eixo biológico

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EIXO BIOLÓGICO
Unidade 2
Princípios do Desenvolvimento Embrionário
em Animais
Autores: Umberto Euzébio
Sumário
Introdução II. Gametogênese III. Fecundação IV. Segmentação V. Gastrulação (anfioxo, ouriço­do­mar, anfíbios e mamíferos) VI. Indução e Neurulação VII. Anexos Embrionários VIII. Placentas e placentação IX. Considerações finais
X. Referências
#M4U2 Introdução
A Embriologia é uma das áreas das Ciências Biológicas que tem como objetivo
estudar a formação e o desenvolvimento dos organismos desde a sua concepção até o
estabelecimento das estruturas e funções que identificam uma determinada espécie.
Para a compreensão do desenvolvimento embrionário animal, necessitamos de conceitos e conhecimentos básicos de Morfologia macroscópica (Anatomia) e microscópica (Histologia).
Biologicamente falando, o embrião é identificado a partir do momento em que
há formação de mais de duas células, denominadas blastômeros, porém a caracterização da espécie somente é estabelecida a partir do início da organogênese, quando´são
formados os órgãos e os sistemas. Na maior parte do período embrionário, as células
são totipotentes e, portanto, não caracterizando morfologicamente uma espécie. Nesse
período, não existe especificidade e nem um sistema indutor em ação, portanto esse
aglomerado celular poderá diferenciar em qualquer estrutura do futuro organismo.
Em nosso texto, enfocaremos a primeira fase do desenvolvimento do embrião e
será estudada a sua organização envolvendo a formação dos tecidos embrionários e a
transformação da forma plana para a cilíndrica.
#M4U2 II. Gametogênese
Todos os animais pluricelulares são provenientes de uma única célula: a célula
ovo ou zigoto. Esse é o resultado da anfimixia, um processo de fertilização e fecundação em que os gametas masculino e feminino se juntaram, re­-estabelecendo a diploidia.
Os gametas são células especializadas, resultantes da divisão meiótica, que
têm por característica possuírem apenas a metade do número de cromossomos. Em
nosso estudo da gametogênese utilizaremos como exemplo a formação dos gametas
na espécie humana.
Durante a quinta semana do desenvolvimento embrionário da espécie humana, inicia-se a formação do sistema reprodutor e das células germinativas primordiais. Estas se diferenciarão de acordo com o sexo do embrião/ feto, dando origem às
ovogônias ou às espermatogônias. As diferenciações ocorrem nas espécies animais em
diferentes períodos do desenvolvimento embrionário-­fetal.
A partir dessa etapa, inicia-se a gametogênese. Os dois tipos de células iniciam a
sua divisão meiótica nos processos de ovogênese e espermatogênese para a formação
dos ovócitos e dos espermatozóides respectivamente.
Ovogênese
A formação do gameta feminino ocorre ainda na fase embrionária. As células
germinativas primordiais iniciam o processo de divisão que somente chegará ao final
a partir da puberdade.
No ovário em formação, as ovogônias estão envolvidas pelas células do epitélio
germinativo. Estas formarão as células granulosas do folículo. A partir do terceiro mês
de gestação, há uma intensa multiplicação, crescimento e duplicação cromossômica
das ovogônias. Tal duplicação indica a formação do ovócito primário. Em um feto de
sete meses, todas as ovogônias já entraram em divisão meiótica e se encontram na fase
de ovócitos primários.
Os ovócitos encontram-se nos folículos ovarianos na região cortical do ovário,
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Módulo IV - Desenvolvimento e Crescimento
Saiba mais...
Para saber mais de
Histologia consultar
o livro Histologia
Básica: texto e
altas de Luiz Carlos
Uchoa Junqueira
e Jopé Carneiro, 11.ed. Rio de
Janeiro Guanabara
Koogan, 2008,
542p.
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imediatamente abaixo da túnica albugínea. Inicialmente, forma-se o folículo primordial constituído por uma camada de células pavimentosas situadas sobre a membrana basal. Nessa fase, o ovócito apresenta um núcleo grande e excêntrico, cromatina
frouxa e dispersa e com um ou mais nucléolos grandes. O aparelho de Golgi está bem
desenvolvido, com muitas mitocôndrias circundando-o, próximas ao núcleo.
Saiba mais...
Volte à unidade 1,
deste módulo, e revise sobre meiose
e mitose.
Saiba mais...
Hormônios tróficos
(ou trópicos) são
hormônios produzidos pela hipófise
que atuam sobre
outras glândulas
endócrinas. Assim,
hormônios gonadotróficos são os
hormônios da hipófise que agem nas
gônadas femininas
(ovário) e masculinas (testículos).
Os folículos primordiais entram em crescimento aumentando o volume das células foliculares. É importante ressaltar que esse crescimento inicial não depende da
atividade hormonal.
Aos nove meses de gestação os dois ovários cotam com 500 mil folículos primordiais, cada um com um ovócito primário em seu interior. Ao nascimento, a maioria desses folículos degenera e, nesse momento, é interrompida a divisão meiótica, na
prófase I, na fase de diplóteno. Permanecem nesse estágio até o início da produção de
hormônios gonadotróficos, no início da puberdade. Durante todo período de meiose
interrompida, as células foliculares produzem uma substância inibidora da maturação
do ovócito.
Ao atingir a puberdade, com a produção dos hormônios folículo estimulante
(FSH) e luteinizante (LH), a divisão meiótica é retomada e os folículos primordiais
iniciam o desenvolvimento para a maturação. A camada de células foliculares pavimentosas simples desses folículos transforma-se em um epitélio cúbico simples e
posteriormente em estratificado, formando a camada granulosa do folículo primário
(Figura 1).
O epitélio do folículo primário estratifica­-se em 6 a 12 camadas. Entre as células da granulosa formam-se várias cavidades com líquido folicular rico em ácido
hialurônico, constituindo o antro folicular. Ao mesmo tempo, as células mesenquimatosas do estroma ovariano, proveniente de fibroblastos modificados, proliferam e
se diferenciam em células cúbicas secretoras de esteróides, formando a teca interna.
Externamente à teca interna está a teca externa constituída por tecido conectivo de
sustentação. A granulosa passa a ter receptores de FSH e as tecas, de LH. Nessa fase,
a partir das células granulosas, surge a zona pelúcida, fonte de nutrientes para o ovócito. O folículo primário também sofreu alterações, estratificando-­se e tornando­-se folículo secundário.
Na formação do folículo terciário ocorre um aumento dos receptores para FSH e
LH. Nessa fase, há um aumento considerável do antro folicular que, a partir de então,
torna-­se único. A camada de células da granulosa tem espessura relativamente uniforme com exceção da região associada ao ovócito, em que as células formam um aglomerado espesso denominado cumulus oophurus que se projeta para o antro e circunda o
ovócito formando a corona radiata. Esse conjunto sofre um deslocamento excêntrico.
A partir dessa fase, as tecas são bastante evidenciadas. Na teca interna, as células passam a fusiformes, adquirindo assim alta vascularização, intensificando a secreção de estrogênios. Esse aumento do estrogênio promove a inibição progressiva da
liberação de FSH e o aumento de LH, finalizando a primeira divisão meiótica.
Quando o folículo terciário atingir o máximo de crescimento, estando susceptível à ovulação, também pode ser chamado de folículo De Graaf ou folículo maduro,
mostrado na figura 1.
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Figura 1: Figura mostrando um corte do ovário com um folículo maduro contendo o ovócito no centro.
Também pode ser visto na periferia vários folículos primários.
A ovulação ocorre quando esse folículo estiver pronto, em conseqüência das
altas concentrações de LH. Com a ovulação, o ovócito secundário é captado pelas fímbrias da tuba uterina e levado para o seu interior onde permanecerá ativo por aproximadamente 24 horas. Após esse tempo, haverá degeneração de todas as suas estruturas. A segunda divisão meiótica somente ocorrerá com a entrada do espermatozóide
no ovócito, sendo, portanto, pós-­ovulatória.
Na figura 2, são mostradas as etapas da ovogênese e da espermatogênese. Note
que a partir das células diplóides, na espermatogênese, formam-­se quatro haplóides
enquanto que, na ovogênese, apenas uma e dois corpúsculos polares. O primeiro é
formando ainda antes da ovulação e o segundo é pós­-ovulatório.
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Figura 2: Esquema da espermatogênese e da ovogênese
Espermatogênese
A espermatogênese segue basicamente os mesmos passos que a ovogênese, com
algumas diferenças. A produção do gameta masculino é contínua a partir da
puberdade. Já o gameta feminino, entre cinco a seis meses já cessou todas as
mitoses nas ovogônias.
Os testículos são constituídos por milhares de túbulos seminíferos em cujas paredes são formados os espermatozóides. Entre os túbulos seminíferos estão as células
intersticiais de Leydig. Em recém­-nascidos e praticamente até o início da produção
de hormônios gonadotróficos, esses túbulos estão desprovidos de luz, suas paredes
apresentam apenas células sexuais primitivas, denominadas gonócitos. Essas células
precursoras diferenciam­-se em dois tamanhos: os grandes, que originarão às espermatogônias, e os pequenos, que formarão as células de Sertoli.
Ao atingir a puberdade, inicia­-se a produção dos hormônios gonadotróficos
que irão atuar no amadurecimento dos túbulos seminíferos e na multiplicação dos
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gonócitos formando as espermatogônias. Estas apresentam crescimento muito mais
acentuado e acelerado que as ovogônias. Nesses termos, a duplicação cromossômica
origina os espermatócitos primários, bem menores que o ovócito.
A hipófise anterior atua produzindo os hormônios gonadotróficos, entre eles
o FSH, o LH e a prolactina. A produção de LH estimula as células intersticiais de
Leydig a produzirem andrógenos, principalmente a testosterona. Essas células são
responsáveis pela produção de 95% da testosterona circulante. A prolactina, juntamente com o LH, aumenta a atividade esteroidogênica. A testosterona atua na circulação controlando a produção de LH e, nos túbulos seminíferos, atua na proliferação
e diferenciação das células espermatogênicas. O FSH e a testosterona atuam como
reguladores primários da espermatogênese pelo estímulo das células de Sertoli na
produção de espermatozóides. Por outro lado, as células de Sertoli produzem uma
proteína fixadora de andrógenos, conhecida por ABP, que tem função de elevar e
manter as concentrações de testosterona alta (200 vezes maior que na circulação) no
interior dos túbulos seminíferos. Essas células de Sertoli também produzem a inibina,
fator hormonal que controla a produção de FSH e, além de transportar nutrientes,
fagocitam corpos residuais da espermatogênese e removem células germinativas em
degeneração.
A partir da primeira divisão meiótica são formados os espermatócitos secundários, haplóides com cromossomos duplicados que, na segunda divisão, originarão às espermátides (Figura 2). Estas são células especializadas, arredondadas que sofrem modificações para espermatozóides (Figura 3) pelo processo da
espermiogênese. O ovócito apresenta um crescimento mais lento em relação ao
espermatócito devido a uma intensa produção de substâncias nutritivas. Dessa
forma, apresentará um tamanho muito maior que o espermatozóide.
Figura 3: Formação do Espermatozóide.
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#M4U2 III. Fecundação
A fecundação tem como características: o restabelecimento da diploidia, a
transmissão dos caracteres hereditários paternos, o aumento da variabilidade genética, a determinação do sexo genético e permitir o início do desenvolvimento embrionário. Entre os animais encontramos três tipos de fecundação: a auto-­fecundação
(nesse caso não apresenta todas as características citadas), a externa e a interna.
A fecundação externa ocorre em animais cujo desenvolvimento se dá no meio
aquático. Essas espécies possuem ovócitos de grande tamanho e dotado de um revestimento externo, a ganga gelatinosa. Por estarem na água, são liberados em grande
quantidade. Os espermatozóides não apresentam variações nos tamanhos quando
comparados aos animais de fecundação interna, porém são liberados sempre sobre os
ovócitos e em grande quantidade.
Os mecanismos envolvidos nas fecundações externa e interna são muito parecidos, em nosso exemplo descreveremos apenas a fecundação interna com algumas
considerações da fecundação externa.
Uma vez formados os gametas, já é possível ocorrer a fecundação que consiste
na entrada do espermatozóide no ovócito e na anfimixia, que é a fusão dos pró­
núcleos masculino e feminino, o que restabelece a diploidia e forma a célulaovo ou zigoto. O início do desenvolvimento embrionário somente é possível
com a fecundação in vitro ou in vivo.
O ovócito secundário se encontra na tuba uterina e está em divisão interrompida na metáfase 2. Seu núcleo com cromossomos visíveis não apresenta envoltório e
seu citoplasma é homogêneo. Na espécie humana são liberados de 200 a 500 milhões
de espermatozóides/ ejaculação, porém somente 300 a 500 atingem o local da fecundação. No caso da fecundação externa são liberadas grandes quantidades de ovócitos
e de espermatozóides na água. Na tabela 1 é mostrada a comparação do ejaculado e
concentração de espermatozóides em diferentes espécies.
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Tabela 1: Volume de ejaculado e concentração de espermatozóides por espécie.
Para ocorrer fecundação, nos dois tipos citados, é necessário que os espermatozóides sejam capacitados, pois durante a gametogênese o epidídimo produz secreções
de substâncias inibidoras dos sítios receptores da membrana plasmática. Essa capacitação ocorre ao longo do aparelho reprodutor feminino, principalmente na cavidade
uterina (fecundação interna) ou na água (fecundação externa). O contato dos espermatozóides com secreções uterinas, com pH próprio, promove a exposição desses sítios
receptores. A partir disso, ocorrem modificações na permeabilidade da membrana da
cabeça do espermatozóide havendo liberação da enzima hialuronidase, que digere e
penetra na corona radiata. O espermatozóide então atinge e fixa-­se na zona pelúcida
que contém receptores específicos para enzimas do acrossomo do espermatozóide. Na
fecundação externa não há ação da hialuronidase, mas sim de outras enzimas específicas como a fertilisina e a bindina. Os receptores são respectivamente anti­fertilisina
e receptores de bindina (Figura 4). O restante do processo segue praticamente as mesmas etapas corridas na fecundação interna.
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Figura 4: Etapas da fecundação externa em ovos com ganga gelatinosa.
Na membrana plasmática do espermatozóide existe uma proteína receptora de
cálcio, a calmodulina. Ao se ligarem, ocorre o influxo de cálcio na cabeça do espermatozóide, promovendo a elevação do pH local (Figura 4). Essa alteração faz com que
ocorra fusão da membrana plasmática e da membrana externa do acrossomo formando pequenas vesículas com minúsculas aberturas entre elas por onde inicia a saída da
enzima acrosina (Figura 5).
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Figura 5: Reação acrossomial.
Essa enzima digere a zona pelúcida, possibilitando a entrada do espermatozóide no espaço perivitelino, localizado entre a zona pelúcida e a membrana plasmática
do ovócito. Essa membrana apresenta receptores que possibilitam a sua fusão com os
espermatozóides. Ocorre, então, a penetração do núcleo e da cauda do espermatozóide no citoplasma do ovócito (Figuras 4 e 6).
Figura 6: Fecundação interna.
Com a entrada do núcleo espermático ocorre a despolarização de membrana do
ovócito, mudando a configuração dos seus receptores para os espermatozóides. Há
também liberação do cálcio pelo retículo endoplasmático e mitocôndrias do ovócito, o
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que acarreta o aumento do pH. Os grânulos corticais presentes na região cortical, logo
abaixo da membrana plasmática do ovócito, a partir da elevação do pH, contraem seus
microfilamentos e liberam o seu conteúdo para o espaço perivitelino. Esse conteúdo
enzimático reage com outras enzimas aí presentes formando uma estrutura sólida, a
membrana de fecundação por meio da reação de zona mostrada na figura 4. Todas
essas reações têm como função o bloqueio à polispermia.
A entrada do espermatozóide e o aumento do pH do citoplasma do ovócito
também ativam as organelas e estimula a replicação dos núcleos. Com a perda da
membrana do núcleo masculino ocorre a anfimixia, ou seja, a fusão dos dois pró-núcleos com a participação cromossômica dos gametas.
#M4U2 IV. Segmentação
Também chamada de clivagem, esta é a etapa do desenvolvimento que tem
como finalidade aumentar o número de células a partir do zigoto. Alguns fatores
interferem diretamente na divisão celular nesse período, entre eles a quantidade de
vitelo, formado por substâncias nutritivas. Entre os diferentes grupos animais encontramos uma grande variedade de tipos de ovos também classificados de acordo com
a quantidade de vitelo.
Os animais que apresentam desenvolvimento externo possuem ovos com
grande quantidade de vitelo, cuja finalidade é nutrir o embrião durante todo o
desenvolvimento embrionário que ocorrerá fora do corpo da mãe. Basicamente,
esses animais apresentam três tipos de ovos: aqueles com o vitelo totalmente
segregado do restante da célula, como os ovos telolécitos das aves, répteis, cefalópodes e alguns grupos de peixes; os centrolécitos, dos insetos, localizados
no centro do ovo; e os heterolécitos, nos quais o vitelo está desigualmente distribuído no interior da célula, como nos dos anfíbios, anelídeos, gastrópodos e
alguns peixes. Os poríferos, celenterados e mamíferos apresentam ovos do tipo
alécito, totalmente desprovidos de vitelo. Nos equinodermos, os ovos apresentam pouca quantidade, sendo denominados oligolécitos.
De acordo com a presença ou não de vitelo e da sua distribuição a segmentação
se apresenta em diferentes tipos. A segmentação pode ocorrer em todo o ovo,
sendo chamada de segmentação total, porém os seus blastômeros poderão ter
tamanhos iguais ou diferentes. Em ovos alécitos e oligolécitos, os blastômeros
apresentam o mesmo tamanho, sendo a segmentação total e igual. Já nos ovos
heterolécitos, os blastômeros formados apresentam tamanhos diferentes, os
macrômeros, com grande quantidade de vitelo e os micrômeros, com pouco
vitelo. Nesse caso a segmentação é total e desigual.
Quando a segmentação ocorre em apenas uma determinada região do ovo, no
disco germinativo, como em répteis e aves (ovos telolécitos), denominamos de
segmentação parcial e discoidal. No caso dos centrolécitos (insetos) é parcial e
superficial. Nesse tipo de ovo, o vitelo não entra em divisão. Em nosso exemplo da espécie humana, a segmentação é total e igual conforme será descrita a
seguir.
Após e fecundação e a fertilização do ovócito, o zigoto formado sofrerá sucessivas divisões mitóticas sem, contudo, cumprirem a etapa de síntese que ocorre sempre
nas divisões comuns, ou seja, as células-­filhas originadas da divisão não crescem até
o tamanho da célula­-mãe antes de tornarem a se dividir. Dessa forma, ao final da
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segmentação ou clivagem do zigoto, o volume inicial desse ovo não terá sido alterado
significativamente. No entanto, o resultado final será um conjunto de células de tamanho muito menor que o inicial. Se considerarmos que o zigoto é uma célula volumosa,
com uma extensão citoplasmática muito grande em relação ao núcleo, sabendo que o
núcleo é o coordenador de todos os processos metabólicos da célula, fica fácil perceber
que o equilíbrio na relação núcleo/ citoplasma deve ser restabelecido. E isso é conseguido pelas divisões sucessivas que não cumprem a intérfase.
A segmentação do zigoto acontece de maneira bastante semelhante nos diversos
tipos de ovos encontrados na natureza. Não é difícil imaginar que o desenvolvimento
animal requer condições diferentes conforme o exemplo estudado. Um embrião de
um animal de vida aquática mantém­-se hidratado sem necessidade de acessórios para
desempenhar essa função. O mesmo não acontece com os répteis, as aves e os mamíferos, cujos embriões se desenvolvem no ambiente terrestre sejam dentro de um ovo ou
dentro do organismo da mãe. Contudo, após a fecundação, a segmentação dos ovos
segue um determinado padrão comum.
A primeira divisão do zigoto é sempre ao longo de seu eixo maior, ou seja, ela
é longitudinal e origina dois blastômeros. A segunda divisão também é longitudinal,
porém é perpendicular à primeira, formando quatro blastômeros. A terceira é horizontal, originando oito blastômeros. As divisões vão sendo intercaladas entre vertical e longitudinal. As primeiras células formadas já constituem um embrião, na fase
de blastocisto. Suas células se caracterizam por serem totipotentes e, posteriormente,
pluripotentes. São essas as células utilizadas para estudos com células­-tronco embrionárias (Figura 7).
Figura 7: Etapas de divisão do zigoto. A primeira figura (à esquerda) mostra o zigoto já pronto para
iniciar a primeira divisão. A do meio mostra a presença de dois blastômeros, já em blastocisto. E na
figura da direita vê­ se a segmentação já em fase avançada. Em todas as figuras a zona pelúcida ainda
está presente.
As divisões não formam células exatamente do mesmo tamanho, e nem ao mesmo tempo. Particularmente na espécie humana, essa divisão pode ocorrer primeiramente em um dos blastômeros o que resulta em três células e não em quatro.
Os blastômeros agora passam por um processo de reorganização da mórula ou
blastocisto. As células, fortemente unidas, orientam­-se e organizam­s-e em camadas na
porção externa, formando o trofoblasto. Internamente, forma­-se um conjunto de células fracamente unidas, formando a massa celular interna que constitui o nó embrionário ou embrioblasto (Figura 8). O espaço criado pela compactação celular é preenchido
por líquido uterino, essa cavidade é denominada blastocele. Nessa fase, o embrião é
chamado de blástula. Cinco dias após a fecundação esse blastocisto chega à cavidade
uterina, ocorrendo sua implantação.
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Módulo IV - Desenvolvimento e Crescimento
Saiba mais...
Sobre pesquisas
com células tronco
embrionárias na
unidade de Bioética.
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Figura 8: O esquema mostra o trofoblasto (a), o embrioblasto (b) e a blastocele (c). A figura a direita
mostra uma blástula, em montagem total (in toto) ainda envolvida pela zona pelúcida.
Na figura 9 temos, um esquema com a segmentação em várias espécies animais.
Figura 9: Esquema da segmentação em diversas espécies animais.
#M4U2 V. Gastrulação (anfioxo, ouriço­-do-­mar,
anfíbios e mamíferos)
O termo gastrulação se refere à formação de uma cavidade primitiva, que no
futuro originará a cavidade digestiva. Nesse processo, ocorre a primeira organização
tecidual do embrião. Em todos os grupos animais, até essa etapa, o desenvolvimento é
muito semelhante quanto aos processos envolvidos. A fase de organização dos tecidos
embrionários talvez seja a mais importante de todas as etapas do desenvolvimento
embrionário-­fetal, pois é nesse período que as células adquirem a capacidade de determinação do seu destino. Nesse momento, as células estão envolvidas em uma série
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Princípios do Desenvolvimento Embrionário Animal
de processos de expressão gênica, indução, multiplicação, diferenciação e migração
culminando com a formação dos três tecidos embrionários básicos: ectoderma, mesoderma e endoderma.
A gastrulação consiste no conjunto de processos morfogenéticos que ordenam
a formação dos folhetos (tecidos) embrionários fundamentais dos metazoários. São esses movimentos morfogenéticos que transformam o embrião na fase
de blástula didérmico em gástrula, tridérmico.
Indução, Territórios presuntivos e Gastrulação
Ainda na blástula, as células modificam-­se na sua estrutura morfológica dando
origem a duas camadas distintas: na porção superior, o epiblasto, e na inferior,
o hipoblasto, formando um embrião didérmico, porém sem uma organização
tecidual embrionária típica. Essa organização somente será estabelecida ao final
da gastrulação com a formação do ectoblasto, mesoblasto e endoblasto, originários desse embrião didérmico (Figura 10).
Figura 10: Em azul o ectoblasto, em vermelho o mesoblasto e em verde o endoblasto.
Muitas pesquisas ainda são realizadas buscando um melhor entendimento da
formação embrionária. Inicialmente, supunha­-se que havia um único estímulo
que desencadeasse a diferenciação e a organização celular no embrião, e que
o zigoto transformado em mórula e, posteriormente, em blástula teria regiões
específicas predeterminadas a se desenvolverem nesse ou naquele órgão. Hoje
sabemos que não é apenas um estímulo e, sim, vários. Partindo do zigoto até
a blástula, temos o embrião constituído unicamente por células totipotentes
(células­-tronco embrionárias), indiferenciadas e, portanto, capazes de responder a qualquer estímulo de diferenciação celular. Dessa forma, as células embrionárias se diferenciariam na direção de um estímulo indutor, responsável
pelo desencadeamento de reações, provocando a expressão de novos genes em
regiões com potencialidades presumíveis. Ao estímulo responsável pela diferenciação celular denomina-­se por indução, que é a capacidade de iniciar e
orientar as diferenciações de células totipotentes/ pluripotentes. Para que isso
se realize é necessária a ação do indutor, fonte responsável pelo lançamento do
estímulo e a presença de um reator competente, área celular indiferenciada que
recebe o estímulo.
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Os primeiros trabalhos para investigação de hipóteses ligadas à gastrulação
ocorreram no início do século XX. Os embriologistas trabalharam primeiro com anfíbios, por terem desenvolvimento relativamente rápido e por liberarem grandes quantidades de gametas e, depois, com aves, que têm embriogênese muito semelhante à
dos mamíferos. A observação do desenvolvimento de ovos de anfíbios deixou clara
a movimentação em superfície e em profundidade de alguns territórios celulares da
blástula originados na segmentação do zigoto. Perceberam que, quando a clivagem
se completa e se forma a blastocele, os blastômeros que até então se encontravam no
processo de divisão celular passavam a se movimentar, aglomerando­-se. Formavam
os territórios presuntivos ou presumíveis, conjuntos de células semelhantes entre si
que formam diferentes regiões na superfície do ovo e que migram para o interior.
Essa movimentação que ocorre na gastrulação é crucial no desenvolvimento embrionário do animal. O resultado dessa movimentação e migração é a formação dos três
tecidos embrionários básicos. O ectoblasto permanece na superfície, o endoblasto
mais profundo e o mesoblasto em posição intermediária.
Para se esclarecer a existência de um organizador primário para essa diferenciação, foram usados diferentes marcadores nos territórios presuntivos e, assim,
acompanhou­-se os seus movimentos e destinos. Dessa marcação foram propostos os
territórios presuntivos do ectoblasto cutâneo e neural, do mesoblasto notocordal,
somítico, intermediário e das lâminas laterais, e o do endoblasto.
A primeira indução que ocorre nos tecidos embrionários recebe o nome de indução primária instrutiva. O tecido inteiro responde a esse estímulo. O resultado é a
formação dos esboços primários das estruturas que formam o indivíduo, não ocorrendo a formação de órgãos como os conhecemos no adulto. São estabelecidos os eixos
de simetria dorso­ ventral, ântero­-posterior ou céfalo-­caudal, lateral esquerdo-­direito.
Quanto mais diferenciação ocorrer no tecido nas induções, menos será estimulado
pelas futuras induções. A indução secundária permissiva já ocorre de forma específica
nos tecidos a serem mais diferenciados.
Em todos os cordados, o território presuntivo do mesoblasto notocordal invagina forma uma estrutura denominada de notocorda, que se dispõe sob o
território presuntivo do ectoblasto neural. Ao final de inúmeras experiências
com anfíbios ficou comprovada a existência de uma estrutura organizadora do
embrião. Mais precisamente demonstrou-­se que a notocorda é esse organizador
ou indutor primário e é em torno dessa estrutura que o embrião se organiza e se
diferencia. Com isso ficou comprovado que as células totipotentes do início da
gastrulação podem responder ao estímulo da notocorda e se diferenciarem em
outro tipo de célula no novo embrião. Aqui observamos uma particularidade
na divisão mitótica das células embrionárias, as novas células não são cópias
idênticas da célula­-mãe, eles multiplicam-­se e diferenciam­-se.
Para a diferenciação ocorrer é preciso que o tecido esteja apto a receber a indução e conseguir processar tal estímulo. Isso confere a competência ao reator. Por exemplo, o enxerto de lábio dorsal (com mesoblasto notocordal) em uma gástrula não induz
diferenciação, as células da gástrula jovem ainda não estão determinadas para uma
diferenciação específica. Contudo, quando enxertado numa blástula jovem, a indução
se inicia. As células transplantadas regulam o processo de diferenciação.
Antes da indução, se transplantarmos células do ectoblasto neural para o cutâneo, este dará origem a células da epiderme como o restante do ectoblasto que o recebeu. O enxerto de células do ectoblasto cutâneo no neural resultará, após a indução e
a diferenciação, em células neuroepiteliais em todo o tecido neural. No estágio inicial
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Princípios do Desenvolvimento Embrionário Animal
da gastrulação, desenvolvimento é dependente do estímulo. O seu destino final depende da localização no embrião. As células transplantadas regulam o processo de
diferenciação
O resultado dos transplantes acima mencionados seria diferente se ocorressem
na gástrula tardia, quando a indução já começa a ocorrer. O fragmento de ectoblasto
cutâneo transplantado no ectoblasto neural iria se diferenciar em epiderme e não em
células neuroepiteliais. O fragmento de ectoblasto neural transplantado no cutâneo
originaria células neuroepiteliais e não epidérmicas. As células desses fragmentos não
mais regulam o processo de diferenciação, pois já estavam induzidas nos tecidos de
onde foram removidas.
A movimentação celular após a segmentação do ovo ocorre de diferentes formas entre os grupos animais. No ouriço­-do-­mar, no anfioxo e em anfíbios, ocorre em
toda a blástula enquanto que em répteis, aves e mamíferos, ocorre em apenas uma
região específica, no epiblasto.
Em nosso exemplo usaremos a gastrulação em anfíbios, porém nem todas as
espécies desse grupo seguem o mesmo padrão. Observe na figura 11 a formação de
uma fenda, representada em preto, o Lábio Dorsal do Blastóporo, inicialmente no
território presuntivo do endoblasto, quase que no limite com o território presuntivo
do mesoblasto.
Figura 11: Territórios presuntivos (TP) gastrulação em anfíbio. Os territórios estão representados pelas
seguintes cores: TP do ectoblasto cutâneo em azul claro; TP do ectoblasto neural em azul escuro; TP do
mesoblasto notocordal em rosa; TP do mesoblasto somítico em vermelho; TP do mesoblasto das lâminas
laterais em laranja; e TP do endoblasto em verde.
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O indutor ou organizador primário da gástrula é o mesoblasto notocordal que
entrará na constituição do lábio dorsal do blastóporo que age sobre dois reatores, o
mesoblasto notocordal e somítico e o ectoblasto. As células de praticamente todos
os territórios presuntivos apresentam movimentos de convergência em direção ao
blastóporo, exceto as do ectoblasto cutâneo. As células dos territórios presuntivos do
mesoblasto notocordal invaginam-­se pelo lábio dorsal do blastóporo, formando a notocorda, um eixo de sustentação céfalo­-caudal. As do território presuntivo do mesoblasto somítico invaginam­-se pelos lábios laterais e por elongação ocupam as laterais
da notocorda. As células do território presuntivo do mesoblasto das lâminas laterais
invaginam­-se pelos lábios laterais e ventral do blastóporo e, por elongação e divergência, ocupam todo o restante interno do embrião. As células do território presuntivo
do endoblasto invaginam-­se por embolia de forma passiva, pelo lábio ventral sendo
empurrado pelo movimento de epibolia do ectoblasto cutâneo. O endoblasto é o primeiro a iniciar a formação e o último a completar. O ectoblasto neural se estabelece
por epibolia e convergência situando­-se logo acima da notocorda. A pequena abertura restante originará o ânus.
A seguir daremos um exemplo da gastrulação em mamíferos, muito semelhante
ao que ocorre em répteis e aves. Nesses animais ela ocorre somente na região do epiblasto (Figura 12)
Figura 12: Esquema do início da gastrulação em mamíferos: epiblasto, trofoblasto, vesícula amniótica.
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M4U2
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O epiblasto pode ser mapeado conforme os territórios presuntivos (Figura 13).
Figura 13: Mapeamento do epiblasto e seus respectivos territórios presuntitvos.
Todos os tecidos, órgãos e sistemas do embrião terão origem dessas estruturas.
Nesse momento, forma-­se a linha primitiva, que vai aumentando em extensão
até atingir as células do território presuntivo do endoblasto, que também passam a
constituí­ la. Então, chegam ao território presuntivo do mesoblasto notocordal. Nesse
momento cessou a progressão celular formando um amontoado de células denominado nó de Hensen. Surge uma abertura, em forma de fenda, denominada fosseta primitiva, por onde as células iniciam a migração por invaginação. Essa migração ocorre
em seqüência, pelas células que constituem e delimitam a linha primitiva. Primeiramente migram as células do território presuntivo do mesoblasto das lâminas laterais
seguidas pelas do território presuntivo do endoblasto e do território presuntivo do
mesoblasto notocordal (Figura 14).
Figura 14: Corte transversal da linha primitiva com migração celular formando o endoblasto, células em
vermelho.
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Com a migração desses territórios presuntivos, o hipoblasto foi empurrado
para as paredes laterais da vesícula vitelina. As células do endoblasto ocuparam o
local antes ocupado pelas células hipoblásticas, na figura 14. As células do mesoblasto
das lâminas laterais, notocordal e somítico ocuparam uma posição intermediária entre
o ectoblasto (cutâneo e neural) e o endoblasto. A região central é ocupada pelo mesoblasto notocordal e ao lado dele o mesoblasto somítico.
Um dos acontecimentos mais importantes na gastrulação, além da particularidade dos movimentos celulares dos diferentes territórios presuntivos, é a situação
final do mesoblasto notocordal. Ao invaginar, suas células colocam­-se exatamente
abaixo do território do ectoblasto neural. Acompanhe na ilustração da figura 15, esse
movimento muito semelhante ao de uma escada rolante, chamada involução.
Figura 15: A seta 1 mostra a migração pela linha primitiva, dos territórios presuntivos do endoblasto
(localizando-­se abaixo dos demais e formando o teto da vesícula vitelina). A seta 2 mostra a migração
pela linha primitiva, dos territórios presuntivos do mesoblasto das lâminas laterais. A seta 3 mostra a
migração pelo nó de Hensen, dos territórios presuntivos do mesoblasto notocordal somente para a região
cefálica (seta central e do mesoblasto somítico – setas laterais).
Durante a migração, essas células tomam a direção cefálica do embrião, como
mostrado na figura 15. Ao mesmo tempo, forma uma estrutura cilíndrica, maciça, a
notocorda, que é o indutor primário, mostrado na figura 16.
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M4U2
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Figura 16: Corte transversal, mostrando a estrutura cilíndrica (setas pretas = indução neuralizante).
Lateralmente a ela os somitos, mesoblasto intermediário e das lâminas laterais, respectivamente. Acima,
em azul, a placa neural delimitada lateralmente pelo ectoblasto cutâneo. Abaixo, em verde, o endoblasto.
O mesoblasto intermediário surge da transição entre os mesoblastos somíticos
e as lâminas laterais. O território presuntivo dos ectoblastos neural e cutâneo só tem
movimentos na superfície e terminam por recobrir o embrião, ou seja, formar o folheto superficial. A partir desse momento, temos o embrião triblástico, com três folhetos
germinativos ou três tecidos básicos: ectoblasto, mesoblasto e endoblasto.
Atividade Complementar 1
Fundamentado nas informações contidas no texto e nas referências, caracterize
os principais eventos que ocorrem na gastrulação e na formação do sistema nervoso. Utilize no mínimo cinco e no máximo seis páginas A4, para a sua resposta.
#M4U2 VI. Indução e Neurulação
O que diferencia uma célula de um tecido de outras células de outros tecidos?
Genes específicos que são ativados e inativados. Esses são ativados e transcritos
durante o processo de diferenciação. Ao final do desenvolvimento, restam os
genes mais especializados do tecido.
Com a diferenciação, o estímulo indutor penetra nas células e estimula sua interação núcleo-­citoplasmática. Os genes respondem aos sinais citoplasmáticos dessa
interação. Dessa forma, vão surgindo os diversos tipos celulares, formando os diferentes tecidos do indivíduo e as células vão adquirindo especialização morfológica,
bioquímica e funcional, como a morte celular programada, ativação, deslocamento,
fixação, entre outros.
Indução Neuralizante
Na figura 16 foi mostrado o corte transversal de um embrião mostrando a notocorda imediatamente abaixo do ectoblasto neural. As células do embrião são originalmente totipotentes podendo responder a diferentes estímulos e se diferenciarem.
A notocorda libera dois tipos de proteínas: uma que atua sobre o ectoblasto neural
e outra que age sobre os demais tecidos mesoblásticos: somítico, intermediário e das
lâminas laterais.
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A indução notocordal sobre o ectoblasto neural é chamada de indução neuralizante, determinando o processo de neurulação que consiste na formação do tubo
neural. O processo total dará origem ao sistema nervoso. Tal indução age sob gradientes, atuando com intensidades diferentes ao longo do embrião. A neuralizante é céfalo­
caudal, já que apresenta intensidade muito mais forte na região cefálica do embrião e
diminui, gradualmente, até a porção caudal.
Na formação do sistema nervoso, as células do ectoblasto neural vão mudar sua
forma de cúbicas a cilíndricas, formando uma placa celular, a placa neural. Como a
indução é mais forte na região cefálica, essa placa também tem a sua porção anterior
mais larga. Acompanhe na figura 17 que o avanço da indução neuralizante faz com
que a placa neural prolifere e avance em direção ao mesoblasto, localizado abaixo do
ectoblasto.
Figura 17: Formação do tubo neural (A e B) e final da neurulação.
Há então a formação de um sulco, chamado goteira (ou sulco) neural. Nesse
movimento, algumas células se acumulam nas bordas da goteira neural, tornando-­as
mais espessadas, formando as cristas neurais. A continuação do processo de neurulação faz com que a goteira neural comece a se fechar em um tubo. Na figura 18, pode
ser visto que o fechamento do tubo neural se dá do centro para as extremidades ainda
sob ação da indução neuralizante. Ao final do fechamento do tubo neural formam­se duas aberturas, os neuróporos anterior e posterior. Os neuróporos se manterão
abertos permitindo a passagem do líquido amniótico até que os plexos coróides sejam
formados. O fechamento dos neuróporos somente será efetivado após a formação e o
funcionamento dos plexos coróides, responsáveis pela produção do líquor.
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Figura 18: Fechamento do tubo neural.
A indução neuralizante continua agindo, fazendo com que a poção cefálica do
tubo neural se dilate em três vesículas cerebrais primitivas denominadas prosencéfalo, mesencéfalo e romboencéfalo (Figura 19).
Figura 19: Evolução das vesículas cerebrais. Inicia com o tubo neural como estrutura reta. Temos a
formação das vesículas cerebrais primárias (rosa, prosencéfalo; amarelo, mesencéfalo; verde, rombencéfalo). O desenho seguinte mostra as vesículas cerebrais secundárias (rosa, telencéfalo e diencéfalo;
amarelo, mesencéfalo; verde, metencéfalo e mielencéfalo). O último desenho mostra o posicionamento
das vesículas ao final do desenvolvimento embrionário. A parte em azul representa a medula espinhal
em desenvolvimento.
Ainda sob indução, o prosencéfalo irá se diferenciar em outras duas vesículas,
o telencéfalo e o diencéfalo assim como o romboencéfalo em metencéfalo e mielencéfalo.
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Antes porém dessa diferenciação, as vesículas cerebrais sofrem um processo de
dobramento e posicionamento anatômico tal com se encontra no adulto. Inicialmente
ocorre a formação da flexura cefálica no mesencéfalo e da flexura caudal na porção
terminal do tubo neural. Segue­-se posteriormente a formação das flexuras pontina
entre o metencéfalo e mielencéfalo e a cervical na junção rombencéfalo/ medula. As
flexuras cerebrais são mostradas na figura 20.
Figura 20: Esquema mostrando os dobramentos que ocorrem no encéfalo ao longo do desenvolvimento
embrionário.
Ao final, o telencéfalo dará origem aos hemisférios cerebrais, primeiro e segundo ventrículos e aos lobos olfativos; o diencéfalo às vesículas ópticas, epitálamo
e a epífise, tálamo, hipotálamo e a neurohipófise e terceiro ventrículo. O mesencéfalo dá origem aos lobos ópticos, pedúnculo cerebral, aqueduto cerebral e
ao terceiro e quarto ventrículos; o metencéfalo às vesículas auditivas, ponte e o
cerebelo e o mielencéfalo ao bulbo e ao quarto ventrículo.
Sob a indução neuralizante, a placa neural originou ainda as células da crista
neural. Vários tipos de células se diferenciam nessa etapa da formação do sistema nervoso. Esse processo é chamado de citogênese do tecido neural. As primeiras células a
se formarem são as neroepiteliais que se diferenciam em neuroblastos e estes em neurônios. Os neuroblastos se diferenciam em neurônios pseudo­-unipolares formando de
um lado o dendrito que se dirige ao tubo neural enquanto que do outro lado forma-­se
o axônio, que se dirige para a periferia do corpo. O conjunto dessas células irá formar
os gânglios sensitivos espinhais que constituem o sistema nervoso periférico (Figura
21). As células neuroepiteliais formadoras do tubo neural se posicionam em diferentes
locais e, então, diferenciam­-se.
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Figura 21: Formação das células nervosas.
As células neuroepiteliais fixas junto ao lume do tubo neural formam os neuroblastos e depois os neurônios. Esse neuroepitélio também forma os espongioblastos ependimários, que diferenciam em neuróglia epitelial ou ependimária. As células
neuroepiteliais livres na parede do tubo neural formam os espongioblastos livres que
se diferenciam em astroblastos e oligodendroblastos que formarão respectivamente
os astrócitos e os oligodendrócitos. Já as células do neuroepiteliais que migram para
a pineal se diferenciam em pinealócitos e para a neurohipófise formam os pituícitos.
As células da crista neural se diferenciam em diferentes tipos celulares características de acordo com o local onde se encontram. Os odontoblastos, nos dentes, responsáveis pela formação da dentina; os melanoblastos, formadores dos melanócitos
amplamente distribuídos na pele e produtores de melanina; as células C ou foliculares da tireóide atuantes no metabolismo do cálcio; as células cromafins da adrenal e as
células de Schwann são alguns exemplos.
Indução mesodermizante – Organogênese
O mesoblasto somítico se localiza ao lado da notocorda e a sua diferenciação é
dependente da ação mesodermizante da notocorda. A indução mesodermizante apresenta dois gradientes: um lateral e outro caudo­cefálico. Dessa forma, a ação da notocorda sobre o mesoblasto somítico é muito forte na região tronco­-caudal do embrião.
Primeiramente, as células do mesoblasto somítico agrupam-­se em metâmeros, em
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conjuntos celulares. Esses metâmeros são chamados de somitos e ocorrem aos pares.
O número de somitos vai variar de acordo com o animal.
A ação da proteína mesodermizante sobre os somitos resultará em sua diferenciação. Inicialmente no somito são distinguidas três regiões: dermátomo, miótomo e
esclerótomo. O dermátomo está localizado na região superior dos somitos e originará
a derme e o tecido conjuntivo que se situa abaixo da epiderme. O miótomo é composto
por células da região intermediária dos somitos. Essas se agrupam e formam células
multinucleadas que, ao migrar para os respectivos destinos, originarão os músculos
estriados esqueléticos. Por fim, o esclerótomo, composto por células da porção inferior dos somitos, também se diferencia e se movimenta para formar as vértebras e as
costelas. Os músculos e a derme dos membros também têm origem a partir desses
miótomos e dermátomos, porém, seus ossos se originam da diferenciação do mesênquima local.
A ação da proteína indutora liberada pela notocorda sobre o mesoblasto das
lâminas laterais na região tronco-­caudal do embrião promove uma delaminação, uma
separação completa entre as suas camadas de células, o que resultará na formação de
um espaço, de um celoma, chamado por celoma intra­-embrionário (Figura 22). Essa
delaminação origina a somatopleura e a esplancnopleura.
Figura 22: Delaminação do mesoblasto das lâminas laterais. A porção que segue para a região dorsal e
recobre a vesícula amniótica é chamada de somatopleura. Já a porção que segue para a região ventral,
envolvendo a vesícula vitelínica, é chamada de esplancnopleura.
Na região cefálica, como o gradiente da indução é menos intenso, as camadas
celulares não se separam completamente e terminam formando um tubo nesse mesoderma, aberto apenas nas duas extremidades. Dizemos, então, que a delaminação foi
incompleta e o que se chama celoma intra­-embrionário nessa região está fechado.
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Durante o desenvolvimento, ocorrem dobramentos no embrião. Os primeiros
que acontecem são os dobramentos longitudinais cefálico e caudal. Isso ocorre devido
ao crescimento intenso que ocorre no embrião por toda a sua extensão (Figuras 23 e 24).
Com esses dobramentos, parte do endoderma é incorporado, formando o intestino
primitivo anterior. Também ocorre o dobramento transversal do embrião (Figuras 25
e 26).
Cordão vitelínico
Figura 23: Dobramentos longitudinais cefálico e caudal.
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Figura 24: Dobramentos longitudinais cefálico e caudal.
Figura 25: Dobramento transversal.
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Figura 26: Dobramento transversal.
Como resultados desses dobramentos, o embrião passou da forma plana para
cilíndrica. As estruturas anatômicas são levadas para os locais definitivos, formando
o intestino primitivo e o celoma intra­-embrionário que dará origem às cavidades internas.
#M4U2 VII. Anexos Embrionários
Para que ocorra o desenvolvimento embrionário são necessárias algumas estruturas que não farão parte dos aparelhos ou sistemas do futuro indivíduo ou participarão da formação de apenas alguns órgãos. Essas estruturas são os anexos embrionários (a vesícula vitelina, a vesícula amniótica, o alantóide e/ ou vesícula alantoidiana
e a placenta com o cordão umbilical).
As vesículas amniótica e vitelina são formadas ao mesmo tempo (Figura 27).
Elas são originadas das estruturas que constituem a blástula. Segue um desenho onde
estão identificados os anexos embrionários e algumas estruturas formadoras.
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Figura 27: Evolução dos anexos embrionários. (A): T, trofoblasto; E, epiblasto; CE, celoma extraembrionário; VV, vesícula vitelina. (B): T, trofoblasto; CE, celoma extraembrionário; VA, vesícula amniótica;
VV, vesícula vitelina; AL, vesícula alantoideana. (C): T, trofoblasto; CE, celoma extraembrionário; VA,
vesícula amniótica; VV, vesícula vitelina; AL, vesícula alantoideana; U, cavidade uterina. (D): CE, celoma
extraembrionário; VA, vesícula amniótica; VV, vesícula vitelina; AL, vesícula alantoideana, U, cavidade
uterina; P, placentoma.
A vesícula vitelina tem origem a partir de dois tecidos embrionários, o mesoblasto e o endoblasto. Apesar de todos os grupos animais terem esse anexo é somente
nos ovos telolécitos (aves, répteis e alguns peixes), centrolécitos (insetos) e nos heterolécitos (anfíbios e alguns outros peixes) que ela tem função de armazenamento
de vitelo. Nos demais ovos, alécitos (mamíferos) ou oligolécitos (equinodermos), por
apresentar ausência e ou pouca quantidade de vitelo, respectivamente, não tem função de armazenamento da substância.
Com o processo de incubação dos ovos de aves e répteis, as células endodérmicas secretam enzimas que fragmentam os grânulos vitelínicos fosfolipídicos presentes
na gema tornando­-os assimiláveis. Essa reserva é suficiente para até os primeiros dias
de vida dos recém eclodidos.
Em todos os animais, o mesoblasto da vesícula vitelina tem a função de produção das primeiras células sangüíneas e também dos primeiros vasos. Já o endoblasto
tem a função de produção das células germinativas primordiais (CGP), precursoras
das espermatogônias, nos machos, e das ovogônias, nas fêmeas.
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M4U2
Princípios do Desenvolvimento Embrionário Animal
A vesícula amniótica não está presente em amimais com desenvolvimento externo em ambiente aquático. Está presente em répteis, aves e mamíferos e tem origem
por diferentes processos dependendo do grupo animal, a partir da diferenciação dos
tecidos ectodérmicos e mesodérmicos. Nela é armazenado o líquido amniótico que
é produzido inicialmente pelos amnioblastos (células da própria vesícula) e, posteriormente, por células dos sistemas respiratório e digestório, além da própria urina
embrionário­-fetal. Nos mamíferos, há participação também da circulação materna e
da atividade de células uterina.
O líquido amniótico é constituído de água, restos celulares, ferro, amônia, ácido úrico, bilirrubina, enzimas, secreções do trato respiratório, da cavidade bucal, do
trato digestório, da circulação materna útero/ placentária e placas amnióticas. Possui
altas concentrações de sódio, cloro, fósforo e frutose e baixas concentrações em potássio, magnésio, creatinina, glicose e uréia. O volume do mesmo varia conforme a
espécie: cadela e gata, 8­30 mL; égua, 3­7 L; mulher, 1L; porca, 40­150 mL; vaca, 3­5 L.
Entre as funções estão as de hidratação, manutenção da temperatura, impede
o colabamento entre o feto e as membranas, proteção contra choques mecânicos, desenvolvimento dos sistemas digestório, respiratório, urinário e muscular, dilatação do
colo uterino.
Após o nascimento, em mamíferos, a vesícula amniótica é eliminada no parto,
juntamente com a placenta. Nos casos de répteis e aves, ela é absorvida.
A vesícula alantoidiana e alantóide têm origem endomesodérmica, a partir do
divertículo da vesícula vitelina (Figura 27). Está associada à formação da placenta,
dos vasos sanguíneos placentários e do cordão umbilical, além de participar da formação da bexiga urinária. Em répteis e aves, também realiza trocas gasosas, armazena
produtos nitrogenados e contribui com a calcificação. Funciona como um depósito de
produtos de excreção fetal que não podem ser transferidos rapidamente para a mãe.
Além das funções já mencionadas, ajuda na manutenção da pressão osmótica do plasma fetal e promove o contato íntimo entre o alantocório e o endométrio no início da
gestação.
O líquido alantoidiano que se acumula tem origem na urina fetal e na atividade secretora da membrana alantóide. É formado por água, ultrafiltrado, potássio,
magnésio, cálcio, frutose, creatinina, ácido úrico, uréia (em altas concentrações), sódio,
cloro, fósforo e glicose (em baixas concentrações). A quantidade varia conforme a espécie: égua, 4­10 L; vaca, 8­15 L; cadela e gata, 10­50 mL.
Cordão Umbilical
A maioria das espécies apresenta: uma veia e duas artérias. Os ruminantes e os
carnívoros apresentam duas veias que se fundem próximo ao feto.
#M4U2 VIII. Placentas e placentação
A placenta é um órgão extremamente adaptado para o desenvolvimento
embrionário­-fetal presente principalmente em mamíferos. Esse órgão está também
presente em alguns grupos de répteis e peixes, ainda que com sistema de organização
e complexidade mais simples. Além das funções metabólica e endócrina, a placenta
também está ligada às trocas gasosas, nutrição e excreção.
A placenta é formada pelo cório e o endométrio em sua fase secretora. O cório
é constituído pelos tecidos fetais extra­-embrionários, trofoblasto e o mesoblasto extra­
embrionário enquanto que o endomério é formado pela mucosa uterina. Podem ser
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classificadas de acordo com diferentes critérios. Quanto à formação dos vasos placentários podem ser cório-vitelínica, formadas pelos vasos vitelínicos, cuja funcionalidade está restrita ao transporte de células sangüíneas formadas na própria vesícula
vitelina. Na grande maioria dos animais esse tipo de placenta não exerce trocas de
substâncias com a mãe. Posteriormente, a placenta cório­vitelínica é substituída pela
cório­-alantoidiana, originada do alantóide.
Anatomicamente elas são classificadas em: difusas, cotiledonárias, zonária e
discoidal e histologicamente em: epitéliocorial, mesocorial, endotéliocorial e hemocorial. Quanto à nutrição podem ser histotrófica ou hemotrófica; quanto à implantação
em superficial e intersticial e, quanto à perda de tecidos fetais no parto, em decídua e
indecída. Nas figuras 27, 28 e 29 são mostrados alguns tipos de placentas.
As placentas difusas são aquelas em que o contato entre endométrio e cório se
dá em toda a sua extensão, porém de forma muito superficial, formando apenas microvilosidades placentárias entre o epitélio (endométrio) e o cório. Histologicamente,
são chamadas de epitéliocorial; as trocas de substâncias passam de célula a célula, o
que caracteriza uma nutrição histotrófica (Figura 28). Como a implantação é superficial, na hora do parto não ocorre perda de tecidos endometriais, sendo classificada
como indecídua. Esse tipo está presente em cetáceos, eqüídeos e suínos.
Figura 28: Classificação anatômica das placentas. ADifusa. BCotiledonária. CZonária. DDiscoidal.
O tipo cotiledonária, não deixa de ter característica difusa já que os cotilédones
estão distribuídos em toda a extensão do cório. Ao se estabelecer esse tipo, os cotilédones se fixam às carúnculas, que são estruturas presentes no endométrio de todas as espécies de ruminantes. Com a fusão carúncula­cotilédone origina-­se um placentoma e a
soma de vários desses, uma placenta. A organização histológica é do tipo mesocorial,
pois nas regiões dos placentomas o tecido do cório invade o epitélio do endométrio
(Figura 28). Assim, nessas regiões, há destruição do epitélio, estabelecendo contato do
cório diretamente com o tecido conjuntivo do endométrio. A implantação também é
superficial, sendo decídua com nutrição histotrófica.
Em placentas zonárias, o contato entre mãe e feto se dá apenas em uma faixa,
daí o termo zonária. Nesse caso, o cório invade o epitélio do endométrio e o tecido
conjuntivo, atingindo o endotélio dos vasos sangüíneos dessa região. Recebe a denominação histológica endotélio corial (Figura 29). A implantação ainda que considerada superficial, traz algumas características da intersticial, apresentando­-se como
decídua, pois já existe perda dos tecidos endometriais no momento do parto, mas com
nutrição do tipo histotrófica. Esse tipo é encontrado em carnívoros. O último tipo é a
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Princípios do Desenvolvimento Embrionário Animal
discoidal, típica de primatas, lagomorfos e roedores, o cório invade grande parte do
endométrio, inclusive o endotélio dos vasos, sendo chamada de hemocorial, pois o
cório está em contato direto com o sangue materno e, portanto, com nutrição hemotrófica e formação de decídua (Figura 29).
Figura 29: Classificação histológica das placentas.
A formação das placentas dos mamíferos segue basicamente o mesmo padrão,
variando apenas na complexidade da organização tecidual. A implantação ocorre em
uma seqüência de evento. Na espécie humana inicia entre o 7 o e o 12 o dia. Ocorre na
região súpero­-posterior do endométrio especificamente em um local que a partir do
início da implantação passa a ser chamado de decídua basal, pois durante a invasão
nessa região uterina as células deciduais são formadas. O embrião, na fase de blastocisto pré-­implantado, tem o seu trofoblasto modificado para citotrofoblasto que são
células mais ativas. Essas células, por sua vez, formam o sinciciotrofoblasto que tem
característica invasiva devido à produção de enzimas que digerem o tecido do endométrio. As células deciduais nutrem o embrião na fase inicial e ativam o sinciciotrofoblasto. Com o desenvolvimento do sinciciotrofoblasto, formam-­se espaços intervilosos
separados por trabéculas, onde se estabelecerão as vilosidades placentárias. Essa formação se dá em três etapas: vilosidades primárias, secundárias e terciárias entre o 14°
dia e o 3 o mês. Elas são constituídas por elementos do cório (trofoblasto, inicialmente e com posterior substituição pelo citotrofoblasto e sinciciotrofoblasto, mesoblasto
extra­ embrionário e vascularização alantoidiana). Desenvolve dentro da mucosa uterina, formando inicialmente uma placenta difusa, conforme mostrado na figura 30.
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Saiba mais...
Os lagomorfos
englobam os pequenos mamíferos
herbívoros, como
coelhos e lebres,
pertencentes à ordem Lagomorpha.
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Figura 30: Placenta humana, transição da forma difusa para discoidal
Nas vilosidades primárias há formação de um eixo de citotrofoblasto envolvido pelo sinciciotrofoblasto em contato com o sangue materno que circula nos espaços
intervilosos. O mesoderma extra­-embrionário do cório invade o interior do eixo de citotrofoblasto transformando em vilosidade secundária. As alças de todos os capilares
vão interligar com a vascularização intra-­embrionária através dos vasos alantoidiano/
umbilicais, ou seja, há vascularização do eixo de mesoblasto caracterizando uma vilosidade terciária que contém fibroblastos e macrófagos (células de Hofbauer). Todas as
vilosidades terciárias estão banhadas pelo sangue materno dos espaços intervilos. As
etapas dessa formação estão ilustradas a seguir nas figuras 31, 32 e 33.
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M4U2
Princípios do Desenvolvimento Embrionário Animal
Figura 31: Formação da vilosidade secundária.
Figura 32: Formação da vilosidade primária
Figura 33: Formação da vilosidade terciária.
Trocas de substâncias entre mãe e feto
Por difusão rápida passam eletrólitos, água e gases respiratórios que atuam na
manutenção da homeostase bioquímica ou proteção contra repentina morte fetal. E,
por transporte ativo, os aminoácidos, açúcares, vitaminas hidrossolúveis (maioria)
que vão atuar na nutrição fetal. Existe um processo de difusão lenta que atua na passagem de hormônios responsáveis pela modificação do crescimento fetal ou manutenção da gestação. E, por difusão rápida/ pinocitose, passam as drogas e anestésicos
com importância imunológica ou tóxica.
276
Módulo IV - Desenvolvimento e Crescimento
Saiba mais...
Reveja sobre
eletrólitos, água,
gases respiratórios,
aminoácidos, açúcares e vitaminas
no Eixo Biológico
da Unidade 1.
P
Eixo Biológico
BSC
B
A placenta atua na produção dos chamados hormônios placentários protéicos:
gonadotrofina coriônica (hCG), somatotrofina coriônica (hCS), tireotrofina coriônica
(hCT) e corticotrofina coriônica (hCACTH); e esteróides: progesterona e estrogênio.
Atividade Complementar 2
Defina cada um dos itens a seguir respeitando os limites de linhas exigidos:
1.Espermatogênese (mínimo cinco linhas)
2.Ovogênese (mínimo cinco linhas)
3.Fecundação (mínimo dez linhas)
4.Segmentação (mínimo dez linhas)
5.Indução (mínimo cinco linhas)
6.Indução mesodermizante (mínimo dez linhas)
7.Vesícula vitelina (mínimo cinco linhas) 8.Vesícula amniótica (mínimo cinco
linhas) 9.Placenta (mínimo dez linhas)
10. Vilosidades placentárias (mínimo dez linhas)
#M4U2 IX. Considerações finais
O desenvolvimento embrionário não pára por aqui. Agora, seguem o desenvolvimento dos órgãos, vasos e outras estruturas do corpo do indivíduo. Elas não
começam a se desenvolver somente agora. Durante todo o processo descrito, as células
iniciaram a sua preparação para formar tais estruturas. Até tivemos apenas as considerações iniciais do desenvolvimento embrionário, ou seja, a formação do embrião. A
formação dos sistemas que consiste na organogênese constitui parte essencial para o
desenvolvimento dos órgãos e sistemas e, também, para a compreensão do desenvolvimento fetal.
#M4U2 X. Referências
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Artmed, 2004. 1549p.
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LEITE, J. C. L.; COMUNELLO, L. N.; GIUGLIANI, R. Tópicos em defeitos congênitos.
Consórcio Setentrional de Ensino a Distância
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M4U2
Princípios do Desenvolvimento Embrionário Animal
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Módulo IV - Desenvolvimento e Crescimento
P
Eixo Biológico
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