Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio PARECER TÉCNICO Nº 1832/2009 Processo nº: 01200.003267/2007-40 Requerente: Monsanto do Brasil Ltda. CNPJ: 64.858.525/0001-45 Endereço: Av. Nações Unidas, 12901 Torre Norte – 7º e 8º andares CEP: 04578-000 – São Paulo – SP. Assunto: Liberação Comercial de Algodão Geneticamente Modificado resistente a insetos Extrato Prévio: 1075/2007, publicado em 28/06/2007 Reunião: 123ª Reunião Ordinária, ocorrida em 21/05/2009 Decisão: DEFERIDO A CTNBio, após apreciação do pedido de liberação comercial de algodão geneticamente modificado resistente a insetos (Algodão Bollgard, evento MON 15985), bem como de todas as progênies provenientes do evento de transformação MON 15985 e seus derivados de cruzamento de linhagens e populações não transgênicas de algodão com linhagens portadoras do evento MON 15985, concluiu pelo seu DEFERIMENTO nos termos deste parecer técnico. A Monsanto do Brasil Ltda. solicitou à CTNBio Parecer Técnico relativo à biossegurança do algodão (Gossypium hirsutum) geneticamente modificado resistente a insetos, designado Algodão Bollgard II, Evento MON 15985, para efeito de sua liberação ao livre registro, uso no meio ambiente, consumo humano ou animal, comércio ou uso industrial e qualquer outro uso e atividade relacionada a esse OGM, ou linhagens ou cultivares derivadas deste, assim como os subprodutos obtidos, respeitadas as demais legislações e exigências aplicáveis a qualquer utilização das espécies cultivadas do gênero Gossypium vigentes no país. O algodão Bollgard II foi gerado através da introdução, por biobalística dos genes cry2Ab2 e uidA no genoma do algodão Bollgard, aprovado pela CTNBio em 2005. O plasmídeo PV-GHBK11 foi utilizado para a inserção dos genes cry2Ab2 e uidA no genoma do algodão Bollgard para gerar o algodão MON 15985. Assim, o algodão Bollgard II evento 15985 contém os genes exógenos cry1Ac, cry2Ab2, nptII, aad e uidA, expressa as proteínas Cry1Ac, Cry2Ab2, NPTII e GUS, diferindo do seu parental Bollgard, nas proteínas Cry2Ab2 e GUS. A combinação das proteínas Cry2Ab2 e Cry1Ac representa uma ferramenta adicional para a resistência de pragas à proteína Cry1Ac, pois Cry2A é uma classe de proteína oriunda de Bacillus thuringiensis diferente da Cry1Ac. O gene uidA, também conhecido como gene gus ou gusA, derivado de Escherichia coli cepa K12, codifica a enzima GUS, que foi empregada como mecanismo de seleção de células transformadas. O gene cry2Ab2, que codifica a proteína Cry2Ab2, é derivado da bactéria B. thuringiensis, um microrganismo de solo, gram-positivo. Formulações comerciais de B. thuringiensis têm sido utilizadas no Brasil e em outros países para o controle de algumas pragas agrícolas por mais de 40 anos. Cry2Ab2 e Cry1Ac são proteínas com ação bastante específica, demonstrando efeito tóxico apenas por ingestão e atuam em receptores específicos localizados no intestino médio de algumas espécies de insetos da Ordem Lepidoptera. Análises de estabilidade e segregação, em ensaios de ELISA para a proteína Cry2Ab2 em quatro gerações, respaldam a conclusão de que o evento MON 15985 é um evento de cópia única e de inserção estável. A análise de Qui quadrado mostrou que o inserto segrega de acordo com a genética Mendeliana, com um padrão de segregação de um único gene em relação à detecção da proteína Cry2Ab2. Análises de Southern Blot nas gerações R1, R2, R3, e R4 e duas linhagens da segunda geração do retrocruzamento (BC2F3), digeridas com a enzima SphI e hibridizadas com uma sonda da região codificadora do gene cry2Ab2, demonstrou que o transgene é estável entre as diferentes gerações, pois nenhuma diferença foi observada quanto ao padrão de bandas obtido. Diante das análises moleculares apresentadas, o algodão Bollgard II evento MON 15985 possui uma cópia dos genes cry2Ab2, uidA, cry1Ac, nptII e aad, sendo o último não expresso em plantas. Como as seqüências do vetor não fazem parte do inserto, considera-se nulo qualquer potencial real de transferência genética horizontal entre a bactéria doadora do plasmídeo e o algodão receptor. As características Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 1 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio agronômicas do algodão MON 15985 são comparáveis ou superiores às do algodão convencional. O controle de A. argillacea, H. virescens e P. gossypiella foi eficiente, principalmente em condições de alta infestação da praga. Em infestações artificiais de Spodoptera frugiperda verificou-se a redução significativa no número de lagartas e desfolha no tratamento com Bollgard II, porém a eficácia no controle dessa praga foi inferior quando comparada com a das outras pragas alvo. Aparentemente, a inserção do segmento PV-GHBK11L não prejudicou o desenvolvimento da planta. A avaliação do desempenho agronômico de linhagens e cultivares do algodão MON 15985 e cultivares convencionais em condições de cultivo brasileiro demonstrou uma variabilidade normal entre as plantas geneticamente modificadas e as convencionais quanto as características agronômicas (altura de plantas, ciclo até o florescimento, precocidade de maturação, ciclo até a colheita e peso do capulho), produtividade e qualidade de fibra. Embora a combinação de Cry1Ac e Cry2Ab2 tenha mostrado uma eficácia superior que Bollgard, Bollgard II ainda tem sido suscetível a danos causados por Spodoptera spp. e Helicoverpa zea em situações de alta infestação, especialmente na época de florescimento. Táticas de manejo de pestes associadas com o algodão Bt têm resultado em uma drástica redução no uso de inseticidas, o que leva a um aumento significativo das populações de insetos benéficos e, consequentemente, contribui para o controle natural de algumas pragas. Estudos foram conduzidos com organismos indicadores não-alvo como aves, peixes e espécies invertebradas benéficas. Os resultados demonstraram que a proteína Cry2Ab2 no algodão MON 15985 não impõe riscos antecipados para organismos não-alvo. Efeitos adversos não foram observados nas concentrações significativamente maiores que as concentrações previstas pela exposição no meio ambiente. Em todos os casos, a concentração de efeito não observado excede a máxima concentração ambiental indicando risco mínimo da proteína Cry2Ab2 para organismos nãoalvo. Resultados de diversos estudos indicaram que a proteína Cry2Ab2 impõe risco mínimo para organismos benéficos não-alvo. Em estudos com populações de espécies de predadores, tais como Geocoris spp., Orius insidiosus, Nabis spp., Slenopsis invicta, aranhas, cocilinídeos, crisopídeos e hemerobídeos, verificou-se que as populações foram iguais ou maiores nos tratamentos contendo algodão Bollgard e algodão Bollgard II comparado com tratamento com algodão convencional. Em uma análise de mais de 40 experimentos de campo com algodão e milho expressando proteínas Cry verificou-se que, geralmente, invertebrados não-alvo são mais abundantes em campos de algodão e milho Bt do que em campos com culturas convencionais tratadas com inseticidas. Já campos de algodão e milho geneticamente modificados resistentes a insetos, quando comparados a campos de culturas não tratadas com pesticidas têm uma redução estatisticamente significativa do número de alguns organismos não-alvo. Outros estudos verificaram que, em geral, não houve diferenças significativas nas populações de inimigos naturais entre o algodão Bollgard e o algodão convencional. Quando diferenças significativas eram observadas, havia maior abundância de inimigos naturais nos campos de algodão Bollgard devido, provavelmente, ao menor emprego de pesticidas químicos. Também observaram que, quando ovos ou larvas de insetos foram apresentados como presas, as populações de inimigos naturais nos campos de algodão Bollgard exibiam taxas de predação significativamente maiores. Na China foi realizado um monitoramento de organismos não-alvo no nordeste do país em campos de algodão Bt e os resultados indicaram um aumento nas populações de predadores naturais, tais como joaninhas, tesourinhas, aranhas e outros organismos não-alvo, além de ressurgirem pulgões do algodão. No Brasil, verificou-se que o algodoeiro Bt não apresenta ação deletéria ou favorece positivamente alterações no ciclo de vida, sobrevivência, fecundidade e formação de colônias do pulgão Aphis gossypii, em condições de casa de vegetação. Os resultados obtidos pelos autores e dados disponíveis na literatura científica demonstram a alta especificidade da tecnologia Bollgard para o controle de organismos-alvo, sem causar efeitos positivos ou negativos em populações não-alvo, como as do pulgão-do-algodoeiro. Quanto ao risco de fluxo gênico para populações silvestres e a potencial redução de biodiversidade, é importante considerar que para haver introgressão gênica é necessário que primeiro ocorra hibridação e posteriormente uma série de retro-cruzamentos, para que um gene seja incorporado permanentemente em um genoma. Adicionalmente, o potencial de transferência gênica vertical do algodão geneticamente modificado para espécies silvestres em ecossistemas não cultivados é baixo, devido à distribuição relativamente isolada das espécies de Gossypium. Inexistem no Brasil espécies sexualmente compatíveis com G. hirsutum que apresentem características de plantas invasoras, sendo extremamente improvável que os genes cry1Ac e cry2AB2 sejam transferidos para Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 2 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio plantas daninhas tornado-as mais invasivas. Considera-se desprezível a possibilidade do algodoeiro herbáceo Bollgard II se tornar uma planta daninha. Os genes cry foram isolados da bactéria de solo B. thuringiensis e, portanto, a exposição dos organismos vivos e do meio ambiente a essa bactéria ou a qualquer elemento extraído dela é um evento que ocorre abundantemente na natureza. Verificou-se que a adoção do algodão Bt em diferentes países reduziu significativamente as aplicações de pesticidas, proporcionando um benefício ao meio ambiente e trabalhadores. As informações apresentadas indicam que as plantas transgênicas não diferem fundamentalmente dos genótipos de algodão não transformado, à exceção da resistência a certos insetos da ordem Lepidoptera. Não existem restrições ao uso deste algodão ou de seus derivados seja para alimentação humana ou de animais. Conforme estabelecido no art. 1º da Lei 11.460, de 21 de março de 2007, “ficam vedados a pesquisa e o cultivo de organismos geneticamente modificados nas terras indígenas e áreas de unidades de conservação”. A tecnologia Bollgard mostrou-se passível de ser utilizada sob todas as práticas agrícolas comumente utilizadas nas diversas regiões e condições, seja disponibilidade de insumos, mão-de-obra, dentre outros, utilizados na cultura do algodão. Não existem variedades crioulas de algodoeiros e as cadeias de algodoeiros especiais, convencionais e transgênicos têm convivido de modo satisfatório, sem que tenham sido divulgados relatos de problemas de coexistência. Conforme o Anexo I da Resolução Normativa nº 5, de 12 de março de 2008, a requerente terá o prazo de 30 (trinta dias) a partir da publicação deste Parecer Técnico, para adequar sua proposta de plano de monitoramento pós-liberação comercial. No âmbito das competências do art. 14 da Lei 11.105/05, a CTNBio considerou que o pedido atende às normas e à legislação pertinente que visam garantir a biossegurança do meio ambiente, agricultura, saúde humana e animal. PARECER TÉCNICO I. Identificação do OGM Designação do OGM: Algodão Bollgard II Evento MON 15985 Espécie: Gossypium hirsutum Característica Inserida: Resistência a certos insetos praga Método de introdução da característica: transformação de plantas por aceleração de partículas Uso proposto: liberação no meio ambiente, comercialização, consumo e quaisquer outras atividades relacionadas a esse OGM e seus derivados II. Informações Gerais O algodoeiro herbáceo (Gossypium hirsutum L.), pertencente a família Malvaceae, é um vegetal alotetraplóide, nativo do México e sexualmente compatível com todas as demais espécies alotetraplóides do mesmo gênero. É uma das plantas cultivadas de maior uso pela humanidade (12) e no Brasil é cultivado em pequenas e grandes propriedades em regiões com condições ecológicas distintas (18) . O algodoeiro é uma das principais plantas cultivadas, representado por espécies comerciais, tais como G. hirsutum, G. barbadense, G. aboreum e G. herbaceum. G. hirsutum é a principal delas com produção da ordem de 90% do total da fibra de algodão produzida no mundo, sendo sua fibra a responsável por mais de 40% da vestimenta da humanidade (7) . O algodão é considerado um dos Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 3 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio produtos agrícolas primordiais e de grande importância para o Brasil, destacando-se por seu complexo processo produção/indústria e pela elevada utilização de mão-de-obra. Dois tipos de algodoeiro são predominantemente cultivados no Brasil: o convencional e o algodoeiro geneticamente modificado resistente a lagartas. Estes algodoeiros são os responsáveis por praticamente todo o algodão produzido no país. Além destes, três outros algodoeiros com características genéticas ou ecológicas especiais são cultivados: o algodoeiro de fibra naturalmente colorida, o algodoeiro orgânico e o algodoeiro agroecológico. O algodoeiro colorido concentra-se, quase exclusivamente, no estado da Paraíba e a área plantada em 2007 foi de aproximadamente 300 hectares. Lavouras de algodões agroecológicos foram cultivadas por 235 agricultores no bioma semi-árido de quatro estados da região Nordeste e produziram 42 toneladas (37) . As cadeias de algodoeiros especiais, convencionais e transgênicos têm convivido de modo satisfatório, sem que tenham sido divulgados relatos de problemas de coexistência. A área plantada com algodoeiro no Brasil na safra 2007/2008 foi cerca de um milhão e cem mil hectares, dos quais mais de 85% concentra-se no bioma Cerrado, particularmente nos estados do Mato Grosso, Bahia, Goiás e Mato Grosso do Sul. As demais lavouras estão presentes em outros estados do país, principalmente no semi-árido da região Nordeste, no Paraná, Minas Gerais e São Paulo (28) . Além do algodoeiro herbáceo, mais três outros algodoeiros ocorrem no Brasil, todos alotetraplóides e, portanto, sexualmente compatíveis com os cultivares. Nenhuma destas espécies é considerada planta daninha em ambientes agrícolas ou naturais. A espécie G. barbadense tem centro de domesticação no Norte do Peru e Sul do Equador (9) . Foi introduzida por povos pré-colombianos e sua fibra era empregada na produção de artesanatos têxteis por algumas etnias indígenas antes da chegada dos portugueses (42) . Seu uso como planta têxtil se difundiu entre os colonizadores, mas entrou em decadência com a disseminação das duas raças exóticas de G. hirsutum. Não é encontrada em ambientes naturais e é mantida, basicamente, como planta de fundo de quintal. Sua distribuição é ampla, estando presente em quase todo o país e a conservação in situ está diretamente ligada à manutenção das tradições de uso como planta medicinal (4) . A única espécie nativa do Brasil é G. mustelinum, com distribuição natural restrita ao semiárido nordestino (19, 32) . Populações são conhecidas apenas nos estados da Bahia e do Rio Grande do Norte, em municípios que não produzem algodão herbáceo. Dois problemas comprometem a manutenção in situ de G. mustelinum. O primeiro e mais grave é a destruição de matas ciliares de rios e riachos intermitentes, o habitat da espécie. O segundo é a pecuária extensiva praticada na região, particularmente de caprinos. Os animais se alimentam de brotos, folhas, frutos, sementes e da casca do caule, prejudicando o desenvolvimento e, em alguns casos, matando as plantas adultas. A renovação das populações também é comprometida, pois o pastejo em indivíduos jovens ocasiona Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 4 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio a destruição de parte das plantas (4) . A distância entre as populações conhecidas e as regiões produtoras de algodão impede que haja cruzamentos de G. mustelinum com plantas de algodoeiro herbáceo presentes nas lavouras. O terceiro tipo de algodoeiro é conhecido como algodoeiro mocó e pertence a uma raça diferente da mesma espécie do herbáceo (G. hirsutum r. marie galante (Watt) Hutch.). É originária das Antilhas e não se sabe ao certo como foi introduzido no país, havendo hipóteses de que tenha sido trazido por holandeses ou africanos durante o período colonial (42) . O algodoeiro mocó foi muito cultivado no semi-árido do Nordeste até o final da década de 80, quando diversos problemas causaram abrupta interrupção no cultivo (6) . Pequena quantidade de algodoeiros arbóreos, principalmente híbridos inter-raciais de fibra branca e colorida produzidos pelo programa de melhoramento da Embrapa ainda são cultivados. Contudo, o cultivo destes materiais está em declínio, tendo sido colhidos 5.692 ha na safra 2004/05 e apenas 1.326 ha na safra 2005/2006 (28) . As lavouras são cultivadas com um mínimo de insumos externos, sendo o mais importante o inseticida para o controle de insetos-praga. O controle de plantas daninhas é feito quase que exclusivamente com capinas manuais. Populações transientes de elevada importância biológica desta raça, derivadas de lavouras abandonadas, são encontradas no alto de serras em alguns municípios do Seridó Paraibano e Potiguar (4) . Tais populações estão geograficamente isoladas de lavouras de algodoeiro herbáceo e bem representadas nos bancos de germoplasma da Embrapa. Entre as principais pragas do algodão no Brasil, destacam-se o curuquerê (Alabama argillacea), a lagarta-da-maçã (Heliothis virescens), a lagarta-rosada (Pectinophora gossypiella), a lagarta do cartucho do milho (Spodoptera frugiperda), o pulgão (Aphis gossypii), o percevejo rajado (Horcias nobilellus) e o bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis). O controle dessas pragas tem sido realizado principalmente com o uso de inseticidas. No Brasil, são consumidas anualmente mais de 10 toneladas de inseticidas somente na cultura do algodão, onerando os custos de produção em torno de US$ 190 milhões. O uso excessivo de inseticidas não-específicos leva a impactos ambientais negativos, como a redução severa da população de organismos benéficos e a potencialização do surgimento de pragas resistentes aos inseticidas convencionais. O algodão Bollgard II (Evento MON 15985) foi desenvolvido a partir do algodão Bollgard, evento 531, mediante a introdução do gene cry2Ab2 de Bacillus thuringiensis var. kurstaki. Portanto, Bollgard II expressa as delta-endotoxinas Cry1Ac e Cry2Ab2 que são altamente específicas e tóxicas a lagartas de alguns lepidópteros, incluindo Spodoptera frugiperda (J.E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae) e outras espécies do gênero Spodoptera (13, 39, 54, 53) , além das pragas-alvos do algodão Bollgard, ou seja, curuquerê-do-algodoeiro, Alabama argillacea (Hüeb.) (Lepidoptera: Noctuidae), lagarta-da-maçã-do-algodoeiro, Heliothis virescens (Fabr.) (Lepidoptera: Noctuidae), e lagarta-rosada, Pectinophora gossypiella (Saund.) (Lepidoptera: Gelechiidae). A expressão de duas Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 5 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio proteínas tóxicas confere maior espectro de ação para o controle de lepidópteros praga e possibilita, em alguns casos, retardar a evolução da resistência. Considerando que o algodão Bollgard II foi desenvolvido a partir do algodão Bollgard, o qual foi aprovado para uso comercial pela CTNBio em 2005, a análise em biossegurança no presente parecer será centrada nas proteínas adicionais que são expressas no Bollgard II: GUS e Cry2Ab2 e as possíveis interações. Uma década depois do primeiro lançamento comercial de organismo geneticamente modificado, o algodão geneticamente modificado – GM ocupou 28% de toda a área plantada de algodão no mundo em 2005, o que correspondeu a 1/9 de toda a área plantada por plantas GM no mundo. Entretanto, os EUA e a China foram os responsáveis por quase todo este avanço em proporção de plantio, onde as áreas de plantio GM já somam mais de 4/5 e 2/3, respectivamente. Outros países com altas taxas de adoção de algodão transgênico no mundo em 2005 foram a Austrália e a África do Sul, ambos em torno de 4/5 de suas áreas plantadas com algodão. Em 2008, dos 15,8 milhões de hectares ocupados com plantações de transgênicos no Brasil, 14 milhões são de soja, 1,4 milhão de milho e 0,4 milhão para algodão. O Algodão Bollgard II, evento MON 15985, é comercializado em diversos países, a saber: Estados Unidos da América (2002), Austrália (2002), Japão (2002), África do Sul (2003), Filipinas (2003), México (2003), Coréia (2003), Canadá (2003), União Européia (2005), China (2006), Índia (2006) e Burquina Faso (2008) (2) . Até o momento, nenhum dano grave à saúde humana, animal ou ao meio ambiente foi detectado pelo uso comercial nos países mencionados. No Brasil, foram realizados experimentos a campo em diversos estados. III. Descrição do OGM e Proteínas Expressas O algodão Bollgard II (Evento 15985) foi desenvolvido a partir do algodão Bollgard, mediante a introdução de um outro gene cry2Ab2 de B. thuringiensis var. kurstaki. Portanto, Bollgard II expressa as delta-endotoxinas Cry1Ac e Cry2Ab2 que são altamente específicas e tóxicas a lagartas de alguns lepidópteros, incluindo Spodoptera frugiperda (J.E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae) e outras espécies do gênero Spodoptera (13, 53) , além das pragas-alvos do algodão Bollgard, ou seja, curuquerê-do-algodoeiro, Alabama argillacea (Hüeb.) (Lepidoptera: Noctuidae), lagarta-da-maçãdo-algodoeiro, Heliothis virescens (Fabr.) (Lepidoptera: Noctuidae), e lagarta-rosada, Pectinophora gossypiella (Saund.) (Lepidoptera: Gelechiidae). A expressão de duas proteínas tóxicas confere maior espectro de ação para o controle de lepidópteros praga e possibilita, em alguns casos, retardar a evolução da resistência. A CTNBio aprovou a liberação do algodão Bollgard Evento 531 em 2005. O evento comercial MON 15985 (Bollgard II) foi obtido pela transformação genética do algodão Bollgard (variedade DP50B) por meio da metodologia de aceleração de micropartículas ou Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 6 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio biobalística (36) . O algodão Bollgard, já liberado no Brasil (14) , contém os genes cry1Ac, nptII, aad, introduzidos pela técnica de transformação via Agrobacterium tumefaciens, na variedade convencional Coker 312, pelo uso do plasmídeo PV-GHBK04. Apesar da presença do gene aad, o algodão Bollgard expressa apenas as proteínas Cry1Ac e NPTII. O gene aad não possui modificações para expressão em plantas, sendo utilizado somente como marcador de seleção em células bacterianas, transformadas com o vetor contendo os genes de interesse. O algodão Bollgard II, por sua vez, foi gerado através da introdução, por biobalística (que resulta na entrada direta do fragmento de DNA de interesse na célula vegetal), dos genes cry2Ab2 e uidA no genoma do algodão Bollgard, aprovado pela CTNBio em 2005. O plasmídeo PV-GHBK11 foi utilizado para a inserção dos genes cry2Ab2 e uidA no genoma do algodão Bollgard para gerar o algodão MON 15985. O plasmídeo foi propagado em Escherichia coli, purificado de suspensões bacterianas e utilizado para transformação. O DNA exógeno foi introduzido em meristemas de algodão pelo método de aceleração de partículas e a integração do DNA foi detectada por coloração histoquímica para GUS (beta glucoronidase) no tecido vascular. As plantas selecionadas foram então testadas para expressão da proteína de interesse Cry2Ab2. Assim, o algodão MON 15985 contém os genes exógenos cry1Ac, cry2Ab2, nptII, aad e uidA, expressa as proteínas Cry1Ac, Cry2Ab2, NPTII e GUS, diferindo portanto do seu parental, o Bollgard, nas proteínas Cry2Ab2 e GUS. A combinação das proteínas Cry2Ab2 e Cry1Ac representa uma ferramenta adicional para a resistência de pragas à proteína Cry1Ac, pois Cry2A é uma classe de proteína oriunda de B. thuringiensis diferente da Cry1Ac. A proteína GUS é produto da expressão do gene uidA, e foi empregada como mecanismo de seleção de células transformadas (marcador colorimétrico de seleção). O gene uidA, também conhecido como gene gus ou gusA, derivado de E. coli cepa K12, codifica a enzima ß-Dglucuronidase (GUS). Esta enzima catalisa a hidrólise de diversos β-glucoronídeos entre os quais o p-nitrofenil- β-D-glucoronídeo que resulta em composto cromogênico de coloração azulada. A bactéria E.coli é habitante do sistema digestivo de vertebrados, inclusive de humanos. O gene cry2Ab2, que codifica a proteína Cry2Ab2, é derivado da bactéria B. thuringiensis, um microrganismo de solo, gram-positiva, inicialmente isolado no Japão por Ishiwata e descrito formalmente por Berliner em 1915. Esse patógeno apresenta a capacidade de formar cristais contendo endotoxinas, as quais são proteínas com ação inseticida, durante a fase de esporulação do seu ciclo de desenvolvimento. Entre as toxinas, destacam-se as conhecidas proteínas Cry ou δendotoxinas. Formulações comerciais de B. thuringiensis contendo essas proteínas têm sido utilizadas no Brasil e em outros países para o controle de algumas pragas agrícolas por mais de 40 anos. Cry2Ab2 e Cry1Ac são proteínas com ação bastante específica, demonstrando efeito tóxico apenas por ingestão e atuam em receptores específicos localizados no intestino médio de algumas espécies de insetos da Ordem Lepidoptera. Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 7 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio Análises de estabilidade e segregação, em ensaios de ELISA para a proteína Cry2Ab2 em quatro gerações, respaldam a conclusão de que o evento MON 15985 é um evento de cópia única e de inserção estável. A análise de Qui quadrado mostrou que o inserto segrega de acordo com a genética Mendeliana, com um padrão de segregação de um único gene em relação à detecção da proteína Cry2Ab2. Análises de Southern Blot nas gerações R1, R2, R3, e R4 e duas linhagens da segunda geração do retrocruzamento (BC2F3), digeridas com a enzima SphI e hibridizadas com uma sonda da região codificadora do gene cry2Ab2, demonstrou que o transgene é estável entre as diferentes gerações, pois nenhuma diferença foi observada quanto ao padrão de bandas obtido. A segregação mendeliana e a estabilidade do transgene entre as gerações testadas da progênie do algodão MON 15985 foram apresentadas pela requerente. Diante das análises moleculares apresentadas, o algodão Bollgard II evento MON 15985 possui uma cópia dos genes cry2Ab2, uidA, cry1Ac, nptII e aad, sendo o último não expresso em plantas. Como as seqüências do vetor (seqüências de replicação ou outros elementos de estabilidade do plasmídeo) não fazem parte do inserto, considera-se nulo qualquer potencial real de transferência genética horizontal entre a bactéria doadora do plasmídeo e o algodão receptor. IV. Aspectos relacionados à Saúde Humana e dos Animais Os estudos de avaliação de segurança alimentar e nutricional com o algodão MON 15985 foram feitos com base no princípio da Equivalência Substancial que é adotado por organizações internacionais e órgãos reguladores como a WHO, a FAO, a OECD e o ILSI. De acordo com essa abordagem, se uma nova ração ou um novo alimento derivado de uma cultura geneticamente modificada for substancialmente equivalente à sua contraparte convencional e as novas proteínas produzidas são consideradas seguras, então a cultura geneticamente modificada é considerada “tão segura quanto” a cultura convencional. A proteína GUS é uma enzima (ß-glucoronidase), codificada pelo gene uidA de E. coli e catalisa a hidrólise dos ß –d-glucoronídeos. Ao adicionar o substrato artificial p-nitrofenil- ß – glucoronídeo, ele é hidrolisado dando uma coloração azulada, que atua como um marcador visível da seleção, sendo este o motivo de ter sido introduzida no algodão MON 15985. Esta proteína já existe normalmente no organismo humano devido a presença da E. coli e também por estar presente em uma série de alimentos derivados de plantas convencionais como batata, maçã, aveia, beterraba, entre outras. Além disso, é degradada no trato gastrintestinal do homem e dos animais. O gene uidA não foi obtido de uma fonte reconhecidamente alergênica, uma vez que a bactéria E. coli (31) é prevalente no trato gastrintestinal de humanos e animais. Um banco de dados com seqüências de proteínas associadas com alergia e doença celíaca foi montado a partir de bancos de dados de domínio publico (GenBank, EMBL, PIR e SwissProt). Uma busca da seqüência da enzima GUS nestes bancos mostra que esta proteína não possui similaridade com seqüências de alérgenos. Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 8 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio A proteína Cry2Ab2, semelhante a Cry1Ac, é uma delta-endotoxina microbiana produzida pelo B. thuringiensis (Bt). Esta toxina age no intestino de larvas de diferentes lagartas da ordem Lepidoptera que possuem receptores. Esta ligação provoca a formação de poros para cátions e ocasiona um desequilíbrio osmótico entre o sistema digestivo e a hemolinfa, causando a morte desses insetos. Homens e animais não são passíveis dos efeitos decorrentes desta ligação por não possuírem receptores. De acordo com a Agencia de Proteção Ambiental dos USA (58) , não foram detectados efeitos causados por este transgene e, mesmo com altas doses, a Cry2Ab2 delta-endotoxina não foi considerada tóxica. Como esta proteína é prontamente digerida após ingestão, os efeitos a uma exposição crônica a esta proteína não são esperados. Por ser tratar de proteínas, os riscos de efeitos alergênicos também foram avaliados. Alérgenos com origem em alimentos são normalmente resistentes ao calor, ácido e proteases, podem ser glicosilados e presentes em altas concentrações. As proteínas ensaiadas são prontamente digeridas pelo suco gástrico, não são glicosiladas e o aquecimento leva a perda de bioatividade. A seqüência de aminoácidos desta proteína foi comparada com um banco de dados contendo aproximadamente 600 seqüências de proteínas alergênicas e não foi encontrado similaridade. Experimentos feitos em animais não indicaram potencial alergênico. De acordo com os dados submetidos pela requerente, a toxicidade aguda oral das proteínas Cry1Ac e Cry2Ab2 é baixa e são consideradas não tóxicas para mamíferos. Adicionalmente, os produtos alimentares derivados do algodão são altamente processados, o que geralmente degrada as proteínas expressas pelo algodão Bollgard II. Contudo, caso essas proteínas sejam ingeridas, serão imediatamente quebradas em seus respectivos aminoácidos, não sendo observada exposição crônica. A proteína Cry2Ab2 foi comparada com um com um banco de dados de 4677 proteínas consideradas tóxicas e não foi encontrada qualquer similaridade. Também foi realizado experimento com ratos, com o fornecimento de altas doses, sem que fosse notado qualquer efeito tóxico. Estudos de digestão in vitro mostraram que no fluido gástrico, em apenas 15 segundos, mais de 98% da proteína foi digerida. Já no fluido intestinal, ela resistiu por um período bem maior, mas como a quase totalidade é digerida no estômago, a importância da digestão mais lenta no intestino é pequena. Os resultados de 14 experimentos realizados nos Estados Unidos comprovaram que não houve alteração na composição bromatológica do algodão MON 15985 em relação ao algodão convencional, considerando os seguintes componentes: cinzas, calorias, carboidratos, gordura total, fibra bruta, fibra em detergente ácido, fibra em detergente neutro e proteína. A análise de 18 aminoácidos essenciais também não encontrou diferença entre as duas variedades. Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 9 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio Apesar da composição de ácidos graxos nas sementes do algodão MON 15985 ser semelhante ao algodão convencional, alguns ácidos foram encontrados em níveis superiores na nova variedade (mirístico, esteárico, linolênico, araquidônico e dihidroestercúlio). Vale ressaltar que o linolênico e o araquidônico são ácidos graxos essenciais para o homem e os animais. Apesar das diferenças, as médias encontradas estiveram dentro do intervalo de 95% de confiança das referências convencionais. A composição em ácidos graxos no óleo processado também foi semelhante entre o algodão MON 15985 e o algodão convencional. Com relação aos minerais (Ca, Cu, Fe, Mg, P, K, Na e Zn), os teores foram bem semelhantes entre as duas variedades, com o MON 15985 apresentando valores inferiores para cobre, ferro e fósforo, entretanto, todos os valores também se encontram dentro da faixa normal de variação para o algodão convencional. Para o gossipol, que é o fator tóxico existente no caroço do algodão, os teores foram praticamente os mesmos entre as duas variedades. Considerando as análises realizadas no Brasil, o algodão MON 15985 apresentou resultados semelhantes ao algodão convencional para cinzas, carboidratos, gordura, proteína e gossipol. A média deste último foi 12% inferior no algodão MON 15985. A composição variou dentro dos limites para o algodão convencional adotados pelo ILSI (30) nutricional também . Assim, conclui-se que o algodão Bollgard II evento MON 15985 possui composição semelhante ao algodão convencional. O algodão é cultivado primariamente pelo valor da fibra e, depois, pelo uso do caroço para a extração de óleo e composição de ração animal (29) . O óleo do caroço de algodão e a celulose das fibras processadas são os únicos produtos derivados do algodão utilizados na alimentação humana (45) . As fibras curtas são a principal fonte de celulose para uso na indústria química e alimentícia (contêm 99% de celulose). O óleo de caroço de algodão possui alta qualidade e é usado em uma variedade de alimentos como óleo de fritura, óleo de salada e cozinha, maionese, molho de salada e margarina, entre outros. É o óleo mais antigo produzido industrialmente, tendo sido consumido em larga escala no Brasil antes do aumento do uso do óleo de soja. A alta qualidade do óleo de algodão após o refino deve-se à presença de ácidos graxos essenciais (como o ácido linoléico) e à riqueza em vitamina E ou alfa-tocoferol (antioxidante natural) que amplia sua validade para consumo, se comparado ao óleo de milho e de soja (16) . As análises de qualidade e composição da semente do algodão Bollgard II evento MON 15985 mostraram que o algodão geneticamente modificado resistente a insetos e suas frações processadas foram comparáveis ao algodão convencional, levando em consideração a variabilidade natural existente entre as variedades de algodão em comércio. Os estudos realizados com animais (vacas leiteiras, bagres, codornas e ratos) avaliaram a qualidade nutricional do algodão MON 15985 e os efeitos de dietas que contêm ração de semente do algodão modificado sobre o desenvolvimento dos animais (26) . O algodão MON 15985, como componente de ração animal, e as proteínas Cry2Ab2, Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 10 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio Cry1Ac, NPTII e GUS nos tecidos da planta se mostraram seguros e com valor nutritivo equivalente para o consumo humano e animal. Experimentos de campo com o algodão MON 15985 foram conduzidos em três locais no Brasil (Santa Cruz das Palmeiras – SP, Santa Helena de Goiás – GO e Sorriso – MT) na safra 2005/2006, com o objetivo de gerar amostras para a quantificação das proteínas Cry2Ab2, Cry1Ac, NPTII e GUS em tecidos de folhas e caroços. As amostras foram analisadas quanto ao conteúdo dessas proteínas através do método de ELISA. Os níveis médios das proteínas em folhas e caroços nos três locais para o algodão MON 15985 foram: Cry2Ab2, 660 e 250 μg/g peso seco, respectivamente; Cry1Ac, 53 e 1,9 μg/g peso seco, respectivamente; NPTII, 35 e 2,7 μg/g peso seco, respectivamente; e GUS, 2600 e 140 μg/g peso seco, respectivamente. As proteínas Cry2Ab2, Cry1Ac, NPTII e GUS têm maiores níveis de expressão nas folhas, mas também foram detectadas em amostras de outros tecidos. Após o processamento das fibras e do caroço, as proteínas não são detectadas. Como o óleo e as fibras processadas são os únicos produtos derivados de algodão utilizados na alimentação humana, o consumo das proteínas exógenas bioativas ou de qualquer produto da degradação delas não é esperado (33, 51, 52) . A equivalência nutricional do algodão MON 15985 com variedades convencionais de algodão foi avaliada em vacas leiteiras, bagres, codornas e frangos de corte, e os resultados mostraram que algodão MON 15985 é tão seguro, saudável e nutritivo quanto o algodão convencional quando usado como ração para estes animais. Os estudos com animais foram feitos comparando o algodão MON 15985 com os convencionais. Uma pesquisa com vacas leiteiras consumindo em média 2,250 kg de caroço de algodão cru por dia, não detectou diferença na produção e na composição do leite. Dentre os ruminantes, a vaca em produção é um animal bastante sensível a fatores externos, uma simples mudança de temperatura é suficiente para alterar a produção leiteira. A alimentação pode alterar não somente a produção, mas principalmente a composição do leite, o que não teve efeito com o algodão MON 15985. Em virtude da ação dos microrganismos ruminais, o gossipol é inativado e cerca de 60% da proteína do farelo de algodão é degradada, restando 40% para ser digerido no estômago verdadeiro (abomaso), havendo ainda a digestão intestinal. Também foram feitos estudos com bagres, codornas e frangos de corte (que são muito sensíveis à qualidade protéica), sem que tenha surgido qualquer efeito adverso. Em virtude da presença do gossipol e também aos teores elevados de fibra, o farelo de algodão praticamente não é utilizado na alimentação de animais monogástricos, ou é utilizado em pequenas quantidades (máximo de 5%). Como o gossipol prejudica a utilização da lisina (que é um aminoácido de grande importância para os animais), sua utilização para monogástricos não é recomendada e só é utilizada com objetivo de reduzir os custos das rações comerciais. Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 11 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio Apesar da ausência das proteínas exógenas nos produtos alimentares, o modo de ação, a especificidade e o histórico de exposição, a ausência de similaridade com proteínas alergênicas e tóxicas, a rápida digestão em fluidos gástrico e intestinal simulados, e a falta de toxicidade oral aguda em camundongos demonstram a segurança dessas proteínas para consumo humano e animal. Como as proteínas são intracelulares, os trabalhadores do campo não são expostos a elas. Adicionalmente, as fibras são constituídas principalmente por celulose e praticamente não possuem proteína. Como a planta do algodão é altamente auto-polinizadora e o pólen é grande e viscoso, a dispersão pelo vento é difícil, o que diminui a exposição humana. Para as pessoas que fazem uso de produtos com as fibras curtas e do óleo de algodão, além do nível de proteína nestes produtos ser mínimo (às vezes não detectável), o tratamento térmico e químico geralmente inativa ou remove o pouco que havia, tornando o risco praticamente inexistente. Como também já foi afirmado, caso haja ingestão de alguma quantidade de proteína, que será mínima, a digestão no estômago é muito rápida. Considerando que a proteína Cryr1Ac representa apenas 0,002% da proteína total do caroço do algodão e a proteína Cry2Ab2 0,02%, um possível efeito no homem é bastante improvável. V. Aspectos Ambientais e Agronômicos A agricultura moderna é uma atividade responsável por significativos impactos ambientais negativos (3, 11, 57) e, portanto, a avaliação de riscos de qualquer evento GM deve ser realizada em relação ao impacto que já é inerente à agricultura convencional (5, 15,43) . Assim, a análise da CTNBio objetivou avaliar se o impacto ambiental causado pelo Algodão Bollgard II evento MON 15985 é significativamente superior ao causado pelas variedades convencionais considerando as práticas agrícolas associadas a cada sistema. Todas as espécies do gênero Gossypium possuem flores perfeitas. A fecundação ocorre logo após a antese, podendo ocorrer autofecundação ou polinização cruzada ou ambas. O pólen do algodoeiro é relativamente grande, medindo entre 81 a 143 micra, viscoso (o que faz com que os grãos fiquem aderidos uns aos outros), com formato esférico, recoberto por grande quantidade de espículas, não sendo, praticamente, transportado pelo vento (47) . No campo, sua viabilidade se estende até o final da tarde, mas pode durar até 24 horas se armazenado em temperaturas de 2º a 3ºC (10) . O algodão é usualmente apresentado como uma cultura de polinização cruzada parcial, embora muitos melhoristas tratem a planta como completamente autofértil e autopolinizadora, exceto por polinização cruzada através de insetos polinizadores. Freire (2000) afirma que a planta de algodão apresenta um sistema reprodutivo intermediário entre aquele encontrado nas plantas alógamas e nas autógamas, com taxas de polinização cruzada entre 5% e 95% (19) . A Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 12 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio autopolinização é a forma de hibridação que ocorre preferencialmente na cultura do algodão, embora o cruzamento natural possa ocorrer (46) . A produção de sementes é de 20 a 30 por fruto quando o cruzamento e a autopolinização são bem realizados (21) . O tempo de florescimento do algodoeiro pode variar de acordo com as condições ambientais e a variedade, mas geralmente se inicia aos 50 dias após a emergência e prolonga-se até 120 dias ou mais, com pico da curva ao redor de 70 ou 80 dias. Os procedimentos de autopolinização e cruzamento devem ser realizados na época mais propícia, com 30 a 40 dias de florescimento. O melhoramento genético exige polinização controlada e manutenção da pureza por barreiras físicas ou isolamento por distância. Os grãos de pólen do algodão são pesados e viscosos, o que torna a dispersão pelo vento bastante improvável. A transferência do pólen é feita por insetos, em particular por abelhas selvagens, abelhas mamangava (Bombus sp.) e abelhas produtoras de mel (Apis mellifera) que chegam às flores recém-abertas. No Brasil, os programas de melhoramento genético do algodão procuram reunir as características mais desejáveis, de acordo com a região de plantio, levando em consideração os componentes da produção e de adequação agrícola, de qualidade da fibra e do fio, assim como as características do produto para fins especiais (21) . O algodão normalmente não se propaga vegetativamente, mas sim através das maçãs ou sementes (19) . O cruzamento natural pode ocorrer através de insetos polinizadores, uma vez que não há dispersão do pólen pelo vento. Entretanto, o alcance do pólen tende a limitar-se entre flores de algodão muito próximas, cercada por colônias de abelhas. O movimento de pólen é pequeno, apenas 1,6% das flores recebem material de outras plantas. Os insetos polinizadores são utilizados como ferramenta em programas de melhoramento para a obtenção de novas variedades. Um dos efeitos mais importantes do cruzamento, referido como heterose ou vigor híbrido, pode ser o resultado de cruzamento interespecífico, intraespecífico e intervarietal. A utilização do vigor híbrido em algodão mostrou-se interessante depois da observação de que o excesso de introgressão (autopolinização) causa efeitos detrimentais (50) . A taxa de cruzamento natural detectada no Brasil tem variado de 1% a 100% no Nordeste e de 0% a 71% no Centro-Oeste. Taxas de cruzamento diferentes em regiões próximas são explicadas pela presença de matas nativas e de insetos polinizadores, principalmente abelhas produtoras de mel. É importante enfatizar que os índices de cruzamentos nas lavouras do cerrado sempre foram baixos, isto é, em torno de 6%. Mas nas regiões de cerrado, com grande ocorrência de vegetação nativa, as taxas variam de 19% a 42%, e nas áreas cultivadas por pequenos agricultores, os índices são mais elevados (45% a 69%) em razão da preservação das matas e da alta população de abelhas (20) . A solicitação de liberação comercial do algodão Bollgard II é baseada em três experimentos de campo conduzidos na safra 2005/2006 nas Estações Experimentais da Monsanto do Brasil Ltda. localizadas em Santa Cruz da Palmeiras (SP), Sorriso (MT) e Santa Helena de Goiás (GO). De acordo com os dados apresentados, as características agronômicas do algodão MON 15985 (características Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 13 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio fenotípicas, qualidade da fibra, produtividade, etc.) são comparáveis ou superiores às do algodão convencional (DP50). De acordo com os resultados apresentados, o controle de A. argillacea foi excelente nas três áreas experimentais, principalmente em condições de alta infestação da praga ocorrida em Sorriso (MT) e Santa Helena de Goiás (GO). A alta eficácia do algodão Bollgard II foi também observada contra H. virescens nessas duas localidades. Aparentemente, não houve infestação de H. virescens em Santa Cruz das Palmeiras (SP). A infestação de P. gossypiella ocorreu somente em Sorriso (MT) e o desempenho do algodão MON 15985 também foi excelente no controle dessa espécie. A eficácia do algodão Bollgard II para o controle de H. virescens e P. gossypiella já era comprovadamente reconhecida, a partir dos resultados obtidos em outros países, principalmente nos EUA. Devido à baixa infestação de S. frugiperda, não foi possível avaliar a eficácia de Bollgard II a partir de infestações naturais em nenhuma das três áreas experimentais. Sendo assim, os resultados apresentados foram baseados em infestações artificiais da praga realizadas somente em Santa Helena de Goiás (GO). Folhas e botões florais foram infestados com 2 lagartas por estrutura, compondo 10 blocos (10 repetições), cada repetição com 5 estruturas. As estruturas foram infestadas separadamente para lagartas grandes e lagartas pequenas. Cada repetição foi protegida por telado evitando interferência do ambiente ou fuga das lagartas. As avaliações foram realizadas 3 dias após a infestação. Houve redução significativa no número de lagartas e desfolha no tratamento com Bollgard II, porém a eficácia no controle de S. frugiperda foi inferior quando comparada com a de outras pragas alvo (A. argillacea, H. virescens e P. gossypiella). Em relação às características agronômicas, aparentemente, a inserção do segmento PVGHBK11L não prejudicou o desenvolvimento da planta. Desde 1998, avaliações em ensaios de campo vêm sendo realizadas nos Estados Unidos, Porto Rico, Argentina, África do Sul, Costa Rica, e Austrália. Estudos de comparação entre o evento MON 15985 e o algodão convencional DP50 realizado nos Estados Unidos, mostram que características como rendimento, morfologia e maturidade e qualidade da fibra estão dentro de uma faixa normal de variabilidade, não apresentando qualquer variação significativa. A avaliação do desempenho agronômico de linhagens e cultivares do algodão MON 15985 e cultivares convencionais em condições de cultivo brasileiro também demonstram uma variabilidade normal entre as plantas geneticamente modificadas e as convencionais quanto as características agronômicas (altura de plantas, ciclo até o florescimento, precocidade de maturação, ciclo até a colheita e peso do capulho), produtividade e qualidade de fibra. Resultados obtidos no exterior têm evidenciado uma atividade aditiva e independente de Cry1Ac e Cry2Ab2, devido à ausência de resistência cruzada entre as proteínas (22, 34, 38) , proporcionando assim uma maior atividade biológica e aumentando o espectro de ação contra espécies do gênero Spodoptera (54) . No entanto, embora a combinação de Cry1Ac e Cry2Ab2 tenha mostrado uma eficácia superior que Bollgard, Bollgard II ainda tem sido suscetível a danos causados Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 14 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio por Spodoptera spp. e H. zea em situações de alta infestação, especialmente na época de florescimento (1, 13, 54) . Nessas condições, aplicações de inseticidas ainda têm sido necessárias para o controle dessas pragas. Essas observações de campo estão de acordo com os dados toxicológicos reportados por Sivasupramaniam et al. (2008) que comprovaram a maior tolerância de S. frugiperda (CL50 = 82 ppm) à proteína Cry2Ab2 em relação a H. virescens (CL50 = 0.549 ppm) e P. gossypiella (CL50 = 0.036 ppm) (53). Com o aumento da área cultivada com culturas geneticamente modificadas resistentes a insetos no mundo inteiro, a preocupação sobre o impacto dessa tecnologia em organismos não-alvo, incluindo organismos importantes no controle biológico, tem sido levantada com bastante influência. Contudo, táticas de manejo de pestes associadas com o algodão Bt têm resultado em uma drástica redução no uso de inseticidas, o que leva a um aumento significativo das populações de insetos benéficos e, consequentemente, contribui para o controle natural de algumas pragas (59) . Estudos foram conduzidos com organismos indicadores não-alvo como aves, peixes e espécies invertebradas benéficas. Organismos não-alvo foram expostos a folhas ou sementes do algodão MON 15985 ou à proteína purificada Cry2Ab2 incorporada em dieta de cinco dias a oito semanas, dependendo do estudo. As doses foram escolhidas de forma a exceder a exposição ambiental prevista, aumentando assim a margem de segurança das conclusões geradas nos estudos. Os resultados demonstraram que a proteína Cry2Ab2 no algodão MON 15985 não impõe riscos antecipados para organismos não-alvo. Efeitos adversos não foram observados nas concentrações significativamente maiores que as concentrações previstas pela exposição no meio ambiente. Em todos os casos, a concentração de efeito não observado (NOEC) excede em muito a máxima concentração ambiental indicando risco mínimo da proteína Cry2Ab2 para organismos nãoalvo. Adicionalmente, resultados obtidos em diferentes centros internacionais de pesquisa mostraram que as populações de A. melífera (abelhas melíferas), Folsomia candida (colêmbolos), Chrysomera carnea (lixeiro), Hippodamia convergens (joaninhas), Nasonia vitripennis (vespas parasitóides), Eisenia fetida (minhocas) não apresentaram qualquer efeito adverso significativo em concentrações maiores que as previstas pela exposição no meio ambiente. Os resultados dos estudos indicaram que a proteína Cry2Ab2 impõe risco mínimo para esses organismos benéficos não-alvo. Efeitos adversos não foram observados na máxima concentração prevista no meio ambiente para a qual esses organismos possam ser expostos. Adicionalmente, Hagerty e cols. (2005) conduziram estudos com populações de espécies de predadores, tais como Geocoris spp., Orius insidiosus, Nabis spp., Slenopsis invicta, aranhas, cocilinídeos, crisopídeos e hemerobídeos, e verificaram que as populações foram iguais ou maiores nos tratamentos contendo algodão Bollgard e algodão Bollgard II comparado com tratamento com algodão convencional (23) . Marvier et al. (2007) analisaram mais de 40 experimentos de campo com algodão e milho expressando proteínas Cry, incluindo Cry1Ac e verificaram que, geralmente, invertebrados não-alvo Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 15 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio são mais abundantes em campos de algodão e milho Bt do que em campos com culturas convencionais tratadas com inseticidas (40) . Por outro lado, campos de algodão e milho geneticamente modificados resistentes a insetos, quando comparados a campos de culturas não tratadas com pesticidas têm uma redução estatisticamente significativa do número de alguns organismos não-alvo (41, 49) . Tais diferenças são esperadas: inseticidas em geral são pouco seletivos, o que explica o fato de campos com plantas Bt (e, consequentemente, com aplicações reduzidas de inseticidas) apresentarem mais organismos não-alvo; já as lavouras de plantas convencionais sem controle de pragas (e, consequentemente, sem qualquer aplicação de inseticidas) não sofrerão redução na população de pragas, nem de organismos não-alvo. Head et al. (2005) conduziram estudos de campo comparando populações de inimigos naturais em lavouras de algodão Bollgard e convencional, no período 2000 a 2002 nos Estados Unidos. Os resultados obtidos mostraram que, em geral, não houve diferenças significativas nas populações de inimigos naturais entre o algodão Bollgard e o algodão convencional. Quando diferenças significativas eram observadas, havia maior abundância de inimigos naturais nos campos de algodão Bollgard devido, provavelmente, ao menor emprego de pesticidas químicos. Também observaram que, quando ovos ou larvas de insetos foram apresentados como presas, as populações de inimigos naturais nos campos de algodão Bollgard exibiam taxas de predação significativamente maiores (27) . Na China foi realizado um monitoramento de organismos não-alvo no nordeste do país em campos de algodão Bt (60) . Os resultados obtidos indicaram um aumento nas populações de predadores naturais, tais como joaninhas (Coccinella septempunctata), tesourinhas (Chrysopa sinica), aranhas e outros organismos não-alvo, além de ressurgirem pulgões do algodão. No Brasil, Sujii e cols. (2008) verificaram que o algodoeiro Bt, que expressa a proteína Cry1Ac, não apresenta ação deletéria ou favorece positivamente alterações no ciclo de vida, sobrevivência, fecundidade e formação de colônias do pulgão Aphis gossypii, em condições de casa de vegetação. Os resultados obtidos pelos autores e dados disponíveis na literatura científica demonstram a alta especificidade da tecnologia Bollgard para o controle de organismos-alvo, sem causar efeitos positivos ou negativos em populações não-alvo, como as do pulgão-do-algodoeiro (56) . Quanto ao risco de fluxo gênico para populações silvestres e a potencial redução de biodiversidade, é importante considerar que para haver introgressão gênica é necessário que primeiro ocorra hibridação e posteriormente uma série de retro-cruzamentos, para que um gene seja incorporado permanentemente em um genoma (24, 25) . Adicionalmente, o potencial de transferência gênica vertical do algodão geneticamente modificado para espécies silvestres em ecossistemas não cultivados é baixo, devido à distribuição relativamente isolada das espécies de Gossypium. Algumas condições são necessárias para que ocorra transferência gênica vertical e Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 16 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio introgressão gênica: proximidade física das plantas (menos de 30 metros), época de fecundidade coincidente, parentais serem sexualmente compatíveis, produção de sementes viáveis, geração de progênie fértil e ecologicamente adaptada ao meio ambiente e ocorrência de transferência gênica, pelo menos na geração seguinte (55) . Inexistem no Brasil espécies sexualmente compatíveis com G. hirsutum que apresentem características de plantas invasoras, sendo extremamente improvável que os genes cry1Ac e cry2AB2 sejam transferidos para plantas daninhas tornado-as mais invasivas. O algodoeiro não possui qualquer característica associada ao potencial de invasividade, como dormência de sementes, persistência no solo, germinação sob condições ambientais diversas, rápido crescimento vegetativo, ciclo de vida curto, alta produção de sementes e dispersão de sementes à longa distância. Assim, considera-se desprezível a possibilidade do algodoeiro herbáceo Bollgard II se tornar uma planta daninha. É importante lembrar que os genes cry foram isolados da bactéria de solo B. thuringiensis. Portanto, a exposição dos organismos vivos e do meio ambiente a essa bactéria ou a qualquer elemento extraído dela é um evento que ocorre abundantemente na natureza. O temor de efeitos adversos ao meio ambiente ou segurança alimentar não foi justificado durante a primeira década de adoção da tecnologia Bollgard. Muito pelo contrário, dados apontam que a qualidade da água e do solo melhorou devido ao menor uso de pesticidas utilizados pelas cultivares de algodão GM. King (2003) concluiu que não há evidências que plantas GM são deletérias ao meio ambiente, saúde humana e animal (35) . Uma característica importante quanto à adoção do algodão Bt em diferentes países, é que as aplicações de pesticidas têm sido significativamente reduzidas (44) . Um benefício conseqüente também é proporcionado ao meio ambiente e trabalhadores, devido à redução do uso de agrotóxicos. Segundo a FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations), o uso do algodão Bt tem demonstrado um forte impacto ambiental positivo resultando em redução significativa da contaminação de fontes de água e menor impacto a insetos benéficos VI. (17) . Restrições ao uso do OGM e seus derivados Pareceres técnicos referentes ao desempenho agronômico concluíram que há equivalência entre plantas transgênicas e convencionais. Assim, as informações indicam que as plantas transgênicas não diferem fundamentalmente dos genótipos de algodão não transformado, à exceção da resistência a certos insetos da ordem Lepidóptera. Adicionalmente, não há evidência de reações adversas ao uso do Algodão Bollgard II. Por essas razões, não existem restrições ao uso deste algodão ou de seus derivados seja para alimentação humana ou de animais. Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 17 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio Conforme estabelecido no art. 1º da Lei 11.460, de 21 de março de 2007, “ficam vedados a pesquisa e o cultivo de organismos geneticamente modificados nas terras indígenas e áreas de unidades de conservação”. VII. Considerações sobre particularidades das diferentes regiões do País (subsídios aos órgãos de fiscalização): A tecnologia Bollgard mostrou-se passível de ser utilizada sob todas as práticas agrícolas comumente utilizadas nas diversas regiões e condições, seja disponibilidade de insumos, mão-deobra, dentre outros, utilizados na cultura do algodão. Não existem variedades crioulas de algodoeiros e as cadeias de algodoeiros especiais, convencionais e transgênicos têm convivido de modo satisfatório, sem que tenham sido divulgados relatos de problemas de coexistência. VIII. Conclusão A longa experiência com métodos tradicionais de melhoramento de plantas, a experiência de mais de três décadas em pesquisa e mais de uma década em comercialização de variedades transgênicas no mundo, além do avanço no conhecimento sobre a estrutura e a dinâmica dos genomas, indicando se um determinado gene ou característica é seguro, sinalizam que o processo de engenharia genética por si só apresenta pouco potencial para o surgimento de conseqüências inesperadas que não seriam identificadas ou eliminadas durante o processo de desenvolvimento de variedades comerciais geneticamente modificadas (8) . Considerando que o Algodão Bollgard II pertence a espécie bem caracterizada (Gossypium hirsutum) e com sólido histórico de segurança para uso humano e que os genes cry1Ac e cry2Ab2 introduzidos não codificam proteínas tóxicas, sendo inócua para seres humanos. Considerando que o algodão Bollgard II foi desenvolvido a partir do algodão Bollgard, o qual foi aprovado para uso comercial pela CTNBio em 2005 e, até o momento, não há evidências de risco à saúde humana, dos animais e ao meio ambiente. Considerando que o evento MON 15985 é um evento de cópia única e de inserção estável e que a análise de Qui quadrado mostrou que o inserto segrega de acordo com a genética Mendeliana, com um padrão de segregação de um único gene em relação à detecção da proteína Cry2Ab2. Considerando que dados de composição não apontaram diferenças significativas entre as variedades geneticamente modificadas e as convencionais, sugerindo a equivalência entre elas. Considerando ainda que: 1. O algodoeiro é uma das plantas cultivadas de maior uso pela humanidade. Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 18 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio 2. As proteínas Cry1Ac e Cry2Ab2 são prontamente digeridas após a ingestão e que os efeitos a uma exposição crônica a estas proteínas não são esperados. 3. A toxicidade aguda oral das proteínas Cry1Ac e Cry2Ab2 é baixa, sendo consideradas não tóxicas para mamíferos. 4. A molécula de ADN é um componente natural dos alimentos, não apresentando qualquer evidência que possa ter efeito adverso ao homem quando ingerido em alimentos em quantidades aceitáveis (nenhum efeito tóxico direto). 5. Não existe evidência que genes intactos de plantas possam ser transferidos e funcionalmente integrados no genoma humano ou de outros mamíferos expostos ao ADN ou a alimentos fabricados com estes elementos. 6. É negligenciável a possibilidade do algodoeiro herbáceo Bollgard II se tornar uma planta daninha. 7. A exposição dos organismos vivos e do meio ambiente a B. thuringiensis ou a qualquer elemento extraído dessa bactéria é um evento que ocorre abundantemente na natureza. 8. A inserção do segmento PV-GHBK11L aparentemente não prejudicou o desenvolvimento da planta em relação às características agronômicas. 9. Não existem relatos de alterações no desempenho agronômico observadas a partir do cultivo comercial deste evento em outros países. 10. A análise de composição bioquímica demonstrou que o evento MON 15985 apresenta equivalência substancial às variedades não geneticamente modificadas, sugerindo fortemente que o evento em questão não apresenta efeitos pleiotrópicos indesejáveis. 11. Os dados da literatura e os experimentos em campo sugerem que o evento MON 15985 não causa impactos contra organismos não-alvo além dos já inerentes à cultura do algodão. 12. Dados apontam que a qualidade da água e do solo melhorou devido ao menor uso de pesticidas utilizados pelas cultivares de algodão GM. 13. A adoção do algodão Bt em diferentes países tem reduzido significativamente as aplicações de pesticidas. E, finalmente, considerando os critérios internacionalmente aceitos no processo de análise de risco de matérias-primas geneticamente modificadas, é possível concluir que o Algodão Bollgard II Evento MON 15985 é tão seguro quanto seu equivalente convencional. Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 19 Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - CTNBio Diante do exposto, a liberação comercial do Algodão Bollgard II Evento MON 15985 não é potencialmente causadora de dano à saúde humana e animal, nem de significativa degradação do meio ambiente. A análise da CTNBio considerou os pareceres emitidos pelos membros da Comissão; por consultores ad hoc; documentos aportados na Secretaria Executiva da CTNBio pela requerente; resultados de liberações planejadas no meio ambiente; palestras, textos e discussões da audiência pública, realizada em 17/08/2007. Foram também considerados e consultados estudos e publicações científicas independentes da requerente, realizados por terceiros. Conforme o Anexo I da Resolução Normativa nº 5, de 12 de março de 2008, a requerente terá o prazo de 30 (trinta dias) a partir da publicação deste Parecer Técnico, para adequar sua proposta de plano de monitoramento pós-liberação comercial. IX – Bibliografia 1. ADAMCZYK, J.J.; SUMERFORD, D.V. 2001. Increased tolerance of fall armyworms (Lepidoptera: Noctuidae) to Cry1Ac δ-endotoxinas when fed transgenic Bacillus thuringiensis cotton: impact on the development of subsequent generations. Florida Entomologist 84: p. 1-6. 2. AGBIOS. 2009. AGBIOS Database product description. http:// www.agbios.com. 3. AMMANN, K. 2005. Effects of biotecnology on biodiversity: herbicide-tolerant and insect- resistant GM crops. Trends Biotech. 23:388-394. 4. BARROSO, P. A. V.; FREIRE, E. C.; AMARAL, J. A. B. do; SILVA, M. T. 2005. Zonas de exclusão de algodoeiros transgênicos para preservação de espécies de Gossypium nativas ou naturalizadas. Campina Grande: Embrapa Algodão, 7 p. 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Considerou ainda que os dados de eficiência no controle das pragas apresentados são inconsistentes, que os impactos sobre o meio ambiente não são suficientemente conhecidos, e as recentes descobertas sobre os impactos negativos da proteína Cry sobre artrópodes que atuam no controle biológico natural e sobre a biota do solo, bem como a sua permanência no solo indicam a necessidade de mais estudos em condições brasileiras para avaliar as possíveis vantagens de uma liberação comercial, frente aos impactos ambientais sociais e econômicos. Acompanharam o voto do relator os membros da CTNBio Drs. Leonardo Melgarejo, Paulo Kageyama, Rodrigo Roubach e Graziela Almeida da Silva. Secretaria Executiva da CTNBio SPO – Área 05 – Quadra 03 Bloco B – Térreo – Salas 08 a 10 Brasília , DF – CEP: 70610-200 Fones: (55)(61) 3411 5516 – FAX: (55)(61) 3317-7475 25