relativa (IR) determinou-se a espécie mais
versátil da comunidade, Rhizophora mangle, que obteve o valor máximo de Importância
134
Relativa (IR=2,00), seguida por Pachyra aquatica (IR=1,75), Vernonia condensata
(IR=1,29), Mentha x villosa (IR=1,22), Cymbopogon citratus (IR=1,17) e Chenopodium
ambrosioides (IR=1,14).
As propriedades medicinais de representantes da família Rhizophoraceae também
foram registradas por Ravindran et al. (2005) ao realizarem estudo etnomedicinal de
manguezais e halófitas usadas pelos habitantes locais da vila Pichavaram na costa
leste de Tamil Nadu, Índia.
O conhecimento sobre as plantas medicinais da comunidade Canárias é adquirido
predominantemente no aprendizado com os antepassados (pais e avós), embora outros
veículos como televisão, internet, turismo, exerçam influência sobre o mesmo. Dados que
estão em conformidade com o observado por Albertasse et al. (2010) ao estudar o
conhecimento sobre plantas medicinais na comunidade Barra do Jucu/ES.
Por tratar-se de uma área protegida, é de suma importância conhecer o valor de uso
(VU) das espécies vegetais, bem como conhecer a forma como estas estão sendo utilizadas,
com o intuído de detectar possíveis pressões sobre aquelas com maior potencial de uso. É
preciso destacar o fato de que o uso excessivo de algumas espécies medicinais, como por
exemplo, o caso de plantas onde a parte utilizada é a raiz e cuja retirada pode levar a morte
da mesma, possivelmente levará a uma pressão sobre aquela espécie em especial. Deve-se
então, valorizar o conhecimento tradicional sobre uso medicinal de plantas, porém em
busca de uma conscientização neste uso para que estas possam estar sempre disponíveis.
Em suma, conhecer o potencial de espécies é indispensável no processo de conservação
local, como refere Alcorn (1995), quando afirma que as decisões políticas precisam de
informações sobre o valor dos recursos naturais e a forma como estes são utilizados.
CONCLUSÃO
A comunidade estudada conhece uma variedade de plantas com propriedades
medicinais, utilizando-as sobre diversas formas de manipulação para o tratamento de
diferentes enfermidades.
A maior parte das plantas medicinais conhecidas e utilizadas pelos pescadores é de
origem nativa. As espécies que tiveram maior número de citações foram Rhizophora
mangle, Vernonia condensata, Lippia alba e Cymbopogon citratus. As famílias mais
135
representativas
foram
Lamiaceae,
Leguminosae-Caesalpinioideae,
Anacardiaceae,
Arecaceae, Combretaceae e Myrtaceae.
De um modo geral os Valores de Uso (VU) não tiveram muita variação, sendo as
espécies Commiphora leptophoeos, Jatropha ribifolia, Cyperus esculentus e Rhizophora
mangle as que apresentaram os maiores valores. Algumas espécies mostraram mais de uma
utilidade, porém o conhecimento a respeito de seu uso não era do domínio de muitos
pescadores.
Os sistemas corporais com a maior concentração de espécies estão relacionados a
enfermidades mais corriqueiras como sintomas gerais (febre, inflamação, cicatrização,
etc.), transtornos gastrointestinais e transtornos respiratórios.
As espécies que obtiveram maior importância relativa (IR) e por consequência
sendo consideradas as plantas mais versáteis encontradas foram: Rhizophora mangle,
Pachyra aquatica, Vernonia condensata, Mentha x villosa, Cymbopogon citratus e
Chenopodium ambrosioides.
De um modo geral, o uso de diversas plantas para fins medicinais demonstra que
mesmo com a disponibilidade de medicamentos industrializados, os pescadores de
Canárias conhecem e fazem uso das propriedades curativas das plantas existentes na
comunidade.
Levando-se em consideração que o conhecimento sobre a flora local da
comunidade é fruto de uma íntima relação desta com os recursos naturais locais, é que se
sugere a proteção do mesmo bem como da cultura local uma vez que estes podem conter
informações de grande relevância no processo de conservação da área.
AGRADECIMENTO
Aos pescadores da comunidade Canárias, sem os quais não seria possível a realização desta
pesquisa e a todos que contribuíram para conclusão deste trabalho. Ao ICMBio e Colônia
de Pesca Z-7, pelas autorizações necessárias para o desenvolvimento da pesquisa.
136
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141
6. CONCLUSÕES GERAIS
Os dados adquiridos na presente pesquisa possibilitaram uma caracterização da
comunidade estudada para uma melhor compreensão de sua relação com a natureza onde a
mesma está inserida, principalmente no que tange ao conhecimento e uso dos recursos
biológicos.
Os pescadores conhecem e usam os recursos da flora e de fauna local, sendo que o
conhecimento e uso da fauna estão restritos a animais como aves, gado bovino/suíno e
ovino, e principalmente quanto aos recursos pesqueiros.
A atividade econômica principal é a pesca, porém há o desenvolvimento de outras
atividades complementares como a agricultura e a carpintaria, mas que se mostram menos
expressivas que a atividade pesqueira.
Foram citadas 108 espécies vegetais, pertencentes a 49 famílias botânicas. As
famílias que tiveram espécies com um maior número de citações foram: Euphorbiaceae,
Poaceae, Anacardiaceae, Lamiaceae e Solanaceae.
Os maiores Valores de Uso foram encontrados para as espécies Commiphora
leptophoeos e Jatropha ribifolia (VU=4,00), seguidas de Cyperus esculentus (VU=3) e
Rhizophora mangle (VU=2,05) que representaram as mais conhecidas e utilizadas pela
comunidade.
Os recursos naturais são utilizados para diversos fins: alimentares, medicinais, para
produção de artefatos, construção, etc. Das categorias de uso encontradas as mais cotadas
foram medicinal, seguida da alimentar e construção.
Na categoria construção destaca-se o uso das espécies vegetais do ecossistema
manguezal, mas que em sua maioria se destina apenas a obtenção de madeira para suprir as
necessidades essenciais como erguer moradias.
As plantas com propriedades medicinais são manipuladas de diversas formas e são
utilizadas para o tratamento de diferentes enfermidades, sendo a maior delas de origem
nativa.
Os sistemas corporais que obtiveram maior número de espécies são os relacionados
a enfermidades mais corriqueiras como sintomas gerais, transtornos gastrointestinais e
transtornos respiratórios.
142
O índice de importância relativa (IR) revelou as espécies mais versáteis da
comunidade, sendo elas: Rhizophora mangle, Pachyra aquática, Vernonia condensata,
Mentha x villosa, Cymbopogon citratus e Chenopodium ambrosioides.
Sobre o conhecimento acerca dos recursos naturais locais, nota-se que o mesmo
está distribuído regularmente entre os gêneros, porém, os homens conhecem mais sobre
plantas nativas, devido ao contato com a vegetação nos caminhos percorridos até os locais
de pesca e estão ligadas em sua maioria a espécies utilizadas para construção. As maiores
contribuições das mulheres foram relacionadas às espécies exóticas, e a maioria referiu
plantas ocorrentes em seus quintais ou próximas as suas moradias, relacionadas a categoria
medicinal.
O conhecimento encontra-se distribuído de forma irregular entre as faixas-etárias.
Compreende-se que o conhecimento não se apresenta homogêneo entre gêneros e faixas,
fato que pode estar ligado à divisão do trabalho dentro da comunidade. A faixa-etária
representada pelos jovens apresenta maior conhecimento quando comparada aos grupos
formados por adultos e idosos, e os idosos apresentam maior conhecimento se comparado
aos adultos. Os jovens e adultos se mostraram mais abertos as entrevistas e dispostos a se
deslocaram de suas casas para realização das turnês-guiadas. Os jovens estão tendo um
maior acesso as informações devido a facilidade informativa oriunda da tecnologia.
A eficiência do método turnê-guiada pode ser o motivo do conhecimento do grupo
dos jovens ter sido superior aos demais grupos, tendo, seu uso, influenciado diretamente no
número de espécies citadas por tal grupo.
A pesca desenvolvida na comunidade é artesanal e destina-se ao consumo e venda.
Os locais de pesca são o mar, a praia, o rio e as lagoas na ilha, sendo que a maior parte do
pescado local capturado na região da Barra das Canárias.
Os pescadores da comunidade conhecem e utilizam localmente diferentes
instrumentos e técnicas de pesca e dominam quais peixes são capturados por cada um
deles; os instrumentos de pesca utilizados são em sua maioria produzidos na própria
comunidade.
O conhecimento da atividade de confecção artesanal de barcos na comunidade não é
muito difundido, estando restrito a poucos indivíduos. Um dos artesãos entrevistados
demonstra interesse em ensinar o ofício, mas comenta certo desinteresse por parte dos
jovens pela atividade.
143
Os pescadores apresentam certo grau de consciência ambiental desde que suas
necessidade estejam supridas.
Uma vez que os pescadores da comunidade Canárias apresentam conhecimento
acerca da flora e fauna da região e se levando em conta o fato da área estudada pertencer a
uma área protegida (Resex), sugere-se que em todas as ações que envolvam a conservação
da biodiversidade local seja considerada a participação de seus membros, bem como que
seja respeitada a cultura tradicional que tem muito a contribuir na busca por relações
sustentáveis.
144
APÊNDICES
145
Apêndice A: Formulário de entrevista semiestruturada
I.
IDENTIFICAÇÃO
Entrevista Nº
Gravação Nº
Data da Entrevista:
Etnia:
Nome do Entrevistado:
Apelido:
Idade:
Ο Solteiro Ο Casado Ο Divorciado Ο Viúvo Ο Junto
Estado Civil:
Quantidade de filhos:
Endereço:
Ο AN
Ο ESI
Escolaridade:
Ο Canárias
Naturalidade
II.
Ο EF
Ο EM
Ο ESC
Ο PG
Tempo de Moradia
na Comunidade
(anos)
Ο Canárias
Ο Outro____________
DADOS SÓCIO-ECONÔMICOS
PROFISSIONAL
Profissão:
Renda mensal (R$):
Atividade secundária:
Renda secundária (R$):
Recebe benefícios do
governo?
Pesca há quanto tempo?
(Ligado à Pesca) Qual?
Quanto? (R$)
(NÃO ligado) Qual?
Quanto? (R$)
Participa de alguma associação
ou cooperativa?
Ο Sim
Ο Não
Qual?
Recolhe INSS?
Ο Sim
Ο Não
Quanto? (R$)
Satisfeito em ser pescador?
Ο Sim
Ο Não
Ο Sim
Ο Não
Porquê?
SANEAMENTO
Destino do lixo:
Ο Enterra Ο Deixa a céu aberto Ο Coleta Pública
Abastecimento de água:
Energia elétrica:
Ο Encanada
Ο Sim
Ο Poço
Ο Não
Ο Rio
Ο Queima
Ο Outros
Ο Outros
Fossa séptica:
Ο Sim Ο Não
Ο Banheiro de
palha
MORADIA
Cobertura da casa:
Ο Telha
Ο Palha
Paredes:
Ο Taipa
Ο Tijolo
Piso:
Ο Barro
Ο Cimento
Ο Outros
Ο Madeira
Ο Cerâmica
Ο Outros
Ο Outros
PLANTAÇÃO DE CULTURA
PERM.
Tipo:
Técnica de cultivo:
TEMP.
Tipo:
Técnica de cultivo:
Área de cultivo:
Destino da produção:
Ο Consumo Ο Venda
Área de cultivo:
Destino da produção:
Ο Consumo Ο Venda
146
ATIVIDADE PESQUEIRA
Período de Pesca:
Ο Manhã
Mses do ano mais
produtivos
Ο JAN
Ο JUL
Ο Tarde
Ο FEV
Ο AGO
Ο Noite
Ο MAR
Ο SET
Ο Madrugada Ο Depende da Maré
Ο ABR
Ο OUT
Ο MAI
Ο NOV
Ο JUN
Ο DEZ
Pesca no Período da
Piracema?
Influência da maré/lua sobre
quantidade de peixes?
Ο Sim
Ο Não
INSTRUMENTOS DE PESCA
Instrumento
Tipo de pescado:
Rio:
Técnica:
Ο Caçoeira
Mar:
Rio:
Ο Tarrafa
Mar:
Rio:
Ο Anzol
Mar:
Rio:
Ο Curral
Mar:
Rio:
Ο Outro
Mar:
__________
FREQUÊNCIA DE PEIXES
Mar
Peixes
mais comuns:
Rio
Peixes
Mar
147
mais raros:
Rio
Mar
Outros Pescados:
Rio
III.
Há produção
artesanal?
Ο Sim Ο Não
DADOS CULTURAIS
ARTESANATO
Qual matéria prima?
Origem da matéria-prima?
RELIGIÃO
Qual a sua religião?
Ο Católico
Ο Protestante
Ο Culto Afro
Participa com frequência das atividades religiosas?
Ο Outro
Ο Sim Ο Não
Ο Sim
Ο Não
Utiliza planta ou animal nos rituais?
Ο Ateu
Qual(is)?
FESTAS/FESTEJOS
Ο Nossa Senhora das Dores
Data:
Qual(is)?
Ο São João Batista
Ο Aniversário da Ilha das Canárias
Ο Outro
_________________________________________________
LENDAS
TIPOLOGIA DO QUINTAL
Uso Principal:
Outros usos:
Disposição das
( ) herbáceas ( ) Arbustivas
plantas:
Separa plantas por uso?
( ) Sim ( ) Não
(
) Arbóreas
Disposição dos animais:
O Quintal é organizado?
Plantas na frente da casa?
( ) Sim
(
) Não
( ) Sim
(
) Não
Dimensões (LxC):
148
RELAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE
Você acha importante cuidar das plantas e animais que representam o meio ambiente?
Porquê?
O que você entende por RESEX? Que mudanças ocorreram com a implantação da mesma?
Na sua opinião, na forma como as pessoas da sua comunidade vem tratando a natureza permitirá que seus filhos tenham
fartura de pescados?
Utiliza a Carnaúba?
Que parte?
Finalidade?
Ο Sim
Ο Não
Ο Madeira Ο Folhagem Ο Raiz Ο Outro__________ Ο___________
Utiliza Mangue?
Com que finalidade
Ο Sim
Ο Não
Ο Madeira Ο Folhagem Ο Raiz Ο Outro__________ Ο___________
Ο Vermelho
Ο Manso
Ο de Botão
149
IV. DADOS ETNOBIOLÓGICOS
FLORA
Planta
Uso
Parte usada
Modo de usar
Contra-indicação
Ainda
Utiliza?
150
FAUNA
Animal
Categorias de Uso
Parte usada
Modo de usar
Contra-indicação
Ainda
Utiliza?
151
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
K
L
Apêndice B: Aspectos socioeconômicos e culturais da Comunidade Canárias - A: Porto
dos Tatus (onde partem as embarcações com destino a Canárias); B: Embarcação para
transporte de pessoas; C: Pequeno porto em Canárias; D: Rua típica sem pavimentação; E:
Praça da comunidade; F: Templo Católico; G: Celebração de missa durante os festejos; H e
I: Comemoração do aniversário da comunidade e disputa de regatas; J: Reunião da
associação de pescadores locais; K e L: Produtos artesanais feitos por pescador.
152
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
K
Apêndice C: Aspectos socioeconômicos e culturais da Comunidade Canárias – A: Local
de desembarque do pescado (“praia”) na comunidade; B: Embarcação a vela; C:
Embarcação a motor de polpa (rabeta); D: Desembarque de pescado; E: Pescador tratando
pescado; F: Pescador após pescaria; G: Pesagem do pescado em balança improvisada; H:
Pescador selecionando os pescados após pescaria; I e J: Pescados- Manjuba (Anchoviella
lepidentostole Fowler, 1911) à esquerda e robalo (Centropomus undecimalis Bloch, 1792) a
direita; K: Aplicação de entrevista a um pescador.
153
A
B
C
D
E
F
G
H
K
I
J
L
M
N
Apêndice D: Técnicas e instrumentos de pesca utilizados e/ou fabricados na
comunidade Canárias - A: Anzol ou linha; B: Tarrafa; C: Caçoeira; D: Curral; E: Jiquí; F:
Groseira; G: Curralzinho; H: Pesca Batedeira; I: Barraca encontrada em quitais utilizadas
para armazenar instrumentos de pesca; J: Puçá; K: Lamdoá; L: Costura de falhas na malha
após pescaria; M e N: Pescadores confeccionando redes de pesca.
154
A
B
E
C
D
F
G
H
II
J
K
Apêndice E: Espécies mais citadas, com maior valor de uso e de importância na
Comunidade Canárias – A e B: Mangue Vermelho (Rhizophora mangle L.); C: Mangue
Manso (Laguncularia racemosa (L.) C.F. Gaertn.); D: Carnaúba (Copernicia prunifera (Mill.)
H.E. Moore); E: Mangue de Botão (Conocarpus erectus L.); F: Imburana de espinho
(Commiphora leptophoeos (Mart.) J.B. Gillett); G: Pião Branco (Cyperus articulatus L.); H:
Muricí-da-praia (Byrsonima crassifolia (L.) Munth); I: Boldo (Vernonia condensata Bamer);
J: Jatobá (Hymenaea courbaril L.); K: Capim Limão (Cymbopogon citratus (DC.)).
155
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
K
L
Apêndice F: Utilização de produtos da floresta pelos pescadores da Comunidade
Canárias – A, B e C: Madeira do mangue vermelho (Rhizophora mangle L.); Uso da
madeira do mangue vermelho em construções de casas (D, E, F e G) e portão (K);
Utilização da madeira da carnaúba para teto (H), talo para cerca (J), palha para cobertura
de construções (H) e para cobrir calçadas para fixar a terra fina do terreno arenoso da
região e amenizar a ação dos ventos fortes sobre ele (I); L: Cerca feita com madeira de
mangue manso (Laguncularia racemosa (L.) C.F. Gaertn.) e do cajueiro (Anacardium
occidentale L.).
156
A
B
D
E
F
G
C
H
Apêndice G: Construção naval artesanal por pescadores da Comunidade Canárias –
A, B e C: Locais de fabricação das embarcações; D: Madeira para produção da caverna
(base da canoa); E: Pescador e construtor naval; F: Ferramentas para produção de
embarcações; G: Entrevista com pescador e construtor naval; H: Embarcação concluída
utilizada na pesca e no transporte de pessoas;
157
ANEXOS
158
Anexo A – Normas para Publicação
REVISTA INTERCIÊNCIA
GUIA PARA AUTORES
Interciência é uma revista multidisciplinar cuja chave foco Agronomia e Florestas
Tropicais, Alimentação e Nutrição, Ciências e Ensino de Ciências da Terra, Ecologia e
Questões Ambientais, Estudo de Energia e Sociologia da Ciência, Política, Ciência e
recursos não-renováveis Saúde renováveis e Demografia, Terras Secas Transferência de
Tecnologia.
Interciência publica artigos, ensaios e comunicações originais, preferencialmente em áreas
prioritárias da revista, escrito em Espanhol, Inglês ou Português, desde que eles se
relacionam com o desenvolvimento regional e sua qualidade é certificada através de
revisão por pares pelos pares. Também ser publicado Cartas ao Editor, que abordará temas
de interesse ou comentando sobre o trabalho já publicados números.
O conteúdo das contribuições são da exclusiva responsabilidade dos autores e de nenhuma
maneira a revista ou a entidades que trabalham para os autores. Entende-se que o material
enviado para a Interciência não foi publicado ou enviado para outros órgãos em qualquer
tipo de mídia.
Artigos são de pesquisa original, experimental ou teórica, revisões de um tema prioritário
da revista, não publicados anteriormente e destinadas a um público educado, mas não
especializado, e sua extensão tem um máximo de 25 páginas. Isto deve incluir um resumo
de até uma página em espaço duplo (250 palavras) e um breve curriculum vitae de até 8
linhas de cada um dos autores.
Ensaios são melhor tratados em um tema prioritário da revista. Podem ter uma extensão de
até 25 páginas. Isto deve incluir um resumo e vitarum currículos dos autores, com
características semelhantes às dos artigos.
Comunicações são relatos de resultados de pesquisa original em qualquer campo da
ciência básica ou aplicada, destinada a um público especializado. Pode ser até 20 páginas e
escrito em Inglês, Espanhol ou Português, mas recomendamos o uso do antigo para
facilitar a divulgação dos resultados. Isto deve incluir um resumo de cerca de metade de
um litro (150 palavras). Em todos os casos, tanto o título do trabalho eo resumo deverão
ser enviados em três línguas da revista, se possível, e irá incluir até cinco palavras-
159
chave. Todas as páginas, tamanho carta, deve ser em espaço duplo, com fonte 11 ou 12, e
numeradas consecutivamente.
Tabelas e figuras: Devem ser numeradas em romano e árabe, respectivamente, ser legível,
concisa e clara, e enviados em folhas separadas. Os textos relevantes são incluídos no final
do trabalho.
Citações: As nomeações devem ser feitas no texto indicando o nome do primeiro autor
seguido do segundo autor ou por et al. se mais de dois autores, e ano de publicação. Por
exemplo: (Joe, 1992), Perez (1992), (Da Silva e Gonzalez, 1993) (Smith et al, 1994).
Referências serão listadas no final do artigo, em ordem alfabética e incluem autores (como
esta: Rojas ER, Davis B, Gomez JC), ano de publicação entre parênteses, título da obra ou
trabalho citado em itálico o nome e o volume publicação e páginas. Comunicações
pessoais serão somente texto, nenhuma outra indicação de que o nome completo do
comunicador. As notas ao texto, se houver, vai depois do trabalho, antes das referências.
Contribuição por página: Devido à alta produção custos Interciência pedido de
solicitação aos autores por meio de doações a sua investigação ou para as instituições onde
eles servem, uma contribuição por página publicada. Tal contribuição não prejudique de
alguma forma a aceitação e publicação do trabalho, que é dada pelos méritos dele. Em
casos de duração excessiva textos, figuras ou tabelas de tamanho excepcional ou
reproduções a cores, irá estabelecer um valor de pagamento.
Todos os artigos e avisos serão enviados para árbitros externos para a avaliação. Para
facilitar a arbitragem, os autores deverão enviar uma lista de seis árbitros potenciais com
seus endereços e, se possível, endereço de e-mail.
Os manuscritos devem ser preparados em Word for Windows e enviado para:
Interciência PO Box 51842, Caracas 1050-A, Venezuela e-mails ou e-mail:
[email protected] [email protected]; www.interciencia.org
160
Anexo B – Normas para Publicação
REVISTA BRASILEIRA
MEDICINAIS
DE
PLANTAS
INSTRUÇÕES AOS AUTORES
ISSN 1516-0572 versão impressa
ISSN 1983-084X versão on-line
Escopo e política
Trabalhos científicos originais, revisões bibliográficas e notas prévias, que deverão
ser inéditos e contemplar as grandes áreas relativas ao estudo de plantas medicinais, tais
como, Anatomia e Morfologia Vegetal; Bioensaios; Biotecnologia; Conservação de
Recursos Genéticos; Ecofisiologia; Etnobotânica; Etnofarmacologia; Farmacognosia;
Farmacologia; Fisiologia Vegetal; Fitoquímica; Fitotecnia; Fitoterapia, Tecnologia de
Alimentos e uso de plantas medicinais na Medicina Veterinária.
Os manuscritos são analisados por pelo menos dois pareceristas, segundo roteiro de
análise, baseado principalmente no conteúdo científico. Os pareceristas recomendarão a
aceitação, com ou sem necessidade de retornar; recusa ou sugerir reformulações, que neste
caso, o artigo reformulado retornará aos pareceristas para avaliação final. Quando no
mínimo 2 pareceristas aprovarem, sem necessidade de retornar, o artigo estará pronto para
ser publicado. Os nomes dos pareceristas permanecerão em sigilo, omitindo-se também
perante estes os nomes dos autores.
Manuscritos que envolvam ensaios clínicos deverão vir acompanhados de
autorização de Comissão de Ética constituída, para realização dos experimentos.
Observação: São de exclusiva responsabilidade dos autores as opiniões e conceitos
emitidos nos trabalhos. Contudo, reserva-se ao Conselho Editorial, o direito de sugerir ou
solicitar modificações que julgarem necessárias.
Forma e preparação de manuscritos
Ensaios clínicos
Os artigos podem ser redigidos em português, inglês ou espanhol, sendo sempre
obrigatória a apresentação do resumo em português e em inglês, independente do idioma
utilizado. Utilizar letra Arial 12, espaço duplo, margens de 2 cm, em Word for Windows.
161
Artigos muito extensos, fotografias e gráficos coloridos podem ser publicados, a critério do
Corpo Editorial, se o autor se comprometer, mediante entendimentos prévios, a cobrir parte
das despesas de publicação. No e-mail, enviar telefone para contatos mais urgentes.
REVISÕES BIBLIOGRÁFICAS E NOTAS PRÉVIAS
Revisões e Notas prévias deverão ser organizadas basicamente em: Título, Autores,
Resumo, Palavras-chave, Abstract, Key words, Texto, Agradecimento (se houver) e
Referência.
ARTIGO CIENTÍFICO
Os artigos deverão ser organizados em:
TÍTULO: Deverá ser claro e conciso, escrito apenas com a inicial maiúscula, negrito,
centralizado, na parte superior da página. Se houver subtítulo, deverá ser em seguida ao
título, em minúscula, podendo ser precedido de um número de ordem em algarismo
romano. Os nomes comuns das plantas medicinais devem ser seguidos pelo nome
científico entre parênteses, verificado em www.tropicos.org e www.ipni.org.
AUTORES: Começar pelo último sobrenome dos autores por extenso (nomes
intermediários somente iniciais, sem espaço entre elas) em letras maiúsculas, negrito e 2
linhas abaixo do título. Após o nome de cada autor deverá ser colocado um número
sobrescrito que deverá corresponder instituição e endereço (CEP: cidade-país). Indicar o
autor que deverá receber a correspondência, com e-mail. Os autores devem ser separados
com ponto e vírgula.
RESUMO: Deverá constar da mesma página onde estão o título e os autores, duas linhas
abaixo dos autores. O resumo deverá ser escrito em um único parágrafo, contendo objetivo,
resumo do material e método, principais resultados e conclusão. Não deverá apresentar
citação bibliográfica.
Palavras-chave: Deverão ser colocadas uma linha abaixo do resumo, na margem
esquerda, podendo constar até cinco palavras, separadas com vírgula.
162
ABSTRACT: Apresentar o título e resumo em inglês, no mesmo formato do redigido em
português, com exceção do título, em negrito, apenas com a inicial em maiúscula, que virá
após a palavra ABSTRACT.
Keywords: Abaixo do abstract deverão ser colocadas as palavras-chave em inglês,
podendo constar até cinco palavras, separadas com vírgula.
INTRODUÇÃO: Na introdução deverá constar breve revisão de literatura e os objetivos
do trabalho. As citações de autores no texto deverão ser feitas de acordo com os seguintes
exemplos: Silva (1996); Pereira & Antunes (1985); (Souza & Silva, 1986) ou quando
houver mais de dois autores Santos et al. (1996).
MATERIAL E MÉTODO: Deverá ser feita apresentação completa das técnicas originais
empregadas ou com referências de trabalhos anteriores que as descrevam. As análises
estatísticas deverão ser igualmente referenciadas. Na metodologia deverão constar os
seguintes dados da espécie estudada: nome científico com autor; nome do herbário onde a
excicata está depositada e o respectivo número (Voucher Number).
RESULTADO E DISCUSSÃO: Poderão ser apresentados separados ou como um só
capítulo, podendo conter no final conclusão sumarizada.
AGRADECIMENTO: deverá ser colocado neste capítulo (quando houver).
REFERÊNCIA: As referências devem seguir os exemplos:
Periódicos:
AUTOR(ES) separados por ponto e vírgula, sem espaço entre as iniciais. Título do
artigo. Nome da Revista, por extenso, volume, número, página inicial-página final, ano.
KAWAGISHI, H. et al. Fractionation and antitumor activity of the water-insoluble residue
of Agaricus blazei fruiting bodies. Carbohydrate Research, v.186, n.2, p.267-73, 1989.
Livros :
AUTOR. Título do livro. Edição. Local de publicação: Editora, Ano. Total de páginas.
MURRIA, R.D.H.; MÉNDEZ, J.; BROWN, S.A. The natural coumarins: occurrence,
chemistry and biochemistry. 3.ed. Chinchester: John Wiley & Sons, 1982. 702p
163
Capítulos de livros: AUTOR(ES) DO CAPÍTULO. Título do Capítulo. In: AUTOR (ES)
do LIVRO. Título do livro: subtítulo. Edição. Local de Publicação: Editora, ano, página
inicial-página final. HUFFAKER, R.C. Protein metabolism. In: STEWARD, F.C. (Ed.).
Plant physiology: a treatise. Orlando: Academic Press, 1983. p.267-33.
Tese ou Dissertação: AUTOR. Título em destaque: subtítulo. Ano. Total de páginas.
Categoria (grau e área de concentração) - Instituição, Universidade, Local.
OLIVEIRA, A.F.M. Caracterização de Acanthaceae medicinais conhecidas como
anador no nordeste do Brasil. 1995. 125p. Dissertação (Mestrado - Área de
Concentração em Botânica) - Departamento de Botânica, Universidade Federal de
Pernambuco, Recife.
Trabalho de Evento:
AUTOR(ES). Título do trabalho. In: Nome do evento em caixa alta, número, ano,
local. Tipo de publicação em destaque... Local: Editora, ano. Página inicial-página final.
VIEIRA, R.F.; MARTINS, M.V.M. Estudos etnobotânicos de espécies medicinais de uso
popular no Cerrado. In: INTERNATIONAL SAVANNA SYMPOSIUM, 3., 1996,
Brasília. Proceedings… Brasília: Embrapa, 1996. p.169-71.
Publicação Eletrônica:
AUTOR(ES). Título do artigo. Título do periódico em destaque, volume, número, página
inicial-página final, ano. Local: editora, ano. Páginas. Disponível em: <http:// www........>.
Acesso em: dia mês (abreviado) ano.
PEREIRA, R.S. et al. Atividade antibacteriana de óleos essenciais em cepas isoladas de
infecção urinária. Revista de Saúde Pública, v.38, n.2, p.326-8, 2004. Disponível em:
<http://www.scielo.br>. Acesso em: 18 abr. 2005.
Não citar resumos e relatórios de pesquisa a não ser que a informação seja muito
importante e não tenha sido publicada de outra forma. Comunicações pessoais devem ser
colocadas no rodapé da página onde aparecem no texto e evitadas se possível. Devem ser,
também, evitadas citações do tipo Almeida (1994) citado por Souza (1997).
TABELAS: Devem ser inseridas no texto, com letra do tipo Arial 10, espaço simples. A
palavra TABELA (Arial 12) deve ser em letras maiúsculas, seguidas por algarismo
164
arábico, quando citadas no texto devem ser em letras minúsculas (Tabela). O título da
Tabela em Arial 12 e os dados em Arial 10.
FIGURAS: As ilustrações (gráficas, fotográficas, desenhos, mapas) devem ser em letras
maiúsculas seguidas por algarismo arábico, Arial 12, inseridas no texto. Quando citadas no
texto devem ser em letras minúsculas (Figura). As legendas e eixos devem ser em Arial 10,
enviadas em arquivos separados, com resolução 300 DPI, 800 x 600, com extensão JPEG,
para impressão de publicação.
Envio de manuscritos
Os artigos devem ser enviados por e-mail: [email protected]
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