Chefe do Comando Sul conclama cooperação regional antidrogas Enquanto presidentes de três países se reuniam na Guatemala em uma cúpula histórica para discutir a guerra centro-americana contra as drogas, o chefe do Comando Sul dos Estados Unidos afirmava que o istmo assolado pela violência é, de longe, sua principal preocupação. Larry Luxner | 28 março 2012 O general Douglas M. Fraser, comandante do Comando Sul dos EUA, em Miami, fala no Centro Internacional Woodrow Wilson, em Washington, em 23 de maio. [Larry Luxner] WASHINGTON, D.C., EUA — Enquanto presidentes de tres países se reuniam na Guatemala em uma cúpula histórica para discutir a guerra centro-americana contra as drogas, o chefe do Comando Sul dos Estados Unidos afirmava que o istmo assolado pela violência é, de longe, sua principal preocupação. “É onde a violência causa o maior impacto à estabilidade regional”, declarou o general Douglas M. Fraser, comandante do Comando Sul, em Miami, ao discursar em 23 de maio no Centro Internacional Woodrow Wilson, em Washington. Fraser calculou os lucros obtidos pelo crime organizado na América Central em US$ 18 bilhões (R$ 32,7 bilhões) por ano — mais do que o produto interno bruto (PIB) do país mais violento da região, Honduras. “A violência afeta sociedades inteiras”, afirmou Fraser à plateia de quase 100 pessoas. “Se você é um promotor e está concentrado em um caso importante contra narcotraficantes, as chances de ser esquartejado e desovado como um alerta são grandes. É também difícil ser um jornalista que escreve sobre corrupção e tráfico ilícito. Isso acaba sendo uma sentença de morte. Também pode atingir os estudantes a caminho da escola, se estiverem no local errado, na hora errada.” Fraser: Organizações criminosas provocam um ‘impacto desestabilizador’ na região No ano passado, observou o general, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime classificou Honduras como o país mais violento da Terra, com 86 homicídios por 100.000 habitantes, e San Pedro Sula — sua segunda maior cidade — é atualmente a região metropolitana mais perigosa do mundo, com 159 homicídios por 100.000 habitantes. “A ameaça que vejo na região é o crime transnacional e o impacto que tem sobre a segurança. Vejo isso como a ameaça do século XXI, uma rede de redes que não começa nem termina em um determinado país ou sub-região”, ressaltou Fraser. “Se falarmos especialmente de cocaína, há uma zona fonte, a região norte da América do Sul. Há uma zona de trânsito, a América Central e, em menor escala, o Caribe. E há a zona de demanda, que são os Estados Unidos. Temos que lidar com cada parte do cenário”, asseverou Fraser. “Entretanto, não é só o tráfico de cocaína. Nós nos concentramos muito nisso porque é o que mais conhecemos. Mas na verdade, as organizações criminosas buscam financiar suas atividades do jeito que podem.” Os lucros obtidos com a atividade criminosa transnacional superou a capacidade dos países centroamericanos de custear suas forças armadas, alertou. “Isso está causando um impacto sobre a região, não só o tráfico ilícito em si, mas também o suborno e a coerção”, declarou Fraser. “E essas organizações são bastante diversificadas. Elas trabalham com precursores químicos e movimentam armas de uso militar e comercial. Elas também traficam grandes quantidades de dinheiro em espécie e 90% da cocaína que chega aos Estados Unidos passa pela América Central.” E o general acrescentou: “É um negócio muito lucrativo. São organizações bastante inteligentes e capazes, e quando pressionamos em um local, elas se mudam para outro.” Embarcações semissubmersíveis: uma ameaça crescente Fraser, um general de quatro estrelas que assumiu o Comando Sul em 2009, observou a tendência crescente do uso pelos narcotraficantes de embarcações semissubmersíveis — que normalmente medem 100 pés de comprimento e são construídas nas selvas de Equador e Colômbia. “Elas têm uma tripulação de quatro pessoas que podem viajar do litoral da América do Sul ao México e Guatemala sem precisar reabastecer”, disse. “Calculamos em US$ 2 milhões (R$ 3,64 milhões) o custo de construção dessas embarcações. Elas podem transportar até 10 toneladas de cocaína, cujo valor de mercado é de cerca de US$ 250 milhões (R$ 455 milhões). E essas embarcações são difíceis de se detectar.” Fraser também disse que os semissubmersíveis navegam a baixa profundidade e possuem pintura camuflada, submergindo rapidamente quando barcos patrulha se aproximam. “Principalmente porque não há estradas ligando a Colômbia ao Panamá, eles tentam superar esse obstáculo e atracam onde for mais favorável”, afirmou, indicando a costa caribenha de Honduras como o centro de tal atividade marítima. Em segundo lugar está o Panamá, seguido da Guatemala. “Assim que chegam em terra, podem distribuir seus carregamentos e percorrer as estradas para o México e atravessar a fronteira com os Estados Unidos.” “Como consequência dessa situação deteriorante, os países do triângulo do norte pediram aos militares apoio no cumprimento da lei”, explicou Fraser. “Observamos desafios enormes quando olhamos a região. Eu nos vejo como parte da solução, trabalhando com nossa autoridade para lidar com esses problemas gerais. Meu objetivo é apoiar esse empenho e nossos parceiros militares ao ponto de que isso deixe de ser um problema de segurança regional e passe a ser algo que a polícia local possa cuidar. No momento, este não é o caso.” O problema das drogas começa em casa Fraser disse que governo americano está gastando mais de US$ 10 bilhões (R$ 18,2 bilhões) para reduzir a demanda e apoiar os esforços antidrogas. As drogas estão diretamente relacionadas à morte de 37.000 americanos por ano — mais do que as mortes nas estradas. Todas essas organizações possuem redes nas cidades americanas, então não estamos livres do problema. Tanto internamente quanto no hemisfério, nós também precisamos fazer nossa parte.” Um sinal encorajador, disse, é o preço da cocaína, que saltou 50% nos últimos cinco anos, enquanto a qualidade caiu. Além disso, o uso de cocaína nos Estados Unidos está em baixa há uns três ou cinco anos, embora o consumo de outras drogas como as metanfetaminas tenha subido. Para combater as rotas de tráfico ilícito em ambos os litorais do istmo centro-americano, o Comando Sul lançou, em fevereiro último, a Operação Martillo — um esforço cooperativo envolvendo 14 nações das Américas e da Europa. “A Operação Martillo se concentra no tráfico e sua movimentação. Estamos usando os mesmos recursos mas mudando a abordagem para ver se conseguimos reduzir o impacto dessas organizações no Caribe”, disse. “Podemos forçá-los a se mudar para outros lugares, tornando suas operações mais difíceis.” O Comando Sul, que foi criado formalmente em 1963, é um dos nove Comandos Combatentes Unificados do Pentágono. É composto por mais de 1.200 militares e civis que representam todos os braços das Forças Armadas dos Estados Unidos, além de inúmeras agências federais. “Nossos programas visam apoiar militares profissionais liderados por civis que respeitam os direitos humanos e o Estado de direito. Também procuramos ser criativos — e também realizamos exercícios e treinamentos para ajudá-los a formar seus militares”, detalhou Fraser. “Uma das razões pelas quais os militares estão sendo solicitados a apoiar o cumprimento da lei é que o povo e o governo têm mais confiança neles do que em outras agências. Mas precisamos de mais recursos de vigilância e reconhecimento e vislumbramos isso no futuro.” E Fraser concluiu: “Não há uma solução única para o problema. Temos que admitir que o problema é de todos nós e cada um tem seu papel — seja aqui, internamente, ou apoiando governos internacionalmente.” Copyright 2017 Diálogo Americas. All Rights Reserved.