ISBN 978-85-8015-079-7 Cadernos PDE II Versão Online OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2014 Título: Ensinando Evolução Biológica: desafios e possíveis soluções Autor: Lucy Vana Koga Disciplina/Área: Biologia Escola de Implementação do Projeto e sua localização: Colégio Estadual Barão do Rio Branco – EFM Município da escola: Londrina Núcleo Regional de Educação: Londrina Professor Orientador: Professor Dr. Rogério Fernandes de Souza Instituição de Ensino Superior: Universidade Estadual de Londrina – UEL Relação Interdisciplinar: Matemática, Português, Geografia, Física e Inglês Resumo: Esta unidade temática contemplará conteúdos relacionados a Evolução Biológica, presente nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Biologia – (PARANÁ, 2008) e no Caderno de Expectativas de Aprendizagem (PARANÁ, 2012) – Secretaria de Estado da Educação do Paraná, considerados imprescindíveis à formação conceitual dos estudantes. As diretrizes objetivam o estudo do fenômeno VIDA, explicando os pensamentos que contribuíram para a construção das diferentes concepções da vida, suas implicações no ensino, considerando a história da ciência, contextos históricos, religiosos, econômicos, políticos e sociais, partindo de quatro pensamentos biológicos: descritivo, mecanicista, evolutivo, da manipulação genética. O pensamento biológico evolutivo compreende o mundo mutável, revela uma concepção de ciência que não pode ser considerada verdade absoluta, explicando e construindo interpretações, assumindo seu caráter humano determinado pela história. Atualmente, a Teoria evolutiva vai além das ideias de Lamarck (1744-1829) e Charles Darwin (18231913), sendo considerada o eixo principal à compreensão da organização da vida. Estudos realizados apontam o tema como pouco abordado nas escolas, devido a diversos fatores, dentre eles, a baixa disponibilidade de material didático para o desenvolvimento de atividades práticas. Assim, justifica-se trabalhar assuntos ligados a esse tema, propondo atividades lúdicas alternativas para o seu ensino. Palavras-chave: Ensino de Evolução Biológica; Teoria Evolutiva Moderna; Livro Didático; Professores de Biologia. Formato do Material Didático: Unidade Didática Público: Professores de Biologia – Ensino Médio Apresentação Este material didático é um trabalho da proposta pedagógica no formato de Unidade Didática, abordando o conteúdo Evolução Biológica, e visa contribuir com o conteúdo estruturante envolvendo o pensamento biológico evolutivo, apresentado nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Biologia – DCE, destinada a Professores da disciplina de Biologia que atuam no Ensino Médio. Nessa perspectiva, o conteúdo Evolução Biológica pode ser considerado relevante, uma vez que, segundo as DCE, o pensamento biológico evolutivo proporciona a compreensão do mundo mutável, destacando uma concepção de ciência que não pode ser considerada verdade absoluta. E, na prática do ensino de biologia, este passa a ser um processo que objetiva explicar e construir modelos interpretativos assumindo seu caráter humano, determinado pelo tempo histórico, sendo atualmente considerada o eixo principal para a compreensão da organização da vida em nosso planeta. Dentre os materiais de apoio, os professores da disciplina adotam o Livro Didático do Programa Nacional do Livro Didático – PNLD, uma vez que esse material está presente em todos os Colégios que ofertam o Ensino Médio. Para alguns professores, a abordagem do conteúdo Evolução Biológica é realizada sem muitas dificuldades, mas alguns relatam que a dificuldade maior está no desenvolvimento de atividades didáticas que possam complementar o conteúdo teórico, que muitas vezes é visto como abstrato pelos alunos. Diante da situação citada a presente Unidade Didática pretende subsidiar tais professores na realização de atividades práticas. Introdução Em 2004, foi implantado no Brasil, o Programa Nacional do Livro Didático do Ensino Médio (PNLEM) atendendo as disciplinas de Português e Matemática e, em 2007, o livro de Biologia passou a fazer parte do programa (BRASIL, 2007). De acordo com o Plano Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio – Ministério da Educação (PNLEM – MEC), a evolução biológica deve fazer parte do conteúdo a ser trabalhado nas escolas. Tal tema consta no documento Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Biologia (PARANÁ, 2008) e no Caderno de Expectativas de Aprendizagem (PARANÁ, 2012) redigidos pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED, presente em um quadro de conteúdos básicos – que relaciona os conhecimentos fundamentais para as séries do ensino fundamental (etapa final) e para o ensino médio, que são considerados imprescindíveis para a formação conceitual dos estudantes. Conforme Ciccilini (1993 apud ZAMBERLAN e SILVA, 2012, p. 190): […] os conteúdos sobre evolução biológica, apesar de presentes nas propostas curriculares e nos livros didáticos, quase não são trabalhados em sala de aula e, quando o são, aparecem apenas como um tópico a mais do programa. A autora ainda comenta que no sistema de ensino brasileiro a inclusão desses conteúdos geralmente se apresenta como um dos últimos tópicos do programa, podendo ser uma forma camuflada de evitar assunto polêmico. “Dessa forma, ‘não dá tempo de acabar o programa’ passa a ser a justificativa manifestada por alguns professores de Biologia quando perguntados se abordam os conteúdos de evolução”. Ao investigar as teorias evolutivas apresentadas nos livros didáticos de Biologia, Almeida e Falcão (2010) “concluíram também que o assunto evolução biológica, geralmente, está colocado no final do livro e, normalmente, logo após o conteúdo de genética” (apud ZAMBERLAN e SILVA, 2012, p. 192). Ademais, o ensino de evolução biológica nem sempre é uma tarefa fácil, devido a uma série de fatores (Blackwell et al., 2003; Carneiro, 2004; Tidon e Lewontin, 2004; Asghar et al., 2007; Nelson, 2008); Dijk, 2009; Sanders e Ngxola, 2009; Schilders et al., 2009). Oleques et al. (2011) considera o tema polêmico, principalmente por ser base para explicar o fenômeno da vida e ser considerado um eixo integrador de conteúdos da área biológica. Nelson (2008) considera que, parte do problema da não aceitação da evolução está relacionado com a ineficiência de faculdades e escolas de ensino médio darem aulas de ciências. E, embora as faculdades de ciências sejam especialistas na utilização de dados, geralmente, continuam a ensinar de maneira ineficiente. Outros fatores também são apresentados por alguns professores: falta de formação, de material didático e de tempo para o seu ensino, alunos imaturos e/ou prescindem de uma base teórica suficiente para a compreensão da biologia evolutiva (Tidon e Lewontin, 2004), além de falta de tempo e de conflitos com suas próprias crenças, levando a um ensino fragmentado, conteudista e memorístico (OLEQUES et al., 2011). Carneiro (2004), Meglhioratti (2004), Goedert (2004) e Licatti (2005), verificaram que além da falta de domínio dos conceitos, os professores sentem-se inseguros ao abordar as questões e implicações de natureza filosófica e religiosa que surgem no contexto. Estudos como de Gayon (2001), Carneiro (2004), Tidon e Lewontin (2004), mostram que: […] os professores têm dificuldades em trabalhar este assunto, pois a parcela de tempo destinada para o estudo de evolução é pouco significativa, já que este conteúdo é, normalmente, trabalhado no último ano do Ensino Médio e muitas vezes, falta tempo para abordá-lo. Entre outras dificuldades encontradas se destacam a falta de preparo dos professores muitas vezes em virtude de sua formação inicial inadequada e a ausência de formação continuada (apud OLEQUES et al. 2011). Carneiro (2004) identificou uma série de equívocos conceituais relacionados ao domínio do conhecimento científico. Para OLEQUES et al. (2011), os estudos realizados por Almeida e Falcão (2005), Sepúlveda e El-Hani (2009) evidenciaram que além da falta domínio conceitual por parte dos professores, constata-se a necessidade de abordar questões filosóficas, éticas, biológicas e até políticas, aspectos estes que os professores não se sentem preparados para tratar com os alunos. Dessa forma, o ensino da evolução biológica tende a ser prejudicado, uma vez que os professores não dominam adequadamente alguns conceitos evolutivos, bem como os referentes ao conhecimento histórico da teoria evolutiva e aos seus processos (OLEQUES; SANTOS; BOER, 2011, p. 260-261). Entre os estudantes, os principais motivos que contribuem para a não aceitação ou compreensão deste tema estão as preconcepções. SILVA, LAVAGNINI e OLIVEIRA (2009) ao realizar um trabalho na busca de conhecer as concepções prévias de alguns alunos, verificaram que: Os resultados obtidos apontam que os conhecimentos prévios dos sujeitos pesquisados relacionam-se à compreensão da evolução como sinônimo de progresso e melhora, à visão antropocêntrica sobre os processos evolutivos e à presença da concepção criacionista que nega os preceitos científicos e aceita o mito da Criação como teoria que explica a origem da vida e evolução das espécies. BIZZO e HANI (2009) verificaram que os estudantes apresentam uma baixa compreensão do conteúdo evolução biológica, fato que poderia ser revertido se houvesse uma abordagem histórica referente a teoria da evolução, pois é comum a genética mendeliana ser abordada antes da evolução biológica, considerando os pressupostos históricos e epistemológicos entre os trabalhos de Gregor Mendel e Charles Darwin. Na atualidade, o tema evolução biológica tende a ser relevante por estar relacionado a: questões sócio-científicas (engenharia genética, resistência aos antibióticos, agricultura); discussão ética – ou seja, a relação do ser humano com os demais organismo do meio ambiente, onde o “especismo” do ser humano tende a sobrepor moralmente e eticamente os demais seres (BIZZO e HANI, 2009). Diante desses fatos, tendo como foco as necessidades apontadas pelos professores, a presente unidade didática objetiva propor uma atividade didáticopedagógica, buscando subsidiar a prática pedagógica em sala de aula. Material Didático Na unidade didática apresentada será disponibilizada ao professor um tutorial orientando o uso do programa EvoDots (software livre) para o ensino de evolução biológica, visando auxiliá-lo na abordagem da temática. O uso desta ferramenta objetiva facilitar o ensino de forma complementar às metodologias já utilizadas pelos professores em sua prática pedagógica. ************************************************************* SIMULANDO A AÇÃO DA SELEÇÃO NATURAL E DE OUTROS FATORES EVOLUTIVOS USANDO O PROGRAMA EVODOTS Introdução Uma série de programas de computador simulando a evolução de caracteres adaptativos pela seleção natural estão disponíveis na rede mundial de computadores. O uso deste tipo de ferramenta pode facilitar o ensino deste conteúdo, complementando as metodologias comumente usadas em sala de aula. Embora de utilização simples, eles costumam ser desenvolvidos na língua inglesa, inclusive os seus manuais de instrução. Além disso, eles partem de uma fundamentação teórica que precisa ser bem compreendida pelos professores, para que estes possam trabalhá-la corretamente junto aos estudantes. Portanto, a criação de um tutorial contendo instruções de funcionamento e uma fundamentação básica pode aumentar o interesse pelo uso desse tipo de ferramenta. Além disso, a atividade pode deixar de ser mera recreação e se tornar uma forma efetiva de aprendizado. Objetivo Preparar um tutorial para o uso do programa EvoDots para o ensino de evolução biológica pela seleção natural. Material necessário Computadores que permitam rodar programas executáveis (.exe), ou seja, que tenham o Microsoft Windows © instalado; Programa EvoDots.exe, disponível no endereço http://faculty.washington.edu/herronjc/SoftwareFolder/EvoDots.html; Papel e caneta ou lápis, para se fazer anotações. Fundamentação teórica Podemos definir seleção natural como o mecanismo que promove mudanças nas frequências de determinados caracteres herdáveis presentes nas espécies e que resultam no aumento da sua adaptação ao ambiente. O conceito de seleção natural é crucial dentro da Teoria Evolutiva, pois ele explica justamente os mecanismos envolvidos na evolução das adaptações. Freeman e Herron (2009) explicam que, para que a evolução pela seleção natural ocorra, os seguintes postulados de Charles R. Darwin precisam ser efetivados: 1. É preciso existir variação nos caracteres dentro das espécies; 2. Ao menos parte da variação encontrada entre os indivíduos deve ser herdável, ou seja, transmissível para a prole; 3. As espécies devem produzir uma quantidade de descendentes maior que a capacidade suporte do ambiente, o que resultará em competição entre eles por espaço, alimento, parceiros reprodutivos etc; 4. Deve ocorrer a sobrevivência e a reprodução não ao acaso entre tais indivíduos. Portanto, a evolução biológica pela seleção natural é explicada pela sobrevivência e reprodução diferenciais dos indivíduos – o que é chamado de aptidão – pelo fato deles: a) apresentarem variação em características morfológicas, fisiológicas e comportamentais; b) coexistirem em um ambiente com recursos finitos, onde a disputa por alimento e abrigo, dentre outras coisas, é uma constante. Para uma série de caracteres geneticamente controlados espera-se que os indivíduos apresentem diferentes aptidões e que, ao longo das gerações, pela ação desse componente evolutivo, os portadores das combinações que conferem maior aptidão se tornem cada vez mais frequentes. Por exemplo, imagine que, em uma espécie de besouro encontramos indivíduos de coloração esverdeada, de genótipo vv (homozigotos recessivos), e indivíduos de coloração laranja, de genótipos VV (homozigotos dominante) ou Vv (heterozigotos), conforme demonstrado na Figura 1. O ambiente ocupado por ele foi recentemente colonizado por uma espécie de ave predadora de insetos. Um pesquisador foi a campo e começou a estudar o comportamento dessa ave e descobriu que, de um modo geral, ela predava proporcionalmente mais besouros laranjas que os verdes. E que isso acontecia pelo fato dos besouros alaranjados serem mais facilmente encontrados entre as folhagens das plantas. Sendo assim, se esperaria que, ao longo do tempo, fosse paulatinamente aumentando a quantidade de besouros esverdeados e diminuindo a de besouros laranjas. Podemos fazer outras perguntas que seguem essa linha de raciocínio, como por exemplo: se, numa espécie de coelhos, alguns forem mais velozes do que outros e se as diferenças entre eles for geneticamente controlada, como se dará a evolução dessa característica caso, no ambiente ocupado por eles, também sejam encontrados predadores, como jaguatiricas? E se os coelhos maiores forem mais facilmente predados que os menores? Ou então, de que forma a mutação no material genético contribui para o processo de evolução pela seleção natural? Figura 1. Se numa população de besouros, aqueles de coloração alaranjadas forem mais facilmente predados que os de coloração verde, espera-se que, proporcionalmente, mais filhotes verdes sobrevivam até a idade adulta e se reproduzam. Assim, ao longo das gerações observaremos um aumento na frequência de besouros verdes e uma diminuição dos alaranjados, devido à sobrevivência e reprodução diferencial desses indivíduos, o que é chamado de seleção natural (Créditos da figura: Rogério F. de Souza/UEL). Usando o programa EvoDots O programa EvoDots (EvoDots 1.0© 2001 by Jon C. Herron) está disponível na rede mundial de computadores. Para encontrá-lo, basta colocar o seu nome em um sítio de buscas como o Google, Yahoo etc. Ou então, pode-se visitar diretamente a página do desenvolvedor em http://faculty.washington.edu/herronjc/SoftwareFolder/EvoDots.html (Figura 2). Para rodar o programa, basta baixá-lo em um computador que tenha o Microsoft Windows © instalado. Em seguida, na página em que este foi salvo, basta clicar duas vezes sobre o mesmo para que este inicie. Ele também pode ser gravado em uma pendrive, podendo ser transferido para outros computadores. O programa EvoDots possui uma interface simples, conforme exemplificado nas Figuras 3, 4 e 5, onde também são apresentadas as informações principais sobre o seu funcionamento. Neste programa, cada indivíduo fenotipicamente diferente é representado por um pontinho colorido e o papel do estudante é caçá-los por um determinado tempo, com o auxílio do mouse. É possível simular três situações distintas: tamanho, velocidade ou camuflagem (Figura 5). Também é possível realizar dois tipos diferentes de simulação: Considerando apenas a ação da seleção natural (Darwin's Theory ou a Teoria de Darwin) no processo evolutivo, ou levando em conta os efeitos da seleção natural e da mutação no processo evolutivo (Mutation's Role ou o Papel da mutação). Na primeira (Figura 3), quando um tipo de pontinho é caçado até a sua extinção, ele não será novamente reintroduzido na população. Na segunda (Figura 4), mesmo após o desaparecimento de um dos tipos de pontinhos, a mutação ao acaso poderá reintroduzir tal variante ou mesmo gerar novas variantes durante o processo de reprodução dos indivíduos. Ou seja, ela simula a mutação no DNA que pode ocorrer durante a duplicação do mesmo. Como a mutação é um evento raro e aleatório, podem ser necessárias algumas reproduções para o surgimento dos mutantes. É possível abrir e rodar simultaneamente os dois tipos de simulação, o que pode ajudar a explicar não somente o papel da seleção natural, mas também o da mutação no processo de evolução biológica. Figura 2. Página onde pode-se encontrar o programa EvoDots.exe. A seta superior indica o programa a ser baixado (por padrão, os navegadores costumam baixar arquivos no diretório Downloads). A seta inferior fornece o tutorial (em inglês) para este programa. Durante a simulação, é importante que a caçada seja interrompida algumas vezes – por exemplo, a cada 15 segundos – para que os indivíduos sobreviventes se reproduzam (clicando em Stop e Reproduce). Em seguida, a caçada dever ser reiniciada. Dado um tempo – cerca de 1 a 3 minutos – o jogo é finalizado e os estudantes devem ser estimulados a comparar os gráficos que mostram as frequências iniciais e finais de cada tipo de pontinho (Figuras 3 e 4). Explicando melhor esse jogo e as suas opções de simulação Um aspecto relevante desse jogo é que cada indivíduo (ou pontinho) se reproduz por mitose, ou seja, assexuadamente. Também pode-se considerar que eles sejam haploides (n). Isso significa que, cada um deles terá apenas um alelo de cada caráter. Por exemplo, indivíduos pequenos terão o genótipo A¹, indivíduos intermediários serão A², indivíduos grandes serão A³ e assim por diante. Com isso, fica mais fácil explicar como a seleção natural leva ao aumento das variantes alélicas (A¹, A², A³ etc) que conferem maior aptidão quando se escolhe a simulação a Teoria de Darwin (Darwin's Theory), ou como um indivíduo grande (A³) pode originar um intermediário (A²), por exemplo, quando se escolhe a simulação o Papel da mutação (Mutation's role). Figura 3. Interface do programa EvoDots para a opção a Teoria de Darwin (Darwin's Theory), que é aberta como padrão: (A) Ao iniciar o programa, deve-se clicar em File (Arquivo); (B) Feito isso, aparecerá as opções de jogo: Speed (Velocidade), Size (Tamanho) e Visibility (Visibilidade) dos pontinhos; (C) Esses comandos permitem determinar se haverá somente pontinhos iguais ou se estes serão diferentes (Variable), se as características apresentadas por eles serão herdáveis (Heritable), e se a sobrevivência dos pontinhos será seletiva (Selective); (D) Esses botões permitem gerar uma nova população de pontinhos (New population), interromper a simulação atualmente escolhida (Run/Stop) e permitir a reprodução dos sobreviventes (Reproduce); (E) É nesta janela que serão encontrados os pontinhos e onde cada estudante realizará a sua caçada, com o auxílio do mouse de computador; (F) Assim que o botão New population é acionado, esse espaço exibe um gráfico indicando as frequências iniciais de cada tipo de pontinho nessa população (Starting population) ; (G) Quando a jogada é interrompida ou finalizada (teclando Stop, que surge no lugar de Run quando a jogada está ocorrendo), aparece, nesse espaço as frequências de cada pontinho após a caçada (Current Population). Figura 4. Interface do programa EvoDots para a opção Papel da mutação (Mutation's Role); (A) No botão Window é possível escolher essa opção ou retornar para a simulação a Teoria de Darwin (Darwin's Theory), ou então, rodar simultaneamente as duas simulações, bastando para tanto, mover com o auxílio do mouse, uma das janelas para o lado; (B) Esses comandos permitem determinar se os diferentes pontinhos, além de serem variáveis e herdáveis, poderão sofrer mutação (with mutation), bem como determinar se a sobrevivência será seletiva (Survival is Selective). Ademais, embora simples, esse programa também pode auxiliar o entendimento de vários aspectos do processo evolutivo. Por exemplo, na opção de simulação a Teoria de Darwin (Darwin's Theory), na Figura 3C, os comandos permitem determinar se haverá somente pontinhos iguais ou se estes serão diferentes (Variable), se as características apresentadas por eles serão herdáveis (Heritable) e se a sobrevivência dos pontinhos será seletiva (Selective). Isso permite trabalhar melhor os postulados de Darwin (vistos anteriormente), que precisam ser seguidos para que efetivamente ocorra a evolução pela seleção natural. Por esse motivo, vamos fundamentar um pouco mais cada uma dessas opções: ▪ Que os caracteres sejam variáveis: se todos os indivíduos de uma população forem geneticamente idênticos – por exemplo, se todos forem pequenos (A¹) – mesmo que eles sejam caçados até a sua quase eliminação, assim que eles se reproduzirem, o ambiente será inundado apenas de indivíduos pequenos, não havendo mudanças evolutivas de uma geração para a outra. Portanto, neste caso, o postulado 1 de Darwin não será preenchido; ▪ Que os caracteres sejam herdáveis: se o tamanho dos indivíduos não depende dos genes que eles carregam, mas tão somente da quantidade de alimento que eles ingerem, então, a cada geração, indivíduos A¹, A² e A³ poderão gerar igualmente filhotes grandes, médios ou pequenos. Neste caso, dizemos que o caráter apresenta apenas efeito ambiental (lembrando que fenótipo = genótipo + ambiente). Assim, numa dada geração, se os indivíduos maiores forem caçados até a extinção, na próxima geração eles voltarão a aparecer na população. Neste caso, não haverá modificações nas frequências alélicas ao longo das gerações pelo fato do postulado 2 de Darwin não ser seguido; ▪ Que a sobrevivência seja seletiva: se ao clicar o mouse na população qualquer indivíduo for igualmente caçado (com essa opção, o jogador não consegue caçar as presas que ele escolher e a mortalidade se torna totalmente aleatória), não importando o seu tamanho ou o seu genótipo, então a influência do predador sobre as suas presas será nula. Neste caso, o tamanho dos indivíduos não influenciará a sua taxa de predação e, a evolução observada de uma geração para a outra (as mudanças nas frequências de cada tipo de indivíduo) será não adaptativa. Isso significa que essa evolução biológica não ocorrerá pela ação da seleção natural, uma vez que o postulado 4 de Darwin não foi seguido. Porém, observe que, embora não tenha havido seleção natural, ainda assim podemos dizer que houve evolução biológica na população de uma geração para a outra, uma vez que as frequências genotípicas e fenotípicas sofreram modificações, mesmo que aleatoriamente. Em evolução, essa flutuação provocada pelo acaso é conhecida como deriva genética, sendo este um componente importante da Teoria Evolutiva Moderna. Por outro lado, quando se escolhe a opção o Papel da mutação (Mutation's role), podemos mostrar a forma como a mutação contribui para o processo evolutivo. Na Teoria Evolutiva Moderna, a mutação é considerada a fonte primária para o surgimento ao acaso de novas variantes alélicas para cada loco (por exemplo: A¹, A², A³, a etc). Portanto, é graças a mutação que a evolução adaptativa, pela seleção natural, e a não adaptativa, pela deriva genética, podem acontecer. Explicando melhor: Se novas variantes alélicas não puderem surgir por mutações no material genético, a evolução biológica não existirá, pela absoluta falta de diversidade genética (ou seja, o postulado 1 de Darwin não será preenchido). E, se dentro de uma espécie as mutações deixarem de acontecer, depois que a seleção natural ou a deriva genética fixarem apenas uma das diferentes variantes alélicas que outrora existiam, dali para a frente, a possibilidade de evolução biológica cessará. Portanto, a evolução biológica só ocorreu ao longo da história da vida em nosso planeta por que, durante esse período, as mutações continuaram a reabastecer a diversidade genética das espécies. E as espécies atuais continuam a poder evoluir, porque novas mutações ainda continuam a acontecer. Entretanto, deve-se lembrar que as mutações são aleatórias, podendo gerar variantes alélicas funcionais ou não funcionais. Ou seja, elas podem produzir tanto alelos que levam a produção de fenótipos vantajosos, como desvantajosos. Além disso, é importante frisar que as mutações só existem porque não existe um sistema de proteção e de duplicação do material genético que seja 100% eficiente. Por esse motivo, apesar de ser uma molécula bastante estável e protegida, o DNA pode acumular danos devido a fatores internos (graças a alterações naturais nas bases nitrogenadas, a ação de radicais livres produzidos durante o metabolismo celular etc) e externos (pela infecção por retrovírus, radiação ultravioleta, produtos carcinogênicos, toxinas etc). Questões que podem ser trabalhadas A seguir são listadas algumas questões que podem direcionar o processo ensinoaprendizagem desse tema: 1) De acordo com cada simulação escolhida pelos estudantes (Figura 5A, B ou C), o que foi mais facilmente predado: a) Os indivíduos mais lentos ou os mais rápidos? b) Os indivíduos maiores ou os menores? c) Os indivíduos mais escuros ou os claros (observe que, na opção visibilidade, no gráfico inicial existem indivíduos negros e que não são visíveis aos jogadores)? 2) Por que de tempos em tempos, era preciso interromper o jogo para realizar a reprodução dos indivíduos sobreviventes? 3) Comparando as frequências iniciais e finais de cada tipo de pontinho (é importante reforçar aos estudantes que se tratam de indivíduos diferentes de uma mesma espécie) o que podemos concluir? 4) Por que o que aconteceu nessa simulação é chamado de seleção natural? 5) O que acontece quando uma das opções de simulação (Figura 3C e 4B) são desabilitadas? Por quê? Figura 5. Interface gráfica inicial para a simulação caso se escolha velocidade (A), tamanho (B) ou visibilidade (C) diferentes para as presas. 6) Qual seria a importância da mutação para o processo evolutivo? 7) Por que, na natureza, existem insetos coloridos, tendo em vista que os mais camuflados costumam ser menos predados? 8) Insetos mais velozes poderiam levar a seleção de predadores mais velozes? 9) Um estudo conduzido por Garcia (2006) em Mato Grosso do Sul com fêmeas e machos de dourado (Salminus brasiliensis) e curimbatá (Prochilodus lineatus) mostrou que, nos últimos 25 anos, além de ter havido uma redução no estoque pesqueiro, tem-se encontrado uma diminuição no tamanho desses peixes antes que estes atinjam a idade reprodutiva. Eles atribuem isso à pesca seletiva (aquela onde os pescadores são estimulados a devolverem ao rio os peixes que não atingiram o tamanho mínimo exigido). Como isso poderia ser explicado pela seleção natural? Bibliografia: AMORIM, M. C.; LEYSER, V. 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