INSTITUTO HAHNEMANNIANO DO BRASIL Departamento de Ensino Curso de Pós-Graduação Lato sensu em Homeopatia Área de Concentração: Farmácia MONOGRAFIA Homeopatia e câncer: uma revisão da literatura MARINA DAS NEVES GOMES Rio de Janeiro 2011 INSTITUTO HAHNEMANNIANO DO BRASIL Departamento de Ensino Curso de Pós-Graduação Lato sensu em Homeopatia Área de Concentração: Farmácia Homeopatia e câncer: uma revisão da literatura MARINA DAS NEVES GOMES Sob a Orientação da: Profa. Dra. Carla Holandino Quaresma Monografia submetida como requisito parcial para obtenção do certificado de conclusão do curso de pós graduação lato sensu em Homeopatia – área de Farmácia. Rio de Janeiro Outubro, 2011 Gomes, Marina das Neves Homeopatia e câncer: uma revisão da literatura / Marina das Neves Gomes -- Rio de Janeiro: Instituto Hahnemanniano do Brasil, 2011. 18f.; il. Color; 30cm Orientadora: Marina das Neves Gomes 1. Homeopatia. 2. Câncer. 3. Terapia complementar. 4. Medicamento Homeopático I. Homeopatia e câncer: uma revisão da literatura. INSTITUTO HAHNEMANNIANO DO BRASIL Departamento de Ensino Curso de Pós-Graduação Lato sensu em Homeopatia Área de Concentração: Farmácia Homeopatia e câncer: uma revisão da literatura MARINA DAS NEVES GOMES MONOGRAFIA APROVADA EM -----/-----/------ _______________________________________________________________ Profa. Dra. Carla Holandino Quaresma, DSc (FF-UFRJ) Orientador _______________________________________________________________ Profa. Carmelinda Afonso MSc (IHB) Coordenador AGRADECIMENTOS À professora e amiga Dra. Carla Holandino pela competência com que orientou esta monografia, por ter me acompanhado e auxiliado em mais esta etapa de minha formação e pela dedicação ao transmitir os mais úteis ensinamentos não só homeopáticos, mas para a minha formação como profissional. Ao Instituto Hahnemanniano do Brasil e seus professores pelos ensinamentos. Agradeço aos meus pais, que sempre me apoiaram e me deram toda a base para que eu alcançasse meus objetivos, os quais amo muito e sou eternamente grata. Aos meus irmãos e cunhados, sempre presentes sendo meus amigos, meu suporte. À Dita por toda a ajuda e carinho. Aos amigos que fiz no Instituto, com os quais estudei e muito me diverti. RESUMO A Organização Mundial de Saúde indica que mortes por câncer estão aumentando, podendo atingir um número estimado de 12 milhões de mortes até 2030. No Brasil serão cerca de 480.000 novos casos até o final de 2011. Para o tratamento do câncer são usadas terapias convencionais, tais como a quimioterapia e a radioterapia que podem causar muitas reações adversas. Terapias complementares, como a homeopatia podem ser combinadas ao tratamento tradicional do câncer, com o objetivo de minimizar estas reações adversas, aliviando os sintomas da própria doença e do tratamento. Outras terapias complementares que podem auxiliar no tratamento do câncer são a eletroterapia, probióticos, acupuntura fitoterápicos, e eletroacupuntura, entre outras. A suplementos literatura nutricionais, mostra que os medicamentos homeopáticos podem ser prescritos usando a constituição física do paciente como uma estratégia para ajudar pacientes com câncer. Este trabalho tem como objetivo compilar a revisão da literatura feita com modelos in vitro e in vivo que descrevem os mecanismos de ação dos medicamentos homeopáticos usados para tratar diferentes tipos de câncer. Os resultados da pesquisa mostraram que a homeopatia pode ajudar o paciente na aceitação da doença, após o diagnóstico de câncer, que muitas vezes traz consigo o medo, a negação e uma série de distúrbios psicológicos que causam um desequilíbrio no organismo. Além disso, alguns trabalhos feitos in vitro e em modelos in vivo têm mostrado que os medicamentos homeopáticos podem modular o sistema imunológico, ativando macrófagos e induzindo a liberação de citocinas. Estes e outros efeitos podem ajudar o corpo a superar o câncer. O uso da homeopatia como tratamento complementar ao tratamento convencional do câncer tem resultados promissores e devem ser investigados. Palavras chave: Homeopatia; Câncer; Terapia Complementar, Medicamento Homeopático ABSTRACT The World Health Organization states that deaths from cancer are increasing reaching an estimated 12 million deaths by 2030. In Brazil will be about 480,000 new cases by the end of 2011. For the treatment of cancer conventional therapies are used, such as chemotherapy and radiotherapy which can cause many adverse reactions. Complementary therapies such as homeopathy can be combined to traditional cancer treatment with the aim of minimizing these adverse reactions, relieving the symptoms of the disease itself and its treatment. Other complementary therapies which can aid in cancer treatment are electrotherapy, acupuncture and electroacupuncture, nutritional supplements, probiotics, phytotherapy, among others. The literature shows the homeopathic medicines can be prescribed using the patient’s physical constitution as one strategy to help cancer patients. This work aims to compile the literature review done with in vitro and in vivo models describing the mechanisms of action of homeopathic medicines used to treat different kinds of cancer. The research findings showed that homeopathy can help the patient to come to terms with the disease, after cancer diagnosis which often brings with itself denial, fear and a host of psychological disorders that cause an unbalance in the body. In addition, some works done with in vitro and in vivo models have shown that homeopathic medicines can modulate the immune system, activating macrophages and inducing the release of cytokines. These and other effects may help the body to overcome the cancer. The use of homeopathic therapy as complementary to conventional cancer treatment has promising results and should be further investigated. Keywords: Homeopathy; Cancer; Complementary Therapies; Homeopathic Medicines. LISTA DE ABREVIATURAS INCA Instituto Nacional do Câncer WHO World Health Organization IHB Instituto Hahnemanniano do Brasil SUMÁRIO Página 1. Introdução 10 2. A Terapêutica homeopática e o câncer 12 3. Estudos in vivo e in vitro 13 4. Discussão 16 5. Referências 17 Introdução A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou dados estatísticos acerca da incidência de câncer, indicando que esta é uma das principais causas de morte no mundo, tendo sido responsável por 7,4 milhões (cerca de 13 % de todas as mortes) em 2004. Segundo a OMS, estas mortes continuarão crescendo, com estimativa de cerca de 12 milhões de óbitos para o ano de 2030 (WHO, 2011). Em contra-partida, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) apresentou como estimativa para o Brasil, a ocorrência de 489.270 casos novos de câncer ainda no ano de 2011 (INCA, 2010). O tratamento do câncer pode ser feito através de cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou transplante de medula óssea, sendo que em alguns casos torna-se necessária a combinação de mais de uma modalidade. A radioterapia é um tratamento no qual se utilizam radiações x e para destruir ou impedir que as células tumorais proliferem ou aumentem de tamanho (NIH, 2010). A quimioterapia utiliza medicamentos quimioterápicos antineoplásicos (FENG & CHIEN, 2003) e o transplante de medula óssea é utilizado para algumas doenças que afetam as células sanguíneas, consistindo na substituição de uma medula óssea doente por células normais desta, com o objetivo de reconstituir uma nova medula saudável (HJERMSTAD & KAASA, 1995). Outros tratamentos que podem ser usados no combate ao câncer são: os inibidores de angiogênese, onde se elimina o fornecimento de sangue aos tumores (RIBATTI, 2009); as terapias, como as biológicas e as genéticas (NIH, 2010); a hipertermia (TELLÓ et al., 2004); a terapia fotodinâmica (ALLISON & SIBATA, 2010); a eletroterapia (HOLANDINO et al., 2000, 2001, VEIGA et al., 2005, CAMPOS et al., 2010), entre outros tratamentos. Além desses, tem-se tratamentos complementares e alternativos que são um grupo diversificado de produtos e práticas médicas e de saúde que, se enquadram na chamada medicina integrativa. O tratamento complementar é usado em conjunto com a medicina convencional e o tratamento alternativo pode ser utilizado em substituição à prática convencional. Entre as terapias complementares podemos citar: a acupuntura e a eletroacupuntura; os suplementos nutricionais; os probióticos; a homeopatia; a fitoterapia, dentre outros (NCCAM, 2010). O uso de terapias complementares e alternativas é particularmente elevado entre os pacientes com doenças graves como câncer. As vendas de medicamentos homeopáticos nos EUA apresentaram significativo crescimento, com uma taxa anual de 10 20-25 % na década de 90 (BELLAVITE et al., 2005). Um estudo do ano de 2000 do National Center for Complementary and Alternative Medicine demonstrou que 69 % dos 453 pacientes com câncer tinham utilizado, pelo menos, uma destas duas terapias (RICHARDSON et al., 2000). Também foi verificada a prevalência do uso da terapia complementar por mulheres diagnosticadas com câncer de mama. Cerca de 58 % das pacientes deram como motivos escolhidos para o uso da medicina complementar a busca do alívio dos sintomas da doença ou do tratamento do câncer, sendo a homeopatia utilizada, entre todas as terapias complementares, em 6,2 % das mulheres desde que estas obtiveram o diagnóstico (REES et al., 2000). Da mesma forma, um estudo em 14 países europeus evidenciou que na Bélgica a homeopatia foi a terapia mais utilizada, ficando em quinto lugar em 6 outros países, com 6,1 % de pacientes usuários desde o recebimento do diagnóstico de câncer (MOLASSIOTIS et al., 2005). A terapia homeopática desenvolvida pelo médico alemão Cristiano Frederico Samuel Hahnemann visa estimular a capacidade do corpo à cura (PUSTIGLIONE, 2001). De acordo com a farmacologia homeopática, o medicamento homeopático induz uma ação primária no organismo, que tem sintomas semelhantes à doença. Esta ação primária induz uma resposta secundária, oriunda do corpo, que é contrária à ação principal e, portanto, ajuda no restabelecimento da saúde (FONTES, 2005). O estímulo primário é fornecido ao paciente através de doses muito pequenas de substâncias altamente diluídas e dinamizadas, que foram primeiramente experimentadas por indivíduos saudáveis. No Brasil, os medicamentos homeopáticos são manipulados de acordo com procedimentos de diluição, seguidos de agitação e ou trituração, em processo padronizado pela Farmacopéia Homeopática Brasileira (FHB, 2011). Através da diluição, os efeitos tóxicos são diminuídos enquanto a sucussão ou trituração, parecem modificar as propriedades físico-químicas dos ativos (REY, 2003; ELIA, NAPOLI & GERMANO, 2007). As alterações decorrentes da dinamização tornam ativas substâncias antes inertes garantindo a ação terapêutica de diferentes substâncias (FONTES, 2005). Este trabalho apresenta uma revisão não sistemática da literatura sobre a relação entre tratamento homeopático e câncer, destacando algumas perspectivas recentes sobre o assunto. Procurou-se identificar e descrever as bases experimentais, tanto in vitro, quanto in vivo levantadas por pesquisadores nas últimas décadas acerca da natureza da utilização de homeopatia no auxílio do tratamento de pacientes diagnosticados com câncer. Para tanto, usando as palavras chave “homeopatia” e “câncer”, foram pesquisadas, nas bases de dados PUBMED e Science Direct, as referências sobre o tema estudado. Os artigos utilizados correspondiam aos últimos 20 anos de pesquisa e preenchiam os requisitos definidos, ou seja, utilização de medicamentos homeopáticos para auxílio no tratamento do câncer. A Terapêutica homeopática e o câncer Na consulta homeopática o clínico realiza uma anamnese muito peculiar na qual o paciente é minuciosamente entrevistado. Na homeopatia, todos os sinais e sintomas específicos de cada paciente devem ser considerados na busca pelo medicamento mais similar (simillimum) ao conjunto de sinais e sintomas do paciente (FONTES, 2005). A terapêutica homeopática permite o tratamento de doenças agudas e crônicas, havendo relatos na literatura sobre o uso da homeopatia no controle do processo inflamatório (MACEDO et al., 2004; PEDALINO et al., 2004; DOS SANTOS et al., 2007), de alergias (TAYLOR et al., 2005); de problemas respiratórios e gripe (SCHEPPER, 2001; PERKO, 2005; GOOSSENS et al., 2009); leptospirose (BRACHO et al., 2009); doença de Chagas (ALMEIDA et al., 2008), dentre outros. Para o câncer, alguns medicamentos homeopáticos têm sido usados tanto na forma de complexos (GUIMARAES et al., 2010), quanto como medicamento único (SATO et al., 2005). A literatura mostra que esses medicamentos parecem ser capazes de reduzir os efeitos adversos da quimioterapia, tornando-os menos agressivos. O uso da homeopatia pode ajudar o paciente a ter melhor aceitação da doença após o diagnóstico médico, no qual, muitas vezes, o paciente passa por negação, medo e uma série de distúrbios psicológicos que causam um desequilíbrio no organismo. Além disso, alguns trabalhos encontrados na literatura têm demonstrado que os medicamentos homeopáticos modulam o sistema imune (DE OLIVEIRA et al., 2006, DE OLIVEIRA et al., 2008), ativam macrófagos e induzem a liberação de citocinas (CESAR et al., 2008, ABUD et al., 2006, DE OLIVEIRA et al., 2008). Estes e outros efeitos parecem fortalecer o corpo na luta contra o câncer (SALVAGO, 2010). Estudos in vivo e in vitro Os efeitos antitumorais dos medicamentos homeopáticos podem ser detectados em modelos animais e em culturas de células. Frenkel e colaboradores (2010) realizaram um estudo in vitro objetivando determinar se os medicamentos prescritos na clínica podem ter efeitos sobre linhagens celulares de câncer de mama (MCF-7 e MDAMB-231) e células de mama normais (HMLE). Os medicamentos testados foram: Carcinosinum 30 CH, Phytolacca 200 CH, Conium maculatum 3 CH e Thuja occidentalis 30 CH. Todas as substâncias foram diluídas em álcool 87 % e os efeitos do solvente nas culturas de células também foram avaliados. Os principais resultados deste estudo indicaram uma ação seletiva dos medicamentos em células tumorais, induzindo um atraso no processo de divisão celular e apoptose. Estes efeitos foram acompanhados por mudanças na expressão de proteínas reguladoras do ciclo celular, pela ativação da caspase-7, importante enzima envolvida com o processo apoptótico, dentre outras alterações celulares que se correlacionam com a inibição da divisão celular (FRENKEL et al., 2010). Outro estudo desenvolvido em camundongos BALB/C inoculados com as linhagens celulares PC-3 ou MD-AMB-231 permitiu conclusões interessantes (MACLAUGHLIN et al., 2006). Neste trabalho, os animais foram tratados com Sabal serrulata 200 CH, Thuja occidentalis 1000 K, Conium maculatum 1000 K, Sabal serrulata 200 CH e Carcinosinum1000 K, por um período de 7 dias. Como controle, os animais receberam água dinamizada na 200 CH. Os resultados indicaram que os tratamentos utilizados não afetaram o peso corporal e foram isentos de toxicidade. Adicionalmente, Sabal serrulata mostrou um efeito inibitório mais pronunciado sobre o crescimento do tumor de próstata, com crescimento significativamente menor, quando comparado aos animais que receberam o regime de medicamentos combinados ou foram isentos de tratamento. Animais tratados com água dinamizada apresentaram redução do crescimento do tumor, quando comparados ao controle. Nenhum efeito sobre o crescimento do câncer de mama foi observado (MACLAUGHLIN et al., 2006). Outro estudo recente realizado por Guimarães e colaboradores (2010) demonstrou os efeitos da ultradiluição em melanoma altamente agressivo inoculado em camundongos (GUIMARÃES et al., 2010). O complexo homeopático administrado sob forma inalatória mostrou um promissor potencial antitumoral, com diminuição significativa da capacidade metastática do tumor, devido à modulação da resposta imune dos animais. No primeiro estudo russo com homeopatia, realizado em 1990, foram examinados 37 pacientes com adenoma de próstata, onde o tratamento cirúrgico foi contraindicado devido a graves doenças associadas. Os pacientes foram tratados com homeopatia por 6 a 9 meses. Como resultados, 85 % dos pacientes com queixa de micção frequente à noite mostraram redução da noctúria e melhor fluxo de urina. Em 89 % dos pacientes com queixa de urgência miccional, esse sintoma desapareceu. Outras melhoras que ocorreram com a maioria dos pacientes foram redução de micção diurna, melhora subjetiva na função sexual, melhora do exame clínico da próstata, observada em 12 dos 19 pacientes. O número de doenças concomitantes também foi reduzido, como diabetes mellitus, hipertensão e doença isquêmica do coração (VOZIANOV & SIMEONOVA, 1990). Medicamentos homeopáticos prescritos com base na natureza física dos indivíduos podem desempenhar um papel útil no apoio e nos cuidados paliativos a pacientes com doenças malignas. Três casos de câncer, onde o tratamento homeopático foi utilizado foram descritos em 2004 por Rajendran. Um dos casos clínicos relatados era de um paciente do sexo masculino, com 64 anos, que se recusou a fazer a cirurgia após o diagnóstico de adenocarcinoma metastático do reto. Este paciente foi tratado com homeopatia durante 3 anos até sua morte, sem necessidade de hospitalização ou outras complicações. Não houve remissão do tumor, mas uma melhora significativa na qualidade de vida. Outro paciente, uma mulher, com 77 anos de idade, com câncer terminal do carcinoma de células da bochecha, previamente tratada com radioterapia, apresentou boa resposta aparente. No entanto, após o tratamento, não foi possível controlar o processo de ulceração, que é extremamente doloroso e refratário a analgésicos. Durante os últimos três meses de vida esta paciente foi tratada com homeopatia. Após a primeira dose, as dores foram eliminadas, a paciente voltou a se alimentar e a dormir bem. O terceiro estudo de caso relatado por este autor foi de um paciente do sexo masculino, com 70 anos de idade, com diagnóstico de carcinoma da laringe. Após cirurgia, radioterapia e quimioterapia, o paciente começou o tratamento homeopático para melhora dos problemas por ele relatados, tais como: sudorese, dor de garganta, sinusite frontal, eczema, fístula anal, hemorroidas e dor nos membros superiores. O paciente tornou-se assintomático após três anos de tratamento (RAJENDRAN, 2004). Uma paciente com diagnóstico de melanoma maligno recorrente, tratada no Glasgow Homoeopathic Hospital tinha reclamações de fadiga e ansiedade, apesar de utilizar o Diazepam (ansiolítico) e o Cipramil (antidepressivo). Após dois dias de tratamento homeopático teve melhoria significativa em seus sintomas. Em seis meses de tratamento a paciente descontinuou o uso de Cipramil e de Diazepam (TOMPHSON, 1999). No Serviço Ambulatorial do Instituto Hahnemanniano do Brasil foram analisados os prontuários de 60 pacientes durante 8 meses. Após anamnese foi escolhido o uso do Aveloz e de outro(s) medicamento(s) homeopático(s), de acordo com sintomas característicos. O Aveloz é uma planta da família Euphorbiaceae e de nome específico Euphorbia tirucalli L. O medicamento Aveloz foi empregado na forma líquida, na dinamização drenadora de 30 CH e na dinamização reguladora e curativa de 30 DH, cinco gotas uma a duas vezes ao dia por 30 dias concomitantemente ao tratamento convencional recomendado para cada caso específico (cirurgia, quimioterapia, radioterapia). Observou-se a completa regressão da doença em 16,6% dos casos; alívio total dos sintomas, com regressão parcial ou total da doença, em 15% dos casos; alívio parcial dos sintomas, com ou sem regressão da doença, em 46,6% dos casos; e em 10% dos casos não se observou qualquer resposta terapêutica. Houve piora do quadro clínico em 6,7%, enquanto foi observada uma taxa de 10% de óbitos (VARICCHIO et al., 2000). Um dos problemas no qual o uso de medicamentos homeopáticos pode ser útil é a complicação que pode ocorrer após uso da radiação ionizante da radioterapia, chamada de radiodermatite (lesões na pele do paciente). Convencionalmente, esta condição é tratada com anti-histamínicos e corticosteróides tópicos potentes, nem sempre com sucesso. Isto afeta a qualidade de vida do indivíduo com alteração da imagem corporal, autoestima, levando ao isolamento social. Em 2004, foi realizado um estudo com 25 pacientes que fizeram uso da radioterapia após cirurgia para câncer de mama e apresentaram radiodermatite. Estes pacientes foram consultados e foi feita a escolha do medicamento em dose única para a coceira provinda da radiodermatite, por repertorização. Após o uso do tratamento homeopático, obteve-se uma melhora em 85 % dos casos, porém apenas cerca da metade respondeu ao medicamento na primeira vez (SCHLAPPACK, 2004). O tratamento com quimioterapia e o uso de tamoxifeno (antineoplásico antiestrogênico não esteróide) para o câncer de mama pode levar a exacerbação dos sintomas relacionado à perda de estrogênio, resultando em sintomas como insônia, diminuição da libido, ganho de peso, cistite, secura vaginal e erupções na pele. Quarenta pacientes com sintomas de abstinência de estrogênio e com câncer de mama participaram de um estudo (THOMPSON & REILLY, 2003). Os sintomas mais freqüentes foram os fogachos, perturbação do humor, dor nas articulações e fadiga. A intervenção foi uma medicação homeopática individualizada. Houve melhorias significativas na ansiedade, depressão e qualidade de vida, sendo a abordagem homeopática clinicamente útil no tratamento de sintomas de abstinência de estrógeno em mulheres com câncer de mama com ou sem uso de tamoxifeno (THOMPSON & REILLY, 2003). Uma revisão do ano de 2006 teve como objetivo avaliar criticamente as evidências de ensaios clínicos para a eficácia de qualquer tipo de remédio homeopático no tratamento de diferentes tipos de câncer, como leucemia, câncer de mama e câncer nas células sanguíneas. Este estudo demonstra que pacientes com câncer parecem ter se beneficiado de medicamentos homeopáticos, especialmente para estomatite induzida por quimioterapia, radiodermatite e eventos adversos da radioterapia. Os sobreviventes do câncer de mama, que sofrem de sintomas da menopausa, experimentaram uma melhoria geral na qualidade de vida (MILAZZO et al., 2006). Conclusão Existem inúmeras formas de câncer, cada uma com suas características próprias que exigem cuidados adequados, assim, não se pode falar de um tratamento específico para todas as formas de câncer. Mas, o uso de medicamentos homeopáticos no auxílio ao tratamento de pacientes com câncer parece atenuar os problemas provindos da doença e de seu tratamento. A abordagem homeopática é baseada nos sintomas que mais afetam a vida do paciente. E o médico homeopata busca um motivo aparente para o aparecimento dos sintomas, buscando o medicamento correto para o paciente. A eficácia e a segurança dos medicamentos homeopáticos na terapia antitumoral merecem uma investigação mais aprofundada. A validação científica desses resultados trará ainda mais credibilidade a esta terapia, que em 2011 completa 215 anos. Os benefícios desta terapêutica estão previstos dentro da política de Práticas Integrativas e Complementares do Ministério da Saúde no Brasil, podendo ser muito útil para pacientes com diversas patologias, dentre estas o câncer. Referências ABUD, A. P. R., CESAR, B., CAVAZZANI, L. F. M., DE OLIVEIRA, C. C., GABARDO, J., BUCHI, D. F. Activation of bone marrow cells treated with Canova in vitro. Cell Biology International, v. 10, p. 808-816, 2006. ALLISON, R. R., SIBATA, C. H. Oncologic photodynamic therapy photosensitizers: A clinical review. 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