13 - CENACON

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NÚMERO: 13
TÍTULO: RELATO DE CASO- Injeção de Clorpromazina retrobulbar no tratamento de olho cego
doloroso
AUTORES: Emmanuel Moraes Antunes¹, Renata Tiemi Kashiwabuchi²
1
Médico residente do terceiro ano de Oftalmologia – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto –
FAMERP – Hospital de Base – HB
²Professora Assistente da Disciplina de Oftalmologia – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto
– FAMERP – Hospital de Base – HB
INSTITUIÇÃO: Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – FAMERP – Hospital de Base – HB
RESUMO
Para o tratamento de olho cego doloroso uma das indicações é a realização de evisceração. Por
se tratar de um procedimento de certa forma mutilante, uma opção menos traumática seria lançar mão
de procedimentos menos invasivos, como injeções retrobulbares de substâncias químicas. Esse caso
descreve a realização de injeção retrobulbar de clorpromazina no tratamento de olho cego doloroso em
um paciente de 55 anos, masculino, que após o procedimento permaneceu sem dor e optou por não
realizar a cirurgia de evisceração, mesmo após um ano de seguimento. Este relato procura alertar aos
oftalmologistas que existem procedimentos de podem ser tentados antes da indicação de uma
evisceração.
Descritores: Olho cego doloroso; Injeção retrobulbar; Clorpromazina; Evisceração; Manejo da dor;
Bloqueio nervoso;
INTRODUÇÃO
A dor é uma condição bastante rotineira na oftalmologia clínica entre os pacientes que
apresentam olho cego por diversas causas. A realização de evisceração nesses casos, em que a dor é
intratável clinicamente, está bem estabelecida e indicada na literatura. Porém, por se tratar de uma
cirurgia mutilante e muitas vezes traumática para o paciente, um procedimento menos invasivos como a
realização de injeção retrobulbar de substancias químicas como álcool absoluto e clorpromazina,
poderia melhorar a dor sem a necessidade de realizar uma evisceração.(1)
Neste caso, descreveremos um paciente com quadro de olho cego doloroso que foi
encaminhado ao ambulatório de oftalmologia do Hospital de base de São José do Rio Preto já com
indicação de evisceração. A injeção retrobulbar de clorpromazina com a finalidade de cessar a dor e
evitar a evisceração foi proposta.
RELATO DE CASO
Paciente 55 anos, masculino, branco, casado, procedente de Mendonça-SP, pedreiro. Procurou
o setor de oftalmologia do Hospital de Base de São José do Rio Preto-SP, referindo dor intensa em globo
ocular a esquerda de longa data, com piora na intensidade da dor nos últimos meses. Refere trauma
confuso em olho esquerdo aos três anos de idade quando também perdeu a visão desse olho. Nega uso
de colírios. Antecedentes pessoais: Epilepsia em uso de carbamazepina. Nega outras comorbidades,
alergias e cirurgia oftalmológica prévia.
Ao exame oftalmológico apresentava acuidade visual corrigida (AV/CC) de 20/30 em olho direito
(OD) e sem percepção luminosa em olho esquerdo (OE). Biomicroscopia: OD sem alterações, e OE
blefarite anterior leve, conjuntiva hiperemiada +/4+, íris em bombeé e atrófica, rubeosis iridis, leucoma
em faixa as 7h, degeneração com depósito lipídico as 4h, câmara anterior formada e rasa. Tonometria
de aplanação: OD: 12mmHg. OE: hipertônico a digitopressão.
Figura 1- Olho esquerdo (olho cego doloroso).
Realizado ultrassom ocular de olho esquerdo que mostrou a presença de descolamento de
retina total.
Figura 3- Ecografia de olho esquerdo em modo A e B, mostrando presença de descolamento de retina.
O paciente foi submetido a injeção retrobulbar de lidocaína com epinefrina 2% 2 ml, seguida da
injeção retrobulbar de Cloridrato de clorpromazina 25mg/5ml (1ampola), mantido com analgésico
sistêmico dipirona 500mg 6/6h em caso de dor e atropina 1% colírio duas vezes ao dia.
No quindo dia após a injeção o paciente retorna sem queixas de dor e sem alterações ao exame
físico.
O paciente foi acompanhado periodicamente com retorno em 1 mês, 3 meses, 6 meses e 1 ano
mantendo-se assintomático. Esporadicamente referia queixa de sensação de corpo estranho
relacionado a superfície ocular porém mantém seguimento no setor de córnea de nosso serviço em uso
de hipromelose 3mg/ml.
DISCUSSÃO
Existem várias técnicas e terapêuticas desenvolvidas para o tratamento da dor ocular. Em 1918
Gruter descreveu sua experiência com injeções retrobulbares com álcool. (4) Após este relato vários
outros descreveram suas experiências, alguns também com o uso de fenol em substituição ao álcool.
Ambos são agentes neurolíticos ainda usados, mas que vêm sendo abandonados em alguns centros, por
apresentar efeito analgésico limitado (em torno dos três meses), além das possíveis complicações como
hemorragia retrobulbar, paralisia permanente de músculos oculares e ptose permanente. (2, 3)
A injeção retrobulbares com clorpromazina para o tratamento de dor ocular em olho cego
doloroso foi sugerida pela primeira vez em 1980 por Fiore e em 1989 por Bastrikof. Estes autores
relataram melhora da dor em 84% dos pacientes, por aproximadamente seis meses. Como complicações
e efeitos colaterais está descrito como edema, ptose, celulite orbital estéril, limitação transitória de
movimentos extraoculares, hemorragia retrobulbar e lesão em epitélio de córnea, dentre outros. (4, 5)
Nosso serviço tem como rotina propor ao paciente com quadro de olho cego doloroso
submeter-se a injeção retrobulbar de clorpromazina como primeira opção terapêutica, obtendo bons
resultados, com resolução completa da dor e por mais tempo que os descritos na literatura, em alguns
casos mais de um ano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Órbita, Sistema Lacrimal e Oculoplástica - José Vital Filho, Antonio A. Velasco e Cruz, Silvana A.
Schellini, Suzana Matayoshi, Ana Rosa P. de Figueiredo, Guilherme Herzog Neto – 3ª edição, 2013: p. 4647
2. S. e Masud, R.D. Wasnich, J.L. Ruckle, W.T. Garland, S.W. Halpern, D. Mee-Lee, et al. Contribution of a
heating element to topical anesthesia patch efficacy prior to vascular access: results from two
randomized, double-blind studies, J Pain Symptom Manage, 40 (2010): p. 510-519
3. W. Gruter, Orbital injection of alcohol for relief pain in blind eyes, Bericht d Ophtal Gesellschaft, 1
(1918): p. 85
4. W. Gruter, Review of experiences with intraorbital alcohol injections according to Gruter, Arch
Ophtalmol, 144 (1941): p. 92-95
5. C. Fiore, G. Lupidi, G. Santoni, Retrobulbar injection of chlorpromazine in the absolute glaucoma, J Fr
Ophtalmol, 3 (1980): p. 397–399
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