Ciências Capítulo Sergei Karpukhin/Reuters/Latinstock 3 A estrutura da Terra Mina de diamantes desativada localizada na cidade de Mirna, na Rússia. Fotografia de 2001. Mina: nesse caso, escavação ou perfuração feita para extrair pedras preciosas, metais ou outro recurso natural. A foto acima mostra a parte exterior de uma mina de diamantes desativada em Mirna, na Sibéria (Rússia). A perfuração tem 1,25 quilômetro (km) de diâmetro e pouco mais de 500 metros de profundidade. Além de extrair diamantes e outros recursos naturais, perfurações na superfície da Terra possibilitam, por exemplo, investigar o tipo de solo de uma região para verificar se é possível construir casas sobre ele. Elas também proporcionam informações sobre o planeta Terra, sua constituição, a maneira como varia a temperatura em seu interior, etc. Porém, há limite para as escavações. As altas temperaturas encontradas nas regiões internas do planeta impedem perfurações muito profundas. Para saber o que acontece no interior da Terra e conhecer sua estrutura, os cientistas precisam utilizar outras técnicas. Os profissionais que estudam a estrutura e a evolução da Terra, bem como as rochas e os minerais, são denominados geólogos. Esses profissionais investigam a formação de montanhas, o surgimento de terremotos e vulcões, e vários outros fenômenos geológicos relacionados à estrutura da Terra, alguns dos quais você verá neste capítulo. 46 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 46 6/25/12 7:17 PM Planeta em mudança Ashley Cooper/Alamy/Other Images O velho homem de Hoy: coluna de pedra em uma ilha da Escócia. A coluna, que atinge 137 m, é resultado da erosão das rochas ao redor. Palê Zuppani/Pulsar Imagens Nataiki/Dreamstime.com/ID/BR A superfície do planeta Terra não foi sempre do jeito que é hoje. Modificações ocorreram e continuam acontecendo, transformando a superfície do planeta. Muitas dessas modificações devem-se ao ser humano, como a construção de casas, cidades, usinas, estradas e linhas de transmissão de energia elétrica e a devastação de florestas. Porém, outras modificações ocorrem sem a interferência humana. Muito antes de o ser humano existir, a Terra já passava por grandes transformações. Para se ter uma ideia, até a posição dos continentes mudou e, como veremos adiante neste capítulo, continua mudando. Atualmente, as transformações ainda ocorrem tanto no interior como na superfície do planeta. Algumas dessas transformações são muito lentas e, por isso, é difícil percebê-las. Os ventos, a chuva, as ondas do mar e as alterações climáticas, entre outros fatores, transportam fragmentos de rochas e partículas do solo de uma região para outra. Esse processo, conhecido como erosão, transforma a superfície da Terra. Em longo prazo, a erosão muda o curso dos rios, destrói morros e montanhas e até mesmo transforma áreas cobertas por vegetação em desertos. Embora seja um processo natural, a erosão é intensificada por atividades humanas, como o desmatamento. Esse assunto será retomado no capítulo seguinte. Outras transformações ocorrem rapidamente. É o caso dos vulcões, que expelem lava e cinzas e alteram instantaneamente a paisagem local, ou dos terremotos, que podem destruir cidades inteiras e provocar inundações de grandes proporções. Erupção do vulcão Tungurahua. Província de Ambato, Equador, 2010. quente e pastoso expelido por vulcões ou por fraturas da superfície terrestre. Antes de atingir a superfície, isto é, quando ainda está no interior do planeta, a lava é chamada de magma. A erosão formou a Pedra Furada, beleza natural do Parque Nacional da Serra da Capivara. Piauí, 2010. Rodrigo Buendia/AFP/Getty Images Esta rocha sofreu erosão pelos ventos, que a esculpiram. Em razão de seu formato é chamada de Árvore de Pedra. Bolívia, 2008. Lava: material muito Dê um exemplo de transformação da superfície terrestre que ocorre rapidamente e um exemplo de transformação lenta. 47 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 47 6/25/12 7:17 PM Estrutura interna da Terra Concêntrica: que tem o mesmo centro. Ficcionista: aquele que escreve obras de ficção, isto é, histórias que não são reais. Na estante Viagem ao centro da Terra, de Júlio Verne Livro escrito em 1864 pelo famoso ficcionista francês Júlio Verne, autor de clássicos como 20 000 léguas submarinas e Volta ao mundo em 80 dias. Conta a história de um grupo de pessoas que teria descido ao interior da Terra pela cratera de um vulcão e encontrado animais pré-históricos no caminho. Na época em que o livro foi escrito, não se conhecia a estrutura da Terra e, por isso, havia muitas teorias sobre animais e pessoas vivendo em seu interior. Apesar de não ser uma obra científica e não trazer ideias aceitas pela ciência sobre o interior da Terra, esse livro foi precursor de todo um gênero literário que mantém relação com a ciência, a ficção científica, e ilustra a curiosidade humana sobre o interior do planeta. crosta Luis Moura/ID/BR Veja também o objeto educacional digital “A estrutura da Terra”. Você sabe como é nosso planeta por dentro? Olhando a superfície da Terra, vemos um planeta sólido e rochoso. Até mesmo o leito dos oceanos é rochoso. O centro da Terra está a cerca de 6 400 km abaixo da superfície. É impossível ir até lá. As maiores perfurações feitas por seres humanos atingiram apenas poucos quilômetros, pois a temperatura e a pressão aumentam com a profundidade. Ainda assim, os geólogos descobriram informações sobre a estrutura da Terra baseando-se em dados como: amostras de rochas que vieram à superfície expelidas por vulcões; análise dos terremotos; análises em laboratório simulando as condições do centro da Terra, etc. Com essas observações indiretas e experiências, os geólogos descobriram que a Terra tem uma estrutura interna em forma de camadas concêntricas, que apresentam características próprias. As três principais camadas da estrutura da Terra são: a crosta, o manto e o núcleo. manto superior manto inferior núcleo externo núcleo interno cores-fantasia Representação sem proporção de tamanho. Camadas internas da Terra: crosta, manto superior, manto, núcleo exterior e núcleo interior. A crosta, a camada mais exterior da Terra, onde nós vivemos, é sólida e rochosa. Ela é, também, a camada mais fina do planeta, com apenas algumas dezenas de quilômetros de profundidade. As regiões mais finas da crosta são aquelas sob os oceanos. O manto se estende até quase 3 mil km de profundidade. A parte mais externa, perto da crosta, chamada manto superior, é relativamente rígida, enquanto a parte mais interna – chamada manto inferior – é viscosa. O núcleo se divide em uma parte exterior, constituída de metais em estado líquido, e uma parte interior, muito densa, de metal sólido. Quanto maior a profundidade no interior da Terra, maior a temperatura. Talvez você esteja se perguntando como o núcleo interior do planeta pode ser sólido a temperaturas tão altas, que derretem metais. Porém, a pressão também aumenta com a profundidade, pois, quanto mais fundo se vai, maior é o peso das camadas acima. A pressão no centro da Terra é enorme e isso faz com que os metais permaneçam sólidos, mesmo a altas temperaturas. 48 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 48 6/25/12 7:17 PM Crosta ID/CL A casca sólida, fina e rochosa que envolve nosso planeta recebe o nome de crosta. Ela se formou pelo material derretido do manto, que esfriou e endureceu. Estudos mostram que a crosta é a única camada que abriga vida. Tudo o que vemos ao nosso redor pertence à crosta: montanhas, vales, rios, mares, etc. Mesmo as minas mais profundas não vão além da crosta terrestre. A crosta não é uniforme e pode ser dividida em crosta continental, na qual estão os continentes da Terra, e crosta oceânica, que forma o fundo dos oceanos. Elas variam em espessura, composição e densidade. A crosta continental é constituída, em grande parte, por rochas, e sua espessura varia entre 30 km e 60 km, aproximadamente. A idade das rochas que compõem a crosta continental varia, e as mais antigas têm quase 4 bilhões de anos. Já a crosta oceânica é formada principalmente por rochas mais finas, com espessuras entre 5 km e 10 km. Em geral, as rochas componentes da crosta oceânica são muito mais jovens do que as da crosta continental. crosta continental crosta oceânica cores-fantasia Representação sem proporção de tamanho. Representação das crostas ocêanica e continental em vista lateral. O conjunto da crosta e da parte mais externa do manto constitui a litosfera, que está dividida em placas, denominadas litosféricas, que se movem sobre a porção interna do manto, levando junto os continentes. Para saber mais As grandes perfurações Uma das mais profundas perfurações já feitas pelo ser humano fica na Rússia, na península de Kola. A iniciativa partiu de um projeto científico que visava estudar melhor o interior da crosta terrestre. Após anos de planejamento e construção de máquinas especiais para a missão, a perfuração teve início, em 1970. Os cientistas conseguiram perfurar a uma profundidade de mais de 12 quilômetros e descobriram que a temperatura encontrada a essa profundidade era bem maior do que os estudos indicavam. Por causa dessa temperatura e das altas pressões, as rochas no fundo do buraco têm uma consistência pastosa, de modo que o buraco se fechava novamente após a retirada de material do solo. Assim, o projeto chegou ao fim em 1994. 49 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 49 6/25/12 7:17 PM Ulisses Job/Futura Press Mineração Técnico mede o nível de ruído em uma mina de carvão. Os mineiros usam protetores auriculares para evitar danos causados por ruídos intensos à audição. Jazida: depósito natural de rochas que contêm metais ou pedras preciosas, por exemplo. A crosta contém vários recursos naturais que são explorados pelo ser humano, como os metais ferro, ouro, prata, cobre, chumbo e zinco. Em geral, esses materiais são retirados da crosta terrestre nas minas, como a mostrada na abertura deste capítulo. Algumas das minas mais profundas estão na África do Sul e chegam a quase 4 km de profundidade. A temperatura nessa profundidade chega a 45 °C, por isso um sistema de ventilação e refrigeração é essencial. Embora a mineração seja necessária para obtermos diversos materiais, ela pode causar vários danos ao ambiente, como poluição do solo e da água, desmatamento e erosão. Por isso, antes de minerar uma área, é preciso fazer estudos que avaliem o impacto dessa atividade. Reutilizar e reciclar objetos de alumínio e ferro, por exemplo, é um modo de usar mais de uma vez o metal já extraído, além de evitar a exploração desnecessária das jazidas. Luis Moura/ID/BR Manto O manto é uma camada de quase 3 mil quilômetros, e corresponde a cerca de 84% do volume do planeta. É formado por rochas ricas em ferro e magnésio, e suas características permitem dividi-lo em manto superior e manto inferior. manto manto O manto superior, que vai da inferior superior parte final da crosta até cerca de 400 quilômetros de profundidade, é constituído de material rochoso rígido. A cores-fantasia camada mais externa do manto superior faz parte da litosfera terrestre, Representação sem proporção de tamanho. junto com a crosta. O esquema mostra as O manto inferior está sujeito a temperaturas maiores e, por causubcamadas do manto terrestre. sa disso, o material que o constitui se apresenta em um estado viscoso, como se fosse um líquido pastoso, muito espesso. Quanto maior Para saber mais a profundidade, porém, mais sólido se torna o material viscoso do Explorações manto, porque a pressão se eleva em grandes profundidades. Para explorar o manto, A viscosidade do manto inferior permite que esse material se os cientistas perfuram mova, levando consigo a litosfera acima dele. Por isso, as placas litosáreas da crosta oceânica. féricas estão em constante movimento. Em 2007, o navio de A temperatura do manto vai de 600 ºC, na região do manto supesquisa britânico RRS perior próximo à crosta, até mais de 4 000 ºC, na região do manto James Cook visitou um inferior próxima ao núcleo. Ao nível do mar, as rochas que formam local onde um buraco na crosta terrestre deixa o manto derretem a cerca de 1 200 °C. Porém, na profundidade em o manto exposto. Esse que se encontra a porção mais interna do manto inferior, a pressão é local fica entre o mar do muito maior do que ao nível do mar, o que faz que nessa região esse Caribe e o Cabo Verde. material permaneça no estado sólido mesmo a altas temperaturas. 50 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 50 6/25/12 7:17 PM Roberto Melo/ID/BR O núcleo, parte central da Terra, é constituído basicamente por ferro, enxofre e níquel. Assim como o manto, o núcleo pode ser dividido em núcleo interno e externo. O núcleo externo começa onde termina o manto e vai até pouco mais de 5 mil quilômetros, onde cocoresmeça o núcleo interno. Sua tempe-fantasia ratura vai de 4 000 °C, na fronteira Representação sem proporção de tamanho. com o manto, até 5 000 °C, próximo ao núcleo interno. Por causa dessas altas temperaturas, semelhantes às da superfície do Sol, os cientistas sabem que os metais que compõem o núcleo externo permanecem em estado mais líquido que os materiais do manto. Os estudos também mostram que o núcleo externo está relacionado ao campo magnético da Terra, responsável por orientar as agulhas das bússolas, por exemplo. O núcleo interno é uma esfera sólida de níquel e ferro, com cerca de 1 200 km de raio, a uma temperatura aproximada de 5 500 °C. Apesar de ser composto pelos mesmos elementos que o núcleo externo, o núcleo interno se apresenta em estado sólido por causa da imensa pressão a que está submetido. Uma teoria científica bem aceita afirma que, em algum momento da formação do planeta, os materiais mais densos, como o ferro, afundaram em direção ao centro. Essa teoria explica a constituição do núcleo da Terra. ferro Luis Moura/ID/BR Núcleo núcleo externo núcleo interno A composição de todo o núcleo é a mesma, porém, o núcleo externo é líquido, enquanto o núcleo interno é uma esfera sólida. Para saber mais A estrutura da Lua Estudos sobre a estrutura da Lua mostram que ela também tem três camadas: uma crosta, com aproximadamente 65 km de espessura, um manto denso e um pequeno núcleo de ferro. material menos denso 1.Em qual camada cores-fantasia Representação sem proporção de tamanho. Fonte de pesquisa: Frank Press et al. Para entender a Terra. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. p. 32. Durante a formação da Terra, o ferro afundou em direção ao centro e os materiais menos densos ficaram nas camadas mais altas. da Terra a temperatura é maior? 2.Por que os cientistas, ao estudar o manto, procuram fazer perfurações na crosta oceânica em vez de fazê-lo na crosta continental? 51 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 51 6/25/12 7:17 PM Os continentes em movimento Após vários estudos durante o século XX, os cientistas concluíram que a litosfera, a camada rochosa formada pela crosta terrestre e por parte do manto superior, é dividida em várias placas litosféricas. Há algumas placas principais, grandes, além de várias placas menores. As placas litosféricas podem incluir porções de continentes, oceanos ou ambos. Por exemplo, a placa Sul-americana, onde está o Brasil, abrange não só o continente da América do Sul, mas também boa parte do oceano Atlântico. 120°L 180° 120°O Círculo Polar Ártico 60°O 0° ID/BR principais placas litosféricas da terra 60°L Placa Norte-americana Placa Eurasiática Placa Eurasiática Placa Juan de Fuca Placa Caribenha Trópico de Câncer Placa das Filipinas Placa Arábica Placa de Cocos Equador Placa Indiana 0° Placa Australiana Placa do Pacífico Placa de Nazca Placa Antártica Círculo Polar Antártico Sentido do movimento das placas Placa Africana Placa Sul-americana Placa Scotia Meridiano de Greenwich Trópico de Capricórnio Placa Australiana cores-fantasia 0 2715 5430 km 1 cm – 2715 km Mapa ilustrativo das principais placas litosféricas da Terra. As setas indicam o sentido do movimento das placas. Fonte de pesquisa: <http://pubs.usgs.gov/gip/dynamic/slabs.html>. Acesso em: 12 abr. 2012. Algumas das placas principais são: Antártica, Africana, Norte-americana, Sul-americana, Indo-australiana, Eurasiática e do Pacífico. Além delas, podem-se citar algumas placas menores, como a placa Arábica, a placa do Caribe e a placa de Nazca, esta última vizinha à placa Sul-americana. As placas litosféricas não são estáticas. A litosfera é mais rígida e menos densa do que o manto inferior, sobre o qual as placas se apoiam. As placas estão em constante movimento umas em relação às outras, aproximando-se ou se afastando, com velocidades entre 10 mm/ano e 160 mm/ano. Os trabalhos científicos apontam que a fonte de energia para o movimento dos continentes é o calor do manto abaixo da litosfera. Parte desse calor é transformado em energia que movimenta as placas. Durante seu movimento, as placas litosféricas podem chocar-se, causando vários fenômenos, como terremotos. Por isso, as regiões nas fronteiras das placas são propícias a tremores de terra, surgimento de montanhas e de vulcões, como veremos adiante. 52 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 52 6/25/12 7:17 PM Luis Moura/ID/BR A teoria do movimento das placas litosféricas nem sempre foi bem aceita. Outras teorias anteriores propunham que os continentes poderiam se mover, mas o leito oceânico, não. Outra teoria propunha um modelo segundo o qual o planeta estaria “inchando”, aumentando de tamanho, e, com isso, os continentes estariam todos se afastando uns dos outros. Atualmente, o movimento das placas litosféricas é monitorado via satélite, usando o Sistema de Posicionamento Global (GPS). Por meio dessa tecnologia, os geólogos conseguem medir deslocaVale Alfagia, originado pelo aparecimento de uma fenda decormentos de placas litosféricas da ordem de alguns rente do movimento de afastamento das placas eurasiática e milímetros ao ano. norte-americana. Islândia, 2010. Região em que as placas se aproximam. Região em que as placas se afastam. Oxford Scientific/Getty Images Tipos de movimentos litosféricos Região em que as placas deslizam em direções opostas. cores-fantasia Representação sem proporção de tamanho. Representação dos movimentos das placas litosféricas. Esse esquema serve apenas para explicar como são os movimentos das plantas. Ele não representa nenhuma região específica do planeta. Se as placas litosféricas se movem, será que, no passado, os continentes estiveram em posições diferentes? Tudo indica que sim. Mais do que isso, evidências indicam que há 250 milhões de anos os continentes estavam todos juntos, formando um supercontinente denominado Pangeia (do grego pan = todo e geo = terra). Esse supercontinente teria, então, sofrido inúmeras rachaduras, rompimentos e encontros, e as placas assim formadas teriam se movimentado até as posições atuais. Faça a atividade complementar da página 234. A ilustração mostra o formato do supercontinente Pangeia, que, há centenas de milhões de anos, unia todos os continentes hoje conhecidos. As linhas indicam o contorno aproximado dos continentes atuais e da Índia. Paula Radi/ID/BR O supercontinente: Pangeia Europa e Ásia América do Norte América do Sul África Índia Antártida Austrália cores-fantasia 53 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 53 6/25/12 7:17 PM Evidências do movimento das placas no passado de seres vivos que viveram há mais de 11 mil anos. Esse assunto será detalhado no capítulo seguinte. Quais as possíveis consequências do movimento das placas tectônicas para os seres vivos? Vários são os indícios de que os continentes estiveram juntos no passado. Por meio deles é possível obter pistas a respeito da posição original dos nossos atuais continentes. Os primeiros indícios que chamaram a atenção de vários pesquisadores ao longo dos séculos, levando-os a propor que os continentes estiveram unidos no passado, foram os contornos da costa leste da América do Sul e da costa oeste da África. Observando-os em um mapa-múndi, tem-se a impressão de que eles se “encaixam” como se fossem peças de um quebra-cabeça que foram separadas. Mais um forte indício é a similaridade entre plantas, animais e fósseis encontrados em locais hoje muito distantes. Como a idade estimada desses fósseis indica que eles são mais antigos do que o ser humano, não há possibilidade de que tenham sido levados de um local a outro por pessoas. Esse indício reforça a hipótese de que, no passado, os fósseis estavam no mesmo lugar. Por exemplo, fósseis de um antigo animal aquático chamado de mesossauro foram encontrados na costa do Brasil e na região ocidental da África do Sul. The University of Chicago/ Press Publicity Department Fóssil: resto ou vestígio Desenho do esqueleto de um mesossauro, com cerca de 1 m de comprimento. Jaime Chirinos/SPL/Latinstock Artur Keunecke/Pulsar Imagens Johan63/Dreamstime.com/ID/BR Aves como o avestruz e a ema, que atualmente habitam respectivamente a África e o Brasil, apresentam características similares às encontradas nos fósseis de aves-elefantes, encontrados na ilha de Madagascar, na África. 1 As fotos do avestruz, 2,5 m, na aparência das três aves. 2 1 e da ema, 1,8 m, 3 2 comparadas à representação da ave-elefante, 3 m, (extinta), 3 mostram a similaridade 54 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 54 6/25/12 7:17 PM Atividades 1. Dê exemplos de modificações na superfície da Terra, Camada Espessura média (km) 2. Observe a tabela ao lado, com dados sobre a estrutura Manto superior 720 interna da Terra. Em seguida, responda às questões. a) Reescreva a tabela colocando as camadas em ordem crescente de profundidade. b) Com base nos dados da tabela, estime o diâmetro da Terra. Dica: faça um desenho do planeta e suas camadas, indicando a espessura de cada uma. Núcleo externo 2 259 Manto inferior 2 171 Crosta 30 Núcleo interno 1 221 tanto naturais como provocadas pelo ser humano. Fonte de pesquisa: <http://pubs.usgs.gov/gip/ interior/>. Acesso em: 23 abr. 2012. 3. Leia o texto abaixo. De Pangeia aos continentes atuais ID/BR A Terra se formou há aproximadamente 4,6 bilhões de anos; chamamos esse amplo intervalo de tempo de tempo geológico e o dividimos em quatro eras: Pré-cambriana, Paleozoica, Mesozoica e Cenozoica. As alterações do supercontinente Pangeia até a configuração atual dos continentes ocorreram ao longo de bilhões de anos, durante as três últimas eras. Pangeia Laurásia Permiano 225 milhões de anos Jurássico 135 milhões de anos Gondwana Triássico 200 milhões de anos Quartenário hoje Cretáceo 65 milhões de anos Linha do tempo geológico mostrando as alterações ocorridas desde o supercontinente Pangeia até os continentes atuais. Fonte de pesquisa: Atlas geográfico escolar. 4. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. a) Qual a causa do movimento dos continentes? b) Cite um indício de que, no passado, os continentes estavam em outras posições. Movimento das placas litosféricas 0° 30°L 60°L 90°L 120°L 150°L 180° 150°O 120°O 90° O 60°O OCEANO GLACIAL ÁRTICO Círculo Polar Ártico 50°O ID/BR várias setas que ilustram a direção do movimento da placa litosférica naquela região. Para qual direção a região do Brasil tende a se mover? 90°N ID/BR 4. O mapa ao lado contém 60°N 30°N Trópico de Câncer 0° Equador 0° BRASIL Mapa ilustrativo representando o movimento das placas litosféricas. Fonte de pesquisa: <http://sideshow. jpl.nasa.gov/mbh/series.html>. Acesso em: 22 abr. 2012. Meridiano de Greenwich Trópico de Capricórnio OCEANO ÍNDICO 30°S OCEANO PACÍFICO 60°S Círculo Polar Antártico OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO 0 4185 8370 km 1 cm – 4185 km 55 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 55 6/25/12 7:17 PM Ciência por escrito … E a América do Sul se fez A estrutura geológica da América do Sul é um imenso caleidoscópio de blocos de rochas que se quebraram, se colaram e se movimentaram de modo impressionante. Em Pirapora do Bom Jesus, município a 60 quilômetros de São Paulo, o geólogo Colombo Tassinari, professor do Instituto de Geo-ciências (IGc) da Universidade de São Paulo (USP), exibe evidências dessas transformações, que dezenas de geólogos estudam em profundidade há pelo menos 50 anos e seu colega da USP Benjamim Bley Brito Neves sintetizou em um artigo recém-publicado [...]. “Tudo isso aqui já foi o fundo do mar, há mais de 600 milhões de anos”, diz Tassinari, ao chegar ao alto de uma colina em um dos bairros do município de Pirapora do Bom Jesus. [...]. Rogério Reus/Pulsar Imagens Ao subir o morro ele já tinha mostrado um depósito natural de calcário e indicado a direção de uma antiga mina de magnetita – outros resquícios do fundo de um mar que se fechou como resultado do embate entre placas [...] [litosféricas] que vinham em direções opostas. A força das placas era intensa a ponto de fazer com que fragmentos de crosta oceânica que estavam a estimados 4 mil metros de profundidade fossem lançados para dentro do continente e se apresentem hoje a cerca de 600 metros de altitude (possivelmente já formaram morros ainda mais altos). O cânion Itaimbezinho, que pertence ao Parque Nacional dos Aparados da Serra – Cambará do Sul (RS), 2011 –, é uma cicatriz geológica de 130 milhões de anos. 56 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 56 6/25/12 7:17 PM Pesquisadores da USP, Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e de outros centros de pesquisa geológica do Brasil normalmente examinam a origem e a composição de partes desse imenso quebra-cabeça [...]. Ao mesmo tempo, especialistas de outros países – Argentina, Estados Unidos, Espanha, Alemanha, Inglaterra, Dinamarca e Austrália – trabalham para entender a formação de seus próprios continentes. Com frequência eles se encontram para se ajudar ou ver como os continentes se encaixavam, já que blocos de rochas hoje na América do Sul estiveram ao lado dos que hoje estão na América do Norte ou na China. [...] Na América do Sul, como em todo o globo, há uma destruição e uma reconstrução contínuas. Outro exemplo a céu aberto dos embates [...] [litosféricos] é o Parque Nacional de Itatiaia. Sua estrutura geológica básica resulta dos derrames de lava liberados por um vulcão [...]. Tassinari acredita que a antiga bacia oceânica de Pirapora do Bom Jesus, que ele começou a estudar há 30 anos, deve ser valorizada. [...] Segundo ele, esse é o único trecho do estado de São Paulo com uma crosta oceânica relativamente bem conservada. Outra indicação de braços de oceanos extintos são os sedimentos de mar profundo como os encontrados em Araxá, Minas, e em Afrânio e Dormentes, Pernambuco. “A vida de um oceano é muito curta, raramente vai muito além de 200 milhões de anos. A crosta oceânica, por ser mais fina que a continental, é constantemente reciclada”, diz Cordani. [...] Há 2,5 bilhões de anos houve uma reviravolta na história da Terra, com picos de perda de calor, que permitiram a formação da crosta, a camada mais superficial do planeta, antes tomado por uma sopa quente de magma. [...] A maior parte da América do Sul tornou-se relativamente estável por volta de 60 milhões de anos atrás. Os fragmentos [...] formaram uma área relativamente estável da Venezuela à Argentina, a plataforma Sul-Americana, vasto conjunto de blocos de rochas completados com bacias sedimentares com a da bacia do Paraná, com cerca de cinco quilômetros de sedimentos. “Sobre esse pacote de rochas sedimentares e vulcânicas formaram-se depressões onde correm o rio Paraná e seus afluentes”, explica Bley. A oeste, porém, existe uma área ainda geologicamente instável, a cordilheira dos Andes, resultado da convergência entre a placa de Nazca e a placa continental sul-americana. Os Andes ainda crescem, incorporando as rochas de Nazca, que afundam no manto da Terra, derretem e depois voltam para a superfície. “A placa de Nazca se movimenta um centímetro por ano”, observa Tassinari. Os oceanos também estão em transformação. “O Atlântico está se expandindo e o Pacífico se fechando”, informa Bley. O resultado? “Daqui a 200 milhões de anos, os continentes vão se unir de novo.” Embora distante, o continente que deve resultar dessa fusão já ganhou vários nomes. Um deles é Amásia, já que deve unir outra vez a América e a Ásia. Fioravanti, C. ... E a América do Sul se fez. Revista Pesquisa Fapesp, n. 188, outubro 2011. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp. br/?art=4523&bd=1&pg=1&lg=>. Acesso em: 24 jan. 2012. 1. Em sua opinião, esse processo dinâmico de formação e transformação da superfície da Terra terá fim? 2. A movimentação das placas litosféricas pode levar a choques entre elas, e as fissuras ao longo de uma placa podem possibilitar a saída do magma. Quais consequências você acha que esses fenômenos podem causar? 57 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 57 6/25/12 7:17 PM Formação de cadeias montanhosas Meridiano de Greenwich ID/BR Luis Moura/ID/BR Uma das consequências do movimento das placas litosféricas é a formação de cadeias montanhosas. Quando duas placas que se movimentam em sentidos opostos se encontram, elas Crosta continental podem se dobrar ou uma se sobreCrosta continental por à outra. Nos dois casos, surgem Litosfera elevações da crosta terrestre. Como a Litosfera coresvelocidade das placas litosféricas é da -fantasia ordem de alguns centímetros por ano, Representação sem proporção de tamanho. esse processo pode durar milhões de Processo de formação de montanhas por superposição de placas litosféricas. anos. O resultado é uma cadeia monObserve que as duas placas movem-se uma em direção à outra; a placa da tanhosa. esquerda move-se sob a placa da direita. Assim, é comum que as cadeias de montanhas estejam localizadas nas localização das principais cadeias de montanhas bordas de placas litosféricas, pois são 160°L 160°O 20°O 80°O 40°O 40°L 80°L 120°L 0° as regiões que mais sofrem com o im80°N pacto das placas. Círculo Polar Ártico A cordilheira do Himalaia, localizada na Ásia, apresenta algumas das 40°N montanhas mais altas do mundo e é Trópico de Câncer OCEANO um exemplo do processo descrito anPACÍFICO teriormente: há milhões de anos, a ÍnEquador OCEANO 0° PACÍFICO dia ficava em uma placa separada do OCEANO Trópico de Capricórnio resto da Ásia. Movendo-se cerca de 15 ÍNDICO 40°S centímetros por ano, essa placa acaOCEANO ATLÂNTICO bou por atingir a placa da Ásia, cau0 4250 8500 km sando uma elevação de terra ao longo 1 cm – 4250 km da fronteira entre as duas placas. Essa elevação ocorreu continuamente por Mapa-múndi representando os contornos das placas litosféricas. Observe como muitas elevações montanhosas estão próximas às fronteiras das placas. milhões de anos, resultando no que é Fontes de pesquisa: Atlas geográfico hoje a cordilheira do Himalaia. escolar. 4. ed. Rio de Janeiro: IBGE, Observações por satélites mostram que ainda hoje a placa da 2007. p. 57; <http://sideshow. jpl.nasa.gov/mbh/series.html>. Índia continua adentrando a Ásia, o que significa que a cadeia do Acesso em: 22 abr. 2012. Himalaia ainda está subindo: sua altura aumenta alguns milímetros por ano. Na América do Sul, um exemplo desse tipo de formação montanhosa é a cordilheira dos Andes, que é resultado do movimento das placas de Nazca e da Antártica, entrando embaixo da placa Sul-americana. Elabore uma explicação para o fato de não haver altas cadeias montanhosas no Brasil, como os Andes. Para saber mais Outras maneiras de formar montanhas Existem outros processos de formação de montanhas. Um deles é o vulcanismo, que você verá adiante. A lava, expelida por vulcões, quando resfriada, endurece e se transforma num tipo de rocha. 58 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 58 6/25/12 7:17 PM Terremotos Epicentro Luis Moura/ID/BR Você já deve ter visto, na TV ou em jornais, reportagens sobre terremoto. Um terremoto é um evento em que o solo de uma região treme e se desloca abruptamente. Embora esse tremor de terra dure pouco tempo, cerca de um ou dois minutos, ele pode, caso seja intenso, provocar muita destruição. Um terremoto pode ser causado por atividade vulcânica ou mesmo por interferência humana (veja boxe nesta página). Entretanto, uma das principais cauFoco ou hipocentro sas é o movimento de placas litosféricas. Quando duas placas vizinhas tendem a se mover uma contra a outra ou mesmo deslizar, geram uma força na região entre elas, empurrando as rochas umas contra as outras. Se essa força for maior do que a resistência das rochas, elas se rompem e se deslocam, gerando o tremor de terra. O ponto onde ocorrem esses rompimentos e deslocamentos pode estar a vários quilômetros de profundidade, mas seus efeitos podem chegar até a superfície. Isso não se deve apenas ao deslocamento das rochas em si, mas, principalmente, às ondas que são geradas por ele. Essas ondas, denominadas ondas sísmicas, viajam pelo interior da Terra em todas as direções, provocando vibrações por onde passam, e podem atingir regiões distantes do local onde se originou o tremor. O ponto em que ocorre o deslocamento rochoso é denominado foco, ou hipocentro, e o ponto na superfície bem acima do foco é denominado epicentro. Quanto menos profundo for o foco do terremoto, maiores serão os danos sofridos na superfície. cores-fantasia Representação sem proporção de tamanho. A ilustração mostra o hipocentro e o epicentro de um terremoto. As ondas sísmicas estão ilustradas em vermelho. Para refletir Ação humana 160°O 120°O 80°O 40°O 0° 40°L 80°L 120°L 160°L 80°N Círculo Polar Ártico 40°N OCEANO PACÍFICO Trópico de Câncer OCEANO PACÍFICO Equador Trópico de Capricórnio OCEANO ATLÂNTICO Meridiano de Greenwich 0° OCEANO ÍNDICO 0 Regiões onde os terremotos são mais frequentes Círculo Polar Antártico 3325 40°S 6650 km 1 cm – 3325 km ID/BR incidência de terremotos Construções de barragens, perfurações de poços de petróleo e escavações em minas de carvão, por exemplo, podem induzir tremores de terra. Alguns pesquisadores acreditam que as causas de um terremoto que atingiu a cidade de Newcastle, na Austrália, em 1989, podem estar relacionadas às milhões de toneladas de carvão retiradas do subsolo em duzentos anos de mineração. Escreva sobre a necessidade de se extraírem carvão e petróleo do solo para fins de obtenção de energia, e quais as possíveis ações para obter um desenvolvimento sustentável. Mapa-múndi representando os contornos das placas litosféricas. Os pontos em amarelo indicam regiões onde os terremotos são mais frequentes. Observe como essas regiões coincidem com a borda das placas litosféricas. Fonte de pesquisa: Wilson Teixeira e outros. Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de textos, 2000. p. 44. 59 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 59 6/25/12 7:17 PM Detectando um terremoto Defesa civil: organização Zephyr/SPL/Latinstock civil que atua na prevenção e no socorro às vítimas de desastres ou catástrofes naturais. Os geólogos conseguem, com o uso de um aparelho, detectar e registrar as trepidações do solo, mesmo que sejam mínimas. Esse aparelho, denominado sismógrafo, permite não apenas registrar um terremoto, mas também prever a aproximação de um tremor e obter informações sobre as ondas sísmicas. Há no mundo milhares de estações sísmicas, equipadas com sismógrafos, que coletam dados sobre tremores em todo o planeta. Essas informações ajudam os geólogos a compreender melhor a estrutura da Terra, ao revelar detalhes sobre a densidade das camadas, por exemplo, além de ser um sinalizador importante para a defesa civil alertar a população quando há um abalo que possa causar grandes estragos. O sismógrafo detecta e registra vibrações do solo. Ao lado, estão sendo gravadas as atividades sísmicas do vulcão Merapi, Indonésia, 2003. Para saber mais Como os tremores eram detectados no passado Fotografias: SSPL/Keystone O primeiro aparelho usado para detectar tremores do solo, ao que se sabe, foi inventado no século II por Zhang Heng, na China. Heng era astrônomo, matemático, geógrafo e poeta, e concebeu um dispositivo capaz de apontar a direção de um tremor de terra a centenas de quilômetros de distância. O mecanismo era formado por um vaso de bronze, no qual ficavam penduradas oito figuras com formato de dragão, cada uma representando uma direção. Na boca de cada uma dessas figuras, havia uma bola de bronze. Quando ocorria um tremor de terra, uma das cabeças soltava sua bola, que caía sobre a boca de um sapo de bronze abaixo dela, produzindo um som de alarme e indicando a direção do tremor. Reconstrução do mecanismo inventado por Zhang Heng, na China antiga. 60 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 60 6/25/12 7:17 PM Magnitude de um terremoto Para medir a intensidade de um terremoto, foi desenvolvida, na década de 1930, uma escala especial, denominada escala Richter. Essa escala foi construída da seguinte maneira: o valor zero foi atribuído ao terremoto mais fraco capaz de ser detectado pelos sismógrafos existentes na época. Além disso, cada grau de magnitude nessa escala corresponde a um terremoto dez vezes mais intenso do que o do grau anterior. A tabela abaixo apresenta os graus da escala Richter. Os efeitos associados podem ser mais ou menos intensos, dependendo da profundidade do hipocentro do terremoto. escala richter Magnitude (escala Richter) menor que 2,0 Efeitos do terremoto Microterremoto, não sentido na superfície. 3,0 Sentido por algumas pessoas. 4,0 Louças chacoalham, algumas podem quebrar. 5,0 Sentido por todos, muitas janelas podem se quebrar. 6,0 Queda de chaminés, grandes danos a construções pouco rígidas. 7,0 População em pânico, pontes e estruturas de alvenaria destruídas. 8,0 Grandes danos a pontes e represas, trilhos de trem entortam. 9,0 ou maior Destruição quase completa, o chão se move em ondas, objetos atirados ao ar. Fonte de pesquisa: Universidade Southern Utah. Disponível em: <http://www.suu.edu/faculty/colberg/Hazards/Earthquakes/Earthquake_SG.html>. Acesso em: 9 mar. 2012. Como você vê, alguns tremores de terra são muito fracos, de modo que não são percebidos na superfície, sendo registrados apenas por sismógrafos. Estima-se que ocorram milhares desses tremores todos os anos. Já os terremotos fortes, de magnitude maior do que 8,0 na escala Richter, ocorrem cerca de uma vez por ano em algum ponto do planeta. Quando um terremoto de grande magnitude ocorre sob o leito oceânico, uma grande massa de água pode se dirigir aos continentes, alagando cidades inteiras e provocando destruição em massa. Esse fenômeno é conhecido como tsunami, ou maremoto, e afeta vários países costeiros, como o Japão e a Tailândia. A população desses países é instruída a fugir para regiões altas assim que soar o alarme de tsunami, disparado pelas estações sísmicas. Em 11 de março de 2011, um terremoto de magnitude 9 na escala Richter ocorreu a 70 quilômetros da costa do Japão, produzindo um tsunami que devastou várias cidades e matou milhares de pessoas. A quantidade de vítimas só não foi maior por causa do sistema de alerta a terremotos. Paula Radi/ID/BR Maremotos ou tsunamis Sinal de alerta de tsunami. O epicentro de um terremoto pode estar um quilômetro abaixo do solo? 61 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 61 6/25/12 7:17 PM Vulcões Pompeia Patrick Landmann/SPL/Latinstock Em 79 d.C., a cidade romana de Pompeia (na atual Itália) foi completamente arrasada pela erupção do vulcão do monte Vesúvio. A erupção durou dois dias e enterrou a cidade sob uma camada de cerca de 5 metros de cinzas, de modo que só foi redescoberta em 1749. A localidade, perto de Nápoles, é hoje atração turística, pois algumas construções foram preservadas sob camadas de lama e cinzas. Ao escavar o local, os arqueólogos encontraram cavidades sob o solo, onde havia esqueletos. Preenchendo as cavidades cuidadosamente com gesso, foi possível obter estátuas correspondentes aos habitantes de Pompeia. Todas essas descobertas trouxeram aos historiadores mais informações sobre a vida naquela época. Vulcões são aberturas na crosta terrestre, muitas vezes na forma de crateras, pelas quais uma parte do material de regiões internas da Terra pode vir à superfície, em um fenômeno chamado de erupção vulcânica. Nas camadas mais profundas da crosta e nas camadas mais externas do manto, há um material denominado magma – um conjunto de rochas sólidas e derretidas, cristais e gases. Em uma erupção, esse material é expelido para a superfície e, então, passa a receber o nome de lava. Além da lava, os vulcões expelem também muitas cinzas, poeira e gases, às vezes em forma de jatos que alcançam muitos quilômetros de altura. cratera O esquema ilustra o interior de um tipo de vulcão. O magma presente em uma câmara abaixo do solo, a altas temperaturas e pressão, é expelido por uma chaminé, que o leva a sair pela cratera. Às vezes, magma e gases são expelidos também por chaminés vizinhas, menores. chaminé lava chaminé secundária magma Luis Moura/ID/BR Conexões Há milhares de vulcões no planeta. Alguns entram em erupção com regularidade e são popularmente conhecidos como vulcões ativos. Outros já entraram em erupção no passado, mas estão em repouso há algum tempo – são chamados de vulcões dormentes. Finalmente, os vulcões que não entram em erupção há muitos séculos são denominados extintos. Molde do corpo de um cidadão de Pompeia agachado, tampando o nariz e a boca com as mãos, provavelmente por causa das cinzas e gases venenosos expelidos pelo vulcão do monte Vesúvio. Nápoles, Itália. estuda civilizações antigas por meio de escavações. Cratera: cavidade afunilada na superfície da Terra, da Lua ou de outro astro. d.C.: sigla para “depois de Cristo”, isto é, depois do nascimento de Jesus Cristo, evento que marca o início da contagem dos anos no calendário ocidental, adotado pela maioria dos países do mundo. U.S. Department of Interior/U.S. Geological Survey Arqueólogo: cientista que Lava expelida, em 2003, pelo vulcão Kilauea, no Havaí – um dos vulcões mais ativos do mundo. A temperatura da lava quando expelida pode chegar a mais de 1 000 °C. 62 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 62 6/25/12 7:17 PM Luis Moura/ID/BR Os vulcões são formados principalmente pelo movimento de placas litosféricas. No caso em que as placas se chocam, geralCrosta mente uma entra sob a outra. Nesse movimenoceânica to, parte das placas se funde, gerando magma. O magma em alta temperatura e pressão pode Litosfera então subir de repente para a superfície. Litosfera Se uma das placas for oceânica e a outra conManto inferior tinental, normalmente a primeira entra sob a segunda. Desse modo costuma surgir uma cadeia Representação da formação de vulcões costeiros. Observe que de vulcões ao longo da costa. Um exemplo típico as duas placas se aproximam. A placa oceânica move-se por são os vulcões na cordilheira dos Andes. baixo da placa continental. Se as duas placas forem oceânicas, pode formar-se um sistema de ilhas vulcânicas, como o existente no Japão. Já no caso de as duas placas serem continentais, em vez de vulcões, formam-se em geral cadeias montanhosas, como visto anteriormente. O afastamento das placas pode provocar uma fenda entre elas que permite que o magma venha à superfície. Isso costuma acontecer no oceano Litosfera Litosfera Atlântico, que fica sobre a divisa de várias placas litosféricas que estão se afastando. O magma, ao Manto inferior sair do interior da Terra, solidifica-se, e se deposita, formando uma cadeia de montanhas subma- Representação da formação de vulcões e ilhas marinhas. rinas. Em alguns pontos, essas montanhas ficam Observe que as duas placas se aproximam. A placa à esquerda acima do mar, formando ilhas, como a Islândia. move-se por baixo da placa à direita. Assim, pelos motivos descritos anteriormente, é comum que os vulcões se encontrem ao longo das bordas de placas litosféricas. Luis Moura/ID/BR Formação dos vulcões 90°L 120°L 150°L 180° Círculo Polar Ártico 150°O DE 120°O 90°O ID/BR círculo de fogo 60°O 60°N O C F ÁSIA ÍR C U L O AMÉRICA DO NORTE G O 30°N Trópico de Câncer OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO Equador 0° AMÉRICA DO SUL Trópico de Capricórnio OCEANIA 30°S OCEANO ÍNDICO 0 2455 1 cm – 2455 km OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO 4910 km 60°S Mapa-múndi evidenciando uma região ao longo da costa do oceano Pacífico onde erupções vulcânicas e terremotos são frequentes: é o chamado Círculo de Fogo, que passa pelas margens de várias placas litosféricas. Fonte de pesquisa: <http://pubs.usgs. gov/gip/dynamic/fire.html>. Acesso em: 22 abr. 2012. 63 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 63 6/25/12 7:17 PM Vulcanismo e terremotos no Brasil Como nosso país está situado no meio da placa Sul-americana, e não nas bordas, estamos fora das regiões de maior incidência de vulcões e terremotos. Para saber mais Vulcanismo fora da Terra Vulcanismo Vulcões Vulcões A imagem mostra atividade vulcânica em Io, uma lua de Júpiter (no detalhe). Essa imagem foi obtida pela Sonda espacial Galileo, em 1997. Que materiais são expelidos em uma erupção vulcânica? Não existe nenhum vulcão ativo no Brasil e não há registros de nenhuma atividade vulcânica no país nos últimos 80 milhões de anos. Entretanto, nem sempre foi assim. O território nacional já teve vulcões, como atestam as rochas encontradas na região denominada Serra Geral, na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Esse vulcanismo ocorreu em um período conhecido como Cretáceo, há muitos milhões de anos, quando a América do Sul se separou da África. A atividade vulcânica mais recente deu origem a algumas ilhas do litoral brasileiro, como Trindade e Fernando de Noronha. Outras formações vulcânicas ocorreram no passado, no Sudeste do país. Terremotos Apesar de o Brasil estar longe das bordas de placas litosféricas, tremores fracos são comuns. Costumam ocorrer no nosso país, em média, vinte tremores com magnitude maior do que 3,0 a cada ano, e dois tremores por ano de magnitude superior a 4,0. Muitas vezes, um terremoto intenso na região da cordilheira dos Andes gera ondas sísmicas que chegam até o Brasil. Esse foi o caso de um tremor de terra sentido em Porto Alegre, em 1994: um terremoto na Bolívia, a mais de 2 mil quilômetros de distância, fez lustres balançarem e móveis vibrarem na capital gaúcha. O maior terremoto registrado no Brasil ocorreu em 1955, a 370 km de Cuiabá, e atingiu 6,2 graus na escala Richter. Veja abaixo um mapa com as ocorrências de terremotos no Brasil. Estima-se que deve ocorrer no país um terremoto de magnitude maior do que 7,0 a cada quinhentos anos. Em alguns países andinos, como o Chile, isso ocorre a cada poucos anos. principais tremores de terra no brasil entre 1811 e 2008 80°O 70°O 60°O 50°O RR ID/BR NASA/JPL/University of Arizona O fenômeno do vulcanismo não ocorre apenas no nosso planeta. Em Marte, por exemplo, há vários vulcões atualmente extintos, que foram ativos no passado. O planeta Júpiter tem satélite natural chamado Io, no qual há centenas de vulcões ativos. 40°O AP Equador AM 0° MA PA CE RN PB PI PE AC AL TO RO BA MT DF OCEANO PACÍFICO MG ES MS 3,0 4,0 SP o Trópic de Cap ricórnio SC 6,0 8,0 20°S RJ PR 5,0 7,0 OCEANO ATLÂNTICO GO Magnitude 10°S SE RS 0 730 1 cm – 730 km 1460 km 30°S Fonte de pesquisa: <http://www. obsis.unb.br/index.php?option= comcontent&view=article&id= 59&Itemid=71&lang=pt>. Acesso em: 8 mar. 2012. 64 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 64 6/25/12 7:17 PM Atividades 1. O que cadeias montanhosas, vulcões e terremotos têm em comum? 2. Quais são as regiões do planeta mais propensas à ocorrência dos fenômenos geológi- cos descritos na questão anterior? Por quê? 3. As montanhas mudam de lugar? Responda a essa pergunta considerando os seguintes intervalos de tempo. a) Décadas. b) Milhões de anos. 4. A gravura em madeira mostrada a seguir foi feita pelo artista japonês Katsushika Hokusai Coleção Particular. Fotografia : The Stapleton Collection/The Bridgeman Art Library/Keystone (1760-1849) e se chama A grande onda de Kanagawa. Nela, veem-se barcos de pesca no mar agitado e, ao fundo, uma importante montanha do Japão: o monte Fuji. A gravura provavelmente representa uma onda causada pelo vento e não um tsunami. A grande onda de Kanagawa. Katsushika Hokusai. Xilogravura colorizada a mão, 1831. a) Explique um processo geológico de formação de montanhas. b) Por que eventos como terremotos e tsunamis são frequentes no Japão? 5. Leia o texto abaixo. Em 8 de junho de 1994, a cidade de Porto Alegre (RS) foi atingida pelas ondas sísmicas provocadas por um terremoto que ocorreu na Bolívia, a 2 200 km de distância. O abalo, que atingiu 7,8 graus na escala Richter, foi mais forte que aquele ocorrido nos Estados Unidos em janeiro daquele ano, e que, com uma magnitude de 6,6 graus, destruiu diversos bairros de Los Angeles. O terremoto da Bolívia, porém, teve consequências bem menos sérias porque seu hipocentro situou-se a grande profundidade, 600 km abaixo da superfície. Disponível em: <http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1052&sid=129>. Acesso em: 8 out. 2011. a) Qual a diferença entre hipocentro e epicentro? b) Pode-se dizer que o terremoto ocorrido na Bolívia foi ao menos dez vezes mais intenso do que o ocorrido nos Estados Unidos naquele ano? Por quê? c) Explique a diferença entre a origem de uma onda marinha comum e de um tsunami. 65 UVC6_LA_E12_C03_044A065.indd 65 6/25/12 7:17 PM