A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO ILHA DA MADEIRA (ITAGUAÍ-RJ): O RINGUE DA QUEDA DE BRAÇO ENTRE O PORTO SUDESTE E OS PESCADORES ARTESANAIS NATHALIA DOS SANTOS LINDOLFO1 Resumo: A pesquisa em voga tem como proposta apresentar o conflito territorial que emerge diante da disputa de uso e apropriação do território da Ilha da Madeira, Município de Itaguaí (Rio de Janeiro). O conflito resulta da imposição de uma lógica privada, ditada pelo Porto Sudeste, sob o cotidiano de pescadores artesanais. Desta forma, busca-se traçar um panorama do conflito territorial, apresentando as estratégias do Porto Sudeste e dos pescadores artesanais. Palavras-chave: Conflito territorial; Porto Sudeste; Pescadores Artesanais. Abstract: Research in vogue has the purpose to present the territorial conflict that emerges on the use of dispute and appropriation of territory of Ilha da Madeira, Município de Itaguaí (Rio de Janeiro). The conflict results from the imposition of a private logic, dictated by Porto Sudeste , in the everyday life of traditional fishermen . In this way, we seek to give an overview of the territorial conflict, presenting the strategies of the Sudeste Port and artisanal fishermen. Key-words: Territorial conflict; Sudeste Port; Artisanal fishermen. 1 – Introdução O presente trabalho faz parte do desenvolvimento de uma dissertação, que tem como proposta analisar o conflito territorial estabelecido na Ilha da Madeira, município de Itaguaí. Portanto, o trabalho almeja estabelecer uma discussão que abarca a Ilha da Madeira, o Porto Sudeste e os pescadores artesanais. A Ilha da Madeira é o ringue da disputa estabelecida entre Porto Sudeste, agente modernizador, e pescadores artesanais, comunidade afetada. Nesse sentido, o território é compreendido como base material para o desenvolvimento das ações globais e locais. 2 – Ilha da Madeira: Arena de conflito A Ilha da Madeira é um bairro do município de Itaguaí, estado do Rio de Janeiro, que se destaca por estabelecer contato direto com a Baía de Sepetiba e por conter atividades econômicas conflitantes. 1 - Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Email de contato: [email protected] 7079 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A proximidade entre a Ilha da Madeira e a Baía de Sepetiba favorece o desenvolvimento de diversas atividades econômicas, entretanto, a pesca artesanal e a atividade portuária ganham realce. O destaque para essas duas atividades é proveniente de uma acirrada disputa que envolve o uso e a apropriação de um mesmo território, pois as lógicas embutida nas ações dos atores sociais envolvidos nessa competição se colidem e fazem da Ilha da Madeira a arena de um conflito territorial. Este conflito tem por arena unidades territoriais compartilhadas por um conjunto de atividades cujo “acordo simbiótico” é rompido em função da denuncia dos efeitos indesejáveis da atividade de um dos agentes sobre as condições materiais do exercício das práticas de outros agentes (ACSERLRAD, 2004, p. 26). Nesse cenário, a lógica do Porto Sudeste se impõe sobre o cotidiano dos pescadores artesanais, tornando nítida a divergência de interesses privados e coletivos. Diante dessa conjuntura, emerge o conflito territorial, uma disputa a cerca do compartilhamento, do acesso, da gestão, do controle de recursos e do território (LEITE, 2014). Nesse sentido, é possível então afirmar que as questões e os conflitos de interesses surgem das relações sociais e se territorializam, ou seja, materializam-se em disputas entre esses grupos e classes sociais para organizar o território da maneira mais adequada aos objetivos de cada um, ou seja, do modo mais adequado aos interesses (CASTRO, 2005, p. 41). Então, o território passa a ser compreendido como território usado, lócus de um sistema de objetos e ações (SANTOS, 1996, p. 16). O sistema de objetos pode ser compreendido como tudo que existe na superfície da Terra, herança da história natural e da ação humana (SANTOS, 2009, p. 72). E sistema de ações como a prática que corrobora para a produção de uma ordem (SANTOS, 2009, p. 78-79). Nesse sentido, a Baía de Sepetiba, a associação de pescadores e o Porto Sudeste são objetos. Já, a disputa entre pescadores artesanais e o empreendimento portuário uma ação resultante do choque de interesses entre os atores. Essa conjuntura apresenta as diferentes formas de uso do território, ressaltando as manifestações particularizadas e interligadas que compõem um cenário de contradições e conflitos (SANTOS, 2006, p 20). O embate entre pescadores artesanais e o Porto Sudeste trona-se notório diante das relações de poder estabelecidas no confronto. As diferentes práticas 7080 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO produtivas, bem como, as distintas formas de conceber o território transformam o bairro da Ilha da Madeira em uma arena de combate. Ao passo que os pescadores artesanais compreendem o território como espaço vivido, fundamento do trabalho, lugar de moradia, reflexo de sua cultura e identidade. O Porto Sudeste, dentro de uma lógica empresarial compreende esse mesmo território como possibilidade de expansão comercial, nesse sentido, ele impõe seus interesses e bagunça a territorialidade alheia, revelando assim, a face perversa do capitalismo (SANTOS, 2006, p. 19). A empresa ao se instalar no bairro da Ilha da Madeira acarretou um grande desequilíbrio, que atingiu a esfera social e ambiental, refletindo negativamente sobre as ações dos pescadores artesanais. Geralmente a instalação de uma empresa é anunciada com entusiasmo e boa expectativa, mas com nem tudo são flores e como não há nenhum ato desinteressado, o discurso festivo logo tomou outra direção. Esta nova direção segue um trajeto permeado por falácias, visto que as empresas anunciadas como propulsoras de um desenvolvimento social, priorizam o crescimento econômico. Então o discurso torna-se uma munição polivalente composta de objetivos diversos e tendenciosos, que tendem a estabelecer o controle, a seleção, a organização e a redistribuição do poder (FOUCAULT, 1996, p. 9). O discurso revela a ideologia por de trás de um ato, por isso ele torna-se o proeminente motivo da luta, a final a luta representa a ação de uma comunidade, de um povo, de um grupo de pessoas em defesa dos seus ideais (FOUCAULT, 1996, p. 10). Contrapondo-se a boa fama disseminada pelo discurso, as empresas tendem a adotar uma postura dominante que prioriza a acumulação de capital, e pouco atende as necessidades da população local. Esta conduta é comum entre grupos hegemônicos, pois seu objetivo é fragilizar o poder de seu oponente como alternativa para centralizar um novo poder. Cenários de disputa por hegemonia são constantemente vislumbrados na lógica capitalista, esse jogo geralmente tem como vencedor os grandes empreendimentos privados, públicos ou público-privado. As ações do capital hegemônico impõe uma territorialidade a partir de aspectos que possibilitem 7081 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO apropriação, promoção, dominação e exclusão. Esses quatro atributos, operam em conjunto tendo como finalidade assegurar o sucesso dos planos estratégicos em curso. Diante dessa conduta do capital, têm-se territórios fragmentados e hierarquicamente estruturados, onde o poder privado, estatal ou misto dilui as relações cotidianas, colocando em voga suas tendências e seus projetos (SOJA, 1993, p. 115). Os projetos elaborados pelo capital privado criam diversas vulnerabilidades sociais e ambientais, reestruturam o território, e transformam o espaço trazendo uma nova configuração a partir da lógica global de produção e acumulação do capital (SOJA, 1993, p. 116). A presença numa localidade de uma grande empresa global incide sobre a equação, a estrutura do consumo consumptivo e do consumo produtivo, o uso das infraestruturas materiais e sociais, a composição dos orçamentos públicos, a estrutura do gasto público e o comportamento das outras empresas, sem falar na própria imagem do lugar e no impacto sobre os comportamentos individuais e coletivos, isto é, sobre a ética (SANTOS, 2001, p. 293). Portanto, concebe-se que as empresas desempenharam um papel central na produção e no funcionamento do território e da economia (SANTOS, 2001, p. 295). A ambição por lucro faz com que as empresas atuem sem altruísmo, a fim de competir no mercado global (SANTOS, 2001, p. 296). Nesse contexto, observa-se a contraposição entre as propostas e ações dos agentes hegemônicos e não hegemônicos. O contraste é oriundo de um aporte teórico e prático diferenciado. Enquanto os pescadores artesanais compreendem o território como chão mais a identidade, a empresa o concebe como expansão da fronteira produtiva, aumento do acumulo de capital (SANTOS, 2006, p. 60). Na dinâmica do conflito o oponente representa uma barreira para a realização dos fins propostos, é exatamente por isso que a competitividade emerge. A competitividade tem como alvo a conquista, portanto, os artifícios utilizados na guerra diluem os valores morais, exercendo uma violência estrutural (SANTOS, 2006, p. 55). Nesse campo de competição desleal se instala a perversidade do sistema capitalista, a final para ocupar e dominar o território, empresas utilizam todos os meios ao seu alcance para aniquilar os opositores (BERNARDES, 2014). O panorama de disputa é inerente ao território usado, pois este representa um campo de interação composto por diversos atores, que independente de sua 7082 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO força contribui para o sistema de ações. Portanto, território usado seria resultado da combinação dessas ações. O jogo de poder estabelecido no conflito territorial faz parte de uma estratégia bem delineada onde jamais haverá um ato desinteressado, visto que todos os agentes envolvidos no conflito são movidos por suas convicções e lutaram em prol de alcançar seus objetivos (BOURDIEU, 1996). 2.1 – Porto Sudeste: Agente modernizador A partir dos anos 2000, a atividade portuária brasileira teve significativo crescimento, nesse cenário a metrópole do Rio de Janeiro ganhou um novo estímulo de modernização que por consequência desencadeou transformações no setor portuário (MONIÉ, 2011; SILVA, 2012, p. 1). O processo modernizador em curso impôs intervenções significativas sobre o território, sobretudo quando se pensa na infraestutura das cidades portuárias, visto que o espaço litorâneo sofre enorme pressão oriunda dessa nova proposta de reestruturação produtiva. Como aponta Monié (2011): “O crescimento do comércio internacional, as pressões dos produtores e negociantes de commodities e o imperativo de fluidez imposto pelos atores da logística implicam investimentos na expansão, modernização e reestruturação dos portos, hoje legitimada pela retórica do neodesenvolvimentismo”. Nesse contexto, surge o Porto Sudeste, um empreendimento privativo operado pela Global Terminais, empresa formada pela parceria entre a Impala, a Mubadala Developmet Company e a MMX (MMX, 2014). Sua proposta é atuar no setor mineral, permitindo que o minério de ferro originário da região sudeste do Brasil seja escoado através de seu terminal portuário. A instalação do porto na Ilha da Madeira faz parte de uma ação estratégica, que visa atender o sistema sudeste da empresa MMX compreendido pelas unidades Serra Azul e Bom Sucesso, fixadas em ambas em Minas Gerais. Diante deste novo aspecto o terminal portuário que a princípio tinha capacidade de movimentar 50 milhões de toneladas de ferro por ano, teve sua capacidade aumentada para 100 milhões, a fim de atender a demanda de empresas do grupo EBX e de empresas parceiras, que visam atender o mercado transoceânico (LAZCANO, 2009). 7083 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A infraestrutura do terminal portuário conta com dois pátios de estocagem de minério de ferros com capacidade de armazenar 2,5 milhões de toneladas de minério, dois viradores de vagões responsáveis para descarregar por hora aproximadamente 8,8 mil toneladas de minério vindo de Minas Gerais, um túnel que permitirá a ligação entre os dois pátios de estocagem à estrutura marítima do porto que conta com duas pontes, uma plataforma entre as pontes e um píer com dois berços que permitirá a atracação simultânea de navios do tipo capesize, de grande calado (MMX, 2014). Além disso, o minério ferro será transportado através do túnel por um sistema de correias transportadoras que também utilizará quatro empilhadeiras recuperadoras de minério de ferro, dois carregadores de navios que correrão sobre os trilhos do píer que podem operar simultaneamente a fim de abastecer cada berço, ademais foi construída uma subestação energética e sete subestações secundárias (MMX, 2014). A logística do porto ainda compreende obras de acesso rodoferroviário com a finalidade de facilitar o transporte das cargas (MMX, 2014). A implantação do terminal portuário na Ilha da Madeira foi propagada pela empresa com o um investimento que colaboraria para o desenvolvimento econômico da região, mas tal discurso é contraditório, visto que desenvolvimento econômico trabalha com a ideia aumento do produto nacional bruto atrelado a melhoria na qualidade de vida da população. Nesse sentido, percebe-se que o discurso não é um sistema fechado ou rígido, mas aberto, capaz de ser posto à prova mediante as interações, o que coloca em contestação a ação do empreendedor que jamais terá um ato desinteressado, ainda que tenha que omitir seu verdadeiro objetivo (BOURDIEU, 1996; FAIRCLOUGH, 2010). Os objetivos das empresas giram entrono da teoria da riqueza e da produção, onde o fundamento prático e econômico indica inovação, modernização. Nesse sentido, o novo é concebido como algo que rompe barreiras e superam limites, consequentemente o novo pressupõe ressignificação do que já existe. Por conseguinte emergem ambiguidades, paradoxos, e desunidades, visto que o processo modernizador propõe uma nova dinâmica espacial. Logo, a única segurança que há na modernidade é a sua insegurança, e sua inclinação para caos totalizante (BAUDELAIRE, 1981 apud HARVEY, 1992, p. 22). 7084 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO As mudanças orientadas pelo moderno tornam difícil a preservação do sentido de continuidade histórica, o que incide sobre um interminável processo de rupturas e fragmentação internas e inerentes (HARVEY, 1992, p. 22). A modernidade em sua essência possui dois aspectos sombrios disseminados de forma quase imperceptível, são eles dominação e opressão, esse par comumente encontrado no discurso propagado pelos grandes empreendimentos industriais, é pouco vislumbrado porque o enfoque do discurso está no desenvolvimento proporcionado por esse agente hegemônico (HARVEY, 1992, p. 22). O discurso excludente da modernização é caracterizado por seu viés escamoteador que invisibiliza as necessidades coletivas em virtude dos interesses do grande capital. Os projetos articulados por capitais corporativos alteram as formas de uso e ocupação do território sem considerar os efeitos socioambientais locais (OLIVEIRA, 2013, p. 234). A presença das empresas globais no território é um fator de desorganização, de desagregação, já que elas impõem cegamente uma multidão de nexos que são de interesse próprio, e quanto ao resto do ambiente nexos que refletem as suas necessidades individualistas, particulares (SANTOS, 1999, p. 12). Portanto, concebe-se que toda organização territorial é alterada pela lógica imposta pelas empresas que muitas vezes em consonância com o Estado operam sem nenhum altruísmo. Como resultado dessa ação voraz, atores não hegemônicos têm suas práticas limitadas. Como exemplo, têm-se os pescadores artesanais que atualmente veem-se impedidos de exercer sua prática divido a instalação do terminal portuário do sudeste. Diante disso, o território passa a ser um campo de relações distintas, onde interesses contraditórios são manifestos por interações sociais de origem local e global (OLIVEIRA, 2013, p.235). 2.3 – Pescadores artesanais: Cotidiano e resistência Segundo o Ministério da Pesca e Aquicultura (2011) pescador artesanal é: “O profissional que, devidamente licenciado pelo Ministério da Pesca e Aquicultura, exerce a pesca com fins comerciais, de forma autônoma ou em regime de economia familiar, com meios de produção próprios ou mediante contrato de parcerias, desembarcada ou com embarcações de pequeno porte”. 7085 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A proximidade entre Ilha da Madeira e Baía de Sepetiba favorece o exercício da pesca artesanal, pois a Baía é um corpo hídrico composto por águas salinas e salobras, que possui conexão direta com o oceano Atlântico, e suas áreas de mangue e zonas estuarinas formam um criadouro para diversas espécies marinhas (INEA, 2015). Nesse contexto, os pescadores artesanais pescam na Baía tendo dois objetivos primordiais, a obtenção de alimento e a aquisição de pescado para comercialização. Entretanto, observa-se que essa prática de pesca tem sido ameaçada nos últimos anos pela implantação do Porto Sudeste. As obras de instalação do terminal portuário promoveram muitas alterações na dinâmica habitacional e ambiental do bairro. A Baía de Sepetiba que já foi a segunda maior produtora de pescado do Brasil, atualmente apresenta significativa diminuição nas toneladas de pescado, o que influencia diretamente na vida dos pescadores (THUSWOHIL, 2009). Alguns pescadores para sobreviver já atuam no âmbito turístico como alternativa de exercer uma atividade remunerada (THUSWOHIL, 2009). Relatos de pecadores afirmam que a pesca artesanal é uma atividade praticada na região a aproximadamente 400 anos, mas ultimamente está em decadência por falta de investimentos, uma vez que equipar um barco com quinze homens custa R$8 mil (THUSWOHIL, 2009). Diante dessa triste realidade, muitos pescadores têm optado por trabalhar como puxadores de rede para empresas de pesca industrial, além disso, o processo de dragagem e a construção do terminal portuário criam zonas de exclusão de pesca2, diminuindo consideravelmente a área disponível para o exercício da atividade (THUSWOHIL, 2009; VIÉGAS, 2007). A fim de tentar minimizar os danos causados aos pescadores a concessionária que administra o Porto Sudeste cria projetos de apoio à pesca, mas os pescadores não compreendem essa ação como uma atitude de colaboração, mas sim como uma medida de compensação, o que não garante a permanência da pesca artesanal (LOPES, 2014; THUSWOHIL, 2009). 2 Segundo Zborowski (2008), as áreas de exclusão de pesca podem ser temporárias, caracterizadas por ser uma medida de segurança em função das atividades de dragagem, e permanente diante da construção da ponte de acesso ao porto. 7086 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO No intuito de apresentarem-se como resistência ao processo modernizador em curso os pescadores mobilizaram-se para impedir a construção do Porto Sudeste, que infelizmente já está concluído. Nessa conjuntura, foram elaboradas ações contra as empresas pedindo a imediata suspensão das licenças de instalação (THUSWOHIL, 2009). Algumas obras ficaram embargadas durante um período, mas foram retomadas. Atualmente, as obras do porto já se encontram concluídas, mas sua operação ainda não iniciada. Outra forma de resistir as imposições do grande capital são os protestos realizados por famílias de pescadores, onde o objetivo era paralisar as obras. Além das atrocidades já mencionadas, a empresa ainda pressionou parte dos moradores da região a venderem suas casas (THUSWOHIL, 2009). 3 – Considerações Finais A pesquisa realizada tem grande valia, pois releva como as ações dos grandes empreendimentos se materializam no território e influenciam o cotidiano de comunidades tradicionais. O embate irradia a ruptura de uma dinâmica social existente para ceder lugar a uma nova territorialidade, nesse sentido, a economia local se vê desestruturada, a comunidade desolada e o ambiente fragilizado. A resistência surge como indicio de insatisfação, pois as marcas que as ações hegemônicas deixam no território causas impactos diversos na vida da sociedade local. Então, a resistência expressa a reprovação de uma comunidade a respeito do atual modelo de desenvolvimento. Nesse sentido, a territorialidade imposta pela instalação do Porto Sudeste têm provocado muitos impactos negativos ao ambiente, aos pescadores e a população local, mas infelizmente essa é uma ótica pouco vislumbrada pelo poder público. Os pescadores artesanais são fragilizados não pela falta de vigor ou determinação em exercer suas atividades, mas sim pelas políticas que priorizam as grandes empresas colocando em risco a existência de culturas tradicionais. Concluí-se então, que o conflito territorial está longe de ter um desfecho, pois pescadores artesanais permaneceram na luta contra tal empreendimento a fim de 7087 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO assegurar a preservação da biodiversidade da Baía de Sepetiba e a permanência da pesca artesanal. 4 – Referências Bibliográficas ACSELRAD, Henri. As práticas espaciais e o campo dos conflitos ambientais. In: ACSELRAD, H. (org). Conflitos Ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: Relume/Dumará: Fundação Heinrich Böll, 2004. BERNARDES, J.B. Reescrevendo a história do Norte Fluminense sucroalcooleiro no contexto da última modernidade. In: BERNARDES, J.B.; SILVA, C. A. (org.). Modernização e território: entre o passado e o presente do Norte Fluminense. 1ª ed. Rio de Janeiro: Lamparina 2014. p. 12-22 BOURDIEU, Pierre. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Tradução de Mariza Corrêa. 9. ed. Campinas, SP: Papirus, 1996. 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