Do brilho das estrelas s virtudes das pedras: o imaginrio

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RABELO, Dianina Raquel Silva. Do brilho das estrelas às virtudes das pedras: o imaginário medieval na representação do
cosmo e da natureza no Lapidario de Alfonso X. ). In: Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão da UFG - COMPEEX, 2,
2005, Goiânia. Anais eletrônicos do XIII Seminário de Iniciação Científica (CD - Room), Gyn: UFG, 2005, pp. 3.
Do brilho das estrelas às virtudes das pedras: o imaginário medieval na
representação do cosmo e da natureza no Lapidario de Alfonso X.
RABELO, Dianina Raquel Silva1.
Palavras-chave: Astronomia, Astrologia, Magia.
1. INTRODUÇÃO:
A pesquisa teve como objeto a análise do imaginário presente na
representação do cosmo e da natureza no Lapidario de Alfonso X, obra rica em
detalhes sobre as propriedades secretas que as pedras poderiam receber e
transmitir.
Na Idade Média, sobretudo no século XIII, o cosmo e natureza eram
vistos por meio da Magia e da Astrologia/ Astronomia, que eram praticadas no
Ocidente Medieval. Permeando entre o Ocidente cristão e o mundo oriental, Alfonso
X soube aproveitar do saber árabe para desenvolver seu projeto cultural. Assim,
dedicou-se às traduções e compilações de obras, dentre elas o Lapidario ou Tratado
de las piedras, na qual está presente uma forma de ver, pensar e relacionar com o
mundo e com a natureza por meio dessas práticas cultas e ocultas.
Esta pesquisa é importante para as pesquisas na área de Idade média,
sobretudo, pelo aspecto inovador: é uma análise não somente na narrativa e
também não somente do caráter científico do Lapidario, mas é justamente um
esforço em trilhar pelos campos da História da Arte e da Literatura e, portanto,
extrair o imaginário presente na obra por meio do seu caráter literário. E todos os
aspectos inovadores desta pesquisa são resultados do estudo do imaginário e das
representações, um campo de ensino que tem muito a oferecer ao historiador.
2. METODOLOGIA:
A pesquisa desenvolveu-se no sentido de realizar diálogos com
historiadores que se ocupam da problemática a respeito das ciências ocultas na
Idade Média e da atividade tradutora, compiladora e historiográfica sob o mecenato
de Alfonso X, no século XIII, e de analisar o documento Lapidario alfonsino, por meio
de uma abordagem no campo dos imaginários sociais, em que os conceitos de
imaginário e representação são os fios condutores da fundamentação teórica.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Em relação aos propósitos buscados na análise desta obra, alcancei
resultados esclarecedores a respeito da cosmovisão presente na obra, por meio da
magia e da astrologia/ astronomia que permeiam ao longo do Tratado. A magia que
discutimos neste trabalho é uma magia culta, científica e cortesã, pois era praticada
e estudada por governantes intelectuais nas cortes régias e estava ancorada na
astrologia e na astronomia.
O Lapidario alfonsino possui uma fundamentação teórico-filosófica
baseada na filosofia natural de Aristóteles, no neoplatonismo e no hermetismo. Esta
obra possui uma relação intrínseca entre texto e imagem, na qual, de forma científica
e literária, é construído um imaginário mineral medieval. Assim, vários olhares
convergem-se para o Lapidário e vários aspectos podem ser encontrados, tanto
literários como científicos. Estes constituem o imaginário na representação do cosmo
e da natureza, ou seja, a forma que os homens têm de ver, compreender e se
relacionar com o mundo.
Encontrei no Lapidario a idéia da “unidade cósmica” e da relação “macro
microcósmica”, a qual fundamenta o pensamento astrológico, e é identificada, em
menor ou maior grau, à cultura árabe.
Além de científico, o Lapidario possui um caráter literário. Vários recursos
literários podem ser percebidos nele. Pode-se dizer que ele constitui em uma
representação do cosmo e da natureza a qual se apresenta como uma chave de
entendimento do mundo, do homem e da natureza.
4. CONCLUSÃO:
Estudar conceitos como o de magia não é tarefa fácil. Menos ainda é
associar tais conceitos ao de astrologia e pensar em tudo isso relacionado ao
contexto da Idade Média. E um outro exercício difícil, mas bastante enriquecedor é
dedicar ao estudo da imagem, ao analisar a iconografia do Lapidario afosino. Porém,
a experiência foi produtiva e de grande relevância, pois alguns resultados foram
alcançados e já é possível posicionar frente a algumas questões relacionadas ao
tema proposto.
Pode-se perceber que o Lapidario possui um caráter interdiciplinar, pois
nele está presente o interesse pelo estudo dos movimentos dos astros, da relação
entre o homem e os poderes celestes na natureza. E, portanto, este tratado
mineralógico possui ao mesmo tempo caráter astrológico e racional.
O Lapidario expressou uma “força” que une, interliga e dá sentido a todas
as criaturas entre si. Nele, as pedras e os minerais eram propícios a receber
propriedades que hoje são consideradas mágicas, mas que na Idade Média eram
dotadas de caráter científico. A magia presente no Lapidario é uma magia
essencialmente astrológica.
O Lapidario afonsino constitui um exemplo singular entre os manuscritos
medievais, devido à confluência, como foi mencionado acima, da magia e da
astrologia, e, mais ainda, da arte.
Com a realiziação desta pesquisa pude perceber que o Lapidario constitui
uma representação do cosmo e da natureza a qual se apresenta como uma chave
de entendimento do mundo, do homem e da natureza.
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1
Bolsista CNPQ, Pós-graduada em História (UFG).Conclusão: junho de 2005.
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