FACULDADE SOUZA LIMA RENAN CACOSSI CAPODEFERRO OS DISTANCIAMENTOS E APROXIMAÇÕES DA MÚSICA DO QUARTETO NOVO COM O JAZZ NORTE-AMERICANO SÃO PAULO 2014 RENAN CACOSSI CAPODEFERRO Os distanciamentos e aproximações da música do Quarteto Novo com o Jazz norte-americano Monografia apresentada à Faculdade Souza Lima como parte dos requisitos para conclusão do curso de graduação em Música. Orientador: Prof. Pós-Dr. Marcelo Coelho SÃO PAULO 2014 Resumo Este trabalho pretende analisar o grupo Quarteto Novo a fim de verificar se existem e quais são os traços remanescentes do jazz norte-americano em sua música. Pretende-se procurar as características que podem ser consideradas como influência direta do jazz, bem como os aspectos que fazem com que a música do Quarteto Novo possa ser considerada como inauguradora de um estilo original brasileiro, levando-se em conta a questão composicional e de improvisação. Pretende-se discutir e apontar as possíveis aproximações e os distanciamentos da música do Quarteto Novo com o jazz norte-americano. Palavras-chave: música instrumental brasileira, jazz, Quarteto Novo. Abstract This work intends to analyse the Quarteto Novo group in order to verify the existence and the remaining traces of north american Jazz in its music. The purpose is to find out the features that can be considered as a straight influence of Jazz as the aspects that can make the Quarteto Novo’s music as an inaugurator of a original brazilian style, taking into account the composition and improvisation question. The intention is discuss and point out the possible approachs and distances of the Quarteto Novo’s music with north american Jazz. Keywords: brazilian instrumental music, jazz, Quarteto Novo. 4 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................. 5 CAPÍTULO I ...................................................................................................... 7 Contexto político: a Ditadura Militar ............................................................ 7 Influência da indústria cultural estrangeira: uma questão histórica ........... 10 A canção de protesto e a retomada de valores culturais nacionalistas ..... 13 O Quarteto Novo: uma breve trajetória ...................................................... 15 CAPÍTULO II .................................................................................................... 18 A questão modal ........................................................................................ 20 Os solos em chorus .................................................................................... 23 Aproximações cromáticas ........................................................................... 24 A questão rítimica ....................................................................................... 27 A questão da instrumentação ..................................................................... 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 33 ANEXOS .......................................................................................................... 35 5 INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo analisar o grupo Quarteto Novo a fim de verificar se existem e quais são os traços remanescentes do jazz norteamericano em sua música. A partir de transcrições já feitas, pretende-se entender a questão composicional e de improvisação do grupo e verificar se existe um hibridismo nessa música. Gerolamo (2012) aponta algumas características que podem ser discutidas, gerando a possibilidade de considerarmos a música do Quarteto Novo como inauguradora de um estilo original brasileiro. Leva-se em consideração a questão composicional e de improvisação. Pretende-se discutir se há um hibridismo e se os músicos conseguiram eliminar qualquer rusga do jazz na música instrumental do grupo. O Quarteto Novo é um capítulo especial na história da música brasileira, pois desenvolveu uma linguagem de improvisação e de composição até então nunca praticados na música popular instrumental brasileira. Este trabalho pretende complementar e discutir os poucos estudos que existem sobre este grupo que influenciou decisivamente a música instrumental no Brasil. O Quarteto Novo era formado por Heraldo do Monte, Hermeto Pascoal, Théo de Barros e Airto Moreira. O grupo nasceu do Trio Novo, que acompanhou o cantor Geraldo Vandré na segunda metade dos anos 1960. Estes anos foram marcados pela dura repressão da Ditadura Militar. Muitos artistas passaram a pensar uma arte engajada, que fosse capaz de influenciar as pessoas e ser combativa à condição em que se encontrava o Estado brasileiro. Desde o Estado Novo de Getúlio Vargas, o Brasil passou a sofrer uma influência cultural direta dos Estados Unidos. Isso reverberou seriamente na produção musical brasileira, culminando no surgimento da bossa nova no final dos anos 1950. Tinhorão (1966) caracteriza a bossa nova como sendo o produto da subversão do samba brasileiro pelo jazz dos Estados Unidos. E essa era a principal produção na música popular brasileira naquele momento. Depois do golpe militar em 1964, surgem as canções de protesto, onde os compositores buscavam um nacionalismo musical. Existia um imaginário nacional popular que era permeado por idéias políticas da esquerda da época. 6 Geraldo Vandré foi um dos principais compositores que estavam inseridos nesse contexto e essas idéias influenciaram seriamente a música que viria a ser produzida pelo Quarteto que o acompanhava. Todos os músicos do Quarteto Novo possuíam uma formação jazzística. Influenciados pelo contexto descrito, tomaram a atitude política de produzir uma música instrumental que fosse destituída da influência do jazz e trouxesse características essencialmente brasileiras. Para tal, foram buscar recursos na música feita no nordeste brasileiro no que tange a questões rítmicas, melódicas, timbrísticas e harmônicas. A idéia era eliminar qualquer traço distinguível do jazz. Será que eles alcançaram esse intento? Este trabalho visa enriquecer a discussão, partindo da reflexão de alguns traços que poderiam distinguir essencialmente o jazz norte-americano, e como isso se relaciona com a música do Quarteto Novo. O grupo conseguiu eliminar a forte influência do jazz que permeava a produção musical brasileira, emblematicamente caracterizada na bossa nova e no samba jazz? 7 CAPÍTULO I No contexto brasileiro dos anos 1960, marcado pelo Golpe Militar de 1964 e pelo Ato Institucional nº 5, emergiu uma arte experimental e comprometida politicamente. Do Tropicalismo, passando pelos projetos teatrais mais ousados, à movimentação do Cinema Novo, os artistas posicionaram-se criticamente àquele momento histórico através de suas pesquisas artísticas. (REIS, 2009). Para entender a postura política do grupo no sentido de trabalhar um nacionalismo musical, faz-se necessária uma cobertura do contexto político do início da década de 1960 e dos acontecimentos relacionados ao golpe militar de 1964. Piedade (2005, p.2) nos diz que “A compreensão da música instrumental depende da descoberta de seus nexos ‘musicoculturais’, daí a necessidade de uma atenta análise musical que inclua o olhar para a cultura e para o discurso.” Não seria possível entendermos a relação entre o jazz norte-americano e a música brasileira sem passarmos pelos acontecimentos políticos internos que exerceram influência direta no pensamento dos músicos envolvidos no processo que pretendemos averiguar. Precisamos nos ater também aos detalhes que aparecem na relação entre música brasileira e jazz , a partir da relação entre o Brasil e os Estados Unidos. Esta relação, ao mesmo tempo de tensão e de síntese, de aproximação e de distanciamento, tem profunda correlação com discursos sobre imperialismo cultural, identidade nacional, globalização e regionalismo. (PIEDADE, 2005, p.2) Contexto Político: a Ditadura Militar Em 1960, o Brasil encontrava-se em uma situação contrastante, pois o desenvolvimento econômico que o país experimentava não estava trazendo consigo a solução para os problemas sociais enfrentados pela população. O Brasil havia alcançado patamares de desenvolvimento econômico expressivos, que se contrastavam com os problemas sociais. O desenvolvimentismo era falho, atingia apenas algumas parcelas da população e desenhava uma concentração de riquezas que não 8 poderia ser mais protelada pelas ações conciliatórias do populismo. (http://retro55a68.wordpress.com/politica/) O presidente João Goulart, antes de assumir o governo, foi obrigado a mostrar-se em acordo com as exigências dos militares, que eram contra a sua chegada ao governo. Submetido às limitações do parlamentarismo, Jango foi previamente impedido de apelar para o já conhecido nacionalismo populista utilizado por Vargas. Mesmo assim, em 1963 ele conseguiu aprovar um plebiscito que reestruturaria o presidencialismo e, conseqüentemente fortaleceria a ação do poder Executivo. Neste momento, Jango trouxe ao país uma série de mudanças previstas pelas Reformas de Base. João Goulart Esta imagem de “subversivo” e “comunista” era devido ao seu programa de governo cujo principal projeto era as Reformas de Base. Tal projeto previa reformas em diversos setores como fiscal, bancário, na educação e no campo, sendo a Reforma Agrária seu “carro-chefe”. No entanto, apesar do apoio dos movimentos populares e de suas organizações como o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), as Ligas Camponesas, a UNE e o Partido Comunista Brasileiro (PCB) etc, Goulart não governava apenas para os trabalhadores. Seu governo assumiu uma política de conciliação, atendendo ora aos setores à esquerda, ora àqueles à direita. Jango não podia assumir compromissos definitivos com estes tampouco com aqueles, pois necessitava do apoio de ambos para continuar governando. (SANTOS, 2009, p.102) Com essas medidas Jango conquistou rapidamente o apoio de líderes de sindicato nacionalistas e partidos políticos de esquerda. Com isso, os grupos de tendência conservadora mostraram-se desconfiados e avessos aos projetos sociais das Reformas de Base. Seu comportamento “dúbio” assustou os militares, que optaram então pelo caminho do já conhecido golpe militar que, em 31 de março de 1964, deu fim á democracia brasileira. O golpe militar de 1964 foi despachado para evitar a ameaça comunista. Com ele, iniciavam-se os vinte e um anos do chamado regime militar, marcado pelas restrições aos direitos e garantias individuais, pela extinção dos antigos partidos políticos e pela violência, típica dos regimes ditatoriais. Procurando descaracterizarse como um Estado de Exceção, a nova ordem, dita revolucionária, manteve algumas instituições democráticas: o Congresso Nacional, tolhido em suas prerrogativas tornaria-se um dócil homologador das decisões dos governos militares, e as eleições, em todos os níveis se processariam dentro das variadas regras e restrições, que se estabeleciam a partir de 1964. De outro lado, o regime autoritário buscou sua legitimação através de uma legislação [...] através dos atos institucionais (que estão acima da carta Magna) e da 9 Constituição de 1967, mais tarde modificada pela Emenda Constitucional de 1969. [...] O novo regime tinha um dos seus mais importantes fundamentos na Doutrina de Segurança Nacional, fortemente influenciada pela conjuntura da Guerra Fria e pela crise do populismo. Segundo essa doutrina, que substituía o conceito de “defesa nacional”, era preciso combater os comunistas e outras forças “subversivas” que se infiltravam em todos os setores da comunidade brasileira, visando desestabilizar o governo, as autoridades e as instituições nacionais. (http://retro55a68.wordpress.com/politica/) Nos últimos meses de 1966, o governo preparou e encaminhou ao Congresso o projeto para a nova Constituição cuja tramitação foi fixada pelo AI4. A nova Constituição foi promulgada em janeiro de 1967. Ao final do governo Castelo Branco foi instituída a da Lei de Segurança Nacional, que entrou em pleno vigor em 29 de setembro de 1969, tornando todos os cidadãos responsáveis pela segurança do país. A Lei de Segurança Nacional previa a prisão de grevistas, a apreensão de qualquer edição interna dos jornais e revistas, bem como a censura plena e severas punições para quem desrespeitasse as autoridades do governo ou distribuísse propaganda “subversiva”, além de outras medidas de caráter repressivo. A partir de 15 de março de 1967 o general Arthur Costa e Silva assumiu o poder. Nessa época, os movimentos de oposição ao regime dos militares cresceram significativamente. No VI Congresso do Partido Comunista Brasileiro foi tirada a condenação da luta armada como forma de combater o governo, o que gerou várias dissidências na esquerda brasileira da época. Em 1968, o Brasil passou por uma onda de protestos contra a ditadura que teve influências de toda a conjuntura histórico-cultural que pairava sobre o mundo como o “maio francês”, a chamada contracultura, os protestos nos EUA contra a Guerra do Vietnã e a favor do movimento negro, os protestos no Terceiro Mundo contra o imperialismo dos países desenvolvidos etc. Para o ME, 1968 começou com a morte do estudante secundarista Edosn Luís, no restaurante Calabouço no Rio de Janeiro. Este episódio surtiu inúmeras manifestações estudantis e populares. (SANTOS, 2009, p.105) Em 1968 havia uma forte tensão entre o governo e a oposição. O movimento trabalhista respondeu a intervenção do governo do sindicato dos metalúrgicos com duas importantes greves em Contagem-MG e Osasco-SP. Em outubro, a União Nacional dos Estudantes (UNE) realizou um congresso clandestino em Ibiúna (SP), que, descoberto, resultou na prisão de vários 10 líderes estudantis. Em dezembro foi promulgado ato institucional n° 5 (AI-5), que, dentre suas resoluções, ampliou ainda mais os poderes presidenciais. Influência da indústria cultural estrangeira: uma questão histórica O Brasil sempre esteve sob a influência dos países imperialistas: desde a chegada dos portugueses, passando até mesmo pela ditadura militar e até os dias de hoje. Como colônia explorada, sua economia, política e cultura sempre estiveram sob os mandos e desmandos externos. Desse modo, o desenvolvimento da música popular no Brasil não se deu sem a influência direta das culturas imperialistas a que foi submetido. Isso nos remete à segunda metade da década de 1940, quando uma série de influências ligadas às transformações econômico-culturais provocadas pela Segunda Guerra Mundial vieram transformar profundamente o panorama cultural e musical brasileiro. Desde o Estado Novo de Getúlio Vargas, o Brasil passou a sofrer uma influência cultural direta dos Estados Unidos. Os compositores nacionalistas e alguns intelectuais, compatibilizados com a política Getulista, almejavam a integração e união entre as massas populares, tendo como ponto de partida o resgate do folclore, viabilizando assim, uma música de caráter nacional. (VISCONTI, 2005, p. 14) Isso reverberou seriamente na produção musical brasileira, culminando no surgimento da bossa nova no final dos anos 1950. Tinhorão (1966) caracteriza a bossa nova como sendo o produto da subversão do samba brasileiro pelo jazz dos Estados Unidos. E essa era a principal produção na música popular brasileira naquele momento. A necessidade de intercâmbio intenso com os Estados Unidos traduzida pela chamada ‘Política da Boa Vizinhança’ levou as elites brasileiras à uma extraordinária identificação com os interesses e costumes norte-americanos. Os Estados Unidos iniciavam então uma campanha de aproximação orientada que, no campo na música popular explicaria, por exemplo, o extraordinário sucesso de Carmen Miranda, apoiado pelo Departamento de Estado. Para expandir o American Way of Life, os EUA forneciam amplo material através da propaganda de guerra, cultural, de diversão(através dos filmes de Hollywood e histórias em quadrinhos) e musical, aqui através do duplo bombardeamento do cinema e dos discos que invadiram o mercado brasileiro. (TINHORÃO, 1966, p. 59-60) 11 O mercado de discos ampliava-se principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, chegando ao ponto de tornar-se uma das principais indústrias do país. “Segundo o IBGE a produção nacional de discos mantinha-se acima de meio bilhão de cruzeiros em 1955.” (TINHORÃO, 1966, p. 60) A classe média era o principal público comprador de discos em potencial e sendo assim o seu gosto e seu interesse musical foi, de certa forma, imposto ao gosto geral. Os principais meios de comunicação da época, como o rádio, os discos e posteriormente a televisão foram colocados a serviço da música norte-americana e da música brasileira que mais se assemelhava aos padrões norte-americanos da época. Vários compositores como João de Barro, Alberto Ribeiro, Luís Bittencourt, José Maria de Abreu e Mário Rossi, entre outros, passaram a lançar seus sambas com orquestrações “americanizadas”. A produção musical brasileira dessa época estava muito próxima da música recorrente nos Estados Unidos, como aponta Tinhorão: As composições que surgiram nessa época, que em alguns pontos não se poderia distinguir da música norte-americana, eram arranjadas pela nova geração de orquestradores, todos eles (incluindo Radamés Gnattali) profundamente influenciados pela música americana tipo Gershwin. Esses arranjadores, haviam se formado no período mais intenso da propaganda de guerra norte-americana. (TINHORÃO, 1966, p. 63-64) Nos Estados Unidos do final dos anos 30, houve uma séria crise financeira que fez que com que não houvesse mais tanto dinheiro para bancar as Big Bands e isso favoreceu o surgimento de grupos com formações menores. A partir desse momento, Ella-(Fitzgerald, cantora)*minha notacomeçou a cantar e a fazer turnês acompanhada por grupos menores como Delta Rhythm Boys, Four Keyes e Ink Spots, e depois aceitou o convite para se apresentar ao lado da banda de Dizzy Gillespie, àquela altura já a frente da revoluição do Bebop. (STARLING, 2010, pg.9) Tinhorão (1966) aponta um fenômeno semelhante ocorrido no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro no final dos anos 40 – o da substituição gradativa das grandes orquestras por grupos menores. O fim da era das grandes orquestras, após o fechamento dos cassinos no Brasil, em 1946, e a rápida decadência dos programas 12 de música ao vivo das rádios, ante o aparecimento da televisão em 1950, repercutiu na área da música instrumental através de uma tendência elitizante que ia explicar, já em 1958, o aparecimento da chamada bossa nova. Foi a onda dos pequenos conjuntos á base de piano, baixo e bateria, especialistas em tocar música americana para o novo público das casas noturnas das áreas elegantes cariocas, denominadas boites. [...] Reproduziu-se com mais de dez anos de atraso o que aconteceu nos Estados Unidos, quando músicos como Dizzy Gillespie, Kenny Clarke e Thelonious Monk criaram em suas jam sessions no cabaré Minton’s, no Harlem, em Nova York, as variações complicadas do bebop. (TINHORÃO, 1966, p. 70-71) Desde a época da Política da Boa-Vizinhança colocada em prática entre o Brasil e os Estados Unidos, o país sofreu influência direta em várias áreas. Desse modo, podemos entender que além do contato direto com a música e com o cinema, o Brasil esteve exposto à cultura norte-americana de maneira mais abrangente, passando também pelo modo de vida, a idéia de mercado, as relações sociais e também o lazer. De fato, como o processo de concentração urbana contemporânea da Segunda Guerra Mundial havia provocado no Rio de Janeiro uma verdadeira explosão imobiliária em Copacabana, transformando aquela área da Zona Sul carioca no bairro das novas camadas média e alta,(...) a diversão a ser oferecida a tal tipo de gente, na falta de modelo prévio local, só podia ser o equivalente da mesma classe nos países mais desenvolvidos da Europa e dos Estados Unidos. (TINHORÃO, 1966, p. 71) Assim, quando a grande máquina da indústria e da publicidade mudou, de repente, o penteado e a altura das saias das mulheres, os conceitos de moral e o ritmo das danças,(...), as camadas médias da população do Rio de Janeiro – onde também se verificava um acelerado processo de urbanização – passaram a adotar as novidades norte-americanas como modelo, através de um mimetismo que atingiria a música popular. (TINHORÃO, 1966, p. 51) Para não deixar dúvidas quanto a essa vinculação dos músicos jovens componentes dos pequenos conjuntos de Copacabana na década de 1950 com seu modelo norte-americano, suas exibições eram chamadas de “samba sessions”, e a parte que tocava ao jazz – e logo explicaria o surgimento da bossa nova – não seria negada mais tarde pelos próprios envolvidos nesse processo de aculturação desejada. Nós fazíamos muito negócio de jam session, até que surgiu a idéia de uma jam session samba” (Menescal p.95); “A nossa formação era baseada na música americana” (Eumir Deodato p.100); “Acho que a formação de todo mundo da bossa nova é de jazz. Menescal e Lira, todos tiveram contato com o jazz” (Ronaldo Bôscoli p.191); 13 “Fundamentalmente na arquitetura da música, na parte da composição mesmo, nas novidades dos acordes, realmente no começo fomos influenciados pelo jazz” (Edu Lobo p.140). (MELLO apud TINHORÃO, 1966, p. 72-73) A Canção de protesto e a retomada de valores culturais nacionalistas A partir de 1958, passamos a reconhecer um dos movimentos musicais mais importantes e representativos da música brasileira que foi a Bossa Nova. Visconti destaca que os músicos desse movimento mesclaram harmonias provenientes do jazz norte-americano com a batida do samba carioca. Novas concepções musicais foram criadas e, com o disco Chega de Saudade de João Gilberto, este novo gênero musical foi amplamente divulgado. A tensão entre nacional (samba) e influência estrangeira (jazz) levou à redefinição do conceito de música nacional, resultando em uma nova corrente “dissidente” da Bossa Nova que será a canção de Protesto. (VISCONTI, 2005) A partir de meados da década de cinqüenta no Brasil, nota-se uma intensificação dos diálogos estilísticos e transformações técnicas entre essas linguagens e procedimentos musicais diversos - um período de sínteses e de fricções, de bricolagens, em que diversas características de um estilo emergente começam a se estabelecer. Nas composições ocorrem inovações estruturais e nos procedimentos, performances tipicamente jazzísticos, sobre um repertório cuja concepção rítmica se fundamenta no samba. (GOMES, 2007, p.6) O Imaginário Nacional Popular consiste em uma importante questão no debate da música brasileira como coloca Visconti (2005). Ele aponta que na semana de Arte Moderna de 1922 já se criticavam as tendências “europeizantes” de alguns compositores brasileiros e se colocava a necessidade de se romper com padrões da música romântica. E aponta ainda que os Modernistas preconizavam que a construção de uma música brasileira se daria baseada na música folclórica, rural e “pura”, entendida como manifestação autêntica do povo. O Nacionalismo musical durante o Estado Novo no Brasil, consistiu, numa tentativa de consolidar uma unidade nacional, por intermédio da música, com a finalidade de centralizar e unificar a nação. A música como elemento unificador seria a força propulsora desses objetivos, para garantir legitimação do Estado Novo frente à 14 modernidade. Os compositores nacionalistas e alguns intelectuais, compatibilizados com a política Getulista, almejavam a integração e união entre as massas populares, tendo como ponto de partida o resgate do folclore, viabilizando assim, uma música de caráter nacional. Tais questões são amplamente observadas nas obras de Villa Lobos e Mário de Andrade, onde a (con)fusão entre os interesses do Estado e os ideais nacionalistas se tornam evidentes. (VISCONTI, 2005, p. 29) A essa altura começa-se novamente a trazer à tona os questionamentos outrora levantados pelos modernistas de 1922. A relação da Bossa Nova - suas misturas e influências externas - com a conduta política Nacionalista que crescia cada vez mais passa a se tornar um importante tema de discussões entre estudiosos da música popular. Nos anos 60, O Nacionalismo musical aparece com uma nova roupagem, mas ainda considerando o pensamento dos Modernistas de 1922. “Conceitos como povo brasileiro, progresso, influência externa, resgate da música regional, nação entre outros, serão reformulados em decorrência dos novos contextos políticos, sociais e econômicos do Brasil.” (VISCONTI, 2005, p.15) Alguns setores da sociedade passaram a destacar a necessidade das Reformas de Base colocadas pelo governo Jango (1961-1964). O Instituto de Estudos Brasileiros (ISEB), o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e os Centro Populares de Cultura (CPCs) da UNE (União Nacional dos Estudantes) trouxeram uma maneira nova de analisar o contexto sócio-político brasileiro. Os intelectuais da esquerda brasileira apontavam uma crise estrutural no Brasil e citavam, por exemplo, a dependência econômica que o Brasil apresentava de outros países, principalmente o capital norte-americano e a grande concentração de terras nas mãos dos grandes latifundiários. Este movimento da esquerda brasileira passou a figurar como um caminho para as mudanças almejadas por grande parte da sociedade. Vários artistas e intelectuais da época passaram a discutir e a incorporar em suas obras temas recorrentes como resgate de raízes regionais, conscientização do povo para a revolução e anti-imperialismo. (VISCONTI, 2005) No panorama político as canções de protesto realizadas nos anos 60 por vários compositores como Carlos Lyra, Edu Lobo, Sérgio Ricardo e Geraldo Vandré, representavam uma tentativa de sensibilização da sociedade em prol de um país mais justo, diminuindo suas contradições estruturais. (SIMÕES, 2005, p.15) 15 Começamos a perceber que toda a atmosfera política exerceu uma forte influência direta na música popular brasileira. A produção musical popular dos anos 1960 passou a ser, de certa forma, pautada pelos acontecimentos políticos da época. Vários compositores passaram a direcionar politicamente o seu trabalho como forma de reação à realidade que os cercava. Alguns optaram por negar o conteúdo musical estrangeiro que tinham como influência, como veremos adiante o que aconteceu com os músicos do Quarteto Novo e outros se aventuraram em uma possível fusão. Devido à situação política brasileira naquele período e ao advento da Bossa Nova, a canção de protesto, elaborada pelos músicos que faziam parte do CPC (ou que se identificavam com a política cultural deste órgão), veio a contestar a Bossa Nova, tida como expressão do imperialismo norte americano. Edu Lobo, Carlos Lyra e Geraldo Vandré, que possuíam uma formação musical abrangente, que incluía a música norte-americana, começaram a pesquisar e compor músicas baseadas em elementos regionais brasileiros, promovendo assim uma fusão entre o regionalismo brasileiro e a influência norteamericana. Esses músicos acreditavam que tal prática representava uma possível aproximação com o povo, o que poderia ser um meio para a intervenção do artista na realidade social do país, contribuindo para a transformação da sociedade. (VISCONTI, 2005, p.33) O Quarteto Novo: uma breve trajetória Na virada do século XIX para o XX surgiu no Brasil uma música que passou a ser considerada tipicamente brasileira. O Choro, como foi chamado, nasceu da mistura da música africana com a música européia no contexto da urbanização do Rio de Janeiro. Até o final dos anos 1950, o Choro e todos os seus desdobramentos e variações como a Polca e o Maxixe eram conhecidos como a música instrumental brasileira dentro e fora do país. Nesta época vimos nascer a Bossa Nova pela influência direta do jazz norte-americano no samba brasileiro. A Bossa Nova ficou então conhecida como Brazilian Jazz e foi exportada para o mundo todo. Paralelamente à Bossa Nova, temos na música instrumental a presença do Samba Jazz que misturava a bagagem rítmica do samba com as harmonias e a linguagem de improvisação calcada no bebop desenvolvido principalmente por Charlie Parker. 16 A música do Quarteto Novo emerge ao final dos anos 1960 em meio a um complexo caldeirão político-social baseado na valorização da cultura nacional. O grupo mergulha em uma experiência política e musical de criar um gênero musical que explicitasse uma sonoridade brasileira no que tange aos ritmos típicos do nordeste e um desenvolvimento harmônico, melódico, composicional e de improvisação que fugisse da influência do jazz norteamericano. O quarteto era formado por Heraldo do Monte, Hermeto Pascoal, Théo de Barros e Airto Moreira. O grupo nasceu do Trio Novo, que acompanhou o cantor Geraldo Vandré na segunda metade dos anos 1960. Estes anos foram marcados pela dura repressão da Ditadura Militar. Muitos artistas passaram a pensar uma arte engajada, que fosse capaz de influenciar as pessoas e ser combativa à condição em que se encontrava o Estado brasileiro. A trajetória do grupo tem início em 1966 quando os músicos Airto Moreira, Heraldo do Monte e Théo de Barros formam o Trio Novo para acompanhar o cantor e compositor Geraldo Vandré. Posteriormente, com a classificação da canção “Disparada” (autoria de Vandré e Théo de Barros) no II Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, Hermeto Pascoal (flauta e piano) se junta ao grupo formando o Quarteto Novo. A disputa final deste festival se deu entre a supracitada “Disparada” e “A Banda”, de Chico Buarque. Foi uma passagem polêmica que teve um empate como resultado final. Mas, segundo Simões (2005), Chico Buarque teria se recusado a receber o prêmio sozinho, pois reconheceu o valor daquela obra. A união entre os músicos do Quarteto e Geraldo Vandré foi uma experiência enriquecedora para todos. Houve uma convergência sadia e equilibrada entre os interesses políticos e ideológicos no que diz respeito tanto à forma quanto ao conteúdo da música que eles propuseram. Heraldo do Monte disse na época que houve de fato alguma relação entre a parceria do grupo com Vandré, o contexto histórico dos anos 1960 e o projeto estético do Quarteto Novo: Tudo isso era acompanhado pela atmosfera da ditadura. Tudo que você fazia era tentando respirar um pouco. Agora, o negócio do Quarteto era o nacionalismo musical. O do Vandré era protesto, e a gente uniu as duas coisas, e acompanhou bastante o Vandré. Ele foi muito importante no financiamento do Quarteto Novo, porque a gente 17 parou tudo, deixamos outros trabalhos, pra se dedicar ao grupo.(TARELHO 2004, p.03) Vandré tinha clareza do som que serviria ao seu propósito e sabia que aqueles eram os músicos ideais para executar aquela idéia, pois estavam muito inseridos naquele contexto da canção de protesto e tinham a formação jazzística que conferiria técnica e acabamento àquela música. Acho até que os improvisos que uso nas minhas canções nordestinas são de influencia “jazzística”. Sou fã do “Jazz”. Quando formei o Quarteto Novo e pedi ao Heraldo para tocar viola e fazer improviso, pretendia colocar nas mãos de um músico de “Jazz” a possibilidade de realizar aquilo que um violeiro do meu país realizaria se tivesse a técnica de um músico de “Jazz”. (MELLO, 1976, p. 191) Questões como o financiamento do projeto também se mostraram bem resolvidas e possibilitaram um momento de convivência entre os músicos que encontraram condições favoráveis para o desenvolvimento das idéias que pretendiam. O Vandré foi o mecenas do Quarteto Novo. Nós ficamos um ano acompanhando-o, éramos exclusivos do Vandré, e daí aparecia convites de shows em todos os lugares. E todo mundo queria gravar com a gente, se apresentar com a gente. (http://www.jornaleco.com/Entrevistas/) A esta altura, a imagem e o som do Quarteto Novo com Vandré já estavam vinculados e associados ao projeto da esquerda intelectual, caracterizada pelo nacionalismo musical praticado pela nova safra de compositores. (SIMÕES, 2005) Havia uma parte desses artistas que não estavam satisfeitos em abandonar a estética da Bossa Nova e passaram a tentar utilizá-la com letras engajadas. Entre 1964 e 1965, o projeto da “bossa” nacionalista dividiu-se em várias frentes. No panorama musical “engajado”, novos compositores, novos materiais sonoros e padrões de interpretação foram surgindo, à medida que o mercado musical se tornava mais complexo e amplo. O tema da resistência passava a ser tão importante quanto a busca de uma consciência nacional-popular em forma de canção. A colocação do problema político ideológico, numa perspectiva “popular”, cujo pólo passava a orientar o “nacional” (antes de 64 parece ter prevalecido o contrário), exigia, por parte da esquerda nacionalista produtora de cultura, uma revisão dos paradigmas de criação. (NAPOLITANO, 2001, p. 105-106) 18 CAPÍTULO II A importância da produção do Quarteto Novo para história da música brasileira fica evidente quando se tenta esboçar uma linha temporal estilística. A música do grupo surge como uma síntese do que vinha acontecendo desde o choro, a bossa nova e o samba-jazz, além de apontar novos rumos para a música instrumental brasileira. E ainda que trazendo um material com um frescor ainda não presenciado, é possível dizer que podemos notar rupturas e continuidades do que se vinha fazendo nos estilos anteriores no que se refere à influência direta do jazz. O Quarteto, de uma forma ou de outra, estava inserido neste panorama do SJ, entretanto, o ritmo samba já não comporta mais o conteúdo sonoro do grupo, na medida em que o universo rítmico se amplia consideravelmente. O estilo introduzido por eles emprega basicamente os mesmos procedimentos jazzísticos, porém sobre uma gama de gêneros que vai além do samba, portanto o termo sambajazz não mais suporta a produção do grupo, que improvisa sobre uma série de ritmos aceitos como de origem nordestina como o baião, forró, xote, entre outros. (GOMES, 2007, p.11) Dessa maneira, fica clara a posição do Quarteto Novo como marco na história da música brasileira, por dialogar com a tradição do jazz e da própria música brasileira, e fazer dessa mistura uma abertura de possibilidades até então não exploradas. Gomes (2007, p.11) ratifica a posição do Quarteto Novo como marco da história da música brasileira: “Por isso o ano de 1967 tem o papel de marco, pois é provavelmente o primeiro momento em que se observa a pressão dos discursos engajados da época surtindo efeito num conteúdo sonoro instrumental, o disco de estréia do Quarteto Novo.” A solução seria apontar uma data onde a expressão samba-jazz não suportasse mais a sua produção musical. Como não é possível delimitar um ponto onde não exista mais influência do jazz, no sentido de que, virtualmente, tal influência existe até hoje, deve-se achar um ponto onde o rótulo samba não suporte mais o conteúdo sonoro produzido, pois outros ritmos começam a fazer parte do tabuleiro do qual partem as bricolagens. (GOMES, 2007, p. 11) Havia uma certa polêmica entre uma parte dos bossa-novistas que praticavam um lirismo voltado ao romantismo com os sentimentos de dualidade causados por relacionamentos e a exaltação da beleza do objeto amado, em detrimento daqueles letristas que prezavam por explicitar os problemas vividos 19 pelo país daquela época e utilizavam isso como tentativa de transformação da realidade. Na literalidade das canções, até certo ponto pode-se distinguir o que seria música supostamente alienada ou engajada. De um lado, o “amor, o sorriso e a flor” e de outro, a canção de protesto. Dentro desse quadro acontecem discussões específicas sobre o conteúdo musical, onde existem divergências em relação ao tratamento sonoro propriamente dito. Para ser verdadeiramente brasileira e revolucionária, teria a música de ter conteúdo harmônico/melódico ingênuo, ligado a supostas escutas do povo? (GOMES, 2007, p. 11) Acontece que não é possível dissociar todo esse contexto da história do Quarteto, ainda que sua produção seja estritamente instrumental. Isso se torna então um claro exemplo onde discussões ideológicas influenciam drasticamente o critério estético da produção instrumental do grupo. Algumas correntes entendem que não só o conteúdo poético da BN é “alienado”, mas também seus procedimentos técnico-musicais. Outras acreditam que para engajá-la, basta que se alterem suas letras. Até onde tais premissas ideológicas alteram ou são alteradas pelo próprio fazer musical? Nota-se então um hiato entre 1963, ano considerado o da “morte” da BN e 1967, momento em que o discurso nacional popular atinge a produção instrumental. Vale lembrar que nesse intervalo de tempo, como já visto, a produção de SJ é intensa. (GOMES, 2007, p. 11) Nos discursos dos integrantes do grupo, já pudemos perceber que apesar de estarem incluídos naquele contexto e sofrerem a influência direta do discurso Cepecista, eles estavam preponderantemente interessados nos resultados instrumentais que poderiam e deveriam explorar. De certa forma, a discussão que se acentua com os CPCs e a Canção de Protesto , ao eleger as letras como alvo da discussão nacionalista na música popular, a um só tempo começa a influenciar conteúdos sonoros, enquanto relega a produção instrumental a um segundo plano. Todavia, enquanto obra instrumental, ela consegue se isentar de certas pressões dos discursos nacionalistas e assim seguir em frente com sua produção. (GOMES, 2007, p. 11) Gomes faz um classificação de períodos da década de 1950 até o final dos anos 1960, onde distingue a produção da bossa nova e do samba-jazz até a ruptura dessa trajetória com o lançamento do disco do Quarteto Novo. A proposta de periodização resulta no seguinte: uma primeira fase iniciada em 1952, a partir do disco de estréia de Alf, até 1958, data inaugural da BN, intitulado período do SJ prébossa nova. E a 20 segunda fase, do SJ pós-bossa nova, começaria no mesmo ano de 1958 e iria até 1967, com a gravação do primeiro disco do Quarteto Novo. (GOMES, 2007, p. 12) • De 1952 a 1958: Samba-Jazz pré-Bossa Nova • De 1958 a 1967: Samba-Jazz pós-Bossa Nova A questão modal Uma das características muito citadas a respeito da música do Quarteto Novo é a utilização da música modal para compor e para improvisar. Tiné (2014) coloca que o uso jazzístico do modalismo passou a figurar na música popular brasileira através dos meios de comunicação de massa como o rádio e os discos e atesta que a música brasileira assimilou esses elementos jazzísticos. Durante a década de 1960, muitos compositores e instrumentistas do gênero popular começaram a intencionalmente buscar sonoridades mais tipicamente brasileiras. Um bom exemplo disso foi o grupo “Quarteto Novo” formado por Hermeto Pascoal, Heraldo do Monte, Theo de Barros (parceiro de Geraldo Vandré em Disparada) e Airto Moreira. No compacto lançado em 1967, houve a interpretação de Ponteio (Edu Lobo) e Fica Mal com Deus (Geraldo Vandré), duas canções marcantes do período, de forte caráter modal ligado à música nordestina. (TINÉ, 2014, p. 111) Para um melhor entendimento dessa questão é necessário uma conceituação um pouco mais detalhada acerca da música modal e do jazz modal. Wisnik nos mostra uma idéia preliminar sobre esse assunto no capítulo entitulado “Modal” de seu livro “O som e o sentido: Aquele conjunto mínimo de notas com as quais se forma a frase melódica costuma ser chamado de “escala” (ou “modo”, ou “gama”).(...)A escala é um estoque simultâneo de intervalos, unidades distintivas que serão combinadas para formar sucessões melódicas. A escala é uma reserva mínima de notas, enquanto as melodias são combinações que atualizam discursivamente as possibilidades intervalares reunidas na escala como pura virtualidade. As escalas variam muito de um contexto cultural para outro e mesmo no interioir de cada sistema (os árabes e os indianos, por exemplo têm um sistema escalar intrincado, composto por dezenas de escalas e centenas de derivados escalares). As escalas são paradigmas construídos artificialmente pelas culturas, e das quais se impregnam fortemente, ganhando acentos étnicos típicos. Ouvindo certos trechos melódicos, dos quais identificamos não conscientemente o modo 21 escalar, reconhecemos freqüentemente um território, uma paisagem sonora , seja ela nordestina, eslava, japonesa, napolitana ou outra. (WISNIK, 1989, p. 71-72) Quando se fala sobre o uso que o jazz fez dos conceitos de música modal, Jacques cita que: A improvisação modal tornou-se um estilo de jazz(...) desenvolvido nos final dos anos 50 no qual escalas modais ditavam o conteúdo melódico e harmônico das composições,(...) baseadas harmonicamente no emprego de longas sequências sobre um ou dois acordes utilizando o mesmo modo [...] (JACQUES, 2009, p. 268) Jacques (2009) ainda cita que Miles Davis gravou um dos mais famosos álbuns de estrutura modal, o Kind of Blue e da mesma forma Coltrane com A Love Supreme, nos quais exploraram as possibilidades de improvisação modal. John Coltrane também fala sobre sua relação com Miles e as experimentações dos dois com o jazz modal, como Kahn (2007) relatou: Encontrei Miles em meio a um novo estágio de seu desenvolvimento musical...no passado, ele se dedicava a estruturas de muitos acordes. Ele se interessava pelos acordes pelo que eram. Mas agora parecia seguir a direção oposta, com o uso de cada vez menos mudanças de acorde na música. Ele tocava frases que fluíam soltas... graças ás frases diretas e soltas de sua música, tive facilidade de aplicar as minhas idéias harmônicas. (KAHN, 2007, p.59) Kahn (2007), cita que “a música de Davis passou a se apoiar nas escalas em vez de modelos de acordes estabelecidos. Os tempos quase sempre intensos do grupo foram desacelerados, enquanto o movimento harmônico foi acalmado.” E enfatiza ainda um marco importante sobre o grupo de Miles do final dos anos 50 e suas experiências modais, dizendo que “O sexteto pôs a idéia em prática pela primeira vez em Milestones, em fevereiro de 1958.” Sobre esse disco Miles declara: Foi o primeiro disco em que realmente passei a compor na forma modal, e, na faixa-título, usei mesmo essa forma... quando você toca desse jeito, vai nessa direção, não precisa parar nunca mais... o desafio quando se trabalha com o modal é perceber quanto você se torna inventivo melodicamente. (KAHN, 2007, p.59) Não há necessidade de entrarmos aqui em uma discussão essencialmente temporal sobre qual foi a primeira manifestação musical modal dentro do contexto do Jazz. Basta deixarmos claro que, em 1958 temos o lançamento de Milestones que inevitavelmente trouxe à luz a discussão sobre 22 essa abordagem modal no jazz. Fica claro, portanto, que em 1967, quando o Quarteto Novo lança seu primeiro disco, a utilização do pensamento modal não era mais novidade. Essa estética musical já havia sido explorada anteriormente, por músicos que também pretendiam abandonar a linguagem estabelecida previamente pelo Bebop. Podemos exemplificar a escolha de seções modais que servem de base para improvisação em 3 músicas do disco. Na faixa “Vim de Santana”, temos apenas dois acordes como base para os solos, que caracterizam o modo de Gm dórico: Figura 1 Na música misturada, temos o modo de A mixolídio. Para a seção dos solos, temos uma forma aberta, de samba em 7/4 desta maneira: Figura 2 Na faixa intitulada “O ovo”, os solos se dão na forma da música, sobre acordes baseados no modo de B mixolídio. Na parte B percebemos uma intenção de IV grau, que logo retorna ao B mixo por uma cadência plagal. 23 Figura 3 Os solos em chorus A idéia em si de ter uma seção com forma fixa aberta a solos improvisados é uma prática que foi concebida e desenvolvida na tradição do jazz. Portanto, a improvisação em chorus é uma prática adotada pelo Quarteto Novo e remete á procedimentos jazzísticos de conceber a música. Com elementos e procedimentos musicais, tanto na improvisação, como na composição e arranjos, possivelmente oriundos das tradições regionais nordestinas (modos, escalas, harmonias modais, ritmos, sotaque, fraseado etc.) e da linguagem jazzística (estrutura dos improvisos, instrumentação, improvisação em “chorus”,[...] (GEROLAMO, 2012, p. 756) Piedade faz uma distinção entre estilos diferentes de improvisação. Ele cita a maneira mais “tradicional”, utilizada até hoje por músicos de choro, e aponta uma maneira mais livre, e utilizada no jazz, onde o solista cria melodias mais distantes do tema da música, como é o caso do Quarteto Novo. Talvez não sejam propriamente duas escolas, mas duas tendências que dialogam entre si. Na tendência mais conservadora, os improvisos mantêm-se como variações da melodia (para o solista), acontecendo durante a música inteira (para todos os músicos). Na tendência mais “jazzística”, as harmonias ganham tensões características do jazz e os improvisos muitas vezes nada têm a ver com o tema melódico, mas a harmonia se mantém, como na idéia de chorus. (BASTOS, PIEDADE, 2006, p.4) Isso pode ser verificado neste trecho do solo de guitarra de Heraldo do Monte, na música “Vim de Santana”, transcrito por Eduardo Visconti. Podemos 24 perceber claramente o distanciamento da melodia criada por Heraldo do Monte da melodia original do tema. Figura 4 A partitura com o tema original pode ser verificada nos anexos. Aproximações cromáticas Quando os integrantes do Quarteto Novo citam e discutem suas questões se utilizando do termo “jazz”, pode-se inferir seguramente que eles estão se referindo à linguagem estabelecida na era do Bebop, como podemos verificar na fala de Heraldo do Monte: Então tivemos a seguinte idéia : Que tal também criarmos uma linguagem de improviso ? O Hermeto e eu temos essa coisa de nordestinos e a gente usou essa vivência para criar. Começamos a ouvir folclore , treinar e criar. A coisa mais óbvia que se separava do Bebop era a linguagem nordestina e então a gente se policiava : Cuidado com essa frase que está parecendo Bebop. (VISCONTI, 2005, p.35) 25 Em geral, tem-se no senso comum, que, quando se fala em jazz e aproximações cromáticas, principalmente no contexto que tratamos do assunto, é sintomático que se esteja referindo ao Bebop. Este termo cobre a referência ao mundo do jazz através de procedimentos melódicos tipicamente jazzísticos, uso de certas padrões e convenções, como notas-de-aproximação cromática típicas do jazz, fraseados do tipo Charlie Parker. (BASTOS, PIEDADE, 2007) Bastos e Piedade (2007) especificam este “jazz” como uma referência real ao Bebop: “Este estilo é pontual: trata-se de um jazz específico, o chamado Bebop, que tinha seu príncipe em Charlie Parker, que delineou os limites e as convenções que fundam essa linguagem”. Podemos notar que o estilo Bebop está fortemente associado ao seu principal ícone, o saxofonista Charlie Parker e vemos que a principal referência sobre sua obra consta na compilação de transcrições e temas tocados por ele, chamada Omni Book. “O jazzista tem sua gramática implícita no famoso Omni Book, livro de transcrições dos grandes solos de Charlie Parker, que funciona como um tratado sem teoria, só com exemplos.” (PIEDADE, http://www.ceart.udesc.br/Revista_Arte_Online/Volumes/Etnomusicologia.htm) Desse modo, podemos verificar uma passagem onde se encontra um exemplo claro de como Charlie Parker estruturava sua linguagem baseada nas aproximações cromáticas. Figura 5 No terceiro compasso deste trecho temos o acorde de G-. A partir da segunda semi-colcheia de segundo tempo temos as notas: Sol, Sib, Ré e Fá. Essas notas caracterizam um arpejo do acorde de G-7 em posição fundamental. O fato é que na primeira semi-colcheia do segundo tempo temos uma nota Fa#. Essa é uma nota estranha à harmonia daquele momento que é tocada em tempo forte, na cabeça do tempo, mas é uma nota curta, de 26 passagem, que gera uma breve tensão e logo escorrega para a nota Sol, que é a fundamental do acorde. Este é um procedimento típico encontrado nos solos de Charlie Parker e é uma das principais características atribuídas ao Bebop. Podemos verificar que este tipo de recurso é seriamente evitado nos solos improvisados do Quarteto Novo. Vejamos o exemplo de um trecho do solo de flauta de Hermeto Pascoal na música Misturada. Figura 6 Fica claro que aqui temos uma abordagem bem diferente da de Parker. Percebe-se neste trecho que Hermeto utiliza apenas notas diatônicas ao modo de A mixolídio. Em nenhum momento se verifica a presença de aproximações cromáticas. O solo é estruturado sobre um rearranjo melódico respeitado o modo/escala original sobre o qual esta progressão de dois acordes foi construída. 27 A questão rítmica A questão rítmica é uma parte muito importante a ser considerada quando se pretende distinguir as aproximações e distanciamentos da música do Quarteto com o jazz norte-americano. Todo o fraseado rítmico do Bebop está fundamentado basicamente nas variações de colcheias. É claro que outras figuras também aparecem com freqüência, mas a construção da sensação rítmica do Bebop está concentrada no uso de colcheias e sua interpretação diferenciada. Podemos verificar essa característica em 1 chorus de solo de Parker na música Klaun Stance, retirado do Omni Book: Figura 7 Sobre as nuances de interpretação rítmica no jazz, Piedade nos fornece a seguinte explicação: Alguns pressupostos são básicos para se ingressar no universo musical do jazz. A começar pela partitura, todo aspirante a jazzista deve saber antecipadamente que a notação musical utilizada, nascida em berço erudito, é inadequada para o jazz; mesmo assim sendo usada, a chave é lê-la de forma "errada", tornando doze o que é quatro, três o que é um: pode-se chamar este processo de "compostização", um mecanismo imediato para os leitores de partitura mais experientes. A partitura de jazz, se lida "literalmente", pode parecer uma marcha militar ou uma canção de ninar, tudo menos jazz. A "compostização", no entanto, não pode ser algo mecânico, correndo o risco de não ter swing. Para "swingar", além dela é necessário deslocar os acentos do primeiro e terceiro para o 28 segundo e quarto tempos. O jazzista conta 1,2,3,4, mas os tempos considerados fortes, aqueles nos quais ele estala os dedos quando estão livres, são o 2° e o 4° , contrariando novame nte os pressupostos teóricos da música européia. Na dimensão rítmica parece uma guerra entre Europa e África, terminando pela incorporação "criolizada" do modelo europeu: o que alias se deu em inúmeras outras questões. (PIEDADE, http://www.ceart.udesc.br/Revista_Arte_Online/Volumes/Etnomusicol ogia.htm, Acacio Piedade) Simões (2005) analisou os solos improvisados contidos nas faixas “O ovo”, “Síntese”, “Misturada” e “Vim de Santana”. A partir de sua análise das figuras rítmicas mais recorrentes podemos chegar basicamente às seguintes figuras: Figura 8 29 Podemos notar, portanto, que há um predomínio do uso das semicolcheias e suas variações, além da presença da figura da síncope, com uma semi-colcheia, uma colcheia e outra semi-colcheia ocupando o espaço de um pulso. Na música “Misturada” percebemos o uso principalmente de colcheias e semínimas, por se tratar de um samba em 7/4 rápido, mas notamos a prevalência das semi-colcheias e síncopes nas músicas analisadas. As diferenças rítmicas entre o jazz e a música do Quarteto são grandes. A proposta de se tocar ritmos como o baião e seus derivados já implica em uma abordagem diferente da idéia rítmica do jazz. Não existe a idéia de uma subdivisão ternária subjetiva, pela qual o solista se guia para encaixar as colcheias, mas sim um ritmo mais firme, com as notas no tempo exato. A subdivisão binária é clara e isso faz com que a música e os solos soem bem diferentes da interpretação do Bebop. A questão da instrumentação Como pudemos conferir no capítulo anterior, devido à crise dos anos 1930 nos Estados Unidos, as Big Bands foram dando lugar à “combos” menores que ficaram consagrados por seu equilíbrio entre instrumentos percussivos, acompanhamento harmônico e melodia. Tinhorão (1966, p.71) descreve esses “combos” como “grupo instrumental sem formação certa, que acabaria fixando a base piano, baixo e bateria, complementada por saxofone ou piston”. A instrumentação do Quarteto Novo fricciona-se (Piedade, 2003) com a formação clássica dos grupos de jazz na medida que rompe com alguns padrões, mas guarda uma certa continuidade textural. O grupo é formado pelo contrabaixo acústico que é tocado por Théo de Barros, um instrumento típico, dos mais antigos e tradicionais, que já estava presente no jazz desde a era das Big Bands, portanto, uma continuidade do jazz. A Viola Caipira agrega um timbre inovador para esta formação, pois é um instrumento tipicamente interiorano, e a abordagem guitarrística conferida por Heraldo do Monte abre novas possibilidades em termos de acompanhamento e solo. O piano também é um instrumento consagrado no jazz, porém não se faz essencialmente presente nesse contexto como nos combos de jazz, pois nesse 30 caso ele tocado por Hermeto Pascoal, que também é o flautista do grupo. A flauta ganha um destaque especial porque sua sonoridade está intimamente ligada à música popular brasileira desde o seu início, na tradicional formação dos regionais de choro com flauta cavaquinho e violão. A escolha da flauta como instrumento melódico confere uma referência mais brasileira do que um saxofone o faria. A grande inovação fica por conta de Airto Moreira, que, além de tocar bateria, desenvolveu um “set” específico, original e altamente adequado para completar o som do Quarteto novo. Sua variedade timbrística extrapola as possibilidades de uma bateria de jazz, preenchendo o som com ostinatos e efeitos. Simões (2005) cita a percussão de Airto ainda na época do Trio Novo, acompanhando Vandré: O grande triunfo de Disparada foi conciliar a textura sonora de seu arranjo instrumental com as imagens poéticas que a letra oferece. Para isso foram usados instrumentos típicos. Mas, o que chamou a atenção foi o instrumento percussivo de efeito Queixada de Burro, que consiste na parte inferior da ossada da mandíbula do animal. ‘A novidade, descoberta por Airto Moreira numa loja em Santo André, emprestou maior rusticidade ao acompanhamento, além de evocar uma visão forte da seca’ (SIMÕES, 2005, p. 13) 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pudemos acompanhar um breve esboço da trajetória política brasileira na faixa que contempla basicamente os anos 1950 e 1960 e como os processos e acontecimentos políticos tiveram uma forte influência direta na cultura como um todo e pontulamente nas produções musicais dessa época. Ficou constatado também que a relação do Brasil com os Estados Unidos tem um papel crucial no desenvolvimento da música brasileira e suas mudanças ao logo da trajetória. A Canção de Protesto trouxe à tona o nacionalismo musical que teve Geraldo Vandré como um importante expoente. A relação de Vandré com os músicos do Quarteto Novo gerou um impacto irreversível na música instrumental brasileira, que passou por um processo de renovação e uma tentativa de se desvincular da influência do jazz norte-americano, mais precisamente o Bebop – na figura de Charlie Parker. O Quarteto Novo passou a propor uma música que se voltasse para às raízes brasileiras e para isso passou a utilizar ritmos provenientes do nordeste como o baião, além de trabalhar com música modal, composicionalmente e na improvização. Hove uma tentativa de abandonar as referências jazzísticas a que estavam acostumados. A partir desse processo, foi possível perceber que o Quarteto Novo realmente conseguiu estabelecer uma música instrumental popular brasileira verdadeiramente e que acabou por se tornar um marco temporal na produção musical brasileira. O grupo inovou principalmente no aspecto rítmico e na instrumentação e conseguiu se distanciar do jazz por meio da eliminação da linguagem de improvisação desenvolvida na era do Bebeop, focada nas aproximações cromáticas. Para isso, o quarteto fez uso do modalismo, uma prática que também foi usada pelos jazzistas americanos. Além disso, houve uma continuidade na idéia de improvisação em chorus, onde as novas melodias improvisadas guardam profundas diferenças com a melodia original da música. Sendo assim, optamos por trabalhar então com o conceito de “fricção musical” desenvolvido por Piedade (2003), por se tratar de um pensamento no mínimo isento de radicalismos e que propõe a idéia de que tanto a música brasileira como o jazz possuem essências próprias, que quando colocadas em 32 confronto podem gerar um diálogo que traga outras possibilidades outrora não exploradas. Aqui, as musicalidades dialogam, mas não se misturam, suas fronteiras musical-simbólicas não são atravessadas mas são objetos de uma manipulação que acaba por reafirmar as diferenças. A metáfora mecânica da fricção implica que os objetos postos em contato se tocam e esfregam suas superfícies, podendo chegar a trocar partículas, mas os núcleos duros das substâncias tende a se manter. Por isto não é o caso de se falar em complementaridade, como muitos discursos ingenuamente fazem, pois o caráter não é construtivo, mas sim de tensão e flexibilidade [...] (PIEDADE, 2005, p. 1068) Essa relação de tensão e flexibilidade que caracteriza a idéia de “fricção musical” é benéfica para o processo de evolução musical sendo parte constitutiva no desenvolvimento da música brasileira e acaba por ser um importante traço distintivo dessa música que está em constante processo de mudança. Mas o jazz brasileiro, como procurei mostrar, ao mesmo tempo que canibaliza o paradigma bebop, busca incessantemente afastar-se da musicalidade norte-americana, isto através da articulação de uma musicalidade brasileira. Esta dialética seria, assim, congênita e essencial ao jazz brasileiro enquanto gênero musical, dotado de uma estabilidade em termos de temática (a fricção de musicalidades sendo aqui constituinte, evidenciando-se principalmente nas improvisações), de estilos (fundamentalmente idiomas regionais, como a musicalidade nordestina) e de estruturas composicionais (no código musical propriamente, como na rítmica e no emprego de determinados modos). (Piedade, 2005, p. 1066) 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BASTOS, Mariana; PIEDADE, Acácio. Análise de improvisações na música instrumental: em busca da retórica do jazz brasileiro. Revista Eletrônica de Musicologia, Curitiba, v. 11, 2007. Disponível em: <http://www.rem.ufpr.br/_REM/REMv11/04/04-bastos-jazz.html>. 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