disfagia ps-acidente vascular

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DISFAGIA PÓS-ACIDENTE VASCULAR
CEREBRAL ISQUÊMICO UNILATERAL EM ADULTOS
ESTUDO DE CASO
Candirã Maraia Benvenuti
Liziane Mattos Pereira
Marielen Aparecida Revay
Alunas do Curso de Especialização em Motricidade Oral pelo Centro de
Especialização em Fonoaudiologia Clínica (CEFAC)
Rua Alfredo Mayer, 242 – Bairro Campo da Água Verde – Cep 89460-000 –
Canoinhas-SC Fone (047) 3622-3962/ 3622-4655 Fax (047) 3622-8915
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Orientação: Dra. Ana Paula Berberian V. da Silva
Instituição de Origem
Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica (CEFAC)
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Fone/Fax (011) 3675-1677 [email protected]
Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica
2
DISFAGIA PÓS-ACIDENTE VASCULAR
CERERAL ISQUÊMICO UNILATERAL EM ADULTOS
ESTUDO DE CASO
Especializandas: Candirã Maraia Benvenuti
Liziane Mattos Pereira
Marielen Aparecida Revay
Florianópolis
2005
3
Resumo:
Objetivo: descrever e analisar aspectos clínicos, diagnóstico e evolução de
um paciente Pós Acidente Vascular Cerebral Isquêmico Unilateral que recebeu
tratamento fonoterápico. Método: relato de caso – o paciente tinha 68 anos de
idade quando sofreu um desmaio e veio a ser atendido pelo pronto atendimento
do Hospital Marieta Conder Bornhausen em Itajaí – SC, onde recebeu
atendimento neurológico sendo diagnosticado Acidente Vascular Cerebral
Isquêmico no lado Direito do Cérebro. Evoluiu no Pós AVCI com disfagia
importante, sendo encaminhado para avaliação fonoaudiológica. O processo
terapêutico envolveu estratégias de reabilitação com manobras posturais,
manobras facilitadoras de compensação e manipulação do alimento real com
consistências e volumes diferentes, bem como orientações ao paciente e seus
familiares sobre as dificuldades com a alimentação e os cuidados a serem
tomados para se ter uma deglutição segura e eficaz. Foram realizados também
exercícios oromiofuncionais de sensibilidade e exercícios para facilitar a
aproximação das pregas vocais. Resultados e discussão: pôde-se observar que
um exame funcional complementar do distúrbio da deglutição, neste caso, a
nasofibroscopia, é fundamental para se descobrir qual a real dificuldade do
indivíduo em deglutir e verificar o comprometimento funcional no ato de deglutir.
Observou-se também que a disfagia nos casos de pacientes com seqüelas de
AVCI, a dificuldade do ato de engolir ocorre mais em fase oral e/ou faríngea.
Pôde-se observar a eficácia do trabalho de estimulação sensóriomotora, onde
primeiramente foi proporcionado ao paciente melhores condições de força,
4
mobilidade e sensibilidade, para então apresentar o alimento real. Assim, foram
realizadas manobras posturais associadas às manobras de compensação, como a
de cabeça virada para o lado comprometido e a deglutição supra glótica, as quais
proporcionaram ao paciente condições de deglutir sem engasgos. Outro fator
positivo que contribuiu para o processo de reabilitação foi a orientação e o
acompanhamento nutricional, o qual proporcionou ao paciente ganho de peso
para então poder sustentar o corpo e efetivar a intervenção reabilitadora.
Conclusões: nas desordens neurológicas do tipo AVCI, os quais possuem como
conseqüência disfagia, o diagnóstico preciso e diferencial através de exames e
uma avaliação multidisciplinar completa com Fonoaudiólogo, Neurologista,
Otorrinolaringologista e Nutricionista se destacam como prioridade para não haver
implicações e nem riscos de levar o paciente a óbito. O trabalho fonoaudiológico,
apesar de pouco conhecido nesta área de atuação, representa um importante
papel frente às dificuldades de deglutição, uma vez que é esse profissional quem
dará suporte técnico a todo o processo terapêutico, habilitando e reabilitando o
indivíduo e oferecendo-lhe uma melhor qualidade de vida. A intervenção
multidisciplinar permeando todo o processo terapêutico com trocas de informações
entre os profissionais envolvidos otimizará a evolução e resolução dos casos de
pacientes com disfagia pós AVCI.
DESCRITORES: Acidente Vascular Cerebral, Deglutição, Disfagia e
Fonoterapia.
5
Introdução:
A alimentação é algo vital a qualquer pessoa para o seu bem estar físico e
emocional. Qualquer alteração deste processo pode desencadear no indivíduo
sérios problemas. A disfagia é uma dessas alterações. Ela é caracterizada como
uma dificuldade na deglutição que pode impossibilitar o indivíduo a alimentar-se.
A fonoaudiologia tem seu papel importante no tratamento das disfagias,
possibilitando o indivíduo condições de alimentar-se de forma satisfatória,
deglutindo sem engasgos e aspirações. Dessa forma, esta pesquisa vem
descrever e analisar aspectos clínicos, diagnóstico e evolução de um paciente Pós
Acidente Vascular Cerebral Isquêmico Unilateral que recebeu tratamento
fonoterápico.
Para iniciarmos a análise sobre a disfagia neurogênica Pós-Acidente
Vascular Cerebral Isquêmico Unilateral, faz-se necessário falarmos um pouco
sobre a mesma e como acontece.
A expressão AVC (Acidente Vascular Cerebral) refere-se a um complexo de
sintomas de deficiência neurológica, durando pelo menos vinte e quatro horas e
resultantes de lesões cerebrais provocadas por alterações da irrigação
sanguínea1.
O Acidente Vascular Cerebral é também conhecido como Derrame ou
simplesmente AVC. É uma importante causa de morte na velhice e também uma
importante fonte de seqüelas. Pode ocorrer em qualquer idade, mas é muito
freqüente em pessoas com mais de 65 anos de idade. Em 80% dos casos são
6
isquêmicos, isto é, são devidos a súbita falta de sangue em determinada região do
cérebro, sem hemorragia 1.
Como conseqüência de AVC podemos encontrar a disfagia, que refere-se a
um distúrbio da deglutição o qual se não tratado pode trazer prejuízos graves ao
paciente.
Em sua normalidade o ato de engolir, sinônimo de deglutir, define-se como a
passagem do alimento da boca ao estômago, caracterizado pelas fases
preparatória, oral, faríngica e esofágica da deglutição, até a entrada do material no
estômago 2.
O trabalho fonoaudiológico deve estar intimamente interligado a atuação
junto aos distúrbios da deglutição, já que este profissional é quem irá desenvolver
e realizar orientações nutricionais individualizadas visando a correção dos hábitos
alimentares inadequados, bem como, realizará exercícios de acordo com a
necessidade de cada paciente, visando a melhora do estado nutricional e
conseqüente à melhora de sua qualidade de vida.
A função primordial da deglutição é permitir uma adequada nutrição e
hidratação ao indivíduo – aspectos indispensáveis à manutenção da vida 3.
A deglutição é uma função biológica, complexa e coordenada, pela qual
substâncias passam da cavidade oral para a faringe, laringe e por fim o estômago.
Seu objetivo, além da alimentação é de proteger as vias aéreas. Para deglutirmos
de forma segura necessitamos de uma coordenação precisa, sobretudo da fase
oral e faríngea.
No entanto, para que seu devido funcionamento ocorra de forma normal, e o
bolo alimentar não seja aspirado, faz-se necessário que aconteça um sincronismo
7
entre as ações dos músculos envolvidos no processo e sua conexão neurológica.
Tais músculos, situados na região orofaríngea, respondendo a esta conexão
neurológica, contraem e relaxam, dando início às fases da deglutição 4.
A deglutição é dividida em três fases: oral, faríngea e esofágica, sendo a fase
oral subdividida em preparatória oral e transporte oral 5.
A primeira etapa da fase oral, a preparatória oral, inicia-se com a
acomodação e organização do bolo alimentar sobre a língua. Nesta etapa é
essencial que haja integridade no controle neuromotor que programa e coordena
os movimentos intra-orais. A segunda etapa, o transporte oral, inicia-se assim que
o bolo alimentar estiver preparado, após o vedamento labial o bolo é propulsado
para região faríngea. Esta fase se dá de forma totalmente voluntária, onde além
do córtex cerebral, três pares de nervos cranianos responsáveis pelo
desenvolvimento da etapa preparatória e do transporte oral: o trigêmio (V), o facial
(VII) e o hipoglosso (XII) 6.
A fase faríngea inicia-se com o liciamento do reflexo de deglutição. O
esfíncter velofaríngeo se fecha neste momento, e o alimento é propulsionado pela
língua e direcionado para a faringe, sendo esta fase involuntária, porém
consciente. Com o início dessa passagem faríngea, são acionados os
mecanismos de proteção das vias aéreas inferiores: elevação de laringe e
coaptação das pregas vocais e ariepiglóticas direcionando o bolo para o esôfago.
Nesta fase ocorre a participação de três pares de nervos: glossofaríngeo (IX),
vago (X) e acessório (XI) 6.
8
Por fim, a fase esofágica, que é involuntária e inconsciente, inicia-se através
dos movimentos peristálticos reflexos, onde o bolo alimentar á conduzido do
esôfago para o estômago.
Observa-se, portanto que o processo de deglutição ocorre de forma
sincrônica e inter-relacionada, onde o desempenho da fase seguinte dependerá da
fase anterior, assim como da integridade muscular e do córtex cerebral. Qualquer
intercorrência neste processo poderá resultar no surgimento da disfagia
neurogênica, que nada mais é que uma desordem no ato de deglutir que tem
como causa uma doença ou trauma neurológico. Essas desordens neurológicas
podem afetar a ação muscular responsável pelo transporte do bolo alimentar da
boca ao estômago. Geralmente este tipo de disfagia apresenta alterações na fase
oral e/ou faríngea, raramente é em nível de estômago.
A presença de um pequeno desconforto a deglutição (como deglutir com
esforço) ou dificuldade de alimentação (como engasgos) irão afetar a habilidade
de o paciente consumir alimentos e, portanto, tem-se diminuída e prejudicada a
ingestão de nutrientes 7.
Desta forma, por se tratar de uma dificuldade de ingerir alimentos por via oral,
a disfagia pode comprometer gravemente a condição nutricional do indivíduo e
seu quadro clínico geral, debilitando-o e colocando sua saúde em risco, tendo
graves conseqüências, como a desidratação, desnutrição, pneumonia aspirativa e
até mesmo a mortalidade 8.
Por vezes a dificuldade de alimentar-se é o primeiro sinal da doença, que
pode não ter sido identificada. É importante saber que a instalação rápida dos
sintomas sugere Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou Trauma.
9
A disfagia decorrente de AVC é a principal causa de mobilidade relacionada
com complicações respiratórias e desnutrição. Estudos recentes tem indicado que
a disfagia é muito comum após AVC, especialmente durante os primeiros dias.
Após seis meses a maioria das dificuldades relacionadas com deglutição estão
resolvidas, mas cerca de 8% dos pacientes ainda mantém disfagia orofaríngea.
Os AVC’s se classificam em dois grandes grupos: AVC Isquêmico (chamado
de infarto cerebral) e o AVC hemorrágico (chamado de hemorragia cerebral).
“A interrupção aguda do Fluxo sanguíneo de alguma parte do cérebro
determina o que se chama de Isquemia Cerebral, que, se durar por um período de
tempo suficiente para provocar lesão no cérebro, leva ao Acidente Vascular
Cerebral (AVC)” 9.
Aparentemente, os grandes AVCs unilaterais causam disfagia, pela
interrupção da comunicação corticobulbar ipsilateral (cápsula interna) que liga o
centro de controle cortical da deglutição (na região frontal inferior), que coordena a
deglutição
10
. As lesões cerebrais no hemisfério direito parecem afetar mais a fase
faríngea da deglutição, enquanto as lesões do hemisfério esquerdo parecem
afetar mais a fase oral da deglutição. Quanto maior o comprometimento da fase
faríngea, em pacientes com lesão cerebral direita, maior o risco de aspiração 3.
A investigação clínica do paciente depois do AVC á fundamental, e o sinal de
disfonia, dificuldade de engolir saliva ou alimentos e estado de alerta diminuído
sugerem grande risco de aspiração e de complicações respiratórias. Uma
avaliação direta, por meio de nasofibroscopia ou vídeofluroscopia, deve ser
realizada para indicar se o paciente pode se alimentar por via oral, qual é a dieta
mais apropriada (líquido, líquido-pastoso, pastoso, semi-sólido, sólido) e mais
10
importante ainda, para estabelecer o procedimento terapêutico mais eficiente e
seguro.
Referindo-se mais especificamente á reabilitação e aos cuidados dos
pacientes com AVC, pode-se definir que a reabilitação é ensinar o paciente a
cuidar de sua própria vida a despeito das limitações decorrentes da lesão do
sistema nervoso central (SNC). A reabilitação não consiste somente na execução
de exercícios; o tratamento envolve a recuperação do controle do paciente assim
que possível 11, 12.
Sendo a deglutição um complexo processo, suas alterações envolvem várias
especialidades médicas e terapêuticas, entre elas a fonoaudiologia. Por isso o
trabalho interdisciplinar na atuação deste sintoma é de fundamental importância.
O tratamento fonoterápico em pacientes com disfagia neurogênica pós AVC
deve envolver: estimulação sensóriomotoras; terapia indireta e direta, onde a
primeira tem por objetivo melhorar as condições de força, mobilidade e
sensibilidade geral do paciente sem a apresentação do alimento, e a segunda com
os mesmos objetivos da anterior, porém envolvendo a apresentação do alimento
real; manobras posturais; manobras facilitadoras; monitoramento terapêutico e
exercícios para proporcionar a melhora dos achados clínicos da patologia em
questão 13.
11
Método:
Esta pesquisa baseia-se em um relato de caso de um paciente do sexo
masculino de 68 anos de idade, o qual teve histórico de desmaio em
conseqüência de um AVCI. O paciente foi avaliado pela fonoaudióloga ainda no
leito do Hospital Mariete Conder Bornhausen onde encontrava-se internado.
Para a avaliação a fonoaudióloga utilizou-se de um protocolo 14(anexo) sendo
preenchido conforme características apresentadas pelo paciente em relação aos
aspectos funcionais da deglutição.
Foram introduzidos alimentos de diferentes consistências e volumes,
juntamente à ausculta cervical.
Para confirmar as alterações na deglutição, utilizou-se um exame
complementar – nasofibroscopia – realizado no leito.
Após avaliação iniciou-se a fonoterapia com sessões diárias a fim de
promover uma melhora no paciente. Como estratégias de reabilitação, foi utilizado
manobras posturais; manobras facilitadoras de compensação; manipulação do
alimento real com consistências e volumes diferentes; exercícios oromiofuncionais
de sensibilidade e propriocepção; exercícios específicos de voz; bem como
orientações ao paciente e seus familiares sobre esclarecimentos da doença e os
cuidados com a deglutição.
12
Relato do Caso:
O paciente H. C. B. S. de 68 anos de idade, sexo masculino, aposentado do
exército, residente em Balneário Camboriú/ SC, em 01/06/2002, sofreu desmaio
em sua residência e foi encaminhado ao Hospital e maternidade Marieta Conder
Bornhausen na cidade de Itajaí/ SC, onde prontamente recebeu atendimento
neurológico sendo diagnosticado Acidente Vascular cerebral Isquêmico no lado
direito do Cérebro, que refere-se a uma lesão cerebral, seja esta induzida por
oclusão de um vaso ou redução da pressão de perfuração cerebral, seja esta
provocada por redução do débito cardíaco ou por hiper ou hipotensão arterial
grave e sustentada 15.
Evoluiu no pós Acidente Vascular Cerebral Isquêmico com disfagia
importante, apresentando pigarro constante, sendo então solicitada avaliação
fonoaudiológica.
A disfagia á um sintoma de uma doença de base que pode afetar qualquer
parte do sistema digestivo desde a boca até o estômago 16.
Avaliado pela fonoaudióloga em 04/06/2002, a qual observou ausência de
elevação do palato mole à esquerda, reflexo de tosse presente, porém ineficaz,
reflexo de vômito (GAG) presente, disfonia, alteração de elevação laríngea
obrigando o paciente a utilizar manobras de eliminação da secreção pela boca no
sentido de aliviar a sensação de corpo estranho na faringe.
Para melhor diagnosticar as dificuldades de deglutição apresentadas, o
paciente foi encaminhado para realização de nasofibroscopia, a qual foi realizada
no leito, pois, a avaliação funcional da deglutição pela nasofibroscopia pode ser
13
feita no leito, permite um diagnóstico mais precoce da deglutição e é essencial nos
casos em que o paciente não consegue controlar ou deglutir as próprias
secreções 17.
O exame demonstrou dificuldade em deglutir líquidos e sólidos, presença de
resíduos alimentares em valéculas, movimentação ineficaz à esquerda e
fechamento esfincteriano ineficiente.
Com o resultado iniciou-se o trabalho fonoterápico com sessões diárias.
Utilizando como estratégias de reabilitação manobras posturais, manobras
facilitadoras de compensação e manipulação do alimento real com consistências e
volumes diferentes, bem como orientações ao paciente e seus familiares sobre as
dificuldades com a alimentação e os cuidados a serem tomados para se ter uma
deglutição segura e eficaz.
As orientações aos familiares e responsáveis são de fundamental importância
para facilitar a reabilitação. O esclarecimento sobre a doença e suas
características principais, e o livre acesso dos familiares junto ao fonoaudiólogo
responsável auxiliam a terapia e diminuem a apreensão da família, frente à
doença instalada 18.
Para ajudar na reabilitação, foram realizadas manobras como a de cabeça
virada para o lado comprometido, aplicada devido a ser uma postura que faz com
que o bolo desça preferencialmente pelo lado melhor
19
; como também a
deglutição supra glótica, utilizada em pacientes com reduzido fechamento glótico,
atraso no disparo da deglutição ou voz molhada
19
. O paciente é orientado para
segurar a respiração antes de engolir, aduzindo assim as pregas vocais antes de
engolir 19. Deve então engolir e imediatamente após a deglutição tossir para limpar
14
a faringe, evitando assim a aspiração; tosse voluntária. Essa manobra é indicada
para pacientes que apresentam voz molhada por penetração laríngea de saliva
e/ou alimentos acima das pregas vocais 20; manobra de Mendelson que é indicada
na excursão laríngea e para pacientes que apresentam dificuldades na abertura
do esfíncter esofágico superior, pois o movimento de pinça que a laringe realiza no
momento da deglutição, de elevação e anteriorização, auxilia na melhor abertura
do esfíncter esofágico superior 20.
Foram trabalhados também exercícios oromiofuncionais de sensibilidade
(estimulação sensorial/ tátil-cinestésico), a fim de maximizar a propriocepção da
cavidade oral e orofaringe e promover maior controle do bolo alimentar, pois na
reintrodução de dieta em pacientes em início de terapia podem ser escolhidos
alimentos frios, gelo picado ou com sabores mais bem definidos para melhor
propriocepção do paciente 19.
Exercícios como deglutição sonorizada, ataque vocal brusco e técnica de
empuxo, também foram utilizados na tentativa de facilitar a aproximação da prega
vocal paralisada.
Após dois meses de terapia fonoaudiológica o paciente já estava deglutindo
quantidade significativa de alimento via oral.
O acompanhamento nutricional foi imprescindível para que o paciente
ganhasse peso, uma vez que encontrava-se com índice elevado de desnutrição.
Estudos recentes referem que se as necessidades dietéticas forem
abordadas imediatamente, poderá ser evitada a desnutrição depois do AVC. Os
pacientes com diminuição da consciência, disfagia, déficits de percepção ou
motores e depressão podem não conseguir comer ou beber o suficiente para as
15
necessidades diárias. Desnutrição e hidratação inadequada costumam predizer
resultados insatisfatórios da reabilitação 21.
Ao final do quinto mês de terapia fonoaudiológica, o paciente foi
encaminhado para a avaliação Otorrinolaringológica, onde observou-se a
hemilaringe esquerda, antes paralisada, com movimentos.
A dieta de alimentos por via oral direcionada as necessidades nutricionais do
paciente associados às manobras de facilitação da deglutição, demonstrou a
eficácia e a importância do profissional fonoaudiólogo neste meio de reabilitação.
16
Resultados e Discussão:
Ao realizar intervenção com paciente com disfagia pós AVCI, pôde-se
observar que um exame funcional complementar do distúrbio da deglutição, neste
caso, a nasofibroscopia, é fundamental para se descobrir qual a real dificuldade do
indivíduo em deglutir e verificar o comprometimento funcional no ato de deglutir.
Pôde-se observar também que a disfagia sendo uma alteração que pode
afetar o transporte do bolo alimentar em qualquer parte do tubo digestivo desde a
boca até o estômago, nos casos de pacientes com seqüelas de AVCI, a
dificuldade do ato de engolir ocorre mais na fase oral e/ou faríngea e raramente a
na fase esofágica.
No que diz respeito às estratégias utilizadas no tratamento de pacientes com
disfagia pós AVCI, pôde-se observar a eficácia do trabalho de estimulação
sensóriomotora, onde primeiramente foi proporcionado ao paciente melhores
condições de força, mobilidade e sensibilidade, para então apresentar o alimento
real. Assim, foram realizadas manobras posturais associadas às manobras de
compensação, como a de cabeça virada para o lado comprometido e a deglutição
supra glótica, as quais proporcionaram ao paciente condições de deglutir sem
engasgos.
Outro fator positivo que contribuiu para o processo de reabilitação foi a
orientação e o acompanhamento nutricional, o qual proporcionou ao paciente
ganho de peso para então poder sustentar o corpo e efetivar a intervenção
reabilitadora.
17
Conclusão:
Ao término da pesquisa pôde-se observar que:
-
Nas desordens neurológicas do tipo AVCI, os quais possuem como
conseqüência disfagia, o diagnóstico preciso e diferencial através de
exames e uma avaliação multidisciplinar completa com Fonoaudiólogo,
Neurologista, Otorrinolaringologista e Nutricionista se destacam como
prioridade para não haver implicações e nem riscos de levar o
paciente a óbito.
-
O trabalho fonoaudiológico, apesar de pouco conhecido nesta área de
atuação, representa um importante papel frente às dificuldades de
deglutição, uma vez que é esse profissional quem dará suporte técnico
a todo o processo terapêutico, habilitando e reabilitando o indivíduo e
oferecendo-lhe uma melhor qualidade de vida.
-
A intervenção multidisciplinar permeando todo o processo terapêutico
com trocas de informações entre os profissionais envolvidos otimizará
a evolução e resolução dos casos de pacientes com disfagia pós
AVCI.
18
Referências Bibliográficas:
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2ª ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian; 1999.
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Angelis E; Mourão LF; Kowalski LP. A atuação fonoaudiológica no
câncer de cabeça e pescoço. São Paulo: Louvise; 2000. p. 155-162.
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Gomes GF; Furkin AM. Manual de cuidados co paciente com disfagia.
São Paulo: Louvise; 2000. p. 17-27.
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Disfagias Orofaríngeas. Carapicuíba: Pró-Fono; 1999. p. 12-16.
5. Silva RG. Disfagias neurogênicas em adultos: uma resposta para avaliação
clínica. In:
Furkin AM, Santin CS. Disfagias Orofaríngeas. Carapicuíba:
Pró-Fono; 1999. p. 26-27.
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Fisiologia aplicado à fonoaudiologia. São Paulo: Robe; 2002. p. 372-386.
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alimentação em pacientes idosos em acompanhamento ambulatorial.
São Paulo, Distúrbios da Comunicação 2003; 14 (2): p. 211-235.
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Medicina, 1998, v. 1, p. 54-61.
19
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Disponível
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URL:http://www.sarah.br/paginas/doenças/pop/p_02_acidente_vasc_cereb.
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Manole; 1999.
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Acidente
Vascular
Cerebral.
1986.
Disponível
em:
URL:http://www.clientes.netvisão.pt/terapia/avc.htp
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14. Furkin AM. Disfagias Orofaríngeas. 1999
15. Nobre M. Acidente Vascular Cerebral (AVC); 2004. Disponível em:
URL:http://www.clientes.netvisão.pt/terapia/avc.htp
16. Dompel, 1986
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vídeodeglutograma em pacientes com acidente vascular cerebral. São
Paulo: Otorrinolaringoscopia. v. 69, n. 5: 2003.
18. Busch R, Fernandes AMF, Simões V. Disfagia neurogênica. In: Filho OL e
cols. Tratado de Fonoaudiologia. 2ª ed. Ribeirão Preto: Tecmedd, 2005.
p. 839-854.
20
19. Filho, EDM; Gomes GF; Furkin AM. Manual de cuidados co paciente com
disfagia. São Paulo: Louvise; 2000. p.29-31
20. Furkin AM e Silva RG. Programa de reabilitação em disfagia
neurogênica. 2ª ed. São Paulo: Frôntis; 2000. p.1-8.
21. Neves PP, Fontes SV, Fukujima MM, Matas SLA, Prado GF. Profissionais
da saúde, que assistem pacientes com Acidente Vascular Cerebral,
necessitam de informação especializada [periódicos on-line]. Revista
de
Neurociências
2004.
URL:http://www.neuropsiconews.com.br
12p.
Disponível
em:
21
Anexos:
22
Anexo 1
(protocolo)
Protocolo de Avaliação Fonoaudiológica
Avaliação Funcional da deglutição
Nome:
RH:
Data de Nascimento:
Idade:
Encaminhado por:
Examinador:
Data:
1. Dados relevantes de histórico e evolução:
2. Sintomas e estado atual:
3. Dados otorrinolaringológicos gerais:
• Presença de traqueostomia:
•
Cavidade Nasal:
permeabilidade:
adenóide:
( )N
( )S
23
tuba auditiva:
presença de SNG/SNE:
( )N
( )à esquerda
•
( )S
( )à direita
Cavidade oral e orofaringe:
-mucosa:
aspecto geral:
lesões - localização:
alterações de coloração:
outros:
-dentes e arcadas:
presença / ausência:
estado de conservação:
prótese (ajustes, pontos de atrito, desgaste):
evidências de ressecção:
outros:
-língua, pilares, amígdalas, palato duro:
24
lesões e evidências de ressecções - descrição e localização:
reconstrução - aspecto:
alterações de mobilidade:
outros:
-palato mole:
lesões e evidências de ressecções - descrição e localização:
mobilidade:
fechamento velofaríngeo durante a deglutição:
fechamento velofaríngeo durante a fonação:
4.
•
Funções:
Deglutição:
refluxo nasal:
( )S
evidências de aspiração:( )S
elevação de laringe:
( )N
( )durante ( )depois
( )presente
( )N
( )ausente
evidências de atraso no disparo da deglutição:( )S
( )N
deglutição incompleta:
( )N
( )S
25
deglutições múltiplas:
( )S
( )N
tentativa de manobras facilitadoras (S - sólido, P - pastoso, Llíquido)
inalterada
deglutição supraglótica
presente
ausente
( )
( )
( )
apoio + pausa respiratória induzida ( )
( )
( )
manobras posturais de cabeça:
para baixo
( )
( )
( )
para trás
( )
( )
( )
virada para direita
( )
( )
( )
virada para esquerda
( )
( )
( )
oclusão da traqueostoma
( )
( )
( )
empuxe
( )
( )
( )
apoio - cadeira
( )
( )
( )
tosse
( )
( )
( )
manobras de coaptacão glótica:
26
pigarro
( )
( )
( )
( )
( )
( )
( )
( )
( )
ataques vocais bruscos
( )
( )
( )
/ b: /
( )
( )
( )
vocal f
( )
( )
( )
pressão sobre a cartilagem
tireóide
deglutição incompleta + sonorização(?Bum?)
•
Fonação:
ação esfinctérica:
estruturas participantes:
grau de fechamento: ( )completo
( )incompleto
ação vibratória:
- manobras facilitadoras
inalterada
presente
ausente
vibração de lábios
( )
( )
( )
vibração de língua
( )
( )
( )
27
bumming / vogais nasais
( )
( )
( )
escala musical
( )
( )
( )
- evidências de elevação laríngea:
melhora da qualidade vocal depois destas manobras: ( )S
( )N
diminuição de resíduos após emissões facilitadoras:
( )N
( )S
qualidade vocal imediatamente após a deglutição>
( )úmida
( )inalterada
5. Outras observações:
6. Outros exames realizados:
7. Conduta:
8. Reavaliado em:
( )ruidosa
28
Anexo 2:
(Termo de Consentimento já enviado para o CEFAC).
29
Termo de Responsabilidade:
Nós, Candirã Maraia Benvenuti (RG 3.684.027 e CPF 457.215.212-87),
Liziane Mattos Pereira (RG 3.754.624 e CPF 030.170.309-46) e Marielen
Aparecida Revay (RG 3.169.260 e CPF 000.637.219-88), nos responsabilizamos
pelo conteúdo e autenticidade do trabalho intitulado como Disfagia Pós Acidente
Vascular Cerebral Isquêmico Unilateral em Adultos – Estudo de Caso e
declaramos que o referido artigo nunca foi publicado ou enviado para outra revista,
tendo a Revista CEFAC direito de exclusividade sobre a comercialização, edição e
publicação seja impresso ou on-line na Internet. Autorizamos os editores à
realizarem de forma adequada, preservando o conteúdo.
Florianópolis, 20 de julho de 2005.
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Candirã Maraia Benvenutti
Liziane Mattos Pereira
_________________________
Marielen Aparecida Revay
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