Homeopatia e câncer: uma revisão da literatura

Propaganda
INSTITUTO HAHNEMANNIANO DO BRASIL
Departamento de Ensino
Curso de Pós-Graduação Lato sensu em Homeopatia
Área de Concentração: Farmácia
MONOGRAFIA
Homeopatia e câncer:
uma revisão da literatura
MARINA DAS NEVES GOMES
Rio de Janeiro
2011
INSTITUTO HAHNEMANNIANO DO BRASIL
Departamento de Ensino
Curso de Pós-Graduação Lato sensu em Homeopatia
Área de Concentração: Farmácia
Homeopatia e câncer: uma revisão da literatura
MARINA DAS NEVES GOMES
Sob a Orientação da:
Profa. Dra. Carla Holandino Quaresma
Monografia submetida como requisito
parcial para obtenção do certificado de
conclusão do curso de pós graduação
lato sensu em Homeopatia – área de
Farmácia.
Rio de Janeiro
Outubro, 2011
Gomes, Marina das Neves
Homeopatia e câncer: uma revisão da literatura / Marina das
Neves Gomes -- Rio de Janeiro: Instituto Hahnemanniano do
Brasil, 2011.
18f.; il. Color; 30cm
Orientadora: Marina das Neves Gomes
1. Homeopatia. 2. Câncer. 3. Terapia complementar. 4.
Medicamento Homeopático
I.
Homeopatia e câncer: uma revisão da literatura.
INSTITUTO HAHNEMANNIANO DO BRASIL
Departamento de Ensino
Curso de Pós-Graduação Lato sensu em Homeopatia
Área de Concentração: Farmácia
Homeopatia e câncer: uma revisão da literatura
MARINA DAS NEVES GOMES
MONOGRAFIA APROVADA EM -----/-----/------
_______________________________________________________________
Profa. Dra. Carla Holandino Quaresma, DSc (FF-UFRJ)
Orientador
_______________________________________________________________
Profa. Carmelinda Afonso MSc (IHB)
Coordenador
AGRADECIMENTOS
À professora e amiga Dra. Carla Holandino pela competência com que
orientou esta monografia, por ter me acompanhado e auxiliado em mais esta
etapa de minha formação e pela dedicação ao transmitir os mais úteis
ensinamentos não só homeopáticos, mas para a minha formação como
profissional.
Ao Instituto Hahnemanniano do Brasil e seus professores pelos
ensinamentos.
Agradeço aos meus pais, que sempre me apoiaram e me deram toda a
base para que eu alcançasse meus objetivos, os quais amo muito e sou
eternamente grata.
Aos meus irmãos e cunhados, sempre presentes sendo meus amigos,
meu suporte.
À Dita por toda a ajuda e carinho.
Aos amigos que fiz no Instituto, com os quais estudei e muito me diverti.
RESUMO
A Organização Mundial de Saúde indica que mortes por câncer estão
aumentando, podendo atingir um número estimado de 12 milhões de mortes
até 2030. No Brasil serão cerca de 480.000 novos casos até o final de 2011.
Para o tratamento do câncer são usadas terapias convencionais, tais como a
quimioterapia e a radioterapia que podem causar muitas reações adversas.
Terapias complementares, como a homeopatia podem ser combinadas ao
tratamento tradicional do câncer, com o objetivo de minimizar estas reações
adversas, aliviando os sintomas da própria doença e do tratamento. Outras
terapias complementares que podem auxiliar no tratamento do câncer são a
eletroterapia,
probióticos,
acupuntura
fitoterápicos,
e
eletroacupuntura,
entre
outras.
A
suplementos
literatura
nutricionais,
mostra
que
os
medicamentos homeopáticos podem ser prescritos usando a constituição física
do paciente como uma estratégia para ajudar pacientes com câncer. Este
trabalho tem como objetivo compilar a revisão da literatura feita com modelos in
vitro e in vivo que descrevem os mecanismos de ação dos medicamentos
homeopáticos usados para tratar diferentes tipos de câncer. Os resultados da
pesquisa mostraram que a homeopatia pode ajudar o paciente na aceitação da
doença, após o diagnóstico de câncer, que muitas vezes traz consigo o medo,
a negação e uma série de distúrbios psicológicos que causam um desequilíbrio
no organismo. Além disso, alguns trabalhos feitos in vitro e em modelos in vivo
têm mostrado que os medicamentos homeopáticos podem modular o sistema
imunológico, ativando macrófagos e induzindo a liberação de citocinas. Estes e
outros efeitos podem ajudar o corpo a superar o câncer. O uso da homeopatia
como tratamento complementar ao tratamento convencional do câncer tem
resultados promissores e devem ser investigados.
Palavras chave: Homeopatia; Câncer; Terapia Complementar, Medicamento
Homeopático
ABSTRACT
The World Health Organization states that deaths from cancer are increasing
reaching an estimated 12 million deaths by 2030. In Brazil will be about 480,000
new cases by the end of 2011. For the treatment of cancer conventional
therapies are used, such as chemotherapy and radiotherapy which can cause
many adverse reactions. Complementary therapies such as homeopathy can be
combined to traditional cancer treatment with the aim of minimizing these
adverse reactions, relieving the symptoms of the disease itself and its
treatment. Other complementary therapies which can aid in cancer treatment
are
electrotherapy,
acupuncture
and
electroacupuncture,
nutritional
supplements, probiotics, phytotherapy, among others. The literature shows the
homeopathic medicines can be prescribed using the patient’s physical
constitution as one strategy to help cancer patients. This work aims to compile
the literature review done with in vitro and in vivo models describing the
mechanisms of action of homeopathic medicines used to treat different kinds of
cancer. The research findings showed that homeopathy can help the patient to
come to terms with the disease, after cancer diagnosis which often brings with
itself denial, fear and a host of psychological disorders that cause an unbalance
in the body. In addition, some works done with in vitro and in vivo models have
shown that homeopathic medicines can modulate the immune system,
activating macrophages and inducing the release of cytokines. These and other
effects may help the body to overcome the cancer. The use of homeopathic
therapy as complementary to conventional cancer treatment has promising
results and should be further investigated.
Keywords: Homeopathy; Cancer; Complementary Therapies; Homeopathic
Medicines.
LISTA DE ABREVIATURAS
INCA
Instituto Nacional do Câncer
WHO
World Health Organization
IHB
Instituto Hahnemanniano do Brasil
SUMÁRIO
Página
1. Introdução
10
2. A Terapêutica homeopática e o câncer
12
3. Estudos in vivo e in vitro
13
4. Discussão
16
5. Referências
17
Introdução
A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou dados estatísticos acerca da
incidência de câncer, indicando que esta é uma das principais causas de morte no
mundo, tendo sido responsável por 7,4 milhões (cerca de 13 % de todas as mortes) em
2004. Segundo a OMS, estas mortes continuarão crescendo, com estimativa de cerca de
12 milhões de óbitos para o ano de 2030 (WHO, 2011). Em contra-partida, o Instituto
Nacional do Câncer (INCA) apresentou como estimativa para o Brasil, a ocorrência de
489.270 casos novos de câncer ainda no ano de 2011 (INCA, 2010).
O tratamento do câncer pode ser feito através de cirurgia, radioterapia,
quimioterapia ou transplante de medula óssea, sendo que em alguns casos torna-se
necessária a combinação de mais de uma modalidade. A radioterapia é um tratamento
no qual se utilizam radiações x e  para destruir ou impedir que as células tumorais
proliferem ou aumentem de tamanho (NIH, 2010). A quimioterapia utiliza
medicamentos quimioterápicos antineoplásicos (FENG & CHIEN, 2003) e o transplante
de medula óssea é utilizado para algumas doenças que afetam as células sanguíneas,
consistindo na substituição de uma medula óssea doente por células normais desta, com
o objetivo de reconstituir uma nova medula saudável (HJERMSTAD & KAASA, 1995).
Outros tratamentos que podem ser usados no combate ao câncer são: os
inibidores de angiogênese, onde se elimina o fornecimento de sangue aos tumores
(RIBATTI, 2009); as terapias, como as biológicas e as genéticas (NIH, 2010); a
hipertermia (TELLÓ et al., 2004); a terapia fotodinâmica (ALLISON & SIBATA,
2010); a eletroterapia (HOLANDINO et al., 2000, 2001, VEIGA et al., 2005, CAMPOS
et al., 2010), entre outros tratamentos.
Além desses, tem-se tratamentos complementares e alternativos que são um
grupo diversificado de produtos e práticas médicas e de saúde que, se enquadram na
chamada medicina integrativa. O tratamento complementar é usado em conjunto com a
medicina convencional e o tratamento alternativo pode ser utilizado em substituição à
prática convencional. Entre as terapias complementares podemos citar: a acupuntura e a
eletroacupuntura; os suplementos nutricionais; os probióticos; a homeopatia; a
fitoterapia, dentre outros (NCCAM, 2010).
O uso de terapias complementares e alternativas é particularmente elevado entre
os pacientes com doenças graves como câncer. As vendas
de medicamentos
homeopáticos nos EUA apresentaram significativo crescimento, com uma taxa anual de
10
20-25 % na década de 90 (BELLAVITE et al., 2005). Um estudo do ano de 2000 do
National Center for Complementary and Alternative Medicine demonstrou que 69 %
dos 453 pacientes com câncer tinham utilizado, pelo menos, uma destas duas terapias
(RICHARDSON et al., 2000). Também foi verificada a prevalência do uso da terapia
complementar por mulheres diagnosticadas com câncer de mama. Cerca de 58 % das
pacientes deram como motivos escolhidos para o uso da medicina complementar a
busca do alívio dos sintomas da doença ou do tratamento do câncer, sendo a homeopatia
utilizada, entre todas as terapias complementares, em 6,2 % das mulheres desde que
estas obtiveram o diagnóstico (REES et al., 2000). Da mesma forma, um estudo em 14
países europeus evidenciou que na Bélgica a homeopatia foi a terapia mais utilizada,
ficando em quinto lugar em 6 outros países, com 6,1 % de pacientes usuários desde o
recebimento do diagnóstico de câncer (MOLASSIOTIS et al., 2005).
A terapia homeopática desenvolvida pelo médico alemão Cristiano Frederico
Samuel Hahnemann visa estimular a capacidade do corpo à cura (PUSTIGLIONE,
2001). De acordo com a farmacologia homeopática, o medicamento homeopático induz
uma ação primária no organismo, que tem sintomas semelhantes à doença. Esta ação
primária induz uma resposta secundária, oriunda do corpo, que é contrária à ação
principal e, portanto, ajuda no restabelecimento da saúde (FONTES, 2005). O estímulo
primário é fornecido ao paciente através de doses muito pequenas de substâncias
altamente diluídas e dinamizadas, que foram primeiramente experimentadas por
indivíduos saudáveis.
No Brasil, os medicamentos homeopáticos são manipulados de acordo com
procedimentos de diluição, seguidos de agitação e ou trituração, em processo
padronizado pela Farmacopéia Homeopática Brasileira (FHB, 2011). Através da
diluição, os efeitos tóxicos são diminuídos enquanto a sucussão ou trituração, parecem
modificar as propriedades físico-químicas dos ativos (REY, 2003; ELIA, NAPOLI &
GERMANO, 2007). As alterações decorrentes da dinamização tornam ativas
substâncias antes inertes garantindo a ação terapêutica de diferentes substâncias
(FONTES, 2005).
Este trabalho apresenta uma revisão não sistemática da literatura sobre a relação
entre tratamento homeopático e câncer, destacando algumas perspectivas recentes sobre
o assunto. Procurou-se identificar e descrever as bases experimentais, tanto in vitro,
quanto in vivo levantadas por pesquisadores nas últimas décadas acerca da natureza da
utilização de homeopatia no auxílio do tratamento de pacientes diagnosticados com
câncer. Para tanto, usando as palavras chave “homeopatia” e “câncer”, foram
pesquisadas, nas bases de dados PUBMED e Science Direct, as referências sobre o tema
estudado. Os artigos utilizados correspondiam aos últimos 20 anos de pesquisa e
preenchiam os requisitos definidos, ou seja, utilização de medicamentos homeopáticos
para auxílio no tratamento do câncer.
A Terapêutica homeopática e o câncer
Na consulta homeopática o clínico realiza uma anamnese muito peculiar na qual
o paciente é minuciosamente entrevistado. Na homeopatia, todos os sinais e sintomas
específicos de cada paciente devem ser considerados na busca pelo medicamento mais
similar (simillimum) ao conjunto de sinais e sintomas do paciente (FONTES, 2005). A
terapêutica homeopática permite o tratamento de doenças agudas e crônicas, havendo
relatos na literatura sobre o uso da homeopatia no controle do processo inflamatório
(MACEDO et al., 2004; PEDALINO et al., 2004; DOS SANTOS et al., 2007), de
alergias (TAYLOR et al., 2005); de problemas respiratórios e gripe (SCHEPPER, 2001;
PERKO, 2005; GOOSSENS et al., 2009); leptospirose (BRACHO et al., 2009); doença
de Chagas (ALMEIDA et al., 2008), dentre outros.
Para o câncer, alguns medicamentos homeopáticos têm sido usados tanto na
forma de complexos (GUIMARAES et al., 2010), quanto como medicamento único
(SATO et al., 2005). A literatura mostra que esses medicamentos parecem ser capazes
de reduzir os efeitos adversos da quimioterapia, tornando-os menos agressivos.
O uso da homeopatia pode ajudar o paciente a ter melhor aceitação da
doença após o diagnóstico médico, no qual, muitas vezes, o paciente passa
por negação, medo e
uma
série
de distúrbios
psicológicos que
causam um
desequilíbrio no organismo. Além disso, alguns trabalhos encontrados na literatura têm
demonstrado que os medicamentos homeopáticos modulam o sistema imune (DE
OLIVEIRA et al., 2006, DE OLIVEIRA et al., 2008), ativam macrófagos e induzem a
liberação de citocinas (CESAR et al., 2008, ABUD et al., 2006, DE OLIVEIRA et al.,
2008). Estes e outros efeitos parecem fortalecer o corpo na luta contra o câncer
(SALVAGO, 2010).
Estudos in vivo e in vitro
Os efeitos antitumorais dos medicamentos homeopáticos podem ser detectados
em modelos animais e em culturas de células. Frenkel e colaboradores (2010)
realizaram um estudo in vitro objetivando determinar se os medicamentos prescritos na
clínica podem ter efeitos sobre linhagens celulares de câncer de mama (MCF-7 e MDAMB-231) e células de mama normais (HMLE). Os medicamentos testados foram:
Carcinosinum 30 CH, Phytolacca 200 CH, Conium maculatum 3 CH e Thuja
occidentalis 30 CH. Todas as substâncias foram diluídas em álcool 87 % e os efeitos do
solvente nas culturas de células também foram avaliados. Os principais resultados deste
estudo indicaram uma ação seletiva dos medicamentos em células tumorais, induzindo
um atraso no processo de divisão celular e apoptose. Estes efeitos foram acompanhados
por mudanças na expressão de proteínas reguladoras do ciclo celular, pela ativação da
caspase-7, importante enzima envolvida com o processo apoptótico, dentre outras
alterações celulares que se correlacionam com a inibição da divisão celular (FRENKEL
et al., 2010).
Outro estudo desenvolvido em camundongos BALB/C inoculados com as
linhagens celulares PC-3 ou MD-AMB-231 permitiu conclusões interessantes
(MACLAUGHLIN et al., 2006). Neste trabalho, os animais foram tratados com Sabal
serrulata 200 CH, Thuja occidentalis 1000 K, Conium maculatum 1000 K, Sabal
serrulata 200 CH e Carcinosinum1000 K, por um período de 7 dias. Como controle, os
animais receberam água dinamizada na 200 CH. Os resultados indicaram que os
tratamentos utilizados não afetaram o peso corporal e foram isentos de toxicidade.
Adicionalmente, Sabal serrulata mostrou um efeito inibitório mais pronunciado sobre o
crescimento do tumor de próstata, com crescimento significativamente menor, quando
comparado aos animais que receberam o regime de medicamentos combinados ou
foram isentos de tratamento. Animais tratados com água dinamizada apresentaram
redução do crescimento do tumor, quando comparados ao controle. Nenhum efeito
sobre o crescimento do câncer de mama foi observado (MACLAUGHLIN et al., 2006).
Outro estudo recente realizado por Guimarães e colaboradores (2010)
demonstrou os efeitos da ultradiluição em melanoma altamente agressivo inoculado em
camundongos (GUIMARÃES et al., 2010). O complexo homeopático administrado sob
forma inalatória mostrou um promissor potencial antitumoral, com diminuição
significativa da capacidade metastática do tumor, devido à modulação da resposta
imune dos animais.
No primeiro estudo russo com homeopatia, realizado em 1990, foram
examinados 37 pacientes com adenoma de próstata, onde o tratamento cirúrgico foi
contraindicado devido a graves doenças associadas. Os pacientes foram tratados com
homeopatia por 6 a 9 meses. Como resultados, 85 % dos pacientes com queixa de
micção frequente à noite mostraram redução da noctúria e melhor fluxo de urina. Em 89
% dos pacientes com queixa de urgência miccional, esse sintoma desapareceu. Outras
melhoras que ocorreram com a maioria dos pacientes foram redução de micção diurna,
melhora subjetiva na função sexual, melhora do exame clínico da próstata, observada
em 12 dos 19 pacientes. O número de doenças concomitantes também foi reduzido,
como diabetes mellitus, hipertensão e doença isquêmica do coração (VOZIANOV &
SIMEONOVA, 1990).
Medicamentos homeopáticos prescritos com base na natureza física dos
indivíduos podem desempenhar um papel útil no apoio e nos cuidados paliativos a
pacientes com doenças malignas. Três casos de câncer, onde o tratamento homeopático
foi utilizado foram descritos em 2004 por Rajendran. Um dos casos clínicos relatados
era de um paciente do sexo masculino, com 64 anos, que se recusou a fazer a cirurgia
após o diagnóstico de adenocarcinoma metastático do reto. Este paciente foi tratado
com homeopatia durante 3 anos até sua morte, sem necessidade de hospitalização ou
outras complicações. Não houve remissão do tumor, mas uma melhora significativa na
qualidade de vida. Outro paciente, uma mulher, com 77 anos de idade, com câncer
terminal do carcinoma de células da bochecha, previamente tratada com radioterapia,
apresentou boa resposta aparente. No entanto, após o tratamento, não foi possível
controlar o processo de ulceração, que é extremamente doloroso e refratário a
analgésicos. Durante os últimos três meses de vida esta paciente foi tratada com
homeopatia. Após a primeira dose, as dores foram eliminadas, a paciente voltou a se
alimentar e a dormir bem. O terceiro estudo de caso relatado por este autor foi de um
paciente do sexo masculino, com 70 anos de idade, com diagnóstico de carcinoma da
laringe. Após cirurgia, radioterapia e quimioterapia, o paciente começou o tratamento
homeopático para melhora dos problemas por ele relatados, tais como: sudorese, dor de
garganta, sinusite frontal, eczema, fístula anal, hemorroidas e dor nos membros
superiores. O paciente tornou-se assintomático após três anos de tratamento
(RAJENDRAN, 2004).
Uma paciente com diagnóstico de melanoma maligno recorrente, tratada no
Glasgow Homoeopathic Hospital tinha reclamações de fadiga e ansiedade, apesar de
utilizar o Diazepam (ansiolítico) e o Cipramil (antidepressivo). Após dois dias de
tratamento homeopático teve melhoria significativa em seus sintomas. Em seis meses de
tratamento a paciente descontinuou o uso de Cipramil e de Diazepam (TOMPHSON,
1999).
No Serviço Ambulatorial do Instituto Hahnemanniano do Brasil foram
analisados os prontuários de 60 pacientes durante 8 meses. Após anamnese foi
escolhido o uso do Aveloz e de outro(s) medicamento(s) homeopático(s), de acordo
com sintomas característicos. O Aveloz é uma planta da família Euphorbiaceae e de
nome específico Euphorbia tirucalli L. O medicamento Aveloz foi empregado na forma
líquida, na dinamização drenadora de 30 CH e na dinamização reguladora e curativa de
30 DH, cinco gotas uma a duas vezes ao dia por 30 dias concomitantemente ao
tratamento
convencional
recomendado
para
cada
caso
específico
(cirurgia,
quimioterapia, radioterapia). Observou-se a completa regressão da doença em 16,6%
dos casos; alívio total dos sintomas, com regressão parcial ou total da doença, em 15%
dos casos; alívio parcial dos sintomas, com ou sem regressão da doença, em 46,6% dos
casos; e em 10% dos casos não se observou qualquer resposta terapêutica. Houve piora
do quadro clínico em 6,7%, enquanto foi observada uma taxa de 10% de óbitos
(VARICCHIO et al., 2000).
Um dos problemas no qual o uso de medicamentos homeopáticos pode ser útil é
a complicação que pode ocorrer após uso da radiação ionizante da radioterapia,
chamada de radiodermatite (lesões na pele do paciente). Convencionalmente, esta
condição é tratada com anti-histamínicos e corticosteróides tópicos potentes, nem
sempre com sucesso. Isto afeta a qualidade de vida do indivíduo com alteração da
imagem corporal, autoestima, levando ao isolamento social. Em 2004, foi realizado um
estudo com 25 pacientes que fizeram uso da radioterapia após cirurgia para câncer de
mama e apresentaram radiodermatite. Estes pacientes foram consultados e foi feita a
escolha do medicamento em dose única para a coceira provinda da radiodermatite, por
repertorização. Após o uso do tratamento homeopático, obteve-se uma melhora em 85
% dos casos, porém apenas cerca da metade respondeu ao medicamento na primeira vez
(SCHLAPPACK, 2004).
O tratamento com quimioterapia e o uso de tamoxifeno (antineoplásico
antiestrogênico não esteróide) para o câncer de mama pode levar a exacerbação dos
sintomas relacionado à perda de estrogênio, resultando em sintomas como insônia,
diminuição da libido, ganho de peso, cistite, secura vaginal e erupções na pele. Quarenta
pacientes com sintomas de abstinência de estrogênio e com câncer de mama
participaram de um estudo (THOMPSON & REILLY, 2003). Os sintomas mais
freqüentes foram os fogachos, perturbação do humor, dor nas articulações e fadiga. A
intervenção foi uma medicação homeopática individualizada. Houve melhorias
significativas na ansiedade, depressão e qualidade de vida, sendo a abordagem
homeopática clinicamente útil no tratamento de sintomas de abstinência de estrógeno
em mulheres com câncer de mama com ou sem uso de tamoxifeno (THOMPSON &
REILLY, 2003).
Uma revisão do ano de 2006 teve como objetivo avaliar criticamente as
evidências de ensaios clínicos para a eficácia de qualquer tipo de remédio homeopático
no tratamento de diferentes tipos de câncer, como leucemia, câncer de mama e câncer
nas células sanguíneas. Este estudo demonstra que pacientes com câncer parecem ter se
beneficiado de medicamentos homeopáticos, especialmente para estomatite induzida
por quimioterapia, radiodermatite e eventos adversos da radioterapia. Os sobreviventes
do câncer de mama, que sofrem de sintomas da menopausa, experimentaram uma
melhoria geral na qualidade de vida (MILAZZO et al., 2006).
Conclusão
Existem inúmeras formas de câncer, cada uma com suas características próprias
que exigem cuidados adequados, assim, não se pode falar de um tratamento específico
para todas as formas de câncer. Mas, o uso de medicamentos homeopáticos no auxílio
ao tratamento de pacientes com câncer parece atenuar os problemas provindos da
doença e de seu tratamento. A abordagem homeopática é baseada nos sintomas que
mais afetam a vida do paciente. E o médico homeopata busca um motivo aparente para
o aparecimento dos sintomas, buscando o medicamento correto para o paciente.
A eficácia e a segurança dos medicamentos homeopáticos na terapia antitumoral
merecem uma investigação mais aprofundada. A validação científica desses resultados
trará ainda mais credibilidade a esta terapia, que em 2011 completa 215 anos. Os
benefícios desta terapêutica estão previstos dentro da política de Práticas Integrativas e
Complementares do Ministério da Saúde no Brasil, podendo ser muito útil para
pacientes com diversas patologias, dentre estas o câncer.
Referências
ABUD, A. P. R., CESAR, B., CAVAZZANI, L. F. M., DE OLIVEIRA, C. C.,
GABARDO, J., BUCHI, D. F. Activation of bone marrow cells treated with Canova in
vitro. Cell Biology International, v. 10, p. 808-816, 2006.
ALLISON, R. R., SIBATA, C. H. Oncologic photodynamic therapy photosensitizers: A
clinical review. Photodiagnosis and Photodynamic Therapy, v. 7, p. 61-75, 2010.
ALMEIDA, L. R., CAMPOS, M. C. O., HERRERA, H. M., BONAMIN, L. V.,
FONSECA, A. H. Effects of homeopathy in mice experimentally infected with
Trypanosoma cruzi. Homeopathy, v. 97, n. 2, p. 65-69, 2008.
BELLAVITE, P., CONFORTI, A., PIASERE, V., ORTOLANI, R. Immunology and
homeopathy. 1. Historical background. Evid Based Complement Alternat Med., v. 2,
n. 4, p. 441-452, 2005.
BRACHO, G., VARELA, E., FERNÁNDEZ, R., ORDAZ, B., MARZOA, N.,
MENÉNDEZ, J., GARCÍA, L., GILLING, E., LEYVA, R., RUFIN, R., TORRE, R.,
SOLIS, L. R., BATISTA, N., BORRERO, R., CAMPA, C. Large-scale application of
highly-diluted bacteria for Leptospirosis epidemic control. Homeopathy, v. 99, p. 156166, 2010.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Farmacopéia
Homeopática
Brasileira.
3.
ed.
2011.
Disponível
em:
http://www.anvisa.gov.br/farmacopeiabrasileira/conteudo/3a_edicao.pdf Acesso em 22
de outubro de 2011.
CESAR, B., ABUD, A. P. R., OLIVEIRA, C. C., CARDOSO, F., GREMSKI, W.,
GABARDO, J., BUCHI, D. F. Activation of mononuclear bone marrow cells treated in
vitro with a complex homeopathic medication. Micron, v. 39, p. 461–470, 2008.
DE CAMPOS, V. E., TEIXEIRA, C. A., DA VEIGA, V. F., RICCI, E. J. R.,
HOLANDINO, C. L-Tyrosine-loaded nanoparticles increase the antitumoral activity of
direct electric current in a metastatic melanoma cell model. International Journal of
Nanomedicine, v. 5, p. 961-971, 2010.
DE OLIVEIRA, C. C., OLIVEIRA, S. M., GODOY, L. M. F., GABARDO, J., BUCHI,
D. F. Canova, a Brazilian medical formulation, alters oxidative metabolism of mice
macrophages. Journal of Infection, v. 52, n. 6, p. 420-432, 2006.
DE OLIVEIRA, C. C., DE OLIVEIRA, S. M., GOES, V. M., PROBST, C. M.,
KRIEGER, M. A., BUCHI, D. F. Gene Expression Profiling of Macrophages Following
Mice
Treatment
With
an
Immunomodulator
Medication.
Journal
Cellular
Biochemistry, v. 4, p. 1364-1377, 2008.
DOS SANTOS, A. L., PERAZZO, F. F., CARDOSO, L. G. V., CARVALHO, J. C. T.
In vivo study of the anti-inflammatory effect of Rhus toxicodendron. Homeopathy, v.
96, p. 95-101, 2007.
ELIA V, NAPOLI E, GERMANO R. The “Memory of Water”: na almost deciphered
enigma. Dissipative structures in extremely dilute aqueous solutions. Homeopathy, v.
96, n. 3, p. 163-169, 2007.
FENG, S., CHIEN, S. Chemotherapeutic engineering: Application and further
development of chemical engineering principles for chemotherapy of cancer and other
diseases. Chemical Engineering Science, v. 58, n. 18, p. 4087-4114, 2003.
FONTES, O. L. Farmácia homeopática: teoria e prática. 2. ed. Barueri: Manole,
2005.
FRENKEL, M. Homeopathy in Cancer Care. Alternative Therapies, v. 16, n. 3, p. 1216, 2010.
GOOSSENS, M., LAEKEMAN, G., AERTGEERTS, B., BUNTINX, F.. Evaluation of
the quality of life after individualized homeopathic treatment for seasonal allergic
rhinitis. A prospective, open, non-comparative study. Homeopathy, v. 98, p. 11-16,
2009.
GUIMARÃES, F. S. F., ANDRADE, L. F., MARTINS, S. T., ABUD, A. P., SENE, R.
V., WANDERER, C., TISCORNIA, I., BOLLATI-FOGOLÍN, M., BICHI, D. F.,
TRINDADE, E. S. In vitro and in vivo anticancer properties of a Calcarea carbonica
derivative complex (M8) treatment in a murine melanoma model. BMC Cancer, v. 10,
p. 113-126, 2010.
HJERMSTAD, M. J., KAASA, S. Quality of Life in Adult Cancer Patients Treated with
Bone: Marrow Transplantation-a Review of the Literature. Eur J Cancer, v. 31, n. 2, p.
163-173, 1995.
HOLANDINO, C., VEIGA, V., CAPELLA, M., MENEZES, S., ALVIANO, C.
Damage induction by direct electric current in tumoral target cells. Indian Journal of
Experimental Biology, v. 38, p. 554-558, 2000.
HOLANDINO, C., VEIGA, V., RODRIGUES, M., MORALES, M., CAPELLA, M.,
ALVIANO, C. Direct current decreases cell viability but not P-glycoprotein expression
and function in human multidrug resistant leukaemic cell. Biolectromagnetics, v. 22, p.
470–478, 2001.
INCA (Instituto Nacional do Câncer), Câncer [online]. Brasil: Ministério da Saúde,
2010.
Disponível
em:
http://www.inca.gov.br/regpop/2003/index.asp?link=conteudo_view.asp&ID=10.
Acesso em 20 de maio de 2011.
MACEDO, S. B., FERREIRA, L. R., PERAZZO, F. F., CARVALHO, J. C. T. Antiinflammatory activity of Arnica Montana 6CH: preclinical study in animals.
Homeopathy, v. 93, p. 84–87, 2004.
MACLAUGHLIN, B. W., GUTSMUTHS, B., PRETNER, E., et al. Effects of
homeopathic preparations on human prostate cancer growth in cellular and animal
models. Integr Cancer Ther, v. 5, n. 4, p. 362-372, 2006.
MILAZZO, S., RUSSELL, N., ERNST, E. Efficacy of homeopathic therapy in cancer
treatment. European Journal of Cancer, v. 42, p. 282-289, 2006.
MOLASSIOTIS, A., FERNADEZ-ORTEGA, P., PUD, D., OZDEN, G., SCOTT, J. A.,
PANTELI, V., MARGULIES, A., BROWALL, M., MAGRI, M., SELVEKEROVA, S.,
MADSEN,
E.,
MILOVICS,
L.,
BRUYNS,
I.,
GUDMUNDSDOTTIR,
G.,
HUMMERSTON, S., AHMAD, A. M., PLATIN, N., KEARNEY, N., PATIRAKI, E.
Use of complementary and alternative medicine in cancer patients: a European survey.
Annals of Oncology, v. 16, p. 655-663, 2005.
NCCAM (National Center for Complementary and Alternative Medicine). USA: Health
Info,
2010.
Disponível
em:
http://nccam.nih.gov/health/cancer/camcancer.htm.
Acessado em: 21 de maio de 2011.
NIH (National Institutes of Health). USA: National Cancer Institute, 2010. Disponível
em: http://www.cancer.gov/cancertopics/what-is-cancer. Acesso em: 21 de maio de
2011.
PEDALINO, C. M., PERAZZO, F. F., CARVALHO, J. C. T., MARTINHO, K. S.,
MASSOCO, C. O., BONAMIN, L. V. Effect of Atropa belladona and Echinacea
angustifólia in homeopathic dilution on experimental peritonitis. Homeopathy, v. 93, p.
193-198, 2004.
PERKO, S. J. The homeopathic treatment of influenza: Surviving Influenza
Epidemics and pandemics past, present and future with homeopathy. United States:
Benchmark Homeopathic Publications, 2005.
PUSTIGLIONE, M. Organon da Arte de Curar de Samuel Hahnemann. Typus
Editora e Distribuidora LTDA. 2001.
RAJENDRAN, E. S. Homeopathy as a supportive therapy in cancer. Homeopathy, v.
93, p. 99-102, 2004.
RIBATTI D. Endogenous inhibitors of angiogenesis: A historical review. Leukemia
Research, v. 33, p. 638–644, 2009.
RICHARDSON, M. A., SANDERS, T., PALMER, J. L., GREISINGER, A.,
SINGLETARY, E. Complementary/Alternative Medicine Use in a Comprehensive
Cancer Center and the Implications for Oncology. Journal of Clinical Oncology, v. 18,
n. 13, p. 2505-2514, 2000.
REES, R. W., FEIGEL, I., VICKERS, A., ZOLLMAN, C., MCGURK, R., SMITH, C.
Prevalence of complementary therapy use by women with breast cancer. A populationbased survey. European Journal of Cancer, v. 36, p. 1359-1364, 2000.
REY, L. Thermoluminescence of ultra high dilutions of lithium chloride and sodium
chloride. Physica A, v. 323, p. 67-74, 2003.
SALVAGO, M. T. A. Cáncer: abordaje terapêutico. Revista Médica de Homeopatía,
v. 3, n. 1, p. 14-18, 2010.
SATO, D. Y. O., WAL, R., OLIVEIRA, C. C., CATTANEO, R. I. I., MALVEZZI, M.,
GABARDO, J., BUCHI, D. F. Histopathological and immunophenotyping studies on
normal and sarcoma 180-bearing mice treated with a Brazilian homeopathic medication.
Homeopathy, v, 1, p. 26-32, 2005.
SCHEPPER, L. D. Hahnemann Revisited: A textbook of Classical Homeopathy for
the Professional. United States: Full of Life Publications, 2001.
SCHLAPPACK, O. Homeopathic treatment of radiation-induced itching in breast
cancer patients. A prospective observational study. Homeopathy, v. 93, p. 210-215,
2004.
TAYLOR, M. A., REILLY, D., LLEWELLYNJONES, R. H., MCSHARRY, C.,
AITCHISON, T. C. Randomised controlled trial of homoeopathy versus placebo in
perennial allergic rhinitis with overview of four trial series. British Medical Journal, v.
321, p. 471-476, 2000.
TELLÓ, M., RAIZER, A., BUZAID, A. C., DOMENGE, C., DIAS, G., ALMAGUER,
H. D., OLIVEIRA, L., FARBER, P. L., OLIVEIRA, R., SILVA, V. D. O Uso da
Corrente Elétrica no Tratamento do Câncer. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. cap.
1, 4.
THOMPSON, E. A. Using homoeopathy to offer supportive cancer care, in a National
Health Service outpatient setting. Complementary therapies in nursing & midwifery,
v. 5, p. 37-41, 1999.
THOMPSON, E. A., REILLY, D. The homeopathic approach to the treatment of
symptoms of oestrogen withdrawal in breast cancer patients. A prospective
observational study. Homeopathy, v. 92, p. 131-134, 2003.
VARRICCHIO, M. C. B. N, PINTO, L. F., ANDRADE, E. M., PELLAGIO, S. S.
Emprego do Avelós (Euphorbia tirucalli) dinamizado no tratamento do Câncer. Revista
Homeopatia Brasileira, v. 6, n. 1, p. 64-67, 2000.
VEIGA, V., NIMRICHTER, L., TEIXEIRA, C., MORALES, M., ALVIANO, C.,
RODRIGUES, M., HOLANDINO, C. Exposure of human leukemic cells to direct
electric current. Cell Biochemistry and Biophysics, v. 42, p. 61-74, 2005.
VOZIANOV, A. F., SIMEONOVA, N. K. Homeopathic treatment of patients with
adenomas of the prostate. British Homoeopathic Journal, v. 79, p. 148-151., 1990.
WHO (World Health Organization). Cancer [online], 2011. Disponível em:
http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs297/en/. Acesso em: 20 de maio de 2011.
Download