IDENTIFICAÇÃO DE PLANTAS TÓXICAS EM PRAÇAS PÚBLICAS NA CIDADE DE ANÁPOLIS, GOIÁS. PERFEITO, P.1 ; MOREIRA, P. A.S2 .; PEIXOTO, J. C.3 1- Bolsista PBIC, curso de farmácia, UnuCet/UEG. 2- Bolsista PVIC, curso de Farmácia, UnuCet/UEG. 3- Professora de farmacobotânica, curso de farmácia, UnuCet/UEG. RESUMO As plantas tóxicas, muitas delas ornamentais , podem estar presentes em jardins, quintais, parques, vasos, praças, terrenos baldios. Algumas destas plantas são muito conhecidas e exuberantes, com coloração forte e aspectos chamativos, mas quando colocadas na boca ou manipuladas, podem causar graves intoxicações ,principalmente em crianças menores. O objetivo principal do trabalho foi identificar as plantas tóxicas presentes em praças públicas na região central da cidade de Anápolis. O presente estudo foi realizado em algumas praças públicas da região central da cidade de Anápolis, englobando cinco praças:Praça Abadia Daher, Praça Americano do Brasil, Praça do Expedicionário, Praça Bom Jesus e Praça Dom Emmanuel. Na realização deste trabalho, foi feita uma revisão bibliográfica a fim de se conhecer as espécies que já foram registradas como tóxicas. Para as espécies em análise foram anotadas as características referentes à nomenclatura vulgar e indicação terapêutica. Em todas as praças trabalhadas foram encontradas espécies tóxicas. A Praça Dom Emmanuel foi a de maior ocorrência num total de 08 espécies. As espécies comuns nas praças vistoriadas foram: Lantana camara L., conhecida popularmente como Cambará e Nerium oleander L.conhecida como espirradeira.A importância de se fazer estudos em praças urbanas garantem um cuidado maior para o processo de arborização da cidade. Palavras-chaves: tóxicas, Anápolis, praças. 1- INTRODUÇÃO O espaço urbano representa uma continuidade ambiental dentro dos processos ecológicos que regulam a adaptação e o comportamento das plantas, dos animais e, principalmente, do homem sobre o planeta (ROMERO, 2000). O patrimônio natural dentro das áreas urbanas foi, praticamente, em todas as cidades, dilapidado no processo de fundação e expansão destas. Assim, o reconhecimento das espécies vegetais sempre foram preocupações por parte do poder público e da população devido a sua utilização (ROSSI, 2001). As plantas medicinais e tóxicas constituem um grupo especial de vegetais, dada à sua importância etnobotânica e educacional. As plantas tóxicas por serem capazes de ocasionar danos, e como tais apresentam um extraordinário metabolismo, que leva à produção de uma grande variedade de substâncias químicas. Algumas destas substâncias como, por exemplo, as proteínas, os lipídios, os carboidratos e os ácidos nucléicos são comuns a todos os seres vivos, sendo usadas no crescimento, na reprodução e na manutenção do vegetal. No entanto, um grande número de compostos químicos produzidos pelos vegetais serve a outros propósitos. Os pigmentos (flavonóides, antocianinas e betalaínas) e os óleos essenciais (monoterpenos, sesquiterpenos e fenilpropanóides) atraem polinizadores, enquanto algumas outras substâncias como os taninos, as lactonas sesquiterpênicas, os alcalóides e os iridóides, além de apresentarem sabores desagradáveis, podem ser tóxicas e irritantes para outros organismos, funcionando como dissuasórios alimentares, e protegem as plantas contra predadores e patógenos (SOUSA et al., 1991). Várias destas substâncias tóxicas podem causar graves envenenamentos em seres humanos ou em animais domésticos quando plantas que as contenham são ingeridas, ou quando entram em contato com a pele. No entanto, a simples presença destas substâncias em uma determinada espécie vegetal parece não ser suficiente para qualificá- la como tóxica (OLIVEIRA, 2000). O primeiro requisito para suspeitar da possível toxicidade de uma planta, é o relato de uma pessoa, ou animal, que tenha desenvolvido um quadro clínico após a ingestão ou o contato com a espécie em questão. Todavia, pode acontecer de uma outra pessoa (ou animal nos casos veterinários) ter o mesmo tipo de contato com a espécie, e não ser observada sintomatologia aparente. Isto pode ser conseqüência de um, ou da associação de vários fatores, tornando incerta a condição de planta tóxica admitida anteriormente. Segundo SCHVARTSMAN (1979) para a qualificação de uma planta como tóxica ou não tóxica, é necessário ter as seguintes variáveis: Diferentes partes de uma mesma planta (raiz, caule,flores, frutos e sementes) freqüentemente contêm diferentes concentrações de substâncias químicas, por exemplo pode-se citar a mamona, cujas sementes apresentam grandes quantidades da proteína tóxica ricina, enquanto as folhas apresentam apenas traços desta proteína; A idade da planta e o estado de amadurecimento dos frutos contribuem para a variabilidade das concentrações das substâncias. A escopolamina, por exemplo, é o principal alcalóide presente em espécimes jovens de saia-branca (Datura suaveolens L), enquanto a hiosciamina é predominante nas plantas mais velhas. Os taninos estão, em geral, presentes em frutos verdes e praticamente ausentes nos frutos maduros; Clima, solo e estação do ano alteram a síntese de alguns compostos. Existem relatos de cultivares diferentes da mesma espécie e variedade apresentando diferentes constituições de algumas substâncias; Variedades da mesma espécie podem apresentar constituições químicas diferentes; Patologias vegetais como ataques de fungos, ataques de bactérias e até mesmo a predação por herbívoros, podem induzir o vegetal a produzir substâncias que normalmente não produz; Indivíduos diferentes apresentam diferentes taxas de sensibilização a certas substâncias vegetais. Isto ocorre, normalmente, com pessoas sensíveis a certas substâncias presentes nas anacardiáceas. Muitas pessoas são extremamente sensíveis, enquanto outras apresentam pouca sensibilidade, sendo necessárias várias exposições para que algum tipo de sensibilização ocorra; A intoxicação pode estar limitada à quantidade de vegetal ingerido, ou à maneira de ingestão (bem ou mal mastigado). Algumas plantas da família Oxalidaceae, por exemplo, conhecidas como azedinhas, são normalmente ingeridas por crianças devido ao seu sabor levemente azedo, sem nenhum tipo de dano à saúde, porém se a quantidade ingerida for muito grande, desenvolve-se um quadro de intoxicação por oxalato de cálcio. Na flora do bioma Cerrado são várias as espécies potencialmente tóxicas. Um exemplo é a espécie conhecida como comigo-ninguém-pode, grande causadora de intoxicações, afetando principalmente crianças entre 0 e 6 anos através da ingestão acidental das folhas. Os principais sintomas são: salivação abundante, dores na boca, na língua e nos lábios e edema das mucosas. Os princípios tóxicos ainda não estão bem esclarecidos, porém admite-se a participação dos cristais de oxalato de cálcio na forma de agulhas e de uma enzima proteolítica semelhante à tripsina. Não existem antídotos específicos, sendo o tratamento apenas sintomático (HOEHNE, 1939). As plantas que com maior freqüência motivam acidentes são aquelas localizadas em jardins e ambientes domésticos. Igualmente importantes são as espécies que, pela freqüência que ocorrem ficam mais disponíveis para provocar acidentes (MORGAN,1994). O estudo de plantas tóxicas e as respostas aos organismos que sofrem danos a esta intoxicação são ainda pouco estudados. Alguns estudos, cujos resultados publicados são preliminares, vêm sendo conduzidos por um grupo de biólogos e farmacêuticos na Universidade Federal da Paraíba. Em Anápolis, até onde consta não foi ainda identificado algum estudo desta natureza em praças públicas. Assim, como toda planta é potencialmente tóxica e uma planta identificada como tóxica ocasiona um desequilíbrio que se traduz no indivíduo como sintoma de intoxicação é de suma importância a catalogação destas espécies em ambientes que são considerados de lazer pela população como as praças públicas. O presente estudo teve como objetivo geral identificar as plantas tóxicas presentes em cinco praças públicas na região central da cidade de Anápolis. Além de, avaliar a ocorrência das diferentes espécies encontradas nas praças e verificar na literatura o efe ito tóxico das espécies encontradas. 2- MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi realizado em praças públicas da região central de Anápolis, englobando cinco praças: Praça Abadia Daher, Praça Americano do Brasil, Praça do Expedicionário, Praça Bom Jesus e Praça Dom Emmanuel. Na realização deste trabalho, foi feita uma revisão bibliográfica a fim de se conhecer as espécies que já foram registradas como tóxicas na literatura científica especializada, além de visitas ao Centro Toxicológico na cidade de Go iânia. As coletas foram realizadas a cada dois meses nas diferentes praças, com início em setembro de 2004 a abril de 2005. Foram coletadas algumas espécies em período de floração e anotadas as observações de campo e dados referentes à nomenclatura vulgar e indicação terapêutica. Na padronização das indicações terapêuticas foram seguidas as propostas sugeridas por SCHVARTSMAN (1979), informações da agência de vigilância sanitária (ANVISA), farmacopéia Brasileira e registros do centro Toxicológico da cidade de Goiânia, Goiás. O material coletado foi herborizado segundo métodos habituais em botânica, sendo as exsicatas incluídas no acervo do herbário da Universidade de Goiás, unidade de Anápolis. A identificação do material foi feita através de bibliografia especializada, de comparações com material já existente no herbário. 3-RESULTADOS E DISCUSSÃO A cidade de Anápolis, segundo dados preliminares fornecidos pela Secretaria de Meio Ambiente conta hoje com alguns problemas no processo de arborização e, na identificação das espécies plantadas em praças públicas a maioria são consideradas tóxicas (RAMOS, 2003). Várias espécies encontradas nas praças são consideradas tóxicas segundo padronizações e registros analisados para as diferentes espécies (Tabela 1) Tabela 1- Espécies tóxicas encontradas em cinco praças públicas na região central da Cidade de Anápolis, GO. Praças Dom Emanuel, Praça Espécies tóxicas Ipê roxo (Tabebuia sp.) do Expedicionário, Americano do Brasil. Dom Emanuel Ipê rosa (Tabebuia sp.) Dom Emanuel Ipê Amarelo (Tabeluia sp.) Dom Emanuel Pau Ferro (Apuleia Molares) Dom Emanuel Coroa de Cristo (Euphorbi milli L) Dom Emanuel Dama da Noite (Cestrum Nocturum L.) Dom Emanuel Alamanda ( Allamanda cathartica) Abadia Daher Piteira (Agave americana L.) Abadia Daher, Cambará (Lantana camara L.) Americano do Brasil, Dom Emanuel. Abadia Daher Espirradeira (Nerium oleander L.) Americano do Brasil Fedegoso (Cássia hersuta,, Cássia occidentalis L., Cássia medica). A Praça Dom Emmanuel foi a que apresentou uma ocorrência maior de espécies tóxicas, 53% do total das espécies encontradas nas praças, desconsiderando na contagem de cada praça a possibilidade das espécies serem encontradas em duas ou mais praças analisadas. Isso se deve ao fato de ter sido esta uma das primeiras praças implantadas na cidade de Anápolis, não havendo uma análise dos critérios de escolha das espécies que fariam parte da ornamentação e do espaço paisagístico da cidade. A Praça Americano do Brasil apresentou o menor número de espécies, cerca de 10% do total de espécies encontradas nas praças. Arborizar e ornamentar uma cidade não significa apenas plantar vegetais em suas ruas, jardins, praças, parques e creches, criar áreas verdes de recreação pública e proteger áreas verdes particulares. A implantação de vegetais deve atingir objetivos de ornamentação, de melhoria microclimática e de diminuição de poluição, entre outros, esta deve ser fundamentada em critérios técnico- científicos que viabilizam tais funções. A presença ou ausência de princípios tóxicos é de fundamental importância na escolha das espécies (PEDROSA et al.1983). Quanto ao número de espécies tóxicas, confirmadas através de dados do Centro de Interações Toxicológicas de Goiás (CIT) e literatura específica, a Praça Dom Emanuel maior número de espécies concentrou cerca de 53% das espécies tóxicas encontradas.Quanto a freqüência as espécies tóxicas mais encontradas foram o Ipê Roxo (Tabebuia sp)e o Cambará (Lantana camara L), sendo estes encontrados em três das cinco praças analisadas (LORENZI, 2001). 4-CONCLUSÕES O trabalho permitiu fornecer dados das espécies presentes na arborização urbana e que são consideradas tóxicas e, isso faz com que os órgãos gestores tenha esta informação permitindo uma prevenção sobre a intoxicação por plantas, uma vez que será deixado uma cópia do trabalho na secretaria do Meio Ambiente de Anápolis. Além disso, ampliou o conhecimento sobre os nomes e os efeitos adversos gerados pela ingestão ou contato com a planta tóxica.. A realização desse trabalho foi de grande importância para os interessados em botânica, pois esse estudo trará um diagnóstico da flora urbana da cidade. 5-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HOEHNE, F.C. Plantas e Substâncias Tóxicas e Medicinais. São Paulo. Ed. Graphicars. 1939. LORENZI, H.; SOUZA, H. M.; Plantas ornamentais do Brasil (arbustivas herbáceas e trepadeiras). 3 Ed. São Paulo: Plantarum, 2001. MARTINS, E.R.; CASTRO D.M.; CASTELLANI, D.C.; DIAS, J.E. Plantas Medicinais. Minas Gerais. Ed. Universidade Federal de Viçosa. 220p., 1994. MORGAN, R. Enciclopédia das Ervas e Plantas Medicinais. São Paulo. Hemus ed.. 555 p., 1994. PEDROSA, J.B. Arborização de cidades e rodovias. Belo Horizonte: IEF/MG, 1983. ROMERO, Marta A.B. Princípios bioclimáticos para desenho urbano. São Paulo: Pro Editores, 2000. OLIVEIRA, F. de. GOKITHI, A. Fundamentos da farmacobotânica. São Paulo: Editora Atheneu, 2000p. 147-155. RAMOS, Sérgio L. A. Dados técnicos sobre a arborização pública de Anápolis. Anápolis, 2003. ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2001. SCHVARTSMAN, S. . Planta Venenosas. São Paulo: Ed. Sarvier, 1979. 176 p SOUSA, M.P.; MATOS, M.E.O ; MATOS, F.J. de A; MACHADO, M.I.L.; CRAVEIRO, A.A. Constituintes Químicos Ativos de Plantas Brasileiras. Ceará. Edições UFC.,1991. 416 p.