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O EDIFÍCIO HÍBRIDO: A RELAÇÃO DIALÉTICA DO HOMEM COM A
CIDADE: a relação dialética do homem com a cidade
ÂNGELA AKEMI BARDELLA NAGAMORI (1); JOANA D’ARC BARDELLA
CASTRO (2)
1. Arquiteta, urbanista formada pela UNIEVANGELICA. Especialista Design de Interiores.
Rua B, nº 45 Anápolis/GO.
akemi_nagamori@hotmail.
2. Economista, Doutra em Economia pela UnB. Docente da UEG/AnápolisRua B nº 102 Anápolis/GO
[email protected].
RESUMO: Este trabalho apresenta uma discussão acerca da tipologia arquitetônica de edifícios
híbridos, seu contexto histórico, inserção na cidade e a compreensão do mesmo como instrumento de
desenvolvimento social e urbano com ênfase na diversidade e vitalidade urbana. Através do edifício
híbrido pode-se alcançar uma nova leitura da cidade, um novo tipo de percepção do espaço e, portanto
uma identidade representativa da nova cidade: a cidade contemporânea. Assim como o ser humano é
um ser complexo, que está se modificando constantemente, o espaço do qual ele pertence acompanha
essas mudanças frente às evoluções das relações sociais. Pretende-se compreender a relação e
contribuição do edifício hibrido para a cidade contemporânea e o valor histórico de edifícios antigos na
manutenção da vitalidade urbana e ressignificação da história das cidades. Para compreender a
importância do edifício moinho de trigo foram realizadas entrevistas e a metodologia de análise de
conteúdo foi a proposta por Bardin. A amostra é composta por 20 indivíduos. A entrevista constou de
quatro questões orais divididas em sete categorias: presença de memória afetiva, identificação com o
edifício, percepção visual do moinho (impacto visual), importância histórica, interesse na revitalização e
favorável à permanência do prédio na cidade. A análise das entrevistas indicam que 90% da amostra
são favoráveis à permanência do edifício do antigo moinho na cidade, revitalizado e com um novo uso
público. Verificou-se também a percepção da importância e do valor histórico do edifício na cidade
explicitada para 75% dos entrevistados.
Palavras-chave: Edifício hibrido; Reconstrução; Anápolis.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO
Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
1 Introdução
A ideia de hibridação em arquitetura remonta a antiguidade clássica. A evolução do espaço e
das tipologias arquitetônicas a partir do crescimento das cidades impulsiona o surgimento de
novas
estratégias
de adensamento.
Nesse
contexto,
a dinâmica
da
sociedade
contemporânea contribui para implantação de espaços cada vez mais integrados e de usos
múltiplos. O edifício híbrido, portanto, é composto pela mescla de usos variados dentro de um
mesmo espaço criando propostas únicas.
Seguindo esse raciocínio o estudo procura explorar o edifício híbrido como ferramenta de
desenvolvimento social e urbano com ênfase na diversidade e vitalidade urbana. O foco está
em programas que combinam usos tradicionais com espaços comerciais e onde há ainda, o
encontro das esferas pública e privada.
Levou-se em consideração a importância da pré-existência, através da análise do local
escolhido como objeto de estudo. A área situa-se na cidade de Anápolis-GO e nela há um
moinho cujo projeto é do ano de 1961. Pretende-se compreender ainda, a relação e
contribuição do edifício hibrido para a cidade contemporânea e o valor histórico de edifícios
antigos na manutenção da vitalidade urbana e ressignificação da história das cidades.
O artigo foi dividido em três partes além da dessa introdução e conclusão. A primeira remete o
leitor ao conhecimento histórico das construções principalmente de edifícios híbridos. A
segunda descreve o método do trabalho e na terceira parte as discussões sobre um provável
edifico hibrido de Anápolis/GO.
2 Edifico hibrido e a possibilidade de remanejamento do espaço
urbano
Na arquitetura o uso misto é definido pela sobreposição de diferentes usos em um mesmo
edifício. De acordo com Towicz (2008) “a ideia de híbrido ou edifício de uso misto não é nova”.
Na antiguidade as cidades estado se confinavam no interior de suas muralhas
(Nihenhuis,1994, p.14) , a maior parte da população se locomovia a pé, as diversas funções
disputavam o mesmo espaço e devido ao espaço limitado qualquer nova construção ou
expansão implicava uma anexação ou sobreposição.
A partir do momento em que a cidade transpassa os limites das muralhas e surgem novos
meios de locomoção as diversas funções se dispersam novamente, surge a metrópole que
“evoluiu para converter-se em uma coleção de estruturas programáticas individualizadas na
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paisagem” (Nihennhuis,1994, p. 15-16). “O edifício realmente híbrido não aparece até o
século XIX” (Fenton, 1985, p. 5) com o surgimento dos arranha-céus verificou-se “a
impossibilidade de preencher os edifícios com um único uso” assim fez-se necessário à
combinação de diferentes programas e aparece o edifício híbrido. (Musiatowicz, 2008 apud
Fenton, 1985, p. 5).
A primeira catalogação destes edifícios surge em 1985, no livro “Hybrid Building” autoria de
Fenton. Nele o autor classifica os edifícios híbridos em três categorias: Híbridos no tecido, que
são adaptados a “volumetria imposta pelo tecido urbano” nos quais não se pode perceber o
programa através da aparência exterior do edifício; Híbridos por enxerto nos quais “cada
programa se formaliza por intermédio de um volume distinto” e híbridos monolíticos, nos quais
“os usos se acomodam no interior de um único volume contido de grande dimensão e
versatilidade”. (Fenton, 1985. p. 6).
Além da classificação quanto à forma, há ainda as classificações quanto aos usos,
Musiatowics cataloga os híbridos em cinco categorias: Híbridos compactos nos quais “a
expressão formal de cada programa é reduzida”; cidades dentro de cidades que são
estruturas longe dos centros urbanos em meios hostis, como o deserto, por exemplo, que
recorrem ao uso de diversos usos para criar uma estrutura autossuficiente; estruturas
fundidas, com usos dispersados em grandes torres fundidas; justaposição de seções que
propõe a separação de mesmas funções em diferentes níveis; e paisagens integradas onde
há o interesse no espaço coletivo e incentivo governamental, assim “o espaço público e a
paisagem se hibridam, com os demais usos urbanos” (Musiatowics, 2008, p. 05) .
Dentro da análise de usos mistos na arquitetura, é necessário ainda, que se compreenda a
diferença entre um condensador social e um edifício híbrido, na medida em que não se deve
considerar o condensador social como precursor do edifício híbrido. A expressão
“condensador social” foi utilizada pela primeira vez, durante o movimento moderno, por Moisei
Ginzburg (1928) como um “[…] edifício desenhado para transformar as relações sociais entre
os homens nos três âmbitos do novo estado socialista: a habitação coletiva, o ócio e a fábrica”
(BENEVOLO, 1977, p. 592). Segundo Fernández (2009) o condensador nasce do ventre
soviético enquanto o híbrido provém do
sistema capitalista. Na análise de Fernández (2009, p. 10)
[...] os híbridos se caracterizam pela mescla de usos dentro de um mesmo projeto;
integram diferentes programas, que por sua vez têm diferentes promotores,
diferentes gestores e, certamente, diferentes usuários. [...] os condensadores - que
se desenvolveram desde os anos 80, devido a influencia que os construtivistas
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tiveram de Le Corbusier e seus seguidores -, eram em sua maioria edifícios de
habitações mínimas onde, por questões econômicas e ideológicas, se agregaram
uma série de funções da vida privada e se converteram em públicas [...]
FIGURA 1 – Condensador social: Unidade de Habitação de Marselha, Autor do projeto: Le Corbusier,
1946.
Fonte: KROLL, Andrew. AD Classics: Unite d’ Habitation / Le Corbusier. ArchDaily. Disponível em:
http://www.archdaily.com/?p=85971.
Ainda para Fernández (2009), a principal diferença entre os dois tipos de projeto é que o
condensador social tem o objetivo de criar um edifício autossuficiente, como é visto na
unidade de habitação de Marselha onde Le Corbusier (ver figura 01) propõe uma gama
extensa de usos que, de acordo com Fenton (1985), poderia se englobar na categoria de
“cidades dentro de cidades”; enquanto o híbrido pretende “criar intensidade e vitalidade na
cidade [...] atrair fluxos de usuários externos”, ou seja, integrar-se na cidade como um
potencializador na região interligando as funções e usos, e não se isolando.
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Figura 2 – Museu Plaza, Louisville, Kentucky. Autor do projeto: Rex, 2005
Fonte: REX. MUSEUM PLAZA. Disponível em: http://www.rex-ny.com/work/museum-plaza/.
“Os edifícios híbridos são organismos com múltiplos programas interconectados, preparados
para acolher, tanto as atividades previstas, como as imprevistas de uma cidade.” (MOZAS,
2008, p. 24). Todas essas características podem ser vistas no Museum Plaza (ver figura 02),
que contém um programa variado abrangendo um hotel, um grande espaço para exposições de
artes, escritórios, apartamentos, restaurantes e lojas.
Mozas (2008, p. 22) compara o edifício híbrido com um cosmopolita,
[...] pois assim são os edifícios híbridos, são edifícios cosmopolitas,
assentados em formas fragmentárias que não os correspondem, em
volumes montados a base de retalhos de tipologias anteriores mescladas,
nas quais seu corpo encara com mais ou menos fortuna e que produzem um
ser novo com uma personalidade aglutinadora [...]
Devido a fatores econômicos e políticos, como o aumento dos custos dos terrenos e das
construções, há a necessidade da busca de novos meios de financiamento, assim observa-se
a combinação de usos tradicionais como museus ou bibliotecas com espaços comerciais
(MUSIATOWICZ, 2008). Essa questão é representada claramente no projeto do escritório
BIG: o Scala Tower, dentre seus variados usos há a proposta de implantação da biblioteca
central de Copenhagen e um centro de convenções (ver figura 03).
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A partir disso, Mozas (2008) afirma que a hibridação ideal é o encontro da esfera privada e da
pública, “a permeabilidade do híbrido a respeito da cidade o faz acessível e a utilização
privada de seus equipamentos amplia o horário de utilização para vinte e quatro horas”, dessa
maneira, “tanto o espaço público como a paisagem se hibridam com os demais usos urbanos”
(MUSIATOWICZ, 2008. p. 16 Tradução de Nagamori, 2014). “O edifício híbrido favorece o
contato entre desconhecidos, intensifica o uso do solo, ‘densificando’ cada vez mais as
relações” (Fernández, 2009. p. 08).
Figura 3 –Scala Tower, Copenhagen – Dinamarca, autor do projeto: Big, 2007
A hibridação pode ser vista como uma ferramenta importante de desenvolvimento de uma
localidade, pois “a diferença entre um híbrido e outro tipo de estrutura mista é que os híbridos
se ajustam na trama da cidade e são edifícios únicos”. (Musiatowicz, 2008. p. 08). O edifício
híbrido foge de usos de caráter segregacionista, ele procura integrar não apenas os usos bem
como também os espaços. “O esquema híbrido propõe intensos entornos de fecundação
cruzada, que misturam os genótipos conhecidos e criam alianças genéticas para melhorar as
condições de vida e revitalizar os entornos em que se encontram” (MOZAS, 2008, p. 24).
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Portanto, entende-se também que “o híbrido supera os domínios da arquitetura e se introduz
no campo do urbanismo” (MOZAS, 2008, p. 24). Isso acontece porque, “a complexidade da
cidade contemporânea favorece que a condição híbrida exista, não somente a nível macro
programático, agrupando distintos organismos, como também em toda sua progressão desde
os espaços individuais até a escala urbana”. (MUSIATOWICZ, 2008, p. 16).
A partir da evolução das cidades, das relações sociais e dos espaços públicos, surgirá então
“uma nova definição de espeço público, disperso em um mundo interconectado”
(MUSIATOWICZ, 2008. p. 16. Tradução de Nagamori, 2014). Ainda segundo Musiatowicz
(2008) serão cada vez mais necessárias intervenções de regeneração de centros urbanos,
pois os programas implantados se tornarão incompatíveis; ao passo que, “a intensificação que
cria a combinação de usos, assim como a mescla de funções públicas e privadas e a
integração do espaço urbano circundante nos novos edifícios, facilita a reintrodução da vida
cidadã nestes centros” (MUSIATOWICZ, 2008. p. 16).
Ao arquiteto cabe compreender a constante dialética dinâmica entre o homem e o espaço
porque “a marca de uma inteligência de primeira ordem é a capacidade de ter duas ideias
opostas ao mesmo tempo e manter, contudo a capacidade de funcionar” (FITZGERALD, The
Crack-Up, 1945, p. 69).
A proposta conceitual do edifício híbrido é embasada em cinco aspectos: diversidade e
vitalidade urbana, legibilidade, imageabilidade e terrain-vague. Para tanto se fez necessário
analisar importantes referenciais como Jane Jacobs (2009), Kevin Lynch (2011) e Solà
Morales (2002).
Jane Jacobs (2009), em seu livro Morte e Vida de Grandes Cidades, conceitua a importância
da diversidade urbana, pois é a diversidade urbana que garante a vitalidade da cidade, para a
autora, é necessário que se tenha usos principais e derivados, o primeiro deve ser escolhido
de acordo com o perfil do bairro; o segundo é responsável pela diversidade derivada, isto é,
empreendimentos que surgem em consequência da presença de usos principais de modo a
garantir a sustentação econômica mútua de ambas às atividades.
O edifício do moinho da maneira que está hoje configura um Terrain-Vague, que segundo
Morales (2002) é um lugar aparentemente esquecido, onde parece predominar a memória do
passado sobre o presente, é um lugar obsoleto nos que somente certos valores residuais
parecem se manter apesar de sua completa desafeição da atividade da cidade, segundo
Fracalossi (2012) os terrain-vagues são lugares estranhos ao sistema urbano, exteriores
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mentais no interior físico da cidade que aparecem como contra imagem da mesma, tanto no
sentido de sua crítica como no sentido de sua possível alternativa.
A fim de resgatar a importância do moinho como um referencial visual urbano devido a sua
legibilidade e imageabilidade, que segundo Lynch (1960) consiste na capacidade de
estruturar e identificar o ambiente e qualidade do edifício de evocar uma imagem forte em
qualquer observador, o edifício híbrido poderia se apropriar do antigo moinho, para propor um
novo uso: um espaço cultural aberto ao público para apresentações, exposições e
elucubrações. Jacobs (2009) ainda fala sobre a importância da mescla de prédios antigos
para incubar novas diversidades principais para garantir a diversidade urbana e, por
conseguinte a vitalidade urbana.
Material e métodos
O estudo contempla duas metodologias, a primeira consiste na análise do local a partir de
levantamentos de mapas para promover a leitura da área de intervenção: mapas de
localização, tipologias de edifícios e suas escalas urbanas, tipologia das vias, hierarquia viária
e mapa de condicionantes naturais. A segunda foram entrevistas na metodologia qualitativa
de análise de conteúdo proposta por Laurence Bardin (1977), a metodologia foi escolhida
porque dá ênfase aos aspectos subjetivos do comportamento humano e pelo fato de que a
realidade urbana é constituída pela percepção que as pessoas têm da cidade através da
legibilidade e imageabilidade (LYNCH, 1960).
Resultados e Discussões
A partir da análise do local objeto de estudo através da elaboração de levantamentos e mapas
referentes á área escolhida, é possível justificar a escolha desse espaço para a discussão do
edifício híbrido no contexto arquitetônico e urbano. A escolha desse terreno se justifica na
medida em que o bairro Jundiaí é potencialmente emergente e por isso é ideal para esse tipo
de empreendimento.
Tem-se uma área extensa, 10102,62m², há diversos equipamentos públicos no entorno o que
significa grande fluxo de pessoas e serviços. A classificação do bairro é bairro misto:
composto de residências, comércios e serviços. Há diversas linhas de transporte público no
entorno o que significa inclusão social. Existe ainda, um edifício já construído do qual se pode
tirar partido para a discussão da pré-existência na contemporaneidade.
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A tendência do bairro é tornar-se um grande centro potencializador de novos usos e novos
espaços tendo em vista os diversos investimentos que têm sido feitos na região - Parques,
praças, torres habitacionais, galerias comerciais, restaurantes entre outros.
Outro aspecto importante a ser destacado é a localização do usuário no entorno, ou seja, a
área fica próxima a diversos equipamentos educacionais, como o SESI (Serviço Social da
Indústria), o Colégio Estadual Genserico, o SENAC além da proximidade ao SEBRAE que
está situado em uma avenida de constantes atividades comerciais e bancárias: Avenida
Minas Gerais.
A figura 4 mostra o projeto de Nagamori (2014) do que poderia ser implantado como um
edifício hibrido no lugar que hoje se encontra o velho moinho.
Figura 4 – O edifício híbrido, Anápolis – autora do projeto: Ângela Akemi B. Nagamori, 2014
Fonte: NAGAMORI, 2014
Na parte das entrevistas, os entrevistados foram questionados a cerca da importância da
permanência do edifício do antigo Moinho na cidade de acordo com sua memória afetiva do
local e valor do edifício como referência visual urbana e histórica. Dentre os entrevistados
foram selecionados moradores da região, e também pessoas que transitam com frequência
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no local, bem como pessoas que já utilizaram o edifício do moinho, em algum de seus usos,
no passado.
A amostra de entrevista é composta por 20 indivíduos identificados por números a fim de
manter a confiabilidade da pesquisa. A entrevista constou de quatro questões orais divididas
em sete categorias: presença de memória afetiva, identificação com o edifício, percepção
visual do moinho (impacto visual), importância histórica, interesse na revitalização e favorável
à permanência do prédio na cidade presentes do gráfico 01.
A análise das entrevistas indica que 90% da amostra são favoráveis à permanência do edifício
do antigo moinho na cidade, revitalizado e com um novo uso público. Verifica-se também a
percepção da importância e do valor histórico do edifício na cidade explicitada com ênfase na
fala dos entrevistados.
Conclusão
Em vista das análises conceituais já discutidas acerca da importância da diversidade na
cidade, a crítica dos terrain-vagues (MORALES, 2002) e ainda a percepção que se tem do
espaço através dos conceitos sobre imageabilidade e legibilidade (LYNCH, 1960),
identifica-se na área escolhida a pré-existência concretizada na imagem do edifício do antigo
moinho. A partir dessa percepção, entende-se que, segundo Jacobs (2009, p. 216), “a cidade
precisa da mescla de prédios antigos para cultivar as misturas de diversidade principal [...] as
cidades precisam de prédios antigos para incubar uma nova diversidade principal.” Nesse
sentido, o antigo moinho pode atuar como articulador de todo o processo híbrido, ou seja,
busca-se alcançar diferentes formas de hibridação que vão desde a dicotomia entre o antigo e
o novo até as diferentes formas de gerenciamento do edifício e escolhas materiais-formais.
O moinho torna-se agora uma fábrica de ideias, ou seja, um espaço cultural aberto ao público
para apresentações, exposições e elucubrações. O edifício do moinho por muito tempo
subutilizado é devolvido à cidade.
Muito além das áreas construídas, estão às áreas livres não edificadas, segundo Portzamparc
(1997), a quadra livre permite reinventar a rua: legível e ao mesmo tempo realçada por
aberturas visuais e pela luz do sol. Nesse sentido o edifício poderia explorar esse conceito de
quadra livre, ele se eleva do nível da rua a fim de devolver espaços para a cidade e garantir a
penetrabilidade da superfície urbana em uma relação dialética dinâmica, na medida em que a
cidade responde através da chegada de novos e constantes usuários que se apropriarão do
espaço absorvendo uma nova identidade urbana.
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Agradecimentos
A Universidade Estadual de Goiás- UEG pelo apoio financeiro através o Programa de Auxílio
Eventos.
Ao Núcleo de Pesquisa em Economia – NEPE- UEG
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