Medronheiro: Conversão da planta silvestre numa planta

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Medronheiro:
Conversão da
planta silvestre
numa planta
fruteira rentável
Assim, não tem sido sujeito a nenhum processo de seleção, sendo
de esperar uma grande variabilidade de plantas no estado selvagem
que não garantem uma produtividade homogénea. A variabilidade
em áreas naturais está relacionada com as características de
adaptabilidade da espécie a condições de stresse ambiental (seca,
geada, solos).
A ESAC em colaboração com a DRAPC, os produtores e a
GreenClon apostou na seleção de plantas adultas avaliadas pela
produção e qualidade de fruto, posterior propagação
(micropropagação) e na instalação de ensaios clonais (Fig. 1 C, D).
A seleção das plantas foi feita com base no porte da planta, na
produção e qualidade de fruto.
A
Os ensaios com plantas clonais e de semente instalados em
diferentes condições mostraram maior produção de fruto e
homogeneidade com plantas clonais, maior potencial produtivo com
fertilização à plantação e ainda permitiram a seleção de clones para
as diferentes estações ecológicas.
Devido às maiores produções sucessivamente observadas com
plantas clonais, é conveniente proceder a adubações de forma a
compensar a maior quantidade de nutrientes que é extraída pela
produção de fruto. De acordo com os resultados são esperadas
baixas produções em solos delgados, de baixa fertilidade, com um
volume de terra disponível para as raízes reduzido, mesmo quando
as plantas são fertilizadas. Será necessário selecionar plantas, nessas
condições, bem como recorrer a outras estratégias, como a utilização
de micorrizas, de forma a aumentar a disponibilidade de nutrientes
para a planta. No corrente ano foram instalados ensaios clonais
com plantas micorrizadas.
A produção quer em quantidade quer em qualidade depende muito
das operações culturais. Os ensaios de podas mostraram que em
plantas muito altas, em que a colheita é difícil, a rolagem é eficaz e
permite uma retoma da produção ao 2º ano. Em plantas com uma
copa muito densa, em que a entrada do ar e da luz é difícil, as podas
com base em desramações e atarraques sobre ramo lateral
mostraram ser eficientes. As plantas têm que ter uma dimensão que
facilite a colheita e uma forma que permita um bom arejamento e
iluminação (Fig. 2).
A
A
Filomena Gomes1, Justina Franco1, Rosinda L. Pato1, Patrícia Figueiredo2, Ivo Rodrigues1,
João Gama3, Adriana Guerreiro4, Dulce Antunes4, Ludovina Galego4, Goreti Botelho1
1
Escola Superior Agrária de Coimbra/ESAC; 2GreenClon Lda; 3Direção Regional de
Agricultura e Pescas do Centro/DRAPC; 4Universidade do Algarve
B
B
Figura 2:
Planta no outono após o atarraque sobre ramo lateral e desramação (Alziral)
O medronheiro (Arbutus unedo L.) é uma espécie de origem
Mediterrânica, com uma distribuição natural por todo o País e de
uma forma mais relevante no Algarve (Serra do Caldeirão e
Monchique) e na zona Centro.
Têm sido diversos os trabalhos de investigação realizados no
âmbito de projetos de ID&D (FCT e ProDeR) e em colaboração com
diversas entidades de investigação (INIAV, Universidade do Algarve),
extensão rural (DRAPC), produtores (Lenda da Beira) e empresas
(GreenClon) abrangendo toda a fileira do medronho (www.esac.pt/
medronho).
O medronheiro tradicionalmente tem sido explorado em áreas
naturais e só recentemente em pomares (10-12 anos; Fig. 1 A, B).
II
VOZ DO CAMPO | AGROCIÊNCIA | MARÇO 2017
C
D
Figura 1:
O medronheiro em áreas naturais (Monchique) (A), instalado em pomar (Lenda da
Beira, Pampilhosa da Serra (B); ensaio clonal em área florestal em regime de sequeiro
(Lenda da Beira, Pampilhosa da Serra (C) e em regadio (Tiago Cristóvão,
Proença-a-Nova) (D)
Os resultados na instalação e condução de pomares mostraram
que é relevante: 1) fomentar e manter no solo os resíduos orgânicos
da cultura; 2) escolher as plantas/os clones melhor adaptados às
condições de solo e clima; 3) realizar a correção do pH (quando
necessário) e fertilização à plantação; 4) proceder a adubações de
forma a compensar a quantidade de nutrientes que é extraída pela
produção de fruto; 5) aplicar os nutrientes ao solo no início da
primavera para potenciar a sua absorção; 6) compreender que os
efeitos da fertilização na produtividade não se refletem no 1º ano,
devido ao longo período desde a indução floral até ao vingamento
e posterior maturação do fruto (superior a 1 ano).
Foram dados passos importantes para a conservação do fruto
para consumo em fresco. Em 2016, pela primeira vez, o medronho,
como fruto fresco, fornecido pela empresa Lenda da Beira, parceira
do projeto ProDeR, esteve à venda em grandes superfícies comerciais.
O Manual de Boas Práticas para o fabrico de Aguardente aborda
as operações desde a colheita do fruto à aguardente (Fig. 3A).
Produtos como iogurtes, snacks, patês, frutos confitados e
cristalizados, frutos desidratados e liofilizados têm vindo a ser
desenvolvidos (Fig. 3 B, C).
C
Figura 3:
A transformação e valorização do fruto: medronhos prontos a fermentar e obtenção
experimental de aguardente (A), aplicações de medronho em iogurtes (B); bolachas com
produtos autóctones, medronho, mel e castanha (C)
A investigação que tem vindo a ser realizada está em linha com o
Plano Regional de Ordenamento do Território do Centro, pela
produção de conhecimento e dinamização de áreas emergentes
relacionadas com a valorização dos recursos endógenos.
Agradecimentos
Os trabalhos de investigação foram financiados pelos projetos: ProDeR, medida 4.1,
Cooperação para a Inovação, Refª. 43751 e Refª. 53110; e pela FCT Ref.ª PTDC/AGRFOR/3746/2012
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