Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos/MS - FTN Apêndice B – Fármacos e Lactação Isabela Heineck, Luciane Cruz Lopes, Rogério Hoefler, Miriam de Barcellos Falkenberg, Sheila Silva Monteiro Lodder Lisboa, Rosa Martins, Jardel Corrêa de Oliveira e José Ruben de Alcântara Bonfim As vantagens e a importância do aleitamento materno são bem conhecidas. Assim, a amamentação somente deverá ser interrompida ou desencorajada se existir evidência de que o fármaco usado pela nutriz é nocivo para o lactente, ou quando não existirem informações a respeito, e não for possível substituir o fármaco por outro, sabidamente inócuo. O princípio fundamental da prescrição de medicamentos para mães lactantes baseia-se no risco versus benefício. Em geral, a nutriz deve evitar o uso de qualquer medicamento. No entanto, se isto for imperativo alguns aspectos práticos devem ser considerados. t Avaliar se o medicamento prescrito tem benefício reconhecido para a condição para a qual está sendo indicado. t Utilizar a menor dose possível e programar o horário de administração do medicamento, evitando que o pico do medicamento em sangue e leite materno coincida com o horário da amamentação (por exemplo, administrar logo após o término da mamada). t Orientar a mãe a retirar o leite com antecedência e estocar em congelador no caso de interrupção temporária do aleitamento. Sugerir ordenhas periódicas para manter a lactação, desprezando o leite retirado após início do tratamento. Observar as recomendações dos bancos de leite humano http:// www.bvsam.icict.fiocruz.br/normastecnicas/doadoras.pdf). t Dar preferência a medicamentos aprovados para uso em recém-nascidos e lactentes ou reconhecidamente seguros para crianças, e que sejam pouco excretados no leite materno. t Dar preferência a medicamentos de aplicação tópica ou local e a tratamentos de curta duração. Medicamentos de uso prolongado podem alcançar níveis elevados no leite, representando maior risco potencial para o lactente. Nesse caso, considerar a possibilidade de realizar monitoria de níveis plasmáticos do fármaco no lactente, principalmente em tratamentos prolongados. A mãe deve ser orientada a observar a criança com relação a possíveis alterações no padrão alimentar, hábitos de sono, agitação, tônus muscular e distúrbios gastrintestinais que podem estar relacionadas a reações adversas ao medicamento. Apesar das considerações feitas cabe ressaltar que poucos fármacos são capazes de interferir significativamente na lactação. O quadro a seguir traz comentários sobre os fármacos da Rename e o uso na lactação. A ausência de um fármaco nesta lista não implica segurança absoluta. Bibiografia: 1. 2. 3. 1086 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria da Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Amamentação e uso de medicamentos e outras substâncias. 2. ed. Brasília, 2010. 92 p. BRIGGS, G. G.; FREEMAN, R. K.; YAFFE, S. J. Drugs in pregnancy and lactation. 8. ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2008. GIUGLIANI, C.; GIUGLIANI, E. R. J. Uso de drogas na amamentação. In: SANSEVERINO, M. T. V.; SPRITZER, D. T.; SHÜLLER-FACCINI, L. (Org.). Manual de teratogênese. Porto Alegre: Ed. Universidade, 2001, p. 519 – 35. Apêndice B – Fármacos e Lactação 4. 5. 6. 7. MENGUE, S. S. Os medicamentos durante a gravidez e a amamentação. In: SCHENKEL, E. P.; MENGUE, S. S.; PETROVICK, P. R. Cuidados com os medicamentos. 4. ed. Porto Alegre: UFRGS; Florianópolis: UFSC, 2004. p. 89 – 94. TAKETOMO, C. K.; HODDING, J. H.; KRAUS DM. Pediatric Dosage Handbook. 12. ed. Hudson: Lexi-Comp, 2005. WANNMACHER L. Fármacos em gravidez e lactação. In: FUCHS, F. D.; WANNMACHER, L.; FERREIRA, M. B. C. (Eds.). Farmacologia clínica: fundamentos da terapêutica racional. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. p. 936 – 41. WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. WHO Model Formulary 2008. Geneva: World Health Organization, 2009. [CD-ROM] FÁRMACOS E LACTAÇÃO FÁRMACO COMENTÁRIO acetato de hidrocortisona (tópico) Não deve ser aplicado no seio antes da amamentação. acetato de leuprorrelina Não se recomenda, pelos efeitos adversos potenciais no lactente. acetazolamida Potencial para reações adversas graves. ácido acetilsalicílico Uso por curta duração é seguro em dosagem usual. Monitorar lactente. Uso regular de doses elevadas pode diminuir a função plaquetária e produzir hipoprotrombinemia no lactente se estoques de vitamina K são baixos. Possível risco de síndrome de Reye. antimoniato de meglumina Contraindicado. asparaginase Se necessário utilizar, interromper amamentação. atenolol Recomenda-se monitorar o lactente. azatioprina Contraindicada. Se necessário utilizar, interromper a amamentação. azitromicina Usar somente quando não houver alternativa. besilato de anlodipino Não se recomenda amamentar. besilato de atracúrio Evitar lactação por 24 horas após a administração de bloqueadores neuromusculares em nutrizes. brometo de ipratrópio Recomenda-se monitorar o lactente. calcitriol Altas doses sistêmicas: pode causar hipercalcemia no lactente. captopril Não recomendado. carbamazepina Concentrações no leite variam de 15 a 69% daquela encontrada no plasma materno. Recomenda-se monitorar o lactente. carbonato de cálcio + colecalciferol Doses altas podem causar hipercalcemia no lactente. Monitorar concentração de cálcio sérico. carbonato de lítio Há relatos de hipotonia, hipotermia, cianose e mudanças no eletrocardiograma do lactente. carboplatina Evitar o uso. carvedilol Não recomendado. ciclofosfamida Contraindicada. A ciclofosfamida pode interferir no metabolismo celular do lactente. ciclosporina Risco potencial de efeitos adversos graves (hipertensão, nefrotoxicidade e malignidade) no lactente. cipionato de testosterona Masculinização de meninas e desenvolvimento sexual precoce de meninos. Pode suprimir a produção láctea recomendada. 1087 Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos/MS - FTN COMENTÁRIO FÁRMACO cisplatina Não recomendado. Potencial citotóxico. citarabina Risco potencial de supressão de medula óssea. Se necessário utilizar, interromper a lactação. citrato de clomifeno Pode suprimir a produção láctea. citrato de fentanila Risco de depressão respiratória e sedação para o lactente, mesmo se o fármaco alcançar o leite materno em baixas concentrações. citrato de tamoxifeno Evitar. Pode suprimir a produção láctea. clofazimina Pode alterar a cor do leite, com possibilidade de alterar reversivelmente a cor da pele do lactente. clorambucila Evitar amamentar. cloranfenicol, palmitato e succinato sódico de cloranfenicol Pode causar mielossupressão em lactentes. A concentração no leite materno é baixa para causar a síndrome cinzenta. cloridrato de amiodarona Não recomendado. cloridrato de amitriptilina Monitorar a criança para determinar ocorrência de sonolência. cloridrato de ciprofloxacino Altas concentrações no leite. Se possível usar outros fármacos mais seguros. cloridrato de clomipramina Monitorar o lactente para surgimento de sonolência. cloridrato de clorpromazina Monitorar lactente para sonolência, devido a pequenas concentrações no leite materno. cloridrato de daunorrubicina Contraindicado. cloridrato de doxiciclina Se possível, empregar outro fármaco. cloridrato de doxorrubicina Contraindicado. cloridrato de gencitabina Evitar. Risco de efeitos adversos no lactente. cloridrato de idarrubicina Evitar amamentação. cloridrato de mefloquina Contraindicado quando o recém-nascido tem menos de 3 meses. Evitar amamentar após esse período. cloridrato de metoclopramida Potencial para efeitos no SNC. Monitorar lactente. cloridrato de penicilamina Contraindicado. cloridrato de prometazina Recomenda-se monitorar lactentes para sedação excessiva, excitação ou irritabilidade. cloridrato de verapamil Não recomendado. cloridrato e lactato de biperideno Pode inibir a produção de leite materno. dactinomicina Evitar. dapsona Oferece baixo risco ao lactente, porém recomenda-se monitorar lactente para icterícia. diazepam É preferível restringir o uso durante lactação. dicloridrato de quinina e sulfato de quinina Risco de hemólise em crianças com deficiência na G6PD. difosfato de primaquina Risco de hemólise em crianças com deficiência de G6PD. dipirona sódica Evitar lactação durante e 48 h após o uso do fármaco. docetaxel Recomenda-se suspender lactação. 1088 Apêndice B – Fármacos e Lactação COMENTÁRIO FÁRMACO estriol Estrogênios em geral são contraindicados para mulheres que estejam amamentando. Pode ocorrer alteração da produção e da composição do leite materno. estrogênios conjugados Estrogênios em geral são contraindicados para mulheres que estejam amamentando. Pode ocorrer alteração da produção e da composição do leite materno. etinilestradiol + levonorgestrel Estrogênios em geral são contraindicados para mulheres que estejam amamentando. Pode ocorrer alteração da produção e da composição do leite materno. fator VIIa de coagulação Interromper amamentação ou a administração do fármaco, considerando importância do fármaco para a nutriz. fenobarbital Lactentes podem experimentar sedação excessiva e ainda sintomas de retirada pela descontinuação súbita da amamentação. Risco de ocorrência de metemoglobinemia em lactentes cujas mães utilizam fenobarbital. Pode inibir reflexo de sucção no lactente. fenofibrato Não recomendado em lactantes devido a indícios de carcinogenicidade em ratos. fluconazol Não recomendado. fluoruracila Considerar risco para o lactente quando via parenteral. fosfato de codeína Há variação considerável na capacidade das nutrizes em metabolizar codeína-morfina; intoxicação relatada em lactente. fumarato de tenofovir desoproxila Contraindicado. furosemida A concentração do fármaco é muito baixa para ser prejudicial, porém pode reduzir a produção de leite. glibenclamida Risco de hipoglicemia para o lactente. gliclazida Risco de hipoglicemia para o lactente. haloperidol e decanoato de haloperidol Limitar o número de mamadas quando a dose materna é elevada. Monitorar o lactente para surgimento de sonolência. hidroclorotiazida Doses altas podem inibir lactação. hidroxiureia Excretada no leite materno em níveis médios de até 6,1 microgramas/mL. Embora esta concentração seja considerada baixa, há o risco potencial de efeitos adversos no lactente. iodo + iodeto de potássio (solução de iodeto de potássio iodada) Interromper amamentação. Risco de bócio e hipotireoidismo para o lactente. iodopovidona Evitar. Iodo absorvido a partir de preparações vaginais pode ser encontrado no leite materno. isetionato de pentamidina Evitar o uso. isoniazida Monitorar a criança para possível toxicidade. Risco teórico de convulsões e neuropatia. Recomendável piridoxina profilática para a mãe e o lactente. isoniazida + rifampicina Monitorar o lactente para possível toxicidade. Risco teórico de convulsão e neuropatia. Recomendável piridoxina para a mãe e o lactente. Rifampicina: não existem relatos de problemas em humanos. itraconazol Não recomendado. Distribuído no leite. ivermectina Evitar tratar a mãe antes que a criança tenha 1 ano de idade. levodopa + benserazida Evitar. Pode suprimir lactação. Excretada no leite materno. levodopa + carbidopa Evitar. Pode suprimir lactação. Excretada no leite materno. 1089 Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos/MS - FTN COMENTÁRIO FÁRMACO lopinavir + ritonavir A solução oral contém propilenoglicol, deve ser evitada em grávidas e lactantes. loratadina Uso não recomendado. Se inevitável, monitorar o lactente para sedação. losartana potássica Não recomendado. maleato de dexclorfeniramina Em doses usuais é considerado seguro. Monitorar criança para sedação excessiva, excitação ou irritabilidade. maleato de ergometrina Pode produzir efeitos lesivos ao lactente. Prescrever fármaco alternativo ou interromper amamentação. Administração prolongada pode inibir lactação. melfalana Não recomendada. mercaptopurina Contraindicada. metotrexato e metotrexato de sódio Risco de efeitos adversos graves no lactente. metronidazol Caso seja necessário o uso do fármaco interromper amamentação durante sua administração e por 2 dias após o final da terapia. Altera o sabor do leite. midazolam ou cloridrato de midazolam Recomenda-se evitar a amamentação por 24 horas após a administração do fármaco. nicotina Contraindicada. nitrofurantoína Pode provocar hemólise em lactentes com deficiência de G6PD. noretisterona Doses altas podem suprimir lactação e alterar composição do leite. ocitocina Pode alterar produção ou composição do leite. Se não houver fármaco alternativo, monitorar a criança para efeitos adversos e/ou ingestão adequada de leite. Se for necessária terapia pós-parto, para controle de hemorragia intensa, atrasar o início da amamentação em pelo menos 24 horas após a interrupção do fármaco. omeprazol e omeprazol sódico Risco potencial para reações adversas graves ao lactente. oxacilina sódica Pode levar a sensibilização, diarreia, candidíase e exantema nos lactentes. oxaliplatina Evitar a amamentação. Risco de efeitos adversos no lactente. oxamniquina Recomenda-se não amamentar por 3 a 4 horas após uso do fármaco. paclitaxel Evitar o uso. palmitato de retinol Doses altas empregadas pela nutriz podem causar efeitos adversos graves em neonatos. pamidronato dissódico Evitar o uso. Risco de efeitos sobre o lactente. pirimetamina Evitar a amamentação. Evitar a administração de outros antagonistas do folato ao lactente. praziquantel Utilizar a menor dose possível e monitorar o desenvolvimento neonatal. prednisona Doses elevadas podem afetar função suprarrenal do lactente. Monitorar função suprarrenal do lactente se a lactante usar doses elevadas. Reduzir dose se amamentação ocorrer 3 a 4 horas após administração do medicamento. sinvastatina Contraindicada. 1090 Apêndice B – Fármacos e Lactação COMENTÁRIO FÁRMACO succinato sódico de hidrocortisona Efeitos sistêmicos no lactente são improváveis com doses menores que o equivalente a 40 mg de prednisolona diariamente. Monitorar função suprarrenal do lactente com doses mais altas. sulfadiazina de prata Pode haver risco ao lactente pela presença da sulfadiazina. sulfassalazina Monitorar a criança para diarreia e icterícia. Risco teórico de hemólise neonatal especialmente se houver deficiência de G6PD. sulfato de atazanavir Contraindicado. sulfato de bleomicina Contraindicado. sulfato de estreptomicina Monitorar lactente quanto ao aparecimento de afta e diarreia. sulfato de gentamicina Monitorar lactente quanto ao aparecimento de candidíase e diarreia. sulfato de morfina Uso por período curto é seguro em doses usuais. Monitorar o lactente. Sintomas de retirada em neonatos de mães dependentes. sulfato de vimblastina Contraindicado. sulfato de vincristina Contraindicado. talidomida Evitar amamentação devido ao potencial para efeitos adversos. tioguanina Evitar o uso. vacina febre amarela (atenuada) Vacinação contraindicada devido ao risco de encefalite, em especial se o lactente tiver menos de 9 meses de idade. valproato de sódio ou ácido valproico Recomenda-se interromper amamentação. Risco de potenciais efeitos adversos no lactente. varfarina sódica Risco de hemorragia, aumentado pela deficiência concomitante de vitamina K. 1091