Visualização do documento Mentoria Espiritual - James Houston.doc (87 KB) Baixar MENTORIA ESPIRITUAL – James Houston    Abordagem James Houston passei ao longo da história da humanidade pelos campos da Antropologia, psicologia, ciência em geral, sociologia e religião. Tenta ver como o homem ao longo do tempo procurou responder à s perguntas Quem sou eu? Qual a importância do outro? Como, por que e para que me relaciono? Nos moldes gregos, o homem se via como uma figura heróica, auto-glorificada. Daà queria conhecer-se a si mesmo – era individualista. Nos moldes estóicos, a razão suplanta e resolve tudo, anulando quase completamente os sentimentos humanos – o homem pode mudar com disciplina pessoal. No mundo contemporâneo, contudo, o individualismo se acirrou com a abordagem psicológica, onde o homem paga por serviços de auto-conhecimento e auto-avaliação. Alguém o escuta, e o homem se torna mais individualista que em qualquer momento da história. James Houston analisa conclusivamente a re-definição do homem: a partir de Deus, criado e talhado para a vida de relacionamentos. Avança demonstrando que só o discipulado cristão pode transformar um indivÃduo em pessoa, onde suas perguntas são respondidas em Deus, através da vida de Cristo. Ninguém conseguirá explicar-se e viver plenamente a menos que viva a vida conforme propõe o discipulado cristão.      // -- //     Durante toda a história do pensamento ocidental, a equiparação da pessoa com o indivÃduo pensante e consciente de si mesmo levou a uma cultura em que o indivÃduo pensante se tornou o conceito mais elevado na Antropologia... Apenas o amor, o amor livre, não cerceado por necessidades naturais, pode fazer surgir uma pessoa. John D. Zizoulas    Em seu ensaio “Sobre a Amizade―, um Montaigne cético declara: “O amigo, não há amigo!― Ele atribui esse pensamento a Aristóteles, embora também se detenha bastante sobre as reflexões de CÃcero a respeito da amizade. Jacques Derrida, o moderno “pai da desconstrução―, faz dessa afirmação o tema de seu recente trabalho intitulado, na tradução para o inglês, Politics of Friendship (PolÃtica da Amizade, 1997). Segundo CÃcero, a amizade só pode existir entre homens bons. Mas, pergunta Derrida, quem é suficientemente bom para os ideais da amizade? A amizade com Deus pode nos ajudar, argumenta Aristóteles, mas o problema é que Ele é muito distante e inacessÃvel. A presença ou a proximidade são o requisito para a amizade. Além disso, Deus não precisa de um amigo. Então, por que deveria o homem ser levado a crer que precisa de um amigo, ou que a amizade é uma. caracterÃstica essencial do ser humano? Para Derrida, tudo não passa de uma fórmula racional humana:  Penso, portanto sou o outro; penso, portanto preciso do outro (para poder pensar); penso, portanto a possibilidade de amizade faz parte do movimento de meu pensamento, na medida em que ele requer, pede e deseja o outro, a necessidade do outro, a causa do outro no coração do cogit.  Ele faz uma paródia de Descartes. Não consegue, no entanto, fugir inteiramente ao seu viés, pois ignora a afirmação cristã de que o amor, e não a razão, é transcendente. Por isso, a importância da declaração de Zizoulas. Só o amor pode produzir um ser que é pessoa. A “desconstrução― é uma estratégia para se “desfazer―. A mente pode ser um espelho, mas será que ela reflete sobre a realidade ou apenas sobre si mesma? O abuso da autoridade e o uso do poder para reivindicar o conhecimento da verdade é algo que assusta os desconstrucionistas. Por isso, questionam e desafiam não apenas os sacerdotes que alegam ter Deus ao seu lado, mas também os filósofos que dizem conhecer a verdade. Levam a Psicanálise um passo adiante, ao questionamento racional tanto da motivação quanto das intenções do terapeuta e mesmo de todos os profissionais. Derrida é um iconoclasta de Ãdolos que, no entanto, não é capaz de perceber a diferença entre o Ãdolo e o Ãcone. O resultado é que o desconstrucionismo, por carecer de uma dimensão pessoal, nos deixa com uma indeterminação sobre verdade e realidade. Mas, ainda assim, tem o mérito de aprofundar e ampliar O papel atribuÃdo à hermenêutica, ou seja a comunicação humana; ela passa a ser mais do que a mera interpretação de textos. A linguagem é uma parte importante da vida do ser humano, repleta de motivações mistas e de necessidades no âmbito social. A comunicação envolve muito mais do que o aspecto racional, embora este seja importante. Para além do racional, todos os grandes pensadores cristãos viram o amor de Deus. Em contraposição, nem mesmo os desconstrucionistas conseguem enxergar, além da razão, qualquer coisa que não seja a anarquia. De fato, sem o amor de Deus, somos incapazes de ir além das categorias dos anti-modelos de mentoria que descrevemos.   A BUSCA DO LADO PESSOAL NO OCIDENTE Kierkegaard já nos ajudou a perceber que, como seres humanos, cada um de nós tem um relacionamento de si mesmo, consigo mesmo e dentro de si mesmo. Tornamo-nos dois, um sujeito e um objeto, necessitados de auto-reconhecimento, auto-afirmação e também auto-conhecimento. Contudo, nessa forma de auto-realização, aprendo a ver a mim mesmo como dependente do outro, de realidades externas que não posso controlar.  A Visão Estética ou Heróica da “Pessoa― Essa visão, representada nos modelos estético e heróico, está presente quando a criança aprende a se expressar e diz “olhem para mim―! Para os gregos, a “pessoa― é a dramatis personae do palco. Um ator põe uma máscara, que permite a passagem do som de sua voz (literalmente per sonare), e desempenha seus vários papéis. Seu lugar na narrativa decorre das escolhas que o colocam num papel dramático diante dos outros. A palavra grega prosopon provavelmente tem sua origem na palavra etrusca persu, que pode estar relacionada com Perséfone, a deusa do mundo dos mortos. Então essa noção de “pessoa― tem, inevitavelmente, uma conotação um tanto obscura! No ordenamento grego do cosmos, caracterizado pela harmonia de elementos universais, não pode haver espaço para elementos particulares, como, por exemplo, um ser humano único e especial. Ao reivindicar a liberdade no âmbito dessa esfera de elementos universais abstratos e necessidade racional, o ser humano gera muitas tragédias, pois tudo terá de permanecer impessoal. Ulisses certamente tem uma “personalidade― tão vigorosa quanto a de qualquer herói grego! Ele luta com os deuses e estes, por vezes, chegam a respeitar sua forte determinação. O mundo de Homero é habitado por “personalidades―. Penélope chora a ausência de seu marido: Como sinto falta de meu marido - sempre vivo em minhas lembranças, Aquele grande homem cuja fama ecoa por toda Hélade, até as profundezas de Argos!  Essa natureza auto-realizadora, individualista, está muito presente nos textos gregos. É retratada com todas as cores tanto por trágicos como EurÃpedes ou Sófocles quanto por filósofos como Platão ou Aristóteles. Que personalidade poderia ser maior do que Sócrates! Mas, em última análise, a individualidade de um ser humano não pode ser encaixada na “dependência do outro―, na universalidade do cosmos, naquela harmonia última do “todo― em um 8 Quando Sócrates ensina “conhece-te a ti mesmo―, ele está simplesmente lembrando seus discÃpulos de que devem situarse e inserir-se com humildade no esquema geral das coisas. É loucura pensar ou fazer algo diferente disso! De lá para cá, nenhum sistema intelectual foi capaz de reconhecer a mim e a você, em toda a nossa singularidade, dentro do esquema geral das coisas “lá fora―? É por isso que toda essa corrente de auto-análise individualista, agora tão intensificado pela “revolução terapêutica―, seria inconcebÃvel no contexto do entendimento grego da personalidade.  A Visão Estóica da “Pessoa― O segundo estágio do “ser pessoa― ocorre quando a auto-expressão se toma mais racional e mais receptiva à s formas externas de vida moral, como ocorre com uma criança “na escola―. Os estóicos, como habitavam um universo racional, criaram uma teoria para o conceito de “ser pessoa―. Argumentavam que somos dotados de razão para sermos morais, e que podemos determinar o que é virtuoso e consistente com o ordenamento moral universal de nossa existência. Essa é a teoria de CÃcero sobre “pessoas―: prevê sanções legais para obrigar os cidadãos do mundo romano a obedecerem as “leis universais da natureza―. Suas idéias baseiam-se no pensamento de Panécio, um estóico que o antecedeu. A “personalidade― individual só é definÃvel e admissÃvel dentro da estrutura universal do direito romano.’0 Portanto, no inÃcio, até mulheres e crianças, além dos escravos, eram definidos como “não-pessoas― ou não-cidadãos. O preceito romano Servus non habet personain (o escravo não é uma pessoa) excluÃa de um só golpe um quinto da população da Roma imperial, considerado incapaz de um relacionamento social com seus patrões. A persona romana era a unidade privilegiada que concentrava as responsabilidades e os deveres, legais e religiosos, para com o estado e os deuses. O mundo ocidental tem, nos últimos tempos, convivido com a incômoda tensão entre essas duas definições de “pessoa Quando o paradigma de “pessoa― são os atores que optam por desconsiderar sua natureza sensorial dentro de uma sociedade cognitiva, convencional e moral, eles são condenados como mundanos, pois a “mundanidade― consiste em ser capaz de representar, com desembaraço e graça, uma diversidade de papéis, alguns deles pelo menos não convencionais. Mas quando o paradigma de “pessoa― tem sua origem na lei canônica, e não mais no teatro, o sentimento de responsabilidade torna-se inerente aos direitos e poderes de uma ação moral racional. A mente se transforma no “ser― melhor e mais claro, como o foi durante o Iluminismo, quando o ser racional autônomo – res cognitans – ou “ser cartesiano― desenvolveu uma separação entre mente e corpo, e o mundo exterior das outras pessoas tornou-se de fato muito distante. Por isso, Descartes define o “pessoal― como uma expressão da auto-consciência, consciência esta que se torna mais aguçada quando “pensamos― mais! Emanuel Kant (1724-1804 d.C.) leva essa idéia um passo adiante e afirma que somos mais pessoais quando somos mais racionais e também mais morais. Isso significa necessariamente uma pessoa voltada para dentro de si mesma, um ser reflexivo cujas relações externas têm importância secundária ou até mesmo periférica.  A Atual Politização da Pessoa Estamos hoje num mundo em que os direitos legais dos fetos (será o feto pessoa ou não-pessoa?), das feministas, dos homossexuais e de muitos outros foram politizados por uma nova definição de pessoa. Filósofos, historiadores, antropólogos e psicólogos, todos neste século, continuam oferecendo suas percepções/confusões em relação ao “significado de pessoa―. Mas, de todas as teorias sobre a identidade humana, a do caráter estóico é a mais persistente, simplesmente porque permite uma associação mais estreita de traços psicológicos e fisiológicos, dentro de uma explicação racional, na linha do trabalho pioneiro de Freud. Oferece uma moldura “natural― de hábitos racionais que dão contorno, forma e continuidade ao ser habituado― que parece reforçar o cognitivo. Dá pouco espaço, contudo, para a contingência das emoções, a não ser a sexual, num mundo mais personalizado de auto-transcendência.  “O PROBLEMA SEM NOME―: O ELEMENTO PESSOAL NUM MUNDO DE ABSTRAÇÕES Se as “pessoas― precisam de “pessoas― para se tornarem “pessoas―, como diz um provérbio Xhosa, então os processos de abstração             no mundo ocidental constituem forças negativas que ameaçam despersonalizar a humanidade. C.S. Lewis nos alertou profeticamente para essa possibilidade meio século atrás, em suas palestras intituladas The Abolition of Man (A Abolição do Homem). Do mesmo modo como o Abstracionismo nazista lidou com a “questão judaica― no holocausto, seria despropositado imaginar que “a questão da pessoa―, ao ser tratada “de forma cientÃfica―, pode estar sendo ameaçada?  Sem Fundamentos para a “Pessoa― Esse processo já vem sendo evidenciado na redefinição polÃtica da famÃlia. Quando o ano de 1994 foi declarado Ano da FamÃlia, o Dr. Jonathan Sacks, principal rabino da Grã-Bretanha, deu a esse ano o tÃtulo alternativo de “o Ano em que a FamÃlia Morreu― e marcou sua abertura com o enterro simbólico de um caixão com a inscrição “Ano Internacional da FamÃlia―. Se o homem secular perder de vista os fundamentos metafÃsicos da “pessoa― e deixar de fazer a distinção entre Deus e tudo mais, se ele escolher viver como se fosse de fato um deus, então ele perderá o entendimento prático da verdadeira realidade de todas as coisas e também de sua própria identidade. Anthony Giddens descreveu com clareza a fragilidade do ser diante dos impactos da modernidade tardia. Testes de personalidade, tais como o Myers Briggs, podem elucidar muita coisa, mas sua má utilização pode gerar alienação. Se sou rotulado simplesmente como um EFSP ou um INTJ dentre as categorias de “personalidade―, estou em situação pior do que se estivesse sendo submetido ao tratamento dado por Homero! A adoção de uma postura clÃnica em relação à minha própria identidade, com o propósito de auto-gerenciamento psicológico, não representa um avanço em relação aos estóicos, sobretudo se eu algum dia puder ter um mentor culto e sábio comparável a CÃcero ou Sêneca. Quando Betty Friedan escreveu The FemÃnine Mys tique (A MÃstica Feminina, 1965), livro campeão de vendas, ela revelou sua própria inquietação em relação ao “problema que não tem nome―.16 Além de desempenhar suas funções de esposa e mãe — conforme definidos pela sociedade — no seu Ãntimo ela desejava saber “quem, e não apenas o quê, quero ser.― Essa pergunta se parece com uma outra levantada por um neurocimrgião amigo meu: “Será que fui enganado pela sociedade―? E eu respondo: “Será que não foi você mesmo que se enganou e agora seus netos estão lhe mostrando isso―? É claro que o profissionalismo e a especialização técnica são formas de abstração que contribuem para a retração do “pessoal―. Até um terapeuta empático como Garl Rogers, em seu livro de ensaios intitulado On BecomÃng a Person (Como Tornar-se uma Pessoa), ao descrever “como me tornei a pessoa que sou―, só pode falar do processo mediante o qual se transformou num “indivÃduo― auto-gerado. O tÃtulo de sua obra está, portanto, equivocado, pois ele fala sobre “transformar-se num indivÃduo―! Na realidade, ele nos diz que rejeitou a fé cristã de seus pais para ornar-se “ele mesmo―. Até sua aceitação de Kierkegaard é equivocada, pois ele não é capaz de perceber a polêmica cristã de Kierkegaard. Rogers, portanto, não tem base para distinguir entre “pessoa― e “indivÃduo― De fato, o “ser terapêutico―, segundo Christopher Lasch, acaba SC transformando num “ser minimalista numa cultura de sobrevivência. Jean-François Lyotard, em seus ensaios sugestivamente intitulados Inhuman (Inumano), explora a desumanidade das instituições próprias da modernidade, bem como as maneiras como a alma é feita refém de si mesma por causa do desejo exagerado de autocontrole. Esses dois tipos de “inhumanidade― — o que a sociedade faz comigo para provocar descontentamento e o que eu faço comigo mesmo - origem do que Kierkegaard chamou de “desespero― — são ambos, no fundo, manifestações de individualismo. É nesse sentido que o sofrimento de uma criança torna-se o arquétipo da condição humana na qualidade de “indivÃduo― Privado da capacidade de fala, incapaz de ficar de pé sozinho, hesitante em relação à escolha dos objetos a serem observados, impossibilitado de alimentar-se sozinho, sem condições de fazer cálculos para tirar proveito próprio, um bebê será muito vulnerável, se não tiver a proteção social e o apoio dos pais. Jesus usa essa imagem para mostrar nossa necessidade de Deus. “A não ser que você se torne como uma criança―, não há como entrar num relacionamento correto com Deus e com “seu reino’120  O INDIVÕDUO E A PESSOA Lyotard chamou de “in-humano― aquele que é o traço marcante do “indivÃduo―, ou seja, o fechar-se em si mesmo. Mas ele nada diz sobre seu oposto, a “pessoa―, cuja postura extática de olhar para fora e encontrar no Outro tanto sua identidade como seu bem-estar assemelha-se à de uma criança que olha para o rosto da mãe e vê o milagre do reconhecimento mútuo. A transformação que então ocorre é marcada pela alegria. O fundamento da pessoalidade reside, portanto, naquilo que Ricoeur chama de atestação, isto é, a credibilidade e a confiança que o outro nos dá. É por isso que nunca devemos nos esquecer das crianças, pois suas necessidades apontam para aquilo que é essencial na distinção entre a “in-humanidade― e a “pessoa― genuinamente humana.  O quadro a seguir poderá nos ajudar a fazer esta distinção entre o “indivÃduo―, contido na inhumanidade, e a “pessoa― tida como realidade social da verdadeira humanidade 23  O INDIVÕDUO A PESSOA Entendimento antropológico secular Revelação teológica (imago dei) Seres humanos criados à sua própria imagem Seres humanos criados à imagem de Deus Identidade baseada em ações humanas “Tomado justo― graças à justificação por Deus Liberdade definida no âmbito do ser autônomo Liberdade definida como autotranscendência, isto é, fundamentada “em Cristo― Pecado é auto-enclausuramento, iniquidade e Discipulado é “abertura para Deus―, com desobediencia base no seu chamado   O Reducionismo da Ciência A Encyclopaedia of the Social Sciences (Enciclopédia das Ciências Sociais), britânica, um marco da Antropologia cientÃfica, traz vários artigos sobre “o indivÃduo―, mas nenhum sobre “pessoa―. Quando os filósofos definem “pessoa― como uma questão ética, estão fazendo a distinção entre um ser humano e um feto ou outro conceito material. A questão da pessoa humana permanece em aberto, como um tema problemático, cientificamente inacessÃvel e indefinÃvel. O humano só pode ser um ponto de interrogação. É somente a partir da analogia teológica feita entre pessoas, humanas e divinas, que a Antropologia teológica faz algum sentido, ao nos definir como pessoas-em-relação-a-Deus. A Ciência e a Filosofia dispõem apenas de seus próprios critérios e só podem definir a humanidade dentro de seus entendimentos restritos, inevitavelmente reducionistas e alientantes. Não tem como explorar o mistério da humanidade.  O locus classicus da Antropologia teológica encontra-se em Gênesis 1.26: “E Deus disse, façamos o homem à nossa imagem e semelhança―. Essas palavras nos mostram, em primeiro lugar, que Deus é o tipo de Deus que se identifica irrevogavelmente com a humanidade, numa aliança de amor. Sem Deus, a humanidade é um mistério. Por outro lado, sem a humanidade, Deus não pode ser conhecido. Essa verdade deixa maravilhado o autor do Salmo 8, que fica a imaginar por que, dentre todas as suas criaturas, Deus escolheu justamente os seres humanos para um relacionamento de parceria numa aliança. Em segundo lugar, o termo “imagem― implica relacionalidade, como na expressão “macho e fêmea os criou―, em co-igualdade e complementariedade. A humanidade também recebeu um mandato de mordomia sobre a Criação, para melhor definir sua posição dada por Deus, sua responsabilidade e seu relacionamento com a Criação. Esse relacionamento vertical diante de Deus, como representante de Deus na Terra, continua mesmo após a queda, embora agora a gravidade do pecado seja intensificada pelo fato de que o homem traz a imagem de Deus, numa “dessemelhança― pecaminosa. A encarnação, que recapitula em Cristo o homem-intencionado-por-Deus, permite que “a imagem e semelhança de Deus― seja revelada em sua expressão final, eterna. Ser uma verdadeira pessoa agora significa estar “conforme o Ãcone e a semelhança de Cristo―, “que é o Ãcone do Deus invisÃvel’l  O Faber Homo, ou a Justificação por Deus? O “indivÃduo― hoje, autônomo como um tecnocrata moderno, torna-se a medida de todas as coisas, sem qualquer referência à responsabilidade de mordomia que lhe foi atribuÃda por Deus. O indivÃduo, na condição de faber homo, o artÃfice humano, decide, sem qualquer referência ao Criador, o que acontecerá com o mundo. O homem ou a mulher presume que seu próprio ser é constituÃdo de suas próprias ações. Eberhard Jungel afirma que durante a Reforma essa postura foi claramente contestada por Lutero, que disse: “O trabalho que faço não me transforma na pessoa que sou; pelo contrário, é a pessoa que sou que determina o trabalho que faço―. Ele rejeita a Nicomachean Ethics (Ética Nicomaqueana) de Aristóteles, que diz: “nós nos tornamos justos em virtude dos atos justos que praticamos―. Não, tudo que sou como pessoa “tornada justa― e “justificada gratuitamente pela sua graça― resulta da ação de Deus. A pessoa cristã é, acima de tudo, alguém que recebe, mas não “alcança― o mérito. De fato, como Fénelon nos lembra, eu me recebo a mim mesmo graças à bondade de Deus. A liberdade é o desejo fundamental daquilo que a modernidade considera ser humano. Mas se a liberdade é para o indivÃduo, o que dizer da trÃade “liberdade, igualdade e fraternidade―?É evidente que quanto mais houver para mim, menos sobrará para você! Na vigência da “livre iniciativa―, os outros se tornam ainda mais pobres! Desse modo, o que é liberdade para mim pode significar opressão para você! Além disso, cabe perguntar: quero ser efetivamente liberto de quê? Qual meu propósito para ser ainda mais indivÃduo? Se o objetivo da liberdade é o de alcançar maior autodeterminação, será que não vou um dia parar para pensar em quando e como poderei precisar de libertação de meu próprio instinto autodestrutivo e de minhas inclinações? A liberdade, assim autoconstituÃda, começa a se parecer mais com uma perda e uma escravidão do próprio ser. Há um grande número de ambigüidades e autocontradições embutidos no conceito de “liberdade para o indivÃduo―. O Evangelho cristão nos chama ao arrependimento, ao reconhecimento da pecaminosidade e da autodestrutividade da liberdade autoconstituÃda. A liberdade pessoal reside na “vida justificada―, onde Deus age a nosso favor, na humanidade de Cristo, de tal maneira que “se o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres―. Christoph Schoebel o resumiu sucintamente: A verdadeira medida da liberdade é o amor como relacionamento que faz do florescimento do outro uma condição para a auto-realização. A liberdade humana torna-se o Ãcone da liberdade divina, onde a liberdade da graça divina constitui a graça da liberdade humana.  É a liberdade da escravidão do pecado, libertação da autofundamentação, a libertação dos filhos de Deus  O DISCIPULADO CRISTÃO É REQUISITO PARA QUE SEJAMOS PESSOAS O chamado para o discipulado, como deixam claro os Evangelhos, é uma iniciativa de Cristo e não nossa. Mas exige de nós uma atitude intransigente de “deixar tudo para trás e segui-Lo―. Esse é um passo fundamental no processo de nos tornarmos pessoalmente “como Cristo―. Transforma a autonomia, para que estejamos “abertos― para o outro. Implica em renúncia a si mesmo. Lealdade a Cristo significa “auto-abandono―, conforme enfatizaram escritores franceses cristãos do século dezessete, como Fénelon. A conformidade com Cristo leva, portanto, à reconstrução de toda a nossa maneira de “ser― e “fazer―. Então, segundo a definição tão sagaz de Alistair McFadyen, o discipulado cristão é, tanto intrÃnseca quanto extrinsecamente, “abertura― para Deus, a aceitação de uma perspectiva de vida completamente nova; verdadeiramente uma nova criação. Significa também uma renovada transparência de vida, que alimenta a pessoa e a faz crescer em relacionamentos.  Deus é Nossa Meta Como esse processo de “nos tornarmos pessoas― permanece sempre incompleto, o que temos é uma orientação escatológica voltada para o futuro. Deus se torna nossa meta ou telos: deixamos de ser nossa própria meta. Mas a transformação continua incompleta. Nossa verdadeira humanidade ainda está a caminho. Mas, deste momento em diante, a “pessoa― se vê orientada para um destino futuro. “Não como se já o tivesse alcançado―, confessa o apóstolo, “mas o almejo―. O eschaton de Deus inclui uma “novidade― que ainda está por ser descortinada e revelada. E uma “novidade― por duas razões: (1) não podemos dar ou alcançá-la por nós mesmos - só Deus pode; e (2) é um “novo― que transforma o velho em “velho―, deixando-o para morrer. “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já ... Arquivo da conta: ACauende Outros arquivos desta pasta: NEEMIAS - PAIXÃO PELA FIDELIDADE - J. I. PACKER.pdf (12191 KB) Josue A Oliveira - A Excelencia do Ministerio.pdf (4954 KB) Ministério Apostólico - Dan Duke(1).pdf (472 KB) movimentos-paraeclesiasticos.epub (1414 KB) UM MINISTÉRIO IDEAL VOL. 2 (CHARLES HADDON SPURGEON).pdf (3272 KB) Outros arquivos desta conta: 001. BÕBLIAS ELETRONICAS Adolescentes e Jovens Ana Mendez Ferrell Billy Graham Biografias Relatar se os regulamentos foram violados Página inicial Contacta-nos Ajuda Opções Termos e condições PolÃtica de privacidade Reportar abuso Copyright © 2012 Minhateca.com.br