11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas PERFIL CLÍNICO EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES PORTADORES DO VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA HUMANA NO NÚCLEO DE ASSISTÊNCIA HENFIL EM PALMAS, TOCANTINS Natália Vianna Rodrigues1; Flávio Augusto de Pádua Milagres2 1 Aluno do Curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins; Campus de Palmas; [email protected] “PIBIC/UFT” 2 Orientador do Curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins; Campus de Palmas; [email protected] RESUMO A pandemia do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), com mais de 30 anos de evolução, ainda representa um grave problema de saúde pública, merecendo atenção especializada e acompanhamento multidisciplinar aos pacientes. O Núcleo de Assistência Henfil em Palmas, Tocantins, atende cerca de 800 pacientes portadores de HIV/AIDS. O estado apresenta uma epidemia recente e de pequena magnitude, evidenciando a necessidade do estudo epidemiológico local a fim de prevenir que atinja as dimensões da epidemia nacional. Foi realizado um estudo retrospectivo por meio de revisão de prontuários de 340 pacientes matriculados no serviço de 2006 até 2011. Os resultados demonstraram predominantemente população de cor parda (51,76%), com relação conjugal estável (36,76%), grau de escolaridade entre 8 a 11 anos (32,35%), apresentando relação entre os sexos de 1:1,12 mulher/homem. A via sexual preponderou como modo de transmissão. Demonstrou-se alto índice de comorbidades, predominando as Doenças Infecto-Parasitárias como Malária, Hanseníase e Leishmaniose Visceral (27,11 e 6 casos respectivamente), seguidas das Doenças Cardiovasculares (30 casos) notando-se o aumento da expectativa de vida e a interferência da epidemiologia local no padrão da infecção pelo HIV. Destacou-se o diagnóstico precoce em 61,18% dos pacientes matriculados, assintomáticos, mantendo-se 72,16% nesse estado até o fim da análise dos registros. Portanto, o Tocantins segue as tendências nacionais da epidemia de HIV/AIDS quanto à feminização, heterossexualização e predomínio da via sexual de transmissão, contudo o alto nível de escolaridade e o crescimento da epidemia contrastam com a tendência nacional. Palavras-chave: estudo retrospectivo; Síndrome da imunodeficiência adquirida; comorbidades; Tocantins. 11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas INTRODUÇÃO A Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida (AIDS) teve seu primeiro caso relatado em humano em 1981(Simon et al. 2006) e hoje, no século XXI, é considerada uma pandemia. Inicialmente, predominava em grupo de risco que incluía hemofílicos e recebedores de transfusão de hemocomponentes, homossexuais e usuários de drogas injetáveis. O cenário dessa doença, até hoje sem cura, vem se modificando. Os ditos grupos de risco não existem mais. Ela se estende por toda a população, principalmente mulheres, crianças e heterossexuais (Grangeiro et al. 2010). Causada por um retrovírus, o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), ocasiona a depleção de linfócitos TCD4, através de apoptose das células de defesa e alteração da produção de citocinas, principalmente. A doença possui várias fases desde a infecção até a AIDS propriamente dita. Evolui progressivamente até atingir uma taxa de CD4 inferior a 200 células/uL ( Fauci et al. 1996), e a partir daí, há uma maior suscetibilidade à doenças oportunistas e neoplasias. Em países tropicais e em desenvolvimento, como o Brasil, a AIDS pode adquirir características peculiares pela associação comum a doenças infecto parasitárias e outras doenças sexualmente transmissíveis (DST) (Rodrigues et al. 2000). O Brasil é o segundo lugar de notificação da América, tendo a maior concentração de casos na região sudeste, cotando 65,3% dos casos (Veronesi et al, 2006). Segundo dados do Ministério da Saúde, o Tocantins possui um total de 1303 casos notificados de pacientes infectados pelo vírus HIV em vários estágios de doença (Ministério da Saúde, 2011). Os pacientes HIV positivos do estado do Tocantins são atendidos e acompanhados no Núcleo de Assistência Henfil que se localiza em Palmas. Esse núcleo fornece atendimento ambulatorial a uma média de 800 pacientes. Existe, até os dias atuais, uma enorme escassez de pesquisas, estudos e dados sobre a região norte do Brasil, inclusive do estado do Tocantins. Diante disso e do impacto que o HIV/AIDS tem sobre a população em geral, torna-se importante conhecer o perfil do paciente HIV positivo atendido no Núcleo de Assistência Henfil, ou seja, do paciente HIV positivo do Tocantins e redondezas. 11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas MATERIAL E MÉTODOS Realizado um estudo retrospectivo, através da análise de prontuários médicos dos pacientes infectados pelo vírus HIV do Núcleo de Assistência Henfil da cidade de Palmas/TO, mantendo-se o sigilo dos nomes, ressaltando o caráter confidencial das informações. Os dados foram coletados através de ficha padronizada de pesquisa composta pelos seguintes critérios: identificação, história clínica, história pessoal, dados clínicos de entrada no serviço, sorologias para HIV, sorologias de entrada, exames laboratoriais e terapia antiretroviral inicial. Para a análise estatística dos dados colhidos foi utilizado o programa MICROSOFT EXECEL (VERSÃO 2007), apresentando cálculos de média, mediana e porcentagem (Moore, 2005). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram analisados 455 prontuários correspondentes aos pacientes matriculados entre os anos de 2006 e 2011. Destes, para a avaliação estatística foram excluídos 115 devido à escassez de registros. Dentre os casos novos, o diagnóstico foi realizado em 36,77% pelas Unidades Básicas de Saúde e 19,73% pelos hospitais públicos, mostrando uma frequência maior de diagnóstico precoce em relação aos casos avançados que chegam aos hospitais. A ação investigativa do Núcleo associada ao Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) foram responsáveis por 12,55% dos diagnósticos novos. O paciente acompanhado no Centro de Referência do Estado do Tocantins tem uma média de idade de 36,52 anos. A diferença entre os sexos foi muito estreita, com 180 (52,94%) homens e 160 (47,06%) mulheres. As características predominantes foram cor parda em 51,76%, relação conjugal estável (36,76%). O grau de escolaridade foi de 8 a 11 anos em 32,35% da amostra. A região norte e o Tocantins têm epidemias consideradas de pequena magnitude caracterizadas por baixa incidência de casos, com início da epidemia após 1991, tendo uma ou duas categorias de exposição, com destaque para a via heterossexual e um menor índice de desenvolvimento humano (Grangeiro et al. 2010). A via sexual foi o principal meio contágio com o vírus HIV no presente estudo, tendo relação com ela todos os fatores de risco mais prevalentes. A heterossexualidade predominou seguindo a realidade das ditas regiões de pequena magnitude como Conselheiro Lafaiete e Montes Claros em Minas Gerais com 74,6% (Nascimento, 2011) e 71,1% (Pereira et al. 2011) respectivamente e a cidade de Manaus, também da região norte, com 52% (Silva et al. 2009). 11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas No tocante a presença de doenças concomitantes, houve predominância de pacientes com comorbidades representada por 42,35% contra 32,65% que não as possui. Registrou-se perda de 25% de ausência de registro. Destacaram-se as doenças infecto contagiosas com 71 casos, sendo a Malária (27 casos), Hepatites virais, Hanseníase e Sífilis (12,11 e 10 casos respectivamente) seguidas da Leishamaniose Visceral (6 casos) as infecções mais encontradas. As doenças cardiovasculares seguem com 30 casos, predominando a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) em 20 casos. Em terceiro lugar prevaleceram as doenças psiquiátricas. Identificamos que 208 (61,18%) pacientes foram relatados como assintomáticos em contraste com 32,94% daqueles que já foram diagnosticados em estado sintomático. Na análise dos prontuários, 194 pacientes tiveram relatos da sua evolução, destes 133 (72,16%) mantiveram-se assintomáticos durante o período de avaliação. O índice de coinfecções foi abaixo do âmbito nacional. É esperado no Brasil, dependendo da área estudada, uma incidência de 8,9 a 54% de coinfecção HIV/HCV (Konopka et al. 2010; Tovo et al. 2006; Segurado et al. 2004). Em nossa casuística 0,96% dos pacientes testados apresentaram essa coinfecção. Essa realidade pode ser questionada juntamente com a pequena relação de pacientes que relataram episódios prévios de DST. A grande falha de registros nos prontuários quanto a esses quesitos pode ser uma das explicações para esses fatos. Identificaram-se 110 pacientes (32,36%) que evoluíram com AIDS sendo a infecção oportunista mais frequente a monilíase (67 casos) e a infecção pelo Herpes Zoster (30 casos). Quanto a utilização de TARV, 61,17% dos pacientes iniciaram seu uso, sendo a média de tempo entre a entrada e o início do tratamento de menos de um ano, em média 0,38 ano. A média de contagem de CD4 para o início da terapia foi de 247,23 células/cm³ e 158.091,49 cópias virais. LITERATURA CITADA - Fauci, A.S.; Pantanelo, G.; Stanley, S.; Weissman, D. Immunopathogenic mechanisms of HIV infection. Ann Intern Med 124:654-663, 1996. 11 a 14 de dezembro de 2012 – Campus de Palmas - Grangeiro, A.; Escuderl, M.M.L.; Castilho, E.A. Magnitude e tendência da epidemia de AIDS em municípios brasileiros de 2002-2006. Rev Saude Publica, 44(3):430-40, Jun 2010. - Konopka, C.K. et al. Perfil clínico e epidemiológico de gestantes infectadas pelo HIV em um serviço do sul do Brasil. Rev Bras Ginecol Obstet, 32(4):184-90, 2010. - Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico DST/AIDS 2010: versão preliminar. Ano VII n°1. Brasília 2010. Disponível em: http://www.aids.gov.br/sites/default/files/publicacao/2010/boletim2010_preliminar_pdf_34434.pdf. Acesso em: set 2011. - Moore, D. S. A estatística básica e sua prática. Editora Ltc, 2005. 658 p. - Nascimento, M.A.N. Perfil epidemiológico dos pacientes atendidos no ambulatório de HIV/AIDS do Serviço de Assistência Especializada (SAE) de Conselheiro Lafaiete, MG, nos anos de 2001 e 2008/ Mário Antônio Nogueira do Nascimento. São Paulo, 2011. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Programa de Doenças Infecciosas e Parasitárias. - Pereira, J.A. et al. Infecção pelo HIV e AIDS em município do norte de Minas Gerais. Rev. APS, 14(1); 39-49, Jan/Mar 2011. - Rodrigues, E.H.G.; Abath, F.G.C. Sexually transmitted disease in patients infected with HIV/AIDS in the State of Pernambuco, Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop, 33 (1):47-52, Jan-Fev 2000. - Segurado, A.C. et al. Hepatitis C virus coinfection in a cohort of HIV-infected individuals from Santos, Brazil: seroprevalence and associated factors. AIDS Patient Care STDS, 18(3):135-43, 2004. - Silva, L.C.F. et al. Pattern of HIV/AIDS infection in Manaus, State of Amazonas, between 1986 and 2000. Rev. Soc. Bras. Med. Trop, 543-550, Set-Out 2009. - Simon, V.; Ho, D.D.; Karim, Q.A. HIV/AIDS epidemiology, pathogenesis, prevention, and treatment. Lancet 5;368(9534):489-504, Aug 2006. - Tovo, C.V. et al. Prevalência ambulatorial em um hospital geral de marcadores para hepatites B e C em pacientes com infecção pelo vírus da imunodeficiência humana. Arq Gastroenterol, 43(2):73-6, 2006. - Veronesi, R; Focaccia, R. Tratado de Infectologia. 3 ed. São Paulo, 2006. vol1, 111-288p. "O presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT”