periódicos.fametro.com.br/nanbiquara ROCHAS ORNAMENTAIS NA CIDADE DE MANAUS, LOGÍSTICA E PROPOSTA DE APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS EM PEDREIRAS Joelma Cavalcante Costa1 José Mota da Silva2 Resumo O mercado de rochas ornamentais tem crescido consideravelmente na região metropolitana de Manaus, todavia, apesar da ocorrência de rochas ígneas ao norte da região, o mercado local ainda não utiliza esta matéria-prima para venda como rocha ornamental. O presente trabalho teve como objetivo principal estudar a fonte, tipo, custo de transporte e a logística do transporte de rochas ornamentais até Manaus. Foram pesquisadas cinco marmorarias e pedreira local produtora de brita. Alem disto foi produzido um protótipo de rocha ornamental a partir de amostras da pedreira. Os resultados mostram que as rochas são provenientes principalmente do sudeste com contribuição do nordeste de algumas regiões do centro oeste. Comparando com o sudeste o preço por metro quadrado de rochas ornamentais em Manaus tem aumento de até 70%. Uma alternativa para produção de rocha ornamental local seria reaproveitamento de rochas ígneas atualmente exploradas na região de Presidente Figueiredo. Podendo ser utilizadas na produção de lajotas e materiais menores usados em residências e pavimentações. O desafio é a implantação deste sistema pela falta de equipamento e mão de obra especializada. Todavia, com a aquisição de equipamento adequado e treinamento de funcionários esta produção poderia suprir a região. Palavras-chave: Estado do Amazonas, rocha ornamental, granitos, transporte, logística. Abstract The market of ornamental stones has grown considerably in the metropolitan region of Manaus, however, despite the occurrence of igneous rocks north of the region, the local market not use this material for sale as an ornamental rock. This study aimed to examine the source, type, transportation cost and logistics of transporting ornamental rocks to Manaus. This research examines five marble shops and local quarry producing crushed stone. Besides this was produced an ornamental rock prototype from the quarry samples. The results show that the rocks are mainly from southeast to northeast contribution of some parts of the Midwest. Compared to the southeast the price per square meter of ornamental rocks in Manaus has increased to 70%. An alternative to local ornamental rock production would be the igneous rocks outcropping in the Presidente Figueiredo region. It can be used to produce tiles and smaller materials used in homes and paving. The challenge is to implement this system by lack of equipment and skilled labor. However, with the acquisition of appropriate equipment and staff training this production could supply the region. Keywords: Estado do Amazonas, Manaus, ornamental rock, transport, logistics. 1 Bolsista de iniciação cientifica, curso de tecnologia em petróleo e gás, Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO, e-mail: [email protected] 2 Departamento de petróleo e gás, Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO, e-mail: Nanbiquara - Revista Cientifica da Fametro - v. 1-2, n. 1-2, jan./dez 2015 80 periódicos.fametro.com.br/nanbiquara [email protected] 1.Introdução Rochas ornamentais podem ser definidas como um produto de desmonte de materiais rochosos e de seu subsequente desdobramento em chapas, posteriormente polidas e cortadas em placas (Frascá, 2002; Costa et al., 2002). Onde, na exploração destas rochas deve-se atentar para o método correto de lavra e os cuidados com os impactos ambientais praticando sempre o desenvolvimento sustentável (Reis e Souza, 2003; Fabri et al., 2012). No estado do Amazonas, ao norte da região metropolitana de Manaus afloram rochas vulcânicas, graníticas e metamórficas do embasamento na região de Presidente Figueiredo (Souza e Nogueira, 2009). Atualmente estas rochas estão sendo aproveitadas para produção de brita suprindo a construção civil na região (Figura 1). Entretanto, estes maciços graníticos apresentam características geológicas semelhantes aos maciços graníticos utilizados como rochas ornamentais. Maas e Souza (2009) demonstraram através de ensaios tecnológicos que rochas da região apresentam boas características para o uso como rocha ornamental. A Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) do Estado do Amazonas citam a oportunidade que existe para aproveitamento desta matéria prima como rocha ornamental (Monteiro et al., 1998). Todavia, o mercado local ainda não utiliza esta matéria-prima para venda como rocha ornamental, comprando material proveniente do sudeste do Brasil. O qual enfrenta, alem da distância e das dificuldades de transporte, um tempo muito longo de percurso do produtor até o mercado consumidor local. A presente pesquisa visa apresentar dados logísticos de transporte do granito, origem da matéria-prima, distância percorrida, tempo e custo de transporte. Assim como produção de protótipo de rocha ornamental que poderia ser produzido na região. Nanbiquara - Revista Cientifica da Fametro - v. 1-2, n. 1-2, jan./dez 2015 81 periódicos.fametro.com.br/nanbiquara Figura 1. Mapa de localização da região pesquisada com locais de pesquisa indicados pelas setas. 2.Materiais e métodos O trabalho foi realizado através de pesquisas em trabalhos científicos de geologia, engenharia e economia sobre a qualidade dos granitos existentes na região. Pesquisa de campo sobre os dados de custo e logística de transporte do material vendido atualmente em grandes revendedores de mármores e granitos na cidade de Manaus. Visita técnica em pedreira da região para pesquisa do método de exploração e coleta de amostra (Figura 1). Confecção de protótipo de rocha ornamental através de amostra de rocha coletada. Beneficiamento da amostra através de equipamentos de corte e polimento de rochas em marmoraria local. 3.Pesquisa em marmorarias A pesquisa foi realizada em cinco empresas revendedoras de mármores e granitos, identificadas aqui com os nomes fictícios de Alfa, Beta, Ômega, Gama e Delta (Tabela 1). Os resultados mostram que as rochas comercializadas são provenientes principalmente do estado do Espírito Santo, seguidas de cidades como Jiparaná (MT), Fortaleza (CE) e Salvador (BA). As provenientes do Espírito Santo são: Preto São Gabriel, Branco Dallas, Amarelo Icaraí, Cinza Nobre, Marrom Absoluto e Preto Absoluto (Figura 2). Enquanto Jiparaná produz os tipos: Castor Imperial, Amazon Star, Blue Star e Black Star. A Bahia exporta os tipos: Preto São Gabriel, Amarelo Icaraí e Cinza Nobre. Fortaleza exporta as rochas do tipo: Preto São Gabriel, Amarelo Icaraí e Cinza Nobre (Tabela 1). O transporte do material é feito por estradas até Belém e completando o percurso ate Manaus por via fluvial através de balsas, ou por navios que saem do Rio de Janeiro e trazem o produto até Manaus. O tempo de transporte varia de 15 a 20 dias com o rio Amazonas na cota Nanbiquara - Revista Cientifica da Fametro - v. 1-2, n. 1-2, jan./dez 2015 82 periódicos.fametro.com.br/nanbiquara máxima e de 25 a 45 dias com o rio na cota mais baixa. O preço de compra varia de R$ 15.000,00 a R$ 30.000,00 por contêiner (Tabela 1). O preço por metro quadrado de venda em Manaus tem um aumento que varia de 9 a 70% quando comparado com o preço de venda do material no sudeste do Brasil (Tabela 2). Figura 2. A, B, C, - rochas ornamentais pesquisadas. D - protótipo de rocha ornamental feita a partir de amostra coletada em pedreira. Tipos de Empresa granitos Origem Alfa Preto São Gabriel, Branco Dallas, Amarelo Icaraí, Cinza Nobre Tempo transporte Espírito Santo de 15 dias com rio na cota máxima e 25 dias na vazante Custo por contêiner² Preço de venda (R$) 224,00 por m2 Nanbiquara - Revista Cientifica da Fametro - v. 1-2, n. 1-2, jan./dez 2015 83 periódicos.fametro.com.br/nanbiquara Castor Imperial, Amazon Star, Blue Star Jiparaná (RO) Beta Granito Cinza Espírito Santo Black Star Jiparaná (RO) 15 dias 15 a 45 dias Preto São Gabriel, Amarelo Icaraí, Cinza Nobre Espírito Santo 12.000,00 210,00 a 290 por m2 50 .000,00 195,00 a 320,00 por m2 Preto São Gabriel, Amarelo Icaraí, Cinza Nobre Bahia Preto São Gabriel, Amarelo Icaraí, Cinza Nobre Fortaleza (CE) Omega Granitos sintéticos Espanha, Itáia, China¹ 20 a 30 dias Delta Verde Ubatuba, Cinza Corumbá, Marrom Absoluto Espírito Santo Gama Ocre Itabira, Preto Indiano, Amarelo Florência Revende rocha comprada de No máximo 2 dias distribuidoras de entrega na em Manaus. marmoraria. 15.000,00 a 30.000,00 15 dias com rio na cota máxima e 25 dias na vazante 15.000,00 a 50.000,00 320 a 1.500 por m2 290,00 a 380,00 por m2 Tabela 1. Origem e valores de custo e tempo de transporte de mármores e granitos revendidos em Manaus. ¹Importados comprados de Cachoeiro do Itapemirim (ES) ² Despesa de frete mais despesas de liberação do contêiner na alfândega. Nanbiquara - Revista Cientifica da Fametro - v. 1-2, n. 1-2, jan./dez 2015 84 periódicos.fametro.com.br/nanbiquara 4.Protótipo de rocha ornamental A visita técnica foi realizada na Pedreira Rumo Certo, localizada nas coordenadas S 01º 41’09,4” e W 060º 09’25,3’’, onde foi coletada amostra de rocha ígnea. Neste local, assim como demais pedreiras existentes as rochas são exploradas para a produção de brita, abastecendo a construção civil na região metropolitana de Manaus. Os maquinários utilizados nesta pedreira são principalmente equipamentos de perfuração da rocha, bombas para retirada de acúmulo de água, britadores, esteiras e peneiras. A amostra coletada foi levada a marmoraria PoliPedras LTDA para beneficiamento. Esta foi serrada em três pequenos tabletes de rocha e polida para que pudessem apresentar sua textura interna (Figura 2). A amostra apresenta brilho vítreo, granulação variando de média e muito fina, onde a granulação média se deve a cristais de quartzo e prováveis feldspatos presentes. Tipo de rocha ornamental Manaus, preço por m² (R$) Espírito Santo, preço por m² (R$) Diferença Aumento (%) Amarelo Icaraí 224 133 91 41 250 133 117 47 224 203 21 9 210 91 119 57 350 99 251 72 480 250 230 48 290 79 211 73 290 79 211 73 380 130 250 66 370 169 201 54 Branco Dallas Preto São Gabriel Cinza Nobre Verde Ubatuba Cinza Corumbá Ocre Itabira Preto Itabira Preto Indiano Amarelo Florência Tabela 2. Tabela comparativa de preços de granitos vendidos em Manaus e no sudeste do Brasil. 5.Considerações finais As empresas pesquisadas de maneira geral descrevem que a rocha ornamental produzida em Nanbiquara - Revista Cientifica da Fametro - v. 1-2, n. 1-2, jan./dez 2015 85 periódicos.fametro.com.br/nanbiquara Jiparaná (RO) chega mais rápida a Manaus. No entanto, o custo de frete não apresenta diferenças significativas com relação ao material vindo do Espírito Santo. Tornando o preço destas rochas semelhantes as do sudeste. Outro fator que não estimula a importação deste material é que a qualidade é inferior a rocha ornamental vinda do Espírito Santo. O tempo de transporte apresenta grandes diferenças no trecho feito por via fluvial, a qual esta relacionada aos períodos de cheia e vazante. O transporte através de navios, saindo de Espírito Santo até Manaus, torna o custo de frete menor. Com relação ao preço de venda, os valores pesquisados demonstram que os granitos do tipo Cinza Nobre e Verde Ubatuba apresentam as maiores diferenças com grandes aumentos de preço final revendido em Manaus. Na região a rocha atualmente explorada é usada essencialmente para produção de brita. Todavia, estas rochas poderiam ser usadas em revestimento de áreas externas de prédios, residência, pavimentações e ornamentos de jardins com uso de pequenas lajotas de rochas ígneas. A amostra beneficiada apresentou brilho e textura semelhante a rochas usadas para ornamentação de fachadas de residências e calcamento de jardins. Com relação a extração ainda se usa o método de extração de rocha através de explosivos, o qual pode ser substituído por equipamentos como máquinas de fio diamantados. Retirando blocos sem fragmentação, diminuindo o impacto ambiental. Com o uso deste tipo de extração é possível a produção de pequenos blocos cúbicos que podem ser fatiados em pequenas placas de rocha ornamental ou lajotas. A distância da área fonte até o mercado de rocha ornamental sendo produzida em Presidente Figueiredo diminui as despesas de transporte, afetando o preço do produto final, tornando-o acessível a classes sociais de baixa renda. O desafio seria a implantação deste sistema de exploração e beneficiamento da matéria prima pela falta de equipamento e mão de obra especializada. Todavia, com a aquisição de equipamento adequado e treinamento de funcionários para este tipo de trabalho esta produção poderia suprir a região metropolitana de Manaus. 6.Agradecimentos Ao Núcleo de Orientação a Pesquisa e Inovação Tecnológica da FAMETRO (NOPI) pelo apoio e infra-estrutura. Ao CNPq pela concessão de bolsa de estudo a primeira autora. Ao departamento de Petróleo e Gás da Faculdade Metropolitana de Manaus (FAMETRO) pelo apoio a visita técnica a pedreira. A Marmoraria Polipedras LTDA pela disponibilidade de seus equipamentos e mão de obra. Nanbiquara - Revista Cientifica da Fametro - v. 1-2, n. 1-2, jan./dez 2015 86 periódicos.fametro.com.br/nanbiquara 7.Referências bibliográficas COSTA, A.G., CAMPELLO, M.S., MACIEL, S.L., CALIXTO, C., BECERRA, J.E. Rochas ornamentais e de revestimento: proposta de classificação com base na caracterização tecnológica. In: III Simpósio sobre Rochas Ornamentais do Nordeste, Anais, Recife, PE. 2002. FABRI, E.S., JÚNIOR, H.A.N., LEITE, M.G.P. Explotação de rochas ornamentais e meio ambiente. Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 26, p. 189-197, 2012. FRASCÁ, M.H.B. DE O. Caracterização tecnológica de rochas ornamentais e de revestimento: estudo por meio de ensaios e análises e das patologias associadas ao uso. In: III Simpósio sobre Rochas Ornamentais do Nordeste, Anais, Recife, PE. 2002. MAAS, E.C.A.S., SOUZA, V.S. Maciços graníticos como rochas ornamentais na região nordeste do estado do Amazonas: uma perspectiva de investimento para a cidade de Manaus. Revista Escola de Minas, v. 62, n. 3, p. 343-348, 2009. MONTEIRO, E.A., NAVA, D.B., CORREIA, M.C. Recursos minerais do estado Amazonas. Manaus: CPRM, 1998. (Relatório interno) REIS, R.C., SOUSA, W.T.. Métodos de lavra de rochas ornamentais. Revista Escola de Minas, v. 56, n. 3, p. 207-209, 2003. SOUZA, V.S., NOGUEIRA, A.C.R. Seção geológica Manaus – Presidente Figueiredo (AM), borda norte da Bacia do Amazonas: um guia para excursão de campo. Revista Brasileira de Geociências, v. 39, n. 1, p. 16-29, 2009. Nanbiquara - Revista Cientifica da Fametro - v. 1-2, n. 1-2, jan./dez 2015 87